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Brasília-DF. Parasitologia ClíniCa Elaboração Vitor Hugo Balasco Serrão Marco Túlio Alves Julio Cesar Pissuti Damalio Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção .................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 5 introdução ..................................................................................................................................... 7 unidAdE i CONCEITOS GERAIS ............................................................................................................................. 9 CAPÍtuLo 1 RElAçãO PARASITA-HOSPEdEIRO .......................................................................................... 10 CAPÍtuLo 2 EPIdEmIOlOGIA ................................................................................................................... 12 CAPÍtuLo 3 ClASSIfICAçãO dOS SERES VIVOS ........................................................................................ 15 unidAdE ii PARASITOlOGIA HUmANA ................................................................................................................... 17 CAPÍtuLo 1 PROTOzOáRIOS .................................................................................................................... 18 CAPÍtuLo 2 HElmINTOS ........................................................................................................................... 49 CAPÍtuLo 3 ARTRóPOdES ....................................................................................................................... 77 PArA (não) FinALizAr ...................................................................................................................... 86 rEFErÊnCiAS .................................................................................................................................... 87 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução O Caderno de Estudos e Pesquisa “Parasitologia Clínica” foi elaborado com o objetivo de fornecer ao aluno os subsídios necessários para compreensão e identificação de doenças parasitárias, o que, infelizmente, ainda é um grave problema nacional ocasionado por inúmeros fatores que serão abordados nessa disciplina. A identificação de um sistema Hospedeiro-Parasita, a identificação clínica por meio da morfologia do ser parasita, os sintomas ao qual o hospedeiro é acometido, a determinação das medidas profiláticas e o tratamento a fim de minimizar os sintomas e a busca da cura do hospedeiro. Todos esses tópicos serão discutidos no decorrer dos capítulos. As três principais classes de parasitas humanos serão amplamente discutidas, evidenciando as principais espécies e as sutis diferenças entre elas. O aluno será levado a refletir sobre a influência do ambiente socioeconômico ao qual essas parasitemias são comumente relacionadas, além de permitir a reflexão sobre atitudes, não só com relação aos aspectos clínicos, mas muitas vezes psicológicos e sociais de abordagem aos pacientes, assim como a melhor maneira de prosseguir com o tratamento e medidas profiláticas. Por fim, o aluno terá como objetivo na disciplina aprender ferramentas para: identificar, orientar, educar e tratar pacientes com doenças parasitárias, endêmicas de uma determinada região ou não, de maneira a compreender o ambiente ao qual o paciente está inserido, não observando somente o ambiente clínico. Ao final do curso, a avaliação será feita mediante aos exercícios propostos, levando em consideração fatores técnicos, poder de decisão e análise do contexto individual para cada evento aprendido no decorrer da disciplina. “A parasitologia objetiva seu próprio fim.” (Prof. Erney P. Camargo – ICB/USP) Sejam bem-vindos! objetivos » Definir os conceitos epidemiológicos relevantes. » Compreender a relação parasita-humanos. » Identificar as características morfológicas, patogênicas e sintomatológicas. » Identificar procedimentos e diagnósticos a serem realizados. » Prover discussões com relação aos agentes difusores de tais epidemias.9 unidAdE iConCEitoS gErAiS “Parasitas são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro”. Essa é uma das definições para a relação parasita-hospedeiro, sendo a parasitologia a ciência que estuda essa tênue relação entre um determinado ser hospedeiro, neste caso o Homem, e outro, parasita. Uma contextualização importante é que “Todas as doenças infecciosas e as infestações em animais e em plantas são causadas por seres considerados parasitas”. Sendo assim, o estudo das relações entre paciente e infecção não passa de uma análise do tipo Parasita-Hospedeiro. Neste curso, daremos início à caracterização das relações de parasitismo em humanos, as diferentes abordagens técnicas e identificações para cada tipo existente, que, no Brasil, não são poucas. Para compreensão plena dos assuntos discutidos nessa disciplina, o aluno terá de providenciar um bom GLOSSÁRIO das palavras envolvidas nos temas no decorrer do curso. Definições importantes como Epidemias, Cepa, Zoonoses, Vetor, Profilaxia, entre outras, serão comumente utilizadas, e fica a ideia da montagem de um glossário com as palavras a fim de favorecer o entendimento no decorrer das aulas. 10 CAPÍtuLo 1 relação Parasita-Hospedeiro A relação entre organismos é imensa e fundamental para manutenção dos sistemas biológicos como os conhecemos, tão importante que podemos afirmar que nenhum ser vivo é capaz de sobreviver e/ ou reproduzir-se independentemente de outros seres vivos. Das possíveis associações entre organismos, podemos classificar de modo direto duas maneiras: Harmônicas ou Positivas (benefícios ou ausência de prejuízos mútuos) e Desarmônicas ou Negativas (há prejuízo para algum dos participantes da associação). Os meios de associações mais comumente encontrados são: Competição, Neutralismo, Canibalismo, Predatismo, Parasitismo, Comensalismo, Mutualismo e Simbiose. Portanto, alguns organismos apresentam uma relação não mutuamente benéfica entre os envolvidos, levando-os a prejuízos consideráveis e muitas vezes despercebidos de imediato. Esses organismos são os parasitas. As classificações dos parasitas podem ser as mais diversas possíveis: Ectopoarasitas (vivem externamente ao corpo do hospedeiro); Endoparasitas (vivem internamente ao hospedeiro); Hemoparasitas (tecido hematopoiético); Holoparasitas e Hemiparasitas (extraem seivas de vegetais); Estenoxenos (vivem em vertebrados); Eurixenos (grande variedade de hospedeiros possíveis); Facultativos (parasitando ou vida livre); Obrigatórios (impossível viver sem a presença de um hospedeiro) e Acidental (vivem em hospedeiro que não é o costumeiro). Pode haver uma caracterização em relação aos hospedeiros: Definitivo (abrigam os parasitas durante as fases de maturidade e de atividade sexual); Intermediário (abrigam durante fase larval ou assexuada) e Paratênico e Transporte (intermediários sem desenvolvimento, no entanto, apresentando viabilidade até entrar em contato com hospedeiro definitivo). É possível classificar os parasitas, segundo a maneira de coleta de nutrientes do hospedeiro: Espoliativa (a absorção de nutrientes e sangue do hospedeiro), Enzimática (com a deterioração de tecidos do hospedeiro por ação enzimática do parasita), Irritativa (causam irritação local sem causar lesões traumáticas), Mecânica (interferência no fluxo alimentar ou de absorção de alimentos competindo com o hospedeiro), Tóxica (produção de enzimas e/ou metabólitos tóxicos ao hospedeiro), Traumática (provocam lesões no hospedeiro) e Anóxia (diminuição da taxa de oxigênio pelas hemoglobinas por interferência de parasitas). Para esse curso, o foco será dado na relação HUMANO – PARASITA, abrangendo o ambiente no qual a espécie humana interfere, por exemplo, animais domesticados e condições socioeconômicas dos indivíduos. Os mecanismos de entrada do parasita no hospedeiro podem ser por intermédio de penetração ativa (o parasita tem a capacidade de romper as barreiras do organismo hospedeiro) ou penetração passiva (o parasita adentra por intervenção de vetores ou ingestão/penetração por formas 11 CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I infectantes, normalmente ovos ou cistos). A transferência para o próximo hospedeiro pode ser por meio de: Pele (retirada de sangue por vetores hematófagos); Tecidos (permanência nos tecidos de seres predados) ou Fezes (eliminação de formas infectantes como ovos ou cistos). No Brasil, por exemplo, existe uma relação interessante entre pequeno número de doenças parasitárias e elevado número de casos dessas doenças. Esse fato leva a crer que problemas endêmicos são as principais causas dessas doenças e que são refletidos em alguns fatores como: espécie do parasita, a idade média da população acometida pela doença, estado nutricional da população local, condições sanitárias e resposta imunológica do hospedeiro. Condição de crescimento exacerbado e desordenado das cidades, baixa condição de vida e higiene das comunidades, falta de educação aos hábitos e costumes das pessoas além dos sistemas ineficientes de abastecimento de água, esgoto, coleta e tratamento dos dejetos são as principais causas de propagação de agente epidemiológico, sejam vetores ou mesmo os agentes causadores das doenças. Este site faz uma síntese do que foi discutido nesse capítulo: <http://pessoal.educacional.com.br/up/81000001/5123693/Protozoologia.pdf>. Para compreensão dos vocábulos necessários, vale a pena a leitura da referência 1 (NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 11. ed. São Paulo: Atheneu, 2010). Considerando os seguintes organismos parasitas humanos: Ascaris lumbricoides (lombriga), Schistosoma mansoni (agente causador da esquistossomose), Trypanosoma cruzi (agente causador da doença de Chagas) e Pediculus humanus capitis (piolho humano), agrupe-os de acordo com as possíveis classificações apresentadas nesse capítulo. A esquistossome é uma doença endêmica que mata milhares de pessoas anualmente, sobretudo no Brasil e países africanos. Não existe um tratamento eficiente para combater a doença após o contagio, no entanto, a prevenção é extremamente simples. Quais são os empecilhos para não diminuição de casos dessa doença? 