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Origem Humana: Ciência e Fé

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D
Compreensão da Origem 
Humana
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1. OBJETIVOS
• Comparar os critérios científicos e bíblicos sobre a ques-
tão da origem do ser humano.
• Estabelecer critérios sobre o significado da criação do ser 
humano segundo a Bíblia.
• Argumentar sobre o significado plausível da evolução na-
tural para os cristãos.
• Identificar a ação criadora de Deus na história.
• Propor razões teológicas sobre a dignidade do ser humano.
2. CONTEÚDOS
• Conceitos e significados da origem humana.
• Criação na Bíblia. 
• Conceitos teológicos da criação.
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• Compreensão da origem humana na História da Igreja.
• Explicação das ciências naturais (a evolução).
• Lugar de Deus salvador e criador na evolução.
• Dignidade humana.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Antes de iniciarmos os estudos desta unidade, pode ser 
interessante conhecer um pouco o tema que trataremos 
logo mais, bem como o pensador que norteia o estudo 
desta caderno. Assim, para saber mais, leia os seguin-
tes apontamentos e pesquise as bibliografias indicadas. 
Além disso, caso seja necessário, retome, também, os 
conceitos importantes. 
2) Você deve recordar que Gn 2,4b ss é o texto mais antigo. 
Foi escrito entre os séculos 10º e 8º a. C., pertence à fon-
te sacerdotal e entende Deus num contexto de aliança. 
É um poema para ser usado na liturgia (KRAUSS, 2007). 
3) Será tarefa de o teólogo pensar nas origens da vida em 
conformidade com seu saber e com fidelidade à sua fé, 
elaborando, desse modo, aquelas categorias que podem 
ser utilizadas também na explicação da maneira que o 
homem, por Cristo, é movido para a perfeição escatoló-
gica e sobrenatural. Pense nisso!
4) Na defesa das verdades bíblicas, progressivamente, fo-
ram sendo introduzidos critérios metafísicos para a com-
preensão de Deus, da criação, do universo e do próprio 
ser humano. 
5) Progressivamente, implanta-se no cristianismo uma 
perspectiva amartocêntrica. Com Santo Anselmo (1.100), 
chega-se a pensar na encarnação do Verbo como neces-
sidade salvífica, única e absoluta via para a reconciliação 
de Deus, para o homem. 
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6) São Tomás ensina que nenhum ser possui seu ser, seu 
existir, em si. Só de Deus vem toda e qualquer possibili-
dade da existência do ser. Deus é criador porque dá con-
sistência a cada ser. Ele é quem mantém. Por isso, a alma 
humana só pode ser produzida por ele. Não pode ser 
transmitida pelo sêmen humano. Deus é livre para criar. 
Por causa de sua bondade, chama à existência o que não 
pode ser produzido por nenhuma outra substância ou 
ser criado. Desse modo, a pessoa humana só pode exis-
tir em relação ao seu criador. Ele se mantém como ser 
vivente porque a ação de Deus inclui uma atenção cons-
tante sempre referida a Deus.
7) A etiologia sapiencial explica a condição humana atual 
pela reflexão que se reporta às suas causas. No caso das 
narrativas bíblicas da criação, os sábios de Israel, no exí-
lio e diante da cosmogênese e da antropogênese meso-
potâmias, expressam o fruto de sua fé refletida e não 
conhecimentos históricos, pois estes são simbolizados.
8) Nos séculos 19 e 20, foram adotadas medidas disciplina-
res contra alguns teólogos favoráveis ao evolucionismo. 
Tais medidas não se opunham ao evolucionismo como 
tal, mas, sim, a algumas idias consideradas por muitos 
teólogos perigosas à fé. 
9) Você pode estar tranquilo – diante de sua fé – com os 
conhecimentos sobre o evolucionismo adquiridos em 
estudos anteriores. Todavia, não precisa dogmatizá-los. 
Procure entendê-los à luz da fé e da revelação. 
10) Confira, nas referências bibliográficas, presentes no final 
desta unidade, os dados completos das obras aqui cita-
das. Pesquisar e ler essas obras pode ajudá-lo a aprofun-
dar seus conhecimentos. 
Os neandertalenses eram seres tão semelhantes a nós 
que poderiam até ser confundidos com um de nós. Eles 
tiveram muitos costumes iguais aos nossos: fabricação 
de flechas, pedras para cortar, pintura, sepultamento 
de mortos etc. Tiveram, ainda, uma inteligência que 
corresponde à inteligência de uma pessoa de, aproxi-
madamente, 12 anos. Provavelmente, falavam. Teriam 
desaparecido ou por uma doença ou por um extermínio 
provocado pelo homo sapiens. 
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11) O questionamento de Deus a Jó (cf. 10,1-41,3) pode nos 
ensinar muitas coisas. Dessa forma, pesquise-o para 
aprofundar seus conhecimentos. 
12) Há uma pretensão em alterar e/ou em comandar o des-
tino histórico da espécie humana e do planeta. Os in-
ventos tecnológicos (dentre eles, a nanotecnologia), o 
domínio genético (com as possibilidades de clonagem), 
as conquistas espaciais (inclusive com a possibilidade de 
encontros com novos seres inteligentes), a violência, a 
produção de epidemias, a fome, o usufruto frenético do 
planeta etc. são fatores que podem alterar não só a nos-
sa forma de viver, mas também a nós mesmos. Procure, 
portanto, interar-se desses conceitos.
13) É sabido que a explicação humana não é arrancada do 
próprio ser humano. Dito de outra forma: toda explica-
ção, seja ela humanista, seja ela científica, que tenha um 
universo apenas horizontal – e não transcendente – é 
incapaz de responder a muitas questões profundamente 
existenciais. Isso porque – inclusive cientificamente – é 
difícil definir a vida.
14) A própria evolução necessita de explicações mais pro-
fundas, sob a pena de vermos tudo e todos reduzidos a 
meros objetos. As ciências naturais, enquanto explica-
ções parciais do logos universal (volte a esse tema na 
Unidade 2), necessitam de referências complexas que a 
Teologia pode e deve apresentar. 
Agostinho de Hipona
Agostinho de Hipona (354-430) foi fi lósofo, teólogo e 
doutor da Igreja. 
O debate de Agostinho com os pelagianos determinou, 
até mesmo, o signifi cado da criação. À luz da fé cristã, 
a autonomia fundamenta-se na teonomia. Enquanto, no 
helenismo cristão, enfatiza-se a vontade humana, no 
Ocidente, o pensamento agostiniano, sob a infl uência de 
São Paulo, na Carta aos Romanos, introduz uma série de 
questões que priorizam o psicológico, como a concupis-
cência, a relação liberdade/graça, o pecado e o pecado original, necessidades 
absolutas de Cristo para a libertação do pecado. Ademais, deixa de lado o prima-
do de Cristo sobre a criação (Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Imagem:Tiffany_Window_of_St_Augustine_-Lightner_Museum.jpg>. Acesso em: 
15 mar. 2010). 
