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10 CAMI T2

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
IMIGRANTES LATINO AMERICANOS NA CADEIA TÊXTIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Leandro Tech da Silva			9815801
Lucas Bernardo Marcelino			9766370
Lucas Tadeu Leite Sabara			9815572
Lucas Vianna de Carvalho			9815926
Mateus Ruas Geraigire			9815947
Pedro Paulo da Silva				9815586
SÃO PAULO
2016
ÍNDICE
INTRODUÇÃO									1
PROBLEMÁTICA									2 e 3
DETALHANDO O QUE É O CAMI							4 a 6
DESENVOLVIMENTO								6 a 13
Ciências Sociais					6 a 8
Introdução a Administração				8 a 10
Marketing						10 e 11
Psicologia						12 e 13
CONSIDERAÇÕES FINAIS								14
ANEXOS										15
INTRODUÇÃO
 O trabalho, realizado por um grupo de estudantes do primeiro semestre do período integral do curso de Administração de Empresas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, tem como objetivo realizar uma análise crítica da função econômica, social e cultural dos imigrantes latino americanos na cadeia têxtil do Estado de São Paulo, abordando aspectos estudados nas disciplinas de Fundamentos de Ciências Sociais, Introdução à Psicologia, Fundamentos de Administração e Fundamentos de Marketing e Comportamento do Consumidor.
 O grupo foi encarregado de conhecer, entrevistar e analisar o CAMI (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante), assim como estabelecer sua relação com a questão fundamental do trabalho. Dessa forma, o grupo pode se aprofundar no cerne da discussão e fazer uma análise mais precisa, tendo em vistas uma visão multilateral do problema, abordando-o pela óptica dos trabalhadores, consumidores, empregadores, órgãos governamentais e associações independentes envolvidas no assunto.
 Além disso, o trabalho propõe-se a apresentar possíveis soluções para a questão, tendo em vista a perspectiva abordada durante o desenvolvimento do projeto, buscando criar iniciativas, a fim de buscar uma condição favorável aos mais prejudicados dentro desse sistema. 
PROBLEMÁTICA
 A vinda de imigrantes para o Brasil tem um longo histórico, datando desde a época da colonização - em meados do século XVI - até os dias de hoje. No entanto, nos últimos anos, o perfil da imigração tem mudado, não só no país como no mundo. O total de migrantes no mundo era de 231,5 milhões, segundo a ONU, em 2013. Esse número envolve qualquer um que viva em um país diferente do que nasceu. Nos últimos anos, alguns dos principais fluxos migratórios diminuíram, com os países em desenvolvimento - como Brasil, Catar e México - atraindo bem mais pessoas do que antes.
 Vale notar outra inversão de paradigma importante: se nos anos de 1990 a 2000, 7 em cada 10 destinos de imigração eram países desenvolvidos, de 2012 a 2013 o quadro inverteu-se, 7 em cada 10 destinos são países em desenvolvimento, ainda segundo a ONU. Na ultima década, países periféricos ganharam protagonismo como polos imigratórios, atraindo não só contingentes de mão de obra altamente qualificada - empregada nas grandes multinacionais - como de mão de obra pouco qualificada, além de refugiados de guerras e catástrofes. Tal fato está diretamente relacionado aos altos índices de desemprego e vulnerabilidade socioeconômica em países centrais que, afetados pela crise financeira de 2008, enrijeceram suas fronteiras, tornando-se menos atrativos tanto aos imigrantes de países periféricos como a seus próprios cidadãos, então desempregados. Além desses fatores externos, alguns elementos internos ao Brasil colaboram para a atração de imigrantes: o declínio da taxa de crescimento populacional (que, em horizontes de expansão econômica, favorece a recepção de estrangeiros) e a crescente presença de empresas brasileiras no exterior, que apresentam o Brasil como um país de oportunidades. Alia-se a isso a presença brasileira em missões humanitárias, como a Minustah, no Haiti (2004), que corroboram com a preservação de uma boa imagem frente ao resto do mundo.
