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Parúsia e Juízos na Escatologia Cristã

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A Parúsia e os Juízos
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1. OBJETIVOS
•	 Compreender	 a	 doutrina	 e	 a	 teologia	 sobre	 a	 segunda	
vinda	de	Jesus	e	os	eventos	que	a	acompanham.
•	 Analisar	a	simbologia	presente	nos	enunciados	escatoló-
gicos	e	obter	chaves	de	leitura	e	de	interpretação.
2. CONTEÚDOS
•	 Parúsia.
•	 Novo	Céu	e	nova	Terra.
•	 Juízo	universal.
•	 Juízo	particular.
•	 Misericórdia	é	a	marca	do	juiz.
•	 Misericórdia	é	a	medida	da	justiça.
© Escatologia50
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Não	esqueça	que	o	aproveitamento	do	estudo,	depende	
exclusivamente	de	você	mesmo.
2)	 Nesta	unidade,	ao	ir	desenvolvendo	os	diversos	conteú-
dos,	aprofunde-os,	também,	utilizando	as	referências	bi-
bliográficas	indicadas	no	final	da	unidade.
3)	 Faça	 sempre	 suas	 anotações,	 sínteses	 e	 observações	
pessoais	ao	texto	e	às	novas	ideias	que	você	vai	adqui-
rindo.
4)	 Quando	não	entender	um	texto	ou	uma	 ideia,	 releia	e	
procure	descrever	o	assunto	com	palavras	próprias.
5)	 Procure	ter	clareza	nos	diversos	conceitos.
6)	 Procure	refletir,	antes	de	iniciar	este	estudo,	sobre	o	con-
ceito	 de	parúsia.	 Ao	 final	 desta	 unidade,	 procure	 con-
frontar	o	conceito	estudo	com	aquele	que	você	já	tinha.
7)	 Sugerimos	que	você	 leia	o	capítulo	 referente	ao	 Julga-
mento	de	Deus	da	obra;	LIBÂNIO,	J.	B.;	BINGEMER,	M.	C.	
Escatologia cristã: o novo Céu e a nova Terra. Petrópolis:	
Vozes,	1985.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	foram	apresentados	os	conceitos	esca-
tológicos	e	à	especificidade	da	reflexão	desta	disciplina	teológica.
Nesta	unidade,	estudaremos	sobre	a	Parúsia,	sobre	o	Juízo	
universal	e	o	particular	e	sobre	o	novo	Céu	e	a	nova	Terra.
Bons	estudos!
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© U2 - A Parúsia e os Juízos
5. PARÚSIA
Na	Escatologia	coletiva,	o	evento	deflagrador	da	reordena-
ção	universal	é	a	segunda	vinda	de	Jesus,	que	consigo	trará	o	Jul-
gamento	Final,	que,	por	sua	vez,	apresentará	à	humanidade	toda	
aquilo	que	se	deu	no	Juízo	particular	de	cada	indivíduo.	Os	eventos	
assim	encadeados	podem	dar	 a	 ideia	 de	 sucessão,	 o	 que	não	é	
possível,	uma	vez	que	já	está	inaugurada	a	condição	de	eternida-
de,	na	qual	o	tempo	e	o	espaço	inexistem.
Deus visita-nos: a Parúsia
"A	 palavra	 parousia	 (parousia)	 significa	 tanto	 'presente'	
quanto	'vinda'.	Na	escatologia,	'parúsia'	refere-se	à	segunda	vinda	
de	Cristo	no	fim	dos	tempos	e	pela	qual	tudo	será	transformado"	
(SCHNEIDER,	2000,	p.	347).
A	Bíblia	apresenta	que,	ao	longo	de	toda	a	história,	Deus	vem	
ao	encontro	do	homem	de	muitas	formas	e	em	muitos	momentos.	
Assim,	desde	os	tempos	áureos	do	profetismo	até	as	narrativas	do	
evangelho,	o	tema	da	visitação	é	recorrente.	Deus	quer	estar	com	
seu	povo	e	está	disposto	a	fazer	aliança	com	ele.
Quando	da	encarnação	do	Verbo,	essa	visita,	que	é	tão	al-
mejada,	 efetivamente	 acontece;	 significativos	 são	 os	 pontos	 de	
contato	que	o	texto	de	2Sm	6,1-15	possui	com	a	visitação	de	Ma-
ria	à	sua	parenta	Isabel	(Lc	1,39,56):	a	Arca	da	Aliança,	contendo	
as	"Palavras	de	Deus"	(deka	=	dez;	logos	=	palavra)	é	levada	para	
uma	cidade	nas	montanhas	de	Judá.	Maria,	tendo	em	seu	ventre	
o	"Verbo,	a	Palavra	de	Deus",	vai	para	uma	cidade	nas	montanhas	
de	Judá.	A	Arca	é	recebida	com	aclamações	de	alegria,	assim	como	
Maria.	Na	cidade,	o	rei	pergunta-se:	"Como	posso	receber	em	mi-
nha	casa	a	Arca	de	Deus?";	Isabel,	ao	ver	Maria,	diz:	"Donde	me	
vem	que	a	mãe	do	meu	Senhor	me	visite?";	a	Arca	permanece	três	
meses	naquele	lugar.	Maria	fica	três	meses	na	casa	de	Isabel.	
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Tanto	o	Antigo	quanto	o	Novo	Testamento	mostram	Deus	vi-
sitando	seu	povo:	"Deus	vos	visitará,	vos	fará	subir	deste	país	para	
o	país	que	ele	prometeu	com	juramento	a	Abraão,	 Isaac	e	Jacó"	
(Gn	50,24s).	A	oração	feita	por	Zacarias,	pai	do	precursor	do	Mes-
sias,	João	Batista,	inicia-se	com	a	exaltação:	"Bendito	seja	o	Deus	
de	Israel,	porque	visitou	e	redimiu	seu	povo"	(Lc	1,68)	e	termina	
agradecendo	pelo	"Sol	nascente	nos	vir	visitar"	(Lc	1,78s).
