Buscar

Direito Internaciona

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Direito Internacional Privado
Prof. Marco Aurelio Moura dos Santos
Noções Básicas do Direito Int. Privado
Introdução – a intensificação de pessoas vinculadas a Estados regidos por legislações diversas, criou a oportunidade do surgimento de conflitos e a dificuldade para estabelecer qual o ordenamento jurídico e qual legislação são competentes para a solução da lide.
Conceito de DIPr: conjunto de preceitos que regulam a ordem privada da sociedade internacional e busca encontrar o direito aplicável, nacional ou estrangeiro, quando a lide comporta opção entre mais de uma ordem jurídica para solucionar o caso.
Objeto: organizar direito adequado à apreciação de fatos anormais ou fatos com duas ou mais jurisdições.
Temas: Conflito de leis, nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro e direitos adquiridos
Normas do DIPr na Constituição Federal de 1988
Reconhecimento de direitos fundamentais ao estrangeiro.
Aquisição de nacionalidade
Competência privativa da União para legislar sobre emigração e imigração, extradição e expulsão de estrangeiros.
Direitos adquiridos
Todos os direitos, plenamente incorporados ao patrimônio jurídico do cidadão, nacional ou estrangeiro, devem acompanha-lo extraterritorialmente. 
São repelidos, no entanto, aqueles que ofendem a ordem pública local, soberania, bons costumes. Ex. não é admitido, mesmo ao árabe, alegar direito de poligamia existente na legislação de seu pais.
Há casos entretanto que mesmo contrariando ordem pública, serão admitidos. Ex. sentenças de cobrança de dívidas de jogos de azar, em países onde é admitido poderão ser cobradas no Brasil após homologação de sentença estrangeira.
Distinção com o Direito Uniforme, o Direito Comparado e Lex Mercatoria
Direito internacional privado uniforme é constituído de regras jurídicas idênticas e de direito aplicável com vigência em mais de um Estado. O instrumento jurídico para a uniformização das normas do direito internacional privado é o tratado internacional que pode ser bilateral ou multilateral (convenções)
Convenções abertas – possibilidade de adesão por Estados terceiros, não participantes das conferências elaborativas das convenções.
Convenções fechadas – limites de adesão aos Estados
Direito Comparado x Direito Int. Privado
O direito comparado estuda, mediante contraposição, vários sistemas jurídicos distintos examinando suas regras, fontes, histórias e diversos agentes sociais e políticos. 
No direito internacional privado, distintamente do direito comparado, não há estudo de sistemas jurídicos, mas sim, concretiza-se no momento da busca pela melhor composição para os conflitos envolvendo diferentes ordenamentos jurídicos.
Lex mercatoria
Ordem jurídica autônoma, criada espontaneamente pelos agentes do comercio internacional, cuja existência independe dos ordenamentos jurídicos estatais e cuja origem não decorre diretamente do direito internacional publico. 
São regras e usos uniformes elaboradas, por exemplo, por entidades como a Câmara de Comercio Internacional de Paris CCI (ICC). Em geral as normas coincidem com as normas do direito de cada estado envolvido.
A lex mercatoria é um complexo de normas que compõem um sistema jurídico integro e com mecanismos concisos para a solução de controvérsias e sanções próprias, com o intuito de aumentar a segurança nas relações jurídicas comerciais internacionais realizadas entre indivíduos que se localizam em diferentes Estados. 
Conforme o conceito exposto sobre lex mercatoria percebe-se que não há nenhuma ligação com o direito internacional privado, já que este apenas visa indicar o direito aplicável trazendo o direito incidente sobre determinado fato jurídico.