12 CAPÍtuLo 2 Epidemiologia Epidemiologia é a ciência que interpreta e esclarece os meios de distribuição de doenças (características fisiológicas e sociais) e seus determinantes (ou fatores de risco) na população humana. O objetivo principal consiste na prevenção das doenças nos mais diversos grupos populacionais, definidos por área geográfica, faixa etária, determinação ocupacional, entre outras classificações. Os estudos epidemiológicos podem ser aplicados, refletindo uma função específica. Algumas especialidades de Epidemiologia são: molecular; genética; veterinária; doenças infecciosas e parasitárias; doenças não transmissíveis; neuroepidemiologia; da violência; controle da poluição; aplicada à administração de serviços de saúde; infecções hospitalares. Nessa disciplina, vamos focar na Epidemiologia de Doenças Infecciosas e Parasitárias, ou seja, qualquer doença causada por alguns agentes biológicos (como protozoários, helmintos e artrópodes), em contraste com causa física (consequências ao hospedeiro). A compreensão da relação Agente – Vetor – Meio Ambiente – Hospedeiro são os principais enfoques de estudo da epidemiologia, em especial a relação direta de causa e consequência entre Agente e Hospedeiro (Figura 1). Figura 1. Tríade epidemiológica de doenças. (disponível em: <http://dc254.4shared.com/doc/laqK8-_P/preview.html>. Acesso em: 27 ago. 2012) Existem inúmeras definições e conceitos que rodeiam a epidemiologia. Os conceitos estão muito bemexplicados na referência 1, mas para quem não tem acesso fácil ao livro, existem sites bem explicativos na internet que abrangem esse tema (NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 11. ed. São Paulo: Atheneu, 2010). 13 CONCEITOS GERAIS │ UNIDADE I Os pontos fundamentais a serem analisados são: Formas de Disseminação » Veículo comum: quando o agente etiológico (causador da doença) pode ser transferido por uma única fonte, por exposição única ou continuada. » Interpessoal: é disseminado pelo contato entre indivíduos, podendo ser de diferentes maneiras como contatos sanguíneo, sexual, mucosas ou mesmo respiratório. » Porta de entrada: entrada direta pelo trato respiratório, gastrointestinal, cutâneo ou geniturinário. » Reservatório de agentes: pode ser dividida quando o homem é o único agente infectado (antroponose) ou quando outros animais servem de reservatórios (zoonose). Dinâmica da doença na população » Endemia: presença constante da doença em uma parcela da população de determinada área geográfica, grupo populacional ou classe social (Figura 2). » Epidemia: tem como característica elevação progressiva de casos, inesperada e descontrolada, ultrapassando os níveis endêmicos conhecidos. » Pandemia: são epidemias que acontecem em proporções globais, ou pelo menos regiões distantes geograficamente. Figura 2. Modelo de diferenciação entre endemia e epidemia em função do tempo. (disponível em: <http://dc254.4shared.com/doc/laqK8-_P/preview.html>. Acesso em: 27 ago. 2012) Medidas preventivas » Primárias: intervenção no contágio do indivíduo pelo controle dos fatores de risco, agindo preventivamente. 14 UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS » Secundárias: intervenção clínica sobre os indivíduos já acometidos pelo agente patogênico. » Terciárias: intervenção visando à prevenção da incapacidade do indivíduo, normalmente processos de reabilitação, reeducação e readaptação de pacientes com sequelas. Existe uma série de doenças endêmicas presentes nos países subtropicais que causam milhares de mortes por ano. No entanto, não há um esforço das grandes multinacionais para a criação e planejamento de uns medicamentos efetivos para essas infecções parasitárias. Será que isso se deve ao fato de serem doenças de países subdesenvolvidos cuja população não apresenta elevado poder aquisitivo? E como poderíamos mudar esse cenário? Considerando os seguintes organismos parasitas humanos: Ascaris lumbricoides (lombriga), Schistosoma mansoni (agente causador da esquistossomose), Trypanosoma cruzi (agente causador da doença de Chagas) e Gripe H1N1, agrupe-os de acordo com as possíveis classificações apresentadas nesse capítulo, elucidando quais são as formas de disseminação. Explique a dinâmica populacional e as prováveis medidas preventivas. Além disso, monte as tríades epidemiológicas para cada uma dessas doenças. 15 CAPÍtuLo 3 Classificação dos Seres Vivos São inúmeros os seres vivos e, para simplificar, eles foram agrupados com relação às características morfológicas, fisiológicas, estruturais, filogenéticas, entre outros critérios. Os níveis hierárquicos são representados na Figura 3 e seguem sempre a mesma organização: Domínio – Reino – Filo – Classe – Ordem – Família – Subfamília – Tribo – Gênero – Subgênero – Espécie. Figura 3. Esquerda: Classificação hierárquica dos seres vivos em fluxograma. Direita: Exemplo prático de níveis organizacionais, sequência para o cão doméstico, podendo ser empregado para qualquer outro ser vivo, lembrando que a classificação é Vida seguida de Domínio, no caso do cão, Eukarya (seres eucarióticos, com núcleo envolto por uma membrana, resultando em uma célula com núcleo definido e separado do citoplasma). (disponível em: <http://educar.sc.usp.br/ciencias/seres_vivos/seresvivos2.html>. Acesso em: 27 ago. 2012) Os grupos de interesse em parasitologia não são todos. A espécie humana é hospedeira de organismos presentes no Reino Animalia de cinco filos distintos (Protozoa, Platyhelminthes, Nematoda, Acantocephala e Arthropoda), todos com inúmeras espécies e características únicas. Dentre os possíveis parasitas humanos, pode-se distingui-los pelo modo de transmissão: transmissão interpessoal por contato ou uso de objetos; transmissão por água, alimentos, falta de higiene, poeira; transmissão por contato com o solo contaminado por larvas ou seres unicelulares; transmissão por vetores ou hospedeiros intermediários em contato com o ser humano e a transmissão por mecanismos diversos. 16 UNIDADE I │ CONCEITOS GERAIS Outro aspecto relevante é a nomenclatura das doenças parasitárias. Não há homogeneidade em relação às nomenclaturas ou uso dos sufixos corretos para a determinação adequada. O adotado convencionalmente foi a utilização dos sufixos ose acompanhando o gênero do agente etiológico. Foi mencionado que somente 5 (cinco) filos do Reino Animalia são parasitas da espécie humana. Identifique pelo menos um organismo pertencente a cada um dos filos mencionados e uma característica morfológica que o identifique como membro do filo em questão. Todos nós ficamos, ao menos uma vez na vida, gripados. Sabe-se que a gripe é causada por contagio viral, e também é sabido que os vírus são parasitas celulares obrigatórios, ou seja, o vírus da gripe é um tipo de parasita da espécie humana. Qual seria então a classificação taxonômica de um vírus? 17 unidAdE iiPArASitoLogiA HuMAnA Nesta unidade daremos início às análises dos organismos parasitas cujo ser humano é hospedeiro definitivo ou intermediário. Serão abordados os seguintes tópicos para o estudo e compreensão de cada organismo: morfologia; meio de reprodução; nutrição e características diferenciais; sistemática; principais ciclos biológicos; mecanismo de transmissão; patogenia; diagnóstico; profilaxia e tratamento. 18 CAPÍtuLo 1 Protozoários Os protozoários são micro-organismos cuja classificação taxonômica é feita com base em suas estruturas de locomoção e são agrupados em um reino próprio, denominado Reino Protista (junto às algas unicelulares crisófitas, euglenófitas e pirrófitas) (Figura 4). São seres eucariontes (núcleo celular organizado dentro de uma membrana), a maioria é heterótrofa. Embora alguns sejam autótrofos, ou seja, produzem clorofila e com ela fazem a fotossíntese, produzindo seu próprio alimento a partir de compostos inorgânicos [Capítulo baseado nas referências apresentadas ou extraído da webpage: S5]. Figura 4. Exemplos de quatro protozoários: um ciliado (Paramecium caudatum), um flagelado (Trypanosoma brucei), um rizópode (Entamoeba histolytica) e um sem organelas locomotoras (Plasmodium vivax). (disponíveis em: <http://www.alaquairum.net/generalidades_protozoos_2.htm>; <http://www.microscopy-uk.org.uk/mag/ indexmag.html>;<http://www.microscopy-uk.org.uk/mag/artdec00/amphileptus.html>. Acesso em: 30 ago. 2012) Morfologia Os protozoários são seres que apresentam variações diversificadas e abrangentes conforme sua fase evolutiva e o meio a que estejam adaptados. Podem ser esféricos, ovais ou mesmo alongados. Alguns são revestidos por estruturas conhecidas como cílios, outros possuem um ou vários flagelos. Além disso, existem ainda os que não possuem nenhuma organela locomotora especializada. 