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DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 1 maicolcoelho@gmail.com EDITAL DO CONCURSO DE SOLDADO PMDF. DIREITO PENAL MILITAR: 1- Aplicação da lei penal militar. 2- Do Crime. 3- da imputabilidade Penal. 4 Concurso de agentes. 5 Das penas principais. 6 Das Penas acessórias. 7 Efeitos da condenação. 8 Ação penal. 9 Extinção da punibilidade. 10 Dos crimes militares em tempo de paz. Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar. Dos crimes contra o serviço e o dever militar. Dos crimes contra a Administração Militar. NOÇÕES DE DIREITO PENAL MILITAR 1- Fórmula para descobrir o crime militar: Olá? Tudo bem? Tenho certeza que os senhores e senhoras vão se apaixonar por essa disciplina que é muito fácil e empolgante e se parece muito com o direito penal e processo penal comum. Vamos estudar essas disciplinas de uma forma simples, pois sabemos que o direito guarda muitos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, assim, vamos buscar ser o mais objetivo possível e somente em alguns casos vamos mencionar a divergência doutrinária e jurisprudencial. Antes de começar a tratar sobre o aspecto legal, presente no código penal militar e no código de processo penal militar, vale a pena ressaltar a existência de uma fórmula, idealizada pelo doutrinador e estudioso Cícero Robson, para descobrir o crime militar, onde depois de obter a resposta às três perguntas que são feitas ao fato, e sendo essas respostas, 1) sim, 2) sim e 3) sim, o fato será considerado como crime militar, mas se tiver um não o fato não será considerado como crime militar. Quem é o Cícero Robson? Cícero Robson Coimbra Neves é um doutrinador do Estado de São Paulo que já foi capitão da Polícia Militar do Estado de São Paulo e atualmente é Promotor de Justiça do estado do Paraná. Agora meus alunos, vamos às perguntas da fórmula: Pergunta 01: O fato está previsto como crime no Código Penal Militar? Pergunta 02: O fato está previsto no artigo 9º do Código Penal Militar, se o crime foi praticado em tempo de paz, ou no artigo 10 do Código Penal Militar, se o crime foi praticado em tempo de guerra? Pergunta 03: O autor do fato pode ser julgado pela justiça militar estadual ou justiça militar federal. Observação: Depois de ter a resposta às 03 perguntas da fórmula, deve ser feita a análise do artigo 9º, parágrafo único, do código penal militar, exceção, em que o fato deixa de ser considerado como crime militar, vide código anexo. Espero que com essa análise geral e rápida, os senhores estejam empolgados para o próximo passo, que será o estudo da 1ª pergunta. 2) Estudo da primeira pergunta: “O fato está previsto como crime no código penal militar?” De acordo com a Constituição Federal de 1988, artigo 124, “Compete à justiça militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei”. A Constituição Federal recepcionou o código penal militar de 1969. Assim, a lei que a Constituição Federal de 1988 se refere é o código penal militar. O crime militar é previsto no código penal militar, decreto-lei 1.001 de 1.969. O código penal militar se divide em parte geral e parte especial. A parte geral trata sobre assuntos como o conceito de superior, conceito de militar, o crime doloso e culposo, sobre os crimes praticados em tempo de paz, crimes praticados em tempo de guerra, tempo do crime, lugar do crime, entre outros assuntos. O critério adotado no código penal militar para a caracterização do crime militar, como regra geral, foi o critério em razão da lei, ratione legis, assim considera-se crime militar os fatos que estiverem definidos no código penal militar. Então, não foram adotados pelo direito penal militar brasileiro, como regra, os critérios: a) Em razão da pessoa, “ratione persona”; b) Em razão da matéria, “ratione materie”; c) Em razão do lugar, “ratione loci”; Observação: Vale Ressaltar que depois que o crime militar se encontra definido no código penal militar, adequando-se a regra do critério “ratione legis”, o código penal militar pode adotar como, exceção, para a caracterização do crime militar, o critério em razão da pessoa, exemplo, Art. 9º inciso II, alínea “a”, do CPM, como também pode adotar como exceção o critério em razão do lugar, art. 9º inciso II, alínea “b”, como também o critério em razão da matéria, art. 9º inciso III, do código penal militar. Exemplo: Um PM de ativa subtrai um aparelho celular do seu amigo, que é PM da ativa. 1) ”Ratione Legis”: O crime de furto está previsto no código penal castrense. E depois: 2) ”Ratione persona”: Está previsto na lei essa possibilidade do crime militar, quando cometido por Militar da ativa contra militar da ativa, artigo 9º, inciso II alínea “a”. DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 2 Meus alunos, para entender a primeira pergunta é importante uma rápida visualização do código penal militar, especificamente na parte especial do código, dos crimes militares em tempo de paz, dos artigos 136 ao 354. Não será tema do nosso estudo os crimes militares em tempo de guerra. Vale a pena ressaltar alguns fatos que não estão previstos no código penal militar, portanto não poderão ser considerados como crime militar. As seguintes condutas não são crimes militares, pois não estão previstas no código penal militar: Abuso de autoridade, só está definido na lei 4.898 de 1965: Exemplo: Se um policial militar, de serviço, praticar um abuso de autoridade, limitando o direito de ir e vir de uma pessoa, sem autorização legal, não será considerado como crime militar de abuso de autoridade, porque não tem previsão no código penal militar. Tortura, só está definida na lei 9.457 de 1997. Se um policial militar, de serviço, constranger alguém mediante violência, com intuito de obter uma confissão sobre ocorrido, não será caracterizado como crime militar, porque não está previsto no código penal militar. Crime de disparo de arma de fogo em via pública, ou qualquer crime do estatuto do desarmamento, só estão definidos na lei 10.826 de 2.003. Exemplo: Se um policial militar dentro do quartel disparar sua arma de fogo para o alto, o fato apesar de ser praticado por militar de serviço, dentro do quartel, com armamento militar, não será crime militar, porque a conduta não tem previsão no código penal militar. Crimes ambientais, estão definidos na lei ambiental, lei 9.605 de 1998. Se um PM, dentro do quartel, matar o melhor cavalo do regimento de polícia militar montada, não será considerado como crime militar, porque não tem definição no código penal militar. Aborto, só está definido no código penal comum. Exemplo: Se uma policial militar feminina com auxílio de um tenente policial militar, médico, em concurso de pessoas, realizar um aborto em local sujeito à administração militar, o fato não será considerado como crime militar, porque não existe previsão no código penal militar, mas será o fato definido como crime comum. Infanticídio, só está definido no código penal comum. Assédio sexual, só está definido no código penal comum. Exemplo: Se o policial militar Setembrino constranger a policial militar feminina a sair com ele para um motel, sob pena de caso não aceite, prejudicá-la funcionalmente, assim o fato não será considerado como crime militar, porque não tem previsão no C.P.M. Contravenções penais, estão definidas na L.C.P (Leis de Contravenções Penais), decreto-lei 3.688 de 1941e outras leis. Exemplos: Policial Militar que faz