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Comunicação dos atos processuais

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PROCESSO PENAL II
PROF. MARCOS TÚLIO
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
O processo penal não pode prosseguir validamente sem a observância do contraditório e da ampla defesa. Afinal, é por meio da colaboração das partes que o Poder Judiciário pode chegar ao acertamento do fato delituoso. Por conseguinte, de modo a se preservar o contraditório, concebido pelo binômio conhecimento e reação, às partes envolvidas devem ser asseguradas condições de saber o que nele se passa, podendo reagir de alguma forma aos atos ali praticados.
Apesar de não haver um rigor terminológico por parte do legislador, há 03 (três) meios de comunicação dos atos processuais: a citação, a intimação e a notificação. Sem sombra de dúvidas, a citação é o ato mais solene, porquanto dá ciência ao acusado acerca da instauração de um processo penal. 
O legislador também utiliza as expressões notificação e intimação. Na primeira, comunica-se à parte a necessidade de praticar ato futuro, ao passo que o termo intimação deve ser utilizado para a comunicação de ato já praticado no passado. O Título X do Livro I do Código de Processo Penal trata dos atos de comunicação processual entre os arts. 351 e 372. 
CITAÇÃO
Sem dúvida alguma, a citação é um dos mais importantes atos de comunicação processual, porquanto dá ciência ao acusado do recebimento de uma denúncia ou queixa em face de sua pessoa, chamando-o para se defender. Considerando-se que a instrução criminal deve ser conduzida sob o crivo do contraditório, a parte contrária deve ser ouvida (audiatur et altera pars). Para que ela seja ouvida, faz-se necessário o chamamento a juízo, que é feito por meio da citação. 
Funciona a citação, portanto, como misto de contraditório e de ampla defesa, já que, ao mesmo tempo em que dá ciência ao acusado da instauração de demanda penal contra ele, também o chama para exercer seu direito de defesa. 
Tamanha a importância da citação que o próprio CPP estabelece que sua falta configura nulidade absoluta (CPP, art. 564, III, “e”). Logo, se a citação não existiu ou, tendo existido, estava eivada de nulidade, o processo estará nulo ab initio. Denomina-se circundução o ato pelo qual se julga nula ou de nenhuma eficácia a citação; quando anulada diz-se que há citação circunduta. 
Se a citação válida é providência essencial à validade do processo, a nulidade absoluta decorrente da inobservância da forma prescrita em lei poderá ser arguida mesmo após o trânsito em julgado de sentença condenatória ou absolutória imprópria, na medida em que, nessa hipótese, há instrumentos processuais aptos a fazê-lo, como a revisão criminal e o habeas corpus, que somente podem ser ajuizados em favor do condenado.
A despeito da importância da citação, sua falta ou nulidade estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. 
Com efeito, a apresentação do denunciado ao juízo, a despeito de não cumprir o disposto no art. 360 do CPP, supre a eventual ocorrência de nulidade, nos exatos termos do art. 570 do CPP. No âmbito processual penal, a citação é feita uma única vez, sendo que, uma vez citado o acusado, fica este vinculado à instância com todos os ônus daí decorrentes. Portanto, não há necessidade de nova citação para a execução, já que “a pretensão deduzida na ação penal somente se realiza com o cumprimento da sentença condenatória, e, assim, uma vez proferida sentença condenatória, ou mesmo absolutória com imposição de medida de segurança, segue-se a fase da execução, que, no processo penal, constitui um prolongamento da relação processual”.
Ressalva especial quanto à desnecessidade de se proceder à nova citação na execução diz respeito à pena de multa. De fato, de acordo com o art. 164 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), “extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá como título executivo judicial, o Ministério Público requererá, em autos apartados, a citação do condenado para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à penhora”. 