 O que se vê, desde meados de 2005, é o aumento da presença de bolivianos, paraguaios e haitianos no país, além do acolhimento de refugiados sírios da recente ascensão do Estado Islâmico na região da Síria e do Iraque. Atualmente, segundo dados da polícia federal, o Brasil abriga um total de 1.847.274 de imigrantes, sendo 1.189.947 considerados permanentes, 595.800 temporários, 45.404 provisórios 11.230 fronteiriços, 4.842 refugiados e 51 asilados. A presença de latino-americanos é predominante nas grandes capitais, onde são empregados em setores específicos, como construção civil e indústria têxtil. Neste último setor, os trabalhadores (em sua maioria, mulheres) são alocados em pequenas unidades produtivas de costura, sujeitos - muitas vezes - à condições de trabalho escravo, definidas pelo Artigo 149 do Código Penal brasileiro como “reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto". Nesse sentido, a indústria têxtil, composta de diversos atores - desde pequenas unidades de costura terceirizadas até grandes conglomerados empresariais do varejo - tem se firmado com a tendência do “fast fashion’’, isto é, um padrão de produção e consumo segundo o qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados muito rapidamente; o varejo muda suas prateleiras diariamente, com mudanças constantes em tendências, a preços muito baixos. Em parte, isso se deve à precarização do trabalho do pequeno artesão, à alta oferta dessas pequenas unidades de confecção e ao demasiado poder de barganha do varejo na compra de tecidos para fabricar roupas. Tais questões serão aprofundadas e discutidas no trabalho que se segue.
 
SOBRE O CAMI
Introdução
 O Centro de Apoio e Pastoral do Migrante foi fundado em 2005 pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), com o objetivo de propor soluções às mazelas e dificuldades pelas quais os imigrantes passam, combatendo formas de trabalho análogas à escravidão, prevenindo o trabalho escravo e buscando uma inclusão social, cultural, política e econômica dos imigrantes no Brasil.
 O CAMI fornece variados serviços que podem ajudar de alguma forma os imigrantes, seja dando suporte jurídico, ajudando no processo de regularização, como também através de cursos de informática, modelagem e português, visando sempre promover o empoderamento político e social do imigrante. 
 Além disso, o CAMI também trabalha visando a construção de políticas públicas que beneficiem e deem maior suporte à população imigrante, trabalhando atualmente na mudança da atual lei dos estrangeiros, propondo uma nova Lei de Migração. No âmbito continental, o CAMI fomenta projetos junto ao MERCOSUL objetivando políticas que aumentem os direitos do imigrante e a sua regularização no país. 
 Entre as principais áreas de atuação do CAMI, destacam-se:
Regularização Imigratória
 Uma das grandes demandas dos migrantes em relação ao CAMI é a regularização imigratória. Muitos dos imigrantes desconhecem quais os documentos necessários ao processo de regularização e quais os procedimentos que devem fazer para regularizar a sua situação. A partir disso, o CAMI orienta e disponibiliza os documentos necessários para cada trâmite migratório, auxiliando e realizando um acompanhamento dos imigrantes em direção aos órgãos competentes, para a obtenção de uma cidadania temporária ou permanente no país.
Assessoria Jurídica
 Muitos migrantes encontram-se desamparados e não dispõem da informação necessária para defender seus interesses contra as agressões e humilhações que sofrem. A partir disso, é muito importante o papel que o CAMI desempenha. Através de serviços de assessoria jurídica, o CAMI fornece suporte
aos imigrantes, que na maioria dos casos se encontram desamparados no Brasil, nas mais variadas situações que o afligem, acompanhando a situação dos imigrantes e orientando-os, em atuação conjunta com ministérios, defensorias públicas e centros parceiros do instituto. 
