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Ser Humano Diante e Contra Deus

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EA
D
Ser Humano Diante de 
Deus e Contra Deus
6
1. OBJETIVOS
• Compreender as razões teológicas sobre a unidade e a 
pluridimensionalidade da pessoa humana.
• Identificar as razões teológicas da pessoa humana como 
ser constitutivo de esperança, de liberdade e de agracia-
mento de Deus.
• Interpretar os argumentos sobre o mal, o pecado e a morte.
2. CONTEÚDOS
• Questão da unidade e dimensões da pessoa humana.
• Ser humano "diante" de Deus.
• Ser humano como ser de esperança.
• Ser humano como ser agraciado e Teologia da Graça.
• Ser humano como ser livre e questão da liberdade.
© Antropologia Teológica158
• Ser humano "contra" Deus.
• Ser humano e mal.
• Ser humano e pecado. 
• Ser humano e morte.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Para o estudo desta unidade, sugerimos que você com-
pare as ideias teológicas sobre a liberdade com as ideias 
filosóficas, expostas no caderno Antropologia Filosófica. 
Ao estudar, procure ver as diferenças e as aproximações.
2) Sugerimos, também, para um maior aprofundamento 
do tema, a leitura da seguinte obra: HÄRING, Hermam. 
Il male nel mondo. Potenza o impotenza di Dio? Brescia: 
Queriniana 2001. 
3) Para saber mais sobre o mal hoje e, também, sobre os 
lutos para o ser humano, leia: Concilium: Revista Interna-
cional de Teologia. 329-2009/1. Petrópolis: Vozes, 2009.
4) Convém lembrar que cristãos protestantes e ortodoxos 
não dão tanta ênfase à questão do pecado. Os cristãos 
da Igreja da reforma ressaltam mais o ser humano pe-
cador que sua pecabilidade. Já a Igreja Católica faz, em 
geral, o caminho inverso.
5) Informação: a referência ao teólogo e pastor luterano Die-
trich Bonhöeffer (1906-1947), prisioneiro nos campos de 
concentração durante a Segunda Guerra Mundial, pode 
ser encontrada no livro: BONHÖEFFER, Dietrich. Resistên-
cia e submissão. Anotações escritas na prisão. São Leopol-
do: Sinodal, 2003. Bonhöeffer fez a famosa pergunta que 
causou enorme impacto na Europa e é repetida constan-
temente: "Onde estava Deus, em Auschwiz"? 
6) Para maior compreensão do assunto tratado aqui, leia: 
KESSLER, H. Cristologia. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual 
de dogmática. Petrópolis: Vozes, 2000. v. 1.
159
Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
7) Bento XVI, no ano de 2007, lançou sua segunda encíclica 
sobre a esperança, intitulada Spes salvi e fundamentada 
em Rm 8,24. Sugerimos que você leia essa obra.
8) Diante do Esquema conceitual a seguir, procure interpretá-
-lo em vista da unidade que você começa a estudar agora. 
Um ser de 
esperança 
Dimensões da 
pessoa humana 
Corpo e alma 
(antigo dualismo cristão) 
Dimensões da 
pessoa humana 
Diferentes dimensões 
DIANTE DE 
DEUS 
SER 
HUMANO 
O próprio da 
esperança 
A esperança 
esperante 
De esperança em 
esperança 
Esperança como 
direito humano 
Teologia da 
Graça 
Dom e 
processo 
Deus é 
libertador, o 
homem é 
libertado 
Viver em 
liberdade 
Um ser 
agraciado 
Ser livre 
“CONTRA 
DEUS” 
O ser humano 
justo e pecador 
O Mal A Morte 
(Significado) 
O Pecado 
Morte 
eterna 
Passagem 
para a vida 
Ressurreição 
da carne 
Mistério 
do mal 
Origem do 
mal 
A experiência do 
pecado 
Ênfase 
amartiocêntrica 
O pecado 
original 
© Antropologia Teológica160
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Em unidades anteriores, tratamos da compreensão da ori-
gem humana. Vimos, particularmente, o sentido teológico da cria-
ção, a compreensão da origem humana na história da Igreja e a 
explicação das ciências naturais, terminando com uma discussão 
sobre a dignidade humana dos pontos de vista natural e cristão, 
respectivamente.
Nesta unidade, você vai refletir e aprofundar alguns temas 
de Antropologia que são marcantes na vida concreta da pessoa 
humana. Dividimos a unidade em dois blocos de três questões 
cada um, além da introdução. No primeiro bloco, você encontrará 
questões que estão diretamente relacionadas a Deus, a saber: a 
esperança, a graça e a liberdade. No segundo, as questões são 
"contra" Deus: a morte, o pecado (inclusive o pecado original) e o 
mal.
Sabemos que os temas são bem interessantes para seu es-
tudo e sua vida. Esperamos que você pense o mesmo e, ao final, 
perceba que, realmente, valeu a pena. 
Mãos à obra!
Antes de introduzir os três blocos, você deverá ter bem presentes 
os conceitos já estudados ("nephes", "ruah", "basar") e as seguin-
tes afirmações, também já estudadas anteriormente: 
a) o ser humano é perfectível (não nasceu perfeito nem imperfeito);
b) é portador de uma dignidade especial; 
c) existe como relação com Deus, consigo mesmo, com os outros 
e com o universo; 
d) é filho da Terra e imagem de Deus; 
e) mesmo quando se usa o termo "homem", quer se entender 
a pessoa ou o ser humano com base na Bíblia, nas filosofias 
atuais e na concepção da Igreja;
f) o conceito e a ideologia grega sobre o homem não são sufi-
cientes para o cristão.
 
161
Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
5. QUESTÃO DA UNIDADE E DIMENSÕES DA PESSOA 
HUMANA
A Antropologia, praticamente apresentada até aqui, fez uma 
teologização do ser humano na sua relação transcendente com 
Deus: ele é criatura filial, imagem de Deus e destinado a ele. Essa 
é uma Antropologia descendente. 
Agora, você deve voltar-se teologicamente mais para a pes-
soa na história. É uma Antropologia mais horizontal, à luz de Deus. 
E, claro, todas as questões anteriores vão servir de base para sua 
nova teologização. 
A pessoa humana é um ser de relações situadas. Ela é: 
1) sempre concreta e real. Quer dizer: a pessoa é João, Ma-
ria, Pedro, Ana e outros;
2) existe sempre e tão somente na relação com outros, 
com Deus e com o mundo. 
A pessoa humana é filha do cosmo, parente de Deus e irmã 
dos outros (esposo, filho, parente, vizinhos etc.), que são indivi-
dualidades com ela e como ela. 
Como individualidade, ela se confirma diante dos outros. O 
outro é quem confirma seu sentido. Ao situar-me na vida, percebo 
minhas dimensões humanas, conforme as circunstâncias.
O outro – humano e/ou divino – faz-me ser mais eu mesmo. No ou-
tro, vejo a face de Deus historicizada e localizada. No outro, eu me 
situo no tempo e no mundo (contexto sociocultural e religioso). No 
outro, vejo a face de Deus historicizada e localizada. Por causa do 
outro, sou chamado a presencializar, para mim mesmo, quem sou 
eu! Ao mesmo tempo, o outro obriga-me a localizar-me no tempo 
e no espaço. Ao situar-me na vida, percebo minhas dimensões 
humanas, conforme as circunstâncias. 
© Antropologia Teológica162
Corpo e alma
A Teologia Cristã e a Igreja foram herdeiras – até a exaustão – 
de uma concepção dualista sobre o ser humano: a questão "corpo 
e alma". 
1) O pitagorismo introduziu-a na cultura helênica. Ressal-
tou o dualismo ético e ontológico: o corpo é perecível e 
extremamente limitado pela matéria. Só a alma é forte e 
significativa, real e imortal. 
2) O gnosticismo (entre os séculos 2º e 4º d. C.) desqualifi-
cou o corpo e sua existência histórica. Valorizou a alma 
por ser capaz de transcendência. 
3) O cristianismo primitivo, ao inculturar-se fora do pensa-
mento semita, aceitou o dualismo helênico-neoplatôni-
co. Entretanto, valorizou o corpo, a carne, por dois moti-
vos: a encarnação do Verbo e o mistério da ressurreição, 
mesmo que a ressurreição da carne, do corpo, ocorra só 
no final dos tempos. 
4) Na escolástica (entre os séculos 10º e 19º), Santo Tomás 
(1227-1279) superou o dualismo anterior e usou a An-
tropologia Aristotélica (Aristóteles 348-322 a. C.). Acen-
tuou a unidade do homem:corpo e alma são dois as-
pectos de um só homem indivisível. É somente por meio 
do corpo que a alma pode existir e expressar-se. Após 
a morte, a alma aguarda, numa feliz contemplação de 
Deus, a ressurreição do corpo para restabelecer sua uni-
dade originária. 
 
As atuais concepções antropológicas são mais globais. Por exem-
plo, o Vaticano II, na Gaudium et spes, superou o modelo dualista. 
Em 1994, a Conferência dos Bispos da Alemanha afirmou: "A alma 
não é uma parte do homem ao lado do corpo, mas o centro da pes-
soa". É a pessoa humana inteira que entra na vida junto com Deus. 
Mas também o corpo não é simplesmente uma parte do homem. 
Ele é pessoa na sua relação completa com o mundo. 
Pela dificuldade de compreender a questão da ressurreição, 
o modelo dualista parecia melhor. Todavia, as novas compreen-
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
sões facilitam o estabelecimento de novos paradigmas sobre as 
dimensões do ser humano. 
Você pode perceber inúmeras consequências dessas ideias, ainda 
presentes na Igreja e na sociedade. Esse modelo de interpretação 
se impôs de maneira hegemônica.
 
No entanto, o modelo dualista vem sendo superado já há, 
aproximadamente, 40 anos. A Antropologia Teológica e a Escatolo-
gia atual consideram-no, no mínimo, insuficiente. A nova concep-
ção explora mais o conceito de pessoa como ser de relações. 