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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na última unidade, você teve oportunidade de refletir sobre 
temas como a destinação final e a vocação humana. Nesta uni-
dade, vamos tratar de assuntos interessantes: os significados da 
origem humana e o sentido teológico da criação.
Nos últimos 150 anos, a história das origens do ser humano 
(e do cosmo em geral) tem sido ideologizada numa desnecessária, 
mas real, polêmica entre fé e ciência. Nesse sentido, é importan-
te ter bem claro, desde o início deste estudo, algumas palavras: 
"criacionismo", "design inteligente", "evolucionismo" etc. Alguns 
teólogos (protestantes, inclusive) falam de "Teologia da Natureza". 
A fé católica não necessariamente se envolve na questão, pois ela 
propõe, sobre esse assunto, uma "Teologia da Criação", uma quar-
ta palavra bem importante.
Você deve recordar que, em outras unidades, afirmamos a 
origem do ser humano em Cristo. Isso parecia escapar da polêmi-
ca, sendo, então, uma proposta alternativa. Todavia, não é fugindo 
que se resolve a questão. Pelo contrário, deve-se enfrentá-la. 
5. CONCEITOS E SIGNIFICADOS DA ORIGEM HUMANA
É bom que vocêcompreenda logo o querem dizer os seguintes 
termos e as seguintes expressões: "criacionismo", "design inteligente", 
"evolucionismo" e "Teologia da Criação" (da Natureza). Desse modo, no 
quadro a seguir, apresentamos uma síntese dos vários conceitos:
Criacionismo Em síntese, o criacionismo afirma a historicidade da criação tal 
qual narra a Bíblia judeu-cristã. É uma afirmação que pretende 
ser uma teoria científica. É adotada, sobretudo, por cristãos 
fundamentalistas, especialmente dos Estados Unidos (aliás, deve-
se falar em "criacionismos").
Design 
inteligente 
Argumenta-se que algumas formas de vida são complexas demais 
para terem evoluído ao acaso. Só uma inteligência maior (pode ser 
ou não de Deus) deve ter feito isso. Tal teoria é aceita em certas 
comunidades científicas e crentes que não se contentam em 
afirmar a pura e natural evolução.
© Antropologia Teológica110
Evolucionismo Na verdade, há muitas teorias da evolução. A mais famosa é a de 
Darwin (1859). Em síntese, tudo quanto existe é resultado de um 
longo processo de desenvolvimento (e crescimento) do cosmo, da 
vida e do ser humano. Uma "realidade" procede da outra, numa 
cadeia enovelada. Em outras palavras, a vida diversificou-se, ao 
largo do tempo, em várias direções, mas tudo tem uma origem 
comum. É a teoria que predomina nos meios científicos (fala-se de 
"Zeitgeist" darwinismo, isto é, uma mentalidade evolucionista de 
tudo versus uma criação pronta e acabada de tudo quanto existe).
Teologia da 
Criação (da 
Natureza) 
É a posição de muitos cristãos (especialmente dos católicos a 
partir de 1950, como era no início do cristianismo). Ela não quer 
explicar como os fatos da origem ocorreram, mas pretende 
afirmar a ativa atuação de Deus como fonte de tudo quanto existe. 
Os "famosos" textos bíblicos da criação não são uma reportagem 
"científica" do modo que tudo começou. A Teologia e a fé cristã na 
criação aceitam a evolução. Contudo, veem nos evolucionismos 
muitos limites e "vazios" de explicações.
Conceito de origem
Dois outros conceitos também devem ficar claros aqui, a sa-
ber: "criação" e "origem". A ciência trabalha com o conceito de ori-
gem. Como e quando isto ou aquilo começou. A teoria mais comum 
da origem do universo e, consequentemente, do ser humano é a do 
Big Bang. Entretanto, também há outras que são muito aceitas na 
comunidade científica, como, por exemplo, a teoria das cordas. 
Conceito de criação 
Já o conceito de criação refere-se ao ato de um criador e ao 
seu resultado, ou seja, o ser criado. O conceito faz referência a um 
ser criador superior ao ser criado. É muito comum em toda a his-
tória humana atribuir a Deus (es) a ação criadora. No caso cristão, 
dizemos que Deus é o autor de tudo quanto existe. Só ele existe 
antes do tempo. Ele é eterno e incriado. Foi da sua vontade que 
tudo começasse a existir. A intenção é sua, e ela pertence ao seu 
mistério insondável. 
 
Os dois conceitos não se opõem necessariamente nem são con-
sequência um do outro. São duas considerações diferentes que 
levam a resultados diferentes. Isso não quer dizer que são opos-
tos (salvo quando ideologizados). Antes, são diversos por suas 
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abordagens. De modo objetivo: falar da origem do ser humano 
(da humanidade) é usar a ciência. Contudo, falar da criação do ser 
humano (da humanidade) é estar no campo da fé. 
"Criacionismos" e "evolucionismos". Esses dois conceitos 
indicam, também, uma diversidade – até oposição – de interpreta-
ções. Não são conceitos unívocos nem bíblica nem cientificamen-
te. São dois modelos válidos enquanto mantiverem uma interação 
crítico-construtivo de complementaridade. 
Sobre esse assunto, temos de considerar quatro pontos im-
portantes:
1) Na verdade, diante das ciências e da fé católica, é con-
sensual a perspectiva evolucionista. Mas há muitas di-
vergências e lacunas entre as teorias. De modo similar, 
entre os cristãos que aceitam o criacionismo, também 
há muitas diferenças. Com base na encíclica Humani Ge-
neris, de Pio XII (1950), a Igreja Católica passou a aceitar 
progressivamente o evolucionismo, sem, contudo, fixar-
-se numa teoria especial, mantendo, ao mesmo tempo, 
uma Teologia da Criação (inclusive do ser humano). 
2) A criação, na Bíblia, é contada em muitos textos. Todavia, 
na pregação e na catequese, foi priorizada uma narração 
não tanto literalmente bíblica, mas como síntese bíbli-
ca. Essa "sincretização" passou à Igreja e estabeleceu-se 
"acriticamente", sem preocupar-se com os desafios da 
ciência e da modernidade até 1950. Entretanto, por cau-
sa da atual exegese bíblica, tem-se encontrado o sentido 
(não a literalidade) do texto. Isso oportuniza uma refle-
xão livre e independente da Igreja diante das ciências, 
mas não sem relação com elas.