Interação Cultural e Linguística dos Imigrantes 
 Os imigrantes bolivianos recém-chegados ao Brasil muitas vezes não falam português fluentemente e não se sentem verdadeiramente inseridos na sociedade brasileira, carecendo de uma identificação cultural com o país. Visando resolver esse problema, o CAMI fornece aulas nos finais de semana de português e cidadania aos imigrantes, com enfoque no aprendizado da língua portuguesa e em matérias como sociologia, história e direito, contribuindo para a sua formação crítica e cultural enquanto cidadãos e fomentando o acolhimento e a integração dos imigrantes.
 As aulas são ministradas em bairros da grande São Paulo que contam com um grande número de bolivianos, como Casa Verde, Bom Retiro, Belenzinho, Brás e Vila Maria, através de uma abordagem educativa não formal e oposta as das escolas tradicionais, com o uso de métodos lúdicos que misturam música e arte com o aprendizado.
Visitas a Oficinas de Costura
 O CAMI promove ações que buscam impactar a vida da comunidade boliviana, através de assessorias sobre variados temas, que vão desde a melhoria na condição das oficinas de costura a projetos que estimulam a liderança comunitária. Com isso, é muito importante conhecer o papel dos agentes sociais do CAMI. São eles que visitam as oficinas de costura, diagnosticando os problemas enfrentados pelos donos e funcionários. Após isso, o CAMI é responsável por levar um técnico de segurança do trabalho até a oficina, para que este possa identificar todas as deficiências da oficina, buscando adequá-la aos padrões da legislação ambiental e orientando os donos da fábrica, que em sua maioria são também bolivianos, a readequar sua estrutura industrial visando a garantir uma maior segurança e comodidade a seus funcionários.
 Mas não é só no âmbito das oficinas de costura que os agentes sociais trabalham. Também participam do cotidiano dos imigrantes visitando suas casas, seus comércios, com o intuito de ouvir suas principais demandas e os problemas pelos quais passam, organizando também eventos em escolas, igrejas, praças, a fim de fomentar a organização comunitária e a luta dos imigrantes pelos seus direitos enquanto trabalhadores e, principalmente, cidadãos.
CIÊNCIAS SOCIAIS
Introdução
 A discussão sobre a presença dos imigrantes, suas demandas e seus efeitos na sociedade brasileira tem se acentuado, em virtude principalmente da intensificação de seu fluxo imigratório para o Brasil na última década, acompanhando uma tendência global da migração “Sul-Sul”, isto é, cujos pontos de partida e chegada envolvem países do hemisfério sul terrestre.
Apanhado Histórico
 Historicamente, os imigrantes latino-americanos compõe contingente de mão de obra de baixa qualificação, vindo para o Brasil dado a proximidade geográfica, motivado pela busca de melhores condições de vida e trabalho. Os bolivianos, que hoje compõe fatia majoritária dos fluxos imigratórios para o Brasil, totalizando cerca de 400 mil pessoas, gradualmente se firmaram como força de trabalho explorada em diversas áreas, dentre as quais se destaca a indústria têxtil, na confecção de roupas para grandes marcas em pequenas unidades de costura. Seu protagonismo nessa área se deve à tradicional aptidão para o trabalho manual (manifesta em práticas centenárias de artesanato), ao baixo valor de sua mão de obra e à proximidade geográfica com o Brasil, que facilita o deslocamento fronteiriço.
Reestruturação Positiva
 Em termos da sociologia do trabalho, a partir da década de 1980, ocorre o processo denominado de Reestruturação Positiva na cadeia produtiva de tecidos. Esse novo modelo produtivo dá lugar aos já desgastados padrões fordistas/tayloristas preexistentes, reorganizando a cadeia a partir de princípios que combinam aspectos fordistas e pós-fordistas. Tal mudança teve como objetivo otimizar a produção, reduzindo os custos de transporte, os gargalos que o setor enfrentava e barateando a mão de obra.