Dessa maneira, compreender a pessoa é percebê-la na to-
talidade de sua existência. Toda pessoa cresce. E cresce sempre 
rumo à perfeição definitiva (destinação final). Esse processo é uma 
construção, um enovelamento ou uma rede tecida na vida. Cada 
experiência produz consequências históricas. Só em Deus, passada 
a morte, é que se terá conhecimento total de quem se é, de quem 
se foi e de quem se há de ser. 
Diferentes dimensões humanas 
Para formular uma compreensão atual da pessoa humana, 
agora, voltam a ser importantes as ideias bíblicas ("nephes", "ruah" 
e "basar"), somadas às novas descobertas científicas e filosóficas. 
Assim, o ser humano é compreendido de forma multidimensional 
ou global. Ele possui as dimensões psíquica, física (corpórea), emo-
cional, pessoal, social, histórica, cósmica etc. Por essas dimensões 
múltiplas é que situamos a pessoa no mundo (presente e futuro). 
Assim, é com base nas diferentes dimensões humanas que 
você poderá aprofundar as questões propostas no início desta uni-
dade.
Comecemos com o primeiro bloco, que contém elementos 
transcendentes, mas tornam-se muito reais na vida de cada um.
© Antropologia Teológica164
6. SER HUMANO DIANTE DE DEUS
Neste tópico, você deverá compreender as três dimensões 
humanas que são, positivamente, constitutivas da pessoa huma-
na. Elas têm uma grande ligação entre si. A ordem proposta não é 
fixa. Poderia ser estudada, inicialmente, a dimensão da graça; de-
pois, a da esperança etc. Não é isso, contudo, o mais importante.
Com base na Antropologia, não se pode compreender o ser 
humano na sua concretude sem estes três aspectos: como um ser 
de esperança, agraciado por Deus e livre. Essas três questões estão 
profundamente relacionadas a Deus; por isso, a ênfase: "diante de 
Deus". 
Aliás, poderia ser bem interessante se você, antes de começar 
este importante estudo, escrevesse, em seu caderno, alguma coi-
sa sobre cada um dos temas, para comparar seu conhecimento e 
o possível "novo" a ser adquirido agora. Assim, nesta atividade de 
reflexão, tenha como base as seguintes indagações: 
- Por que Deus dá graças ao ser humano?
- Por que somos livres?
- Por que somos seres de esperança?
Ser humano como ser de esperança
Na unidade anterior, afirmamos isto: mais importante que a 
nossa origem é o fim (destinação) a que fomos chamados. A bon-
dade divina revelou-nos isso. 
E mais: porque conhecemos, esperamos esse fim. Faz parte 
de nossa estrutura humana o desejo da plenitude nossa em Deus. 
Essa esperança marca o nosso modo de viver. 
Talvez seus avós digam que, "no tempo deles", se vivia pensando 
na vida eterna, quase desprezando a vida presente. Não é assim 
nossa esperança hoje. Esperamos, é certo, uma garantida pro-
messa de nosso futuro feliz. Contudo, vamos vivendo de esperan-
ça em esperança. Damos passos e esperamos. Cremos esperan-
do. De passo em passo, vamos construindo nossa vida presente. 
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
Buscamos sempre algo melhor e superior. Lutamos com essa 
certeza. Queremos ser felizes; por isso, nossos atos são movidos 
pela esperança de conseguir tal felicidade. Isso é um constitutivo 
antropológico da pessoa humana. Somos seres da esperança que 
esperam e, por isso, agem.
Por natureza, o ser humano é um ser de esperança. É um ser 
aberto que transcende a si mesmo. Ninguém vive fechado em si. 
Thomas Merton (1915- 1968) dizia: "Ninguém é uma ilha". 
Ninguém é humano sozinho. Todos somos seres relacionais. 
Esse fato nos remete à consequente ideia de sermos seres de es-
perança. Ninguém vive sem ela. É verdade que são muitos os ní-
veis da esperança que se vive. Quanto maior a consciência de si e 
de percepção do outro "eu", maior será a esperança antropológica 
que se vive. Esse constitutivo humano está presente desde a vida 
intrauterina até a morte. 
Certamente, você já ouviu falar das reações de um feto, cujos 
pais tentaram abortá-lo. Essas reações estão ligadas à imperiosa 
necessidade de sobreviver. Elas são regidas pela esperança de 
poder viver. 
Nascer, crescer, casar-se, formar-se, aposentar-se etc. são si-
tuações que não existiriam sem esse desejo de ver as esperanças 
se realizarem. A esperança é sempre um olhar para frente e, ao 
mesmo tempo, é dadora de sentido ao viver presente. Essa "aber-
tura para [...]" é, na realidade, um constitutivo humano que não 
indica simplesmente uma insatisfação com o presente ou uma re-
volta contra a vida. É, antes e, sobretudo, o desejo de ser mais, de 
crescer, de ser feliz. 
Somos limitados por natureza, mas nossa constituição hu-
mana quer e almeja sempre o mais, o infinito. Até diante da morte, 
que parece ser o fim histórico de tudo, o coração humano põe a 
esperança de vencê-la e ultrapassá-la. 
© Antropologia Teológica166
Ser esperançoso não é um modo de ser só do indivíduo. As comu-
nidades e as nações, os grupos científicos e religiosos, também se 
constituem de esperança.
O próprio da esperança
Santo Tomás (1225-1274) diz que é próprio da esperança 
"tender para um bem, para um bem de difícil acesso, para um 
bem futuro, enfim para um bem possível". Essa espera afeta nosso 
modo de ser e nosso processo de aperfeiçoamento. A não posse 
do esperado é um estímulo ao empenho de vida na ordem tanto 
histórico-natural quanto escatológica. 
Abertos ao futuro 
O ato de esperar faz de nós seres abertos ao futuro histórico 
e escatológico. No futuro histórico, certamente, por melhores que 
sejam nossas esperanças, não conseguiremos tudo. É certo que 
Deus é a nossa garantia do futuro escatológico. A fé e a história re-
velam que aqueles que esperam são capazes de crescer. O deses-
pero, dizia Kierkegaard, é um segredo da experiência pagã. Aquele 
que se fecha no presente mediato ou imediato parece perder a 
esperança. Todavia, na verdade, é um ser desesperante. Por isso, 
espera ter razões para não colaborar no aperfeiçoamento de si, 
dos outros e do cosmo e, muito menos, para buscar sua realização 
histórica e definitiva em Deus. 
Esperança como direito humano
Parece, a muitas pessoas e povos "emancipados", "adultos", 
que a esperança está restrita ao conservar o bem-estar conquista-
do. Todavia, há, no mundo contemporâneo, milhares de pobres e 
excluídos – os irmãos comuns – que olham à mesa dos "ricos epu-
lões" como "Lázaros" (cf. Lc 16,19-31) e esperam a justiçae a liber-
tação. Para estes, a esperança é algo não só mais desejado, como 
167
Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
também de direito humano. No grito da esperança e da libertação 
dos pobres, pode-se medir mais significativamente o quanto é pro-
fundamente antropológica a questão da esperança como realida-
de constitutiva da pessoa humana.
Esperança fechada em si mesma
A ciência, a economia e a política vivem de esperanças tam-
bém. Entretanto, é uma esperança encerrada em si, controlada 
e autossuficiente. O ateísmo, o nada existencial e a angústia são, 
previamente, círculos fechados em si mesmos, incapazes de dar 
sustentabilidade ao significado de "ser-se" humano, pois o ser hu-
mano não se encerra nem si nem sequer no processo natural da 
vida. Se todo ser humano evolui, é porque lhe é possível (em espe-
rança e na vida) continuar, crescer, aperfeiçoar-se.
A revelação afirma que não existimos somente para a vida 
natural. Nós a transcenderemos. Por isso, é esperança escatológi-
ca, a qual não é nem indefinida nem cíclica
De esperança em esperança 
O compromisso com a vida move a pessoa de esperança em 
esperança, e transforma-a em um ser de decisões, de projetos. 
Todo ato humano, mesmo movido pela penúria ou pela necessida-
de, pela inquietação ou pela busca, pelo desejo ou pela vontade, 
é uma certeza de que algo melhor há de vir (inclusive o próprio 
suicídio). De fato, se é ser de esperança, todos os desafios incitam 
o ser humano ao compromisso solidário (às vezes, para o mal) de 
desenvolvimento. As situações pessoais (nascer, casar, trabalhar, 
curar-se do sofrimento etc.) e as sociais (a política, o desenvolvi-
mento, o combate às pandemias, as construções de moradias, a 
pesquisa científica, o voluntariado etc.) são sempre movidas por 
esse modo de ser da pessoa humana.
© Antropologia Teológica168
Dom gratuito
A história é construída, de modo marcante e radical, pela es-
perança humana. Isso implica uma abertura permanente a uma ple-
nitude que não se pode conquistar. A plenitude da esperança é um 
dom gratuito que transcende o próprio humano. Ao mesmo tem-
po, é um dom escatológico da eternidade no amor de Deus – como 
os cristãos creem e esperam para todos. A esperança manifesta-se 
como solidariedade, como libertação e, também, como justiça. 
Ela é, também, uma virtude teologal que, em vez de alienar, 
exige o compromisso radical, na história, de todos os homens e 
mulheres. Ela implica liberdade. Quer dizer: a esperança exige, an-
tropologicamente, a liberdade (tópico 3 desta unidade). 
 A Antropologia Cristã evidencia: a fonte da esperança é, na 
verdade, a promessa de Deus. O ser humano não é apenas atraído 
para Deus. É sabedor, também, de que sua esperança é factível para 
que haja, previamente, uma promessa de Deus. O fundamento úl-
timo da esperança é a realização plena e feliz de cada ser humano.