Efeitos da citação válida
Em relação aos efeitos da citação válida, há de se ficar atento às diferenças entre o processo civil e o processo penal. É sabido que, no âmbito processual civil, por força do disposto no art. 240, prevê que a citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 do Código Civil. De se notar que, à luz do novo Código de Processo Civil, não é a citação válida que torna prevento o juízo. Na verdade, o simples registro ou a mera distribuição da petição inicial já terá o condão de tornar prevento o juízo (art. 59 do novo CPC). 
No processo penal, a situação é distinta, já que o único efeito da citação é estabelecer a angularidade da relação processual, fazendo surgir a instância. Forma-se, assim, a relação angular que instala em um ponto a acusação, noutro o juiz a quem o pedido é endereçado e, por último, o acusado, que, citado, passa a compor essa relação, formando-se o actum trium personarum. 
Nessa linha, aliás, o art. 363, caput, do CPP, com redação determinada pela Lei nº 11.719/08, passou a preceituar que “o processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado”. 
Ademais, não é a citação válida que interrompe a prescrição, mas sim o recebimento da peça acusatória pelo juízo competente, nos exatos termos do art. 117, inciso I, do Código Penal.
Espécies de citação
A citação pode ser de duas espécies:
a) real (ou pessoal): constitui a regra, devendo ser compreendida como aquela que é feita pessoalmente, ou seja, na pessoa do próprio acusado. Pode ser concretizada por mandado, por precatória, carta de ordem, ou por carta rogatória. No processo penal comum, não se admite citação pelo correio, nem tampouco citação por e-mail ou telefone. Além disso, segundo disposição expressa da Lei nº 11.419/06 (art. 6º), que dispõe sobre a informatização do processo judicial, não se admite citação eletrônica no processo penal;
b) ficta ou presumida: apesar de ser muito improvável que o acusado tenha tomado conhecimento da instauração do processo penal, trabalha-se com uma presunção legal (ficção) de tal ciência, com isso se satisfazendo o ordenamento processual. Sua utilização é medida excepcional, e deve ser levada a efeito apenas quando demonstrado que o acusado não foi encontrado para ser citado
pessoalmente, ou quando se oculta para não ser citado. São exemplos de citação ficta no processo penal a citação por edital e a citação por hora certa, hipóteses em que se presume que o acusado teve ciência da acusação e da instauração do processo.
CITAÇÃO PESSOAL
Citação por mandado
Ao contrário do processo civil, que admite que a citação seja feita pessoalmente ao réu, ao seu representante legal ou ao procurador legalmente autorizado (CPC, art. 215 – art. 242, caput, in fine, do novo CPC), em sede processual penal somente o sujeito passivo da pretensão punitiva é que pode ser citado.
Na hipótese de crimes ambientais em que haja dupla imputação à pessoa jurídica e à pessoa física que atua em seu nome ou benefício, a citação do ente moral deverá ser feita na pessoa de seu representante legal ou de algum diretor com poderes para receber a citação. 
Em relação aos inimputáveis, cuja doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado tenham sido diagnosticados antes da citação, Renato Brasileiro pensa que a citação deve ser feita na pessoa de seu curador. A propósito, consoante disposto no art. 245, caput, do novo CPC, não se fará citação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebe-la. Cuida-se da denominada citação imprópria. Ora, se a própria lei prevê a nomeação de curador ao acusado quando o juiz determinar a realização de exame médico-legal para verificar sua (in) sanidade mental (CPP, arts. 149, § 2º, e 152, caput), é evidente que a citação há
de ser feita na pessoa daquele. Se, no entanto, a dúvida sobre a integridade mental do acusado surgir por ocasião de sua citação pessoal, deve o Oficial de Justiça certificar no verso do mandado tal circunstância. 
Nessa situação, ao juiz caberá determinar a realização de exame médico-legal, nomeando curador ao acusado, a quem incumbirá, então, receber a citação. Aplica-se, in casu, o procedimento delineado pelos parágrafos do art. 245 do novo CPC.