3) Na Bíblia, a reflexão sobre a criação é uma ideia secun-
dária. Ela só aparece à medida que o povo judeu conse-
guiu conciliar a ideia de Deus salvador e criador. O Deus 
que fazia alianças e salvava seu povo era o mesmo que 
criara o universo e os seres humanos. 
4) Além disso, muitas vezes, deu-se maior importância à 
Teologia da Salvação que à Teologia da Criação. Muitos 
© Antropologia Teológica112
teólogos, hoje, tentam um equilíbrio. Outros enfatizam, 
como alguns Santos Padres, o fim último para explicar 
a criação. Fomos criados para a glória de Deus, como já 
vimos na unidade anterior. 
Hoje, podemos, ainda, afirmar isto: o Deus da salvação não é 
somente o mesmo da criação, mas também o mesmo e único Deus 
da evolução. A criação (também da pessoa humana) é um ato de 
criação contínua em que Deus se faz presente. 
6. CRIAÇÃO NA BÍBLIA E CONCEITOS TEOLÓGICOS 
DA CRIAÇÃO
Questão da exegese
Convém, agora, recordarmos alguns princípios de exegese 
bíblica para entendermos melhor o significado da criação: 
1) Todo texto bíblico tem um contexto sociocultural, literá-
rio e religioso.
2) Todo texto bíblico é uma narração humana inspirada 
para falar das "coisas" de Deus. Ele quer falar do agir sal-
vífico de Deus mais do que falar do homem a ser salvo. 
É, pois, um texto teológico antes que antropológico. 
3) O texto sagrado pode sofrer influência cultural de outros 
povos. Seu significado é sempre próprio da fé judeu-cristã.
4) A linguagem bíblica da criação não utiliza uma lingua-
gem histórica (científica ou jornalística). A sua linguagem 
é meta-histórica. Utiliza-se, inclusive, do mito para ex-
pressar a verdade salvífica. 
5) A criação, na Bíblia, supõe relações assimétricas, a sa-
ber: Deus e o ser humano (Deus cria, e o ser humano é 
criado. O ser humano não é causa de si mesmo), eter-
nidade e contingência (enquanto o criado tem início e 
fim, o criador é eterno e autônomo). Falar da criação, 
para a Bíblia, significa dispor de sentido (a criação é um 
chamado para a glória de Deus) e da possibilidade de 
superação do não sentido (a criação é destinada à salva-
ção. Não o é a morte).
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Criação no Gênesis
Sobre esse tópico, sugerimos que você leia e compare os tex-
tos seguintes:
• Com lápis e papel à mão, leia Gn 2,4b-25 e responda a 
isto: qual o primeiro ser criado? O que havia antes dele? 
O que Deus disse antes de criá-lo? O que fez para criar o 
ser humano? O que Deus fez depois? Após ter sido criado, 
o que fez o ser humano?
• Leia, agora, Gn 1,1-2,4ª e responda a estes questionamen-
tos: quais os primeiros seres criados? O que havia antes 
da criação do ser humano? O que Deus fez para criar o ser 
humano? Ou Deus apenas falou? 
• Depois de ter feito o que pedimos, compare os dois tex-
tos. 
O fundamental da fé bíblica da criação pode ser resumido 
assim:
• Deus é o criador, e o ser humano é a criatura,pois, feito 
à sua imagem, é o interlocutor de Deus e tem uma digni-
dade especial. 
• O ser humano foi criado bom. Todavia, porque dotado de 
liberdade, pode pecar e ofender o criador.
• É um ser total, integrado. Entrementes, porque criado 
para se aperfeiçoar, sua realização plena só se dará na 
consumação do universo. 
Criação em outros textos bíblicos 
Antigo Testamento
No Antigo Testamento, você pode encontrar, ainda, outros 
textos sobre a criação, mesmo que estes não sejam tão conheci-
dos. Veja, por exemplo:
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• Nos Salmos:
1) Sl 136: suscita sentimentos de ação de graças.
2) Sl 148: leva-nos ao louvor e à adoração. 
3) Sl 33: infunde confiança. 
4) Sl 8 e 104: produzem surpresa e extasiamento.
• Na literatura sapiencial: 
1) Pr 3,19-21; 8,22-23: Javé fundou a Terra com sabe-
doria.
2) Pr 8,30ss: a dimensão lúdica da criação. 
3) Jó 28; Eclo 3: Deus realiza sua obra do princípio ao 
fim. 
4) Eclo 1,1-6; 3,21-24: a incompreensibilidade do cria-
dor e sua obra. 
5) 16,26-30; 42,15-43,26: a confiança na bondade e na 
sabedoria do criador.
6) 43,27-33: suas obras são maiores do que as que ve-
mos.
7) Sb 1,14; 9,1.2.9: Deus criou tudo.
8) 19: Deus providente acompanha sua obra.
9) 2 Mac 7,28: a fé da mãe macabeia na criação etc.
Novo Testamento
No Novo Testamento, você encontra inúmeros textos que re-
colhem a doutrina do Antigo Testamento. Veja, por exemplo: Heb 
11,3; At 4,24-30; 1Pd 4,19; Ap 21,1-8.23; 2Pd 3. Além disso, é in-
teressante ler: 
1) Cl 1,15-20: acentua o papel de Cristo como princípio, 
centro e fim da criação. 
2) Heb 1,1-11: Cristo é o autor do mundo, além de susten-
tá-lo e purificá-lo. 
3) Jo 1,1-17: o Pai, pelo Verbo criado e encarnado, produz 
e dirige toda a criação à plena participação em Cristo.
4) 1Cor 8,5-6: Cristo, mediador da criação do Pai.
5) Ef 1,3-14: a criação toda tem origem e fim cristológicos.
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Síntese
A transição do Antigo Testamento para o Novo Testamento 
tem algumas características, aqui colocadas em forma de síntese 
sobre a criação da pessoa humana e da humanidade. Observe:
1) Não há nenhum conteúdo novo e especial que se acres-
cente à Teologia do Antigo Testamento.
2) O elemento novo é o hermenêutico: 
a) O ser humano tem origem e é visto à luz de Cristo.
b) O Deus criador é o Pai de Jesus.
c) Jesus é o ser humano por antonomásia (o verdadei-
ro Adão).
d) Pela ressurreição, Cristo torna-se o Primogênito e 
Senhor de toda a criação. 
e) Apesar do pecado, Deus continua amando e salvan-
do, por Cristo, todos os seus filhos adotivos. 