Como isso poderia acontecer sem que Deus nos tenha pro-
metido tal futuro? Nós cremos que a esperança última é a certeza 
do encontro com Deus: essa é a sua promessa. 
Além disso, o que esperariam aqueles que não creem em 
Deus e no seu Cristo? Estes não alcançarão a felicidade plena? 
Nossa simples compreensão humana alerta que qualquer ser hu-
mano vivente na história realiza sonhos e vive momentos de feli-
cidade. Uns são mais felizes que outros. Mesmo que a revelação 
divina ajude os cristãos a verem a felicidade plena em Deus, eles 
necessitam, com outros homens e mulheres, de experiências e de 
concretizações da esperança numa forma de felicidade.
 Todavia, a felicidade última é a esperança de repousarem em 
Deus. Para os que creem, esta esperança é certeza, por causa das 
promessas divinas. É importante recordar que tal realização da es-
perança é sempre um dom gratuito de Deus. Ele não está obrigado 
a ela senão porque Deus é amor. Porque Deus é Pai de todos e ama 
a todos, quer estender a todos tal felicidade. Porque é dom dele, 
169
Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
não importa que muitos não saibam dela e, consequentemente, 
não a busquem. Entretanto, os que creem são a boca, as mãos e o 
coração de Deus diante dos outros como testemunhas daquilo que 
esperam e, ainda, da promessa que Deus quer cumprir. 
Irmãos do Verbo
A esperança escatológica está fundada na certeza de que 
já somos criaturas e filhos de Deus, irmãos do Verbo, herdeiros 
da eternidade, mas nós ainda não recebemos a plenitude do que 
seremos. A estrutura ôntica da esperança humana indica que 
a realidade é maior do que vemos e percebemos. A realidade é 
processual, em que nada já está decidido ou previamente destina-
do (como a "moira" grega ou o "maktub" árabe). Na patência da 
realidade, está embutida a latência da própria realidade. Está aí 
a esperança de que, um dia, se evidenciará como nova realidade 
humana em Deus. 
Ser de esperança
É em Deus que a vida realiza a esperança última. É nele que 
ela se concretiza. Todavia, afirmar isso não é confirmar que, em 
Deus, tudo se acaba, tudo morre. A realidade escatológica em 
Deus é dinâmica e eterna. Deus, que é amor, é eterno. Quem vive 
em Deus vive a eternidade. Não necessita mais da esperança; vive 
na realidade dinâmica do amor. Isso é vida eterna em Deus. A es-
trutura ôntico-histórica do ser humano, como ser de esperança, 
transforma-se em estrutura eterna de amor (cf. 1 Cor 13,1-15).
A pessoa humana é um ser de esperança que, inclusive, espera. 
A esperança, por um lado, é uma virtude e, por outro lado, é modo 
de ser da pessoa humana. 
Ser humano como ser agraciado e a Teologia da Graça
Você deve lembrar-se de que: 
© Antropologia Teológica170
1) Somos seres em processo. Nós nos aperfeiçoamos como 
indivíduo e como espécie. 
2) A evolução é um processo aberto (que muitos dizem ser 
casual e, até, cheio de improbabilidades). 
3) A criação é um ato contínuo de Deus, também aberto e 
multidirecional. 
Se você relacionar essas lembranças, poderá perceber isto:
1) A processualidade do aperfeiçoamento que envolve o 
ser humano não nasce dele mesmo. O improvável que 
se tornou real – nós o sabemos pela fé – é obra de Deus. 
Ele chama-o à vida, mantém-no e leva-o à plenitude. 
Essa ação de Deus é graça. 
A graça é algo que vem de fora do ser humano, de Deus. 
Deus, como Criador, como Pai e como Providência, 
acompanha-nos imediatamente com suas graças. Somos 
livres para recebê-las ou recusá-las. 
Entre a graça e a liberdade (o dom de Deus e a aceitação humana) 
parece haver uma tensão. Se Deus agracia-nos, estaria privando-
-nos da liberdade? Seríamos obrigados a aceitar a graça, inclusive 
a de viver? Não seria a graça uma violência contra o ser humano? 
Pode a graça ser causa de nossa libertação?
2) Se Deus faz-nos seres em processo, também nos faz ca-
pazes de receber seu acompanhamento (graça) para nos 
levar à destinação/salvação plena (graça última). Na ver-
dade, tudo é graça, dom de Deus. 
Na Teologia, sobretudo desde Santo Agostinho, passan-
do por vários sínodos e teólogos, como Santo Tomás de 
Aquino, Lutero, Bayo, Jansênio e Quesnel, além do Con-
cílio de Trento, foram feitas grandes discussões sobre a 
graça como algo necessário ao ser "humano pecador". 
Esse tema, em muitos cursos de Teologia, aparece como uma dis-
ciplina autônoma. Aqui, você verá apenas alguns conceitos ime-
diatamente pertinentes à questão antropológica. 
171
Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
3) O ser humano – independentemente da fé, que é uma 
graça – está marcado pela graça desde a criação/origem 
pessoal até a visão/salvação de Deus. Para aperfeiçoar-
-se e, inclusive, superar o mal, ele é agraciado por Deus. 
Só se é humano por ser agraciado por Deus, isto é, so-
mente se vivepor graça de Deus.
Esse modo de Deus agir conosco não fere nossa liber-
dade nem quer ser um "remédio" à sua obra criada. Ao 
estabelecer a presença da pessoa humana no seu plano 
de salvação, Deus chamou-a, elegeu-a para ser santa e 
perfeita a seus olhos (cf. Ef 1,3) por Cristo, em Cristo e 
para ele, por ação do Espírito Santo. 
Faz parte do ser humano receber e viver (mesmo de for-
ma não consciente) da graça de Deus. Deus vive em nós, 
e nós vivemos nele e dele. 
Nos tradicionais Tratados da Graça, parte-se (quase sem-
pre) do pressuposto de que a graça é algo complementar, 
dada por Deus por causa do pecado. Isso seria a forma de 
Deus corrigir o ser humano, pecador desde o início. A graça 
seria um remédio ou um auxílio para vencer o pecado. 
Essa perspectiva tem uma longa história e está muito difundida. Ela 
caracterizou boa parte das discussões teológicas de Idade Média. 
Nessa Antropologia Teológica, nós partimos de outro pres-
suposto. Deus agracia-nos, concede-nos sua graça, porque 
somente podemos viver nele e para ele – mesmo com nos-
sa autonomia ou independência, até mesmo quando nos 
voltamos contra ele. Quando se fala em criação contínua, 
está-se falando também da graça do viver, que é anterior e 
independente (ou acima) do pecado. Ninguém vive (mes-
mo que esteja em pecado) sem a graça de Deus. 
Aqui, temos como pressuposto que a graça é o dom permanente 
de Deus para que o ser humano viva. Ela se torna graça especial 
nesta ou aquela circunstância. Seria inimaginável um ser humano 
viver sem a constante graça de Deus. Ela é a permanente forma 
de Deus estar conosco. 
© Antropologia Teológica172
4) Por ser dom de Deus, ela não depende da pessoa huma-
na, que – isso sim – pode rejeitá-la. Pela graça, todo ho-
mem e toda mulher são envolvidos amorosamente por 
Deus. A partir dessa experiência, é possível viver sempre 
diante de Deus, apesar dos males.
Viver sempre diante de Deus foi o que Jesus viveu – "passou pelo 
mundo fazendo o bem" (At 10,32). Assim viveu Maria, "a cheia de 
graça" (Lc 1,28). Deus acompanhou-os e eles, por força da própria 
graça, responderam à graça de Deus. "Tudo contribui para o bem 
daqueles que amam a Deus" (1Jo 5,19). 
5) A graça cria em nós o gosto, o otimismo e a alegria de vi-
ver, de crer e de esperar a realização plena. Ela nos abre 
a uma relação de comum-união (comunhão) não apenas 
entre Deus e nós, mas também entre nós mesmos. Isso 
confirma o ser de relações que somos como pessoas. Ela 
é o garante da vitória final de Deus sobre todo o mal. É, 
também, a garantia divina em nós para vencermos os 
males que nos assolam ou que provocamos. 
Por não sermos perfeitos (carecemos, ainda, da per-
feição), a presença de Deus em nós vai agraciando-nos 
para a perfeição. Ele nos auxilia com novas graças, a fim 
de não abusarmos da liberdade pelo pecado. Ele nos dá 
graças para vivermos em santidade e para evitarmos o 
pecado e o mal. Contudo, ele não se permite impedir-
-nos de pecar e de praticar o mal. 
6) Por sermos seres agraciados por Deus, somos cocriado-
res com ele. Não somos meros participantes ou espec-
tadores do mundo em que nos situamos. Nossa missão 
é colaborar na obra criacional toda. Para isso, recebe-
mos a graça de Deus. O que somos adquire existência 
por essa gratuita expressão do amor de Deus. A atuação 
no mundo, a colaboração na construção de um mundo 
melhor, a recepção da conquista humana e o empenho 
por legar uma herança maior: tudo isso vem impulsiona-
do por essa amorosa e gratuita relação de Deus em nós 
e conosco. 
173
Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
7) Diante dos revezes das pessoas, das sociedades, dos paí-
ses e do meio ambiente, Deus oferece, de muitos mo-
dos, sua bênção (sua graça) para a renovação de tudo. 
Os próprios cristãos tornam-se portadores e mediadores 
privilegiados da graça de Deus em prol do bem comum 
– mesmo quando Deus utiliza outros crentes e religiosos 
para esse fim. 
8) Ser agraciado por Deus é algo conatural ao ser huma-
no, independentemente de sua vontade e de sua ação. 
Fomos escolhidos por ele desde antes da criação do 
mundo para ser santos e perfeitos, como diz São Paulo. 
Somos chamados por ele para que seja completado em 
nós graciosamente todo o processo de humanização a 
ser realizado. Sem prejuízo da liberdade, a pessoa huma-
na pode acolher esses favores divinos exatamente para 
seu amadurecimento e plenificação. 