19 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II A atividade fisiológica influencia fazendo com que algumas espécies possuam fases bem definidas. Assim, temos: » trofozoíto: é a configuração ativa do protozoário, na qual ele se alimenta e se reproduz, por distintos processos; » cisto: é a configuração de resistência, onde o protozoário possui uma parede extracelular resistente que o protegerá enquanto estiver em ambiente impróprio e inadequado para a vidalivre ou durante sua fase de latência; » gameta: é a configuração sexuada, que aparece em algumas espécies de protozoários. Os organismos participantes do Reino Protista são seres unicelulares que, para sobreviver, têm de ser capaz de realizar todas as funções necessárias para a manutenção da vida, ou seja, alimentação, respiração, reprodução, excreção e locomoção. Para cada função existe uma organela própria. Vejamos. » Cinetoplasto: é uma mitocôndria especializada, sendo rica em material genético. » Corpúsculo basal: base de inserção do componente motor dos cí1ios e flagelos. » Reservatório: hipóteses apontam para que seja um local onde ocorram processos de secreção, excreção e ingestão de partículas, pelo processo de pinocitose e fagocitose. » Lisossomo: permite a digestão intracelular de partículas alimentares. » Complexo de Golgiense: responsável pela síntese de carboidratos e condensação da função de secreção proteica para o meio extracelular ou para incorporação nas membranas lipídicas do organismo. » Retículo endoplasmático: a) Liso: responsável pela síntese de esteroides; b) Granular ou Rugoso: responsável pela síntese de proteínas em seu lúmen. » Mitocôndria: produção energética da célula. » Microtúbulos: movimentos celulares (contração e distensão) e vias de transporte interno de vesículas. » Flagelos, cílios, membrana ondulante e pseudópodes: responsável pela locomoção da célula no meio em que se encontra. » Axonema: eixo central do flagelo. » Citóstoma: permite a ingestão de partículas alimentares. Cada organela possui semelhança nas várias espécies dentro do reino, entretanto, é possível que haja pequenas distinções que podem ser observadas ao microscópio óptico ou, unicamente, por intermédio de um microscópio eletrônico. 20 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA reprodução Encontramos os seguintes tipos de reprodução: Assexuada » Divisão Binária ou Cissiparidade. » Brotamento ou Gemulação. » Endogenia: surgimento de células-filhas, duas ou mais, por brotamento interno à célula. » Esquizogonia: divisão nuclear seguida da divisão celular, resultando em indivíduos isolados. Esses rompem a membrana celular da célula-mãe e continuam a desenvolver-se. Na realidade, existem três tipos de esquizogonia: merogonia (produz merozoítos), gametogonia (produz microgametas) e esporogonia (produz esporozoítos). Sexuada » Conjugação: consiste na união temporária de dois indivíduos, com troca mútua de materiais nucleares. » Singamia ou Fecundação: consiste na união de microgameta e macrogameta formando o ovo ou zigoto, que pode dividir-se para fornecer esporozoítos. A formação de gametas é denominada gametogonia. nutrição e características Quanto ao tipo de alimentação, dividem-se em: » Holofíticos ou Autotróficos: ou seja, a partir de pigmentos presentes no citoplasma conseguem sintetizar compostos orgânicos utilizando a energia provinda da luz solar pelo processo denominado fotossíntese. » Holozoicos ou Heterotróficos: ingerem partículas orgânicas, digestão por ação enzimática. Essa ingestão pode ser denominada fagocitose (ingestão de partículas sólidas) ou pinocitose (ingestão de partículas líquidas). » Saprozoicos: têm a capacidade de absorver substâncias inorgânicas, desde que essas estejam decompostas e dissolvidas em meio aquoso. » Mixotróficos: são capazes de obter alimentos por mais de um dos métodos descritos. 21 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Patogenias Micro-organismos de vida livre são presentes em muitos ambientes. No entanto, alguns levam vida parasitária e podem acometer doenças em animais. Febre, cistos dolorosos e outros são alguns sintomas em seus hospedeiros. Muitos protozoários podem causar doenças na espécie humana e em outros animais vertebrados. Por exemplo: Trypanosoma cruzi é um protozoário flagelado e agente causador da doença de Chagas. Entre doenças causadas por protozoários, podem-se destacar a amebíase (pela Entamoeba histolytica), a giardíase (pela Giardia lamblia), a malária (por Plasmódios sp), diferentes tipos de leishmaniose (pelas Leishmania sp) e diversas outras patogenias. LEiSHMAnioSES As leishmanioses podem ser causadas pelo contágio de diferentes espécies dos protozoários do gênero Leishmania, e são transmitidas pelo contato por meio da picada de um mosquito pertencente à sub-família Phlebotominae. Apresenta três formas clínicas mais frequentes (Figura 5). » Leishmaniose cutânea: causadora de feridas na pele. » Leishmaniose muco-cutânea: cujas lesões podem levar a deterioração parcial ou total de mucosas, » Leishmaniose visceral, também conhecida como calazar: é caracterizada por surtos de febre irregulares, substancial perda de peso, hepatoesplenomegalia e anemia severa. O não tratamento pode levar a morte na totalidade dos casos. Figura 5. Da esquerda para direita, exemplos de: Leishmaniose cutânea presente em braço de indivíduo humano; Leishmaniose mucocutânea na região bucal e Leishmaniose visceral em um garoto da região nordeste brasileira. (disponíveis em: <http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=91709&st=30>; <http://www.estomatologia.com. br/diagnosticos_det2.asp?cod_diag=21>; <http://www.mdsaude.com/2010/05/leishmaniose.html>. Acesso em: 18 set. 2012) 22 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA Atualmente, atingem cerca de 350 milhões de pessoas em 88 países do mundo, sendo 72 considerados países em desenvolvimento (Figura 6). A distribuição, segundo o tipo de leishmaniose, é: » 90% dos casos de Leishmaniose visceral ocorrem em Bangladesh, Brasil, Índia, Nepal e Sudão; » 90% dos casos de Leishmaniose muco-cutânea ocorrem na Bolívia, Brasil e Peru; » 90% de todos os casos de Leishmaniose cutânea ocorrem no Afeganistão, Brasil, Irã, Peru, Arábia Saudita e Síria. Figura 6. Distribuição dos casos de Leishmaniose no mundo (em destaque na cor escura), dados atualizados da WHO (Organização Mundial da Saúde) de 2003. (disponível em: <http://www.bvgh.org/Biopharmaceutical-Solutions/Global-Health-Primer/diseases/cid/Viewdetails/ItemId/5. aspx>. Acesso em: 18 set. 2012) Agente etiológico As leishmanioses são causadas por parasitas do gênero Leismania. As espécies L. donovani, L. infantum infantum, e L. infantum chagasi podem acarretar leishmaniose visceral, mas, em casos leves, apenas manifestações cutâneas. As espécies L. major, L. tropica, L. aethiopica, L. mexicana, L. braziliensis, L. amazonensis e L. peruviana são as responsáveis pela leishmaniose cutânea ou mucocutânea. Este protozoário apresenta ciclo de vida envolvendo dois hospedeiros, um vertebrado e um invertebrado (ciclo heteroxeno). Os hospedeiros vertebrados podem incluir uma grande variedade de mamíferos, entre eles: roedores; edentados (tatu, tamanduá, preguiça); marsupiais (gambá); canídeos e primatas, o que inclui o homem. Os hospedeiros invertebrados, em geral, são pequenos insetos da ordem Diptera, família Psycodidae, sub-família Phlebotominae, gêneros Lutzomyia e Phebotomus. 23 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Uma característica morfológica interessante está na diferenciação nas conformações celulares mediante ao hospedeiro (Figura 7). » Amastigotas: possuem forma oval ou esférica, sendo as formas encontradas no hospedeiro vertebrado. Não há flagelo livre, mas um rudimento presente na bolsa flagelar. » Promastigotas: formas alongadas, com flagelo livre na região anterior. Encontradas no tubo digestivo do inseto vetor e hospedeiro intermediário e em meio de cultura. » Paramastigotas: formas ovais ou arredondadas com flagelo livre. Encontradas aderidas ao tecido epitelial do sistema digestivo do inseto vetor, por meio de hemidesmossomas. Figura 7. Da esquerda para direita,exemplos de: Leishmanias na forma amastigota e promastigota; e forma paramastigota. (disponíveis em: <http://enfermagem-sae.blogspot.com.br/2009/04/leishmaniose-visceral-ou-calazar.html>; <http://www.fcfrp. usp.br/dactb/Parasitologia/Arquivos/Genero_leishmania.htm>. Acesso em: 19 set. 2012) Ciclo No vetor: o inseto pica o vertebrado contaminado e ingere macrófagos contendo as formas amastigotas do parasita. Ao chegarem ao estômago do inseto, essas células se rompem liberando as amastigotas que, por sua vez, passam por processo de divisão binária e, posteriormente, à forma promastigotas. Passam por divisão e se multiplicam ainda no sangue ingerido (envolto pela membrana peritrófica). Essa membrana se rompe entre terceiro e quarto dias liberando as células parasitas no hospedeiro. As formas promastigotas permanecem se reproduzindo por cissiparidade, com a possibilidade de duas vertentes distintas, de acordo com a espécie do parasita (Figura 8). As leishmanias do “complexo brasiliensis” migram para as regiões do piloro e do íleo (seção peripilária). Transformam-se de promastigotas para paramastigotas, aderindo ao epitélio do intestino do inseto. Nas leishmanias do “complexo mexicana”, ocorre de maneira análoga; no entanto, a fixação das células paramastigotas ocorre no estômago do inseto. Novamente transformando-se em promastigotas que migram para a região da faringe. Neste local, transformam-se para a forma paramastigota e, em seguida, diferenciam-se empromastigotas infectantes, altamente móveis, que se deslocam para o aparelho bucal do inseto. 