apontamentos do jogo do bicho com outros Pms, dentro do quartel, não será crime militar, mas contravenção penal. Todas às vezes que os senhores se depararem com um fato, e tiver dúvida em saber se o crime é militar ou comum, o primeiro passo é saber se a conduta está definida no código penal militar. Exemplo 1: Policial Militar, em local sujeito a administração militar, quartel, dispara sua arma de fogo para o alto. Analisando a 1ª pergunta da fórmula, observa-se que essa conduta não está definida no código penal militar, portanto, simplesmente, o fato não é crime militar, mas sim crime comum, pois tem definição no Estatuto do desarmamento. Exemplo 2: Policial Militar ameaça, verbalmente, outro policial militar. Analisando a 1ª pergunta da fórmula, observa-se que essa conduta está definida no código penal militar, art. 223, crime militar de ameaça, vide códex, portanto, pode ser que o fato seja considerado como crime militar, falta somente analisar a 2ª e 3ª pergunta da fórmula, e se a resposta for sim, sim e sim o fato será considerado como crime militar. Para saber se o fato é crime militar, precisamos estudar as outras perguntas da fórmula. Exemplo 3: Policial militar de serviço, dolosamente, mediante violência, dá tapa na mão de um civil que estava filmando a abordagem policial com um aparelho celular, vindo ao chão o aparelho. Analisando a 1ª pergunta da fórmula, observa-se que essa conduta está definida no código penal militar, art. 222, vide códex, crime militar de constrangimento ilegal, portanto, pode ser que o fato seja considerado como crime militar, falta somente analisar a 2ª e 3ª pergunta da fórmula, e se a resposta for sim, sim e sim o fato será considerado como crime militar. Para saber se o fato é crime militar, precisamos estudar as outras perguntas da fórmula. Exercícios: 1) Policial militar, da ativa, vendeu sua arma particular, revólver calibre .38, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para outro policial militar, da ativa, pode-se afirmar que eles cometeram o crime militar de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 3 a) ( ) certa b) ( ) errada 2) Os crimes militares estão definidos no código penal militar. a) ( ) certa b) ( ) errada 3) Todo crime que for cometido por militar, mesmo sem ter previsão no código penal militar, será considerado como crime militar, pelo critério em razão da pessoa, ratione persone. a) ( ) certa b) ( ) errada 4) Todo crime que for cometido em local sujeito à administração militar será considerado como crime militar, em razão do critério do lugar, ratione loci. a) ( ) certa b) ( ) errada 5) Todo crime que envolver assunto militar será considerado como crime militar, em razão da matéria, ratione materie. a) ( ) certa b) ( ) errada 6) Os crimes militares estão definidos no código penal comum e também em outras leis como os regulamentos disciplinares. a) ( ) certa b) ( ) errada 7) O código penal militar não é a única lei que trata sobre os crimes militares, pois o código penal comum também define crime militar. a) ( ) certa b) ( ) errada 8) Os delitos previstos no CPM, praticados entre militares e contra superior, exigem o conhecimento da condição de superior por parte do subordinado. Nesse caso o sujeito ativo deve manifestar o dolo de atuar contra a autoridade militar, portanto, a necessidade de conhecer que a vítima é seu superior hierárquico. 3) Estudo da 2ª Pergunta da Fórmula: “O fato está enquadrado em algumas das hipóteses do artigo 9º, do Código Penal Militar ? O artigo 9º do código penal militar trata sobre os crimes militares em tempo de paz e é um dos principais artigos do código penal militar, uma vez que traz quais as hipóteses de incidência ou de enquadramento do crime militar praticado em tempo de paz. O artigo 9º divide-se em 03 (três) incisos e um parágrafo: Art. 9º, Crimes militares em tempo de paz: Art. 9º, Inciso I: Crimes militares previstos somente no C.P.M ou previstos de forma diversa na legislação penal comum. Art. 9º, Inciso II: Hipóteses dos crimes militares previstos no C.P.M e na Leg. Penal comum. Art. 9º, Inciso III: Hipóteses dos crimes militares cometidos pelo militar Inativo e pelo civil, contra as instituições militares federais. Art. 9º, Parágrafo único: Exceção que não configura crime militar, quando o autor militar praticar um crime doloso contra à vida de civil. Vamos lá senhores! Estudar o Artigo 9º, do código penal militar. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; Comentário: veja que o código penal militar define o crime militar, quando diz: “considera-se crime militar.” Logo, vem o inciso I, trazendo as hipóteses de incidência, vejamos: A) O inciso I, do artigo 9º, primeira parte: Trata de crimes militares que estão definidos no código penal militar e têm correspondente na legislação penal comum, porém definidos de modo diferente, no que tange a natureza da conduta: CÓDIGO PENAL MILITAR CÓDIGO PENAL COMUM Crime militar de desacato a militar, art. 299. “Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela”. Pena: detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime. Previsão no código penal do crime de desacato, art. 331. “Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Pena: Detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Crime militar de omissão de socorro, art. 201. Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem justa causa, navio de guerra mercante, nacional ou estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos que hajam pedido socorro: Pena: Suspensão do exercício do posto, de um a três anos ou reforma. Previsão no código penal do crime de omissão de socorro art. 135. Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê- lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena: Detenção, de um a seis meses, ou multa. Importante ressaltar que a natureza do crime é diferente, apesar de possuírem semelhanças, no nome jurídico da conduta criminosa. O inciso I, do artigo 9º, segunda parte, trata de crimes militares que estão definidos no código penal militar e não têm correspondente na legislação penal comum: CÓDIGO PENAL MILITAR CÓDIGO PENAL COMUM Crime militar de motim, art. 149. Não existe previsão no código penal. Crime militar de desrespeito a superior, art. 160. Não existe previsão no código penal. Crime militar de abandono de posto, art. 195. Não existe previsão no código penal. Crime militar de deserção, art. 187. Não existe previsão no código penal. Crime militar de embriaguez em serviço, art. 202. Não existe previsão no código penal. Crime militar de Recusa de obediência, art. 163. Não existe previsão no código penal. Crime militar de descumprimento de missão, Não existe previsão no código penal. DIREITO PENAL MILITARProfº MAICOL COELHO LOURENÇO 4 art. 196. Crime militar de violência contra superior, art. 157. Não existe previsão no código penal. Crime militar de furto de uso, art. 241. Não existe previsão no código penal. A identificação desse crime militar é mais simples e de fácil constatação, uma vez que não gera dúvida ao intérprete, por não existir figura semelhante na legislação penal comum, ausente o conflito aparente de normas. O artigo 9º, inciso II, do código penal militar, trata sobre crimes que estão previstos nas duas legislações: Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II- os crimes previstos neste código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: CÓDIGO PENAL MILITAR CÓDIGO PENAL COMUM Homicídio, art. 