9) A graça não é oferecida só ao indivíduo. Também é ofe-
recida à coletividade humana, quer no conjunto, quer 
nos grupos derivados. Nesse último sentido, ela se apre-
senta, ainda, como iluminação da atividade humana nos 
laboratórios de pesquisa, na organização social, no pro-
cesso da educação e da cidadania, no trabalho, no lazer, 
na vida, enfim. 
10) Há, porém, um aspecto especial da graça: é dada aos 
homens e às mulheres uma consciência libertária para 
produzir a libertação dos pobres, dos oprimidos e dos 
marginalizados. Essa situação de pobreza, que é, nor-
malmente, produto intencionado por grupos humanos, 
exige a atenção de todos (especialmente dos cristãos) 
para a graça da fraternidade à mesa comum dos filhos e 
filhas de Deus. Se a pessoa humana foi criada para viver 
da graça, então, a ação libertária de Deus e dos seres hu-
manos (graça) em prol dos mais necessitados (questão 
antropológica) torna-se um dever empenhativo (ques-
tão moral) de todos.
O ser humano é permanentemente agraciado por Deus; por 
isso, ele vive. Ele vive da graça constante da Providência Divina não 
porque é pecador, mas porque Deus o ama desde toda a eternida-
© Antropologia Teológica174
de. Viver a vida de agraciado é, constitutivamente, o modo do viver 
humano. O ser humano pode até dizer que rejeita a graça e agir 
contrariamente a Deus, mas isso não impede Deus de agraciá-lo até 
mesmo nesses casos. Do contrário, a pessoa humana não viveria.
Viver a graça é viver na alegria, na solidariedade, na comu-
nhão com todos e na construção de um mundo melhor. É ser ima-
gem do ser humano como filho e irmão de Deus. 
Ser humano como ser livre e questão da liberdade. Certa-
mente, as suas experiências de liberdade já o convenceram de que 
você não é livre para fazer o que quer. Ninguém consegue isso. 
Às vezes, alguns acham que ser livre é poder fazer o que se 
deve. Entretanto, o "se deve" seria uma obrigação. Isso, então, não 
contrariaria a liberdade? 
Imagine, agora, a seguinte situação: numa roda de amigos, 
falava-se de fidelidade conjugal. Bem que poderia ser outro tema. 
Uma esposa de meia idade diz: "Sempre confiei no meu marido. 
Ele viaja muito. Tem toda a liberdade. Ele pode fazer tudo o que 
quiser. Por isso, sei que ele jamais me trairá". Responda, agora: a 
esposa está certa? 
A concepção de liberdade, em sentido antropológico, é dife-
rente da concepção do sentido moral. Na base deste (moral), está 
aquele (antropológico). Também é diferente a concepção grega da 
atual concepção personalista de liberdade.
As concepções filosóficas, uma vez que são filhas da própria 
razão, não são conceitos exaustivos para a Teologia. Isso acontece 
porque, naquelas, o ser humano basta-sei; nesta, o ser humano é 
um ser de relações com Deus e com os irmãos.
Apenas o ser humano pode ser livre, pois é o único chamado 
a sê-lo.
Você pode entender melhor o porquê de a pessoa humana 
ser chamada a ser livre quando a compara com os animais. Na li-
175
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
berdade, há componentes de consciência, de relação, de vontade, 
de possibilidade de decisão, de memória, de responsabilidade, de 
adesão e, até, de renúncia. 
A consciência de liberdade tem uma história. Para os gregos 
em geral, era condição de ser cidadão e não escravo. Para Sócra-
tes, eraa capacidade de fazer o melhor. Já para Aristóteles, era 
a capacidade de escolher. Santo Agostinho, por sua vez, definia-a 
como a capacidade de decidir. Finalmente, para Kant, era a capaci-
dade de agir autonomamente. 
Na Bíblia, há outras concepções. Consulte, em um dicionário 
teológico, o verbete "liberdade".
Convém diferenciarmos isto:
• liberdade de Deus; 
• liberdade do ser humano. 
Deus é libertador, o ser humano é libertado
É Deus quem liberta e capacita as pessoas para entrarem em 
comunhão com ele e com os outros. Para São Paulo, a liberdade é 
um bem salvífico universal e gratuito que liberta o ser humano de 
todos os poderes, inclusive o da morte (cf. Rm 8,2-9.21). É, tam-
bém, um dom escatológico.
• O ser humano é livre porque recebeu a liberdade Deus, o 
único capaz de libertá-lo de todos os condicionamentos. 
• O ser humano é livre quando opta por Deus e quando se 
integra em obediência à ordem criada por Deus.
• Ser livre é ter a capacidade de se autodeterminar dentro 
do plano de Deus. 
• O fundamento das liberdades está na comunhão com Deus.
• Ela é uma atitude diante do pecado e da lei.
Ser livre é um modo humano de existir. É a liberdade de Deus 
que torna o ser humano livre. Isso implica uma vocação, um cha-
© Antropologia Teológica176
mado de Deus. Em contrapartida, é uma conquista que, pela graça 
de Deus, se faz ao longo da vida. 
Comblin (1998, p. 238) afirma:
Ninguém ‘é’ livre. A liberdade está no agir para se libertar. Esta é 
a nossa vocação humana: tornar-se alguém, uma pessoa, fazer-se 
uma personalidade mediante uma luta, um trabalho, uma ativida-
de que consiste em libertar-se. A libertação tem uma finalidade: 
tornar-se livre, dar-se a si próprio uma personalidade realmente 
mais livre. A liberdade é seu fim próprio, e ela se constrói no decor-
rer da vida, no meio das oportunidades, dentro das vicissitudes de 
uma existência humana terrestre. 
O livro Vocação para a liberdade, de José Comblin, é muito inte-
ressante, sobretudo na reflexão que ele faz sobre os processos 
libertários.
O ser humano não tem um destino cego ("moira", como di-
ziam os gregos), nem sua vida está selada ("maktub", como dizem 
os árabes). Não tem uma meta histórica e escatológica irrecusável 
de antemão. 
A vocação para a liberdade é um chamado e uma graça de 
Deus. Ela se torna uma experiência fundante e fundamental para o 
ser humano. Deve fazê-lo superar a si, seus desejos e medos, seus 
temores e egoísmos, seus traumas e subserviências, suas "posses" 
e sua história.
Desse modo, livre é aquele que pode pôr-se a serviço dos ou-
tros. Pôr-se a serviço dos outros é não ser escravo; antes, o contrá-
rio. É claro que não é livre aquele que é obrigado a estar a serviço 
dos outros, pois, aí, ele pode estar, inclusive, desumanizado. 
Só no serviço voluntário de amor é que se conquista a liber-
dade. Nesse sentido, o exemplo de Jesus Cristo, que passou pelo 
mundo fazendo o bem (cf. At 10,38), é ímpar. Ele se tornou livre 
exatamente porque se esvaziou totalmente de si (cf. Fl 2,6) para 
servir a Deus e aos seus irmãos, especialmente aos marginalizados 
e aos pobres. Ele foi um homem livre. 
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Claretiano - Centro Universitário
© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
Nem sempre, homens públicos (presidentes, governantes e outros 
mais) são homens livres. Nem pública nem privadamente. Procu-
re, em contrapartida, analisar, sob o prisma da liberdade, a vida 
de alguns homens e mulheres livres, tais como: Gandhi, Mandela, 
Tereza de Calcutá, Helder Câmara e Luther King.
No processo de libertação, surge uma aparente contradição: 
Cristo libertou-nos para a liberdade, diz São Paulo. Só ele nos fez 
livres para a liberdade. 
Ser livre é um processo a ser construído. Nada está previa-
mente determinado. O nosso futuro está aberto. Quanto mais nos 
libertamos, mais livres nos tornamos. 
Contudo, a nossa libertação é um colocar-nos sob o senhorio 
de Cristo. Eis, aqui, a questão: ao colocarmo-nos sob o senhorio 
dele, não nos tornamos seus escravos? 
Sim! Mas é apenas nos colocando a serviço dele que con-
quistamos nossa liberdade. Só nele nos tornamos verdadeiramen-
te livres. 
Então, podemos dizer: somos escravos de Cristo (afirmação 
negativa); por isso, somos livres (afirmação positiva). A liberdade 
é um dom de Deus. Em outras palavras: somos criados em Cristo 
como imagens e filhos de Deus para nos realizarmos em plenitude 
nele, vendo-o face a face – em função disso é que somos livres. 
Somos livres à medida que vivemos esse processo. Fora dele, 
que futuro se pode ter? Não é por acaso que, em Deus, conquis-
tamos nossa plenitude (apesar de sermos livres para recusá-la). 
Se só aí estará nossa humanização completa, então, somente sob 
o seu senhorio é que atingiremos a razão de nosso viver. Ele é o 
Senhor que, na força do espírito, nos liberta para a liberdade. 
• Desse modo, concluímos: 
• Ser livre é, na verdade, colocar-se sob a vontade de Deus 
em vista da realização de seu plano salvífico. Seremos livres 
à medida que realizamos aquilo que Deus quis para nós.
© Antropologia Teológica178
• A libertação última é poder viver em Deus. Só aí seremos 
plenamente humanos. Então, não mais precisaremos nem 
da própria liberdade nem mais da esperança. Viveremos na 
eterna graça como salvos, isto é, plenificados e realizados. 
Só o ser humano é um ser livre, porque Deus o liberta para a liber-
dade, que consiste em fazer a vontade de Deus.
Para situar o ser humano, afirmamos que sua vida tem várias 
dimensões, sem dicotomias. Deus fez o homem como um ser de 
esperança, para que ele tomasse em suas mãos o próprio cresci-
mento. Também, o fez capaz de receber suas graças, a fim de que 
crescesse. E, finalmente, fez o homem livre, para que crescesse e 
assumisse seu destino final, construído num processo de liberta-
ção. Esse processo de aperfeiçoamento envolve tanto a espécie 
humana quanto cada um pessoalmente. 