24 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA No vertebrado: durante a ingestão de sangue, ocorre a injeção de protozoários na forma promastigota no local da picada. Em algumas horas, estes flagelados são interiorizados pelos macrófagos teciduais. Nesse momento, as formas promastigotas se diferenciam na forma amastigota, encontradas em meio sistêmico em cerca de um dia a partir do momento da fagocitose. As amastigotas são extremamente resistentes à ação dos macrófagos e possuem elevada taxa reprodutiva. Com o excesso de amastigotas no citoplasma dos macrófagos, o rompimento celular é inevitável, liberando as amastigotas, que penetram outros macrófagos, o que inicia a reação inflamatória. Figura 8. Ciclo de vida e contágio da Leishmania sp na etapa de parasitismo humano. (disponível em: <http://dc236.4shared.com/doc/feNBlQeC/preview.html>. Acesso em: 18 set. 2012) Epidemiologia Iniciada como uma enzootia (doença cujos hospedeiros são somente animais) em animais silvestres. A transmissão ao ser humano ocorre quando este penetra selva adentro para realizar suas atividades ou as regiões de conurbação e de ocupação humana se aproximam demasiadamente das regiões de vida livre dos parasitas e dos hospedeiros invertebrados naturais. Neste caso, a doença é considerada como uma zoonose (doença cujo ciclo envolve animais e o homem). Profilaxia » Evitar picadas do mosquito vetor através de medidas de proteção individual: repelentes, tela de mosquiteiro de malha fina e embebidas em inseticidas; 25 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II » Em áreas de colonização recente, é recomendada a construção de casas a uma distância de no mínimo 500 metros da mata, devido à baixa capacidade de voo dos insetos hospedeiros. » Vacinação em animais domésticos: em fase final de testes (Leishvacin, produzida pela Bioquímica do Brasil S/A – Biobrás, somente para a realização de ensaios clínicos. A produção em escala comercial ainda não é viável, segundo o Diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Biobrás, Luciano Vilela, faltando a liberação do registro pelo Ministério da Saúde). diagnóstico a. Diagnóstico Clínico » Fundamentado na característica apresentada na lesão e em dados epidemiológicos da região previamente conhecidos. b. Diagnóstico Laboratorial » Pesquisa do parasita através de exame direto de esfregaços corados: anestesia local retira-se um fragmento das bordas da lesão e analisa-se um esfregaço dessa amostra em lâmina, corado com derivados de Romanowsky, Giemsa ou Leishman. » Cultura: pode-se realizar a cultura de fragmentos de tecido ou de espirados da borda da lesão. » Inóculo em animais: utilizando o hamster como o animal mais utilizado para o isolamento de Leishmanias. Inocula-se, por via intradérmica, no focinho ou nas patas, um triturado do fragmento da lesão em solução fisiológica. » Métodos imunológicos: teste intradérmico de Montenegro – utilizado no país para levantamentos epidemiológicos, avalia a hipersensibilidade do paciente. Inocula-se pequeno volume de antígeno nos membros superiores do paciente, e para o caso de reações positivas, verificando o estabelecimento de uma reação inflamatória local, reversível em 72 horas. » Reação de Imunofluorescência indireta: teste bastante usado, apresentando alta sensibilidade, porém apresenta reação cruzada para outros tripanosomatídeos, como o Trypanosoma cruzi (causador da Doença de Chagas). Para mais detalhes sobre os métodos diagnósticos, principalmente sobre o Teste Intradérmico de Montenegro, acesse o texto de Loureiro et al. (1998), disponível em: <http://www.dermato.med.br/publicacoes/artigos/1998leishmaniose.htm>. Pequeno documentário sobre a Leishmaniose: <http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=tNTYxFu49OY&feature=endscreen>. 26 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA tratamento Uso de um antimonial tártaro hermético (introduzido pelo médico brasileiro Gaspar Vianna, em 1912). Atualmente, é utilizado um antimonial pentavalente, Glucantime, onde somente a forma difusa não responde bem ao tratamento. Outro tratamento considerado é a imunoterapia utilizando a Leishvacin, vacina utilizada para imunoprofilaxia. Ainda não apresenta escala comercial de produção. Acabamos de ver a gravidade das leishmanioses no mundo, então por que não há um investimento maior a fim de erradicar essa doença? Você é morador de uma região cuja leishmaniose é endêmica. Quais seriam suas principais ações a fim de reverter esse quadro? Compare as leishmanioses visceral e cutânea com relação à gravidade, vetores e abrangência da doença. triPAnoSoMÍASE AMEriCAnA ou doEnçA dE CHAgAS A principal tripanosomíase humana, tripanossomíase americana ou, simplesmente, Doença de Chagas, uma homenagem a Carlos Chagas, infectologista brasileiro identificador do agente causador da doença, é causada pelo agente Trypanosoma cruzi (Figura 9). Figura 9. Da esquerda para direita, exemplos de: Trypanosoma cruzi na forma tripomastigota; o inseto vetor conhecido como “Barbeiro” e uma foto do Dr. Carlos Chagas, descobridor da doença que ficou conhecida como Doença de Chagas. (disponíveis em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos/doencadeChagas.php>; <https://www.jyi.org/features/ ft.php?id=185>; <http://blig.ig.com.br/ebomsaber/2009/07/10/o-medico-que-descobriu-o-trypanosoma-cruzi-e-o-mal-de- chagas/>. Acesso em: 19 set. 2012) 27 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Estima-se que a doença de Chagas afeta entre 8 e 10 milhões de pessoas no países latino-americanos, onde a doença é endêmica; e aproximadamente 500 mil indivíduos em países não endêmicos. Estima-se, ainda, que ocorram anualmente mais de 40 mil novos casos, e cerca de 20 mil óbitos por ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 90 milhões de pessoas estão expostas ao risco de contágio e a Bolívia é o país que mais sofre com a doença (Figuras 10 e 11). Figura 10. Distribuição dos casos de doença de Chagas no mundo. Quanto mais escuro maior a incidência da doença. Dados mais atualizados da WHO (Organização Mundial da Saúde) de 2004. (disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:Chagas_disease_world_map_-_dAlY_-_WHO2004.svg>.Acesso em: 19 set. 2012) Figura 11. Distribuição dos casos de doença de Chagas na região endêmica, delimitada pelas Américas do Sul e Central. Dados atualizados da WHO (Organização Mundial da Saúde) de 2004. (disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:distribution_of_Chagas%27_disease.svg>. Acesso em: 19 set. 2012) 28 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA Agente etiológico Trypanosoma cruzi é o agente causador da Doença de Chagas, a forma mais grave de infecções desses parasitas em humanos. Outra forma infectiva de tripanosomas, que não será tratada nessa disciplina, é a Doença do Sono (humanos), ou Nagana (gado), doença endêmica na África sub-saariana. É causada pela infecção por Trypanosoma brucei e contágio através do contato com a mosca de Tsé-Tsé. Ciclo Esse protozoário apresenta um ciclo de vida heteroxênico, passando por uma fase de multiplicação intracelular no hospedeiro vertebrado e extracelular no hospedeiro vetor (Figura 12). No vertebrado: as formas tripomastigotas eliminadas nas excreções dos insetos “barbeiros”, membros dos gêneros Triatoma, Panstrongylus e Rhodinus, durante ou logo após sua alimentação por ação hematófaga no hospedeiro humano. Os parasitas penetram pelo local da picada e interagem com as células da pele e mucosas internas. Nesse momento, ocorre a transformação das tripomastigotas em amastigotas, cuja multiplicação se dá por divisão binária. A próxima etapa é a diferenciação das amastigotas em tripomastigotas. Essas serão liberadas da célula hospedeira e se dirigem ao interstício e corrente sistêmica, onde atingem as demais células de qualquer outro tecido ou órgão, iniciando um novo ciclo celular. No entanto, alguns indivíduos são destruídos pela ação do sistema imune. No hospedeiro invertebrado: os “barbeiros” (Triatomíneos sp) se infectando ao ingerir as formas tripomastigotas presentes na corrente sistêmica, de um hospedeiro vertebrado contaminado, durante a hematofagia. No estômago do inseto, diferenciam-se na forma epimastigotas. Ao passar para o intestino médio do hospedeiro, as epimastigotas se reproduzem por cissiparidade, o que define a manutenção da infecção no vetor. No reto do inseto infectado, as epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas metacíclicas, forma infectante para os vertebrados, sendo eliminadas nas fezes ou urina no ato da hematofagia, delimitando o ciclo do parasita. 