Emblemática,	 também,	é	 a	presença	e	 a	 atuação	de	 Jesus	
nas	bodas	de	Caná	(Jo	2,1-12),	em	que	as	situações	e	os	discursos,	
se	interpretados	à	luz	da	Escatologia,	vão	apontar	para	a	Parúsia.	
As	ações	e	as	 relações	gravitam	em	torno	do	elemento	"vinho":	
o	vinho	(oinos)	simboliza	desde	a	época	dos	profetas	até	o	amor	
conjugal.	Desse	modo,	faltar	vinho	em	um	casamento	equivale	a	
efetuar	um	rito	destituído	de	sentido,	pois	não	está	 imbuído	de	
afeto.	Apesar	de	o	rito	acontecer,	é	apenas	uma	encenação,	sem	
comportar	o	valor	que	exteriormente	manifesta.	
A	segunda	interpretação	para	o	vinho	é	a	alegria.	Partindo	da	
constatação	empírica,	a	noção	de	que	o	vinho	é	sinônimo	de	rego-
zijo	foi	forjada.	O	vinho	atenua	a	ansiedade	das	pessoas	e	torna-as	
mais	desenvoltas	e	receptivas,	alterando,	muitas	vezes,	até	mesmo	
o	humor	daquele	que	o	bebeu.	Diante	disso,	vinho	e	alegria	são	
associados	no	pensamento	bíblico.
Entretanto,	o	vinho	evoca	a	ideia	de	amor	e	de	alegria;	em	Jo	
2,1-12,	ele	passa	a	ser	sinal	de	comunhão	com	Deus.	Assim,	ele	é	
elemento	essencial	em	uma	festa,	especialmente	em	casamentos,	
que,	 por	 sua	 vez,	 simbolizam	o	banquete	escatológico;	 a	 comu-
nhão	com	Deus	na	eternidade	funde-se,	aqui,	como	um	símbolo	
da	própria	comunhão	de	vida	com	Deus,	nascida	no	amor,	orienta-
da	na	alegria	e	orientada	para	a	eternidade.
Em	Jl	4,18;	Am	9,13,	é	dito	que,	no	"dia	do	Senhor",	irrupção	
definitiva	de	Cristo	em	Sua	segunda	vinda,	o	"vinho	escorrerá	das	
montanhas";	 portanto,	 na	 visão	 apocalíptica,	 por	 vezes,	 o	 vinho	
representa	o	próprio	Deus	e	Sua	presença	geradora	de	comunhão,	
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de	amor	e	de	alegria.	Deus	é	o	vinho	escatológico.	Nas	bodas	em	
Caná,	não	 sabiam	donde	vinha	esse	 vinho	novo	 (Jo	2,9)	porque	
não	haviam	reconhecido	em	Jesus	o	Cristo,	mas	o	vinho	é	Jesus.
Utilizando-se	desse	evento,	João	demonstra	a	surpreenden-
te	 entrada	de	 Jesus	na	história	 do	povo	 fazendo	aceno	discreto	
para	o	conteúdo	escatológico	da	Parúsia.
Ao	longo	de	sua	vida,	Jesus	passou	pela	história	de	muitas	
pessoas	(Mc	10,46-52:	cego	Bartimeu),	hospedou-se	em	suas	ca-
sas	(Lc	9,38:	em	Betânia),	visitou	(Lc	19,5:	casa	de	Zaqueu)	e	ce-
lebrou	a	vida	com	elas	(Jo	2,	1ss).	A	passagem	de	Jesus	pela	vida	
de	alguém	sempre	foi	um	convite,	uma	provocação	para	que	este	
aderisse	 à	 sua	 proposta.	 Muitos	 aceitaram,	 mas	 nem	 todos.	 O	
quarto	evangelho	sublinha	a	resposta	negativa	que	muitos	deram	
a	Jesus:	"Ele	veio	aos	seus	e	os	seus	não	o	receberam"	(Jo	1,11).
De	forma	poética,	a	Bíblia	mostra	o	drama	daquela	que	quer	
estar	com	o	amado,	mas	que,	indolente,	tem	preguiça	de	abrir	a	
porta	para	que	ele	entre	e	que,	quando	consegue	vencer	o	abati-
mento,	o	amado	já	tinha	passado	e	ido	embora	(Ct	5,2-6).
A	expectativa	para	a	vinda	do	Senhor	no	 final	dos	 tempos	
deve	colocar	cada	indivíduo	em	preparação	para	essa	"visita",	pois	
o	Senhor	está	à	porta	e	bate,	quem	abrir	fará	comunhão	com	ele	
(Ap	3,2)	e,	quando	ele	aparecer	uma	segunda	vez	aos	que	o	aguar-
dam,	dará-lhes	a	salvação	(Hb	9,28).	Este	é	o	 itinerário	que	está	
presente	na	doutrina	e	no	imaginário	religioso	dos	cristãos.	Cris-
to	virá,	e	sua	Parúsia	desencadeará	acontecimentos	inéditos	que	
reordenarão	toda	a	história	humana	e	que	darão	novo	sentido	à	
criação	e	às	criaturas.
6. NOVO CÉU E NOVA TERRA
A	reordenação	universal	alcançada	pela	Parúsia	não	alcança,	so-
mente,	à	humanidade,	mas	a	todo	Cosmos	e	a	todas	as	criaturas.	Essa	
doutrina	fundamenta-se	na	tradição	bíblica	vétero	e	neotestamentária:
© Escatologia54
1)	 Is 65,17:	 "Eis	que	 faço	novos	céus	e	nova	 terra;	e	nin-
guém	mais	se	recordarádas	coisas	passadas;	elas	já	não	
voltarão	à	mente".
2)	 Is 66,12:	"Assim	como	os	novos	céus	e	a	nova	terra	que	
hei	de	criar,	subsistirão	diante	de	mim	–	palavra	do	Se-
nhor	–,	assim	subsistirão	a	vossa	posteridade	e	o	vosso	
nome".
3)	 2Pd 3,13:	"Aguardamos,	segundo	a	promessa	de	Deus,	
céus	novos	e	terra	nova,	em	que	a	justiça	habitará".
4)	 Ap 21,1:	"Vi	então	um	novo	céu	e	uma	nova	terra	–	pois	
o	primeiro	céu		e	a	primeira	terra	se	foram,	e	o	mar	já	
não	existe".
