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1 Industrial Accumulation and Living Standards in the Long-Run: The São Paulo Industrial Working Class, 1930-1975, Part II John Wells Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza 1. Tendência do Salário Real. Apesar de crescer menos que o nível de produtividade da economia para o período considerado, o salário real do trabalhador industrial médio cresceu a uma taxa anual de cerca de 1,5% ao ano entre as metades das décadas de 1930-1970. Do fim da década de 1930 a meados da de 1940, o salário real esteve pouco acima do nível de subsistência fisiológica, embora o salário real pago fosse efetivamente mais alto que o salário mínimo concebido enquanto política pública em 1940 (cujo valor foi completamente corroído pela inflação do período e que, portanto, não servia de base nem mesmo para a fixação dos salários reais do período). 2. Papel do Salário Mínimo Oficial. Os dados evidenciam uma relativa estabilidade nos níveis de salários reais pagos entre 1937 e 1943, evidenciando que em seus períodos iniciais o salário mínimo estabelecido teve pouca relevância efetiva para as receitas recebidas pelos trabalhadores em função da venda de sua força de trabalho. Durante a década de 1940, a inflação crescente e o não reajuste do nível salarial mínimo fizeram do salário mínimo uma medida completamente irrelevante enquanto referência para a determinação dos salários efetivamente pagos. Seria apenas nas décadas de 1950, 1960 e 1970 que o salário mínimo enquanto política governamental assumiria alguma relevância enquanto medida de base para os salários pagos à massa trabalhadora urbana. 3. Mudanças nos Padrões de Consumo das Famílias. Nas décadas de 1930 e 1940, de 85% a 90% do salário real dos trabalhadores da indústria eram destinados a produtos de subsistência: alimentação, habitação e vestuário compunham a pauta quase completa de seus gastos. Outros gastos envolviam fundamentalmente a reprodução da mão-de-obra para o trabalho: são gastos com transporte e saúde; educação, lazer ou entretenimento não podiam ser demandados aos salários recebidos. Apesar de quantitativamente elevados, os gastos para suprir estas necessidades vitais e sociais básicas não se refletiam em qualidade; por exemplo, cerca de 50% dos gastos dos trabalhadores era com alimentação, mas não é raro encontrarem-se casos de desnutrição em meio à força produtiva. Ao longo do tempo, no entanto, os salários reais cresceram e entre 1939 e 1970, multiplicaram-se por um fator de 60. No correr dessas décadas, os gastos com a subsistência diminuíram na medida em que aumentaram os salários reais. O resultado foi a possibilidade de uma diversificação dos gastos e um padrão de vida mais elevado: aquisição de bens de consumo duráveis (sobretudo domésticos e, em menos proporção, automóveis), gastos com educação, lazer e serviços pessoais são reflexos dessa evolução salarial. 4. Consumo de Alimentos. A evolução do salário real fica muito evidente quando se consideram os gastos do trabalhador médio com alimentação. O pobre padrão alimentar da década de 1930 é um claro reflexo do salário de subsistência. Apesar de na média os trabalhadores receberem salários suficientes para obter as quantidades mínimas de calorias diárias, não eram raros os casos em que tal quantidade não podia ser alcançada pelo trabalhador. Além disso, a dieta era extremamente monótona, baseada sobremaneira em carboidratos e carente principalmente de frutas e legumes. Ao longo do período considerado, no entanto, há uma considerável melhoria não apenas na quantidade, mas também na qualidade dos alimentos consumidos pelo trabalhador médio, mesmo que a proporção do salário real gasto com alimentação tenha caído entre 1930-1970. O arroz passou a integrar o prato brasileiro em substituição ao pão e à massa; houve um crescimento considerável no consumo de leite e ovos, além de um aumento na participação de proteínas na forma de carne de frango (se bem que a quantidade de carne de vaca consumida tenha caído). Tudo isso se refletiu em uma ingestão maior de calorias e em um padrão alimentar mais saudável. 5. Condições das Habitações. Outra forte evidência da evolução do salário real encontra-se nas condições de moradia do trabalhador industrial médio. Novamente, nas décadas de 1930 e 1940 encontramos as piores condições de moradia para o trabalhador, embora, como visto, os gastos referentes à habitação representassem grande proporção do salário real. Entre 1930 e meados de 1940 prevaleceram as habitações em conjunto, sobretudo em cortiços. As condições de higiene e 2 privacidade dificilmente poderiam ser piores nesses casos: uso compartilhado de banheiros, cozinhas e outros cômodos, precariedade no fornecimento de água, falta de higiene e maiores confortos são todas características de muitas dessas habitações. Como um reflexo da melhoria dos salários reais, já na década de 1950, cerca de 50% dos trabalhadores eram proprietários de suas próprias residências, geralmente construídas com sua própria força de trabalho. Apesar de a maioria dessas residências crescer desordenadamente, sem um plano de urbanização (o que se refletiria no caso urbanístico de São Paulo) e geralmente sem acesso à infra-estrutura que crescia apenas muito lentamente, elas foram uma evolução clara frente às condições habitacionais que prevaleceram para as classes industriais nas décadas anteriores. 6. Conclusões. Ao longo do período considerado pelo estudo, houve um aumento do padrão de vida do trabalhador industrial médio, que se elevou do simples nível de subsistência a que esteve submetido até parte da década de 1940. Tal melhoria material foi reflexo principalmente de um aumento da produtividade da economia, que permitiu o pagamento de salários mais elevados, embora tais aumentos tenham sido efetivamente menores que os ganhos de produtividade, evidenciando certo grau de concentração de renda. Além disso, os aumentos dos salários reais são uma necessidade para qualquer economia em processo de desenvolvimento e modernização, na medida em que possibilitam aos trabalhadores demandarem novos produtos e, assim, criam e fortalecem novos mercados.
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