Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 O PROJETO COLLOR O Projeto de Collor consistia, com base na orientação neoliberal do “Consenso de Washington”, na reorientação do desenvolvimento brasileiro e na redefinição do papel do Estado. Esboçava-se um novo projeto nacional, no bojo de um amplo conjunto de reformas. Tratava-se de promover a passagem de um capitalismo tutelado pelo Estado para um capitalismo “moderno”, baseado na eficiência e na competitividade. A função de motor central do desenvolvimento econômico deixava de ser o Estado e passava a ser exercida pelo setor privado nacional e multinacional. Uma das principais medidas adotadas no bojo desse amplo conjunto de reformas diz respeito ao processo de abertura da economia brasileira, por meio da queda das tarifas de importação, expondo as empresas instaladas no País à concorrência internacional e forçando a modernização da economia brasileira. Conseqüências da abertura do mercado brasileiro: Eliminação dos obstáculos não-tarifários às importações; Abolição da lista com cerca de mil produtos cuja importação era até então proibida; Substituição da proibição de importações por tarifas alfandegárias; Adoção de uma estratégia relativamente rápida de redução progressiva das tarifas alfandegárias. Esta redução progressiva das tarifas alfandegárias gerou, entre 1990 e 1992, um aumento médio em torno de 4,97%a.a. da participação das importações em relação ao PIB brasileiro, conforme podemos ver no gráfico abaixo disponível em www.desenvolvimento.gov.br. Apesar disso, o processo de redução acelerada das tarifas alfandegárias ocorreu num momento inadequado, pois o País estava em recessão e não houve a preocupação do governo de dotar a economia brasileira de mecanismos de salvaguardas contra práticas desleais de comércio dos competidores estrangeiros, assim como o Governo também não buscou negociar compensações junto aos parceiros comerciais. 2 Anos Alíquotas Nominais Médias de Importação 1988 41,0 1989 39,5 1990 32,2 1991 25,3 1992 20,8 1993 16,5 1994 13,5 Fonte: Ministério da Fazenda. Apud: Rego. Como candidato, Collor havia prometido liquidar com a inflação. Com isso esperava também adquirir condições para renegociar a dívida externa a partir da efetiva capacidade de pagamento do país e viabilizar uma política macroeconômica capaz de introduzir o Brasil a um novo patamar de desenvolvimento econômico. A ação do governo Collor no plano econômico consubstanciou-se em quatro conjuntos de medidas principais, lançados em momentos sucessivos: Plano Brasil Novo (ou Plano Collor), em março de 1990, para ataque frontal à inflação; Nova Política Agrícola, em agosto de 1990; Plano Collor II, em janeiro de 1991, quando o primeiro plano já havia fracassado; Projeto de Reconstrução Nacional (o Projetão), em março de 1991. Ao longo do primeiro ano da gestão Collor, o governo tentou agir com autonomia na formulação da política macroeconômica e no tratamento da dívida externa. Patrocinou, com seus planos econômicos, a maior intervenção do Estado na economia brasileira, inclusive praticando o confisco de cerca de 70% dos depósitos bancários em conta corrente e em caderneta de poupança, a partir de dados a respeito dos preços e dos meios de pagamento. Mas apesar da adoção dessas medidas, a comunidade financeira internacional recebeu o Plano Collor com desconfiança devido ao seu caráter heterodoxo e por não confiar na sua eficácia. Internamente, desacreditou a poupança e provocou uma profunda recessão na economia em 1990, que continuou nos dois anos subseqüentes. 3 A estabilidade da moeda era o primeiro passo, fundamental para a viabilização de uma política econômica consistente. Apesar de impor ao país uma política econômica fortemente recessiva, fracassou no combate à inflação. Com o fracasso da política macroeconômica, o governo perdeu credibilidade interna e comprometeu sua capacidade de ação, obrigando, ainda mais, o país a aderir ao Consenso de Washington e ajustar-se aos credores internacionais para a renegociação da dívida externa, sem conseguir avanços significativos. O Plano Collor, a partir de março de 1990, foi o mais ousado na prática de inconstitucionalidade, ao promover um bloqueio total dos ativos mantidos pelos agentes econômicos (empresas e famílias) nas instituições financeiras. O Plano atacou a questão do déficit e os mecanismos de financiamento do setor público (gerando aumento da tributação e queda nos gastos); contudo, os mecanismos de indexação continuaram a agir e as taxas de inflação pós-Plano continuaram elevadas até o final do período Collor, cujas medidas adotadas foram incapazes de promover um efetivo processo de estabilização da economia brasileira. Crescimento do PIB e Inflação (1990 a 1992) Ano PIB (%) Inflação (%) 1990 -4,3 1.476,6 1991 0,3 480,2 1992 -0,8 1.158,0 Fonte: Banco Central. Apud: Rego Períodos Preços M1 M2 M3 M4 1990 I 75,0 91,7 24,4 28,4 27,4 II 9,8 24,7 32,4 27,9 33,2 III 12,5 8,0 9,2 11,5 13,5 IV 16,0 19,3 15,7 15,9 15,6 1991 I 16,1 14,8 16,0 16,4 15,1 II 8,4 8,5 8,7 9,1 11,2 III 14,8 13,5 16,3 15,1 16,2 IV 24,6 21,1 32,7 32,5 29,5 1992 I 24,1 9,3 32,2 30,4 32,3 II 20,8 24,6 26,7 25,7 26,8 III 24,9 20,7 23,9 23,9 24,6 IV -- -- -- -- -- Fonte: Conjuntura Brasileira, FGV. Apud: Rego. 4 A Nova Política Industrial A abertura comercial do País e a nova política industrial do governo Collor se inseriram na chamada nova Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE), com o objetivo de incentivar tanto a competição, quanto a competitividade da economia brasileira. A PICE tinha que recuperar a economia brasileira retirando-a do atraso industrial e, na medida que isto ocorresse, gerar a condição necessária para se obter uma estabilidade de preços a longo prazo. Apoiado pelo contexto internacional por meio do Consenso de Washington, pela insatisfação da sociedade brasileira devido à deterioração dos serviços realizados por algumas estatais e pela própria crise financeira do Estado brasileiro, o governo Collor fez com que o resultado da PICE gerasse um processo de competição mais forte do que o da competitividade, retratado, no âmbito interno, na estratégia maior de privatização com a justificativa de que haveria aumento da competição e, assim, aumento da eficiência; e, no âmbito externo, conforme o nosso estudo acima, na reforma tarifária e de comércio exterior. Com referência à estratégia do processo de privatização, foi importante o Plano Nacional de Desestatização (PND), que pretendia: redesenhar o parque industrial brasileiro; consolidar a estabilidade econômica; reduzir a dívida pública, através da aceitação de títulos públicos como moeda de privatização; utilizar os ativos bloqueados (ou confiscados) como recursos para a privatização. Apesar do PND, houve um processo modesto das privatizações realizadas em relação ao que o governo Collor desejava efetivamente. Isso decorreu, basicamente, devido a muitas empresas públicas estarem em má situação financeira e precisarem ser saneadas para que existisse interesse na aquisição; era grande a dificuldade em avaliar os ativos de diversas estatais, após anos de alta inflação; havia uma certa resistência do povo brasileiro devido à perda de credibilidade às políticas do governo; alguns setores de produção não podiam, pela Constituição de 1988, serem vendidos para estrangeiros; operações mais 5 complexas de privatização exigiamganhos de experiência de privatização, que ainda não existiam. A dificuldade em vencer a inflação acabou por ocupar o maior espaço dentre os esforços do governo, deixando as privatizações um pouco em segundo plano. Mas apesar disso, de acordo com a tabela abaixo, com a criação do PND, foram privatizadas 24 empresas no âmbito federal, entre 1991 e 1993, sendo que a receita total decorrente dessas vendas, incluindo a transferência de débitos à iniciativa privada, gerou um total de US$ 9,54 bilhões nesses três anos. Resultado das Privatizações pelo PND no Âmbito Federal – 1991/93 (US$bilhões) Período Número de Privatizações Resultados de Vendas Transferência de Débitos Total 1991 4 1,61 0,37 1,98 1992 14 2,40 0,98 3,38 1993 6 2,62 1,56 4,18 Fonte: BNDES. Apud: Rego. Portanto, o PND iniciou o processo de desestatização da economia brasileira, que consistia em transferir para a iniciativa privada, por meio de leilões públicos, as empresas estatais, evidenciando, junto com a abertura comercial, uma nova política industrial no País.
Compartilhar