Direito Internacional Privado
O direito internacional privado regula e promove o estudo de um conjunto de regras que determinam qual o direito material aplicável às relações jurídicas particulares, sejam entre pessoas físicas como o divórcio, por exemplo, jurídicas, como o comércio, e estabelece qual a jurisdição competente para dirimir determinado conflito. Feitas tais colocações, cabe apresentar tal objeto do direito internacional privado, são:
A)  Condição jurídica do estrangeiro: visa dar o conhecimento dos direitos do estrangeiro de entrar e permanecer no país, domiciliar-se ou residir-se no território nacional, sem haver prejudicidade sob o crivo econômico, político e social;
B) Conflito de Jurisdições: atenta-se observar a competência do Poder Judiciário, solucionando determinadas situações que dizem respeito a pessoas, coisas ou interesses que extrapolam o limite soberano de um Estado, devendo reconhecer e executar sentenças proferidas no estrangeiro;
c)  Conflito de leis: analisam-se as relações humanas conectadas a dois ou mais sistemas jurídicos, nos quais as regras materiais não são concordantes, apenas o direito aplicável a uma ou diversas relações jurídicas de direito privado com conexidade internacional;
d)  Direitos adquiridos no âmbito internacional: visa considerar a mobilidade das relações jurídicas, surgindo-se uma jurisdição, refletindo seus efeitos posteriormente a sujeição de uma legislação distinta;
e)  Nacionalidade: caracteriza-se o nacional de cada Estado, sob as formas originárias e derivadas de atribuição de nacionalidade, da perda, requisição, dos conflitos positivos e negativos em caso de polipatrídia, apatrídia e restrições nacionais por naturalização.
Fontes de DIPr
Materiais – (fatores sociológicos, econômicos e culturais) – “inspiração” – objeto da Filosofia do Direito e não do Direito Internacional 
Formais – regras jurídicas, costumes, analogia e os princípios gerais do Direito – “vigência do Direito”
No DIPr – lei, os tratados e as convenções, o costume jurídico interno a jurisprudência e a doutrina
Lei
No Brasil
CF - Art. 5º, 12, 14 e 22, bem como a extradição (art. 102, I, g) e a homologação de sentença estrangeira (art. 105, I, i)
CTN (Art. 98 e 100)
CPC (art. 88 e 337)
CC de 1916 e 2002 (Lei de Introdução as Normas de Direito Brasileiro) art. 7º a 19 – LINDB
Código Bustamante Dec. 5.647/29, promulgado 18.871/29– (resultado de 6 conferências internacionais)
Tratados e convenções internacionais 
Costume jurídico interno - Regras gerais e imperativas criadas espontaneamente pelo povo, convalidas pela prática reiterada, uniforme e constante de atos relevantes para o direito em determinado meio social, com a convicção de sua necessidade ou conveniência e obrigatoriedade reconhecidos e impostos pelo Estado, com validade jurídica.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro realiza uma referência ao costume como recurso de integração ao direito.
Jurisprudência – decisões uniformes e reiteradas dos magistrado e/ou tribunais dos Estados
Doutrina – estudos, pareceres, artigos, obras em Direito Internacional Privado promovem integração e fundamentação.
Elementos de conexão: noções gerais e preceitos do Direito Internacional Privado Brasileiro
Os elementos de conexão são normas estabelecidas pelo direito internacional privado que indicam o direito aplicável a uma ou diversas situações jurídicas unidas a mais de um sistema legal
São também denominadas normas indiretas (ou indicativas), pois apontam o direito que poderá ser empregado no caso concreto nas relações particulares com conexão internacional, sem solucioná-lo
Os elementos de conexão fundamentam-se como um elemento essencial para a solução de conflitos de leis no espaço.
Observam-se diversas circunstâncias imediatamente relacionadas ao caso concreto, utilizadas pela regra de direito internacional privado para apontar a lei competente.
Estatuto Pessoal – lex domicilli – aplica-se aos conflitos de leis a norma do domiciio de uma das partes
A norma jurídica aplicada é a do domicilio dos envolvidos na relação jurídica, que possui um componente essencial, a capacidade da pessoa física (habilitação da pessoa para os atos da vida civil). 