29 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Figura 12. Ciclo de vida e contágio do Trypanosoma cruzi nas etapas de parasitismo humano e no hospedeiro invertebrado. (disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/doen%C3%A7a_de_Chagas>. Acesso em: 18 set. 2012) Os mecanismos de transmissão são diversos e o principal é o contágio vertical através do contato direto com inseto contaminado (transmissão pelo vetor). No entanto, o contágio direto pelo contato com espécimes sanguíneos humanos contaminados (transfusão sanguínea ou mesmo transmissão congênita de mãe para feto) ou acidental (acidentes de laboratório) pode ocasionar a contaminação. Algumas maneiras pouco usuais, mas com possível incidência, são através de lesões em mucosas (transmissão oral) ou mesmo transplantes utilizando órgãos de pacientes contaminados. Profilaxia Algumas medidas profiláticas consistem na melhoria das habitações rurais, combate ao inseto vetor (inseto “barbeiro”). Para evitar contágio horizontal, é necessário maior controle dos doadores de sangue, acompanhamento pré-natal e medidas preventivas pessoais, como exames de sangue periódicos. diagnóstico » Fase aguda: podendo ser sintomática ou assintomática, sendo a segunda mais frequente. Ambas são relacionadas com o estado imunológico do paciente. A fase inicia-se por meio das manifestações locais, quando o T. cruzi penetra no tecido conjuntivo (sinal de Romaña) ou na cútis (chagoma de inoculação). As manifestações 30 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA gerais apresentam febre, edema localizado e generalizado, hepatoesplenomegalia, podendo causar insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas. O óbito é devido à meningoencefalite aguda, insuficiência cardíaca ou miocardite aguda difusa (uma das manifestações mais violentas que se tem notícia). » Fase crônica: forma indeterminada, podendo ser caracterizada por alguns parâmetros, entre eles: a positividade de exames parasitalógicos ou sorológicos, ausência de sintomas, eletrocardiograma convencional normal, coração, esôfago e cólon radiologicamente normais. Cerca de 50% dos pacientes chagásicos que passaram pela fase aguda pertencem a esta forma. » Fase crônica sintomática: apresenta cardiopatia chagásica crônica sintomática, insuficiência cardíaca, devido à diminuição da massa muscular, arritmias cardíacas, fenômenos tromboembôlicos, que podem provocar infartos no coração, rins, pulmões, baço e encéfalo. O diagnóstico pode ser dado de maneira: » Clínica: região de origem do paciente, presença dos sinais de entrada do parasito, acompanhados de febre intermitente, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema generalizado ou nos pés. As alterações cardiovasculares (reveladas pelo eletrocardiograma), do esôfago e do cólon (reveladas pelos raios-X) fazem suspeitar da fase crônica da doença. » Laboratorial: são utilizados métodos diferentes quando na fase aguda ou crônica. Na fase aguda, observa-se alta parasitemia, permitindo o uso de métodos diretos de busca do parasita. Na fase crônica, a parasitemia é pequena, fazendo-se necessário método imunológico. » Pesquisa do parasita: esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa, utilização de métodos de concentração, xenodiagnóstico, hemocultura. » Métodos sorológicos: reação de precipitação, reação de imunofluorescência indireta, reação de fixação do complemento (RFC), reação de hematoaglutinação indireta, ELISA (Ensaio Imunoenzimático), lise mediada pelo complemento, reação da polimerase em cadeia (PCR). tratamento Medicamentos utilizados na fase inicial aguda: a administração de fármacos como nifurtimox, alopurinol e benzonidazol podem curar completamente ou diminuir a probabilidade de atingir níveis crônicos em mais de 80% dos casos. A fase crônica é incurável, uma vez que os danos em órgãos como o coração e o sistema nervoso são irreversíveis. O tratamento paliativo é o mais utilizado nesse estágio. 31 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Algumas complicações associadas são: Cardiopatia Chagásica Crônica (CCC) é uma das principais complicações na doença de Chagas. Trata-se de uma inflamação com destruição progressiva do tecido cardíaco, levando a alterações dos impulsos elétricos no coração e, consequentemente, arritmias. Ocorre progressivo afinamento do músculo cardíaco, levando à dilatação das cavidades do coração, tendo como consequência a incapacidade de bombear adequadamente o sangue para o organismo, ou seja, um quadro de insuficiência cardíaca congestiva. Nos pacientes com CCC, o único caminho é o transplante cardíaco, procedimento dispendioso e inacessível à boa parte da população brasileira. Cerca de 5% a 8% dos infectados apresentam alterações no tubo digestivo (chamados megaesôfago e megacólon), ocorrendo alterações morfológicas e funcionais, como, por exemplo, a perda de coordenação motora (aperistelse, discinesia) no megaesôfago; e obstrução intestinal e perfuração para o megacólon. Compare as leishmanioses e o mal de Chagas com relação a vetores de transmissão, métodos de profilaxia, endemias e sintomas. Vídeo ilustrativo sobre a Doença de Chagas: <http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=RNdPLMgHImw>. MALÁriA Trata-se de uma das doenças parasitárias que causou maior dano, resultando na morte de milhões de pessoas nas regiões tropicais e subtropicaisdo globo. É uma doença infecciosa de forma aguda ou forma crônica que é causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium e transmitidos pela fêmea do mosquito do gênero Anopheles (Figura 13). A malária presente no Brasil é causada por três espécies de Plasmodium: P. vivax, causador da terçã benigna; P. falciparum, agente da terçã maligna e P. malariae, causador da quartã benigna. Figura 13. Da esquerda para direita, exemplos de: Plasmodium vivax infectando um macrófago humano; o inseto vetor, o mosquito do gênero Anopheles. (disponíveis em: <http://www.alunosonline.com.br/biologia/doencas-causadas-por-protozoarios-3.html>; <http://en.wikipedia. org/wiki/file:Anopheles_albimanus_mosquito.jpg>. Acesso em: 19 set. 2012) 32 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA É uma das doenças mais importantes para a humanidade, devido ao seu elevado impacto e despesas, sendo extremamente custoso para as populações dos países atingidos, principalmente na África. Existente, potencialmente, em todas as regiões do globo onde existam mosquitos do gênero Anopheles e humanos em quantidade suficiente, incluindo todas as regiões tropicais dos cinco continentes e muitas regiões subtropicais (Figura 14). A Amazônia é uma das áreas com maior incidência de malária no Brasil. Isto se deve a uma série de fatores, como: população dispersa, difícil de ser atingida por medidas profiláticas e assistenciais, migrações constantes dos habitantes, moradia inadequada para a aplicação de inseticidas, resistência do P. falciparum à cloroquina, além de possuir muitas zonas de ocupação humana sem controle, como garimpos clandestinos. Figura 14. Distribuição dos casos de malária no mundo (esquerda). Em destaque na cor escura, as regiões que não possuem a doença e, na cor clara, as áreas de risco, segundo dados da WHO (Organização Mundial da Saúde) de 2003. À direita, as regiões no Brasil de maior incidência da doença. (disponíveis em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro:malaria_geographic_distribution_2003.png>; <http://www.brasilturismo. com/doencas/malaria.php>. Acesso em: 19 set. 2012) Agente etiológico Plasmodium sp são os agentes causadores da Malária. A transmissão ocorre pelo contato direto através da picada da fêmea do mosquito Anopheles, o que acarreta transferência dos protozoários para corrente sistêmica do indivíduo ao realizar a hematofagia. O habitat do parasita varia conforme a fase do ciclo evolutivo do mesmo. Assim, no homem, existem formas parasitando os hepatócitos durante a fase pré-eritrocítica e formas parasitando hemácias na fase eritrocítica. No mosquito, encontram-se as formas parasitárias no estômago e glândulas salivares. 