7. COMPREENSÃO DA ORIGEM HUMANA NA HISTÓͳ
RIA DA IGREJA
Para compreender melhor a realidade atual, torna-se útil o 
recurso à história da compreensão das origens humanas do ponto 
de vista religioso e cultural (incluído, aqui, o científico). 
Na questão da origem da pessoa humana, a Bíblia afirma, de 
modo geral, que o ser humano foi criado livremente por Deus à 
sua imagem. Este é, portanto, o princípio fundante da Antropolo-
gia Teológica e Cristã. 
Há uma intervenção divina na origem da vida e de cada vida 
humana. Contudo, essas são afirmações genéricas não suficientes 
para determinar o grau de intervenção, quer na origem, quer na 
continuidade da vida. Apesar de as afirmações bíblicas terem um 
caráter de história, de algo que se desenvolve (espírito dinâmico), 
a mentalidade metafísica, introduzida entre os cristãos para inter-
pretar a Bíblia, fez aparecer uma perspectiva fixista.
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Antiguidade patrística
Da antiguidade patrística, a Igreja herdou e professou a fé no 
Deus criador sem ter a necessidade de estabelecer uma doutrina 
própria. O importante era reconhecer e professar a fé na presença 
dinâmica de Deus, que cria, que sustenta. Ele é o Senhor e leva a 
termo a criação. 
É bem verdade que houve necessidade de algumas explica-
ções para se evitar:
• O panteísmo: era necessário distinguir o criador e a criatura.
• A compreensão do criado como emanação de Deus: era 
necessário afirmar "a criação desde o nada" ("ex nihilo"). 
Os dualismos gnósticos e maniqueus: era importante en-
fatizar a origem boa da criação e a necessidade de salva-
ção do criado.
• A interpretação de emanação ou de graça eterna: afirma-
-se a criação – não no tempo, mas com o tempo. A criação 
tem um início, que começa com o próprio tempo. 
Século 3º 
A partir do século 3º, por causa das discussões sobre a sal-
vação e por influência do platonismo, começa-se a debater a uni-
dade do composto humano (corpo-alma) e o livre arbítrio. A alma 
é o próprio da pessoa humana. Cada alma é criada diretamente 
por Deus e é infundida no corpo. Evita-se, assim, ideias como a 
preexistência da alma. Também se começa a separar a criação da 
salvação. Além disso, o significado salvífico da atuação de Cristo 
reduz-se à redenção, ao resgate do pecado. 
Agostinho
Marcantes na compreensão criatural do ser humano foram 
as ideias de Agostinho (contra Pelágio), as quais podem ser resu-
midas do seguinte modo: 
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• Que pode fazer o homem pecador (enfatizado desde Ter-
tuliano) para sua salvação diante de Deus? 
• Há um confronto entre a liberdade humana (esforço e 
conquista) e a força salvífica de Deus (a graça). Nasce, as-
sim, a Teologia da Graça, sem a qual o ser humano jamais 
poderá salvar-se. 
• Ideia de liberdade, na Bíblia (só em Deus a pessoa huma-
na é livre), contrapõe-se à ideia grega ("eleutheria": livre 
é o homem que pode dispor de si, independentemente 
dos outros). 
Santo Tomás
Santo Tomás, por sua vez, introduz novas questões com base 
no aristotelismo. Insiste no primado do existir ("esse") sobre a es-
sência ("essentia") ou no primado do indivíduo concreto. A questão 
da essência só vem depois da existência. É a forma que articula a 
matéria em substância concreta, individualizada. Deus é o horizon-
te do ser e, por meio de seu Filho – doado por amor –, estabelece 
uma relação entre o infinito e o finito. Mantém a transcendência 
de Deus e afirma a possibilidade de a pessoa existir nele e por ele. 
 A ausência da ideia de conservação (enfatizada por Santo 
Tomás) estabelece uma perspectiva criacional relegada aos gestos 
iniciais das origens. Transforma-se em mera protologia, enquanto 
a pessoa humana fica abandonada, desterrada no vale de lágri-
mas. 
Renascimento
O Renascimento estabelece uma nova compreensão da vida, 
que começa a ser pensada antropocentricamente. O estudo da na-
tureza separa-se da Teologia, tornando-se autônomo. O acesso a 
Deus é só um ato de fé no próprio Deus. Ele ou está à parte ou está 
num passado remoto ou, ainda, está num futuro longínquo. Cria-
dor e criatura dissociam-se e independentizam-se. A nova perspec-
© Antropologia Teológica118
tiva produz uma ruptura aparente com as antigas linguagens para 
expressar a fé na criação. Apesar de querer manter uma identida-
de crítica sobre a afirmação da fé (fundamentalista) da Bíblia, quer 
reconhecer, à luz da fé, novas possibilidades (que também não são 
definitivas), apresentadas pelo conhecimento da natureza. 
A partir do século 17, a questão da criação parece pertencer ao 
domínio da Filosofia e das ciências. 
 
Reforma
Em contrapartida, do interno do cristianismo, surge, ligado à 
questão da criação, um novo enfoque, filho da Reforma. Lutero es-
tabelece a fórmula: "Homem justo e, ao mesmo tempo, pecador". 
Segundo ele, só Deus transforma o homem, que, desde a origem, 
é pecador. Somente Deus o justifica. Assim como o ser humano 
procede do nada, e é nada tudo aquilo que a criatura pode ser, a 
pessoa humana só pode existir em Cristo. Apenas ele a justifica e amantém. Na verdade, Lutero confronta-se bem mais com as ideias 
contemporâneas de um novo panteísmo emanacionista (de Gior-
dano Bruno, por exemplo). Para ressaltar Cristo, a pessoa humana 
torna-se quase desprezível e sem valor. Por seu pecado, ela é res-
ponsável pela sua situação. Só Deus pode libertá-la. 
Contrarreforma
A Antropologia da Contrarreforma reafirma sua fé na criação 
e, ao mesmo tempo, defende-se do gnosticismo, do maniqueísmo 
e do panteísmo vigentes. Essa tendência é enfatizada no Vaticano 
I ao antepor a fé à razão. Reafirma o valor da revelação e ensina 
que, na criação toda, especialmente no ser humano, Deus revela 
sua bondade e sua perfeição, a liberdade e a independência do 
criado, além de seu cuidado para com tudo o que existe a partir 
do nada. 
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A partir de 1909
A distância entre a fé e a cultura só aumentou nos tempos 
seguintes. A partir de 1909, a Pontifícia Comissão Bíblica começa a 
buscar novas saídas, sugerindo que os textos de Gênesis 1 e 2 são 
simbólicos. Eles não têm, necessariamente, o sentido literal. Os 
autores sagrados não se propõem a um rigor científico ao escreve-
rem os "fatos" da fé. Seus textos são escritos sob o prisma da fé. 