205. Homicídio, art. 121. Furto simples, art. 240. Furto simples, art. 155. Ameaça, art. 223. Ameaça, art. 147. Calúnia, art. 214. Calúnia, art. 138. Lesão corporal, art. 209. Lesão corporal, art. 129. Difamação, art. 215. Difamação, art. 139. Injúria, art. 216. Injúria, art. 140. Constrangimento ilegal, art. 222. Constrangimento ilegal, art. 146. Roubo, art. 242. Roubo, art. 157. Apropriação indébita simples, art. 248. Apropriação indébita simples, art. 168. Estelionato, art. 251. Estelionato, art. 171. Extorsão mediante sequestro, art. 244. Extorsão mediante sequestro, art. 159. Ao se deparar com uma situação de crime que tem definição na legislação penal comum e no código penal militar, o intérprete tem dúvida em qual enquadramento ser o mais correto. Esse fato denomina-se no direito penal e penal militar, como conflito aparente de normas: O Conflito aparente de normas penais ocorre quando há duas ou mais normas incriminadoras descrevendo o mesmo fato. Sendo assim, existe o conflito, pois mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, porque, apenas uma norma é aplicada à hipótese. Existem princípios para solucionar esse conflito e evitar o “bis in idem”, e o que nós vamos usar para solucionar esse conflito aparente de normas será o princípio da especialidade, que traz que a norma especial deverá prevalecer sobre a geral. Para identificar se o crime é militar ou crime comum, de acordo com o princípio da especialidade, o fato será considerado um crime militar, quando a conduta se enquadrar em uma das situações elencadas nas alíneas que se seguem: CPM = CP. COMUM É necessário que o delito comum aos dois códigos se enquadre em uma das situações que se seguem, para que seja caracterizado o crime militar. Esse dispositivo busca evitar um conflito aparente de normas, esclarecendo qual o diploma legal que deve ser aplicado no caso concreto. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II- os crimes previstos neste código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: 1ª POSSIBILIDADE DO CRIME MILITAR, PREVISTO NO C.P.M E NA LEGISLAÇÃO PENAL COMUM: Art. 9º Inciso II, alínea a: “Por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado”; NOTA: O termo assemelhado não tem mais validade, pois não foi recepcionado pela constituição federal de 1988. Sujeito Ativo X Sujeito Passivo Militar da Ativa X Militar da Ativa SÓ vale para militares da mesma esfera, ainda que de Estados diferentes. Sujeito Ativo X Sujeito Passivo MILITAR ESTADUAL X MILITAR ESTADUAL MILITAR FEDERAL X MILITAR FEDERAL Exemplo 1: Policial militar, da ativa, mata outro policial militar, da ativa, após uma discussão dentro do quartel. Exemplo 2: Policial militar, da ativa, subtrai um aparelho celular do colega policial militar da ativa. Exemplo 3: Policial militar do Goiás, da ativa, pratica uma lesão corporal em policial militar da PMDF, da ativa, após uma discussão, em clube da cidade de Caldas Novas. Exemplo 4: Policial militar, da ativa, pratica crime militar de calúnia contra policial militar, da ativa, através da rede Whatsap, em grupo do aplicativo, da turma de soldado. Observação: Nessa hipótese, não é necessária que o crime ocorra em local sujeito à administração militar, exemplo, quartel. Observação: De acordo com o código penal militar, não é necessário que o militar tenha conhecimento prévio da condição do outro ser militar, esse também é o entendimento da maioria dos tribunais da justiça militar, como também do STM, Superior Tribunal Militar, porém o Supremo Tribunal Federal, tem precedentes em que entende que para existência do crime militar que esteja nas duas legislações é necessário o conhecimento prévio ou anterior da condição de militar do outro militar da ativa, no caso do art. 9º inciso II, alínea “a” do C.P.M. Exemplo dessa decisão que só gera efeito entre as partes, ou seja, “inter partes”, porém é um precedente. Julgado de Habeas Corpus, HC 99.541 do Rio de Janeiro, STF: “Lesão corporal grave (C.P.M, art. 209 § 1º) Crime praticado por militar contra militar em DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 5 contexto em que os envolvidos não conheciam a situação funcional de cada qual. Não estavam uniformizados e dirigiam carros descaracterizados, hipótese que não se enquadra na competência da Justiça Militar, definida no artigo 9º, inciso II, alínea “a” do código Penal Militar. Observação importante: Em relação ao artigo 9º, inciso II, alínea “a”, o militar da ativa Estadual em relação ao militar federal, de acordo com entendimento jurisprudencial, um vai ser considerado civil para o outro, exceto quando estiverem trabalhando em força conjunta. AUTOR X VÍTIMA MILITAR ESTADUAL (PM OU BM) X MILITAR FEDERAL ( Forças Armadas). O AUTOR PERMANECE MILITAR X A VÍTIMA SE TRANSFORMA EM CIVIL Para efeito de aplicação da lei penal militar. E VICE-VERSA. AUTOR X VÍTIMA MILITAR FEDERAL ( Forças Armadas) X MILITAR ESTADUAL (PM OU BM) O AUTOR PERMANECE MILITAR X A VÍTIMA SE TRANSFORMA EM CIVIL Para efeito de aplicação da lei penal militar. Exemplo1: Policial Militar, da ativa, pratica uma lesão corporal em militar do Exército, da ativa. Nesse caso, a vítima, militar federal será considerada como se fosse civil em relação ao policial militar, daí nesse caso não existe crime militar de lesão corporal, pois inexiste enquadramento no art. 9º, inciso II, alínea “a”. Meus queridos alunos, muito Cuidado! Não pode afirmar que não existe crime militar entre militares estaduais e militares federais, pois, veremos mais a frente que existe hipótese do crime militar cometido por militar contra civil, nas hipóteses a seguir. 2ª POSSIBILIDADE DO CRIME MILITAR, PREVISTO NO C.P.M E NA LEGISLAÇÃO PENAL COMUM, art. 9º inciso II, alínea, “b”: b) Por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; AUTOR X VÍTIMA MILITAR DA ATIVA X MILITAR DA RESERVA, REFORMADO OU CIVIL Local sujeito à administração militar: Exemplo, quartel. Exemplo1: Policial militar, da ativa, de folga no quartel, discutiu com funcionário civil da limpeza e o ameaçou de morte. Nesse caso está presente o enquadramento do crime de ameaça, previsto no código penal militar, e o enquadramento do art. 9º inciso II, alínea ‘b”, das hipótese de incidência do art. 9º.3ª POSSIBILIDADE DO CRIME MILITAR, PREVISTO NO C.P.M E NA LEGISLAÇÃO PENAL COMUM, art. 9º inciso II, alínea, “c”: c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; AUTOR X VÍTIMA MILITAR DE SERVIÇO OU AGINDO EM RAZÃO DA FUNÇÃO X MILITAR DA RESERVA, REFORMADO OU CIVIL Nesse caso por se encontrar em serviço ou atuando em razão da função não exige à lei penal militar que o autor do delito esteja em local sujeito à administração militar. Exemplo 1: Policial militar de serviço ameaça de morte um civil. Exemplo 2: Policial Militar de serviço pratica injuria contra abordado no momento da abordagem. Exemplo 3: Policial militar de folga, mas agindo em razão da função, interfere em ocorrência policial e acaba exagerando nos meios empregados, praticando um constrangimento ilegal contra civil. 4ª POSSIBILIDADE DO CRIME MILITAR, PREVISTO NO C.P.M E NA LEGISLAÇÃO PENAL COMUM, art. 9º inciso II, alínea, “d”: d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; AUTOR X VÍTIMA MILITAR EM PERÍODO DE MANOBRAS E EM EXERCÍCIO X MILITAR DA RESERVA, REFORMADO OU CIVIL OBS: Essa possibilidade está contida na 3ª, pois o militar em período de manobras e em exercício está de serviço. Exemplo 1: Policial militar em treinamento da tocha olímpica pratica furto contra um militar da pm da inativa. 