33 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Ciclo O organismo possui um ciclo de vida heteroxeno em que o ser humano é o hospedeiro intermediário e os mosquitos do gênero Anopheles são os hospedeiros definitivos (Figura 15). » No homem Divide-se em 2 fases: a fase exoeritrocítica, que consiste na fase do ciclo ocorrente nos hepatócitos antes de se desenvolver nos eritrócitos, também conhecida como ciclo pré-eritrocítico. A outra é a fase eritrocítica, que consiste na fase do ciclo que se passa nos eritrócitos. No homem, a reprodução é assexuada do tipo esquizogonia. Já no mosquito, a reprodução é sexuada do tipo esporogonia. O contágio se dá pela entrada de um indivíduo humano em uma zona malarígena e esse é picado por um mosquito fêmea do gênero Anopheles infectado, podendo inocular de 15 a 200 esporozoítos. Esses permanecem na corrente sanguínea por poucos minutos, menos de uma hora. Ao migrar para o fígado penetram em hepatócitos iniciando o ciclo tissular, em que se multiplicam completando a esquizogonia com a produção de milhares de merozoítos. Essa fase dura em média uma semana. Após esse período, hepatócitos contendo merozoítos sofrem lise e liberam milhares de merozoítos. O sistema imune consegue englobar algumas células parasitas e destruí-las, entretanto, as sobreviventes tomam duas direções: voltam para os hepatócitos e entram em um estado de dormência / em um novo ciclo esquizogônico ou iniciam o ciclo eritrocítico, ao invadir as hemácias. Na hemácia, o citoplasma se enche com um número variável de núcleos, dependendo da espécie. Cada núcleo independente se separa com uma porção de citoplasma, formando os merozoítos dentro dos glóbulos vermelhos, e ao conjunto denominamos rosácea ou merócito. Os intervalos podem variar de 36 a 72 horas. Durante a fase eritrocítica, alguns merozoítos adentram em hemácias jovens (ainda na medula óssea), diferenciando-se em gametócitos. É o início da reprodução sexuada ou esporogonia, que se completará no mosquito. Aparecem na corrente sistêmica em aproximadamente uma semana. A fêmea do mosquito Anopheles, ao se alimentar por hematofagia, ingere as formas sanguíneas do parasita, mas apenas os gametócitos conseguem evoluir no inseto. As outras degeneram e morrem. » No mosquito O gametócito feminino amadurece e se transforma em um macrogameta. O gametócito masculino passa por um processo de exflagelação e dá origem a vários microgametas, podendo se movimentar ativamente atrás de um macrogameta, dos 34 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA quais um deles penetra formando o ovo ou zigoto. Após 20 horas, o ovo se forma no sistema digestivo do mosquito e migra para a parede deste. Rompendo a parede da célula, invade toda a cavidade geral do inseto, chegando até as glândulas salivares. Quando o mosquito vai se alimentar por hematofagia novamente, inocula com a saliva os esporozoítos, que caem na corrente sanguínea e vão para o fígado, iniciando um novo ciclo. Figura 15. Ciclo de vida e contágio do Plasmodium sp na etapa de parasitismo humano e no inseto. (disponível em: <http://cievsrio.wordpress.com/2012/07/21/pesquisa-utiliza-bacteria-transgenica-para-interromper-cadeia-de- transmissao-da-malaria/>. Acesso em: 18 set. 2012) Profilaxia O controle da malária pode ocorrer atingindo diferentes pontos da cadeia epidemiológica: tratar o indivíduo acometido pela doença (eliminando a fonte de infecção ou reservatório), proteger o homem sadio (quimioprofilaxia, telar janelas, proteções individuais), combater o agente transmissor (fase larval ou adulta). Métodos de proteção podem ser individuais ou coletivas. diagnóstico a. Diagnóstico Clínico Fundamentado em anamnese, o tipo de acesso, a anemia e a esplenomegalia. Porém, para a identificação da espécie, há necessidade de exames de laboratório. 35 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II b. Diagnóstico Laboratorial A necessidade em identificar a espécie do parasita reside no fato de que a terapêutica é específica. Para isso, podem ser usados métodos parasitalógicos e imunológicos. Parasitalógicos: exame de sangue em esfregaços para evidenciar os parasitas. O diagnóstico é baseado na morfologia do plasmódio, no aspecto da hemácia e nos estágios encontrados no sangue. Os métodos de exame de sangue são: coloração com Giemsa, que ainda é considerado o “padrão ouro” dos testes diagnósticos de malária. Coloração com leishman usado para diagnóstico individual. Imunológicos: reação de imunofluorescência indireta e ELISA, para os quais já foram identificados vários antígenos altamente específicos, que conseguem inclusive separar as espécies de Plasmodium. tratamento Atualmente, o tratamento é feito usando a cloroquina, um derivado da quinina. Nos casos de plasmódios resistentes, pode-se utilizar a primaquina. Na malária, o tratamento dos doentes, e principalmente dos gametóforos, é um dos elos mais importantes do controle. No entanto, a maior parte são medidas paliativas. Descreva em detalhes o ciclo de contágio e da doença. Durante a descrição, proponha métodos profiláticose de tratamentos para a doença/contágio. A malária atinge principalmente regiões amazônicas no país. Milhares de pessoas já morreram acometidas por essa doença durante construções de estações avançadas, estradas, ferrovias entre outras coisas dentro da floresta. Supondo que você é um engenheiro mandando para supervisionar as obras em meio à Floresta Amazônica, quais seriam suas preocupações, medidas preventivas e cuidados com os trabalhadores que estão sob sua responsabilidade? triCoMonÍASE O Trichomonas vaginalis é um parasita anaérobio facultativo, possui um conjunto de quatro flagelos desiguais e uma estrutura denominada membrana ondulante. Essas estruturas dão mobilidade, e uma protuberância em estilete denominada axóstilo – uma estrutura rígida, formada por microtúbulos, que se projeta através do seu centro até sua extremidade posterior. Não possui mitocôndrias, mas apresenta grânulos densos (hidrogenossomos) que podem ser vistos à microscopia óptica. É o agente causador da triconomíase e existe em apenas uma única forma denominada trofozoíto, simultaneamente infecciosa e ativa (Figura 16). 36 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA Figura 16. À esquerda, Trichomonas vaginalis corado e visualização em microscópio óptico; à direita, visão geral da morfologia do parasita e aspectos da cavidade vaginal e regiões externas à região pubiana de um paciente feminino contaminado. (disponíveis em: <http://www.papodeestudante.com/2010/04/tricomoniase.html>; <http://tododiasaude.com/tricomoniase- dst-complicacoes-tratamento-e-prevencao/>. Acesso em: 19 set. 2012) O T. vaginalis é o mais frequente patógeno encontrado entre as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) (Figura 17). Estima-se que 180 milhões de mulheres no mundo se infectem anualmente, correspondendo a 1/3 de todas as vaginites diagnosticadas. O organismo, não possuindo forma de resistência cística, não é resistente à dessecação do local e a altas temperaturas. Figura 17. Ciclo de contágio do Trichomonas vaginalis na transmissão por contágio sexual. (disponível em: <http://www.papodeestudante.com/2010/04/tricomoniase.html>. Acesso em: 18 set. 2012) 37 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Agente etiológico São subdivididos de acordo com o organismo que parasitam: em humanos (Trichomonas vaginalis), suínos (Tritrichomonas suis), bovinos (Trichomonas foetus), aves (Trichomonas gallinae e Tetratrichomonas gallinarum). O ciclo dos organismos é monoxeno e não possui forma cística, somente a trofozoítica. Reprodução por divisão binária longitudinal. A transmissão acontece por relação sexual e pode sobreviver por período superior a um mês no prepúcio de um indivíduo masculino sadio após o coito com uma mulher infectada. O homem é o vetor da doença; com a ejaculação, os parasitas presentes na mucosa da uretra são levados à vagina pelo esperma. Ciclo Por meio de relações sexuais ou do uso de objetos, como toalhas, contaminados, o indivíduo tem contato com o parasita que sob a forma trofozoíta, instalando-se na mucosa vaginal ou na uretra peniana. Por cissiparidade o número de indivíduos prolifera e coloniza as regiões infectadas. Profilaxia As medidas profiláticas são, de certo modo, extremas, no entanto, aconselha-se a abstenção do ato sexual, uso de preservativos durante todo o intercurso sexual além de limitar o número de parceiros. Caso um dos parceiros esteja infectado, o bom senso de comunicar ao outro parceiro é fundamental, prevenindo assim a reinfecção e proliferação. diagnóstico Para a mulher varia da forma assintomática ao estado agudo. A infecção vaginal provoca a vaginite, caracterizada por um corrimento vaginal fluido de cor amarelo-esverdeada, de odor fétido, mais comumente no período pós-menstrual, podendo apresentar dor e dificuldade nas relações sexuais, desconforto nos genitais internos, dor ao urinar e frequência miccional. Para o homem é comumente assintomática. Para os casos de manifestações sintomáticas, apresenta como uma uretrite com fluxo leitoso ou purulento e uma leve sensação de prurido na uretra. a. Diagnóstico Clínico O diagnóstico diferencial da tricomoníase, tanto no homem como na mulher é difícil, sendo essencial o diagnóstico parasitalógico. 