Portanto,	 todas	 as	 realidades	 criadas,	 criação	 e	 criatura,	
aguardam	a	manifestação	de	Cristo	na	Parúsia,	quando	tudo	alcan-
çará	a	plenitude	a	que	se	destina,	conforme	diz	Paulo	aos	romanos	
(Rm	8,18-25).	Consequentemente,	a	harmonia	entre	os	seres	e	a	
criação	será	plena:
Então	o	lobo	morará	com	o	cordeiro,	e	o	leopardo	se	deitará	com	
o	cabrito.	O	bezerro,	o	leãozinho	e	o	gordo	novilho	andarão	juntos	
e	um	menino	pequeno	os	guiará.	A	vaca	e	o	urso	pastarão	juntos,	
juntas	se	deitarão	as	suas	crias.	O	leão	se	alimentará	de	forragem	
como	o	boi.	A	criança	de	peito	poderá	brincar	junto	a	cova	da	áspi-
de,	a	criança	pequena	porá	a	mão	na	cova	da	víbora.	Ninguém	fará	
o	mal	nem	destruição	alguma	em	todo	o	meu	monte	santo,	porque	
a	terra	ficará	cheia	do	conhecimento	de	Iahweh,	como	as	água	en-
chem	o	mar	(Is	11,6-9).
Uma	vez	alcançado	esse	objetivo	final	da	criação,	cada	ser	viverá	
com	Deus	conforme	a	sua	natureza	e	suas	características.	O	cosmo	
inteiro	se	tornará	espelho	de	seu	Criador.	Eis	a	parúsia	em	plenitu-
de,	o	triunfo	definitivo	de	Jesus,	o	Cristo:	o	êxito	total	e	definitivo	da	
obra	criadora	de	Deus.	Neste	estágio,	a	esperança	escatológica	en-
fim	chega	ao	seu	fim,	porque	Deus	a	torna	realidade.	Mas,	ele	não	a	
concretiza	num	âmbito	espiritualizado	e	alienado,	e	sim	dentro	do	
cosmo	que	nós	conhecemos	(BLANK,	2002,	p.	366).
Desde	a	poesia	da	criação,	apresentada	pela	 tradição	em	Gn	
1,1-2,4a,	o	"dia	do	Senhor"	é	o	ponto	de	contraste	ao	"dia	de	Iahweh",	
uma	vez	que	este	remete	à	ideia	de	vingança	e	de	dor	enquanto	aque-
le	indica	o	olhar	benevolente	de	Deus	sobre	a	obra	da	criação.	
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Essa	primeira	narrativa	da	criação	termina	sublinhando	que,	
após	o hexamerom,	Deus	"retomou	o	fôlego"	ou	"folgou".	Na	poe-
sia,	Deus	descansa	no	dia	 seguinte	 ao	 término	de	 sua	obra	 (Gn	
2,2-3).	 "É	um	dia	de	protesto	 contra	 as	 escravidões	do	 trabalho	
e	o	culto	ao	dinheiro",	ensina	o	Catecismo	da	 Igreja	Católica,	nº	
2172	(Ne	13,15-22;	2Cor	36,21).	É	o	shabbat,	palavra	hebraica	que	
significa	 "descanso".	O	 acento	 do	 texto,	 portanto,	 recai	 sobre	 o	
descanso,	não	sobre	o	dia	da	semana.
Assim,	 do	 primeiro	 ao	 sexto	 dia	 da	 semana,	 o	 homem	do	
Antigo	Testamento	trabalhava.	No	sétimo,	descansava.	Com	o	ad-
vento	do	Messias,	muda	o	prisma,	mas	não	a	observância	do	man-
damento.	Em	Mt	5,17-48,	Jesus	afirma	não	querer	revogar	a	Lei,	
mas	dá	uma	nova	aplicação	a	ela.	Sem	alterar	o	que	foi	anterior-
mente	prescrito,	Jesus	busca	o	sentido	mais	profundo	na	aplicação	
dos	mandamentos.	Sobre	o	quinto	mandamento,	Ele	ensina	que	a	
ofensa	à	dignidade	já	é	uma	forma	de	matar	(Mt	5,21-23).	Quanto	
à	observância	do	 sábado,	Ele	diz:	 "o	 sábado	 foi	 feito	para	o	ho-
mem,	e	não	o	homem	para	o	sábado"	(Mc	2,27).
Dessa	maneira,	Jesus	Cristo	é	quem	"faz	novas	todas	as	coi-
sas"	 (Ap	21,5),	 toda	a	 criação	é	 renovada	nele	e	em	sua	 ressur-
reição	–	ressurreição	essa	que	aconteceu	no	"primeiro	dia	da	se-
mana"	(Mt	28,1).	A	ressurreição	é	o	divisor	de	águas	na	vida	da	
comunidade.	Diante	de	um	acontecimento	singular	como	este,	a	
comunidade	passa	a	guardar	o	primeiro	dia	da	semana	e	consagra-
-o	em	vista	da	ressurreição.	Em	At	20,7,	é	atestado	que,	no	primei-
ro	dia	da	semana,	acontece	a	reunião	litúrgica	e	a	Eucaristia.
A	expressão	"dia	do	senhor",	utilizada	para	o	primeiro	dia	da	
semana,	aparece	em	Ap	1,10:	"No	dia	do	senhor	fui	movido	pelo	
Espírito	 [...]"	e	evolui	do	grego	kiriake hemera	 para	o	 latim	dies 
domini	e	para	o	português	"domingo".
Portanto,	seguindo	essa	concepção	escatológica	do	shabbatt,	
o	domingo	passa	a	ser	visto,	também,	como	o	"oitavo	dia",	porque	
o	 número	 oito	 é	 usado	 para	 simbolizar	 o	 mundo	 definitivo.	 O	
© Escatologia56
próprio	 algarismo,	 desenhado	 no	 plano	 horizontal,	 é	 símbolo	
matemático	de	infinito	(∞).
O	dia	do	 senhor	é	um	 tempo	que	na	história	 se	 celebra	o	
que,	para	a	eternidade,	se	espera.