A partir daí, começa, progressivamente, a ser abandonada, 
na Igreja Católica, a interpretação literal, segundo a qual os relatos 
bíblicos teriam o valor histórico. De modo idêntico, também é re-
jeitado o concordismo (busca de orientações bíblicas adaptadas às 
novas teorias científicas) e começa a ser evidenciado que o fixismo 
(baseado na concepção helenística das essências) não é um patri-
mônio da fé, senão uma possível explicação que a própria fé utilizou. 
Divino afflante (1943) e Humani generis (1950) 
Sobretudo a partir dos entornos das encíclicas Divino afflan-
te (1943) e Humani Generis (1950), abre-se à Igreja a possibilidade 
de compreensão da "história das origens" mediante os esquemas 
culturais dos novos tempos. 
Contudo, isso não condiciona a revelação aos conhecimen-
tos científicos e/ou similares. Permanecem abertas, com base na 
fé, muitas questões que as ciências (ainda) não respondem. Aliás, 
nem é de sua competência responder a algumas delas. 
Afirma-se, hoje, que os textos bíblicos da criação têm um 
"caráter etiológico sapiencial". Em outras palavras: trata-se de um 
gênero misto que reúne diversos aspectos dos gêneros literários 
míticos, sapienciais e históricos. 
Com base nisso, podemos mencionar que: 
1) Predominou, na Igreja, um distanciamento do caráter 
histórico-salvífico revelado na Bíblia, que cedeu lugar às 
concepções fixistas de cunho filosófico e dogmático.
© Antropologia Teológica120
2) Como já mencionamos, nas últimas décadas, por cau-
sa dos estudos exegéticos, há uma progressiva abertura 
da Igreja às ideias atuais do evolucionismo, sem, no en-
tanto, fixar-se em uma ou outra teoria. A mudança de 
atitude da hierarquia da Igreja deve-se a alguns fatores 
importantes, a saber:
a) O trabalho intenso preparado por teólogos e biblistas;
b) A possibilidade de compreensão do evolucionismo 
no contexto da revelação e da fé;
c) A compreensão da inerrância da Bíblia no gênero li-
terário de Gn 1-11;
d) A percepção de que a ciência não é incompatível 
com a fé e que a fé, em contrapartida, independe 
da ciência;
e) A doutrina revelada pode ser concebida numa pers-
pectiva evolucionista;
f) Por fim, a aceitação da explicação científica atual 
não implica assumi-la dogmaticamente. O que a 
ciência apresenta, hoje, como convincente, ama-
nhã, poderá deixar de sê-lo. A fé não depende do 
aval científico.
 
Você poderá aprofundar essa discussão teológica a partir de inú-
meras obras atuais. Citaremos algumas de fácil acesso e em por-
tuguês: KÜNG, Hans. O principio de todas as coisas. Petrópolis: 
Vozes, 2007.. MOLTMANN, Jürgen. Ciência e sabedoria.Petrópo-
lis: Vozes, 2007. EDWARD, Denis. O sopro de vida.São Paulo: 
Loyola, 2007. (RIBEIRO, Hélcion. Quem somos? Donde viemos? 
Para onde vamos? Petrópolis: Vozes, 2003
 
8. EXPLICAÇÕES DAS CIÊNCIAS NATURAIS ΈA EVOLUͳ
ÇÃOΉ
Deus é salvador e criador em Cristo
A reflexão teológica e cristã sobre a pessoa humana remonta 
às causas da sua origem: Deus é o salvador e o criador em Cris-
121
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to, por ele e para ele. Essa afirmação bíblica é a intuição sapien-
cial. Tudo o mais é instrumento noético. Quer dizer: os redatores 
da Bíblia não se preocuparam em esclarecer como se processou 
a criação. As especificações sobre o modo que se originaram as 
coisas não são senão narrações dramáticas, holísticas, simbólicas 
da verdade. Elas não se preocupam sequer em harmonizar os di-
versos dados.
Certamente, você não crê que a serpente fale, apesar de isso 
estar escrito na Bíblia.
Hoje, com base na fé, pode-se afirmar que o ser humano é 
filho da evolução? Por que não? Não há nada que impeça você de 
entender todo o processo da hominização à luz da ciência, sem re-
jeitar a fé. É claro que você jamais afirmará que somos descenden-
tes só do macaco, pois o macaco descende dos primatas, e, retros-
pectivamente, estes provêm de outros seres, cuja origem está na 
primeira forma de vida, a qual, provavelmente, nasceu nas águas. 
Isso que você sabe cientificamente, o homem bíblico não sa-
bia e nem podia imaginar. A Bíblia foi escrita entre 3.800 e 2.000 
anos atrás. As teorias da evolução têm uns 150 anos. A Bíblia só 
poderia usar a "etiologia sapiencial". E você deve usá-la, mesmo 
que utilize a atual sabedoria racional ou científica.
Processo de hominização
O processo de hominização é longo. Não é nem retilíneo nem 
uniforme. Nesse sentido, não vamos buscar a origem da vida, que 
remonta há, aproximadamente, 3,5 milhões de anos depois da for-
mação da Terra (ou seja, há 4,5 ou 5 milhões de anos), que é filha do 
Sistema Solar, nascido há cerca de 9 bilhões de anos. Esse sistema, 
por sua vez, origina-se na galáxia da Via Láctea, nascida há, aproxi-
madamente, 13,200 bilhões de anos, fruto da explosão inicial (Big 
Bang), que aconteceu por volta de 14,3 bilhões de anos atrás. 
Dos primeiros mamíferos pertencentes ao período triássico 
(251 milhões de anos), originaram-se os primatas (há 65 milhões 
© Antropologia Teológica122
de anos). Daí, surgiram, há 2,3–1,6 milhões de anos, os primeiros 
hominídeos. Deles até os primeiros homens, passou-se mais de 
1 milhão de anos. Os hominídeos deram origem aos antropoides 
(entre outros: chimpanzés, gorilas, gibões e os humanos). Nossos 
últimos ancestrais e parentes vivos são os chimpanzés, que surgi-
ram entre 6 e 8 milhões de anos atrás. São eles que têm uma carga 
genética (DNA) igual a nossa em torno de 98%. Enquanto o "homo 
habilis" surgiu há cerca de 2,5 milhões de anos, o "homo sapiens" 
(homem moderno) surgiu há menos de 200.000 anos. Saído da 
África em direção à Europa, conviveu com o enigmático "neander-
thalense" até uns 25 mil anos atrás. 