38 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA b. Diagnóstico Laboratorial através da coleta da amostra No homem: os pacientes devem comparecer no local pela manhã, sem terem urinado no dia e sem terem tomado nenhum medicamento tricomonicida há mais de 15 dias. O material uretral é colhido com uma alça de platina ou com swab de algodão não absorvente ou de poliéster. O organismo é mais encontrado no sêmen que na urina ou em esfregaços uretrais. Uma amostra fresca poderá ser obtida pela masturbação em um recipiente limpo e estéril. Também pode deve ser observado o sedimento centrifugado (600 g por 20 min.) dos primeiros 20 ml de urina matinal. Na mulher: a vagina é o local mais facilmente infectado, e os tricomonas são mais abundantes durante os primeiros dias após a menstruação. O material é normalmente coletado na vagina com um swab de algodão não absorvente ou de poliéster. O diagnóstico é feito através da observação do material coletado a fresco no microscópio ou em cultura de parasitas. Este é o mais prático e rápido método de diagnóstico, mas possui uma sensibilidade relativamente baixa. Para aumentar a sensibilidade das preparações a fresco, estas podem ser coradas, com safranina, verde-malaquita ou azul de metileno. As culturas de parasita são mais sensíveis, porém demoram de 3 a 7 dias para fornecer resultados. Os exames de Imunofluorescência indireta e ELISA são mais sensíveis e possuem maior significado em caso de pacientes assintomáticos. tratamento O tratamento é específico e eficiente, onde são utilizandos quimioterápicos de administração em dose oral única. Todos os parceiros sexuais devem ser simultaneamente tratados, de maneira a se evitar a reinfecção. Pelo menos até que se tenha a certeza de cura, os pacientes devem utilizar preservativos em todas as relações sexuais. A doença não confere imunidade permanente, podendo ocorrer a reinfecção. A resistência aos medicamentos é possível, porém é usualmente dose-dependente, bastando à administração de uma dose maior e/ou mais prolongada. Supondo que no carnaval de 1980 houve um surto repentino dessa doença e você é um prefeito de uma cidade muito afetada por esse surto. Quais seriam suas medidas com a população: a) contaminada e b) ainda saudável? 39 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II giArdÍASE Giardíase é a doença provocada pela infecção do intestino delgado pelo protozoário Giardia lamblia cuja infecção normalmente é assintomática. Entretanto, pode-se observar diarreia e má absorção intestinal de gorduras. Está presente em todo o mundo, mas afeta principalmente crianças em populações de nível socioeconômico inferior e em regiões de clima tropical ou subtropical (Figuras 18 e 19). Figura 18. Visualização em microscópio óptico e esquema ilustrativo das células e cisto da Giardia lamblia. (disponíveis em: <http://caminhosdabio.wordpress.com/2010/10/12/giardia-lamblia/>. Acesso em: 19 set. 2012) Figura 19. Ciclo de autocontágio (esquerda) e de contágio via animais domésticos da Giardia lamblia. (disponíveis em: <http://criatividadeeciencia.blogspot.com.br/2011/03/parte-1-revisao-para-o-simulado-2-no-em.html>; <http://www.policlinicaveterinaria.com.br/art_saude.asp?xcod=31>. Acesso em: 18 set. 2012) A giardíase é encontrada em todo o mundo; as crianças de até 10 a 12 anos constituem a faixa etária mais acometida. Tanto o clima (tropical ou subtropical) quanto às condições econômicas da 40 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA população parece estar envolvidas na proporçãode pessoas infectadas. Levantamentos realizados em países desenvolvidos têm encontrado a infecção em 2% a 5% das pessoas, enquanto a taxa em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos é de 20% a 30%. No Brasil, estudos indicam a infecção em 4% a 30% das pessoas. Em países desenvolvidos, parece haver três grupos de risco para o desenvolvimento de giardíase. O primeiro, pessoas que viajam para locais com maior prevalência da infecção; como a giardíase demora cerca de 9 dias para se manifestar, esses viajantes frequentemente apresentam os sintomas já no país de origem. Outros grupos de risco são as crianças que frequentam creches, e os casais que praticam sexo anal. Agente etiológico Agente único, Giardia lamblia. Apresenta morfologia em duas formas: cística e trofozoítica. Ciclo É um parasita monoxeno de ciclo biológico direto. A via de infecção normal para o homem é a ingestão de cistos. Após a ingestão do cisto, o desencistamento ocorre no meio ácido do estômago e é completado no duodeno e jejuno, onde ocorre a colonização do parasita. Este se reproduz por divisão binária longitudinal. O ciclo se completa com o encistamento do parasita e a sua eliminação nas fezes. Quando o trânsito intestinal está acelerado, é possível achar trofozoítos nas fezes. A ingestão de água sem tratamento ou deficientemente tratada (só com cloro), ingestão de alimentos contaminados, sendo que estes podem ser contaminados por moscas e baratas e contato direto pessoa a pessoa, por meio de mãos contaminadas são alguns meios de contágio. As práticas de sexo anal e contato com animais domésticos contaminados também são meios de contaminação (Figura 19). Profilaxia Como medidas pode-se orientar a melhor higiene pessoal, a melhor proteção dos alimentos e cuidado com o tratamento de água no momento de fervê-la. diagnóstico A maioria das infecções é assintomática. Os casos sintomáticos dependem de fatores ainda não completamente determinados e está relacionada com a cepa e o número de cistos ingeridos, deficiência imunitária do paciente e principalmente por baixa acidez no suco gástrico. A forma aguda apresenta-se como uma diarreia do tipo aquosa, explosiva, de odor fétido, acompanhada de gases, com distensão e dores abdominais. Costuma durar poucos dias e seus sintomas iniciais podem ser confundidos com diarreias virais e bacterianas. 41 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II a. Diagnóstico Clínico Diarreia com esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas e vômitos, perda de apetite e dor abdominal. Apesar de estes sintomas serem bastante característicos, é conveniente a comprovação por exames laboratoriais. b. Diagnóstico Laboratorial através da coleta da amostra Deve-se fazer exame de fezes nos pacientes para identificação. Em fezes formadas: os métodos de escolha são os de concentração: método de Faust ou de MIFC. Em fezes diarreicas: usar o método direto (com salina ou lugol) ou o método da hematoxilina férrica. O diagnóstico da giardíase apresenta dificuldades devido ao fato de que pacientes infectados não eliminam cistos continuamente. Para contornar tal situação, recomenda-se fazer o exame de três amostras fecais em dias alternados. Caso ainda não se encontrem cistos, recomenda-se o exame do fluído duodenal e biópsia jejunal, obtidas por meio de tubagem duodenal. Os métodos imunológicos ainda carecem de padronização e são usados somente em levantamentos epidemiológicos. Os exames de imunofluorescência indireta e ELISA são mais sensíveis e possuem maior significado em caso de pacientes assintomáticos. Para conhecer melhor o Método de Faust: <http://www.youtube.com/watch?v=4_ChZy8N3w0>. tratamento O medicamento mais utilizado é o metronidazol com eficiência entre 70% – 100%. Outras opções, com eficácia similar, são secnidadzol, tinidazol ou albendazol. Furazolidona, nitazoxanida e quinacrina são raramente utilizadas. Diferencie um paciente com Giardíase de outro com Tricomoníase. Quais as semelhanças e diferenças entre essas duas doenças infecciosas? 42 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA AMEBÍASE A causa da amebíase é pela infecção de protozoário (Entamoeba histolytica), podendo se beneficiar de seu hospedeiro sem causar benefício ou prejuízo ou, ainda, agir de forma invasora (Figura 20). Neste caso, a doença se manifesta dentro do intestino ou fora dele. Os principais sintomas são desconforto abdominal, sangue nas fezes, forte diarreia acompanhada de sangue ou mucoide, além de febre e calafrios. Nos casos mais abrasivos, a forma trofozoítica do protozoário pode se espalhar pelo sistema circulatório, afetando o fígado, pulmões ou cérebro. O diagnóstico breve nestes casos é fundamental, uma vez que, este quadro clínico, pode levar o paciente ao óbito. Figura 20. Visualização em microscópio óptico das células de Entamoeba histolytica. (disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ameba/amebiase-8.php>. Acesso em: 19 set. 2012) Segundo a OMS, 50 milhões de novas infecções por ano e aproximadamente 70 mil óbitos. A disenteria amébica é mais prevalente nos países tropicais, podendo ocorrer nas zonas temperadas. Na África, Ásia tropical e América Latina, mais de dois terços da população terá estes parasitas intestinais, apesar de a maioria das infecções ser praticamente assintomática. A falta de condições higiênicas adequadas é a responsável por sua disseminação. No Brasil, estima- se que a prevalência média de contágio, sintomática ou não, é de aproximadamente ¼ da população. Agente etiológico Dentro da família Entamoebida, são quatro as espécies que podem habitar o corpo humano. Entre essas, destacam-se a Entamoeba histolytica e a Entamoeba coli como as principais de infecções em humanos. Ambas apresentam duas formas: a forma de resistência, que também é a forma infectante, chamada cisto (esféricos ou ovais, possuindo quatro núcleos) e a forma reprodutiva, ou trofozoítica, que geralmente possui um só núcleo, bem nítido nas formas coradas e pouco visível nas formas vivas. 