Segundo o art. 351 do CPP, quando o acusado estiver no território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado, a citação inicial far-se-á por mandado. Portanto, se o acusado estiver em local certo e sabido no território do juiz processante, sua citação deverá ser feita, em regra, por mandado, compreendido como uma ordem escrita, assinada pelo juiz competente, a ser cumprida por Oficial de Justiça. Não há previsão legal para que o mandado seja cumprido por escrivão ou diretor de secretaria.
Seus requisitos estão enumerados nos arts. 352 e 357 do CPP, podendo ser subdivididos em intrínsecos e extrínsecos. Os requisitos intrínsecos estão enumerados no art. 352 do CPP:
I – o nome do juiz;
II – o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III – o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV – a residência do réu, se for conhecida;
V – o fim para que é feita a citação: com as mudanças produzidas pela Lei nº 11.719/08 e a nova redação do art. 396, caput, do CPP, o acusado é citado no procedimento comum ordinário e sumário para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias;
VI – o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer: como visto anteriormente, antes da reforma processual de 2008, o acusado era citado para que comparecesse em juízo para ser interrogado, porquanto era este o primeiro ato da instrução processual (antiga redação do art. 394 do CPP). Daí dispor o art. 352, inciso VI, do CPP, sobre o dia e a hora em que o acusado deve comparecer. 
No entanto, com as alterações produzidas pela Lei nº 11.719/08, a citação passou a ser feita para que o acusado apresente resposta à acusação (CPP, art. 396-A), sendo que ainda não se sabe se haverá (ou não) audiência una de instrução e julgamento, já que é possível que ocorra sua absolvição sumária (CPP, art. 397). O dia e a hora em que o acusado deverá comparecer em juízo somente serão conhecidos na hipótese de o acusado não ser absolvido sumariamente, quando, então, será designada a referida audiência. A propósito, o art. 399 do CPP estabelece que “recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente”.
VII – a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz: mandado sem a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz não tem qualquer valor e deve ser considerado apócrifo. 
Por sua vez, os requisitos extrínsecos constam do art. 357 do CPP: 
I – leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação – o mandado deve ser sempre acompanhado de cópia da denúncia ou queixa (e eventuais aditamentos) para ser entregue ao acusado (a chamada contrafé); 
II – declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa. Mais uma vez, é importante ficar atento às diferenças em relação ao processo civil. 
Diz o art. 244 do novo CPC que não se fará a citação, salvo para evitar o perecimento do direito: 
I – a quem estiver assistindo a qualquer ato de culto religioso; 
II – ao cônjuge ou a qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes; 
III – aos noivos, nos 3 (três) primeiros dias de bodas; 
IV – aos doentes, enquanto grave o seu estado. No âmbito processual penal, não há restrições semelhantes, do que se conclui que a citação pode ser feita em qualquer lugar em que o acusado seja encontrado, pouco importando o dia e a hora, respeitando-se apenas a inviolabilidade domiciliar (CF, art. 5º, XI).
Citação por carta precatória
Se o acusado estiver no território nacional, em local certo e sabido, porém fora do âmbito da competência territorial do juízo processante, a citação deverá ser feita por meio de carta precatória, nos exatos termos do art. 353 do CPP. Para tanto, é importante que o acusado esteja em local certo e sabido, sob pena de não ser possível o cumprimento da carta precatória.
De acordo com o art. 354 do CPP, a precatória indicará: 
I – o juiz deprecado (aquele a que se pede) e o juiz deprecante (aquele que faz a solicitação); 
II – a sede da jurisdição de um e de outro;
III – o fim para que é feita a citação, com todas as especificações; 
IV – o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer.