A Terceirização
 Com o advento desse novo modo de produção, toda a cadeia têxtil foi modificada. Se antes a indústria baseava-se em aspectos fordistas, com uma produção concentrada em poucos e grandes complexos industriais, agora se torna dissipada em pequenas unidades produtivas. Isso se deve ao crescimento das terceirizações do trabalho, uma nova forma de exploração do capitalismo contemporâneo, conceituada por teóricos como Richard Sennett. Tal processo redunda em uma precarização ainda maior da situação dos trabalhadores, dado o pequeno poder de barganha das pequenas unidades produtivas, agregado ao baixo preço da mão de obra, que garantem a maximização de lucros para os grandes varejistas.
 A terceirização aparece, por tanto, como uma estratégia de dominação dos gigantes do varejo têxtil sobre os demais elos da cadeia produtiva. 
Condições Atuais de Trabalho
 Estimativas do Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), em contato direto com tal contexto, apontam que os bolivianos recebem em média R$ 1,70 por hora, ficando R$ 0,70 para a oficina, e o pagamento é proporcional à quantidade produzida; trabalham em torno de 18 horas por dia, o que totaliza cerca de 540 reais ganhos ao final do mês. Em geral, só têm direito a receber alimentação enquanto trabalham, e todas as suas atividades diárias ocorrem dentro de um mesmo pequeno espaço. Não raro, ficam sem receber seus salários por longos períodos e os primeiros 4 meses de trabalho costumam ser gastos para pagar a viagem até o Brasil. Aqui é importante notar a maneira como o fenômeno imigratório é usado como instrumento de flexibilização do trabalho para além dos limites legais. Tal condição encontra respaldo na alta burocratização dos trâmites imigratórios, além do inexistente acesso à informação - principal arma contra a alienação exploratória -, que garantem a eficácia do aliciamento da mão-de-obra. Sem a condição de legalizar-se, o boliviano vira refém de seu empregador, que muitas vezes é seu compatriota. Desse fato deriva a questão da ética corrompida no trabalho, muito abordada por Richard Sennet, e que redunda em um estado de falta de empatia. De modo geral, não há empatia entre os compatriotas bolivianos, e mesmo entre familiares envolvidos na confecção têxtil. Segundo entrevistados no CAMI, muitos trabalhadores pioneiros são indiferentes à condição de seus filhos e sobrinhos, vindos logo em seguida, sob a lógica da tradição - “se eu me submeti a tudo isso, por que devo prevenir alguém de enfrentar o mesmo?”.
Horizontes de Mudança
 Ao analisar os principais eixos sob os quais se sustentam o modelo exploratório da mão de obra escrava na cadeia têxtil, o presente estudo já explora indiretamente os horizontes alternativos. Nesse sentido, a solução envolve o desmantelamento dessas estruturas sociais, que perpetuam a situação, e que estão diretamente enraizadas na noção de capitalismo flexível, de Sennet. Assim, é necessário dar ao trabalhador o direito de ingressar no país com planos estruturados no longo prazo, e não na ideia de sacrifício temporário à qualquer custo para fugir da pobreza. O caminho, portanto, é bem definido. É fundamental prestar-se à questão dos trâmites imigratórios para os vizinhos sul-americanos: é preciso superar os resquícios do ''Estatuto do Estrangeiro'', visando à humanização do tratamento do Brasil para com os que nele ingressam. Isso requer a reforma necessária, esperada da nova Lei de Migração, garantindo as liberdades individuais e, principalmente, os direitos como cidadãos e trabalhadores. Assim, supera-se a informalidade e garante-se um trabalho e vida dignos.