O estatuto pessoal se configura pela reunião de elementos que compõem a realidade exterior de uma pessoa,
constituindo o conjunto de atributos que distingue um individuo de outro. Caracteriza-se pelos aspectos essenciais e juridicamente relevante da vida de uma pessoa, como o nascimento, a personalidade e capacidade jurídica, o poder familiar, a morte etc.
Art. 7º LINDB – a lei do pais em que for domiciliada a pessoas determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Art. 7º, §§ 1,2,3, 8º, §§1 e 2, 10 caput, §2, 12º
Nacionalidade (lex patriae) – aplica-se aos conflitos de leis a norma do Estado de nacionalidade de uma das partes – art.7º, §2, e 18º
Lex fori
A norma jurídica aplicada será a do foro no qual ocorre a demanda judicial entre as partes conflitantes
Lex loci actus
A regra aplicada será a do local da realização do ato jurídico para reger sua substância
Lex loci celebrationis 
Art. 7º, § 1º LINDB – a norma jurídica aplicada, no que se refere as formalidade do casamento, será a do local de sua celebração.
Toda relação matrimonial constituída no exterior, em conformidade com a forma estabelecida pela lei local de celebração do casamento, será reconhecida como valida no ordenamento brasileiro, salvo naqueles casos em que o ato realizado violar a ofensa à ordem jurídica ou fraudar a lei nacional
Lex loci contractus
A regra aplicada será a do local em que o contrato foi firmado para reger o seu cumprimento e a sua interpretação
Art. 9º LINDB – “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”
Se o contrato foi firmado no Brasil, a obrigação foi constituída em território nacional, devendo ser aplicada a norma jurídica pátria.
Lex loci delicti comissi
Para orientar a devida obrigação de indenizar o prejudicado, no caso da prática de crime, a lei empregada será aquela em que o ilícito foi cometido
Lex loci executionis
A lei empregada será a da jurisdição em que se realiza a aplicação forçada da consequência jurídica que atinge o sujeito passivo pelo não cumprimento da prestação – Súmula 207 TST, Art. 3º da Lei 7064/82, art. 12 da LINDB
Lex loci solutionis
A norma jurídica aplicada será a do local em que as obrigações devem ser cumpridas
Lex rei sitae ou lex situs
A norma jurídica aplicada será a do local em que a coisa se encontra. No DIPr o regime de bens móveis e imóveis é regulado pelo local em que se encontra o bem. Art. 12 LINDB
Lex voluntatis – Autonomia da Vontade
A norma jurídica que deverá ser aplicada é aquela livre e conscientemente escolhida pelos pactuantes – art. 7º, § 5º LINDB
Logus regit actum
A regra aplicada será a do local da realização do ato jurídico para reger suas formalidades – Art. 9º, caput e § 2º
Mobilia sequuntur personam - para os bens móveis, a lei a ser aplicada é aquela do local em que seu proprietário esta domiciliado
Adequação dos elementos de conexão estatal
Cada Estado elege os elementos de conexão que considera mais adequados para compor o seu direito internacional privado.
No Brasil a lex domicilii é a escolhida para reger o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família (art. 7º, LINDB). Outros Estados concedem preferencia à lex patriae.
O Brasil ainda utiliza a lex rei sitae, também chamado lex situs, para reger os bens, outros Estados utilizam a mobilia sequuntur personam.
Teoria das Qualificações
Para Jacob Dolinger – Conceituar + Classificar = Qualificar
Lex Fori (lei do foro) – o julgador deve preocupar-se apenas em qualificar o instituto com base em sua própria lei
Lex causea (lei da causa) – aplicar norma de direito estrangeiro, lei material, lei da causa
Qualificação no Brasil – adota-se a lex fori com exceção do art. 8º e 9º da LINDB que refere-se a bens e obrigações (lei da causa)
Código Bustamante – art. 6º - Os tratados internacionais procuram definir com precisão o objeto de conexão de suas normas, evitando-se a necessidade de qualificação
Questões prévias – são situações que surgem, em tese, após a qualificação, mas que devem ser resolvidas antes da solução concreta do caso. Ocorrem em processo sucessório, quanto se contesta a validade de casamento.