Uma vez recebida a carta precatória, o juízo deprecado determinará a expedição de mandado para efetivação da citação do acusado no foro do juízo deprecado. Este mandado deverá ser cumprido com fiel observância dos requisitos acima analisados (CPP, arts. 352 e 357). É possível que, ao cumprir o mandado de citação expedido pelo juízo deprecado, verifique o Oficial de Justiça que o acusado não se encontra naquela comarca, mas sim em outra, sujeita à competência de outro juízo. Nessa hipótese, desde que haja tempo para fazer-se a citação, deve o juiz deprecado remeter os autos da carta precatória ao juiz da comarca onde se encontra o acusado para fins de efetivação da diligência, o que deverá ser feito independentemente de determinação do juízo deprecante. É o que a doutrina denomina de carta precatória itinerante, prevista no art. 355, § 1º, do CPP.
Diante das alterações produzidas pela reforma processual de 2008, especial atenção deve ser dispensada ao art. 355, § 2º, do CPP. Segundo o referido dispositivo, certificado pelo Oficial de Justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória será imediatamente devolvida ao juízo deprecante, para o fim previsto no art. 362. 
Destarte, verificando que o réu se oculta para não ser citado, o Oficial de Justiça certificará a ocorrência e procederá de imediato à citação por hora certa, na forma dos arts. 227 a 229 do CPC (arts. 252 a 254 do novo CPC). 
Citação do militar
De acordo com o art. 358 do CPP, a citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço. Logo, a fim de se preservar a hierarquia e disciplina militares, evitando-se que o Oficial de Justiça ingresse em dependências militares à procura do acusado, o CPP prevê que, em se tratando de militar, o juízo processante deve expedir um ofício ao Comandante da Organização Militar em que se encontra lotado o acusado. Prevalece a orientação de que, nessa hipótese, não há necessidade de expedição de um mandado em conjunto com o ofício, bastando que este contenha todos os elementos essenciais ao mandado (CPP, art. 352) para que não haja prejuízo à defesa.
Recebido o ofício, o Comandante Militar dará ciência ao militar do inteiro teor do ofício, ao mesmo tempo em que comunica o juízo sobre o cumprimento da requisição. Tal dispositivo somente é aplicável ao militar da ativa, ou seja, os militares de carreira, os incorporados às Forças Armadas para prestação de serviço militar inicial, os componentes da reserva das Forças Armadas quando convocados, reincluídos, designados ou mobilizados, os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva e, em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado para o serviço ativo nas Forças Armadas (Lei nº 6.880/80, art. 3º, § 1º, alínea “a). 
Citação de funcionário público
O funcionário público também deve ser citado pessoalmente, seja por mandado, seja por carta precatória. Porém, de acordo com o art. 359 do CPP, o dia designado para o funcionário comparecer em juízo, como acusado, será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição. Como se percebe, o dispositivo diz respeito apenas ao comparecimento
do funcionário em juízo como acusado. Na verdade, o art. 359 do CPP visa preservar a regularidade e a continuidade do serviço público, que poderia ser prejudicada caso o funcionário se ausentasse sem prévia comunicação ao chefe da repartição.
Destarte, caso determinado funcionário público figure como acusado em um processo penal, se a citação for realizada apenas com o objetivo de apresentação da resposta à acusação (CPP, art. 396, caput), é dispensada a expedição de qualquer notificação ao Chefe da Repartição, já que não haverá necessidade de afastamento do servidor de suas funções para tanto. Todavia, tão logo haja a rejeição de eventual pedido de absolvição sumária (CPP, art. 397), designando o juiz a data para a realização da audiência una de instrução e julgamento (CPP, art. 399), deverá ser determinada a expedição de ofício ao chefe do órgão em que o acusado estiver lotado.
Como o art. 359 do CPP visa evitar prejuízo ao bom andamento do serviço público, há de se concluir que sua aplicação não será necessária caso o funcionário esteja, por qualquer motivo, afastado de suas funções. 
