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Hilton, S. E. Vargas and Brazilian Economic Development.

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Vargas and Brazilian Economic Development, 1930-1945: A Reappraisal of his Attitude Toward 
Industrialization and Planning 
Stanley E. Hilton 
Autor: Bruno Gabriel Witzel de Souza 
 
 A idéia prevalente na historiografia convencional é a de se pode identificar dois períodos no governo primeiro 
governo Vargas (1930-1945), nos quais a condução da política econômica, sobretudo no que se refere ao planejamento 
econômico e ao incentivo à industrialização assumiram caracteres muito diferenciados. 
 No período que antecede o auto-golpe do Estado Novo, Vargas teria adotado políticas que foram, segundo a 
perspectiva de Dean (sobre a qual se baseiam os defensores desta bipartição da política industrial de Vargas), 
“decididamente hostis aos industrialistas”. Apenas com o Estado ditatorial de 1937 é que teriam os formuladores de 
política de Vargas atentado para a necessidade de elaborar projetos de desenvolvimento industrial, inclusive para 
tornar mais independente a economia brasileira. 
 O ponto principal de Hilton é que Vargas adotou medidas visando ao desenvolvimento industrial desde o 
início de seu governo e que o golpe de 1937 não significou uma ruptura, um marco a partir do qual o governo passa a 
adotar medidas de auxílio à indústria; pelo contrário, segundo Hilton, a forte política industrialista da Estado Novo, 
que culminou com a construção da siderúrgica de Volta Redonda, foi nada mais que a continuação de uma política 
pró-indústria adotada pelo governo varguista desde os primórdios de sua tomada do poder. 
 A indústria brasileira estava, na década de 1930, no mais pleno florescimento. A taxa média de crescimento 
anual do setor industrial ficou na casa dos 11% para a década. Além disso, o país aumentou significativamente sua 
capacidade produtiva pelo desenvolvimento interno de uma indústria produtora de bens de capital (segundo Hilton, em 
1940, o Brasil já produzia cerca de 50% dos bens de capital de que a indústria necessitava). 
 Assim, quando a crise de 1930 tornou plenamente evidente os muitos problemas por que passava uma 
economia profundamente dependente do setor agrícola, a possibilidade de focar a economia no setor industrial como 
um caminho alternativo de desenvolvimento já estava muito clara. E teria sido por este caminho que enveredou a 
política oficial do Estado Varguista já em 1930. 
 O fato de o governo, mesmo após o golpe de 1930, continuar com o programa de sustentação dos preços do 
café é geralmente elencado como uma prova do desinteresse de Vargas pela industrialização e sua profunda ligação 
com o setor cafeicultor. No entanto, é necessário observar que a profunda dependência da economia brasileira em 
relação ao café tornava a defesa dos preços uma questão ligada verdadeiramente aos interesses nacionais: sem o café, 
a economia brasileira ruiria. Nas palavras do Ministro das Finanças de Vargas: “Ao ir em socorro do café, o governo 
fez o que era mais urgente: restabelecer o ritmo de vida normal nos estados produtores de café, permitindo que eles, 
especialmente São Paulo, voltassem ao trabalho nos campos, nas lojas e nas fábricas”. Assim, Hilton chega a afirmar 
que o verdadeiro objetivo de Vargas ao manter a política de valorização do café era sustentar o nível de renda da 
população rural, de forma que esta política teve, em grande medida, um caráter de proteção ao mercado das indústrias 
têxteis. 
 O autor salienta ainda que é muito freqüentemente afirmado ter o governo varguista adotado medidas tarifárias 
pouco protecionistas, o que poderia novamente ser uma prova de sua política anti-industrial no período pré-Estado 
Novo. No entanto, uma análise mais cuidadosa das medidas que estabeleceram as tarifas revelam que as tarifas mais 
baixas foram concedidas à importação de bens de capital e de matérias-primas para as indústrias, de forma que o 
estabelecimento de tarifas diferenciadas para importações favoreceu os industriais. 
 Outras medidas como a política creditícia para os industriais (que na metade da década de 1930 superou, pela 
primeira vez, o crédito concedido aos agricultores), o objetivo de Vargas de desenvolver uma indústria de aço e 
diversas concessões políticas (como a proibição de importação de bens de capital frente à alegada crise de 
superprodução em 1931) são todas elencadas pelo autor como provas do objetivo claro do governo varguista em 
desenvolver o setor industrial. 
 Mais expressivas ainda foram as medidas de Vargas, anteriormente ao Estado Novo, no que se refere ao 
capital humano brasileiro: os projetos sociais, como aumento dos índices de alfabetização da população e as políticas 
sociais dos trabalhadores (salário mínimo, férias remuneradas etc.) são encarados por Hilton como uma clara 
indicação do objetivo de Vargas em aumentar o capital humano brasileiro, de forma que a produtividade do 
trabalhador fosse aumentada. Assim, apesar do objetivo claro de apascentar os movimentos sociais mais tumultuosos, 
as tão famosas políticas sociais de Vargas podem ser relacionadas ao objetivo de aumentar a produtividade do 
trabalhador para o setor industrial. 
 Outra medida profundamente relevante no campo econômico ocorrida antes do golpe de 1937 foi o 
estabelecimento de órgãos estatísticos e de planejamento. A carência de dados sobre os quais basear as decisões 
econômicas foi o primeiro grande problema enfrentado pelos formuladores de política. Após a criação de órgãos 
estatísticos propriamente ditos, Vargas determinou também a criação de outros órgãos para estudar as condições 
setoriais da economia brasileira e, a partir dos estudos, determinar políticas de desenvolvimento. O principal destes 
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órgãos foi o Conselho Federal de Comércio Estrangeiro, responsável, por exemplo, pela primeira pesquisa em escala 
nacional no que tange às indústrias e também pela elaboração do primeiro plano de transportes. Observa-se, assim, o 
objetivo manifesto do governo, já antes de 1937, de compreender a economia nacional com o intuito de estabelecer 
planos de desenvolvimento. 
 Após 1937, Vargas manteve fundamentalmente a linha de ação traçada anteriormente no plano econômico: 
“the continuity of priorities in authoritative economic thought before and during the Estado Novo was manifest”. 
 O desenvolvimento da siderurgia nacional em Volta Redonda no contexto da guerra pode ser encarado como o 
ápice dos planos industrialistas, embora não tenha surgido de uma hora para outra, mas seja o resultado de um longo 
processo de maturação do setor industrial. 
 Particularmente importante durante o Estado Novo foi a expansão dos mercados atendidos pelos produtos 
nacionais. As exportações de manufaturados geraram uma fase de profunda expansão da indústria. Durante a II GM o 
Brasil viu a possibilidade de aumentar sua área de influência na América do Sul, de forma que diversos acordos 
comerciais e de construção de infra-estrutura (sobretudo ferrovias) foram realizados com a Bolívia e com o Paraguai. 
No entanto, seria a Argentina o principal mercado com o qual se relacionaria a indústria, tendo o Brasil, ao fim da 
guerra, chegado a ultrapassar o quantum que a própria Inglaterra exportava aos argentinos. 
 Em suma, podemos traçar a conclusão do autor: 
 “Since the very beggining of his fifteen-years period of rule Vargas made a consistent effort, in face of 
financial disorder, political confusion and bureaucratic instability, to promote industrialization as a means not only of 
creating a better life for Brazilians but also of enhancing Brazil`s geopolitical posture vis-à-vis traditional rival 
Argentina. The government`s support of the agro-export sector was designed in large part to restore rural demand for 
manufactured goods and provide the proceeds with which to import the raw materials, fuel and equipment necessaryfor domestic industries. He and his counselors had utilized the tariff, exchange favors, loans and diplomacy to bolster 
existing industries and to encourage new enterprises, particularly steel and aluminum plants. The Vargas 
administration had sought to improve the quality of human resources through labor legislation and administrative 
reform, recognizing the vital contribution of such resources to the development process, and it had endeavored to 
provide a more secure basis for policy decisions trough new statistical services and the industrial survey of 1936. 
Perhaps most important of all, Vargas trough his policies and public statements helped to create a public mentality 
which would lead increasing segments of society to accept the sacrifices and changes that industrialization entailed”.

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