Fontes Internacionais e brasileiras de Direito Internacional Privado. LINDB (LICC)
Noções gerais e preceitos do Direito Internacional Privado brasileiro
Ordem publica – representa a moral básica de uma nação, protegendo as necessidades de um Estado e os interesses essenciais dos sujeitos de direito, constituindo princípio que pode não ser desrespeitado pela aplicação de lei estrangeira – art. 17 LINDB (escravidão, poligamia)
Fraude à lei (legal shopping ou law shopping)– alteração de fundamento de elemento de conexão para se beneficiar a lei que lhe é mais favorável, em detrimento daquela que seria realmente aplicável 
“não se aplica como direito estrangeiro o direito de um Estado Parte quanto artificiosamente se tenham burlado os princípios fundamentais de lei de outro Estado Parte” – art. 6º da Convenção Interamericana sobre normas gerais de Direito Internacional Privado.
Ex. pessoa muda de nacionalidade para escapar do rigor de sua lei pessoal que proíbe o divórcio, a investigação de paternidade e a deserdação de filhos
Reenvio – modo de interpretar a norma de direito internacional privado, mediante a substituição da lei nacional pela estrangeira, desprezando o elemento de conexão apontado pela ordenação nacional, para dar preferência à indicada pelo ordenamento alienígena. O reenvio é proibido (art. 16 LINDB)
Qualificação – significa adequar um caso concreto a uma especialidade do direito que lhe é pertinente (ex. família, obrigações, etc), classificando a matéria jurídica e definindo questões principais (ex. divorcio) e prévias (regime de bens). A qualificação se resume em identificar um fato perante o direito e envolve a determinação da unicidade da situação jurídica em relação ao caso concreto e o estabelecimento da norma de direito internacional privado aplicável.
Questão prévia – questão submetida a juízo, a ser decidida conforme a lei indicada pela competente regra de conexão de foro, depende, para a sua solução, de se julgar outra questão, que lhe é preliminar, devendo-se então saber qual direito conflitual decidirá a lei aplicável para esta questão.
Preceitos do Direito Internacional
Aplicação de Direito estrangeiro – cabe a parte que invocar direito estrangeiro trazer aos autos a prova do seu teor e de sua vigência. Quando for inviável a produção da prova de seu teor ou vigência, o juiz brasileiro aplicará o direito nacional, para que o litígio não fique sem solução. As partes tem a autonomia para escolher a lei de regência em contratos internacionais porém não prevalecerão as disposições de lei estrangeira que contrariem o ordem pública brasileira, os bons costumes ou a soberania nacional (art. 17 LINDB). É exigível a ligação da norma com a relação jurídica.
Reconhecimento da competência internacional em matéria de jurisdição
DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL - NCPC
DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL
Art. 21.  Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único.  Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 22.  Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:
I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.
Art. 23.  Compete à
autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Art. 24.  A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único.  A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil.
Art. 25.  Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação.
§ 1o Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo.
§ 2o Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1o a 4o.
Cooperação Jurídica Internacional - CPC
O Novo CPC, nos arts. 26 e ss., se refere à cooperação jurídica internacional como sendo um conjunto de normas jurídico-processuais concernentes à viabilização de mecanismos de colaboração, no plano internacional, entre Estados distintos, com o objetivo precípuo de facilitação de trâmites e de garantia de cumprimento de medidas judiciais, tais como as cartas rogatórias, a homologação de sentença estrangeira, os pedidos de extradição e a transferência de pessoas condenadas, podendo variar em âmbito cível ou penal, dependendo do caso.”. (Novo CPC – Fundamentos e sistematização/Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 150). 