Citação de acusado preso
Com a entrada em vigor da Lei nº 10.792/03, o art. 360 passou a ter a seguinte redação: “se o réu estiver preso, será pessoalmente citado”. Portanto, se o acusado estiver preso na comarca do juízo processante, a citação deve ser feita por mandado regularmente cumprido por Oficial de Justiça.
Nesse caso, visando a citação apenas à comunicação acerca da instauração do processo penal e à fixação de prazo para apresentação da resposta à acusação, não haverá necessidade de requisição de comparecimento do preso. 
Citação de acusado no estrangeiro
Estando o acusado no estrangeiro, sua citação será feita mediante carta rogatória, independentemente da natureza do delito (afiançável ou inafiançável). Para que a citação possa ser feita por carta rogatória, é indispensável que o acusado esteja em local certo e sabido; estando em local incerto e não sabido, sua citação será feita por edital.
A carta rogatória deve ser encaminhada ao Ministério da Justiça, cabendo a este solicitar ao Ministério das Relações Exteriores o seu cumprimento. De lá, pela via diplomática, a carta seguirá à Justiça rogada. O Código de Processo Penal nada diz acerca dos requisitos da carta rogatória. Diante do silêncio do CPP, afigura-se possível a utilização subsidiária do Código de Processo Civil, que aponta os requisitos essenciais da carta de ordem, da carta precatória e da carta rogatória em seu art. 260 do novo CPC).
CITAÇÃO POR EDITAL
Citação por edital é espécie de citação ficta, já que não é realizada pessoalmente, presumindo-se que o acusado dela tomou conhecimento. Esse edital deve ser publicado em jornal de grande circulação, na imprensa oficial ou afixado no átrio do fórum, com o prazo de 15 (quinze) dias, admitindo-se a possibilidade de que o acusado, ou pessoa a ele ligada, faça sua leitura, tomando
ciência da existência do processo penal. 
De acordo com o art. 365 do CPP, o edital de citação indicará: 
I – o nome do juiz que a determinar; 
II – o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se constarem do processo; 
III – o fim para que é feita a citação; 
IV – o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer; 
V – o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou da sua afixação. 
Ademais, segundo o art. 365, parágrafo único, o edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão, da qual conste a página do jornal com a data da publicação.
A citação por edital não é admissível no âmbito dos Juizados Especiais Criminais. De acordo com o art. 66 da Lei nº 9.099/95, a citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado. O parágrafo único do referido dispositivo, por sua vez, preceitua que não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum, no qual deverá ser observado o procedimento sumário do Código de Processo Penal (CPP, art. 538, com redação dada pela Lei nº 11.719/08). O processo só será remetido ao Juízo comum após a denúncia e tentativa de citação pessoal no Juizado Especial. Nessa hipótese, mesmo que o acusado seja posteriormente encontrado, não será restabelecida a competência dos Juizados, que é exaurida
no momento em que os autos são encaminhados ao juízo comum.
Hipóteses que autorizam a citação por edital
A citação por edital só pode ser feita após o esgotamento de todos os meios disponíveis para a localização do acusado. Por isso, em caso concreto apreciado pelo Supremo, no qual a citação editalícia foi determinada de pronto pelo juízo, simplesmente à vista de anterior informação, colhida na fase de inquérito, de que o então indiciado não fora localizado em seu local de trabalho e no endereço residencial que constava de sua ficha cadastral, considerou-se haver evidente violação à ampla defesa. 
Quando o acusado não é encontrado, e se faz necessária a citação por edital, seu prazo de dilação será de 15 (quinze) dias, como textualmente dispõe o art. 361 do CPP. Esse prazo de dilação é o tempo que deve permear entre a publicação do edital e a data em que se considera efetivado o ato processual. Em outras palavras, considerar-se-á aperfeiçoada a citação por edital não com a simples publicação do edital, mas sim com o decurso do prazo de dilação nele consignado. Portanto, no âmbito do procedimento comum, o prazo de 10 (dez) dias para apresentação da resposta à acusação será contado a partir do término do prazo editalício, que nesse caso é de 15 (quinze) dias. Não por outro motivo, concluiu o Supremo haver nulidade absoluta de interrogatório realizado 14 (quatorze) dias após a publicação de edital de citação. No caso concreto, reputou-se nulo, a partir da citação editalícia, o processo em que não foi observado o prazo de 15 dias entre a publicação do edital de
citação e a data do interrogatório.