ADMINISTRAÇÃO
 A indústria têxtil, no Brasil, tem enorme magnitude e é bastante representativa para o país, que se caracteriza como o quarto maior produtor de itens de vestuário
no mundo. De acordo com a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), cerca de 85% do vestuário consumido no país é produzido por fabricas nacionais. Assim, esse setor possui faturamento de 182 bilhões de reais, conta com 160 mil postos de venda e emprega por volta de 1,6 milhão de pessoas, sendo 75% delas mulheres. Caracterizado como setor estratégico, uma vez que é possível encontrar oficinas, comerciantes informais e varejistas de vestuário em toda a extensão territorial brasileira, sua distribuição ainda se encontra pouco concentrada uma vez que, de acordo com dados da ABVTEX (Associação brasileira do varejo têxtil), 20% do mercado é controlado por grandes varejistas, 30% por vendedores informais e 50% das vendas provém de lojas de bairro e redes locais de distribuição.
 Porém, apesar da importância para a economia nacional, o setor também sofre do mal da “produção rápida + preço baixo”, o que faz com que companhias do setor busquem recursos e sistemas produtivos que lhes permitam manter uma alta produtividade, mas com baixos custos. Uma das formas usadas pela indústria têxtil, especificamente no estado de São Paulo, é o aproveitamento da mão de obra imigrante, abundante na região e ainda assim marginalizada, por motivos discutidos anteriormente. Dessa forma, as oficinas de costura passam a empregar uma mão de obra barata e que pode ser facilmente explorada, devido a dividas contraídas na vinda ao país, à condição de imigrante ilegal e à não adequação às leis trabalhistas, fatores que barateiam as despesas na cadeia de produção de produtos de vestuário.
 O ciclo produtivo de roupas e acessórios é caracterizado por apresentar uma cadeia longa e com contratos flexíveis, utilizando-se fundamentalmente do processo de terceirização. Esse ciclo começa com as produtoras de algodão, de maioria brasileira, que destinam a matéria-prima a outras empresas responsáveis pela síntese de fibras sintéticas. As fibras, então, passam por processos de fiação, tecelagem e estamparia. Após esses processos, tem-se o pano, que é, então, levado às confecções, principais empregadoras de mão de obra escrava.
 As confecções atendem, geralmente, grandes redes varejistas que se utilizam do modelo de “fast fashion” (ou moda rápida), que significa um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados de forma rápida, e em que as coleções possam ser montadas e descontinuadas de acordo com as demandas do mercado, seguindo uma visão taylorista, ou seja, buscando uma maior produtividade e rendimento no menor tempo possível, tornando possíveis flexões produtivas frente a variações na demanda. Portanto, essas redes varejistas, após conceberem o produto e estabelecerem seu planejamento comercial, solicitam encomendas das peças de roupas para confecções por contratos terceirizados.
 Para conseguir atender ao grande volume de pedidos, as confecções, então, repassam o trabalho para oficinas menores, nas quais se tem maior risco de se encontrar uso de trabalho escravo, uma vez que essas oficinas geralmente se encontram em regiões periféricas e de difícil acesso ao espaço urbano, dificultando o trabalho de fiscalização das organizações estatais competentes e recrutando imigrantes que se encontram marginalizados ao chegarem ao país. Além disso, o repasse da produção a micro-oficinas funciona para desvencilhar a varejista da rede da confecção dos produtos, uma vez que a varejista não se responsabiliza legalmente pelos contratos estabelecidos entre as confecções contratadas diretamente e confecções menores.
 Em combate à prática do uso de mão de obra escrava nas linhas de produção têxtil, a grande mídia e diversos canais comunicacionais passaram a alertar os consumidores sobre essa realidade, o que foi responsável por criar uma demanda por roupas e acessórios produzidos de forma legal e que empregasse trabalhadores que exerceriam sua função de maneira ética, abrindo portas para que empreendedores pudessem inovar os setores de produção e varejo têxtil, utilizando-se de recursos sustentáveis e processos de gerência e coordenação que prezem pelo bem-estar dos trabalhadores.