Anatomicamente, o homem moderno está pronto há 195 mil 
anos. Geneticamente, a chamada "Eva mitocondrial" tem cerca de 
250 mil anos. Entretanto, o que mais caracteriza nossa vida como 
humana é a aquisição: 
1) do cérebro e da versatilidade da inteligência; 
2) da consciência; 
3) da linguagem; 
4) da capacidade para a arte simbólica e previsão. 
Esses sinais estão claramente expressos nas evidências ar-
queológicas, indicadas pela transformação radical há, aproximada-
mente, 40.000 anos, desde a evolução do Paleolítico Superior na 
Europa. A partir daí, as manifestações do propriamente humano 
agigantam-se, passando pela domesticação do fogo, da agricultu-
ra e dos animais. A cidade mais antiga, Jericó, tem por volta de 
8.000 anos. Depois, foram feitas as pirâmides do Egito. Domina-
ram-seáreas pantanosas. Descobriu-se o "Novo Mundo". Hoje, 
constroem-se essas coisas admiráveis de nosso mundo. Até onde 
vai a evolução?
Poder-se-ia perguntar: a evolução parou aqui ou continua? 
Quem pode responder a isso? 
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9. LUGAR DE DEUS SALVADOR E CRIADOR NA EVOͳ
LUÇÃO
Você deve ter percebido o quanto esta unidade é importan-
te. Deve ter percebido, também, como a Antropologia Teológica/
Cristológica abre novos horizontes para a questão "evolução". To-
davia – e com razão –, você deve estar se perguntando sobre a 
atuação de Deus criador nesse processo de evolução. 
Para entender isso, não se esqueça do que repetimos mui-
tas vezes neste Caderno de Referência de Conteúdo: o ser humano 
(e a humanidade, por extensão) não foi criado nem perfeito nem 
imperfeito. A criação é um processo de aperfeiçoamento (é per-
fectível).
Criação: ato contínuo de Deus
O Catecismo da Igreja Católica, que tem uma interessante 
abordagem teológica sobre Deus criador entre os números 279 e 
314, afirma:
A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas ela 
não saiu completamente acabada das mãos do Criador. Ela é criada 
'em estado de caminhada' para uma perfeição última a ser atingida 
para o qual Deus destinou (n. 302). 
Cremos que a criação é um ato contínuo de Deus até o fim 
dos tempos. Isso quer dizer que: 
1) Deus acompanha como pai zeloso a sua obra.
2) Ao mesmo tempo, ele faz sua obra desdobrar-se criati-
vamente.
3) A criação é uma ação aberta em que o encantamento 
está na surpresa. As improbabilidades não se tornam 
possíveis.
4) Das improbabilidades, surgem novidades insuspeitas e 
inauditas. Diante dos cientistas, que afirmam a não dire-
cionalidade e a não sequência consentânea, os cristãos 
constatam a surpresa ou o mistério. 
© Antropologia Teológica124
Algum cientista afirmou serem três os grandes mistérios da 
evolução: o surgimento do universo, o surgimento da vida e o sur-
gimento do ser humano. Sabe-se que, nesse caso, um subsegue ao 
outro. Todavia, se, em alguns casos, a evolução criou a necessida-
de; na grande maioria dos casos, ela explodiu em probabilidades 
de surgimento e de desaparecimento. 
Com base nisso, você poderá perguntar: onde está (va) o 
Deus criador? Inicialmente, o que temos a observar é que, cons-
ciente ou inconscientemente, muitos pensam que Deus estava fa-
zendo física e materialmente cada coisa, inclusive nas inovações. 
Na verdade, nossa primeira afirmação é esta: Deus cria de modo 
contínuo e aberto para levar à salvação (à realização plena) tudo e 
todos por meio de seu Cristo. 
Depois, a ação criadora de Deus é concebida de modo pro-
cessual e perfectível, até mesmo sem uma aparente lógica, ou me-
lhor, parecendo um acaso dentro de um caos. 
Deus, que transcende a criação, é ativo nela. Ele, desde sem-
pre, capacitou a natureza para o novo sem necessitar de sua in-
terferência física. A própria natureza em evolução está dotada de 
forças múltiplas que podem ou não gerar o novo. Isso depende ou 
independe de sua anterioridade ou lógica. 
Deus conduz a criação com sabedoria.. Entretanto, "confere 
a ela uma liberdade" para o possível e para o i-necessário. Desse 
modo, afirmar a improbabilidade ou o acaso é atestar tão somente 
o desconhecimento da criação aberta, da ação e do propósito de 
Deus, que ultrapassam o tempo e a matéria. 
A criação de Deus ultrapassa a história e o cosmo. Os cris-
tãos professam que Deus é o criador das coisas visíveis e invisíveis. 
Em contrapartida, o que parece – sobretudo no caso humano – 
uma misteriosa solidão, na verdade, é um diálogo possível entre o 
transcendente e o histórico, entre o eterno e a sua criação. 
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© U4 - Compreensão da Origem Humana
Da mesma forma, é misterioso o significado do sofrimento 
de milhares de seres na criação. Para que uns nasçam, supõe-se 
a morte e, até, o extermínio de outras espécies. Algumas simples-
mente desaparecem sem sucedâneos. As causas do desapareci-
mento são múltiplas e, em geral, sem significado. Aliás, o signifi-
cado só será dado em Deus, na consumação da criação. Só então 
tudo será revelado e tornado claro, pois Cristo entregará ao Pai sua 
obra completa. Somente aí se compreenderá a "lógica de Deus" 
em sua história salvífica, começada no início da criação, quer se 
diga com o Big Bang, com a teoria das cordas ou com outras que 
as ciências haverão de contar ainda. 
Da revelação e da fé, surge uma Teologia da Criação e do 
Deus criador que só deveria ser concluída ao se recorrer a alguns 
textos bíblicos, capazes de sugerir sua leitura, sua contemplação e 
seu louvor. 
 
Veja, por exemplo, 2 Mac 7,22-28; Dn 3,57-88.56; Sl 8 e Mt 11,27.
Da Teologia da Criação, decorrem algumas questões muito 
importantes, como a Teologia do Ambiente, o problema do mal e a 
constituição da pessoa – que serão abordados oportunamente na 
próxima unidade. 
10. DIGNIDADE DO SER HUMANO
Eis aí o ser humano, feito da poeira das estrelas e fruto da 
evolução do cosmo, capaz de cultivar a natureza (ou de destruí-la) 
e amar a si mesmo (ou de odiar-se).