7. SER HUMANO "CONTRA" DEUS 
Veremos agora algumas questões que não são marginais na 
Antropologia Teológica. Não se pode, portanto, ignorar seu peso 
sem falsificar a realidade humana. Embora elas não sejam o centro 
da fé, têm forte incidência sobre ela.
Assim como vimos anteriormente que Deus nos criou, como 
imagem sua, em Cristo. Somos seus filhos e irmãos de Cristo Jesus. 
Vimos, ainda, que, no uso abusivo da liberdade, o ser humano e 
a humanidade alienaram-se de si próprios e de Deus; perderam a 
capacidade de dialogar com ele. Além disso, perverteram a própria 
vida e desviaram-se da história da salvação, colocando-se contra 
DeusDa alienação dialogal com Deus, degenera-se, também, o diá-
logo com os irmãos. O mal, o pecado (o pecado original) e a morte 
(espiritual e eterna) excluem a pessoa da comunhão universal com 
Deus e da comunhão próxima com os irmãos. 
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
Essa infeliz condição humana cria um aparente fracasso nos 
desígnios amorosos e gratuitos de Deus, que só pode ser "reme-
diado", sanado, por Cristo. Deus criou-nos para nos salvar, isto é, 
para nos realizar plenamente nele. Todavia, necessita, também, 
no processo de aperfeiçoamento, redimir-nos (salvar-nos) de nos-
sos pecados.
Ser humano e mal
Experimentamos, cotidianamente, tanto o mal quanto o 
bem. Você se depara, sempre, com a questão do mal. Nós o expe-
rimentamos no sofrimento, na angústia, no medo, na morte, em 
nossas atitudes e na consciência moral. Diante dele, somos víti-
mas e/ou vitimadores. De modo ativo, podemos ser causadores; 
de modo passivo, podemos ser vítimas. 
Mistério do mal
O mal tem uma misteriosidade de muitas faces, a ponto de 
não se conseguir nem conhecê-lo nem erradicá-lo definitivamen-
te. Antes mesmo de uma coisa ser boa ou ser má (questão moral),o mal está aí e atinge profundamente a vida humana, bem como 
o próprio ser humano. Por essa sua negatividade, torna-se uma 
questão antropológica também. 
Mesmo que se revolte contra o mal, a pessoa humana sente-
-o por toda a parte. Muito se discutiu (e discute-se) sobre ele. É fá-
cil encontrar tais discussões nos dicionários de Teologia, nos livros 
de Teologia Moral etc. Atualmente, um teólogo que discute muito 
esse assunto é Andrés Torres Queiruga em suas diversas obras.
As discussões sobre o tema privilegiam as abordagens sobre 
o mal físico, moral e metafísico. O tema foi, particularmente, estu-
dado na Teodiceia. 
Essa grande discussão, própria da Teodiceia e da Teologia Fun-
damental, pode ser sintetizada no dilema de Epicuro (1949, p. 80): 
© Antropologia Teológica180
Ou Deus quer tirar o mal do mundo, mas não pode; ou pode, po-
rém não quer; ou pode e quer. Se quer e não pode, é impotente; se 
pode e não quer, não nos ama; se não pode e não quer, não é Deus 
e além disso é impotente; se pode e não quer – e isto é o mais se-
guro –, então de onde vem o mal real e por que ele não o elimina? 
Você pode perceber que, posto dessa maneira, o problema 
do mal é uma questão de Deus, de seu querer e de seu poder ou, 
ainda, do seu não querer e do seu não poder. Todavia, se a questão 
fosse do querer e do poder de Deus, dever-se-ia perguntar: por 
que ele ainda não resolveu a questão? Esta, no entanto, não se 
resolve assim. Neste estudo, você não vai abortar a questão pelo 
lado ontológico; será uma abordagem da Antropologia Teológica, 
com base na cotidianidade.
O fato é que o mal e as coisas más estão aí, e eles tomam 
nomes e rostos diversos, conforme o tempo, as circunstâncias e as 
culturas. 
Origem do mal
Em nenhum lugar da história humana, você encontra as ra-
zões da origem do mal. Donde ele vem? Por que ele existe?
Você deve se lembrar de que temos afirmado sempre a ques-
tão da perfectibilidade (aperfeiçoamento) do cosmo e do ser hu-
mano. Dizer "aperfeiçoamento" implica aceitar um crescimento, 
uma parada ou, até, uma frustração de crescimento. Isso pode ser 
identificado como uma limitação ou como uma finitude da criação. 
Deus não disse querer fazer um mundo perfeito. 
Num primeiro sentido, o mal que conhecemos se apresen-
ta como inevitável no mundo e na humanidade. Nada e ninguém 
existem prontos e acabados, sem necessidade de evoluir. Na fini-
tude e na limitação, seja da natureza cósmica, seja da humana, 
estão contidos as imperfeições, as falhas, os desajustes, as carên-
cias etc. Estes se manifestam em preocupações, em dores e em 
sofrimentos. 
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
Todavia, se a finitude revela crescimento e limitação, poder-
-se-ia perguntar: por que não os abreviar ou buscar logo a perfei-
ção? Por duas razões simples: 
• a história não dá saltos;
• como tal, a finitude não é má. 
 Sobretudo, as ciências, diante do chamado "mal físico", vão to-
mando posições de prevenção e de correção da natureza, sejam estas 
físicas ou biológicas. Lembre-se de que não há nenhuma necessidade 
de Deus ter criado a natureza perfeita. Antes, Deus deu ao homem 
a missão de cuidar dela, de protegê-la e de desenvolvê-la. Assim, as 
ciências vão ajudando progressivamente na superação de falhas, de 
defeitos, de carências, de doenças etc. Não só ela é responsável, mas, 
também, o ser humano é capaz de superar muitos males naturais (físi-
cos e biopsiquícos). É importante você perceber que certas situações, 
encaradas como defeituosas ou carentes, partem do (falso) princípio 
da necessidade de um mundo ou de um sistema perfeito. Tal percep-
ção é falsa e irreal, afinal, quem é que pode estabelecer que, sempre 
e em toda parte, as coisas ou a própria saúde não possam ter limites, 
inclusive por causa de outras circunstâncias?
Para a antropologia teológica, importa muito mais a questão 
do mal como produto da liberdade e a questão (inexplicável) dos 
sofrimentos dos inocentes. Numa "definição provisória", o mal hu-
mano está ligado à liberdade. Ele produz uma situação "ruim", 
prejudicial, que agride as pessoas em sua vida (física, psíquica ou 
espiritual). É uma questão de malfeitores e de vítimas que, no pla-
no religioso, se chama de "pecado".
Desse modo, para a Antropologia, importa o mal como uma 
questão situada, concreta, porque é profundamente humana, prá-
tica, política e espiritual. O mal está na maldade, construída em 
questões que prejudicam o ser humano em si e nos outros.
No processo de libertação, aparece o mal, porque a liber-
dade é uma construção e uma conquista, cujo resultado também 
pode aparecer como fracasso ou como derrota.
© Antropologia Teológica182
O ato dos malfeitores, ou seja, o mal, está na exploração 
que produz a miséria, a fome e a pauperização e na exploração 
da dignidade da pessoa. O mal dos malfeitores é uma afronta, em 
primeiro lugar, a Deus e aos seus filhos: os outros. Depois, o mal 
vitima também o próprio agressor na sua humanidade mais pro-
funda. Ele se autodesumaniza, obsecado em seu pretenso poder 
e idolatria. 
O mal prejudica os outros e o produtor do mal. Os profe-
tas, na Bíblia, são vozes de Deus que se erguem constantemente 
contra os vitimadores. O mal das vítimas produz a sua desuma-
nização. 
Castro Alves ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Sofrem inocentemente. Diante do sofrimento, surge, constantemente, a pergunta 
que Castro Alves já fi zera bem antes de Bonhöefer no poema Vozes da África. 
Veja-o a seguir: 
Deus, ó Deus onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrelas Tu t’escondes, 
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito
Que embalde desde então corre o infi nito... 
Onde, estás, Senhor Deus? [...] (CASTRO ALVES, Antonio de. Poesias comple-
tas. São Paulo: Ediouro s.d. Prestígio).
O poema pode ser facilmente encontrado na internet, pois é obra de domínio 
público. Para vê-lo na íntegra, basta digitar: Vozes da áfrica, de Castro Alves. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O dever moral, que é questão da Teologia Moral, exige, sob 
a pena da falta (pecado), a prestação de ajuda na superação ou na 
eliminação do mal. É paradigmática a parábola do Juízo Final, apre-
sentada por Jesus (cf. Mt 25,31-46). Contudo, a raiz mais profunda 
da superação do mal é uma questão de Antropologia. Exemplos 
não faltam.
Diante de seus vitimadores, Jesus, vítima inocente, na cruz, 
pede ao Pai que os perdoe: "eles não sabem o que fazem" (Lc 
23,34). Foi um samaritano quem resgatou a dignidade do homem 
ferido entre Jerusalém e Jericó (cf. Lc 10,30-37). 
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
A solidariedade e a misericórdia, com a justiça, são os ele-
mentos fundamentais da superação do mal produzido pela mão 
do ser humano. Tais virtudes pertencem à estrutura da natureza 
humana. O mal só é combatido com "a recuperação da vista, com 
a libertação dos prisioneiros com a evangelização das vítimas e a 
proclamação do ano aceitável ao Senhor, como anunciou Jesus em 
sua ação programática, no início de sua missão" (Lc 4,18-19). 