 Uma dessas empresas é a Insecta, criada em 2014, em Porto Alegre, que fabrica sapatos com tecidos de roupas encontradas em brechós ou materiais que seriam descartados por confecções, visando evitar o desperdício produzido pela lógica do fast fashion. Já a Roupa Livre, organização criada por quatro jovens interessados em mudar a indústria da moda, tem o objetivo de estender a vida útil das roupas, fornecendo mapas colaborativos online para que o usuário possa encontrar brechós ou locais de doação de roupas, além de trabalhar no desenvolvimento de um aplicativo para trocas de roupas. 
MARKETING
Introdução
 Marketing, em suma, é o conjunto de técnicas para integrar as características de um produto ou serviço às necessidades dos consumidores. E para que determinado produto ou serviço atenda às necessidades dos consumidores, diversos processos se fazem necessários, como a análise interna e externa da entidade, designação estratégica dos 4P’s (produto, preço, promoção e praça) – que é o que vai determinar todo o conjunto de características do produto ou serviço – e algumas outras estratégias.
 Sobre o CAMI, selecionamos alguns aspectos relacionados a Marketing, sendo eles: Análise SWOT, que compreende a análise do ambiente interno e externo à entidade, apontando as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que afetam o funcionamento do CAMI, o P de promoção, ou seja, os mecanismos que a entidade utiliza para divulgar seus serviços, e as parcerias formadas pela entidade, que contribuem de maneira geral para o funcionamento do CAMI e de seus projetos.
 
Análise SWOT
· Forças: O CAMI é uma instituição composta primariamente por imigrantes, ou seja, é o Rosto dos imigrantes, o que gera uma confiança e segurança àqueles que compõem seu público alvo. Além disso, eles possuem presença no local onde se encontra seu público alvo, dinamizando a troca de informações entre entidade e público alvo. Seus funcionários e voluntariado extremamente capacitado contribuem de maneira geral para a fortaleza da entidade.
· Fraquezas: A maior fraqueza enfrentada pelo CAMI é a dificuldade financeira. Como uma ONG, eles se financiam através do governo com o repasse de multas por danos morais coletivos relacionados a infrações na cadeia têxtil, que são repassadas para cerca de 3 ou 4 instituições, ou por contribuições financeiras do MPT (Ministério Público do Trabalho), que durante os últimos dois anos tem repassado todo o dinheiro ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que fica a cargo de repassá-lo. Isso acontece porque o MPT não tem obrigações senão a de assinar um recibo caso repasse para o FAT, mas caso o MPT opte por repassar a alguma instituição, ele precisa fazer uma justificativa de doação, um contrato entre doador e receptor, garantir que a verba seja aplicada da maneira especificada no contrato, e por último fornecer um relatório ao governo.
· Oportunidades: O CAMI encontra em seus projetos, parcerias e pessoal uma oportunidade para juntar forças e combater as fraquezas e as possíveis ameaças externas.
· Ameaças: A falta de políticas públicas de amparo ao imigrante, que se resume ao Estatuto do Estrangeiro, criado durante a época da Ditadura Militar como manobra anticomunismo, essa herança do golpe ainda é aceita como lei, o que deveria ser no mínimo preocupante, não fosse a invisibilidade em que os imigrantes residem. Outra ameaça é a ação da polícia federal quando se trata de imigração, que assusta os imigrantes de maneira geral, que temem serem presos e até deportados. E a última ameaça apontada é a falta de consciência de classe dos imigrantes, que vem em busca de melhores condições de vida para poder sustentar sua família, não havendo uma união de forças entre esse grupo social.
 
Promoção
 O CAMI se promove basicamente através de material de divulgação, projetos
e eventos que realizam. O material de divulgação é essencial, mas além dele há ainda projetos como cursos de português ministrados na central do CAMI e em diversos bairros, cursos de música, modelagem, eletricidade, informática entre outros, um projeto que leva o nome de “Eu Chegando em São Paulo” com a finalidade de recepcionar os imigrantes e informá-los sobre seus direitos enquanto cidadãos. Há ainda rodas de conversa, agentes visitadores e multiplicadores, além do trabalho em escolas. Mas o principal meio de promoção do CAMI são os próprios imigrantes, que repassam suas experiências com a entidade para os outros.
 
Parceiros
 O CAMI possui diversos parceiros financeiros e de projetos, alguns deles ligados à cadeia têxtil, como é o caso do Instituto C&A, que contribui na parte de formação e educação, e da INDITEX, que apoia todos os outros serviços realizados. Além desses, eles recebem apoio das igrejas da França e dos Estados Unidos na parte de evangelização e formação religiosa. As contribuições financeiras por parte do MPT ajudaram a manter o trabalho de visitas a oficinas, de prevenção a acidentes de trabalho e de orientações na área trabalhista.
PSICOLOGIA
 O centro de apoio ao migrante tem como missão ‘’acolher e mobilizar os imigrantes na luta por direitos, cidadania e empoderamento social e político’’, sendo assim fica evidente que a missão do CAMI, por tratar da vida política do indivíduo, vai de encontro ao escopo da psicologia social, que é justamente o ramo da psicologia que estuda o comportamento do indivíduo e suas interações sociais.
 Uma questão proveniente dos estudos relacionados a psicologia social e que se aplica ao contexto da discussão abordada por este trabalho, é o que caracteriza os seres humanos enquanto tais, e a partir de tal questão, pode-se retirar conclusões que são de fundamental importância para a vida do indivíduo na sociedade e no entendimento daquilo que são os direitos inerentes a sua condição enquanto humano, sendo tais direitos denominados ‘’direitos humanos’’.
 Durante a rotina de trabalho a condição humana dos indivíduos é tida como algo a ser descartado, ou algo que não é relevante à maioria das organizações; quando os trabalhadores são imigrantes na cadeia têxtil, que valoriza e exige uma alta produção demandando um automatismo no processo de trabalho e nas ações dos trabalhadores devido ao baixo valor agregado dos produtos, a humanidade tende a ser ainda mais ignorada. Além desta conjuntura do mercado têxtil, os imigrantes carregam em si o estigma de que são apenas mão de obra por não fazerem parte da cultura do país em que estão inseridos, não à toa frequentemente saem na mídia notícias sobre trabalhos realizados em condições análogas a escravidão em oficinas de costura. Esse distanciamento do trabalhador à sua condição humana é o que leva as oficinas irregulares a promoverem o trabalho escravo, que nada mais é que o trabalho que desrespeita e infringe os direitos humanos.
 Ao se depararem em outro país os imigrantes além de terem de enfrentar as diferenças culturais, econômicas e sociais, também se deparam com a burocracia e com a dificuldade de acesso ao sistema legal brasileiro, o que os dificulta a participar ativamente da sociedade e de exercerem os seus direitos na mesma, com isso os aliciadores de mão de obra escrava conseguem driblar o Estado e a burocracia de forma a iludibriar os imigrantes fazendo os mesmos não terem consciência dos seus direitos.
 A conscientização dos imigrantes se mostra muito difícil, pois eles não têm consciência de que as condições de trabalho as quais estão submetidos no Brasil são indignas de um ser humano. A falta de oportunidades e de acesso as necessidades básicas nos seus países de origem, fazem o imigrante confundir o objeto de desejo com o objeto da vontade, ou seja, querem de uma maneira tão forte ascender socialmente, ao ponto de almejar integrar o objeto do desejo dentro de si como quase em uma obsessão. Sendo, na maior parte dos casos, esse objeto um maior poder econômico e social, e para alcançar o objeto de desejo, que neste caso é abstrato, o imigrante se submete a diversas situações tidas por eles como normais, como por exemplo a privação do lazer em prol do trabalho e de condições indignas de sobrevivência, para almejar o objeto de desejo no longo prazo. Tal desejo é usado como uma forma de alienação pelos exploradores de mão de obra escrava, pois a fragilidade social, econômica e política desses indivíduos, aliadas a um desejo enorme de mudança deste quadro é tida como uma oportunidade, pois os exploradores sabem que os imigrantes não têm nenhuma motivação para lutar pelos seus direitos tamanha a alienação, além de não terem a quem recorrer.