Art. 26 A cooperação jurídica internacional será regida por tratado de que o Brasil faz parte e observará:
I – o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente;
II – a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados;
III – a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente;
IV – a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação;
V – a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras.
§ 1o Na ausência de tratado, a cooperação jurídica internacional poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática.
§ 2o Não se exigirá a reciprocidade referida no § 1o para homologação de sentença estrangeira.
§ 3o Na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro.
§ 4o O Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central na ausência de designação específica.
Art. 27 A cooperação jurídica internacional terá por objeto:
I – citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
II – colheita de provas e obtenção de informações;
III – homologação e cumprimento de decisão;
IV – concessão de medida judicial de urgência;
V – assistência jurídica internacional;
VI – qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
– “Das diversas formas pelas quais a cooperação jurídica internacional pode se dar no âmbito cível – e, com isso, fica excluída qualquer consideração sobre a extradição -, o CPC de 1973 disciplina duas: as cartas rogatórias e a homologação de sentença estrangeira.”. (Bueno, Cassio Scarpinella – Novo Código de Processo Civil anotado/Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 63). 
– “O objeto do art. 27 é definir os objetivos da cooperação jurídica internacional, delimitando os atos processuais e as diligências compreendidos no pedido. Tais atos, portanto, poderão ser de natureza meramente instrutória, decisória ou executória e abrangerem situações nas quais para a solução do procedimento faz-se necessária a prática de ato(s) que escapa(m) ao(s) limite(s) da jurisdição do Estado que está processando a causa. 
Tem-se, então, de um lado o Estado requerente como aquele que formula o pedido de cooperação; e o Estado requerido para quem o pedido é formulado.”. 
(Novo CPC – Fundamentos e sistematização/Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 152).
Auxílio Direto
Art. 28  - Cabe auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação no Brasil.
“(…) uma das formas de cooperação internacional, que dispensa a expedição de carta rogatória para viabilizar não só a comunicação, mas também a tomada de providências solicitadas entre Estados. Existe acesa controvérsia sobre a constitucionalidade do auxílio direto no direito brasileiro. Isso porque o art. 105, i, da CF, prescreve competir ao STJ ‘processar e julgar, originariamente: 
(…) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias’. (…) Os defensores da constitucionalidade do auxílio direto sustentam que a previsão acima transcrita, fruto da EC n. 45/2004, é ampla o suficiente para albergar a hipótese. (…)
Trata-se, não há por que negar, de interpretação que tem a simpatia do próprio Superior Tribunal de Justiça que, ao expedir a Resolução n. 9/2005, para disciplinar a nova competência que lhe foi reconhecida pela referida Emenda Constitucional, previu no parágrafo único de seu art. 7º o seguinte: 
‘Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não ensejem juízo de delibação pelo Superior Tribunal de Justiça, ainda que denominados como carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao cumprimento por auxílio direito’. 
Aquele ato normativo é, inequivocamente, um elemento importante para o reconhecimento do fundamento de validade constitucional da cooperação internacional, o que tem o apoio da doutrina especializada no assunto. 
Nessa perspectiva, não há por que colocar em dúvida a plena constitucionalidade do art. 28 do novo CPC e da circunstância de ele albergar, generalizando, este importante mecanismo de cooperação internacional no direito positivo brasileiro. 
Coerentemente com sua razão de ser, o art. 28 do novo CPC exclui, para os casos de auxílio direto, o exercício do juízo de delibação, reservado para as cartas rogatórias (arts. 36 e 963). Os objetos do auxílio direito estão indicados no art. 30.”. (Bueno, Cassio Scarpinella – Novo Código de Processo Civil anotado/Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 64). 
Aqui, dispensa-se a necessidade de ‘exequatur’, que é empregado para execução de atos estrangeiros, incluídas nesse grupo cartas rogatórias e decisões. A autoridade judiciária deve verificar se os requisitos formais do ato estrangeiro foram cumpridos, sem, entretanto, entrar no mérito dele.”. (Novo CPC – Fundamentos e sistematização/Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 153). 