Suspensão do processo e da prescrição (art. 366 do CPP)
Com a entra da em vigor da Lei nº 9.271/96, o art. 366 do CPP passou a ter a seguinte redação: “Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312”.
Na dicção do art. 366 do CPP, para que ocorra a suspensão do processo e da prescrição, exige-se o preenchimento de três pressupostos: 
a) que o acusado tenha sido citado por edital; 
b) que o acusado não tenha comparecido para o interrogatório; 
c) que o acusado não tenha constituído defensor. 
O objetivo do dispositivo é evidente: visa assegurar uma atuação efetiva e concreta do contraditório e da ampla defesa. De fato, sobretudo em casos de nomeação de defensor público ou advogado dativo, a citação por edital do acusado, com ulterior decretação de revelia, tal qual ocorria anteriormente, inviabilizava por demais o exercício da ampla defesa, na medida em que impossibilitava que o acusado apresentasse ao juiz sua versão a respeito do fato da imputação, cerceando também o direito de acompanhar, ao lado de seu defensor, os atos da instrução processual. 
Limitação temporal do prazo de suspensão da prescrição
Aspecto polêmico relacionado ao art. 366 do CPP diz respeito à eventual inconstitucionalidade no ponto em que prevê a suspensão da prescrição de modo indeterminado. Na medida em que o dispositivo não fixa quando deveria cessar a suspensão da prescrição, parte da doutrina passou a sustentar que o dispositivo teria criado nova hipótese de imprescritibilidade, com ofensa à Constituição, que teria limitado os delitos imprescritíveis à prática
de racismo e à ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (CF, art. 5º, XLII e XLIV).
Com o objetivo de dar interpretação conforme ao dispositivo, surgiram duas orientações:
a) admite-se como tempo máximo de suspensão da prescrição o tempo máximo de prescrição admitido pelo Código Penal – 20 (vinte) anos –, quando, então, deverá ser declarada extinta a punibilidade;
b) admite-se como tempo máximo de suspensão da prescrição o tempo de prescrição pela pena máxima em abstrato do crime da denúncia, após o que a prescrição voltaria a correr novamente. Exemplificando, supondo a prática de um crime de furto simples (CP, art. 155, caput), cuja pena máxima é de 4 (quatro) anos, a prescrição poderia ficar suspensa por até 8 (oito) anos, que é o prazo da prescrição da pretensão punitiva abstrata previsto no art. 109, IV, do CP. Decorrido o prazo de 8 (oito) anos, a despeito de o processo permanecer suspenso pelo menos enquanto o acusado não fosse encontrado, a prescrição voltaria a fluir novamente. Nessa linha, o STJ editou a súmula 415, com o seguinte teor: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.
Em que pese o entendimento sumulado do STJ, o Supremo Tribunal Federal tem precedentes antigos no sentido de que a suspensão da prescrição deve perdurar por prazo indeterminado. Na visão do Supremo, a indeterminação do prazo da suspensão não constitui hipótese de imprescritibilidade, não impede a retomada do curso da prescrição, apenas a condiciona a um evento futuro e incerto, situação substancialmente diversa da imprescritibilidade. Ademais, a Constituição Federal se limita, no art. 5º, XLII e XLIV, a excluir os crimes que enumera da incidência material das regras da prescrição, sem proibir, em tese, que a legislação ordinária criasse outras hipóteses.
Também não se afigura possível sujeitar o período de suspensão de que trata o art. 366 do CPP ao tempo da prescrição em abstrato, pois, do contrário, o que se teria seria uma causa de interrupção, e não de suspensão da prescrição.