 Fica evidente que o CAMI tem um papel importante neste cenário, pois, ao promover o empoderamento social e político, facilita o entendimento dos imigrantes acerca de todos os direitos e deveres que possuem, dificultando a alienação dos mesmos pelos aliciadores e ainda ajuda os mesmos a se inserir na sociedade ativamente com vistas a promover uma ascensão social com os direitos resguardados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Partindo de toda a discussão abordada pelo presente trabalho, é importante olhar para cada elo da cadeia têxtil sob uma perspectiva holística, isto é, entendendo-os como parte pequena de um grande ciclo. A cadeia têxtil emprega uma em cada seis pessoas no mundo, e nas ultimas décadas o grande varejo exportou suas indústrias para locais onde há baixa fiscalização do trabalho, fracas leis trabalhistas e baixíssimos custos de produção; nesse cenário, a precarização da mão de obra torna-se uma realidade. 
 Nesse horizonte, muitos agentes já vêm se mobilizando no sentido de mudar essa realidade. Instituições como o CAMI, por exemplo, procuram criar entre os imigrantes certa consciência de coletividade, e a ideia de que o empoderamento de sua condição socioeconômica é possível e desejável. Iniciativas como essa, portanto, devem ser estimuladas, sendo mais expostas pela grande mídia, a fim de ganhar visibilidade da população geral e de empresas que possam apoiá-las, ou sendo foco de incentivos governamentais, com a implementação de políticas públicas específicas para tais órgãos de apoio. Afinal, a regularização de trabalhadores estrangeiros gera uma série de externalidades positivas para o país como um todo: temos mais pessoas arrecadando impostos e empregadas formalmente.
 Em alinhamento com as propostas apresentadas ao longo do trabalho, vislumbra-se - no curto prazo - um contexto nacional contendo políticas públicas de amparo aos imigrantes, além do incentivo a negócios sociais visando a produção alternativa de roupas e acessórios; e, no longo prazo, uma reestruturação da produção, uma alternativa ao o modelo “fast fashion’’, advinda de um gradual processo de educação para o consumo. Afinal, só é possível reverter certo modelo de produção quando a demanda por ele é reduzida. Este processo, de raiz cultural, deve ser institucionalizado nas escolas, visando à conscientização coletiva. É possível, nesse horizonte maior de tempo, estimular iniciativas como a britânica “Buy me once”, que visa incutir a ideia de utilidade e durabilidade nos artigos de vestuários em geral, desvinculando a peça de roupa de seu status social agregado. Esta, na verdade, é a chave para o desmonte do império têxtil, que forma magnatas bilionários como Amâncio Ortega, presidente da Zara. Assim, supera-se o modelo predatório de exploração do trabalho, mais acentuado neste novo capitalismo flexível, que configura uma das grandes mazelas da sociedade contemporânea.
ANEXOS
Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fast_fashion
http://agencia.fapesp.br/a_face_da_escravidao_contemporanea/22954/
http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/economia/parem-de-dizer-que-somos-escravos-pede-lider-dos-bolivianos-em-sao-paulo/
https://oestrangeirodotorg.files.wordpress.com/2013/05/nc3bamero-de-imigrantes-no-brasil-atc3a9-2012-por-pac3ads.pdf
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/o-panorama-da-imigracao-no-brasil
http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/caracteriza-trabalho-escravo-hoje-469810.shtml
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=388
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=390
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=392
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=382
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=378
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=380
http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=384
Entrevista com o CAMI (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante)
A nova configuração da imigração no Brasil sob a óptica do trabalho
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/cartilhas/direitos_humanos/fr_direitos.aspx
http://www.dhnet.org.br/direitos/filosofia/arendt/brito_dh_hannah_arendt.htm
 http://camimigrantes.com.br/site/?page_id=10
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