A	história	é	o	sacramento	do	Espírito.	O	sinal	cruza	com	a	graça:	sig-
nifica-a	e	realiza-a.	A	graça	insere-se,	por	assim	dizer,	no	sinal.	Mas	
transcende-o.	É-lhe	juiz	crítico.	Assim	o	Espírito	em	relação	à	histó-
ria.	Inscreve-se	na	série	dos	eventos	históricos,	sem,	porém,	deixar	
identificar-se,	esgotar-se,	 reduzir-se	a	esses	eventos.	Transcende-
-os.	Por	isso,	pode	consumá-los	com	nova	ação	transformadora	na	
escatologia	final	(LIBÂNIO,	1985,	p.	222).
7. JUÍZO UNIVERSAL
A	Parúsia	será	marcada	pela	instauração	do	Juízo	universal,	a	
prerrogativa	necessária	para	a	manifestação	incontestável	da	jus-
tiça	divina	sobre	as	interpretações	subjetivas	das	ações	humanas.
O	Juízo	universal	não	se	caracteriza	em	um	segundo	 julga-
mento,	mas	na	apresentação	pública,	de	forma	privada	e	pessoal,	
do	juízo	acontecido,	quando	da	morte	de	cada	indivíduo	(BETTEN-
COURT,	[s.d]).
Essa	 exigência	 por	 uma	 atestação	 comunitária	 das	 razões	
pelas	quais	cada	um	terá	sua	destinação	eterna	é	decorrência	do	
aspecto	comunitário	em	que	a	humanidade	está	 inserida	e	que,	
por	isso,	vincula	e	repercute	no	próximo	suas	opções	e	ações	que	
livremente	decidiu	assumir.
Numa	 palavra,	 o	 juízo	 final	 quer	 significar	 que	 a	 última	 palavra	
sobre	a	história,	o	último	juízo	sobre	as	realidades	humanas,	não	
virá	de	nenhuma	potência	mundial,	de	nenhum	soberano	terres-
tre,	mas	de	Jesus,	constituído	Juiz	Supremo	pelo	próprio	Deus,	seu	
Pai.	E	esse	juízo	já	está	acontecendo	de	milhares	de	maneiras	no	
interior	de	nossa	história.	Só	que	de	modo	escondido.	Na	morte	de	
cada	um	se	 lhe	revela	em	clareza	tal	 julgamento.	Pode-se	enten-
der	que	em	cada	morte	toda	a	história	aparece	na	sua	total	clareza	
diante	de	Deus.	Por	isso	é	já	juízo	final,	ainda	que	processual	e	não	
encerrado	(LIBÂNIO,	1985,	p.	231).
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Na literatura bíblica
O	Juízo	universal,	que	acontecerá	quando	da	segunda	vinda	
de	Cristo,	é	apresentado	na	literatura	bíblica	com	requintes	de	de-
talhe	(BÍBLIA	DE	JERUSALÉM,	Rm	2,6):
1)	 O	"Dia	de	Iahweh",	anunciado	pelos	profetas	como	dia	
da	ira	e	da	salvação	(Am	5,18),	encontrará	sua	plena	rea-
lização	escatológica	no	"Dia	do	Senhor"	quando	da	volta	
gloriosa	de	Cristo	(1Co	1,8).
2)	 Neste	"Dia	do	Julgamento"	(Mt	10,15;	11,22-24;	12,36;	
2Pd	 2,9;	 3,7;	 1Jo	 4,17),	 os	 mortos	 ressuscitarão	 (1Ts	
4,13-18;	1	Cor	15,12-23.15s).
3)	 Todos	os	homens	comparecerão	perante	o	 tribunal	de	
Deus	(Rm	14,10)	e	de	Cristo	(2Cor	5,10;	Mt	25,31s).
4)	 Julgamento	inevitável	(Rm	2,3;	Gl	5,10;	1Ts	5,3).
5)	 Julgamento	imparcial	(Rm	2,11;	Cl	3,25;	1Pd	1,17).
6)	 Julgamento	que	pertence	só	a	Deus	 (Rm	12,19;	14,10;	
1Cor	4,5;	Mt	7,1).
7)	 Deus,	por	seu	Cristo	(Rm	2,16;	2Tm	4,1;	Jo	5,22;	At	17,31).
8)	 Deus	julgará	os	vivos	e	os	mortos	(2Tm	4,1;	At	10,42;	1Pd	4,5).
9)	 Ele,	que	sonda	os	corações	(Rm	2,16;	Jr	11,20;	1Cor	4,5;	
Ap	2,23)	e	prova	pelo	fogo	(1Cor	3,13-15).
10)	Ele	 retribuirá	 a	 cada	 um	 segundo	 suas	 obras	 (1Cor	
3,8.13-15;	2Cor	5,10;	11,15;	Ef	6,8;	Mt	16,27;	1Pd	1,17;	
AP	2,23;	20,12;	22,12).
11)	O	 homem	 colherá	 o	 que	 tiver	 semeado	 (Gl	 6,7-9;	Mt	
13,39;	Ap	14,15).
12)	 Ira	e	perdição	(Rm	9,22)	para	as	potências	do	Mal	(1Cor	
15,24-26;	2Ts	2,8)	e	para	ímpios	(2Ts	1,7-10;	Mt	13,41;	Ef	
5,6;	2Pd	3,7;	Ap	6,17;	11,18).
Para	os	eleitos,	que	terão	praticadoo	bem:
1)	 redenção	(Ef	4,30;	cf.	Rm	8,23);
2)	 descanso	(At	3,20;	cf.	2Ts	1,17;	Hb	4,5-11);
3)	 recompensa	(cf.	Mt	5,12;	Ap	11,18);
4)	 salvação	(1Pd	1,5);
5)	 exaltação	(1Pd	5,6);
© Escatologia58
6)	 louvor	(1Cor	4,5);
7)	 glória	(Rm	8,18s;	1Cor	15,43;	Cl	3,4;	cf.	Mt	13,43).