5ª POSSIBILIDADE DO CRIME MILITAR, PREVISTO NO C.P.M E NA LEGISLAÇÃO PENAL COMUM, art. 9º inciso II, alínea, “e”: e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; AUTOR X SUJEITO PASSIVO MILITAR DA ATIVA X PATRIMONIO SOB A ADMINISTRAÇÃO MILITAR, OU A ORDEM ADMINISTRATIVA MILITAR. OBS: A lei militar deixa clara a intenção de proteger o patrimônio que a ela pertença ou se encontre sob sua administração e ainda punir os delitos que afetem a ordem administrativa militar Exemplo: Policial militar da ativa, de folga, pratica crime de dano contra viatura da PMDF. Exemplo: Policial militar de folga subtrai combustível da viatura que estava estacionada no pátio do quartel. DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 6 O Título VII do CPM define os crimes contra a administração militar, como por exemplo, o peculato, a concussão e a corrupção passiva. A alínea “f”, do artigo 9º, inciso II, foi revogada pela lei 9.299 de 1996. f) revogada. Essa alínea tratava a respeito do militar que estava na posse de armamento militar, porém, de forma inteligente foi revogada, não podendo ser mais uma possibilidade para caracterizar o crime militar. 3.1) Art. 9º III) CRIMES MILITARES PRATICADOS PELO MILITAR DA INATIVA E POR CIVIL: III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: SUJEITO ATIVO X SUJEITO PASSIVO MILITAR INATIVO OU CIVIL X Elencados nas alíneas, a, b, c, d, do art. 9º III. a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. Resumo dos Casos em que o militar inativo comete crime militar, previsto no inciso I e II do código penal militar. HIPÓTESES EM QUE O MILITAR INATIVO E O CIVIL COMETEM CRIME MILITAR 1) Contra patrimônio sob administração militar. 2) Contra militar da Ativa em local sujeito a administração militar. 3) Contra militar de serviço. OBSERVAÇÃO 01: O civil não comete crimes militares contra instituição militar estadual, PM e BM, e nem contra seus integrantes, de acordo com art. 125 § 4º da C.F 88, exceto se estes estiverem trabalhando em força conjunta com as forcas armadas, ou em caso de guerra declarada. O Civil pode cometer crime militar contra instituição militar federal. Assim se um civil desacatar uma guarnição da polícia militar, apesar do fato está tipificado no C.P.M, no art. 299, a guarnição deverá dar voz de prisão ao autor e encaminhá-lo a delegacia da polícia civil para a lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência, uma vez que é uma infração penal de menor potencial ofensivo. OBSERVAÇÃO 02: De forma Resumida, o militar inativo só será autor de crime militar quando cometer um crime previsto no C.P.M, contra patrimônio sujeito à administração militar, contra outro militar da ativa em local sujeito a administração militar e contra militar de serviço, assim é imperioso ressaltar que o militar da inativa não comete crime militar contra militar da ativa, de folga e que não esteja em local sujeito à administração militar. 4) EXCEÇÃO EM QUE O FATO, APESAR DE TER ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO PENAL MILITAR, NÃO SERÁ CONSIDERADO COMO CRIME MILITAR: Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011). Esse dispositivo foi (Incluído pela Lei nº 9.299/96) e modificado depois pela lei 12.432, de 2011. O art. 9º do CPM refere-se aos crimes militares em tempo de paz, portanto, deve analisar os crimes contra a vida que constam no Código Penal Militar, praticados por militar e dolosamente contra civil. O dispositivo em tela tem aplicabilidade quando ocorrer o cometimento do crime de homicídio art. 205 e do crime de provocação direta ou auxílio a suicídio art. 207, ambos do CPM, que serão caracterizados como crime comum, quando forem praticados por militar da ativa contra civil e os autores serão julgados pelo código penal comum. A Constituição Federal de 1988, ratificou a aplicação do parágrafo único do art. 9º do C.P.M, em seu art. 125 § 4º da C.F, derrubando qualquer tese da inconstitucionalidade dessa lei, pois alegavam que uma lei infraconstitucional não poderia esbarrar-se com a competência determinada pela carta magna, sendo importante ressaltar também que esse dispositivo aplica-se somente aos militares estaduais, não se aplicando aos militares federais. Caso um militar federal, de serviço, mate dolosamente um civil, será um caso de crime militar de homicídio. Assim pensam os doutrinadores Cícero Robson Coimbra Neves e o Célio Lobão, como também possui julgados recentes de 2016, do STM. Importante salientar que embora o aborto e o infanticídio sejam crimes contra a vida não se encontram definidosno CPM, portanto, não constituem crimes militares, sendo exclusivamente de competência da justiça comum. A lesão corporal, o roubo, a extorsão e o estupro, mesmo que tenham como consequência a morte, não são classificados como crimes contra a vida, sendo inaplicável o dispositivo em questão. EXERCÍCIOS: Questão 01) Ocorreu no Batalhão Prisional da PMDF, no ano de 2003, crime de homicídio doloso praticado por soldado PMDF, de serviço, contra Tenente PMDF que estava de serviço. Pode-se afirmar que o crime citado a cima, foi crime comum de homicídio, uma vez que o código penal militar aduz que quando o crime for doloso contra a vida, DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 7 o crime será comum e será julgado pelo Tribunal do Júri, justiça comum. a) ( ) certa b) ( ) errada Questão 02) Os crimes militares definidos no código penal militar praticados em tempo de paz tem sua definição no código penal militar, no art. 9º. (V) Questão 03) O militar da ativa de folga nunca será autor de crime militar. (F) Questão 04) O Militar só cometerá crime militar quando estiver de serviço ou agindo em razão da função. Questão 05) Os militares da inativa não cometem crime militar, mas somente quando estiverem na ativa. (F). Questão 06) Os militares da inativa podem cometer crime militar contra militar da ativa em local sujeito à administração militar. (V). Questão 07) Os crimes dolosos contra a vida praticados por militar estadual contra a vida de civil serão considerados como crime militar e serão julgados na Justiça comum. (F) MÓDULO III 5) 3ª Pergunta da fórmula para descobrir o crime militar: “O autor do fato pode ser julgado pela Justiça Militar Estadual ou pela Justiça Militar Federal?” Vamos lá meus alunos, para explicar melhor essa pergunta, teremos que entender como funciona a justiça militar: DIVISÃO DA JUSTIÇA MILITAR JUSTIÇA MILITAR FEDERAL JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL Julga somente crime militar Julga o crime militar e as ações judiciais contra atos disciplinares. Julga o civil e o militar das Forças Armadas. Julga só PM e BM. 5.1.- COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR 5.1.1- JUSTIÇA MILITAR FEDERAL A competência da Justiça Militar Federal está disciplinada no art. 124, caput, da CF/88 . Dispõe o referido dispositivo que: “à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.” Os crimes militares se encontram definidos no Código Penal Militar, portanto, cabe a Justiça Militar processar e julgar os delitos previstos nesse diploma legal. Em suma à Justiça Militar Federal tem competência ampla, podendo processar e julgar os crimes militares definidos em lei praticados por militares (integrantes das forças armadas) e civis. 