O ser humano e o pecado
Outra questão referente à origem do mal é a atitude huma-
na. O mal também provém do coração humano. A liberdade cria a 
"infeliz" possibilidade de se fazer o mal. Além disso, o ser humano 
também é produtor de males. Basta pensarmos na fome, no de-
semprego, na escravidão e em toda sorte de opressões, de injus-
tiças, de violações da dignidade e dos direitos humanos etc. Tais 
atitudes são tanto individuais quanto sociais. Isso não depende da 
finitude, mas da vontade do ser humano. 
A experiência do pecado
Nesse aspecto, o mal toma a forma de pecado. Ele vitimiza 
tanto o ser humano quanto o próprio Deus. No primeiro caso, o 
serhumano sofre as consequências pessoalmente, como vítima 
ou como vitimador (a causa). No segundo caso, Deus é ofendido 
na ofensa aos seus filhos.
O pecado é inerente à pessoa humana
O pecado/mal está tão misteriosamente arraigado na espé-
cie humana que surge em quaisquer indivíduos, grupos, povos e 
culturas. Daí que os pecados pessoais não estão isolados uns dos 
outros. Eles procedem de contextos socioculturais – o que não 
isenta ninguém das responsabilidades individuais. Querendo ou 
não, estamos implicados nessas situações de pecado, mesmo que 
ninguém, individualmente, seja obrigado a pecar (cf. Sl 50).
© Antropologia Teológica184
Solidariedade no bem e no mal
Não se pode afirmar que o ser humano é pecador por na-
tureza. É verdade: há uma solidariedade no pecado, e "parece" 
que esse mal é inseparável do ser humano desde a origem. Em 
contrapartida, há, também, uma solidariedade para o bem, cuja 
origem é Cristo. Mas não se pode (não se deve) criar uma tensão 
dualista entre o pecado e a graça (bem ou mal), tampouco aceitar 
a inevitabilidade ("moira") do pecado. 
Centralidade do pecado 
Na história da Igreja, existiram (e continuam existindo) cer-
tas correntes que enfatizam a centralidade do pecado (amartio-
centrismo). Disso, decorreriam as razões da encarnação do Verbo. 
No início do século 12, Santo Anselmo ( Aosta, 1033/1034 
- Cantuária, 21 de abril de 1109 afirmou com todas as letras: o 
motivo da necessidade da encarnação do Verbo era o perdão de 
nossos pecados). 
Foi Tertuliano o primeiro a teologizar sobre a centralidade do peca-
do nas grandes discussões cristológicas. Queria, assim, justificar 
o papel redentor de Cristo. Entretanto, as razões da encarnação 
por causa do pecado (amartiocentrismo) ficaram sacramentadas 
no famoso livro Cur Deus homo?, de Santo Anselmo.
Outros teólogos tentaram amenizar essa afirmação falando 
do amor de Deus, que nos perdoou pela encarnação de seu Filho. 
Todavia, o amartiocentrismo impôs-se ao cristianismo, sobretudo 
a partir da Idade Média. 
Esta ideia de hamartiocentrismo, está presente, hoje , em 
muitos programas de televisão, sejam católicos, sejam evangélicos 
(pentecostais). Quanto menos se conhece e se ama a Deus, mais 
se apela ao pecado e ao demônio
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Ênfase amartiocêntrica
A ênfase amartiocêntrica é perversa no cristianismo, porque 
esconde tanto o amor de Deus e do próximo quanto o amor a Deus 
e ao próximo, que estão no centro da revelação e da própria encar-
nação. Sem dúvida, o Verbo encarnado encontrou o ser humano e 
a humanidade em estado de pecado. Por ser nosso Salvador desde 
antes da criação, torna-se, também, nosso Redentor. "Ele se fez 
pecado, para a nossa salvação" (cf. 2Cor 5,21; Gl 3,13; Rm 8,32). 
Em contrapartida, convém ressaltar que Jesus é "em tudo igual a 
nós" (Heb 4,15). 
O texto paulino, porém, acrescenta a expressão: "menos no 
pecado" (cf. Jo 14,30). Deve-se prestar atenção ao significado do 
texto. Paulo não quer e nem poderia dizer: Nós somos pecadores e 
Cristo não o foi. Antes, Paulo – e essa é a exegese do texto, enfati-
zada na Cristologia – ensina que Jesus não pecou porque, em tudo, 
fez a vontade do Pai, colocando-o em primeiro lugar. Por isso, não 
pecou. Aqueles que negam a "possibilidade" de Jesus pecar esta-
riam negando, na verdade, sua humanidade, igual à nossa. 
A constatação da "impecabilidade de Jesus" só pode ser feita 
após sua morte. "Aquele que passou pela vida fazendo o bem" (At 
10,38) não pecou. A afirmação que alguns fizeram no passado de 
que Jesus não podia pecar porque era Deus anularia sua igual con-
dição à nossa natureza. Ele não seria, então, verdadeiro homem. 
Uma pessoa tem a liberdade e a possibilidade de pecar sem, 
no entanto, ser obrigada a isso. Sem dúvida, não pecar é possível 
somente quando se coloca a vida na vontade de Deus, como Jesus 
o fez. Assim, Jesus é, em tudo, igual a nós e não pecou porque nós, 
como ele, também não somos obrigados a pecar.
Vencedor do pecado
Há, ainda, outro aspecto: é do fato de Jesus não ter pecado 
que decorre nossa redenção (perdão de nossos pecados). Aquele 
– igual a nós – venceu o pecado e destruiu-o. Assim, é, inclusive, 
© Antropologia Teológica186
realçada a própria vida humana de Jesus, que se torna salvação e 
exemplo para nós: nosso irmão maior não pecou.
O ser humano, justo e pecador 
É uma questão intrigante para a Antropologia Teológica o 
conceito de "pecador", ou seja, o ser humano como pecador. À 
Teologia Moral compete o aprofundamento dessa questão. Nor-
malmente, com base na questão do pecado em si, passa-se a en-
tender muito rapidamente que quem faz pecado é o pecador
Você pode retomar, sob esse prisma, os conceitos emitidos no ca-
derno Moral, a saber: "pecado" e "graça". Compare-os e diferen-
cie-os com os que estamos afirmando. Desse modo, você deverá 
perceber a diferença e a validade dos conceitos das duas disci-
plinas. Além disso, é interessante conferir os conceitos propostos 
em: BORN, A. Van den. Dicionário enciclopédico da Bíblia. Petró-
polis: Vozes, 1971. Col. 1162-1165. 
O pecado original
Ensinamento da Igreja
A Igreja, em relação ao pecado original, fez afirmações dog-
matizadas para indicar sua propagação desde as origens da huma-
nidade. Convém lembrar que: 
1) O pecado original não é um pecado pessoal, meu. Ele 
atinge a todos. 
No ensino da Igreja, afirma-se que todos se tornam mais 
"im-potentes" na vontade e no discernimento humanos 
e que todos ficam privados da graça divina – sem ela, o 
ser humano traz a morte dentro de si. 
2) A doutrina do pecado original foi elaborada em paradig-
mas diferentes dos atuais. Com base em interpretações 
bíblicas de Santo Agostinho sobre a Carta aos Romanos, 
cresceu um ensino que não estava baseado na histórica 
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
evolução da humanidade, mas nos princípios da criação 
perfeita de Deus. 
Deus fez o homem perfeito; logo, "Adão e Eva" pecaram 
por desobediência (cf. Gn 3), por perversão em relação 
ao outro (Caim x Abel – cf. Gn 4), nas relações familiares 
(causa do dilúvio – cf. Gn 6) e nas relações sociais (Torre 
de Babel – cf. Gn 11).
Aqui, também deve ser aplicado o princípio etiológico 
sapiencial já citado. A experiência do pecado original, 
na Bíblia, não é um relato histórico; antes, é um relato 
etiológico.
3) Nos últimos 50 anos, muito se tem discutido sobre o sig-
nificado do pecado original. Aliás, tentam se recuperar 
aspectos esquecidos no decorrer dos tempos. O peca-
do original, cujo texto básico é a Carta aos Romanos (cf. 
Rom 5,12-21), não é o objeto primeiro da fé. O funda-
mento da fé cristã é a esperança, não a desgraça e nem 
a maldade.
4) Outro aspecto importante nessa questão é a redenção 
realizada em Cristo. "Deus inclui todos os homens na de-
sobediência para dar a todos a misericórdia" (Rm 11,23). 
Só a restituição do amor torna a humanidade capaz de 
ser livre outra vez.
Muitos teólogos relacionam esse pecado ao pecado estru-
tural, cuja origem está nos primórdios da humanidade, afirmando 
que ele está presente ainda hoje e continua a ferir o ser humano 
em um amor desordenado e egoísta. Também, o Vaticano II assi-
nalou dessa forma as questões contrárias ao reino de Deus (cf. LG 
16; NA 2; GS 8, 13,37). 
Todavia, a histórica "invencibilidade" do pecado/mal, sejam 
nas origens ou na própria história, precisa ser compreendida à luz 
da relação profunda da pessoa humana com Cristo. Como afirma 
o Catecismo da Igreja Católica n. 386:"Fora desta relação, o mal do 
pecado não é desmascarado na sua verdadeira identidade de recu-
sa e oposição face a Deus, embora continue a pesar sobre a vida do 
homem e sobre a história".© Antropologia Teológica188
1) A realidade do pecado das origens não é um fato obje-
tivo, datado ou testemunhado documentalmente. Mas 
sua memória perdida não pode ser ignorada, mesmo que 
se lhe deem nomes diversos, como, por exemplo, a na-
tural agressividade dos machos, a ambição pecaminosa, 
o pecado estrutural etc. Só em Cristo é que ele pode ser 
compreendido e explicado. Seu significado transcende 
os fatos históricos, apesar das consequências históricas. 
Suas explicações podem ser ancoradas na encarnação, 
na morte e na ressurreição de Jesus e, por consequên-
cia, na nossa ressurreição.