43 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Ciclo A E. histolytica é um parasita monoxeno de ciclo biológico direto. A via de infecção normal para o homem é a ingestão de cistos. Após a ingestão, o desencistamento ocorre no meio ácido do estômago e é completado no duodeno e jejuno, onde ocorre a colonização do parasita. Este se reproduz por divisão binária longitudinal. O ciclo completa-se com o encistamento do parasita e a sua eliminação nas fezes. Quando o trânsito intestinal está acelerado, é possível achar trofozoítos nas fezes (Figura 21). Figura 21. Ciclo de autocontágio da Entamoeba histolytica. (disponível em: <http://parasitologiablog.blogspot.com.br/2011/02/representacao-da-amebiase-intestinal-e.html>. Acesso em: 20 set. 2012) Profilaxia As principais medidas profilaxias consistem na melhoria do saneamento básico e educação sanitária. A melhor cultura ao lavar os alimentos com substâncias amebicidas (permanganato de potássio, iodo). diagnóstico a. Diagnóstico Clínico Difícil de ser feito, por apresentar sintomatologia comum a várias doenças intestinais. No trato hepático, além da dor, febre e esplenomegalia, pode-se fazer o diagnóstico por meio de raios-x, cintilografia, ultrassonografia e tomografia computadorizada. b. Diagnóstico Laboratorial através da coleta da amostra Exame de fezes, procurando por cistos ou trofozoítos. O exame do aspecto e da consistência das fezes é muito importante, principalmente se ela é desintérica e 44 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA contém muco e sangue. Deve ser fresco tão logo ela seja emitida, no máximo 20 a 30 minutos após, pois tem o objetivo de encontrar trofozoítos. Como a emissão de cistos e trofozoítos não é constante, recomenda-sevários exames em dias alternados. O diagnóstico sorológico pode ser realizado por ELISA, hemaglutinação direta, reação de imunofluorescência indireta. tratamento Usualmente, é prescrito metronidazol, iodoquinol, paramomicina ou furoato de diloxanida e, em alguns casos, dehidroemetina. Casos de danos hepáticos de maneira avançada poderão necessitar de intervenção cirúrgica. O contato com amebas pode ocorrer de maneiras simples, diretas ou mesmo indiretas e extremamente frequentes. Descreva, em detalhes, o que pode levar um paciente a manifestar amebíase e outro, que esteve sujeito exatamente às mesmas condições, não. toXoPLASMoSE A toxoplasmose é uma protozoonose de distribuição mundial. Doença infecciosa, congênita ou adquirida, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, ocorrente em animais de estimação ou de produção o que inclui suínos, caprinos, aves, animais silvestres, gatos e a maioria dos vertebrados terrestres homeotérmicos. Pode acarretar em abortos e/ou nascimento de fetos que apresentam má-formação (Figura 22). Figura 22. À esquerda, visualização em microscópio óptico das células de Toxoplasma gondii. e corte histológico de tecido contendo bradizoíto. À direita, lesões no globo ocular de pacientes acometidos pela toxoplasmose. (disponíveis em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Toxoplasmose>; <http://www.ufrgs.br/para-site/siteantigo/Imagensatlas/Protozoa/ Toxoplasma.htm>; <http://www.axeopoajagunna.jex.com.br/saude/toxoplasmose>. Acesso em: 19 set. 2012) 45 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Existente em todo o globo, onde mais de metade da população tem anticorpos específicos contra o parasita, o que significa que está ou já esteve infectada (o que não denota que tenha tido a sintomatologia da doença, pode ter tido apenas a infecção assintomática). O ser humano é infectado após ingerir oocistos expelidos com as fezes por gatos infectados, ou ao se alimentar com carnes que apresentaram mal cozimento de um animal que tenha ingerido o parasita de fezes de felídeos. Levando em consideração, também, que o modo de contaminação mais comum é ingerindo carne mal cozida e contaminada, é importante que as mulheres grávidas façam o exame que detecta se elas são imunes à toxoplasmose durante os exames pré-natal. Agente etiológico O Toxoplasma gondii é um protozoário de distribuição geográfica mundial, com alta prevalência sorológica, atingindo 60% da população em determinados países. A doença é considerada como uma zoonose e atinge quase todas as espécies de mamíferos e aves. Os felinos são os hospedeiros definitivos. O parasita apresenta distintas formas durante as etapas da vida: Taquizoíto, forma encontrada na fase aguda da infecção, sendo denominada também forma proliferativa, forma livre ou trofozoítica. É uma forma móvel, de multiplicação rápida, por endodiogenia. São pouco resistentes à ação do suco gástrico, no qual são rapidamente destruídos. O Bradizoíto, forma localizada nos tecidos (musculares esquelético e cardíaco, nervoso e retina), geralmente é encontrado durante a fase crônica da infecção. Tem multiplicação lenta dentro do cisto por endodiogenia ou endopoliginia. A parede do cisto é resistente e elástica, isolando os bradizoítos da ação do sistema imune do hospedeiro. Estes são mais resistentes à passagem pelo estômago que os taquizoítos e podem permanecer viáveis por vários anos nos tecidos. Por fim, os oocistos são formas de resistência que possui uma parede dupla bastante resistente às condições do meio ambiente. São produzidos nas células intestinais dos felinos não imunes e são eliminados ainda imaturos junto com as fezes. Após a esporulação no meio ambiente, cada oocisto contém dois esporocistos, cada um com quatro esporozoítos. Ciclo O ciclo possui duas fases distintas, a fase assexuada, nos tecidos de vários hospedeiros, e a fase sexuada, nas células do epitélio intestinal de jovens felinos. Durante a fase assexuada, o hospedeiro susceptível (mamíferos e aves) ingere oocistos maduros ou tecidos contendo cistos com bradizoítos. Os taquizoítos são destruídos pelo suco gástrico, mas se penetrarem na mucosa oral poderão evoluir como os oocistos e os bradizoítos. Os esporozoítos e bradizoítos transformam-se em taquizoítos dentro das células intestinais. Após esta rápida passagem pelo epitélio intestinal, os taquizoítos vão invadir vários tipos de células do corpo, formando um vacúolo parasitário, onde se multiplicarão intensamente por endodiogenia (Figura 23), formando novos taquizoítos (fase proliferativa), que irão romper a célula e invadir novas células. Essa disseminação no organismo ocorre através de taquizoítos livres, na linfa e na corrente 46 UNIDADE II │ PARASITOLOGIA HUMANA sanguínea pode acarretar um quadro polissintomático, de gravidade variável, levando possivelmente o indivíduo à morte. Com o aparecimento da imunidade, os parasitas extracelulares desaparecem do sangue e há uma diminuição da multiplicação intracelular. Os parasitas resistentes evoluem para a produção de cistos. Esta fase cística, juntamente com a diminuição dos sintomas, caracteriza a fase crônica, podendo durar por muito tempo. Por mecanismos ainda não totalmente esclarecidos (diminuição da imunidade, alteração hormonal etc.), poderá haver reagudização, com sintomatologia semelhante à primoinfecção. Já durante a fase sexuada, somente nas células epiteliais do intestino de gatos e outros felinos jovens (não imunes). São por isso considerados hospedeiros definitivos. Assim, o gato não imune se infecta ingerindo oocistos, taquizoítos ou cistos tissulares (quem sabe comendo um rato), desenvolvendo o ciclo sexuado. Os esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos, ao penetrarem no epitélio intestinal do gato sofrerão um processo de multiplicação por endodiogenia e merogonia, dando origem a vários merozoítos. Alguns merozoítos penetrarão em novas células epiteliais e se transformarão nas formas sexuadas masculinas e femininas: os gametócitos. Após um processo de maturação, transformam-se no gameta masculino móvel (microgameta) e no feminino, imóvel (macrogameta). O macrogameta permanece dentro da célula epitelial enquanto os microgametas irão sair da sua célula e fecundar o macrogameta, formando o ovo ou zigoto. Este evoluirá dentro do epitélio, formando uma parede externa dupla, resistente, dando origem ao oocisto. A célula epitelial se rompe e os oocistos são liberados na luz do intestino e levados ao meio ambiente pelas fezes. Em um período de quatro dias, ficará maduro com dois esporocistos com quatro esporozoítos cada. O felino é capaz de eliminar oocistos por um mês, aproximadamente. O oocisto, em boas condições de umidade e temperatura e em local sombreado, é capaz de se manter infectante por cerca de 12 a 18 meses. Figura 23. Ciclo de contágio da Toxoplasma gondii. (disponível em: <http://launelle.blog.uol.com.br/>. Acesso em: 20 set. 2012) 47 PARASITOLOGIA HUMANA │ UNIDADE II Profilaxia Gestantes devem evitar o contato com excrementos de gatos, pois estes podem conter cistos. Além disso, não se deve ingerir água de origem desconhecida, sem estar fervida, nem carne crua ou mal cozida durante a gravidez. No caso dos gatos, é aconselhável lavar as caixas dos excrementos com água fervente e nunca tocá-las por mãos sem luvas. diagnóstico O homem adquire a doença por três vias principais: a ingestão de oocistos presentes em jardins, caixas de areia, latas de lixo ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, minhocas etc.; por meio da ingestão de cistos tissulares encontrados nas carnes crua ou mal cozida, especialmente nas de porco e de carneiro (o congelamento a 0° C e o cozimento acima de 60° C matam os cistos na carne); a outra, por contágio e congênita ou transplacentária
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