5.1.2- JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL A Justiça Militar estadual integra o Poder Judiciário dos Estados e do Distrito Federal, competindo-lhe processar somente policiais militares e bombeiros militares, nos crimes militares definidos em lei. Dispõe o art. 125,§ 4º, da CF/88: “Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares ressalvadas a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). De acordo com o disposto no texto constitucional nota-se que à Justiça Militar Estadual teve sua competência restrita ao processo e julgamento de crimes militares cometidos por militares dos Estados (policiais e bombeiros militares), dessa forma o civil e os militares das forças armadas que a ele são equiparados não serão julgados pela Justiça Militar Estadual quando do cometimento de crime contra a instituição militar estadual ou contra qualquer dos seus agentes, ficando a cargo da Justiça Comum a referida competência ou da Justiça Militar Federal no caso de crime militar cometido por militar das forças armadas. Exemplo 1: Civil, de forma clandestina, entra em quartel da PMDF e subtrai armas da reserva de armamentos. De acordo com a fórmula estudada: 1) O fato está previsto no C.P.M? Resposta: Sim, o crime de furto está definido no código penal militar. 2) O fato está previsto no artigo 9º do C.P.M? Resposta: Sim, previsto no artigo 9º inciso III, alínea, a. 3) O autor do fato pode ser julgado pela Justiça Militar correspondente? Resposta: Não, porque a justiça militar estadual não julga o civil. Portanto, como a resposta às perguntas da fórmula não foram três respostas afirmativas, o fato não é considerado como crime militar, e nesse caso é crime comum. Exemplo 2: Civil, de forma clandestina, entra em quartel do Exército e subtrai armas da reserva de armamentos. De acordo com a fórmula estudada: 1) O fato está previsto no C.P.M? Resposta: Sim, o crime de furto está definido no código penal militar. 2) O fato está previsto no artigo 9º do C.P.M? Resposta: Sim, previsto no artigo 9º inciso III, alínea, “a”. 3) O autor do fato pode ser julgado pela Justiça Militar correspondente? Resposta: Sim, porque a justiça militar Federal julga o civil. 6) Classificação dos crimes militares: CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES MILITARES PROPRIAMENTE MILITARES IMPROPRIAMENTE MILITARES Para a Teoria Clássica, é o crime próprio do militar, específico e funcional do militar, o crime que só o militar comete. Exemplo: Deserção. Para a Teoria Clássica, é o crime que não é específico do militar, assim o crime que pode também ser cometido por civil na esfera federal. Crime de oposição a ordem do sentinela, art. 164. Para a Teoria topográfica ou do direito penal, é o crime que só Para a Teoria topográfica ou do direito penal, é o crime que DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 8 está definido no código penal militar e não tem definição na legislação penal comum. Exemplo: Art. 164, oposição a ordem do sentinela. está definido no código penal e na legislação penal comum. Exemplo: Crime de homicídio, furto, roubo, calúnia, dentre outros. Existem 04 teorias na doutrina, porém vamos abordar somente 02 (duas) teorias que consideramos as mais importantes. De acordo com a teoria utilizada o crime terá uma classificação diferente, em alguns casos. 6.1- CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES Para a teoria topográfica ou do direito penal comum, crimes propriamente militares são aqueles que somente se encontram definidos no CPM, ou ainda, que estejam previstos na lei penal comum e possuem definição diversa. São os crimes com enquadramento no art. 9º inciso I, do código penal militar. Exemplo: Deserção, Reunião ilícita, Desacato à superior, oposição a ordem do sentinela. Em outras palavras o art. 9º, I, CPM, trata de crimes propriamente militares. Para a teoria clássica, o crime propriamente militar é aquele crime militar específico e funcional do militar, que só o militar comete. Observação 1: Classificar o crime militar de insubmissão, previsto no art. 183, é uma polêmica, porque é um crime que só está previsto no código penal militar, mas que só pode ser cometido pelo civil, e que só haverá denúncia e processo se o civil se tornar um militar, ou seja, ser incorporado nas Forças Armadas. Amaioria da doutrina o considera como sendo propriamente militar, apesar de algumas divergências, como por exemplo, o autor Célio Lobão que o considera como impropriamente militar. Observação nº 2: O nome “propriamente militar” foi mencionado pelo Constituinte de 1988, no artigo 5º inciso LXI, in verbis: “LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;” O constituinte fez menção ao referido termo, em virtude da classificação doutrinária que se fundamentou no inciso I do art. 9º do C.P.M, desde de 1970, baseado no estudo do direito comparado especificamente, o italiano. 6.2- CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES Para a Teoria Clássica, é o crime que não é específico do militar, assim o crime que pode também ser cometido por civil na esfera federal. Crime de oposição a ordem do sentinela, art. 164, crime de militar de reunião ilícita, art. 165 dentre outros. Para a Teoria topográfica ou do direito penal, é o crime que está definido no código penal e na legislação penal comum. Exemplo: Crime de homicídio, furto, roubo, calúnia, dentre outros. 7- CONCEITO DE SUPERIOR Art. 24 CPM. “O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera- se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.” A função exercida pelo militar só dará a ele a qualidade de superior, quando os militares forem de mesma graduação ou de mesmo posto. Exemplo1: O soldado policial militar que leciona em curso composto por alunos, 3º sargentos, não é considerado como superior militar, pois não é de mesma graduação, porém caso o instrutor também fosse sargento, ainda que mais moderno, nessa caso ele seria considerado como superior. Exemplo 2: A função exercida por 2º sargento, adjunto do oficial de dia, não concede a ele superioridade em relação ao 1º sargento e subtenente, mas pode conceder superioridade em relação ao 2º sargento mais antigo que ele, devido à função exercida por ele. 7.1) DESCONSIDERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE SUPERIOR Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime: I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do agente; II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão. Exemplo: Policial militar desferiu dois socos no rosto de um estranho após discutirem em um bar. Posteriormente ficaram sabendo que ambos eram policiais militares, sendo a vítima um capitão e o agressor um sargento. Nessa situação o sargento não responderá pelo crime militar de violência contra superior, por desconhecer a condição de superior do outro. O tema que vou expor no exemplo abaixo é bastante polêmico: Se Soldado Policial Militar da ativa, jogando uma partida de futebol, sofre uma entrada mais forte de um desconhecido, e resolve dar um murro no rosto do adversário, de forma dolosa e com vontade de lesionar, sendo que depois do ocorrido o autor descobre que a vítima é Major da policia militar da ativa. Como explicado acima, o art. 47 inciso I do CPM exige que o militar inferior conheça a situação do militar superior para existência de crime militar ligados ao aspectos de ser superior, e vice e versa, como por exemplo, art. 157 violência contra superior, 160, desrespeito a DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 9 superior, art. 298, desacato a superior e outros tendo como vítima o inferior, art. 175, violência contra inferior e etc. Portanto é claro e sem dúvida que o Soldado da PM da ativa não cometeu o crime de violência contra superior, pois desconhecia essa qualidade. Em relação ao crime militar de lesão corporal, PM da ativa X PM da ativa, é crime militar? Então, a maioria da doutrina entende que, não é necessário o conhecimento prévio da condição de militar da vítima para caracterização do crime militar. Sendo assim se um militar comete um crime previsto no CPM contra outro militar, será considerado crime militar, desde que a conduta esteja descrita no CPM, mesmo que desconheça a condição de militar da vítima, porém vale salientar que existe posicionamento contrário, de acordo com alguns julgados do STF já mencionados na aula e também do S.T.J. DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR Princípio de legalidade Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Lei supressiva de incriminação Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil. Retroatividade de lei mais benigna § 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível. Apuração da maior benignidade § 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato. Medidas de segurança Art. 3º As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução. Lei excepcional ou temporária Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Tempo do crime Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado. Lugar do crime Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida. Territorialidade, Extraterritorialidade Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. Território nacional por extensão § 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de propriedade privada. Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros § 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as instituições militares. Conceito de navio § 3º Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio toda embarcação sob comando militar. Pena cumprida no estrangeiro Art. 8° A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Crimes militares em tempo de paz Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum,ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011) Crimes militares em tempo de guerra Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra; II - os crimes militares previstos para o tempo de paz; III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente: a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo; IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado. Militares estrangeiros Art. 11. Os militares estrangeiros, quando em comissão ou estágio nas forças armadas, ficam sujeitos à lei penal militar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou convenções internacionais. Equiparação a militar da ativa Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar. Militar da reserva ou reformado Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas do posto ou graduação, para o efeito DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 10 da aplicação da lei penal militar, quando pratica ou contra ele é praticado crime militar. Defeito de incorporação Art. 14. O defeito do ato de incorporação não exclui a aplicação da lei penal militar, salvo se alegado ou conhecido antes da prática do crime. Tempo de guerra Art. 15. O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das hostilidades. Contagem de prazo Art. 16. No cômputo dos prazos inclui-se o dia do começo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Legislação especial. Salário-mínimo Art. 17. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei penal militar especial, se esta não dispõe de modo diverso. Para os efeitos penais, salário mínimo é o maior mensal vigente no país, ao tempo da sentença. Crimes praticados em prejuízo de país aliado Art. 18. Ficam sujeitos às disposições deste Código os crimes praticados em prejuízo de país em guerra contra país inimigo do Brasil: I - se o crime é praticado por brasileiro; II - se o crime é praticado no território nacional, ou em território estrangeiro, militarmente ocupado por fôrça brasileira, qualquer que seja o agente. Infrações disciplinares Art. 19. Este Código não compreende as infrações dos regulamentos disciplinares. Crimes praticados em tempo de guerra Art. 20. Aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo disposição especial, aplicam-se as penas cominadas para o tempo de paz, com o aumento de um terço. Assemelhado Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento. Pessoa considerada militar Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar. Equiparação a comandante Art. 23. Equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação da lei penal militar, toda autoridade com função de direção. Conceito de superior Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar. Crime praticado em presença do inimigo Art. 25. Diz-se crime praticado em presença do inimigo, quando o fato ocorre em zona de efetivas operações militares, ou na iminência ou em situação de hostilidade. Referência a "brasileiro" ou "nacional" Art. 26. Quando a lei penal militar se refere a "brasileiro" ou "nacional", compreende as pessoas enumeradas como brasileiros na Constituição do Brasil. Estrangeiros Parágrafo único. Para os efeitos da lei penal militar, são considerados estrangeiros os apátridas e os brasileiros que perderam a nacionalidade. Os que se compreendem, como funcionários da Justiça Militar Art. 27. Quando este Código se refere a funcionários, compreende, para efeito da sua aplicação, os juízes, os representantes do Ministério Público, os funcionários e auxiliares da Justiça Militar. Casos de prevalência do Código Penal Militar Art. 28. Os crimes contra a segurança externa do país ou contra as instituições militares, definidos neste Código, excluem os da mesma natureza definidos em outras leis. TÍTULO II DO CRIME Relação de causalidade Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qualo resultado não teria ocorrido. § 1º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado. Os fatos anteriores, imputam-se, entretanto, a quem os praticou. § 2º A omissão é relevante como causa quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e a quem, com seu comportamento anterior, criou o risco de sua superveniência. Art. 30. Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado. Desistência voluntária e arrependimento eficaz Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Crime impossível Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio empregado ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime, nenhuma pena é aplicável. Art. 33. Diz-se o crime: Culpabilidade I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. Excepcionalidade do crime culposo Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Nenhuma pena sem culpabilidade Art. 34. Pelos resultados que agravam especialmente as penas só responde o agente quando os houver causado, pelo menos, culposamente. Erro de direito Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis. Erro de fato Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que tornaria a ação legítima. Erro culposo 1º Se o erro deriva de culpa, a este título responde o agente, se o fato é punível como crime culposo. Erro provocado 2º Se o erro é provocado por terceiro, responderá este pelo crime, a título de dolo ou culpa, conforme o caso. Erro sobre a pessoa Art. 37. Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as condições e qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão do crime, e agravação ou atenuação da pena. Erro quanto ao bem jurídico § 1º Se, por erro ou outro acidente na execução, é atingido bem jurídico diverso do visado pelo agente, responde este por culpa, se o fato é previsto como crime culposo. DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 11 Duplicidade do resultado § 2º Se, no caso do artigo, é também atingida a pessoa visada, ou, no caso do parágrafo anterior, ocorre ainda o resultado pretendido, aplica- se a regra do art. 79. Art. 38. Não é culpado quem comete o crime: Coação irresistível a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir segundo a própria vontade; Obediência hierárquica b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em matéria de serviços. 1° Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem. 2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior. Estado de necessidade, com excludente de culpabilidade Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao direito protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa. Coação física ou material Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar, o agente não pode invocar coação irresistível senão quando física ou material. Atenuação de pena Art. 41. Nos casos do art. 38, letras a e b , se era possível resistir à coação, ou se a ordem não era manifestamente ilegal; ou, no caso do art. 39, se era razoavelmente exigível o sacrifício do direito ameaçado, o juiz, tendo em vista as condições pessoais do réu, pode atenuar a pena. Exclusão de crime Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal; IV - em exercício regular de direito. Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque. Estado de necessidade, como excludente do crime Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e importância, é consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo. Legítima defesa Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Excesso culposo Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se este é punível, a título de culpa. Excesso escusável Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação. Excesso doloso Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por excesso doloso. Elementos não constitutivos do crime Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime: I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do agente; II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão. TÍTULO III DA IMPUTABILIDADE PENAL Inimputáveis Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou da omissão, não possui a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em virtude de doença mental, de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Redução facultativa da pena Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência mental não suprime, mas diminui consideravelmente a capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou a de autodeterminação, não fica excluída a imputabilidade,mas a pena pode ser atenuada, sem prejuízo do disposto no art. 113. Embriaguez Art. 49. Não é igualmente imputável o agente que, por embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente por embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Menores Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado dezesseis anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída de um terço até a metade. Equiparação a maiores Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que não tenham atingido essa idade: a) os militares; b) os convocados, os que se apresentam à incorporação e os que, dispensados temporariamente desta, deixam de se apresentar, decorrido o prazo de licenciamento; c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos de ensino, sob direção e disciplina militares, que já tenham completado dezessete anos. Art. 52. Os menores de dezesseis anos, bem como os menores de dezoito e maiores de dezesseis inimputáveis, ficam sujeitos às medidas educativas, curativas ou disciplinares determinadas em legislação especial. TÍTULO IV DO CONCURSO DE AGENTES Co-autoria Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas. Condições ou circunstâncias pessoais § 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros, determinando-se segundo a sua própria culpabilidade. Não se comunicam, outrossim, as condições ou circunstâncias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Agravação de pena § 2° A pena é agravada em relação ao agente que: I - promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II - coage outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. Atenuação de pena § 3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participação no crime é de somenos importância. Cabeças § 4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação. § 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais oficiais, são estes considerados cabeças, assim como os inferiores que exercem função de oficial. Casos de impunibilidade Art. 54. O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 12 TÍTULO V DAS PENAS CAPÍTULO I DAS PENAS PRINCIPAIS Penas principais Art. 55. As penas principais são: a) morte; b) reclusão; c) detenção; d) prisão; e) impedimento; f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função; g) reforma. Pena de morte Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento. Comunicação Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias após a comunicação. Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de guerra, pode ser imediatamente executada, quando o exigir o interesse da ordem e da disciplina militares. Mínimos e máximos genéricos Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos. Pena até dois anos imposta a militar Art. 59 - A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão condicional: (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978) I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar; II - pela praça, em estabelecimento penal militar, onde ficará separada de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos. Separação de praças especiais e graduadas Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumprimento da pena de prisão, atender-se-á, também, à condição das praças especiais e à das graduadas, ou não; e, dentre as graduadas, à das que tenham graduação especial. Pena do assemelhado Art. 60. O assemelhado cumpre a pena conforme o posto ou graduação que lhe é correspondente. Pena dos não assemelhados Parágrafo único. Para os não assemelhados dos Ministérios Militares e órgãos sob controle destes, regula-se a correspondência pelo padrão de remuneração. Pena superior a dois anos, imposta a militar Art. 61 - A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978) Pena privativa da liberdade imposta a civil Art. 62 - O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando ele sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar.(Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978) Cumprimento em penitenciária militar Parágrafo único - Por crime militar praticado em tempo de guerra poderá o civil ficar sujeito a cumprir a pena, no todo ou em parte em penitenciária militar, se, em benefício da segurança nacional, assim o determinar a sentença. (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978) Pena de impedimento Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. Pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função Art. 64. A pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena. Caso de reserva, reforma ou aposentadoria Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a sentença, já estiver na reserva, ou reformado ou aposentado, a pena prevista neste artigo será convertida em pena de detenção, de três meses a um ano. Pena de reforma Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço, nem receber importância superior à do soldo. Superveniência de doença mental Art. 66. O condenado a que sobrevenha doença mental deve ser recolhido a manicômio judiciário ou, na falta deste, a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada custódia e tratamento. Tempo computável Art. 67. Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, e o de internação em hospital ou manicômio, bem como o excesso de tempo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, no cumprimentoda pena, por outro crime, desde que a decisão seja posterior ao crime de que se trata. Transferência de condenados Art. 68. O condenado pela Justiça Militar de uma região, distrito ou zona pode cumprir pena em estabelecimento de outra região, distrito ou zona. CAPÍTULO V DAS PENAS ACESSÓRIAS Penas Acessórias Art. 98. São penas acessórias: I - a perda de posto e patente; II - a indignidade para o oficialato; III - a incompatibilidade com o oficialato; IV - a exclusão das forças armadas; V - a perda da função pública, ainda que eletiva; VI - a inabilitação para o exercício de função pública; VII - a suspensão de o pátrio poder, tutela ou curatela; VIII - a suspensão dos direitos políticos. Função pública equiparada Parágrafo único. Equipara-se à função pública a que é exercida em empresa pública, autarquia, sociedade de economia mista, ou sociedade de que participe a União, o Estado ou o Município como acionista majoritário. Perda de posto e patente Art. 99. A perda de posto e patente resulta da condenação a pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos, e importa a perda das condecorações. Indignidade para o oficialato Art. 100. Fica sujeito à declaração de indignidade para o oficialato o militar condenado, qualquer que seja a pena, nos crimes de traição, espionagem ou cobardia, ou em qualquer dos definidos nos arts. 161, 235, 240, 242, 243, 244, 245, 251, 252, 303, 304, 311 e 312. Incompatibilidade com o oficialato Art. 101. Fica sujeito à declaração de incompatibilidade com o oficialato o militar condenado nos crimes dos arts. 141 e 142. Exclusão das forças armadas Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa sua exclusão das forças armadas. Perda da função pública Art. 103. Incorre na perda da função pública o assemelhado ou o civil: I - condenado a pena privativa de liberdade por crime cometido com abuso de poder ou violação de dever inerente à função pública; II - condenado, por outro crime, a pena privativa de liberdade por mais de dois anos. Parágrafo único. O disposto no artigo aplica-se ao militar da reserva, ou reformado, se estiver no exercício de função pública de qualquer natureza. Inabilitação para o exercício de função pública Art. 104. Incorre na inabilitação para o exercício de função pública, pelo prazo de dois até vinte anos, o condenado a reclusão por mais de quatro anos, em virtude de crime praticado com abuso de poder ou violação do dever militar ou inerente à função pública. DIREITO PENAL MILITAR Profº MAICOL COELHO LOURENÇO 13 Termo inicial Parágrafo único. O prazo da inabilitação para o exercício de função pública começa ao termo da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança imposta em substituição, ou da data em que se extingue a referida pena. Suspensão de o pátrio poder, tutela ou curatela Art. 105. O condenado a pena privativa de liberdade por mais de dois anos, seja qual for o crime praticado, fica suspenso do exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, enquanto dura a execução da pena, ou da medida de segurança imposta em substituição (art. 113). Suspensão provisória Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz decretar a suspensão provisória do exercício do pátrio poder, tutela ou curatela. Suspensão dos direitos políticos Art. 106. Durante a execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança imposta em substituição, ou enquanto perdura a inabilitação para função pública, o condenado não pode votar, nem ser votado. Imposição de pena acessória Art. 107. Salvo os casos dos arts. 99, 103, nº II, e 106, a imposição da pena acessória deve constar expressamente da sentença. Tempo computável Art. 108. Computa-se no prazo das inabilitações temporárias o tempo de liberdade resultante da suspensão condicional da pena ou do livramento condicional, se não sobrevém revogação. CAPÍTULO VI DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO Obrigação de reparar o dano Art. 109. São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de reparar o dano resultante do crime; Perda em favor da Fazenda Nacional II - a perda, em favor da Fazenda Nacional, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a sua prática. TÍTULO VII DA AÇÃO PENAL Propositura da ação penal Art. 121. A ação penal somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público da Justiça Militar. Dependência de requisição Art. 122. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a ação penal, quando o agente for militar ou assemelhado, depende da requisição do Ministério Militar a que aquele estiver subordinado; no caso do art. 141, quando o agente for civil e não houver co-autor militar, a requisição será do Ministério da Justiça. TÍTULO VIII DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Causas extintivas Art. 123. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição; V - pela reabilitação; VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º). Parágrafo único. A extinção da punibilidade de crime, que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro, não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. Espécies de prescrição Art. 124. A prescrição refere-se à ação penal ou à execução da pena. Prescrição da ação penal Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em trinta anos, se a pena é de morte; II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze; IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e não excede a oito; V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro; VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano. Superveniência de sentença condenatória de que somente o réu recorre § 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que somente o réu tenha recorrido, a prescrição passa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo declarada, sem prejuízo do andamento do recurso se, entre a última causa interruptiva do curso da prescrição (§ 5°) e a sentença, já decorreu tempo suficiente. Termo inicial da prescrição da ação penal § 2º A prescrição da ação penal começa a correr: a) do dia em que o crime se consumou; b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se tornou conhecido. Caso de concurso de crimes ou de crime continuado § 3º No caso de concurso de crimes ou de crime continuado, a prescrição é referida, não à pena unificada, mas à de cada crime considerado isoladamente. Suspensão da prescrição § 4º A prescrição da ação penal não corre: I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; II - enquanto o
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