2) Do prisma da fé, o mal humano recebe o nome de "pe-
cado" (e, também, de "pecado original") por causa da 
redenção salvífica de Cristo. Influências negativas do 
mal/pecado atuam sobre situações pessoais e comuni-
tárias, bem como sobre estruturas sociais. Esses frutos 
do pecado humano são identificados no Evangelho de 
São João como "pecado do mundo" (Jo 1.29).
3) A vitória de Cristo sobre o pecado, o mal e a morte é, 
também, nossa herança escatológica. Deus é o vencedor 
final. O ser humano é salvo nele, por ele e para ele. A 
justiça de Deus é maior que tudo. Paulo afirma de outro 
modo: "onde abundou o pecado, superabundou a gra-
ça" (Rm 5,20).
4) No sentido antropológico, o mal/pecado é uma relação 
perversa com Deus que divide o ser humano por que-
rer ocupar o lugar dele, por confiar só em si, por usar a 
liberdade contra Deus e por buscar ídolos, prestando-
-lhes cultos. O pecado agrava-se aqui porque, na verda-
de, despotencializa o ser humano, que se faz escravo de 
si mesmo, além de prejudicar os irmãos.
5) Aqui, volta a questão candente na relação com as Igrejas 
da Reforma sobre a justificação e a graça. Essa tensão 
histórica tem sido superada nos diálogos ecumênicos bi-
laterais da Igreja de Roma e Luterana ao se compreender 
que só Jesus torna justo o ser humano e que – agraciada 
por Deus mesmo – a pessoa age ao responder positiva-
mente a Deus.
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 O fundamento teológico do pecado original está, nos escri-
tos bíblicos, em Rm 5 (Teologia Paulina). O Adão que mergulhou no 
pecado e na morte se opõe a Jesus, fonte de vida e justiça.
Nos quatro primeiros séculos, os padres da Igreja não leva-
ram muito em conta o relato do(s) pecado(s) da origem. Todavia, 
nunca negaram os males e a situação de pecado entre os homens, 
mesmo divergindo das explicações. Foi Santo Agostinho quem pas-
sou a enfatizar a doutrina do pecado original como transgressão 
de Adão. Esse pecado passou, então, a marcar toda a humanidade 
por causa da cobiça decorrente.
Na Idade Média, por meio da confirmação do Concílio de 
Trento, falou-se da privação da justiça como o verdadeiro sentido do 
pecado original. Em algumas Teologias, ainda se afirmava que Adão 
e Eva, moradores do jardim do Éden, eram perfeitos e, por terem 
desobedecido a Deus, perderam os seus dons preternaturais. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Você sabia que os dons preternaturais foram estabelecidos pela Teologia Es-
colástica, que imaginava que Deus os teria dado a Adão e Eva? Esses dons 
teriam sido perdidos por causa da autossufi ciência deles, o que resultou na sua 
expulsão do paraíso. Eles, que, extensivamente, estariam perdidos para toda 
a humanidade, de todos os tempos, são: imortalidade corporal, integridade ou 
isenção da concupiscência, ciência extraordinária e impassibilidade ou isenção 
de qualquer sofrimento. Uma vez portadores desses dons, Adão e Eva teriam 
sido criados perfeitos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Sem dúvida, o pecado original não é, hoje, uma questão 
pacífica na Igreja. Há muitos e novos questionamentos, inclusive 
por causa da questão da evolução humana, em contraposição aos 
textos bíblicos que deveriam ser compreendidos em seu caráter 
etiológico; contudo, alguns se aferram às interpretações historici-
zantes. 
De exageros medievais, passa-se, hoje, a uma sobriedade 
muito intensa, como se pode verificar nos documentos do Concílio 
Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica. Nesses dois docu-
mentos, diz-se o mínimo necessário, confirmando-se a leitura da 
© Antropologia Teológica190
presença do pecado no mundo desde suas origens. Essa realidade 
mística, ou melhor, etiológica, quer, na verdade, enfatizar a (cul-
pável) distância de Deus produzida pelo ser humano. "Distância", 
aqui, pode ser entendida como incapacidade dinâmica de amar a 
Deus (MOSER, 2002).
A questão do pecado original só pode ser entendida na 
perspectiva da história da salvação. Nesse sentido, é preciso com-
preender o papel salvador de Jesus, que, pela sua ação, revela o 
pecado do ser humano (ato negativo e segundo); ele é o único 
salvador, sem ser apenas salvador do pecado. Ele é o salvador por-
que é o caminho que nos leva à plenitude de vida em Deus (ato 
primeiro e positivo).
Significado da morte 
Antes de começar a estudar esse tema, sugerimos que você 
reflita sobre os significados do termo "cultural" e da expressão "re-
ligiosidade popular sobre a morte". Convém que recorde, ainda, 
que outros grupos (religiosos ou não) podem ter ideias bem dife-
rentes das cristãs, tais como: reencarnação, desintegração do ser, 
volta à energia cósmica etc.
Ainda na questão do ser humano "contra" Deus, deve-se 
uma palavra sobre a morte. Na Bíblia, mais que a caducidade da 
vida, ela tem uma conotação de "morte espiritual" e de "morte 
eterna" – por causa do pecado. Fora de Deus, o ser humano morre, 
e somente ele lhe pode restituir a vida. A própria morte natural, 
frequente na Bíblia, também é o preço do pecado. 
Leia, nos textos de exegese, o significado da morte em Rm 5,12-21. 
A morte cria uma radical separação entre os que morrem e 
os vivos. Diz-se, muitas vezes, que ela é a única realidade certa. 
Mas, inexoravelmente escandalosa, faz terminar a vida sem ra-
zões. Ela é produtora de angústia, solidão e tristeza.
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Passagem para a vida
Para os cristãos, porém, ela torna-se uma passagem para a 
vida, ou melhor, o lado contrário da morte é a ressurreição para a 
vida eterna, em que a vida não mais depende de tempo e espaço. 
Os cristãos creem que a vida continua, apesar da morte. Somos 
cidadãos de duas pátrias: a histórica e a escatológica. A morte é a 
passagem certa e requerida para entrar na vida eterna. Tem aspec-
to trágico e saudoso para os que ficam, mas, para o que parte, ela 
é a possibilidade de atingir a plenificação na glória de Deus. 
Pode-se dizer: só por ela, antropologicamente, se atinge a mais 
radical e irreversível humanização. Ela conduz à vida em Deus. A 
ressurreição de Jesus é a garantia da vitória sobre a morte: "aquele 
que estava morto [...] Deus o ressuscitou" (cf. At 2,23) [...] "e dis-
to somos testemunhas" (At 2,32). "Deus, que ressuscitou Jesus 
da morte, ressuscitará também a nós, pelo seu poder (1Cor 6,14). 
"Cristo ressuscitou como primícias dos que morrem (1Cor 15,20).
Se, em Cristo, a morte não é a última palavra, se Deus vivo 
é o Deus dos vivos e não dos mortos, então, nossa esperança con-
valida-se na ressurreição. Por um lado, é o acabamento pessoal e 
espiritual do ser humano (a conquista plena de sua livre realidade 
espiritual) e, por outro, é a interrupção de sua vida biológica (o 
mais radical desapossamento de si, como diz Rahner (1904-1984), 
e ser todo possuído pelo Salvador). Só pela morte nós iremos nos 
tornar totalmente de Deus, em Deus e para Deus. 
A morte, para o homem do AT, era compreendida como des-
graça maior. O ser humano morto iria para o "sheol".
Certamente, esse não é o único modo de compreender a 
morte. Há muitas referências, nem sempre claras, ainda no AT,so-
bre o fato de Deus ser o Deus dos vivos e não dos mortos. Assim, 
ele é o Deus de Abraão, de Jacó e de Moisés, os quais vivem nele. 
Jesus reflete, também, essa mentalidade e indica na parábola do 
rico epulão e do pobre Lázaro que, após a morte, há uma destina-
ção diferente: uns vivem no seio de Abraão, e outros, na mansão 
dos mortos, lugar de tormentos (cf. Lc 16,19-31).
© Antropologia Teológica192
Jesus, porém, faz de sua morte – segundo o Evangelho de 
João – a ocasião de retomar a sua glória, como nesse excerto: "a 
glória que tinha antes junto do Pai" (Jo 17,5). Entretanto, ela tam-
bém o atemoriza, como em: "Afasta de mim este cálice [...]. A car-
ne é fraca" (Lc 22,41), e faz ele sentir-se só (cf. Mc 15,34). Ela pode, 
ainda, ser a prova de profundo amor pelos amigos (cf. Jo 15,13) 
ou dar frutos, como o pão de trigo que morre (cf. Jo 12,24). Mas a 
invasão de Jesus é sua vitória sobre ela (cf. 2Tm 1,10).
Conforme a Antropologia Unitária da Bíblia, na morte, o ser 
humano, em sua unidade e totalidade, seu "eu" como princípio 
vital, torna-se não acósmico, mas pancósmico, como diz Rahner 
(1904-1984) em sua Teologia sobre morte.
A questão teológica da morte pode ser resumida assim:
1) É profundamente ambígua, necessária e portadora de 
um mistério que angustia o ser humano.
2) Envolve a interrupção da vida biológica, que é o mais ra-
dical despojamento de si, o acabamento (plenificação) 
da pessoa com portadora da ruah divina.
3) Só pode ser compreendida e vivida pelo cristão como 
manifestação trágica da força do pecado (ruptura com 
Deus) ou como lugar crucial do encontro definitivo com 
Deus. 
4) Ela torna-se o sacramento pascal da passagem deste 
mundo para o Pai – o mais radical encontro do homem 
com Deus, o qual é intermediado por Jesus; é o caminho 
de Deus para o homem e do homem para Deus.