Prisão preventiva
O art. 366 do CPP não criou hipótese de prisão preventiva obrigatória. Como se depreende da própria redação do caput do art. 366 do CPP, a decretação da prisão preventiva está subordinada à presença dos pressupostos do art. 312 do CPP, e desde que se revelem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão (CPP, art. 310, II). Ademais, também deve ser observado o quanto previsto no art. 313 do CPP. Destarte, mesmo que o acusado não atenda ao chamamento judicial, deixando de comparecer e constituir advogado, sua prisão cautelar somente poderá ser decretada caso esteja presente uma das hipóteses elencadas no art. 312 do CPP. Em síntese, a revelia do acusado citado por edital não gera, por si só, a presunção de que o acusado pretenda se furtar à aplicação da lei penal, não justificando, isoladamente, a decretação da prisão preventiva.
Comparecimento do acusado
Decretada a suspensão do processo e da prescrição com fundamento no art. 366 do CPP, na hipótese de o acusado citado por edital vir a comparecer, a qualquer momento, o processo observará o disposto nos arts. 394 e seguintes do CPP (CPP, art. 363, § 4º). Na mesma linha, segundo o art. 396, parágrafo único, do CPP, no caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído. 
Portanto, se ficar evidenciado que o acusado tomou conhecimento da instauração do processo penal, seja por meio de seu comparecimento pessoal em juízo, seja por força do comparecimento de advogado constituído, o processo retomará seu curso normal a partir da apresentação da resposta à acusação. Na mesma linha de raciocínio, caso o juiz tome conhecimento de onde se encontra o acusado (por exemplo, chega aos autos a notícia de que o acusado foi preso e está recolhido a determinado estabelecimento penitenciário), é perfeitamente possível que determine sua citação pessoal. Nesse caso, se o acusado for citado pessoalmente, subentende-se que, ainda que
coativamente, tomou conhecimento da existência do processo, o qual voltará a correr, sendo lhe concedido o prazo de 10 (dez) dias para apresentação da resposta à acusação (CPP, art. 396, parágrafo único).
CITAÇÃO POR HORA CERTA
A Lei nº 11.719/08 deu nova redação ao art. 362 do CPP, inaugurando a possibilidade de citação por hora certa em sede processual penal. Destarte, verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 do Código de Processo Civil.
Dois são os pressupostos, portanto, para a realização da citação por hora certa: 
a) que o acusado seja procurado por três vezes (duas vezes, à luz do novo CPC) em seu endereço e não seja encontrado; 
b) que haja suspeita de ocultação.
No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência. Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando tenha se ocultado em outra comarca. Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome. Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência.
Como se pode notar, o ato citatório é efetivado com a diligência à residência e a entrega da contrafé (cópia integral do instrumento). A expedição da carta, telegrama ou radiograma, ainda que funcione como parte integrante do ato, de modo algum interfere na contagem do prazo para a apresentação da resposta à acusação, cujo marco inicial será a data designada pelo Oficial de Justiça para o novo comparecimento, com a entrega da contrafé. Nessa linha, aliás, é bom lembrar que, “no processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem” (Súmula nº 710 do STF).
Assim, o dispositivo deve ser lido da seguinte forma: “se o acusado citado por hora certa não apresentar resposta à acusação, deverá o juiz providenciar a nomeação de defensor dativo”. Obviamente, se o acusado citado por hora certa comparecer perante o juiz, ou constituir advogado para fins de apresentação da resposta à acusação, o processo seguirá seu curso normalmente. Ao contrário da citação por edital, em que o processo e a prescrição ficam suspensos caso o
acusado não compareça nem constitua advogado, no caso da citação por hora certa, o processo seguirá seu curso normal, devendo o magistrado apenas providenciar a nomeação de defensor dativo em favor do acusado, preservando-lhe, assim, o direito à defesa técnica. 
Portanto, apesar de se tratar de hipótese de citação presumida, conclui-se que, nos casos de citação por hora certa, se o acusado não comparecer, deixando de apresentar a resposta à acusação, ser-lhe-á nomeado defensor dativo, prosseguindo o processo a sua revelia.
De fato, apesar de o acusado ter direito de ter ciência da acusação, não se pode valer da própria torpeza, ocultando-se, para posteriormente querer alegar a falta de conhecimento da imputação. Se se ocultou ardilosamente com o objetivo de fugir da citação pessoal, não pode alegar ignorância quanto ao processo que contra ele foi instaurado. De mais a mais, se o acusado se ocultou
para não ser citado – lembre-se que essa ocultação é o núcleo central da citação por hora certa – isso significa dizer que tomou conhecimento, efetivo ou potencial, da acusação. Nesse caso, basta que se dirija ao seu familiar, vizinho ou ao próprio fórum para que tenha acesso à imputação que recai sobre sua pessoa. Não se deve esquecer, ademais, que receberá carta do escrivão dando-lhe conhecimento pormenorizado da acusação. Por
isso, sem embargo de ter sido citado fictamente, deve o processo ter regular prosseguimento, com a nomeação de defensor dativo. Nessa linha, aliás, o próprio art. 565 do CPP estabelece que nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para a qual tenha concorrido.
INTIMAÇÃO E NOTIFICAÇÃO
Na prática, não há qualquer relevância na distinção entre intimação e notificação. Na verdade, pelo que se percebe da própria redação do CPP e da legislação especial, é comum a utilização equivocada de tais expressões. De todo modo, pelo menos sob um ponto de vista doutrinário, é possível trabalhar com a seguinte distinção:
a) intimação: é a comunicação feita a alguém no tocante a ato já realizado. A título de exemplo, podemos citar a intimação da degravação de audiência, a intimação de sentença prolatada pelo magistrado, etc.
b) notificação: diz respeito à ciência dada a alguém quanto à determinação judicial impondo o cumprimento de certa providência. Exemplos: notificação para que a testemunha compareça em juízo para prestar seu depoimento; notificação do acusado para que compareça à audiência una de instrução e julgamento para fins de reconhecimento pessoal.
Formas de intimação e notificação das partes
De acordo com a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, constitui prerrogativa do membro do MP, no exercício de sua função, além de outras, a de receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, através da entrega dos autos com vista (Lei nº 8.625/93, art. 41, IV). Prevalece o entendimento de que a entrega dos autos em setor administrativo do Ministério 
Público, formalizada a carga pelo servidor, configura intimação direta, pessoal, cabendo tomar a data em que ocorrida como a da ciência da decisão judicial.
Os defensores públicos também têm assegurada a prerrogativa de receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os prazos (LC nº 80/94, art.
44, I). 
De se notar que, à luz do art. 186, § 3º, do novo CPC, subsidiariamente aplicável ao processo penal, esse prazo em dobro para todas as manifestações processuais também se aplica aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a Ordem dos Advogados do Brasil ou com a Defensoria Pública.
A concessão desse prazo em dobro à Defensoria Pública não é incompatível com o princípio da isonomia e paridade de armas. Afinal, o defensor padece das deficiências de recursos materiais e humanos inerentes ao serviço público, quase sempre assoberbado pelas demandas sociais das mais variadas espécies. De todo modo, este prazo deve ser contado em dobro apenas para a prática de atos futuros, para os quais o defensor tenha sido notificado, e não de atos em que ele já esteja presente, como, por exemplo, sustentação oral no curso da audiência una de instrução e julgamento ou no plenário do júri.
REFERÊNCIAS
TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Proc. Penal. 11 ed. Salvador: Juspodium, 2016.
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 4 ed. Salvador: Juspodivm, 2016.

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