Art. 29  - A solicitação de auxílio direto será encaminhada pelo órgão estrangeiro interessado à autoridade central, cabendo ao Estado
requerente assegurar a autenticidade e a clareza do pedido.
‘As autoridades centrais, por sua vez, representam os órgãos de entrelace, tramitação e comunicação de atos e pedidos de cooperação e assistência jurisdicional e administrativa, estabelecidos em tratados, por designação dos Estados. No caso brasileiro, vários órgãos estão investidos dessa função no âmbito de tratados e convenções processuais internacionais e de cooperação jurídica internacional, designados por decretos do Executivo.
 Entre eles destacam-se o Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e Ministério Público Federal. As atribuições de autoridade central variam de acordo com o ato internacional que embasa o regime de cooperação jurídica internacional.
 O art. 26, § 4º, estabelece uma regra supletiva em caso de ausência de designação específica da autoridade central, cujas funções serão exercidas pelo Ministério da Justiça. ’”. (Novo CPC – Fundamentos e sistematização/Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 152).
Art. 30 Além dos casos previstos em tratados de que o Brasil faz parte, o auxílio direto terá os seguintes objetos:
I – obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso;
II – colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira;
III – qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
O inciso II do art. 30, que estabelece o objeto do auxílio direto para pedidos de colheitas de provas, não poderá ser atendido quando adotado em processo estrangeiro que verse sobre matéria de competência exclusiva do judiciário brasileiro. 
‘O dispositivo parece se apoiar em redação bastante confusa, sugerindo a ideia de que haverá delibação indireta, pela qual a autoridade brasileira previamente controla a compatibilidade entre a medida de cooperação solicitada e as causas de competência exclusiva do juiz brasileiro (como, por exemplo, aquelas endereçadas pelo art. 23 do CPC, ou em normas esparsas do direito brasileiro, como em matéria de falências e recuperação judicial de empresas, nos termos do arts. 3º e 76 da Lei n.º 11.101 de 2005).”. 
(Novo CPC – Fundamentos e sistematização/Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 154).
Art. 31 A autoridade central brasileira comunicar-se-á diretamente com suas congêneres e, se necessário, com outros órgãos estrangeiros responsáveis pela tramitação e pela execução de pedidos de cooperação enviados e recebidos pelo Estado brasileiro, respeitadas disposições específicas constantes de tratado.
O auxílio direto, como visto, caracteriza-se pela viabilidade de comunicação direta entre as autoridades centrais na forma indicada pelo art. 31, dispensando-se, para tanto, a necessária e prévia intervenção do Superior Tribunal de Justiça para os fins do art. 105, III, i, da CF.”. (Bueno, Cassio Scarpinella – Novo Código de Processo Civil anotado/Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 65). 
Art. 32 No caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a lei brasileira, não necessitem de prestação jurisdicional, a autoridade central adotará as providências necessárias para seu cumprimento.
Art. 33 Recebido o pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central o encaminhará à Advocacia-Geral da União, que requererá em juízo a medida solicitada.
Parágrafo único.  O Ministério Público requererá em juízo a medida solicitada quando for autoridade central.
O pedido de auxílio direto passivo é aquele formulado por Estado estrangeiro ao brasileiro para que aqui seja adotada alguma medida de cooperação internacional, observando-se o art. 30. A Advocacia Geral da União (que é quem representa, em juízo, o Ministério da Justiça – art. 26, § 4º), e, se for o caso, o Ministério Público, quando for ele a autoridade central (parágrafo único), têm legitimidade para requerer em juízo a medida solicitada nestes casos.”. (Bueno, Cassio Scarpinella – Novo Código de Processo Civil anotado/Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 66).
Art. 34 Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar pedido de auxílio direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional.