Todavia, quem é ele? Quem é essa síntese, esse microcos-
mo? Quem é esse ser solitário na imensidade do universo, mesmo 
rodeado de milhares de vidas? Por que ele existe? Sua missão é 
apenas nascer, viver e desaparecer pela morte? É um ser existente 
sem sentido? Fruto do acaso improvável? Qual é o significado de 
© Antropologia Teológica126
cada indivíduo no conjunto da espécie? É indiferente ao ecossiste-
ma existir essa pessoa e não aquela? Essas e outras questões serão 
respondidas neste momento. Acompanhe. 
Dignidade humana natural
Sem um sentido indicado pelo próprio ser humano, nada, 
de tudo quanto existe, teria sentido. É a pessoa humana quem dá 
sentido a todas as coisas. É ela, entre os seres existentes, o único 
ser capaz de transcender a si mesmo e, com base no conjunto da 
vida, explicar o que existe. 
A história da humanidade não começa mais num eventual e 
concreto "homo sapiens" histórico. Ela perde-se na história do Sis-
tema Solar, que, por sua vez, se perde nas origens do cosmo. Ade-
mais, as respostas não satisfazem significativamente, salvo quando 
enquadradas em certos parâmetros (ciência, por exemplo), cuja 
resposta é válida só dentro desses e com esses parâmetros. 
Os cristãos reconhecem a validade da história da vida em 
evolução. Aceitam o método científico de narrar, próprio das ciên-
cias naturais. Entretanto, pela revelação e pela fé, só conseguem 
aceitar esse modo complementado pela perspectiva da transcen-
dência. A horizontalidade da vida exige a transcendência para ser 
significativa. 
Todo o processo relativo à hominização (o tornar-se huma-
no) só se explica quando se busca o sentido em Deus criador. E, 
aí, a Teologia (da Criação) tem sua contribuição particular, com 
base no que afirmamos anteriormente (cf. Unidade 2). A evolução 
a partir das ciências naturais é uma explicação válida (dentro dos 
seus critérios), mas insuficiente por levar em conta apenas os fatos 
reais ou, no caso da evolução, em geral, deduzidos. 
Antes, porém, de voltarmos à dimensão teológica, convém 
ressaltar a dignidade humana tendo como ponto de partida o pró-
prio conjunto da história natural.
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O ser humano (visto aos olhos da evolução, mas não de Deus) 
foi um improvável que se concretizou. Foi após milhões de anos no 
processo evolutivo que ele apareceu. Foi com sua racionalidade e com 
sua compreensão que as "coisas" passaram a ter significado e sentido. 
É a pessoa humana quem confere sentido a tudo o que existe. É ela 
quem explica o existente. Para isso, serve-se, inclusive, das ciências. 
Nãoconhecemos nenhum outro ser ou forma de vida, no 
horizonte das coisas que existem, capaz de produzir explicações e 
cultura. Somos os únicos. O fato real, o qual é descrito pelo ser hu-
mano, seja este cientista ou não, precisa, também, ter um sentido. 
É certo que algumas pessoas negam a possibilidade de sentido, de 
finalidade de tudo quanto existe. Afirmar o acaso, a necessidade 
ou a probabilidade significa apenas ignorar razões maiores sobre 
os fatos dados ou existentes. 
Não somente a metafísica se pergunta: "o que eu posso saber?", 
ou a ética: "o que devo fazer?" ou, ainda, a religião: "o que devo 
esperar?". O próprio ser humano pode criar significado e sentido 
para além do fato real, medido, comprovado ou experimentado. 
Assim, é correto o próprio ser humano perceber-se diferente 
de todos os outros seres (observe que não afirmamos que ele é su-
perior ou inferior). Na natureza, descobrem-se razões e atribuem-
-se significados. O ser humano faz disso uma autocompreensão e 
estabelece distinções. Daí o perceber-se distinto, peculiar e único 
por sua linguagem, cultura, religiosidade e operosidade. Ele é ca-
paz de explorar os fatos e a realidade, modificando-os, aceitando-
-os ou refutando-os. 
A peculiaridade humana não é só uma questão da espécie. 
Também é uma questão do indivíduo. Além disso, a identidade da 
espécie e do indivíduo já aponta, desde a natureza, à dignidade 
humana em vista não somente da consciência de si, mas também 
da consciência moral, da liberdade, da sociabilidade e das razões e 
finalidades da própria vida.
© Antropologia Teológica128
A dignidade é inerente à espécie e ao indivíduo. Ela cresce 
porque os seres humanos, uns frente aos outros, são capazes de 
reconhecerem sua igualdade e sua diferença, suas relações e suas 
peculiaridades. O coenvolvimento de uns com os outros estabe-
lece, entre os humanos, o diálogo, a partilha e a comunhão, os 
quais vão muito além do compromisso natural de amamentação e 
de sexo. Da hominização à humanização, percorre-se, também, o 
caminho natural da dignificação humana.
Na raiz da dignidade natural da pessoa humana, estão fato-
res como: humanização dos hominoides, individualização, irrepe-
tibilidade, autonomia e subjetividade. 
A humanização vem da capacidade de decidir e de agir por si 
mesmo, o que quer dizer: autonomia e independência, bem como 
a qualidade de imagem que se transmite de si para o outro, seu 
similar. Em contrapartida, a sociedade produz leis e faz que elas 
sejam respeitadas no sentido de se preservarem os direitos bási-
cos contra as exclusões mútuas e a eliminação dos mais fracos. É 
o processo de busca e de reconhecimento que produz a dignidade 
comum. A convivência humana, digna de todos, tem como ponto 
de partida o reconhecimento da dignidade social de todos. 
A dignidade torna-se uma questão de estima subjetiva que 
cresce pelo decoro, pela decência, pela honra e pelo bem-estar. 
Sem dúvida, mesmo quando ainda não se manifestam todas as po-
tencialidades da subjetividade, ou mesmo que elas tenham sido 
perdidas, a dignidade não pode ser declinada como indignidade 
humana. O fato de ela não estar já caracterizada – ou de ter sido 
perdida em sua consciência – não cria uma não humanidade. A 
questão da dignidade nasce, em primeiro lugar, da própria existên-
cia. Por isso, analogicamente, deve-se (isto é uma questão moral) 
ter em conta a dignidade dos animais. A dignidade humana, sob 
o ponto de vista moral, é uma questão de autoconstrução e, tam-
bém, de heteroconstrução. Ela implica deveres, direitos e valores. 
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© U4 - Compreensão da Origem Humana
Dignidade humana vista pelo cristianismo
A dignidade humana tem, porém, segundo os cristãos, dois 
outros fundamentos. O primeiro está na realidade da filiação divi-
na. Todo ser humano procede de Deus e foi elevado à categoria de 
filho por meio do Filho Unigênito. Igualmente, o aspecto teológico 
está ligado à questão da criação, seja esta manifestada na evolu-
ção da espécie humana, seja na origem do indivíduo como pessoa. 
Deus faz, com suas duas mãos, o ser humano, seu filho; enquanto 
toda a criação restante, ele diz: "faça-se" (cf. Gn 1,1-28).
A filiação e a criaturidade remetem, na questão teológica da 
dignidade, à realidade de a pessoa humana ser, também, imagem 
de Deus. A pessoa encontra em si a presença de Deus e represen-
ta-o como cocriadora. Ao olhar o ser humano, a fé convida todos a 
perceberem a transparência do divino em todos. 
Não por último, a concepção teológica da dignidade humana 
aponta ao parentesco e à relação entre humano e divino. Somos 
parentes de Deus. Somos os seus mais próximos interlocutores. 
Somos pessoas da espécie humana na família dos hominoides, 
que, por sua vez, procedem, retroativamente, na escala da evo-
lução, às amebas e à poeira do cosmo. Entretanto, nossa origem 
também está em Deus, de quem procedemos e para quem iremos. 
O segundo fundamento da dignidade humana é encontrado 
na Cristologia. O Verbo fez-se carne entre nós, conosco e para nós 
(cf. Jo 1.1-14). Em tudo, fez-se igual a nós ao assumir nossa car-
ne. Aliás, como diz Santo Irineu ele preparou nossa carne de tal 
modo que, sem alterá-la, pudesse ser sua também. Assumindo a 
natureza humana, foram cristificados todos os homens e todas as 
mulheres, de todos os tempos e lugares, independentemente de 
crerem ou não em Deus. Aquele que é a origem se fez no tempo, 
originado para nos mostrar realmente quem somos. 
Nossa dignidade está, pois, no fato de Deus ter experimenta-
do nossas dores, nossas alegrias, nossas angústias e nossas espe-
ranças (GS 1). A Bíblia afirma negativamente a mesma realidade: 
"Ele o fez pecado por nós"(2Cor 5,21) . Nascido na carne virginal da 
© Antropologia Teológica130
humanidade (cf. Gl 4,4), viveu fazendo o bem (cf. At 10,38). Morto, 
foi ressuscitado pelo Pai e constituído à sua direita como Senhor 
e Juiz. A volta para a glória, que tinha antes de sua kenosis, não 
obnubila nem despreza a fraternidade aqui vivida. Ele deu-nos a 
dignidade de sermos filhos de seu Pai. Confirmou nossa irmanda-
de consigo. Espera-nos para, como seu corpo, entregar-nos ao Pai. 
Far-nos-á viver diante dele, face a face. À luz de Cristo, todo ser hu-
mano encontra sua real dignidade. A dignidade humana é antro-
pológica por natureza, antes de ser uma questão moral. Todavia, 
nem sempre os comportamentos humanos confirmam essa reali-
dade. Por isso, ela, que é um dom, é, também, uma tarefa. Além 
disso, em muitas partes do mundo, está comprometida. Com isso, 
o ser humano continua sendo humilhado e é impedido de viver tal 
dignidade. Quando a dignidade humana é/ou está ferida, toda a 
criação é atingida também. Mas não somente ela, pois o próprio 
Deus criador também é atingido. 
11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu 
desempenho no estudo desta unidade:
1) Comente e justifique a seguinte afirmação: há uma pretensão em alterar e/
ou em comandar o destino histórico da espécie humana e do planeta. Os 
inventos tecnológicos (dentre eles, a nanotecnologia), o domínio genético 
(com as possibilidades de clonagem), as conquistas espaciais (inclusive com 
a possibilidade de encontros com novos seres inteligentes), a violência, a 
produção de epidemias, a fome, o usufruto frenético do planeta etc., são 
fatores que podem alterar não só a nossa forma de viver, mas, também, a 
nós mesmos.
2) A Igreja é contra a teoria da evolução? Por quê?
3) Como caracterizar e diferenciar: criação, evolução e designo inteligente? É 
possível ser cristão, acreditando simultaneamente na criação e na evolução? 
Justifique.
4) Uma teologia mais antiga falava da criação como um ato de Deus no início da 
história. Hoje afirma-se que a criação é um ato contínuo de Deus. Explique o 
porquêda mudança de critérios teológicos.
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5) Quais são os fundamentos da dignidade humana, sob o ponto de vista da fé 
e da teologia cristã?
12. CONSIDERAÇÕES 
Nesta unidade, você leu sobre alguns elementos da Teologia 
da Criação, aprofundando seus conhecimentos sobre ele. Inicial-
mente, indicamos alguns conceitos importantes ("criacionismo", 
"design inteligente", "evolucionismo" e "Teologia da Criação") e 
suas correlações. Depois, situamos os significados: 
• da criação na Bíblia e na história; 
• da evolução como lugar de compreensão atual do ser hu-
mano. 
Com base nesses elementos, pudemos inferir o sentido da 
dignidade humana como elemento diferencial sobre o todo da 
criação e o papel de Deus agindo continuamente e de modo aber-
to no universo visível (e invisível).
Esperamos que você não só possa concluir esta unidade 
como estudo (racional) teológico, mas que também possa exta-
siar-se pelas maravilhas que Deus fez, a fim de sentir e extasiar-se 
com sua glória. 
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EDWARDS, D. O sopro do Espírito. Uma teologia do Espírito Criador. São Paulo: Loyola, 
2007.
KRAUSS, H; KUCHLER, M. As origens, um estudo de Gênesis 1-11. São Paulo: Paulinas, 
2007.
KÜNG, H. O princípio de todas as coisas. Ciências naturais e religião. Petrópolis: Vozes, 
2007.
MOLTMANN, J. Ciência e sabedoria. Um diálogo entre ciência natural e teologia. São 
Paulo: Loyola, 2007.
RIBEIRO, H. Quem somos? Donde viemos? Para onde vamos? Petrópolis: Vozes, 2007.
______. Ensaio de antropologia cristã. Da imagem à semelhança com Deus. Petrópolis: 
Vozes, 1995.RUIZ DE LA PEÑA, Juan L. Teologia da criação. São Paulo: Loyola, 1989.
© Antropologia Teológica132
SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL. O homem em busca das origens. História da Evolução 7. 
Edicão Especial. São Paulo: Dueetto, s/d.
SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL. Como nos tornamos humanos. A evolução da inteligência. 
Edicão Especial. São Paulo: Dueetto, s/d.
SUSIN, L. C. Teologia da criação. São Paulo: Paulinas; Valência (Esp): Siquem, 2003.

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