No Catecismo da Igreja Católica
O	CaIC	apresenta	o	Juízo	Final.	Quando?	Entre	a	Parúsia	e	a	
ressurreição:
A	ressurreição	de	todos	os	mortos,	"dos	justos	e	dos	injustos"	(At	
24,15),	antecederá	o	Juízo	Final.	Este	será	"a	hora	em	que	todos	os	
que	repousam	nos	sepulcros	ouvirão	a	voz	e	sairão;	os	que	tiverem	
feito	o	bem,	para	a	ressurreição	de	vida;	os	que	tiverem	praticado	o	
mal,	para	a	ressurreição	de	julgamento"	(Jo	5,28-29).	Então	o	Cristo	
"virá	em	sua	glória,	e	todos	os	anjos	com	Ele	[...].	E	serão	reunidas	
em	sua	presença	todas	as	nações	e	ele	há	de	separar	os	homens	
uns	dos	outros,	como	o	pastor	separa	as	ovelhas	dos	cabritos,	e	
porá	as	ovelhas	em	sua	direita	e	os	cabritos	à	sua	esquerda	[...].	e	
estes	irão	para	o	castigo	eterno,	e	os	justos	irão	para	a	Vida	Eterna"	
(Mt	25,31.32.46)	(CaIC	1038).
Por	quê?	Para	que	a	verdade	vença	toda	e	qualquer	mentira	
ou	dúvida:
É	diante	de	Cristo	–	o	qual	é	a	Verdade	–	que	será	definitivamente	
desvendada	a	verdade	sobre	a	relação	do	homem	com	Deus.	O	Juí-
zo	Final	há	de	revelar	até	as	últimas	consequências	o	que	um	tiver	
feito	de	bem	ou	deixado	de	fazer	durante	a	sua	vida	terrestre	[...]	
(CalC	1039).
Conheceremos	então	o	sentido	último	de	toda	a	obra	da	criação	e	
de	toda	a	economia	da	salvação,	e	compreenderemos	os	caminhos	
admiráveis	pelos	quais	a	sua	providência	terá	conduzido	tudo	para	
o	seu	fim	último.		O	Juízo	Final	revelará	que	a	justiça	de	Deus	triunfa	
de	todas	as	injustiças	cometidas	por	suas	criaturas	e	que	seu	amor	
é	mais	forte	que	a	morte	(CalC	1039).
A	justiça	divina	não	apenas	retribui	com	sanções	ou	prêmios	
as	opções	do	ser	humano	como	também	dá	a	conhecer	a	toda	a	
humanidade	o	que	cada	indivíduo	realizou	e	quais	foram	as	inten-
ções	que	nortearam	suas	decisões	e	seus	atos.	Como	consequên-
cia	dessa	revelação,	tanto	aqueles	que	em	vida	foram	tidos	como	
beneméritos	 quando	 na	 verdade	 não	 foram,	 como	 aqueles	 que	
morreram	deixando	a	impressão	de	que	não	eram	bons	e	na	ver-
dade	eram	terão	todos	seus	atos	revelados	à	humanidade	inteira.
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© U2 - A Parúsia e os Juízos
8. JUÍZO PARTICULAR
Como	a	morte	encerra	esse	estado	de	vida,	o	ser	humano	
alcança	um	novo	estado:	o	definitivo.	Por	ter	passado	o	tempo	da	
provisoriedade,	as	realidades	escatológicas	são	definitivas	e	imu-
táveis;	daí	que	essa	mudança	supõe	um	discernimento,	uma	ava-
liação	das	escolhas	feitas	no	tempo	para	a	consumação	na	eterni-
dade.	Dessa	crise	(crisis	=	juízo,	julgamento),	emergirá	a	destinação	
final,	consoante	às	escolhas	feitas	em	vida.
Deus	derrama	sua	 luz	sobre	a	alma	logo	após	a	morte,	de	modo	
que	ela	 toma	nítida	consciência	do	que	 foi	 realmente	a	sua	vida	
terrestre;	reconhece	o	sentido	e	o	valor,	os	méritos	e	deméritos	da	
sua	existência;	torna-se-lhe	claro	tudo	que	ela	fez	e	omitiu,	de	bem	
e	de	mal,	até	os	últimos	pormenores.	Assim,	portanto,	pode-se	di-
zer	que	o	homem,	logo	após	a	sua	morte,	se	torna	seu	próprio	juiz.	
Ele	se	 identifica	com	o	juízo	retíssimo	que	Deus,	a	todo	momen-
to	formula	a	seu	respeito	[...].	De	uma	intuição	tão	clara	procede	
inevitavelmente	a	sentença	que	tem	por	autores	Deus	e	o	próprio	
homem	(BETTENCOURT,	[s/d],	p.	38).
O	Juízo	particular	ou	especial,	que	segue	o	evento	da	morte,	
possui	três	aspectos,	que	devem	ser	considerados,	segundo	Theo-
dor	Schneider:
•	 É	um	autojulgamento,	não	externo	a	si.
•	 É	libertador,	pois	a	pessoa	passa	a	se	ver	e	a	se	apresentar	
como	ela	é	verdadeiramente.
•	 É	portador	de	esperança.
Portanto,	 também	o	discurso	do	 julgamento	especial	poderia	ex-
pressar	uma	esperança,	a	esperança	de	libertação	de	inveracidade	
alienadora	e	de	purificação,	bem	como	a	esperança	de	poder	ver	o	
resultado	bom	da	vida	(SCHNEIDER,	2000,	p.	413).
A	esperança	do	"bom	ladrão"	concretiza-se	nas	palavras	que	
Jesus	 lhe	dirigiu	na	cruz	(Lc	23,43).	 Imediatamente	após	o	 julga-
mento	particular,	a	alma	encontra-se	com	sua	destinação	final	e	
eterna	(CaIC	1021).
Cada	homem	recebe	em	sua	alma	 imortal	a	retribuição	eterna	a	
partir	do	momento	da	morte,	num	Juízo	Particular	que	coloca	sua	
vida	em	relação	à	vida	de	Cristo,	seja	através	de	uma	purificação,	
© Escatologia60
seja	para	entrar	de	imediato	na	felicidade	do	céu,	seja	para	conde-
nar-se	de	imediato	para	sempre.	No	ocaso	de	nossa	vida,	seremos	
julgados	quanto	ao	amor	(CaIC	1022).
9. MISERICÓRDIA É A MARCA DO JUIZ
Enquanto	o	arrependimento	caminha,	a	misericórdia	corre.	
Pecador	e	juiz	encontram-se.	O	juízo	divino	traz	a	marca	do	próprio	
Deus,	que	não	se	desfigura,	mas	que	se	mostrará	na	plenitude	de	
suas	potências.	O	temor	que	possa	haver	do	juízo	é	equivalente	às	
opções	feitas,	não	à	falta	de	clemência	por	parte	de	Deus.	É	o	que	
Jesus	ensinou	por	meio	de	discursos	e	de	ações,	e,	destas,	a	para-
digmática	é	a	parábola	final	do	capítulo	da	misericórdia	(Lc	15).	O	
filho,	pecador,	vai	para	a	casa	paterna.
Os	textos	bíblicos,	em	seus	originais,	não	foram	escritos	ten-
do	títulos;	por	isso,	podem	variar	conforme	a	edição	da	Bíblia.	A	
parábola	de	Lc	15,11-32	recebe	o	título	de	"Filho	pródigo";	"O	filho	
perdido	e	o	 filho	 fiel:	 o	 'filho	pródigo'";	 "O	pai	misericordioso	e	
seus	dois	filhos",	entre	outros.	Joachim	Jeremias	diz	que	a	parábo-
la	deveria	chamar-se	"A	parábola	do	amor	do	pai".
O	personagem	central	é	o	pai,	que	aparece	nas	primeiras	cenas,	
no	centro	da	dramaticidade	do	texto	e	que	acompanha	até	o	final.
O	filho	mais	novo	solicita	do	pai	a	sua	herança,	fazendo	um	
pedido	nada	convencional:	pede	que	o	pai	faça	uma	exceção	à	Lei.	
Na	 realidade	da	 época,	 a	 herança	 era	passada	de	pai	 para	 filho	
por	duas	modalidades:	por	testamento	ou	por	doação.	O	que	o	fi-
lho	pede,	na	parábola,	porém,	não	é	a	doação	simplesmente,	mas	
quer	dispor	dos	bens	transformando-os	em	moeda,	considerando	
o	pai,	desde	então,	como	morto.
Então,	 partiu,	 foi	 para	uma	 terra	 longínqua.	Afastou-se	do	
pai.	Na	verdade,	estando	em	casa,	já	estava	ele	distante	do	pai,	o	
que	se	compreende	pelo	pedido	feito.	Mas,	agora,	ele	está	longe	
voluntariamente.
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© U2 - A Parúsia e os Juízos
Em	"outras	terras",	ele	põe	a	perder	sua	herança;	antes,	tão	
bem	servido	em	casa,	agora,	passa	fome.	Desprovido	de	sua	he-
rança,	perde,	também,	a	possibilidade	de	opção,	já	não	é	possível	
ter	 escolhas.	 Perde	 sua	 dignidade	 e	 até	 sua	 identidade,	 pois	 de	
filho	do	patrão	passa	a	ser	servo.	É	quando	ele	"cai	em	si",	o	que	
equivale	a	tomar	consciência,	a	olhar	para	dentro	de	si	e	rever	seus	
atos,	 dando	um	 redirecionamento	em	 sua	 vida.	O	 filho	percebe	
que,	enquanto	queria	ser	feliz	sem	o	pai,	perdeu	todas	as	possi-
bilidades	de	alcançar	o	bem-estar	mínimo,	quanto	mais	a	felicida-
de.	Ele	tinha	em	casa	muito	mais	do	que	supunha	encontrar	longe	
dela.
O	pecado	do	filho	atinge	a	esfera	celeste.	Enquanto	muitos	
sofrem	a	perda	de	seus	pais,	este	decide,	voluntariamente,	tratá-
-lo	como	se	já	não	mais	existisse.	Seu	maior	pecado:	não	aceitar	
o	amor	do	pai.	A	alegria	da	volta	do	filho	também	atinge	a	esfera	
celeste,	pois	há	"mais	alegria	no	céu	por	um	só	pecador	que	se	
arrependa,	do	que	por	noventa	e	nove	justos	que	não	precisam	de	
arrependimento"	(Lc	15,	7-10).
A	última	palavra	de	amor,	portanto,	é	Deus.
10. MISERICÓRDIA É A MEDIDA DA JUSTIÇA
A	misericórdia	que	o	homem	espera	de	Deus	no	juízo	é	a	mi-
sericórdia	que	Deus	espera	que	o	homem	tenha	tido	em	sua	vida,	
e	esta	é	expressa	pela	justiça	que	se	faz	ao	que	mais	necessita.
O	evangelho	de	Lucas	afirma	que	o	Reino	de	Deus	é	dos	po-bres.	Aqueles	 que	procuravam	 Jesus	 eram	necessitados	 de	pão,	
de	 saúde	e	de	amor.	 Logo,	 estes	eram	pobres.	O	 termo	ptochoi 
(pobre)	aparece	24	vezes	no	NT,	sendo	dez	em	Lc,	termo	esse	que	
designa	uma	pessoa	que	necessita	de	bens,	que	tem	necessidades	
materiais,	mas	que	também	abrange	a	todo	aquele	que	tem	algu-
ma	 carência	 (de	 afeto,	 de	 dignidade,	 de	 instrução,	 de	 liberdade	
etc.).	A	salvação	é	oferecida	a	estes.	Os	destinatários	do	anúncio	
© Escatologia62
de	Jesus	são	os	deserdados,	os	prisioneiros,	os	escravos.	Em	Jesus,	
os	pobres	(ptochoi)	encontrarão	salvação.
Dessa	maneira,	Jesus	pede	renúncia	total	e	faz	exigências	se-
veras	com	relação	às	riquezas.	Muitas	são	as	citações	em	Lc	sobre	
esse	pensamento:	"Ai	dos	ricos"	(6,24ss),	"não	entesourar"	(1,13-
21),	"renúncia"	(14,33),	"não	buscar	os	primeiros	lugares"	(14,9),	
"vender	tudo	e	dar	aos	pobres"	(18,22),	"parábola	do	rico	e	Láza-
ro"	(16,19),	"a	riqueza	não	prepara	para	o	juízo"	(12,16),	"não	se	
pode	servir	a	dois	senhores"	(16,13),	"Jesus	não	tem	onde	recli-
nar	a	cabeça"	(9,58),	"seus	discípulos	deixaram	tudo"	(5,11),	"mas	
Deus	provê"	(12,22ss).
Em	Lucas	4,18	e	7,22,	Jesus	diz	que	os	"pobres	serão	evan-
gelizados".	 Para	 eles,	 é	 destinada	uma	boa	notícia:	 a	 superação	
de	todo	mal.	E	muitos	são	os	males	na	vida	do	pobre.	Doença	e	
pobreza	são	inseparáveis.
O	 Reino	 de	Deus	 pertence	 a	 esses	 porque	 Jesus	 intervém	
para	salvá-los.	 Lucas	mostra	a	 identidade	entre	quem	é	pobre	e	
quem	é	disponível	a	Deus:	o	pobre	não	tem	bens	que	o	absorva,	
e	isto	o	coloca	em	uma	situação	de	maior	abertura	para	aderir	ao	
plano	de	Deus.	Lucas	apresenta	a	riqueza	acumulada	como	iníqua.	
A	salvação	é	oferecida	a	todos,	mas	os	pobres,	por	terem	menos	
esperanças	históricas,	acolhem	melhor	esse	dom.	Para	os	ricos,	o	
risco	de	aceitar,	parcialmente,	a	salvação	é	maior;	por	isso,	Jesus	
insiste	na	prática	da	generosidade.
Para	 João	Batista	 (3,11),	a	salvação	está	na	distribuição	de	
bens	e	de	roupas.	Para	os	discípulos,	a	esmola	é	o	melhor	meio	
para	seguir	a	Jesus	(12,33).	Para	Jesus,	os	pobres	são	intercessores	
daqueles	que	são	generosos	(16,9),	e	a	esmola	purifica	e	é	sinal	de	
renúncia	(11,41);	daí	que	o	amor	ao	próximo	é	a	maneira	de	amar	
a	Deus.
No	evangelho,	"esmola"	é	sinônimo	de	justiça,	é	colocar	os	
bens	a	serviço	do	outro.	Esmola	não	é	resto.	É	justiça.	Há	doações	
que	humilham	e	benesses	que	ofendem,	que	diminuem	e	que	ex-
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© U2 - A Parúsia e os Juízos
cluem,	mas	esmola	(elemousine)	é	justiça,	é	amor.	O	novo	modo	
de	amar	a	Deus,	que	Jesus	ensina,	é	a	solidariedade	com	o	pró-
ximo,	por	isso,	aquele	que	tem	bens	acumulados	tem	o	que	é	do	
outro.	Entretanto,	o	homem	novo	deve	viver	para	resgatar	a	digni-
dade	dos	menos	favorecidos.
Diante	de	todas	as	injustiças	que	se	cometem	diariamente	contra	
milhares	de	seres	humanos,	poderá	Deus	ficar	 impassível?	Aque-
les	que,	satanicamente,	transformam	num	inferno	a	vida	de	seus	
semelhantes,	não	estarão	construindo	para	si	próprios	um	inferno	
eterno?	Não	será,	realmente,	o	inferno	uma	'necessidade'	para	que	
a	justiça,	afinal,	se	faça?	(LIBÂNIO,	1985,	p.	250).
No	pensamento	de	 Jesus	expresso	no	evangelho	de	Lucas,	
não	existe	seguimento	sem	generosidade;	portanto,	o	serviço	ab-
negado	é	a	essência	do	ofício	da	Igreja.	As	coisas	ou	as	pessoas	que	
a	pessoa	ama	indicam	o	Deus	que	ela	tem.
Na	parábola	dos	operários	da	vinha	(Mt	20,1-16),	Jesus	sub-
verte	a	lógica	da	retribuição	e,	especialmente,	da	justiça	retributi-
va.	No	entender	dos	antigos	monoteístas,	havia	uma	sanção	para	
cada	delito	e,	para	 cada	virtude,	um	prêmio.	 Jesus	desestrutura	
essa	máxima	e	diz	que,	para	 todos	os	pecados,	existe	o	perdão.	
Perdão	total.	Perdão	irrestrito	e	definitivo.
Por	meio	da	parábola	em	que	o	vinhateiro	iguala	a	retribui-
ção	a	 todos	os	operários	 independentemente	da	quantidade	de	
horas	que	 trabalharam,	 Jesus	 causa	 comoção	em	seus	ouvintes.	
Como	paga	o	mesmo	tanto	se	"nós"	suportamos	o	cansaço	do	dia	
inteiro?	Ou	poderia	dizer:	como	salva	àquele	que	não	observou	as	
Leis	assim	como	salva	a	nós,	que	fizemos,	estritamente,	o	pedido	
pela	Lei?
Como	você	pode	notar,	o	verbo	usado	desde	o	 início	para	
falar	do	contrato	de	trabalho	é	"pagar",	mas,	ao	responder	aos	que	
se	sentiam	lesados,	o	verbo	utilizado	é	"dar".	Deus	não	compra	a	
amizade	e	a	fidelidade,	por	isso	não	paga	por	elas.	Em	Deus,	tudo	
é	gratuidade,	e,	graciosamente,	ele	dá,	não	retribui	àqueles	que	a	
ele	se	voltam.
© Escatologia64
Portanto,	o	contexto	quer	pôr	em	evidência	que	a	retribui-
ção	póstuma	e	a	salvação	não	seguem	a	lógica	humana	e	que	Deus	
quer	salvar	a	todos	mesmo	que	só	no	ocaso	da	vida	aceitem	ser	da	
"vinha"	do	Senhor.
Contudo,	há	quem	se	sinta	traído	em	seu	esforço	diário	para	
ser	correto	ao	pensar	na	possibilidade	de	alguém	que,	ao	longo	da	
vida,	não	tenha	vivido	de	forma	não	ortodoxa	e	que	mesmo	assim	
seja	salvo.
Quem	reage	mal	diante	da	possibilidade	de	anistia	de	Deus	
para	com	um	grande	pecador	não	busca	o	próprio	Deus	em	suas	
boas	ações,	mas	quer,	por	meio	de	atos	de	justiça,	conquistar	por	
seus	méritos	a	própria	salvação.	Este	já	excluiu	Deus	de	sua	vida	e	
espera	de	Deus	apenas	o	reconhecimento	por	seus	atos	meritórios	
ou,	talvez,	ele	tenha	inveja	("olho	gordo",	no	grego	ofqalmo,j	ou	
ponhro,j	=	olho	mau)	da	condição	do	exculpado	que	recebe	per-
dão!	A	estes,	Jesus	diz,	explicitamente:	"Amigo,	em	que	fui	injusto	
contigo?	Acaso	não	posso	dispor	de	meus	bens	como	me	agrada?	
Ou	vês	com	maus	olhos	que	eu	seja	bom"	(Mt	20,15).
Diz	Jesus,	por	meio	de	símbolos,	que	a	misericórdia	de	Deus	
excede,	infinitamente,	aos	padrões	humanos	de	justiça,	e	que,	se	
fosse	de	outra	forma,	não	haveria	salvação.
11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	seu	de-
sempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Complete	as	lacunas	das	frases	com	os	termos	e	expressões	a	seguir:
justiça	de	Deus	–	sentido	escatológico	–	parúsia
manifestação	de	Cristo	–	juízo	particular	–	possibilidade	de	anistia
decorrência	do	aspecto	comunitário	–	todo	o	Cosmo	e	a	todas	as	criaturas
dia	do	Senhor	–	Juízo	particular
a)	 A	Parúsia	refere-se	à	_______________	no	fim	dos	tempos	e	pela	qual	
tudo	será	transformado.
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© U2 - A Parúsia e os Juízos
b)	 ______________	desencadeará	acontecimentos	inéditos	que	reordena-
rão	toda	a	história	humana	e	que	darão	novos	sentidos	à	criação	e	às	
criaturas.
c)	 Todas	 as	 realidades	 criadas,	 criação	 e	 criatura,	 aguardam	 a	
_______________	na	Parúsia.
d)	 A	reordenação	universal	alcançada	pela	Parúsia	não	alcança,	somente,	à	
humanidade,	mas	a	________________.
e)	 O	_____________	é	um	tempo	que	na	história	se	celebra	o	que,	para	a	
eternidade,	se	espera.
f)	 O	Juízo	universal	é	_____________	em	que	a	humanidade	está	inserida	
e	que,	por	isso,	vincula	e	repercute	no	próximo	suas	opções	e	ações	que	
livremente	decidiu	assumir.
g)	 O	 Juízo	universal	 não	 se	 caracteriza	 em	um	 segundo	 julgamento,	mas	
na	apresentação	pública	___________	acontecido,	quando	da	morte	de	
cada	indivíduo.
h)	 Pode-se	 entender	 que	 em	 cada	morte	 toda	 a	 história	 aparece	 na	 sua	
total	 clareza	diante	de	Deus.	Por	 isso,	é	 já	_____________,	ainda	que	
processual	e	não	encerrado.
i)	 O	 Juízo	 Final	 revelará	 que	 a	 _______________	 triunfa	 de	 todas	 as	 in-
justiças	cometidas	por	suas	criaturas	e	que	seu	amor	é	mais	forte	que	a	
morte.
j)	 A	parábola	dos	vinhateiros	(Mt	20,	1-16)	aponta	para	_________________	
de	que	Deus	não	compra	a	amizade	e	a	fidelidade,	por	isso	não	paga	por	
elas.	Em	Deus,	tudo	é	gratuidade,	e,	graciosamente,	ele	dá,	não	retribui	
àqueles	que	a	ele	se	voltam.
k)	 ________________,	que	segue	o	evento	da	morte,	possui	três	aspectos,	
quedevem	ser	considerados,	como	autojulgamento,	libertador	e	porta-
dor	de	esperança.
l)	 Quem	reage	mal	diante	da	__________________	de	Deus	para	com	um	
grande	pecador	não	busca	o	próprio	Deus	em	suas	boas	ações,	mas	quer,	
por	meio	de	atos	de	justiça,	conquistar	por	seus	méritos	a	própria	salvação.
Gabarito
Confira,	a	seguir,	as	respostas	corretas	para	a	questão	autoa-
valiativa	proposta:
a)	 Segunda	vinda	de	Cristo.
b)	 Parúsia.
c)	 Manifestação	de	Cristo.
d)	 Todo	Cosmos	e	a	todas	as	criaturas.
e)	 Dia	do	senhor.
f)	 Decorrência	do	aspecto	comunitário.
g)	 Do	Juízo	particular.
h)	 Juízo	final.
i)	 Justiça	de	Deus.
j)	 Sentido	escatológico.
© Escatologia66
k)	 O	Juízo	particular.
l)	 Possibilidade	de	anistia.
12. CONSIDERAÇÕES
Nesta	 unidade,	 estudamos	 os	 temas:	 Parúsia;	 novo	 Céu	 e	
nova	Terra;	Juízo	particular	e	Juízo	universal.
Na	 próxima	unidade,	 abordaremos	os	 aspectos	 relativos	 à	
morte,	à	ressurreição	e	à	vida	eterna.
Até	lá!
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETTENCOURT,	E. Curso de Escatologia.	Escola	Mater	Ecclesiae.	Rio	de	Janeiro:	Última	
Cor,	[s/d].
BLANK,	R.	Escatologia da pessoa.	São	Paulo:	Paulus,	2003.
______.	Escatologia do mundo:	o	projeto	cósmico	de	Deus.	São	Paulo:	Paulus,	2002.
______.	Nosso mundo tem futuro.	São	Paulo:	Paulinas,	1993.
______.	Nossa vida tem futuro.	São	Paulo:	Paulinas,	1991.
BOFF,	L.	Vida para além da morte.	Petrópolis:	Vozes,	1993.
FÄRBER,	S.	S.	Morte na Teologia e na Literatura.	Porto	Alegre:	Pallotti,	2009.
LIBÂNIO,	J.	B.;	BINGEMER,	M.	C.	Escatologia cristã:	o	novo	Céu	e	a	nova	Terra.	Petrópolis,	
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