Art. 36 O procedimento da carta rogatória perante o Superior Tribunal de Justiça é de jurisdição contenciosa e deve assegurar às partes as garantias do devido processo legal.
§ 1o A defesa restringir-se-á à discussão quanto ao atendimento dos requisitos para que o pronunciamento judicial estrangeiro produza efeitos no Brasil.
§ 2o Em qualquer hipótese, é vedada a revisão do mérito do pronunciamento judicial estrangeiro pela autoridade judiciária brasileira.
Art. 37 O pedido de cooperação jurídica internacional oriundo de autoridade brasileira competente será encaminhado à autoridade central para posterior envio ao Estado requerido para lhe dar andamento.
Art. 38 O pedido de cooperação oriundo de autoridade brasileira competente e os documentos anexos que o instruem serão encaminhados à autoridade central, acompanhados de tradução para a língua oficial do Estado requerido.
Art. 39 O pedido passivo de cooperação jurídica internacional será recusado se configurar manifesta ofensa à ordem pública.
Art. 40 A cooperação jurídica internacional para execução de decisão estrangeira dar-se-á por meio de carta rogatória ou de ação de homologação de sentença estrangeira, de acordo com o art. 960.
Art. 41 Considera-se autêntico o documento que instruir pedido de cooperação jurídica internacional, inclusive tradução para a língua portuguesa, quando encaminhado ao Estado brasileiro por meio de autoridade central ou por via diplomática, dispensando-se ajuramentação, autenticação ou qualquer procedimento de legalização.
Parágrafo único. O disposto no caput não impede, quando necessária, a aplicação pelo Estado brasileiro do princípio da reciprocidade de tratamento.
Homologação de Sentença Estrangeira
Conceito: ato que torna exequível sentença estrangeira na ordem jurídica interna. Portanto, é a homologação que vai permitir a execução, em um país, de decisão proveniente de órgão judiciário de outro.
Decisões passiveis de homologação: acórdãos, sentenças cíveis, comerciais, penais e trabalhistas e decisões de órgãos judicantes de outros poderes (divórcios concedidos por prefeito em cidade japonesa e pelo rei da Dinamarca). Sentenças de processos cautelares e arbitrais.
Carta rogatória: decisões interlocutórias (citações, avaliações, exames de provas, oitivas) não são homologáveis. O processamento ocorre na STJ (exequatur) e é cumprida na Justiça Federal.
Sistemas de homologação: revisão de mérito, revisão parcial de mérito, reciprocidade diplomática, e de fato e delibação.
Delibação: sistema adotado no Brasil para homologação de sentença mediante atendimento de pressupostos, sem entrar no mérito da mesma.
Órgãos homologadores, pressupostos e rito na Justiça brasileira
Pressupostos (art. 15 LINDB): sentença proferida por juízo competente, citação válida das partes, verificação de efeitos de revelia, transito em julgado e formalidades necessárias para execução no lugar em que foi proferida, tradução por intérprete autorizado, homologação pelo STJ. Após homologação é expedida uma carta de sentença e executada na Justiça Federal. O ritual se inicia pela requisição diplomática ou por requerimento do interessado.
Sentença homologanda versus lide na Justiça Brasileira:
Sentença em fase de homologação e lide na Justiça brasileira podem tramitar, ao mesmo tempo, não se caracterizando litispendência. Tão logo ocorra a homologação de decisão estrangeira, a lide na Justiça
nacional deverá ser extinta, porque passa a haver coisa julgada: ter-se-á tornado executável a decisão sobre a lide, não mais havendo, perante nossa ordem jurídica, o que ser submetido a julgamento.
Convenção da ONU sobre prestação de alimentos no estrangeiro
Cada Estado designa uma autoridade administrativa ou judiciária para nele exercer as funções de Instituição Intermediária: encarregando-se estes respectivamente, do envio da sentença exarada no país e da recepção da oriunda de outro Estado. No Brasil a incumbência é da Procuradoria Geral da República.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando