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MAT 206 - Ana´lise Real - 1◦ semestre de 2014 Docente: Prof. Dr. Pierluigi Benevieri Notas das aulas e exerc´ıcios sugeridos - Atualizado 9.11.2014 1. Segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014 Apresentac¸a˜o do curso. Veja-se o arquivo relativo a`s informac¸o˜es do curso na minha pagina web www.ime.usp.br/∼pluigi *** O primeiro conjunto nume´rico que encontramos na matema´tica e´ o conjunto N dos nu´meros naturais. As operac¸o˜es de soma e produto, com as propriedades usuais, sa˜o bem definidas em N, enquanto na˜o podemos dizer o mesmo para as inversas, subtrac¸a˜o e divisa˜o. Para poder definir e usar estas duas operac¸o˜es inversas introduzimos os conjuntos Z (inicial de Zahlen, in Alema˜o, que significa nu´mero) dos nu´meros inteiros relativos, e Q dos nu´meros racionais (frac¸o˜es de nu´meros inteiros). O conjunto Z e´ introduzido para definir a subtrac¸a˜o e Q para a divisa˜o. O sistema Q dos nu´meros racionais poderia constituir a base de boa parte da matema´tica, enquanto poderia ser suficiente para resolver a grande maioria dos problemas matema´ticos, mas na˜o todos! O mais famoso “problema” dos nu´meros racionais foi descoberto pela escola matema´tica de Pita´goras no VI se´culo a.C: usando o cla´ssico Teorema de Pita´goras, se consideramos um quadrado de lado 1, a diagonal mede um nu´mero d tal que d2 = 2 (veremos depois que tal nu´mero se chama raiz quadrada). Enta˜o, podemos provar que na˜o existe nenhum nu´mero racional cujo quadrado seja 2. Proposic¸a˜o 1. (com demonstrac¸a˜o) Na˜o existe nenhum nu´mero racional cujo quadrado seja 2. Definic¸a˜o 2. Dado um nu´mero a ≥ 0 dizemos que b e´ uma raiz quadrada de a, denotada por √a se b ≥ 0 e b2 = a. Observac¸a˜o 3. De acordo com a definic¸a˜o acima e´ errado dizer que −2 = √4, mas as igualdades corretas sa˜o 2 = √ 4 e −2 = −√4. Exerc´ıcio 1. Deˆ a prova da Proposic¸a˜o ??. Exerc´ıcio 2. Prove que 3 √ 2 na˜o existe em Q. Exerc´ıcio 3. Prove que √ 3 na˜o existe em Q. A proposic¸a˜o ?? diz que na˜o existe em Q o nu´mero √ 2. Da´ı, podemos tentar resover o problema (e outros) ampliando a famı´lia dos nu´meros racionais (analogamente a`quilo que se faz passando de N a Z e de Z a Q) e definindo um novo conjunto: o dos nu´meros reais, R. A definic¸a˜o dos nu´meros irracionais, todavia, na˜o e´ ta˜o simples. Ale´m disso, a unia˜o dos racionais e dos irracionais, que iria formar o conjunto nume´rico desejado, o conjunto R dos nu´meros reais, deveria satisfazer as mais conhecidas propriedades alge´bricas, normalmente usadas (as operac¸o˜es cla´ssicas). As provas de todos estes fatos e´ longa e complicada. Escolhemos, portanto, uma outra abordagem a` definic¸a˜o dos nu´meros reais, que e´ mais abstrata, dita abordagem axioma´tica aos nu´meros reais. Na definic¸a˜o seguinte, o leitor deve pensar em R em princ´ıpio sem nenhuma conexa˜o com os nu´meros conhecidos; como se fosse um conjunto “abstrato”, encontrado pela primeira vez. 1 2 Definic¸a˜o axioma´tica de R. O conjunto R, dito dos ”nu´meros reais”, e´ um conjunto onde sa˜o definidas duas operac¸o˜es, soma e produto, uma relac¸a˜o de ordem e um axioma de continuidade, tais que as propriedades seguintes sejam verificadas: S1) Propriedade comutativa da soma: ∀a, b ∈ R, a+ b = b+ a; S2) Propriedade associativa da soma: ∀a, b, c ∈ R, (a+ b) + c = a+ (b+ c); S3) Existeˆncia do elemento neutro da soma: existe um elemento de R, denotado por 0, tal que, ∀a ∈ R, a+ 0 = a e 0 e´ dito elemento neutro da soma; S4) Existeˆncia do oposto: ∀a ∈ R existe um elemento de R, b, dito oposto de a, tal que a + b = 0. Este oposto b pode ser denotado por −a e a operac¸a˜o a+ (−a) = 0 pode ser escrita simplesmente a− a = 0. Analogamente temos propriedade do produto: P1) Propriedade comutativa do produto: ∀a, b ∈ R, ab = ba; P2) Propriedade associativa do produto: ∀a, b, c ∈ R, (ab)c = a(bc); P3) Existeˆncia do elemento neutro do produto: existe um elemento de R, denotado por 1, tal que, ∀a ∈ R, a · 1 = a e 1 e´ dito elemento neutro do produto; P4) Existeˆncia do inverso: ∀a ∈ R, a 6= 0, existe um elemento de R, b tal que a · b = 1; b e´ dito inverso de a e pode ser escrito como 1/a. A propriedade distributiva liga soma e produto: SP) ∀a, b, c ∈ R, (a+ b)c = ac+ bc. Em R e´ definida uma relac¸a˜o de ordem (total) que e´ conexa a` soma e ao produto pelas duas propriedades seguintes: OS) ∀a, b, c ∈ R, se a ≤ b, enta˜o a+ c ≤ b+ c; OP) ∀a, b, c ∈ R, con c > 0, se a ≤ b, enta˜o ac ≤ bc. Exerc´ıcio 4. Escreva a definic¸a˜o de relac¸a˜o de ordem em um conjunto. Deˆ exemplos, da vida real, de relac¸o˜es de ordem e de relac¸o˜es que na˜o sa˜o de ordem. Exerc´ıcio 5. Provar que o conjunto Q dos nu´meros racionais verifica todas as propriedades acima. Exerc´ıcio 6. Provar, usando as propriedades acima dos nu´meros reais, as propriedades seguintes: 1) ∀a ∈ R, a · 0 = 0; 2) ∀a ∈ R, a > 0⇒ −a < 0; 3) ∀a, b ∈ R, se a > 0 e b < 0, enta˜o ab < 0; 3b) ∀a, b ∈ R, se a > 0 e b > 0, enta˜o ab > 0; 3c) ∀a, b ∈ R, se a < 0 e b < 0, enta˜o ab > 0; 4) ∀a, b, c ∈ R, se c < 0, se a ≤ b, enta˜o ac ≥ bc; 5) ∀a, b,∈ R, com a > 0, b > 0, a ≤ b se e somente se a2 ≤ b2. 6) ∀a, b,∈ R, com a > 0, b > 0, a ≤ b se e somente se 1/a ≥ 1/b; 7) nos itens 4,5,6 vale a desigualdade estrita tese se for verificada na hipo´tese? O exerc´ıcio acima pode desorientar, parecendo o´bvio. De fato, queremos que as propriedades acima sejam provadas so´ usando as 11 propriedades alge´bricas introduzidas acima em R, que deve ser pensado como um conjunto abstrato. Vamos agora introduzir o axioma de continuidade, aquilo que torna realmente diferente R de Q. 3 Definic¸a˜o 4. Dados dois nu´meros reais a e b, e´ dito intervalo de extremos a e b cada um dos conjuntos seguintes: [a, b] = {x ∈ R : a ≤ x ≤ b}, [a, b) = {x ∈ R : a ≤ x < b}, (a, b] = {x ∈ R : a < x ≤ b}, (a, b) = {x ∈ R : a < x < b}. O primeiro e o quarto dos intervalos anteriores sa˜o ditos rispectivamente fechado e aberto. Na˜o esque- cemos os intervalos [a,+∞) = {x ∈ R : x ≥ a}, (a,+∞) = {x ∈ R : x > a}, (−∞, b] = {x ∈ R : x ≤ b}, (−∞, b) = {x ∈ R : x < b}. O primeiro e o terceiro sa˜o fechados, enquanto o segundo e o quarto sa˜o aberto. Lembramos que +∞ e −∞ na˜o sa˜o elementos de R. Consideramos agora uma sequeˆncia (infinita) de intervalos fechados, Ik = [ak, bk] tais que Ik ⊆ Ik−1 e bk− ak = bk−1 − ak−1 2 . Na igualdade anterior, o nu´mero 2, que aparece pela primeira vez, e´ definido por 2 = 1 + 1, assim como todos os nu´meros inteiros usados para “contar” os intervalos sa˜o definidos como somas de 1. Observe que, acima, se o primeiro intervalo da sequeˆncia e´ denotado por Ik0 = [a0, b0] temos bk−ak = b0 − a0 2k . Axioma de continuidade. Dada uma sequeˆncia (infinita) de intervalos fechados Ik como acima, existe e e´ u´nico um elemento de R que pertence a todos os Ik. Definic¸a˜o 5. Dado a > 0 se existe um nu´mero real b > 0 tal que b2 = a, chamamos b de raiz quadrada de a. Usando o axioma de continuidade poderiamos provar que cada a positivo (ou seja > 0) possui raiz quadrada. Pore´m a prova sera´ feita depois da introduc¸a˜o das func¸o˜es cont´ınuas. Exerc´ıcio 7. Usando as propriedades alge´bricas dos nu´meros reais, em particular o item 5 do exerc´ıcio 6, prove que a raiz quadrada de a > 0, se existir, e´ u´nica. ****** Exerc´ıcio 8. Seja U um conjunto, A e B subconjuntos de U . Denotamos por CUA o complementar de A em U , ou seja o conjunto dos elementos de U que na˜o pertencem a A. Prove as seguintes leis (ditas de De Morgan): 1) CU (A ∪B) = CUA ∩ CUB, 2) CU (A ∩B) = CUA ∪ CUB. 2. Quarta feira 19 de fevereiro de 2014 Exerc´ıcio 9. Prove que Q na˜o verifica o axioma de continuidade. Exerc´ıcio 10. Provar as propriedades distributivas: dados treˆs conjuntos A, B e C, 4 1) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪B) ∩ (A ∪ C), 2) A ∩ (B∪ C) = (A ∩B) ∪ (A ∩ C). Como consequeˆncia do axioma de continuidade temos o importantissimo resultado seguinte. Teorema 6 (Princ´ıpio de Arquime´des). (com demonstrac¸a˜o) Dados dois nu´meros reais a, b com 0 < a < b, existe um nu´mero inteiro N tal que Na > b. O teorema de Arquime´des permite provar as propriedades seguintes que deixamos como exerc´ıcio. Exerc´ıcio 11. Prove, usando o Princ´ıpio de Arquimedes, que o conjunto dos nu´meros reais positivos na˜o admite mı´nimo. Ou seja, provar que na˜o existe o nu´mero positivo menor de todos os outros. Exerc´ıcio 12. Prove que, dados dois nu´meros reais, positivos a e b, tais que a < b, existe um nu´mero racional m/n tal que a < m/n < b e que existe um nu´mero racional s tal que a < s < b. O exerc´ıcio acima mostra uma consequ¨eˆncia do Princ´ıpio de Arquimedes: o fato bem conhecido de que entre dois nu´meros reais esta˜o infinitos nu´meros racionais e infinitos nu´meros irracionais. Seja agora E um subconjunto de R. Um nu´mero real M e´ dito majorante de E se x ≤ M para todo x ∈ E. Um nu´mero real m e´ dito menorante de E se x ≥ m para todo x ∈ E. Um conjunto E e´ dito limitado superiormente se admite pelo menos um majorante, enquanto e´ dito limitado inferiormente se admite pelo menos um menorante. E´ dito limitado se e´ limitado superiormente e inferiormente. Se E e´ limitado superiormente definimos supremo de E, supE, o mı´nimo dos majorantes; se E e´ limitado inferiormente definimos ı´nfimo de E, inf E, o ma´ximo dos minorantes. Se E e´ ilimitado superi- ormente escrevemos supE = +∞, se E e´ ilimitado inferiormente escrevemos inf E = −∞. O ma´ximo de um conjunto E e´ o elemento maior, se existe, enquanto o mı´nimo e´ o elemento menor, se existe. Um conjunto e´ dito finito se possui um nu´mero finito de elementos. O fato seguinte e´ uma consequeˆncia do axioma de continuidade (em alguns livros e´ dado como o axioma de continuidade). Teorema 7 (Existeˆncia do supremo e do ı´nfimo). (com demonstrac¸a˜o) Um conjunto de nu´meros reais, limitado superiormente (inferiormente) admite supremo (´ınfimo) em R. Q na˜o verifica a propriedade de continuidade. Verifique este fato como exerc´ıcio. E´ uma consequ¨eˆncia do fato que, por exemplo, na˜o existe nenhum racional cujo quadrado seja 2. 3. Sexta feira 21 de fevereiro de 2014 Exerc´ıcio 13. Prove o Princ´ıpio de Arquimedes. Exerc´ıcio 14. Deˆ a demonstrac¸a˜o do Teorema ??. Exerc´ıcios: Determine o superemo e o ı´nfimo dos conjuntos seguintes e, se existem, o ma´ximo e o mı´nimo. 15. (2, 3) 16. [0,+∞) 17. [−5, 1) ∪ (1, 4] 18. (0, 3] ∪ [3, 5] 5 19. { 1− 1 n , n ≥ 1 } ∪ { 1 + 1 n , n ≥ 1 } 20. ⋃ n≥2 ( − 1 2n , 1− 1 n ] 21. {x ∈ Q : x2 < 2} 22. { 2n n2 + 1 , n ∈ N } Exerc´ıcio 23. Determine supremo, ı´nfimo, ma´ximo e mı´nimo (se existem) do conjunto: A = { 1− 1 n , n ≥ 1 } , Exerc´ıcio 24. Seja A = ⋃ n≥2 An, onde, para cada n, An = ( − 1 2n , 1− 1 n ] . Determine supremo, ı´nfimo, ma´ximo e mı´nimo (se existem). Exerc´ıcio 25. Sejam A e B dois subconjuntos de R tais que A ⊆ B. Provar que supA ≤ supB e inf A ≥ inf B. Dado un nu´mero real a, definimos mo´dulo (ou valor absoluto) de a nu´mero na˜o negativo |a| = { a se a ≥ 0 −a se a < 0. Exerc´ıcio 26. Provar as desigualdades triangulares seguintes: para todos a, b ∈ R, |a+ b| ≤ |a|+ |b|, |a− b| ≥ |a| − |b|. Resolver algumas das inequac¸o˜es seguintes. 27. x2 − 2x− 1 ≤ 0 28. 3x2 − x+ 2 > 0 29. x− 2 x+ 1 > 1 x− 1 30. x2 + x− 1 x2 − 2x+ 1 ≤ 1 2 31. x4 − 3 4 x2 > 1 4 32. x2 ≤ 1 33. 2 x + 3 < 4 x − 1 34. 3 x2 + 1 ≤ x2 − 1 35. √ x− 1 < x− 3 36. √x2 + 2x− 1 > 3− x 37. √ x− 1 < √x 38. |x2 − 4x− 5| > −x 39. √−x < 5 + x 40. | − 6x+ 3| > −x+ 2 Topologia da reta real Definic¸a˜o 8. Dados um elemento x ∈ R e um nu´mero δ, real e positivo, o intervalo (x− δ, x+ δ) e´ dito vizinhanc¸a de x com raio δ. O nu´mero x e´ tambe´m chamado centro da vizinhanc¸a. Definic¸a˜o 9. Um subconjunto A e´ de R e´ dito aberto se, para cada x ∈ A existe δ > 0 tal que (x− δ, x+ δ) ⊆ A Observe que na definic¸a˜o acima o raio δ depende evidentemente de x. Definic¸a˜o 10. O conjunto vazio e´ aberto. 6 Podemos observar que a propriedade de ser aberto do conjunto vazio ∅ poderia ser obtida da definic¸a˜o ??, na˜o tendo nenhum elemento que possa na˜o respeitar a regra que a definic¸a˜o preveˆ. Definic¸a˜o 11. (Veja-se o exerc´ıcio 8) Dado um subconjunto E de R, o conjunto dos elementos de R que na˜o pertencem a E e´ dito complementar de E em R e denotado por CE. Definic¸a˜o 12. Um subconjunto C de R e´ dito fechado se o complementar e´ aberto. Exerc´ıcio 41. Um intervalo (a, b) e´ sempre uma vizinhanc¸a. Determine o centro e o raio. Exerc´ıcio 42. Diga se os conjuntos seguintes sa˜o abertos, fechados, nem abertos nem fechados. 1. (2, 3] 2. [0, 2) ∩ [1, 5] 3. [0, 1] ∩Q 4. {x ∈ R : 1 < |x| < 2} 5. (0, 3] − {2} (”−” significa: tirando 2 do conjunto anterior) 6. {x ∈ R : x+ x2 < 2} 7. N 8. (0, 2) ∪ 3 Outros exerc´ıcios. Rudin, p. 16, n. 1. Apostol, p. 33, n. 3,4,5,7,8,10. 4. Segunda feira 24 de fevereiro de 2014 Exerc´ıcio 43. Prove as propriedades seguintes. a) A unia˜o de uma famı´lia qualquer de conjuntos abertos e´ um aberto. b) A intersec¸a˜o de uma famı´lia qualquer de conjuntos fechados e´ um fechado. c) A intersec¸a˜o de um nu´mero finito de conjuntos abertos e´ um aberto. d) A unia˜o de um nu´mero finito de conjuntos fechados e´ um fechado. Exerc´ıcio 44. Mostre um exemplo de uma famı´lia infinita de conjuntos abertos cuja intersec¸a˜o na˜o e´ um aberto. Exerc´ıcio 45. Mostre um exemplo de uma famı´lia infinita de conjuntos fechados cuja unia˜o na˜o e´ um fechado. Definic¸a˜o 13. Dado um conjunto E contido em R, um ponto p ∈ R e´ dito ponto de fronteira de E se cada vizinhanc¸a de p conte´m pontos de E e pontos de CE. A fronteira de E e´ o conjunto dos pontos de fronteira e e´ denotada pelo s´ımbolo FE. O leitor pode observar que, pela definic¸a˜o acima, um ponto de fronteira de um conjunto E pode pertencer a E ou pode na˜o pertencer. Proposic¸a˜o 14. (com demonstrac¸a˜o) Dado E ⊆ R, a unia˜o E ∪ FE e´ um conjunto fechado. Exerc´ıcio 46. Prove que um conjunto E ⊆ R e´ fechado se e somente se FE ⊆ E. Exerc´ıcio 47. Prove que, dado E ⊆ R, a fronteira de E e´ um conjunto fechado. Exerc´ıcio 48. Prove a Proposic¸a˜o ??. 7 Definic¸a˜o 15. Dado um conjunto E contido em R, a unia˜o E ∪FE e´ dita fecho de E e e´ denotada por E. Exerc´ıcio 49. Dado E ⊆ R, prove que E e´ o mı´nimo conjunto fechado que conte´m E, ou seja, prove que: se C e´ fechado e conte´m E, enta˜o E ⊆ C. Definic¸a˜o 16. Dado um conjunto E contido em R, um ponto p ∈ E e´ dito interior de E se existe uma vizinhanc¸a (p− δ, p+ δ) contida em E. Exerc´ıcio 50. E´ fa´cil provar que um ponto que pertence a E na˜o pode ser ao mesmo tempo interior e de fronteira (mas uma das duas propriedaes sim, ele possui). Exerc´ıcio 51. E´ igualmente fa´cil provar que o conjunto dos pontos interiores de E e´ aberto. Exerc´ıcio 52. Determine os pontos interiores, a fronteira e o fecho dos conjuntos do exerc´ıcio 43. Definic¸a˜o 17. Dado um conjunto E contido em R, um ponto p ∈ R e´ dito ponto de acumulac¸a˜o de E se cada vizinhanc¸a de p conte´m infinitos pontos de E. Observac¸a˜o 18. O leitor observe que as definic¸o˜es de ponto de fronteira e de acumulac¸a˜o sa˜o distintas. Por outro lado, analogamente aos pontos de fronteira, um ponto de acumulac¸a˜o de um conjunto E pode pertencer a E ou pode na˜o pertencer. Exerc´ıcio 53. Determine os pontos interiores, a fronteira e o fecho dos conjuntos do exerc´ıcio 43. Exerc´ıcio 54. Tente escrever um exemplo de conjunto infinito que tem so´ um ponto de fronteira. Exerc´ıcio 55.Tente escrever um exemplo de conjunto que tem so´ um ponto de acumulac¸a˜o. Observac¸a˜o 19. Observe que, se E e´ um conjunto finito, todos os pontos dele sa˜o de fronteira, enquanto na˜o temos pontos de acumulac¸a˜o. Teorema 20 (de Bolzano-Weierstrass). (com demonstrac¸a˜o) Um subconjunto limitado e infinito (ou seja que possui infinitos elementos) possui (pelo menos) um ponto de acumulac¸a˜o. 5. Sexta feira 28 de fevereiro de 2014 Aula do Prof. Gaetano Siciliano. Exerc´ıcios sobre nu´meros reais e topologia da reta real. 6. Sexta feira 7 de marc¸o de 2014 Introduc¸a˜o a`s func¸o˜es Definic¸a˜o 21 (de func¸a˜o). Dados A e B conjuntos quaisquer, uma func¸a˜o f : A → B e´ una lei que a cada elemento de A associa um e so´ um elemento de B. 8 A se chama domı´nio da func¸a˜o, B e´ dito contradomı´nio. O conjunto dos valores atingidos por f se chama imagem de f , em s´ımbolos, Im (f) ou f(A), ou seja: Im (f) = {y ∈ B : existe x ∈ A tal que f(x) = y}. Im (f) e´ um subconjunto do contradomı´nio (pode ser igual). Uma func¸a˜o f e´ dita injetora se, para todos a, b ∈ A, tais que a 6= b, temos f(a) 6= f(b). E´ dita sobre- jetora se Im (f) = B. Se f e´ injetora e sobrejetora e´ chamada bijetora (ou correspondeˆncia biun´ıvoca). Definic¸a˜o 22 (de func¸a˜o real). Dado um subconjunto E de R, uma func¸a˜o real com varia´vel real e´ uma func¸a˜o f : E → R. Observac¸a˜o 23. O curso de Ana´lise real aborda basicamente o estudo das func¸o˜es reais com varia´vel real. Alguns exemplos de func¸o˜es reais com varia´vel real. (1) f : R→ R, f(x) = x. (2) As poteˆncias com expoente inteiro e positivo, f : R→ R, definidas por f(x) = xn. As poteˆncias sa˜o injetoras? (3) f : [0, 1] → R, f(x) = x2. O domı´nio (e provavelmente a imagem desta func¸a˜o) e´ diferentes daquele de g(x) = x2, se x ∈ R. Observe que, se duas func¸o˜es teˆm domı´nios diferentes sa˜o duas func¸o˜es distintas, mesmo se possuem a mesma lei alge´bica que as define. (4) Os polinoˆmios, ou seja, as somas finitas de poteˆncias com expoente inteiro e positivo e coeficientes reais: p : R ∈ R, p(x) = ∑nj=1 ajxj . (5) As func¸o˜es racionais, ou seja as frac¸o˜es de polinoˆmios f(x) = p(x)/q(x), definidas em conjuntos onde o denominador na˜o se anula. Os dois seguintes sa˜o exemplos de func¸o˜es definidas atrave´s de leis alge´bricas diferentes em diferentes partes do domı´nio. (6) f : R→ R, f(x) = { 1/x se x 6= 0 0 se x = 0. (7) f : [0, 4]→ R, f(x) = { x+ 3 se 0 ≤ x ≤ 3 x2 − 5 se 3 < x ≤ 4. (8) A func¸a˜o sinal de x, definida em R, sign (x) = −1 se x < 0 0 se x = 0 1 se x > 0. (9) A func¸a˜o parte inteira de x, definida em R, [x] e´ o maior inteiro relativo que na˜o supera x. (10) A func¸a˜o de Dirichlet, f : R→ R, f(x) = { 1 se x ∈ Q 0 se x ∈ R \Q. Exerc´ıcio 56. Observe que, pela ferramenta que temos agora, na˜o e´ poss´ıvel determinar a imagem de f(x) = x2 e das outras poteˆncias de expoente inteiro e positivo, com a u´nica excec¸a˜o do expoente 1. Discuta este fato. Exerc´ıcio 57. Responda a` pergunta do exemplo 2. 9 Exerc´ıcio 58. Quanto vale [1/2]? [−1/2]? [3]? Definic¸a˜o 24. E´ dito gra´fico de uma f : E → R o subconjunto de R2 G(f) = {(x, y) ∈ R2 tal que x ∈ E, y = f(x)}. Observac¸a˜o 25. A func¸a˜o √ x, assim como n √ x, na˜o sabemos por enquanto se e´ definida e onde. Ou seja, na˜o sabemos dizer sobre a existeˆncia da raiz quadrada e da raiz n-esima de um nu´mero real. Uma resposta sera´ dada depois da introuduc¸a˜o das func¸o˜es cont´ınuas. Exerc´ıcio 59. Uma func¸a˜o f : R→ R e´ chamada par se f(x) = f(−x), para todo x. E´ chamada impar se f(x) = −f(−x), para todo x. Prove que x2 + 1 e´ par e que x 3 − x x2 + 1 e´ impar. Sejam A, B dois conjuntos, e f : A → B uma func¸a˜o dada. Dado um subconjunto C de B, e´ dito imagem inversa de C o conjunto {x ∈ A : f(x) ∈ C}. Dada f : E → R e dado um suconjunto B de E, a func¸a˜o g : B → R, definida por g(x) = f(x) para todo x ∈ B e´ dita restric¸a˜o de f em B, o s´ımbolo e´ f |B . Se f : A → B e´ injetora, definimos a func¸a˜o inversa de f como a func¸a˜o g : Im f → A que associa a cada y ∈ Im f o u´nico x ∈ A tal que f(x) = y. Neste caso f e´ tambe´m chamada invers´ıvel e a func¸a˜o inversa e´ denotada, em geral, por f−1. Observac¸a˜o 26. Cuidado: na˜o fac¸a confusa˜o entre a imagem inversa (de um conjunto) que sempre e´ um conjunto e a func¸a˜o inversa, quando existe, que e´ uma func¸a˜o. A notac¸a˜o na˜o ajuda, sendo f−1 o mesmo s´ımbolo para os dois conceitos. Exerc´ıcio 60. Dada f : E → R, prove que, para todo D ⊆ R e C ⊆ E, temos f(f−1(D)) ⊆ D e f−1(f(C)) ⊆ C. Procure exemplos onde vale a igualdade e outros onde vale a inclusa˜o estrita. Em particular, prove que, se f e´ sobrejetora, vale f(f−1(D)) = D e que f−1(f(C)) = C se f e´ injetora. Observac¸a˜o 27. O leitor pode ver que a definic¸a˜o de func¸a˜o invers´ıvel na˜o requer que a func¸a˜o seja sobrejetora. Basta que seja injetora e acertar consequentemente o domı´nio da inversa como a imagem da func¸a˜o inicial. Sejam dadas duas func¸o˜es f : A → R e g : B → R, tais que Im (f) ⊆ B. Definimos func¸a˜o composta g ◦ f : A→ R, a func¸a˜o (g ◦ f)(x) = g(f(x)). Analogamente, se Im (g) ⊆ A, definimos f ◦ g : A→ R como (f ◦ g)(x) = f(g(x)). Uma func¸a˜o f : E → R e´ dita mono´tona crescente (resp. estritamente crescente) se, para cada x1, x2 em E, com x1 < x2, resulta f(x1) ≤ f(x2) (resp. f(x1) < f(x2)). Uma func¸a˜o f : E → R e´ dita mono´tona decrescente (resp. estritamente decrescente) se, para cada x1, x2 em E, com x1 < x2, resulta f(x1) ≥ f(x2) (resp. f(x1) > f(x2)). Exerc´ıcio 61. Estudar a monotonia das func¸o˜es seguintes: (1) f : R→ R, f(x) = x2, (2) f : [2, 6]→ R, f(x) = x4, (3) f : [0,+∞)→ R, f(x) = |x|, 10 (4) f [−5,−4] ∪ [1, 2], f(x) = 1/x. Exerc´ıcio 62. Provar que a soma de duas func¸o˜es crescentes e´ uma func¸a˜o crescente. A composic¸a˜o de duas func¸o˜es crescentes e´ uma func¸a˜o crescente? E o produto? A inversa de uma func¸a˜o estritamente crescente e´ uma func¸a˜o estritamente crescente? Exerc´ıcio 63. E´ evidente que uma func¸a˜o estritamente mono´tona e´ invers´ıvel. E´ verdadeiro ou falso o vice-versa, ou seja, que uma func¸a˜o invers´ıvel e´ estritamente mono´tona? Uma func¸a˜o e´ dita limitada (superiormente, inferiormente) se a imagem dela e´ limitada (superior- mente, inferiormente). Neste caso o supremo (´ınfimo) de f , sup f (inf f) e´, por definic¸a˜o, o supremo (´ınfimo) de Im (f). Se f na˜o e´ limitada superiormente, dizemos que sup f = +∞. Se na˜o e´ limitada inferiormente, dizemos que inf f = −∞. Exerc´ıcio 64. Prove que cada func¸a˜o f : R→ R e´ soma de uma func¸a˜o par e de uma func¸a˜o impar. 7. Segunda feira 10 de marc¸o de 2014 As func¸o˜es cont´ınuas Definic¸a˜o 28 (func¸a˜o cont´ınua). Sejam E um subconjunto de R, f : E → R uma func¸a˜o dada e x ∈ E um ponto dado. Dizemos que f e´ cont´ınua em x se para cada ε > 0 existe δ > 0 tal que f(x) ∈ (f(x)− ε, f(x) + ε) para todo x ∈ (x− δ, x+ δ) ∩E. A f e´ dita cont´ınua se e´ cont´ınua em todos os pontos do domı´nio. Em outras palavras a definic¸a˜o acima diz que f e´ cont´ınua em x se, dada uma vizinhanc¸a V de f(x), existe uma vizinhanc¸a U de x tal que f(U ∩ E) ⊆ V . Exerc´ıcio 65. Sejam f : E → R uma func¸a˜o dada e x ∈ E um ponto isolado de E (um ponto isolado de um conjunto e´ um ponto do conjunto que na˜o e´ de acumulac¸a˜o). Prove que f e´ cont´ınua em x. O significado do conceito de continuidade em x (que e´ parecido – mas na˜o igual – ao de limite, que veremos depois) diz que, quando x se aproxima de x, enta˜o f(x) se aproxima de f(x). Se x for isolado em E, ele na˜o tem pontos que se aproximam. Portanto f e´ trivialmente cont´ınua em x; pore´m, por outro lado, a continuidade na˜o e´ interessante no caso dos pontos isolados, porque o conceito de func¸a˜o cont´ınuaquer dizer que “a imagem muda pouco quando a varia´vel muda pouco”. Exerc´ıcio 66. Prove que f(x) = x e´ cont´ınua em todos os x reais. Exerc´ıcio 67. Prove que f(x) = |x| e´ cont´ınua em todos os x reais. Exerc´ıcio 68. Dados c ∈ R e f : R → R, definida por f(x) = c para todo x (func¸a˜o constante), prove que f e´ cont´ınua. Dada f : E → R, um ponto x ∈ E tal que f na˜o e´ cont´ınua em x e´ dito ponto de descontinuidade. Exerc´ıcio 69. Determine os pontos de descontinuidade das func¸o˜es parte inteira, sinal e da func¸a˜o de Dirichlet. Observac¸a˜o 29. Considerando f(x) = 1/x, na˜o e´ correto dizer que 0 e´ ponto de descontinuidade, porque 0 na˜o pertence ao domı´nio. 11 Exerc´ıcio 70. (dif´ıcil) (Veja Rudin pag. 76, ex. 10.) Seja f : (0, 1]→ R definida como f(x) = { 1/n se x = m/n, m e n inteiros positivos e primos entre si (m ≤ n) 0 se x e´ irracional. Prove que f e´ cont´ınua nos pontos irracionais de (0, 1] e descont´ınua nos racionais. Proposic¸a˜o 30 (A´lgebra das func¸o˜es cont´ınuas). (com demonstrac¸a˜o) Sejam f : E → R, g : E → R duas func¸o˜es cont´ınuas em um ponto x ∈ E. Enta˜o: (1) f + g e´ cont´ınua em x; (2) f · g e´ cont´ınua em x; (3) f/g e´ cont´ınua em x (posto que g(x) 6= 0). Observac¸a˜o 31. A prova da continuidade do quociente e´ mais fa´cil usando o Teorema da conservac¸a˜o do sinal (Teorema ?? abaixo). Exerc´ıcio 71. Grac¸as a` proposic¸a˜o acima e´ fa´cil verificar que os polinoˆmios e as func¸o˜es racionais sa˜o cont´ınuas. Verifique os detalhes desta afirmac¸a˜o. Proposic¸a˜o 32 (Continuidade das func¸o˜es compostas). (demonstrac¸a˜o por exerc´ıcio) Sejam duas func¸o˜es f : A → R e g : B → R tais que Im (f) ⊆ B. Dado x ∈ A, suponhamos que f seja cont´ınua em x e g em f(x). Enta˜o, g ◦ f e´ cont´ınua em x. Vamos ver agora os teoremas cla´ssicos das func¸o˜es cont´ınuas. Entre as consequeˆncias deles, poderemos finalmente definir a func¸a˜o raiz quadrada (mais em geral a raiz n-esima). Teorema 33 (Conservac¸a˜o do sinal). (com demonstrac¸a˜o) Seja f : E → R uma func¸a˜o cont´ınua em um ponto x ∈ E. Suponhamos f(x) > 0. Enta˜o existe uma vizinhanc¸a de x, (x − δ, x + δ), tal que f(x) > 0 para todo x ∈ (x− δ, x+ δ) ∩ E. O leitor na˜o tera´ dificuldade em adaptar o resultado acima ao caso em que f(x) seja negativo. Exerc´ıcio 72. Prove os treˆs itens da a´lgebra das func¸o˜es cont´ınuas. Exerc´ıcio 73. Prove a Proposic¸a˜o ??. Exerc´ıcio 74. Prove o Teorema de conservac¸a˜o do sinal. Exerc´ıcio 75. Prove que uma func¸a˜o f : R → R e´ cont´ınua se e somente se para cada aberto A (no contradomı´nio) a imagem inversa dele, f−1(A), e´ um aberto (no domı´nio). Outros exerc´ıcios. Rudin, pag. 75, n. 5, 13, 15. Apostol, pag. 166, n. 28; pag. 169, n. 21, 22. 8. Quarta feira 12 de marc¸o de 2014 A teoria das func¸o˜es cont´ınuas poderia ser elaborada para uma ana´lise matema´tica baseada nos nu´meros racionais. Todos os resultados acima continuariam valendo. O seguinte na˜o. Ele precisa do axioma da continuidade. Na˜o e´ por acaso que e´ dado para func¸o˜es definidas em intervalos. Teorema 34 (de anulamento). (com demonstrac¸a˜o) Seja f : [a, b] → R uma func¸a˜o cont´ınua (em [a, b]). Suponhamos f(a) · f(b) < 0. Enta˜o, existe um ponto c ∈ (a, b) tal que f(c) = 0. 12 Exerc´ıcio 76. Todas as hipo´teses do enunciado acima sa˜o importantes para a demonstrac¸a˜o (geralmente e´ assim: se um teorema e´ corretamente expresso, na˜o tem hipo´teses supe´rfluas). O leitor procure exemplos de func¸o˜es cont´ınuas em conjuntos que na˜o sa˜o intervalos para as quais o teorema de anulamento na˜o vale. Exerc´ıcio 77. O teorema de anulamento e´ um teorema de existeˆncia e na˜o fornece diretamente uma te´cnica para encontrar a soluc¸a˜o de uma equac¸a˜o f(x) = 0. Todavia, um algoritmo para aproximar soluc¸o˜es de equac¸o˜es f(x) = 0 e´ fa´cil para ser determinado. Seja f : [a, b] → R cont´ınua e tal que f(a) · f(b) < 0. Seja c1 = a+ b 2 o ponto me´dio do intervalo. Se f(c1) = 0, o problema e´ resolvido. Sena˜o, o novo intervalo [a1, b1] e´ obtido escolhendo aquela metade de [a, b] tal que f(a1) ·f(b1) < 0. Continuando o processo, na˜o temos nenhuma certeza de encontrar uma soluc¸a˜o, mas sim uma sua aproximac¸a˜o. Se, digamos, ao passo n, observamos que bn − an = b− a 2n , o ponto me´dio c do n-e´simo intervalo tem uma distaˆncia menor de b− a 2n+1 de uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o (embora na˜o tenhamos a menor ideia de quem seja a soluc¸a˜o exata). Consequeˆncia importante do Teorema de anulamento e o seguinte Teorema dos valores intermedia´rios. Cabe ao leitor lembrar as definic¸o˜es de supremo e ı´nfimo de uma func¸a˜o (pag. ??). Teorema 35 (dos valores intermedia´rios). (com demonstrac¸a˜o) Sejam I um intervalo de R e f : I → R uma func¸a˜o cont´ınua. Enta˜o, a imagem de f e´ feita por todos os valores entre inf(f) e sup(f). Observac¸a˜o 36. O teorema e´ falso se o domı´nio na˜o e´ um intervalo (pense em f(x) = 1/x que na˜o admite zero como imagem). Corola´rio 37. Uma func¸a˜o cont´ınua aplica intervalos em intervalos. Grac¸as ao teorema dos valores intermedia´rios podemos finalmente resolver o problema da imagem de x2 (e de muitas outras func¸o˜es). Problema que foi apresentado e na˜o resolvido na aula do dia 7 de marc¸o. Pegamos por exemplo o domı´nio [0, 2] e f : [0, 2]→ R, definida por f(x) = x2. Pelas propriedades alge´bricas dos nu´meros reais sabemos provar que: a) f(x) ≥ 0 para todo x; b) f e´ estritamente crescente; c) atinge o ma´ximo em x = 2 e o mı´nimo em x = 0; d) o ma´ximo vale 4 e o mı´nimo 0. Portanto a imagem de f e´ contida em [0, 4], mas podemos afirmar que coincide com [0, 4] so´ usando o teorema dos valores intermedia´rios. O teorema dos valores intermedia´rios permite (finalmente) provar a existeˆncia da raiz quadrada de um nu´mero positivo. Seja de fato a > 0 dado e seja a func¸a˜o x2 − a. Tal func¸a˜o e´ negativa em zero e positiva para x suficientemente grande (pelo Teorema de Arquime´des). Portanto se anula em um ponto b, evidentemente positivo. Ou seja existe b tal que b2 = a. Este b e´ a raiz quadrada de a, cuja unicidade ja´ foi provada. Portanto podemos definir agora f : [0,+∞)→ R, f(x) = √x. Outros exerc´ıcios. Apostol, pag. 172, n. 1, 2, 3. Este comentario final, abaixo, e´ uma parcial correc¸a˜o da ana´loga parte na pa´gina ??, onde teˆm algumas impreciso˜es. Como consequeˆncia do axioma de continuidade temos o importantissimo resultado seguinte. Teorema 38 (Princ´ıpio de Arquime´des). (com demonstrac¸a˜o) Dados dois nu´meros reais a, b com 0 < a < b, existe um nu´mero inteiro N tal que Na > b. 13 O teorema de Arquime´des permite provar as propriedades seguintes que deixamos como exerc´ıcio. Exerc´ıcio 11. Prove, usando o Princ´ıpio de Arquimedes, que o conjunto dos nu´meros reais positivos na˜o admite mı´nimo. Ou seja, provar que na˜o existe o nu´mero positivo menor de todos os outros. Exerc´ıcio 12. Prove que, dados dois nu´meros reais, positivos a e b, tais que a < b, existe um nu´mero racional m/n tal que a < m/n < b e que existe um nu´mero irracional s tal que a < s < b. As propriedades acima sa˜o de natureza alge´brica e tambe´m Q as verifica; na˜o sa˜o consequeˆncia do Princ´ıpio de Arquimedes. 9. Sexta feira 14 de marc¸o de 2014 Exerc´ıcio 78. Raiz n-e´sima. Analogamente podemos definir a raiz n-e´sima de um nu´mero positivo se n for par, e de um nu´mero real qualquer se n for impar. O leitor pode provar que a raiz existe e que f(x) = n √ x e´ definida em [0,+∞) se n e´ par e em R se n e´ impar. Exerc´ıcio 79. Poteˆncias com expoente racional. Usando a definic¸a˜o de raiz n-e´sima e, em particular, o fato de que ela existe, podemos definir uma poteˆncia com expoente racional. Comec¸amos definindo x0 = 1 para cada x 6= 0. Esta definic¸a˜o, absolutamente abstrata, permitea extensa˜o das propriedades das poteˆncias aos casos que envolvem x0: sabemos que xm/xm = 1. por outro lado, se queremos aplicar xm/xm = xm−m, a u´nica possibilidade e´ dada da escolha acima. Em seguida: dados x real e positivo e m,n inteiros positivos, definimos precisamente: xm/n = n √ xm = ( n √ x )m . Podemos ir ale´m: dados x ∈ R e m inteiro positivo, definimos x−m = 1 xm . As duas definic¸o˜es acima permitem definir xm/n = n √ xm = ( n √ x )m , x > 0, m, n ∈ Z,m, n 6= 0. Observamos o seguinte. a) A func¸a˜o f(x) = xm/n, definida em (0,+∞) pode ser extendida em 0 se na˜o tiver problema em anulamento de denominadores. O leitor verifique para quais valores de m,n e´ poss´ıvel. b) A func¸a˜o f(x) = xm/n, definida em (0,+∞) pode ser extendida aos x ≤ 0 se na˜o tiver problema em anulamento de denominadores e raizes de ı´ndice par de nu´meros negativos. O leitor verifique para quais valores de m,n e´ poss´ıvel. c) O leitor prove que as poteˆncias de expoente racional verificam as cla´ssicas propriedades das poteˆncias: xr · xs = xr+s, xr · yr = (xy)r, (xr)s = xrs. (O caso do expoente inteiro e´ imediato e na˜o precisa ser aprofundado.) d) A poteˆncia 00 na˜o e´ definida. O leitor pode tentar explicar quais poss´ıveis problemas encontraria uma tentativa de associar um valor a 00. Observac¸a˜o 39. O passo seguinte seria a definic¸a˜o de poteˆncia com expoente real. Nos cursos de Ca´lculo na˜o e´ dedicado muito espac¸o ao aprofundamento deste conceito, e sa˜o usadas sem grandes problemas func¸o˜es do tipo xα, onde x e´ real e positivo e α e´ real, e ax, onde a e´ real e positivo e x e´ real. (E´ inclusive definida a func¸a˜o xx para todo x real e positivo.) Fica claro que, por exemplo, 2pi na˜o pode significar o produto do nu´mero 2 por si “pi vezes”. Uma possibilidade para definir 2pi e obte´-lo como um 14 processo de aproximac¸a˜o de sequeˆncias de poteˆncias 2m/n quando os expoentes racionais aproximam pi. Mais simplesmente podemos definir 2pi = sup{2m/n, onde m,n ∈ N, e m/n < pi}. por esta via na˜o e´ particularmente dif´ıcil (mas na˜o e´ totalmente trivial) provar que 2x e´ estritamente crescente. Fica mais complicado todavia provar a continuidade e a derivabilidade. A estrate´gia que usaremos neste curso para a apresentac¸a˜o das poteˆncias con expoente real sera´ outra. Baseia-se na teoria da integrac¸a˜o e portanto na˜o pode ser desenvolvida agora. A avantagem principal desta abordagem, ale´m do fato de permitir ao estudante ver um outro ponto de vista, e´ a extrema facilidade da demostrac¸a˜o das principais propriedades de xα e ax. * * * Vamos ver agora a continuidade das func¸o˜es inversas. Primeiramente observamos o fato seguinte (veja-se o exerc´ıcio 63). As func¸o˜es estritamente mono´tonas sa˜o invers´ıveis, mas o vice-versa e´ falso. - 6 � � � � � @ @ @ @ @ O acima e´ o gra´fico de f : (−1, 1)→ R, f(x) = { −x se − 1 ≤ x < 0 x+ 1 se 0 ≤ x < 1. Ale´m disso, e´ fa´cil ver que f e´ descont´ınua em zero. Por outro lado a func¸a˜o g : (−1, 0) ∪ [1, 2] → R, g(x) = { −x se − 1 ≤ x < 0 x se 1 ≤ x ≤ 2 e´ cont´ınua e´ invers´ıvel, mas com inversa descont´ınua em 1. - 6 � � � � � @ @ @ @ @ Exerc´ıcio 80. Escreva a func¸a˜o inversa (determinando o domı´nio) e desenhe o gra´fico. 15 Sobre a relac¸a˜o entre invers´ıbilidade, monotonia e continuidade valem os resultados seguintes. Lema 40. (com demonstrac¸a˜o) Seja I intervalo de R e f : I → R cont´ınua e invers´ıvel. Enta˜o, f e´ estritamente mono´tona em I. O lema acima e´ usado para a demonstrac¸a˜o do teorema seguinte. Teorema 41 (Continuidade da func¸a˜o inversa). (com demonstrac¸a˜o) Seja I intervalo de R e f : I → R cont´ınua e invers´ıvel. Enta˜o, f−1 e´ cont´ınua. Uma consequeˆncia do teorema acima e´ a continuidade de n √ x (no oportuno domı´nio que depende do fato de n ser par o impar). Usando a continuidade do quociente de func¸o˜es cont´ınuas e da composic¸a˜o, e´ fa´cil ver a continuidade de xm/n, m,n ∈ Z. Exerc´ıcio 81. Apresente os detalhes das afirmac¸o˜es acima e prove o Lema ?? e o Teorema ??. 10. Segunda feira 17 de marc¸o de 2014 Seja f : E → R uma func¸a˜o definida em um subconjunto E de R qualquer. Definimos o ma´ximo de f , max(f) em s´ımbolos, o ma´ximo da imagem de f . O mı´nimo de f , min(f), e´ definido como o mı´nimo da imagem de f . E´ claro que temos inu´meros exemplos de func¸o˜es que na˜o possuem ma´ximo nem mı´nimo. O seguinte teorema, devido a Weierstrass1, garante a existeˆncia do ma´ximo e do mı´nimo de uma func¸a˜o cont´ınua definida em um conjunto limitado e fechado (um subconjunto limitado e fechado de R e´ chamado com- pacto). Teorema 42 (de Weierstrass). (com demonstrac¸a˜o) Uma func¸a˜o cont´ınua definida em um conjunto compacto possui ma´ximo e mı´nimo. Exerc´ıcio 82. A hipo´tese de compacidade do domı´nio e´ essencial. O leitor procure um exemplo de uma func¸a˜o cont´ınua definida em um conjunto na˜o limitado que na˜o possui ma´ximo (ou mı´nimo) e um exemplo de uma func¸a˜o cont´ınua definida em um conjunto na˜o fechado que na˜o possui ma´ximo (ou mı´nimo). * * * Vamos ver agora o conceito de continuidade uniforme. Definic¸a˜o 43 (continuidade uniforme). Dado um subconjunto E de R, uma func¸a˜o f : E → R e´ dita uniformemente cont´ınua se, para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que, se x, y ∈ E e |x − y| < δ, enta˜o εf(x)− f(y)| < ε. Teorema 44. (com demonstrac¸a˜o) Uma func¸a˜o cont´ınua definida em um conjunto compacto e´ uni- formemente cont´ınua. Exerc´ıcio 83. Deˆ a demonstrac¸a˜o do teorema anterior. Exerc´ıcio 84. Prove que x2 (definida em R) na˜o e´ uniformemente cont´ınua. Prove che 1/x na˜o e´ uniformemente cont´ınua em (0, 1). 1Karl Weierstrass, 1815-1897, foi um dos grandes refundadores e reorganizadores da ana´lise matema´tica moderna, base- ando o trabalho na clareza dos axiomas e das demonstrac¸o˜es. 16 Exerc´ıcio 85. (Apostol, pag. 166) Dar um exemplo de uma func¸a˜o que e´ cont´ınua num ponto de um intervalo e descont´ınua em todos os outros pontos do intervalo, ou provar que na˜o existe uma tal func¸a˜o. (Sugesta˜o: pense na func¸a˜o de Dirichlet.) Outros exerc´ıcios. Rudin, pag. 75, n. 6, 12. 11. Quarta feira 19 de marc¸o de 2014 Os limites de func¸o˜es O conceito de limite de uma func¸a˜o esta´ relacionado a` continuidade de uma func¸a˜o. Contudo, os dois conceitos sa˜o distintos. Na apresentac¸a˜o seguinte temos que dividir a definic¸a˜o de limite em va´rios casos. Em alguns destes casos, por exemplo nos limites para x que tende para infinito, o limite na˜o tem conexa˜o com o conceito de continuidade. Primeiro tipo de limite (limite finito de uma func¸a˜o em um ponto). Definic¸a˜o 45. Sejam E um subconjunto de R e x um ponto de acumulac¸a˜o de E. Seja f : E → R uma func¸a˜o dada. O nu´mero real l e´ dito limite de f(x) para x que tende para x, em s´ımbolos escreve-se lim x→x f(x) = l, se, para cada ε > 0, esiste δ > 0 tal que |f(x)− l| < ε para cada x ∈ E tal que 0 < |x− x| < δ. Observac¸a˜o 46. Lendo com atenc¸a˜o a definic¸a˜o, percebemos que a definic¸a˜o acima na˜o cuida do valor da func¸a˜o em x, que por sua vez pode na˜o pertencer a E (neste caso f(x) na˜o e´ definido) ou pode pertencer, mas tendo l 6= f(x). Se considerarmos, por exemplo, f : (−1, 1)→ R, f(x) = { x se x 6= 0 1 se x = 0 , podemos provar facilmente, usando a definic¸a˜o, que limx→0 f(x) = 0 6= f(0) = 1. Se considerarmos f : (0, 1) → R, f(x) = x, temos limx→0 f(x) = 0, mas f(0) na˜o existe, como 0 na˜o pertence ao domı´nio. No caso em que x ∈ E, a definic¸a˜o de limite dada acima e´ estritamente conexa com a continuidade de f em x (enquanto, se x /∈ E, sabemos que a continuidade de f em x na˜o faz sentido). Em outras palavras, e´ imediata a prova doteorema seguinte. Teorema 47. Seja E um subconjunto de R e x ∈ E um ponto de acumulac¸a˜o de E. Uma func¸a˜o f : E → R e´ cont´ınua em x se e somente se lim x→x f(x) = f(x). Exerc´ıcio 86. Prove o teorema acima. Segunda parte da aula: exerc´ıcios em sala de aula de preparac¸a˜o para a P1. 12. Sexta feira 21 de marc¸o de 2014 Como uma aluna mostrou para mim, teˆm alguns erros: na definic¸a˜o de func¸a˜o cont´ınua e no exercc´io 60. Em azul podem ser encontradas as correc¸o˜es. 17 Segundo tipo de limite (limite finito quando x tende para ±∞). Definic¸a˜o 48. Sejam E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente e f : E → R uma func¸a˜o dada. O nu´mero real l e´ dito limite de f(x) para x que tende para +∞, em s´ımbolos escreve-se lim x→+∞ f(x) = l, se, para cada ε > 0, esiste r ∈ R tal que |f(x)− l| < ε para cada x ∈ E, tal que x > r. Exerc´ıcio 87. Escreva a definic¸a˜o acima no caso ana´logo onde x tende para −∞. A prova dos dois teoremas seguintes pode ser dada desenvolvendo a mesma estrate´gia do ana´logo resultado para as func¸o˜es cont´ınuas. Omitimos os detalhes. Teorema 49 (Conservac¸a˜o do sinal para os limites). Caso 1: Seja E um subconjunto de R e x um ponto de acumulac¸a˜o de E. Suponhamos lim x→x f(x) = l ∈ R, l > 0. Enta˜o existe uma vizinhanc¸a de x, (x− δ, x+ δ), tal que f(x) > 0 para todo x ∈ (x− δ, x+ δ) ∩ E. Caso 2: Seja E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente (ou inferiormente). Suponhamos lim x→+∞ (ou x→−∞) f(x) = l ∈ R, l > 0. Enta˜o existe um intervalo I = (a,+∞) (ou I = (−∞, b) no caso em que x → −∞), tal que f(x) > 0 para todo x ∈ I ∩ E. Exerc´ıcio 88. Prove o teorema acima no caso 2 (sendo o caso 1, de fato, igual ao teorema de conservac¸a˜o do sinal para as func¸o˜es cont´ınuas, Teorema ??). Teorema 50 (A´lgebra dos limites - formas finitas). Seja dada uma das duas situac¸o˜es seguintes: 1) E um subconjunto de R e x um ponto de acumulac¸a˜o de E; ou 2) E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente (ou inferiormente). Sejam f, g : E → R duas func¸o˜es dadas. Sejam dados os limites lim x→x (ou x→±∞) f(x) = l ∈ R, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R. Enta˜o, (1) limx→x (ou x→±∞) (f(x) + g(x)) = l +m (soma); (2) limx→x (ou x→±∞) (f(x) · g(x)) = l ·m (produto); (3) limx→x (ou x→±∞) (f(x)/g(x)) = l/m, se m 6= 0 (quociente). Exerc´ıcio 89. Prove, usando a definic¸a˜o de limite, que limx→+∞ 1 x = 0. Segunda parte da aula: exerc´ıcios em sala de aula de preparac¸a˜o para a P1. 18 13. Segunda feira 24 de marc¸o de 2014 Prova P1. 14. Quarta feira 26 de marc¸o de 2014 Terceiro tipo de limite (limite infinito em um ponto). Definic¸a˜o 51. Sejam E um subconjunto de R e x um ponto de acumulac¸a˜o de E. Seja f : E → R uma func¸a˜o dada. Dizemos que +∞ e´ o limite de f(x) para x que tende para x, em s´ımbolos escreve-se lim x→x f(x) = +∞, se, para cada m ∈ R, esiste δ > 0 tal que f(x) > m para cada x ∈ I, tal que 0 < |x− x| < δ. Exerc´ıcio 90. Escreva a definic¸a˜o acima no caso ana´logo onde o limite e´ −∞. Exerc´ıcios: prove, usando a definic¸a˜o de limite, que os limites seguintes sa˜o corretos. 91. lim x→0 1 x2 = +∞ 92. lim x→+∞ 1 x2 = 0 Quarto tipo de limite (limite infinito quando x tende para ±∞). Definic¸a˜o 52. Sejam E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente e f : E → R uma func¸a˜o dada. Dizemos que +∞ e´ o limite de f(x) para x que tende para +∞, em s´ımbolos escreve-se lim x→+∞ f(x) = +∞, se, para cada m ∈ R, esiste r ∈ R tal que f(x) > m para cada x ∈ E, tal que x > r. Exerc´ıcio 93. Escreva a definic¸a˜o acima nos casos ana´logos onde x tende para −∞ e o limite e´ −∞ (quantos sa˜o os casos?) Exerc´ıcios: prove, usando a definic¸a˜o de limite, que os limites seguintes sa˜o corretos. 94. lim x→0 1 x4 = +∞ 95. lim x→+∞ x = +∞ 96. lim x→−∞ x 2 = +∞ 97. lim x→+∞ x x+ 1 = 1 No caso em que (pelo menos) um dos dois limites, de f ou de g seja infinito, temos alguns casos onde podemos dar uma regra geral de resoluc¸a˜o do limite da soma, do produto e do quociente. Sa˜o as assim chamadas “forma infinitas resolv´ıveis”. Temos outros casos nos quais uma regra geral na˜o existe e os limites devem ser abordados caso a caso. Os casos do teorema seguinte, assim como as “formas indeterminadas”, sa˜o bem conhecidos aos estu- dantes desde o curso de Ca´lculo 1. Aqui so´ vamos apresentar os resultados que, por outro lado, na˜o sera´ necessa´rio mencionar em sala de a´ula, sendo outro o corac¸a˜o do curso de Ana´lise real. 19 Teorema 53 (A´lgebra dos limites - formas infinitas e resolv´ıveis). Seja dada uma das duas situac¸o˜es seguintes: 1) E um subconjunto de R e x um ponto de acumulac¸a˜o de E; ou 2) E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente (ou inferiormente). Temos os casos seguintes: 1) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, enta˜o lim x→x (ou x→±∞) (f(x) + g(x)) = +∞; 2) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, enta˜o lim x→x (ou x→±∞) (f(x) + g(x)) = −∞; 3) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = +∞, enta˜o lim x→x (ou x→±∞) (f(x) + g(x)) = +∞; 4) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = −∞, enta˜o lim x→x (ou x→±∞) (f(x) + g(x)) = −∞; Produto: limx→x (ou x→±∞) (f(x) · g(x)) = +∞ nos casos seguintes: 5a) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m > 0; 5b) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m < 0; 5c) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = +∞; 5d) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = −∞; limx→x (ou x→±∞) (f(x) · g(x)) = −∞ nos casos seguintes: 6a) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m > 0; 6b) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m > 0; 6c) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = −∞; Quociente: limx→x (ou x→±∞) (f(x)/g(x)) = +∞ nos casos seguintes: 7a) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m > 0; 7b) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m < 0; 7c) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞ ou l > 0, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = 0, e g(x) > 0 em um intervalo (x− δ, x+ δ); 20 7d) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞ ou l < 0, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = 0, e g(x) < 0 em um intervalo (x− δ, x+ δ); limx→x (ou x→±∞) (f(x)/g(x)) = −∞ nos casos seguintes: 7a) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m > 0; 7b) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = m ∈ R, m < 0; 7c) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = −∞ ou l < 0, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = 0, e g(x) > 0 em um intervalo (x− δ, x+ δ); 7d) se lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞ ou l > 0, e lim x→x (ou x→±∞) g(x) = 0, e g(x) < 0 em um intervalo (x− δ, x+ δ); Na˜o temos a possibilidade de escrever uma a´lgebra dos limites para as formas seguintes. A existeˆncia e o valor do limites nos casos seguintes depende do exerc´ıcio: +∞−∞, 0 · (±∞), ±∞/±∞, 0/0. Os limites que se apresentam numa das formas anteriores sa˜o ditos em forma indeterminada. Observac¸a˜o 54. Cabe destacar que um limite que se apresenta em uma forma indeterminada na˜o significa que na˜o existe, mas que na˜o temos uma regra geral para determinar se existe e quanto vale. Exerc´ıcios: calcule os limites seguintes (se existem) 98. lim x→0 x x+ 1 99. lim x→1 x2 + 1 x− 1 100. lim x→0 x3 + x+ 3 4x2 − 2x+ 1 101. limx→+∞ 2x+ x2 2x2 + x− 1 102. lim x→+∞ x3 + 3x− 2x2 − 2x+ 1 103. limx→0 x2 + x− 4 2x2 104. lim x→2 x2 + x− 5 x2 − 4x+ 4 Teorema 55 (do confronto dos limites). Primeiro resultado. Sejam E um subconjunto de R e x um ponto de acumuluc¸a˜o de E ou seja E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente (ou inferiormente). Sejam f, g, h : E → R func¸o˜es dadas. Suponhamos que f(x) ≤ g(x) ≤ h(x) para cada x. Sejam dados os limites lim x→x (ou x→±∞) f(x) = l, e lim x→x (ou x→±∞) h(x) = l, onde l ∈ R. Enta˜o, lim x→x (ou x→±∞) g(x) = l. 21 Segundo resultado. Sejam E um subconjunto de R e x um ponto de acumuluc¸a˜o de E ou seja E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente (ou inferiormente). Sejam f, g : E → R func¸o˜es dadas. Suponhamos que f(x) ≤ g(x) para cada x. Seja dado o limite lim x→x (ou x→±∞) f(x) = l ∈ R, e suponhamos que exista o limite lim x→x (ou x→±∞) g(x). Enta˜o, este limite e´ ≥ l. Terceiro resultado. Sejam E um subconjunto de R e x um ponto de acumuluc¸a˜o de E ou seja E um subconjunto de R na˜o limitado superiormente (ou inferiormente). Sejam f, g : E → R func¸o˜es dadas. Suponhamos que f(x) ≤ g(x) para cada x. Seja dado o limite lim x→x (ou x→±∞) f(x) = +∞. Enta˜o, lim x→x (ou x→±∞) g(x) = +∞. Exerc´ıcio 105. Prove o primeiro e o segundo resultado. Prove o caso x→ +∞ ou x→ −∞ Exerc´ıcio 106. Prove este terceiro resultado. Em seguida, deˆ o enunciado no outro caso poss´ıvel (qual pode ser?). Exerc´ıcio 107. Prove, usando a definic¸a˜o, que limx→0 |x| = 0. Exerc´ıcio 108. Prove, usando a definic¸a˜o, que limx→+∞ n √ x = +∞, para cada n ≥ 1, n ∈ N. Exerc´ıcio 109. Aplicac¸a˜o do teorema do confronto: prove que se f(x) e´ limitada e limx→x (ou x→±∞) g(x) = 0, enta˜o, limx→x (ou x→±∞) (f(x)g(x)) = 0. Teorema 56 (limite de func¸o˜es compostas – sem prova). Seja f(x) dada e suponhamos que exista o limite lim x→x (ou x→±∞) f(x) = l onde l ∈ R ou l = ±∞. Seja g(x) uma outra func¸a˜o dada e suponhamos que exista o limite lim x→l g(x) = m onde m ∈ R ou m = ±∞. Suponhamos que a composic¸a˜o g(f(x)) seja bem definida e que, se l ∈ R, f(x) 6= l para x 6= x e x pro´ximo de x. Enta˜o, lim x→x (ou x→±∞) g(f(x)) = m. 22 Observac¸a˜o: parece estranha a hipo´tese f(x) 6= l para x 6= x e x pro´ximo de x. Todavia, se na˜o for verificada a condic¸a˜o, o limite da composic¸a˜o pode na˜o ser m, como no caso seguinte: f(x) = 0,∀x ∈ R, g(x) = { 0 se x 6= 0 1 se x = 0. E´ fa´cil ver que limx→0 g(f(x)) = 1, enquanto limx→0 g(x) = 0. Uma condic¸a˜o suficiente que pode substituir a condic¸a˜o acima e´ g(l) = m, se m e l for reais, ou seja g cont´ınua em l. Veja-se a Proposic¸a˜o ??. Um exemplo de limite que pode ser provado usando o teorema acima e´ limx→+∞ √ x2 + 1 = +∞. Exerc´ıcio 110. Calcule o limite acima, mostrando, nos detalhes, como e´ usado o teorema. Definic¸a˜o 57 (limites direito e esquerdo). Seja E um subconjunto de R e x ∈ E um ponto de acumulac¸a˜o direito de E, ou seja, tal que cada intervalo (x, x+ δ) possui (infinitos) pontos de E.2 Seja f : E → R uma func¸a˜o dada. O nu´mero real l e´ dito limite lateral direito de f(x) para x que tende para x do lado direito, em s´ımbolos escreve-se lim x→x+ f(x) = l, se, para cada ε > 0, esiste δ > 0 tal que |f(x)− l| < ε para cada x ∈ (x, x+ δ) ∩ E. Seja x ∈ E um ponto de acumulac¸a˜o esquerdo de E, ou seja, tal que cada intervalo (x − δ, x) possui (infinitos) pontos de E. Seja f : E → R uma func¸a˜o dada. O nu´mero real l e´ dito limite lateral direito de f(x) para x que tende para x do lado direito, em s´ımbolos escreve-se lim x→x− f(x) = l, se, para cada ε > 0, esiste δ > 0 tal que |f(x)− l| < ε para cada x ∈ (x− δ, x) ∩ E. Exerc´ıcio 112. Deˆ a ana´loga definic¸a˜o no caso de limites laterais quando l = +∞ ou −∞. Teorema 58 (sem prova). Seja E um subconjunto de R e x ∈ E um ponto de acumulac¸a˜o direito e esquerdo (i.e. bilateral) de E. Seja f : E → R uma func¸a˜o dada. Enta˜o: lim x→x f(x) = l se e somente se lim x→x+ f(x) = l = lim x→x− f(x). Exerc´ıcios: 113. Diga qual e´, entre as seguintes, a definic¸a˜o correta do limite lim x→4 f(x) = 7. 2Exerc´ıcio 111. Prove que, neste caso, e´ equivalente dizer ”pelo menos um ponto de E” ou ”infinitos pontos de E”. A raza˜o e´ que o intervalo (x, x+ δ) ja´ exclui x. Justifique nos detalhes. 23 a) Para cada λ e µ positivos, se |x−4| < µ e x 6= 4 enta˜o, |f(x)− 7| < λ. b) Para cada λ > 0 e para cada µ > 0, se |x− 4| < µ enta˜o, |f(x)− 7| < λ. c) Para cada µ > 0 existe λ > 0 e existe x tal que |x− 4| < λ e |f(x)− 7| < µ. d) Para cada µ > 0 existe λ > 0 tal que se |x−4| < λ e x 6= λ enta˜o, |f(x)−7| < µ. e) Para cada µ > 0 existe λ > 0 tal que se |x− 4| < λ e x 6= 4 enta˜o |f(x)− 7| < µ. f) Nenhuma das respostas acima e´ cor- reta. 114. Suponhamos que lim x→+∞ f(x) = −∞. Diga qual, entre as afirmac¸o˜es seguintes, e´ correta . a) Se x > 0 enta˜o f(x) < 0. b) Existe ε > 0 tal que f(x) < 0 para cada x > ε. c) Para cada ε > 0 existe η > 0 tal que para x > η temos f(x) > ε > 0. d) Nenhuma das respostas acima e´ cor- reta. 115. Consideramos a proposic¸a˜o seguinte: dadas f e g definidas em um intervalo I, seja x0 ∈ I fixado. Suponhamos que f(x) ≥ g(x) para cada x e que lim x→x0 f(x) = 0. Enta˜o, lim x→x0 g(x) = 0. A proposic¸a˜o e´: a) Verdadeira se colocamos a hipo´tese su- plementar g(x) ≤ 0, ∀x ∈ I. b) Verdadeira se colocamos a hipo´tese suplementar g(x) ≥ 0, ∀x ∈ I. c) Verdadeira sem necessidade de outras hipo´teses suplementares. d) Verdadeira se colocamos a hipo´tese suplementar f(x0) = g(x0) = 0. e) Falsa, tambe´m colocando as hipo´teses suplementares acima. 116. Dada f : R→ R, suponhamos que lim x→+∞f(x) = −∞. Enta˜o: a) f e´ decrescente. b) lim x→+∞f(x 2) = +∞. c) ∀m ≥ 0, temos f(x) ≤ 0 se x ≥ m. d) ∀m ≥ 0 e ∀k ≥ 0 f(x) ≤ k se x ≥ m. e) lim x→−∞f(x) = +∞ f) Nenhuma das respostas acima e´ cor- reta. 117. Dada f : N → N, f(x) = x + 1 diga quais (podem ser mais que uma) das afirmac¸o˜es sa˜o corretas. a) f e´ injetora. b) f e´ sobrejetora. c) f e´ limitada inferiormente. d) A notac¸a˜o f(x) = x+ 1 non faz sen- tido porque o domı´nio e´ N e a varia´vel a ser usada deve ser denotada por n. Exerc´ıcio 118. Procure uma f : R→ R que na˜o seja crescente, mas que verifique lim x→+∞ f(x) = +∞. Esta func¸a˜o deve ser definitivamente crescente? Isto e´, existe r tal que f e´ crescente em (r,+∞)? 24 15. Sexta feira 28 de marc¸o de 2014 A derivada de uma func¸a˜o: definic¸a˜o e algumas aplicac¸o˜es Seja I um intervalo de R, f : I → R uma func¸a˜o dada e x0 ∈ I dado. Variando m ∈ R, as equac¸o˜es y = f(x0) +m(x− x0) representam as retas secantes ao gra´fico de f no ponto (x0, f(x0)) (so´ excluindo a reta vertical que tem equac¸a˜o x = x0). Seja agora x ∈ I e o correspondente ponto no gra´fico de f , (x, f(x)). O quociente f(x)− f(x0) x− x0 se chama raza˜o incremental de f , relativa a x0 e x e e´ o coeficiente angular da secante por (x0, f(x0)) e (x, f(x)). Se existe o limite desta raza˜o quando x → x0, este limite da´, intuitivamente, o coeficiente angular de uma “reta posic¸a˜o limite” das secantes (quando x→ x0). Definic¸a˜o 59. Se existe e e´ finito o limite lim x→x0 f(x)− f(x0) x− x0 = l, enta˜o dizemos que f e´ deriva´vel em x0 e o nu´mero l se chama derivada de f em x0. a derivada de f em x0 (se existe) e´ denotada, normalmente, por um dos s´ımbolos seguintes: f ′(x0), df dx (x0), Df(x0), Df(x)|x=x0 . O primeiro e´ aquele mais comun. Uma outra forma de escrever a raza˜o incremental e portanto o limite acima e´ obtida pondo x−x0 = h. Temos f(x0 + h)− f(x0) h e lim h→0 f(x0 + h)− f(x0) h , A noc¸a˜o de derivada e´ pontual (como a de continuidade), ou seja derivada de umafunc¸a˜o em um ponto. Dada f : I → R, se f e´ deriva´vel em todos os pontos de I, dizemos que f e´ deriva´vel e fica bem definida uma nova func¸a˜o, a derivada de f , x 7→ f ′(x), definida em I. Se f e´ deriva´vel x0, a reta de equac¸a˜o y = f(x0) + f ′(x0)(x − x0) e´ definida reta tangente ao gra´fico de f no ponto (x0, f(x0)). Atenc¸a˜o: a precedente e´ a definic¸a˜o de reta tangente; outras poss´ıveis definic¸o˜es, como “a reta que encosta o gra´fico so´ em um ponto”, sa˜o corretas so´ em casos muito particulares, por exemplo a circun- fereˆncia. Reta secante e reta tangente em (x0, f(x0)). - 6 x1 x0 - 6 HHHHHHHHHHHH x0 25 Exerc´ıcio 119. Na para´bola de equac¸a˜o y = x2 procure um ponto onde a reta tangente a` parabola forma um aˆngulo de pi/4 com o eixo x. Derivadas de algumas func¸o˜es elementares. FUNC¸A˜O f(x) DERIVADA f ′(x) c (func¸a˜o constante) 0 xn (n ∈ N, n ≥ 1) nxn−1 Exerc´ıcio 120. Prove os resultados da tabela acima. Exerc´ıcio 121. Dados os gra´ficos seguintes, desenhe (intuitivamente) os gra´ficos das derivadas. - 6 c a - 6 a b - 6 c da - 6 c d Exerc´ıcio 122. Um corpo cai de uma altura de 15 mt, sujeto so´ a` forc¸a peso (desconsiderando o atrito do ar). A func¸a˜o espac¸o dependendo do tempo e´ s(t) = 1 2 gt2, onde g e´ a constante gravitacional terrestre, e vale cerca 9, 8 mt/sec2. Calcule a velocidade com que ele chega ao solo. Exerc´ıcio 123. Seja f(x) = x3. Calcule, usando a definic¸a˜o de derivada, f ′(0), f ′(−2), f(1/2). Exerc´ıcio 124. Prove que a derivada de uma func¸a˜o par (e deriva´vel) e´ uma func¸a˜o impar; e que a derivada de uma func¸a˜o impar (e deriva´vel) e´ uma func¸a˜o par. Exerc´ıcio 125. Prove que a func¸a˜o |x| na˜o e´ deriva´vel em zero. 26 16. Segunda feira 31 de marc¸o de 2014 Proposic¸a˜o 60 (Continuidade de uma func¸a˜o deriva´vel). (com demonstrac¸a˜o) Seja f : I → R uma func¸a˜o deriva´vel em um ponto x0 ∈ I. Enta˜o, f e´ cont´ınua em x0. Proposic¸a˜o 61 (Algebra das derivadas). (com demonstrac¸a˜o) Sejam f, g : I → R duas func¸o˜es deriva´veis em um ponto x0 ∈ I. Enta˜o sa˜o deriva´veis em x0 as func¸o˜es f ± g, f · g, 1/g e f/g (nestes u´ltimos dois casos se g(x0) 6= 0) e temos as fo´rmulas seguintes: (1) (f + g)′(x0) = f ′(x0) + g′(x0), (2) (f − g)′(x0) = f ′(x0)− g′(x0), (3) (fg)′(x0) = f ′(x0)g(x0) + f(x0)g′(x0), (4) (1/g)′(x0) = − g ′(x0) (g(x0))2 , (5) (f/g)′(x0) = f ′(x0)g(x0)− f(x0)g′(x0) (g(x0))2 Como exemplo, se n e´ inteiro positivo e x 6= 0, D 1 xn = −n 1 xn+1 Proposic¸a˜o 62 (Derivada da func¸a˜o composta). (com demonstrac¸a˜o) Sejam dadas duas func¸o˜es f : I → R e g : J → R, tais que Im (f) ⊆ J . Sejam f deriva´vel em um ponto x0 ∈ I e g deriva´vel em y0 = f(x0). Enta˜o g ◦ f e´ deriva´vel em x0 e (g ◦ f)′(x0) = g′(y0)f ′(x0). Demonstrac¸a˜o. Dado x ∈ I, consideramos a raza˜o incremental g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 . Vamos dividir a prova em dois casos. Caso A: suponhamos que exista um intervalo (x0 − a, x0 + a) tal que f(x) 6= f(x0) para todo x ∈ (x0 − a, x0 + a) ∩ I e (obviamente) x 6= x0. Neste caso temos g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x0) f(x)− f(x0) x− x0 . (1) Ou seja, para todo x ∈ (x0 − a, x0 + a) ∩ I e x 6= x0 podemos escrever o quociente com f(x)− f(x0) no denominador. Consideramos agora a func¸a˜o h : J → R, definida por h(y) = g(y)− g(y0) y − y0 se y 6= y0 g′(y0) se y = y0. Sendo g deriva´vel em y0, enta˜o h e´ cont´ınua em y0 (consequeˆncia direta do teorema ??). A composic¸a˜o h ◦ f : (x0 − a, x0 + a) ∩ I → R e´ definida por (h ◦ f)(x) = g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x)0 se x 6= x0 g′(y0) se x = x0. 27 O leitor pode fazer as (simples) contas que justificam esta u´ltima fo´rmula. Aplicando a proposic¸a˜o ??, temos a continuidade de h ◦ f em x0, portanto (de novo pelo teorema ??) temos o limite lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x0) = g ′(y0). Por outro lado, pela derivabilidade de f em x0, temos lim x→x0 f(x)− f(x0) x− x0 = f ′(x0). Enfim, pela a´lgebra dos limites (nas formas finitas – teorema ??), lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = g ′(y0) · f ′(x0). Caso B: vamos agora eliminar a hipo´tese auxiliar do caso A. Portanto, na˜o sabendo para quais valores de x temos f(x) 6= f(x0), temos que proceder com cuidado. Contudo, uma pequena variac¸a˜o do me´todo do caso A continua valendo neste sentido: seja h como acima. A diferenc¸a com o caso A esta´ na composic¸a˜o G(x) = (h ◦ f)(x) = g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x0) se f(x) 6= f(x0) g′(y0) se f(x) = f(x0). G e´ cont´ınua em x0 e portanto lim x→x0 G(x) = g′(y0). Por outro lado, na˜o sendo poss´ıvel escrever a igualdade (??) acima, consideramos g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = G(x) f(x)− f(x0) x− x0 . (O leitor verifique que a igualdade acima e´ verifica tambe´m quando f(x) = f(x0) sendo trivialmente nulos os dois membros). Os limites das duas func¸o˜es do segundo membro existem. Pela a´lgebra dos limites temos finalmente a tese do teorema. � 17. Quarta feira 2 de abril de 2014 Proposic¸a˜o 63 (Derivada da func¸a˜o inversa). (com demonstrac¸a˜o) Seja I intervalo, f : I → R invers´ıvel e g : Im (f)→ R a func¸a˜o inversa de f . Seja f cont´ınua em um ponto x0 e a inversa cont´ınua em y0 = f(x0). Se f e´ deriva´vel em x0 e f ′(x0) 6= 0, enta˜o, g e´ deriva´vel em y0 e temos g′(y0) = 1/f ′(x0). Exerc´ıcio 126. Prove a proposic¸a˜o acima. Como aplicac¸a˜o dos u´ltimos resultados, temos esta outra tabela de derivadas. FUNC¸A˜O f(x) DERIVADA f ′(x) n √ x (= x1/n) 1 n x1/n−1 (veja-se a analogia com as outras fo´rmulas) xm/n (m,n inteiros) m n xm/n−1 (veja-se a analogia com as outras fo´rmulas) Exerc´ıcio 127. Encontre um ponto P na hipe´rbole de equac¸a˜o y = 1 1 + x tal que a tangente por P encontre a origem do plano. 28 Exerc´ıcio 128. Encontre a equac¸o˜es das tangentes a` para´bola y = x2 − 4x + 3 que passam pela origem. Exerc´ıcio 129. Calcule a a´rea do triaˆngulo que tem como vertices os pontos comuns das para´bolas y = x2 e y = x − x2 e o ponto de intersec¸a˜o entre o eixo das abscissas e a tangente a` para´bola 2y = x2 em (−2, 2). Exerc´ıcios. Determine em quais pontos sa˜o deriva´veis as func¸o˜es seguintes e calcule as derivadas. 130. signx · x2 √|x| 131. |x2 + x| 132. [x] Exerc´ıcios. Calcule as derivadas das func¸o˜es seguintes. 133. x sen 2x 134. cos( senx) 135. x2 + 2 x3 − 3x 136. cos ( x− 1 x+ 2 ) 137. arctg √ x 138. √ arctgx 139. senx2 tg (x+ 2) 140. √ x+ 1 3 √ x4 + 1 Exerc´ıcio 141. Escreva a equac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico em (x0, f(x0)) da func¸a˜o seguinte. 142. x3 + 2x+ 3, x0 = −1/2 Exerc´ıcio 143. Diga em quais pontos a func¸a˜o seguinte e´ deriva´vel e calcule a derivada (nos pontos onde existe). Depois, diga se a derivada e´ cont´ınua. f(x) = 2x x2 + 2 x > 0 0 x = 0 x −x2 − 3 x < 0 Vamos estudar agora os ma´ximos e mı´nimos, absolutos e relativos. Definic¸a˜o 64. Seja A um subconjunto de R e f : A→ R uma func¸a˜o. a) O ma´ximo absoluto de f e´ o ma´ximo (se existe) da imagem de f . O mı´nimo absoluto de f e´ o mı´nimo (se existe) da imagem de f . b) Um ponto x0 ∈ A e´ dito ponto de ma´ximo absoluto se f(x0) e´ o ma´ximo absoluto de f . Um ponto x0 ∈ A e´ dito ponto de mı´nimo absoluto se f(x0) e´ o mı´nimo absoluto de f . c) Um ponto x0 ∈ A e´ dito ponto de ma´ximo relativo se existe um intervalo (x0 − δ, x0 + δ), tal que f(x) ≤ f(x0), para cada x ∈ A∩(x0−δ, x0+δ). Um ponto x0 ∈ A e´ dito ponto de mı´nimo relativo se existe um intervalo (x0 − δ, x0 + δ), tal que f(x) ≥ f(x0), para cada x ∈ A ∩ (x0 − δ, x0 + δ). 29 Exerc´ıcio 144. Seja a func¸a˜o f(x) = 2x, x ∈ [1, 2] ∪ [3, 4]. Determine, justificando a resposta, oma´ximo e o mı´nimo de f (porque existem?) e os pontos de ma´ximo e mı´nimo relativos. Exerc´ıcio 145. Determine, justificando a resposta, os pontos de ma´ximo e mı´nimo absoluto e relativo de f(x) = x2 se − 1 ≤ x < 0 2 se x = 0 3− x se 0 < x ≤ 3 . As definic¸o˜es acima envolvem func¸o˜es quaisquer, ou seja, que podem ser ou na˜o ser cont´ınuas nem deriva´veis. Contudo, se a func¸a˜o estudada e´ deriva´vel, a sua derivada nos da´ informac¸o˜es sobre os ma´ximos e os mı´nimos. Teorema de Fermat. ((com demonstrac¸a˜o)) (Condic¸a˜o necessa´ria para a existeˆncia dos pontos de ma´ximo ou de mı´nimo relativo.) Seja I intervalo de R e f : I → R uma func¸a˜o dada. Seja x0 um ponto interior de I (ou seja, um ponto que pertence a I, mas na˜o e´ extremo) e seja tambe´m um ponto de ma´ximo ou de mı´nimo relativo de f . Suponhamos que f seja deriva´vel em x0. Enta˜o, f ′(x0) = 0. Dada uma func¸a˜o f : I → R, um ponto x0 tal que f ′(0) = 0 se chama ponto cr´ıtico ou ponto estaciona´rio. Exemplo: f(x) = x2, x ∈ R. Todos os pontos do domı´nio sa˜o internos e f e´ deriva´vel. Sabemos que x = 0 e´ ponto de ma´ximo absoluto (e portanto relativo) de f . O teorema de Fermat nos diz que f ′(0) = 0, coisa que pode ser calculada facilmente. O vice-versa do teorema na˜o vale. Dada uma func¸a˜o f , se f ′(x0) = 0, na˜o sabemos se x0 e´ ponto de ma´ximo ou mı´nimo relativo. x = 0 e´ ponto cr´ıtico de f(x) = x3, mas na˜o e´ ponto de ma´ximo nem de mı´nimo relativo. O teorema de Fermat e´ usado so´ para estudar pontos interiores ao domı´nio. Se, por exemplo, consi- deramos f(x) = x, x ∈ [0, 1], sabemos que 0 e´ ponto de mı´nimo e 1 e´ ponto de ma´ximo. Pore´m, f ′(x) = 1, para todo x. Neste caso os pontos de ma´ximo e de mı´nimo sa˜o os extremos do domı´nio; o teorema de Fermat na˜o pode ser aplicado. Resumindo, os pontos de ma´ximo ou de mı´nimo relativo de uma func¸a˜o f : I → R, devem ser procurados entre: (1) os pontos internos do domı´nio onde f e´ deriva´vel e a derivada e´ zero; (2) os pontos onde f na˜o e´ deriva´vel; (3) os extremos de I. Exemplo: f(x) = x3/3 − x2/2 − 3; a func¸a˜o e´ definida em R, que e´ aberto (todos os pontos sa˜o interiores), e´ deriva´vel em R e a derivada se anula em 0 e 1. Estes dois pontos sa˜o candidatos a ser pontos de ma´ximo ou de mı´nimo relativo, mas ainda na˜o temos condic¸o˜es suficientes para dizer se de fato sa˜o. Para estudar pontos de ma´ximo ou de mı´nimo relativo, precisamos de um teorema, o Teorema do valor me´dio ou de Lagrange, que e´ um dos mais importantes da Ana´lise matema´tica. Veremos este teorema em breve. O exerc´ıcio seguinte formhece condic¸o˜es suficientes para obter pontos de ma´ximo ou mı´nimo relativo, so´ no caso de extremos de intervalos. Exerc´ıcio 146. Seja f : [a, b]→ R deriva´vel. Prove (pelo menos) uma das relac¸o˜es seguintes: (1) se f ′(a) > 0, enta˜o a e´ ponto de mı´nimo relativo; 30 (2) se f ′(a) < 0, enta˜o a e´ ponto de ma´ximo relativo; (3) se f ′(b) > 0, enta˜o b e´ ponto de ma´ximo relativo; (4) se f ′(b) < 0, enta˜o b e´ ponto de mı´nimo relativo. 18. Sexta feira 4 de abril de 2014 Exerc´ıcios em sala de aula. Exerc´ıcio 1: entre todos os nu´meros reais, na˜o negativos, cuja soma e´ 1, determine aqueles cujo produto e´ ma´ximo. Ideia da resoluc¸a˜o: se x, y sa˜o reais e ≥ 0, a func¸a˜o (de duas varia´veis) produto f(x, y) = xy eviden- temente na˜o tem ma´ximo. Contudo, x e y tem o v´ınculo y = 1− x; portanto podemos montar a func¸a˜o g(x) = x(1 − x), definida em [0, 1]. A g(x) possui ma´ximo absoluto porque podemos aplicar o Teorema de Weierstrass. Lembrando da lista de candidatos a serem pontos de ma´ximo absoluto (pag. ??), temos 0, 1 e o (u´nico) ponto cr´ıtico interior, que e´ 1/2. A comparac¸a˜o das imagens determina a soluc¸a˜o do exerc´ıcio. Exerc´ıcio 147. Refac¸a de novo o excerc´ıcio. Ale´m disso, qual e´ o mı´nimo do produto? Exerc´ıcio 148. O exerc´ıcio tem uma leitura geome´trica e pode ser equivalentemente formulado assim: entre todos os retaˆngulos de per´ımetro fixado, igual a 2, determine aquele de a´rea ma´xima. Existe o retaˆngulo de a´rea mı´nima? Exerc´ıcio 149. (Generalizac¸a˜o do exerc´ıcio 1 acima.) Determine o ma´ximo de f(x) = xm(1−x)n, onde m,n sa˜o inteiros positivos fixados e x ∈ [0, 1]. Exerc´ıcio 2: entre todos os nu´meros reais a e b, na˜o negativos e tais que a2 + b2 = 1, determine aqueles cuja soma e´ ma´xima. Exerc´ıcio 150. Analogamente ao exerc´ıcio anterior, este tambe´m tem uma leitura geome´trica e pode ser equivalentemente formulado assim: entre todos os retaˆngulos inscritos numa circunfereˆncia de raio 1 determine aquele de per´ımetro ma´ximo. Existe o retaˆngulo de per´ımetro mı´nimo? Enuncie e aborde os ana´logos problemas relativos a` a`rea ma´xima e mı´nima. Exerc´ıcio 151. Enuncie e aborde os ana´logos problemas relativos aos retaˆngulos circumscritos. Exerc´ıcio 3. No desenho seguinte temos duas tor- res de altura a e b, respectivamente, e distaˆncia d. Um passaro voa da cima da primeira torre, encosta o cha˜o em P a vai para cima da segunda torre. Ele percorre caminhos retos. Determine P tal que o caminho percorrido seja mı´nimo. O exerc´ıcio da´ a possibilidade de comparar o resul- tado obtido com a lei de reflexa˜o da luz e a lei dos senos de Snell sobre a refrac¸a˜o. C A D B P \ \ \ \ \\fi fi fi fi fi fi fi fi Exerc´ıcios Diga se existem o ma´ximo e o mı´nimo absolutos (e os pontos de ma´ximo e mı´nimo absoluto) das func¸o˜es seguintes nos conjuntos indicados ao lado. 31 152. x2 + 2 x , (0,+∞) 153. x 1 + x2 , R 154. x− [x], R 155. x 2 1 + x2 , R Exerc´ıcio 156. Divida 8 em duas partes tais que seja mı´nima a soma dos cubos delas. Exerc´ıcio 157. Seja V o volume de um prisma reto, cuja base e´ um triaˆngulo equila´tero. Determine o lado do triaˆngulos tal que a a´rea total seja mı´nima. Exerc´ıcio 158. Entre todos os cilindros inscritos na esfera de raio 1 determine: a) aquele de a´rea lateral ma´xima; b) aquele de a´rea total ma´xima. Exerc´ıcio 159. Entre todos os cones inscritos na esfera de raio 1 determine: a) aquele de volume ma´ximo; b) aquele de a´rea lateral ma´xima; c) aquele de a´rea total ma´xima. Exerc´ıcio 160. Entre todos os retaˆngulos de per´ımetro fixado determine aquele de a´rea ma´xima. Existe aquele de a´rea mı´nima? Exerc´ıcio 161. Entre todos os retaˆngulos de a´rea fixada determine aquele de per´ımetro mı´nimo. Existe aquele de per´ımetro ma´ximo? Exerc´ıcio 162. Seja dado um triaˆngulo retaˆngulo T . Denotamos por a e b as medidas dos catetos. Seja dada a definic¸a˜o seguinte: um reta´ngulo e´ dito inscrito em T se dois dos seus lados esta˜o sobre os catetos do triaˆngulo e um dos seus ve´rtices h esta´ na ipotenusa. Determine, entre todos os reta´ngulos inscritos em T , aquele de a´rea ma´xima. Exerc´ıcio 163. Seja dado um retaˆngulo de papela˜o (veja-se a figura abaixo), cujos lados medem h e b respectivamente. Queremos construir uma caixa cortando, nos cantos, quatro quadrados de lado l e levantandos os pedac¸os que sobram. Determine l tal que o volume seja ma´ximo. Resposta: l = b+ h−√b2 + h2 − bh 6 . b h l 6 ? -ff Exerc´ıcio 164. Queremos produzir latas de bebida gastando a menor quantidade poss´ıvel de alumı´nio. Supondo que uma lata de bebida seja um cilindro circular reto, com a capacidade de V dada (por exemplo 350 ml), determine o raio da base e a altura que rendem a a´rea total mı´nima. Resposta: r = 3 √ V 2pi Exerc´ıcio 165. Entre todas as piraˆmides retas de base quadrada e de a´rea total fixada determine aquela de volume ma´ximo. 32 Exerc´ıcio 166. No desenho abaixo o arco acima do retaˆngulo e´ a semicircunfereˆncia de dia´metro igual a` base do retaˆngulo. Entre todas as figuras deper´ımetro fixado P , determine a medida dos lados que rendem a a´rea ma´xima. Exerc´ıcio 167. Imagine que o desenho na esquerda represente uma praia. Em B temos o nosso guarda- sol. Queremos ir ao bar que esta´ em C. No ponto O comec¸a uma calc¸ada de madeira que chega ate´ o bar, e onde podemos andar mais rapidamente do que na are´ia. Suponhamos que a velocidade na are´ia seja 1 metro ao segundo, enquanto na calc¸ada 2m/sec. Supon- hamos que os segmentos OB e OC sejam perpendiculares. Ale´m disso, a calc¸ada tem 10 metros de comprimento, enquanto OB e´ 15 m. Partindo de B, determine em qual ponto da calc¸ada precisa entrar (continuando dal´ı ate´ o bar) para render mı´nimo o tempo para chegar ao bar. Exerc´ıcio 168. Olhando o desenho a direita, entre todos os segmentos verticais entre as para´bolas de equac¸o˜es 2y = 4− x2, onde y ≥ 0, e 3y = x2 − x− 6, determine aquele de comprimento ma´ximo. B. O. C. - 6 Outros exerc´ıcios. Rudin, p. 85, n. 1,2,5,6,7,8. Apostol, p. 228, fac¸a alguns. 19. Segunda-feira, 7 de abril de 2014 Teorema 65 (de Rolle). (com demonstrac¸a˜o) Seja f : [a, b] → R uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b] e deriva´vel em (a, b). Se f(a) = f(b), enta˜o, existe um ponto c ∈ (a, b) tal que f ′(c) = 0. 33 Teorema 66 (de Lagrange ou do valor me´dio). (com demonstrac¸a˜o) Seja f : [a, b]→ R uma func¸a˜o cont´ınua em [a, b] e deriva´vel em (a, b). Enta˜o, existe um ponto c ∈ (a, b) tal que f(b)− f(a) b− a = f ′(c). O Teorema de Lagrange permite (ale´m de ser um dos mais importantes resultados da Ana´lise) ligar a derivada a` monotonia de uma func¸a˜o. Teorema 67 (Primeiro teorema de monotonia de uma func¸a˜o). (com demonstrac¸a˜o) Seja I um intervalo e f : I → R uma func¸a˜o deriva´vel em todos os pontos de I. Enta˜o: a) f e´ crescente se e somente se f ′(x) ≥ 0 para todo x ∈ I; b) f e´ decrescente se e somente se f ′(x) ≤ 0 para todo x ∈ I. Se a func¸a˜o na˜o e´ definida em um intervalo, as implicac¸o˜es f ′(x) ≥ 0 para todo x =⇒ f e´ crescente f ′(x) ≤ 0 para todo x =⇒ f e´ decrescente sa˜o falsas. A func¸a˜o 1/x e´ definida em R\{0}, possui derivada negativa para todo x 6= 0, mas na˜o e´ decrescente (e´ decrescente nos dois intervalos (−∞, 0) e (0,+∞), separadamente). Se a func¸a˜o na˜o e´ definida em um intervalo, as implicac¸o˜es f e´ crescente =⇒ f ′(x) ≥ 0 para todo x f e´ decrescente =⇒ f ′(x) ≤ 0 para todo x continuam valendo. Observac¸a˜o 68. Mais precisamente e voltando ao teorema, vamos decompor as duas implicac¸o˜es do item a): i) f e´ crescente =⇒ f ′(x) ≥ 0 para todo x ii) f ′(x) ≥ 0 para todo x =⇒ f e´ crescente. O item i) acima e´ um resultado pontual, enquanto o item ii) e´ um resultado global, mais profundo. Ou seja: a derivabilidade de f em todo I parece um resultado global, mas e´ simplesmente a ”soma” da derivabilidade em todos os pontos, ou seja uma collec¸a˜o de resultados pontuais. O crescimento de uma func¸a˜o, por outro lado, pode ser pensado so´ globalmente no domı´nio e nunca faz sentido dizer que uma func¸a˜o e´ crescente em um ponto x. De fato o item i) so´ precisa do teorema da conservac¸a˜o do sinal dos limites e na˜o usa o Teorema de Lagrange, que, por outro lado, e´ crucial no item ii). Justamente, o item ii) cai se o domı´nio na˜o e´ um intervalo, enquanto o i) continua valendo. Observac¸a˜o 69. A implicac¸a˜o ⇐= do primeiro teorema de monotonia pode ser provada em uma versa˜o um pouco mais geral (e muito mais u´til nas aplicac¸o˜es): a) se f : I → R e´ cont´ınua em I e deriva´vel nos pontos internos de I e f ′(x) ≥ 0 nos pontos internos de I, enta˜o f e´ crescente em todo I. b) se f : I → R e´ cont´ınua em I e deriva´vel nos pontos internos de I e f ′(x) ≤ 0 nos pontos internos de I, enta˜o f e´ decrescente em todo I. 34 Em outras palavras, se temos f : [a, b] → R cont´ınua em [a, b], para dizer que f e´ crescente em [a, b] e´ suficiente provar que f ′(x) ≥ 0 em (a, b). Este fato e´ importante porque algumas vezes pode ser complicado provar a derivabilidade nos extremos do intervalo. Vamos enta˜o apresentar o pro´ximo resultado a` luz da observac¸a˜o acima. Teorema 70 (Segundo teorema de monotonia). a) Se f : I → R e´ cont´ınua em I e deriva´vel nos pontos internos de I e f ′(x) > 0 nos pontos internos de I, enta˜o f e´ estritamente crescente em todo I. b) Se f : I → R e´ cont´ınua em I e deriva´vel nos pontos internos de I e f ′(x) < 0 nos pontos internos de I, enta˜o f e´ estritamente decrescente em todo I. O vice-versa do teorema na˜o vale, no sentido que existem func¸o˜es estritamente crescentes tais que a derivada pode na˜o ser > 0 em todos os pontos (pore´m deve ser ≥ 0 em todos os pontos, pelo primeiro teorema de monotonia). Um exemplo e´ dado pela func¸a˜o x3 que e´ estritamente crescente em R, mas a derivada e´ nula em zero. Sabemos que a derivada de uma func¸a˜o constante e´ nula em todos os pontos. Pelo teorema de Lagrange podemos provar o vice-versa, se a func¸a˜o e´ definida em um intervalo. Teorema 71 (Terceiro teorema de monotonia). Seja f : I → R (onde I e´ um intervalo), deriva´vel e tal que f ′(x) = 0 para todo x ∈ I. Enta˜o f e´ constante Como ja´ dito, se o domı´nio na˜o e´ um intervalo, o teorema e´ falso. f(x) = { 1 se x ∈ (0, 1) 2 se x ∈ (1, 2) e´ definida em um conjunto, (0, 1) ∪ (1, 2), que na˜o e´ um intervalo, e´ deriva´vel com derivada nula em todos os pontos, mas na˜o e´ constante. Exerc´ıcio 169. Deˆ a demonstrac¸a˜o dos teoremas vistos nesta a´ula. Exerc´ıcio 170. Seja f : (a, b) → R uma func¸a˜o deriva´vel em (a, x) ∪ (x, b), onde x e´ um ponto do intervalo onde na˜o sabemos se f e´ deriva´vel. Suponhamos que o limite limx→x f ′(x) exista e seja um valor (finito) l ∈ R. E´ verdadeiro ou falso que f e´ deriva´vel em x e que f ′(x) = l? Se o leitor acha que a resposta seja afirmativa, deˆ a demonstrac¸a˜o. Do contra´rio, se procure um contraexemplo. Se a proposic¸a˜o acima for falsa, temos uma hipo´tese suplementar a ser colocada na f para que f ′(x) exista e seja l? 20. Quarta-feira, 9 de abril de 2014 Encerramos esta parte de apresentac¸a˜o da derivada e de algums teoremas importantes sobre a derivac¸a˜o com algumas observac¸o˜es. Exerc´ıcio 171. Se f(x) e´ uma func¸a˜o deriva´vel em [a, b] e se f ′(a) · f ′(b) < 0, enta˜o existe um ponto c ∈ (a, b) tal que f ′(c) = 0. Poder´ıamos ter a tentac¸a˜o de associar o exerc´ıcio acima ao teorema de anulamento para as func¸o˜es cont´ınuas. Todavia, ninguem garante que f ′(x) seja cont´ınua em [a, b] e portanto tal abordagem seria errada. De fato, podemos corretamente resolver o exerc´ıcio usando o exerc´ıcio 146 e: a) observando que 35 pelo menos um entre o ma´ximo e o mı´nimo absoluto de f (que existe porque as condic¸o˜es do Teorema de Weierstrass sa˜o respeitadas) cai em (a, b); b) aplicando em seguida o Teorema de Fermat. Exerc´ıcio 172. Nos exerc´ıcios encontramos geralmente func¸o˜es que, se sa˜o deriva´veis, tambe´m teˆm derivada cont´ınua. Podemos todavia montar exemplos de func¸o˜es deriva´veis em um intervalo com derivada descont´ınua em alguns pontos do intervalo. Um exemplo e´ o seguinte. Aqui damos a ideia geral, o leitor cuide dos detalhes. Consideramos o intervalo [0, 1] e as duas sequeˆncias de pontos xn = 1/2n e yn = 1/(2n + 1), onde n e´ inteiro e na˜o negativo (precisamente, n pode ser zero na definic¸a˜o dos yn, na˜o pode ser nulo para os xn). Tentamos definir uma func¸a˜o f(x), x ∈ [0, 1], tal que sejam verificadas as condic¸o˜es seguintes: f(0) = 0; observamos que o intervalo (0, 1] e´ unia˜o dos intervalos [yn, yn−1]. Em cada intervalo [yn, yn−1], fixado n, queremos que o gra´fico de f(x) seja um triaˆngulo iso´sceles, onde f(yn−1) = f(yn) = 0 e f(xn) = 1. O leitor observe que xn e o ponto me´dio de [yn, yn−1] e escreva a expressa˜o alge´brica desta func¸a˜o. Esta f(x) tem
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