5) É a possibilidade última da decisão final do ser humano 
diante de Deus. É só com a ajuda divina que o ser huma-
no pode garantir o final feliz de sua vida ou evidenciar 
o seu desprezo por ela. A vida é um dom de Deus e não 
uma propriedade humana. Nisso, evidencia-se a diferen-
ça radical entre Deus e o homem. Por sua finitude e tem-
poralidade, o ser humano não se iguala a Deus, o eterno 
e incriado. Pela morte, o homem volta ao Pai, mas só 
Deus pode ressuscitá-lo. Apenas Deus pode conceder-
-lhe a vida eterna, ressuscitando-o. 
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
6) A ressurreição de Jesus, que é a vitória sobre a morte, é 
a garantia do nosso futuro. 
7) O cristão precisa, em vida, aprender a morrer, dando 
sentido à sua vida, como o fez Jesus, para dar o sentido 
à sua morte. 
8) Mais que preocupação com a morte, ao cristão, com-
pete a esperança, pois, em Deus, há muitas moradias, 
e Cristo ressuscitado prometeu prepará-las para os que 
ressuscitarem no Pai.
 
Você pode continuar desenvolvendo essas ideias pela leitura de 
(entre outros): BREKEMEIER, Gottfried. O ser humano em bus-
ca de identidade. Contribuições para uma Antropologia Teológica. 
São Leopoldo (RS): Sinodal; São Paulo: Paulus, 2002. Leia, espe-
cialmente, o Capítulo VI.
 
Ressurreição da carne
A morte, porém, deixa entre os vivos um saldo: o corpo bio-
lógico. É exatamente isto: enquanto a pessoa é chamada à imor-
talidade, parte de si – o corpo biológico – morre e decompõe-se 
até desaparecer. Segundo a fé cristã, a transformação sofrida na 
morte é como a semente que morre para adquirir uma vida maior. 
A vida nova transforma-se em vida do espírito. Vida pneumatifica-
da, no dizer de São Paulo.
Novamente, aqui, a Antropologia deve relacionar-se com a 
Escatologia e relembrar a ressurreição da "carne" (do corpo) ou 
dos mortos. Nesse ponto, os conceitos não podem trair a fé. 
Você deve se lembrar de que muito da Antropologia Cristã 
foi afirmado sobre os conceitos gregos do homem como uma uni-
dade dual, ou seja, de corpo e alma. Então, seguia-se este pensar: 
na morte, separam-se as duas realidades. A alma, na eternidade, 
aguardaria a ressurreição de seu corpo (biológico) no fim dos tem-
pos para readquirir sua completude. 
© Antropologia Teológica194
Todavia, a Sagrada Escritura e a Teologia Contemporânea 
não convalidam mais essa posição. O ser humano, na morte, é 
transformado. Torna-se pleno, pneumatificado. 
Você lembra que a palavra "pneuma" significa: "sopro", "es-
pírito". Mas você se lembra da ideia de "ruah"? 
A ressurreição é um fato escatológico, fora do tempo. Para a 
pessoa ressuscitada, o fim dos tempos já chegou. Sua vida, agora, 
é em Deus, em que não há tempo. Não há um "tempo" de espera 
na felicidade com Deus. Caso contrário, não seria uma visão beatí-
fica e feliz de Deus. 
O ser humano ressuscitado é identificado pelo "ruah"; por 
isso, pode-se falar em pneumatizado. É a pessoa em sua dimensão 
espiritual. É algo mais que apenas a "alma" grega. 
Mas e o corpo? O cadáver de uma pessoa (não a pessoa) é 
sepultado, ou seja, posto na terra, ou cremado, transformando-se 
materialmente. 
Desde os povos primitivos, cultiva-se o respeito pelos cadá-
veres e pelos sepultamentos. Os cristãos também o fazem, por-
que creem que, enquanto vivo, naquele ser, habitava o Espírito de 
Deus, Deus mesmo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Igreja Católica, atualmente, não se opõe mais à cremação dos cadáveres, 
dentre outros, por estes motivos:
a) a cremação não é mais entendida como recusa à ideia da ressurreição dos mortos;
b) a Igreja também leva em conta as questões ambientais e de falta de espaço 
nos cemitérios, sobretudo nas grandes cidades;
c) ela respeita a liberdade de escolha da pessoa nesse aspecto.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
No processo de aperfeiçoamento humano, a corporeidade 
é uma dimensão fundamental, jamais desprezível. Entretanto, a 
partir da morte, perde o valor – não o respeito – porque a pessoa 
humana passa a ter uma dimensão maior.
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© U6 - Ser Humano Diante de Deus e Contra Deus
Daí, a morte não tem mais poder sobre ela. Para os cristãos, 
ela evidencia uma feliz e inaudita libertação que nenhum outro 
ser humano tem o direito de antecipar. Desse modo, como São 
Francisco de Assis, pode-se até bendizer a "irmã morte", pois ela 
assinala o início da vida em Deus. 
As ideias teológicas sobre a morte, certamente, vão de encontro 
às lágrimas, à tristeza e à cultura da morte. O cristão maduro deve 
perceber que, se a tristeza da morte cria a saudade, a certeza da 
ressurreição leva-nos ao coração de Deus.
Você pode procurar, no Missal, especialmente nos prefácios para 
os fiéis defuntos, a concepção da Igreja sobre a morte.
O alienante diálogo humano com Deus desconstrói a comu-
nhão por causa do mal, do pecado e da morte. Hoje, por um lado, 
enfatiza-se o mal como finitude cósmica e humana e, por outro, 
sabe-se que ele está presente por toda parte, em múltiplas faces. 
Desde o ponto de vista da fé, é identificado como pecado. Ele tem 
dimensões tanto antropológicas quanto morais (estas são estuda-
das na Teologia Moral). 
O pecado, com sua misteriosidade, está em toda parte da 
vida humana. Ele atinge a todos. A memória cristã localiza-o desde 
as nossas origens. Nele, movemo-nos. Mas, em contrapartida, ele 
não é tudo nem é o critério humano e cristão para a explicação do 
mistério da vida. A graça de Cristo "resgata-nos" dele e salva-nos 
para a vida eterna. A graça é maior que ele.
Os cristãos olham para além do mal, do pecado e da morte. 
Na ressurreição de Cristo, aguardam a própria ressurreição ao se 
tornarem pessoas espirituais que atingem a sua perfeição plena: 
ver e viver em Deus, o que é motivo de imensa gratidão. Então, a 
morte – que deixa angústia e saudade – torna-se fonte de liberta-
ção, segundo afé cristã. 
© Antropologia Teológica196
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar 
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) No inico desta da unidade, apresentamos um esquema de conceitos. Re-
tome o esquema e analise: Você seria capaz de evidenciar quais os pontos 
novos você conseguiu compreender?
2) Explique o que você entendeu do tópico 5, "Questão da Unidade e Dimen-
sões da Pessoa Humana".
3) Quais ideias teológicas você acrescentaria ao tópico 6 "O Ser Humano Diante 
de Deus" ?
4) No tópico 7, "Ser Humano ‘Contra’ Deus", há alguma ideia que deveria ser 
eliminada? Por quê? 
9. CONSIDERAÇÕES 
Nesta unidade, você foi convidado a refletir sobre algumas 
situações humanas diante de Deus. Além disso, estudou questões 
fundamentais do ser humano, a saber: 
1) o ser humano como ser de esperança, agraciado por 
Deus e livre;
2) problemas do mal, do pecado e da morte. 
Deus, em seu plano de salvação, pensou desde a eternida-
de no ser humano como ser de esperança, isto é, um ser voltado 
para se realizar plenamente em Deus. Para poder sê-lo, a pessoa é, 
constitutivamente, um ser agraciado desde o seu nascimento até 
a sua morte. Todavia, sem autonomia, o ser humano não pode ser 
livre e responsável. Cristo liberta-o para que ele seja livre.
Há situações que afastam o ser humano de Deus, e atingem-
-no profundamente. Por todos os lados, ele se vê diante do mal 
e dos males, frutos não apenas da contingência e da finitude da 
criação, mas, também da vontade e da autossuficiência humanas. 
Sem ser naturalmente pecador, o ser humano vive num contexto 
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de pecado desde as origens, e encontra-o dentro de si e das es-
truturas sociais. Impotente, só lhe resta Deus para salvá-lo desses 
pecados e, assim, reafirmar o processo de aperfeiçoamento (sal-
vação para). 
A morte, que, por um lado, é o sem sentido, é, por outro, a 
possibilidade mais radical de nos colocarmos nos braços de Deus. 
Ela é o passo decisivo que separa a caminhada histórica do ser hu-
mano e sua definitividade em Deus.
Na próxima unidade, você estudará algumas questões perti-
nentes ao significado cotidiano da vida: o ser humano em sua au-
tonomia (a história, a cultura e o trabalho). Sem dúvida, na Antro-
pologia Cristã, há muitos outros temas interessantes. Escolhemos 
esses porque são "ferramentas" para você continuar a sua própria 
reflexão ou o seu fazer Teologia depois do nosso estudo. 
Até lá!
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, B. Pecado original... ou graça do perdão? São Paulo: Paulus, 2007.
BINGEMER, M. C; FELLER, V. G. Deus-Amor: a graça que habita em nós. São Paulo: 
Paulinas; Valencia (Esp): Siquém, 2003.
BUR, J. O pecado original. O que a Igreja disse de fato. São Paulo: Loyola, 1991.
COMBLIN, J. Vocação para a liberdade. São Paulo: Paulus, 1998.
EPICURUS. Ed. de O. Gigon, Zurich, 1949.
FRANÇA MIRANDA, M. de. A salvação de Jesus Cristo. A doutrina da graça. São Paulo: 
Loyola, 2004.
GESCHÉ, A. O mal. São Paulo: Paulinas, 2003.
MOSER, A. O pecado, do descrédito ao aprofundamento. Petrópolis: Vozes, várias edições.
QUEIRUGA, A. T. Recuperar a salvação. Por uma interpretação libertadora da experiência 
cristã. São Paulo: Paulus, 1999.
THEVENOT, X. O pecado. O que é? Como se faz? São Paulo: Loyola, 2003.

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