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História do Pensamento Econômico – 2017.1 2. A Revolução Marginalista Prof. João Pondé Instituto de Economia – UFRJ ponde@ie.ufrj.br 2.1. Caracterizando a “Revolução” a) Mudanças teóricas não cumulativas • A caracterização de uma revolução científica pressupõe uma descontinuidade do desenvolvimento de uma disciplina científica. – Mudam pressupostos acerca das características básicas do mundo natural e/ou social. – Novas hipóteses teóricas são formuladas. – Mudam os métodos de análise. – Mudam as perguntas e os tipos aceitáveis de respostas. • A revolução Marginalista é usualmente associada à “descoberta” do princípio da utilidade marginal decrescente, feita simultaneamente por três autores: – William Stanley Jevons (1835-1882) – Carl Menger (1840-1921) – Marie Esprit Leon Walras (1834-1910) • Mas existem diferenças importantes entre estes autores. E a formação do sistema teórico neoclássico exige mais do que a formulação de uma teoria do valor baseada na noção de utilidade marginal. 1 b) O Sistema Teórico Neoclássico • Enfoque alocativo. O problema econômico fundamental é a alocação de recursos escassos entre fins alternativos. O crescimento econômico – um tema central para os clássicos – passa a ser secundário. • Teoria subjetiva do valor e hedonismo. Teoria do valor-utilidade (incluindo o princípio da utilidade marginal decrescente) e redução do comportamento humano a um cálculo racional de dores e prazeres. • Marginalismo. Método de análise baseado do princípio da substituição. • Individualismo. Os agentes econômicos são indivíduos, ou agregados sociais que podem ser considerados como uma unidade de decisão (famílias, firmas). As classes sociais desaparecem da análise. • Universalização das leis econômicas. As relações sociais deixam de ser objeto da ciência econômica e as leis econômicas passam a ter validade universal. • Integração do valor e distribuição na teoria dos preços. A teoria da distribuição passa a ser um caso especial da teoria do valor. Todos os tipos de rendas são explicados simultaneamente e simetricamente em termos das forças da oferta e da demanda dos fatores de produção (Terra, Trabalho e Capital). 2 2.2. Precursores a) Reação Antiricardiana na Inglaterra: Nassau William Senior (1790-1864) • Em An Outline of the Science of Political Economy (1836), Senior rejeitava a teoria do valor trabalho – para ele as condições da oferta (limitações) e da demanda (utilidade) determinavam o valor. • Além disso, Senior tentou explicar os lucros como uma remuneração do sacrifício de se colocar o capital a serviço da produção. O argumento de Sênior era que: – o trabalho e a terra eram as forças ou recursos produtivos originais; – a utilização do capital incrementa a produtividade; – o capital derivava de um sacrifício – a poupança e correspondente adiamento de prazeres – e o lucro era uma remuneração correspondente ao ato de poupar (a taxa de lucro dependia do período de antecipação do capital). 3 b) Augustin Cournot (1801-1877) • Principal obra: Investigação sobre os Princípios Matemáticos da Teoria da Riqueza. • Cournot rejeitava qualquer teoria que buscasse identificar as causas do valor – seja no trabalho ou na utilidade. • Foi o primeiro a formular em termos rigorosos uma função de demanda, que ele utilizou para determinar preços e quantidades em condições de monopólio. • Cournot também analisou a determinação do preço em condições de duopólio, supondo: – Duas firmas produzindo com custo zero e uma função de demanda dada. – Cada firma decide o quanto produzir, tomando como dada a produção da outra firma. c) Jules Dupuit (1804-1866) • No ensaio Da Utilidade e sua Mensuração (1844), Dupuit constrói uma função de demanda e antecipa a noção de excedente do consumidor, com o objetivo de avaliar os benefícios sociais de obras públicas, como pontos e canais. • Assim como Cournot, Dupuit considerava a relação entre preço e quantidade demandada como um fato empírico, que não requeria justificativa teórica. 4 d) Hermann Heinrich Gossen (1810-1858) • Principal obra: Desenvolvimento das Leis do Intercurso Humano e as Resultantes Regras do Comércio (1854). • Gossen argumentava que os bens não possuem valor intrínseco. O valor decorreria de uma relação entre o sujeito e o obsjeto – sendo tal relação baseada na utilidade. • Gossen partiu do pressuposto de que o agente econômico busca maximizar sei prazer e formulou duas leis: 1) O prazer obtido no consumo de um bem decresce á medida em que a quantidade consumida aumenta, até que a saciedade é alcançada 2) O indivíduo escolhe demandas os vários bens em tal proporção que a satisfação obtida a aquisição deles é igual. e) Johann Heinrich von Thünen (1783-1850) • Principal obra: O Estado Isolado (1826). • Von Thünen considerava o capital como um fator de produção, consistindo na quantidade de trabalho passado que foi emprega na produção dos meios de produção • Ele supunha que o uso do capital aumenta a produtividade do trabalho, mas a uma taxa decrescente. O rendimento proporcionado pelo capital dependeria desta função. 5 2.3. A Teoria da Economia Política de W. S. Jevons 2.3.1. Alguns Dados Biográficos 1835 Nascimento em Liverpool. 1852-3 Estuda química e botânica no University College. 1850 Aceita um emprego como técnico na cunhagem de moedas em Sydney. 1859 Retoma os estudos no University College, dedicando-se às ciência morais. 1862 “Notice of a General Methematical Theory of Political Economy”. 1863 Tutor no Owens College (que hoje é a Universidade de Manchester). 1866 Torna-se professor de lógica e filosofia moral e mental no Owens College. 1864 The Coal Question. 1870 Elementary Lessons on Logic. 1871 Theory of Political Economy. 1876 Torna-se professor de Economia Política no University College. 1882 Morte ao 46 anos em Sussex. 6 2.3.2. Influências: a Filosofia Utilitarista • Jeremy Bentham (1748-1832) • Definição de Utilidade:: "propriedade existente em qualquer coisa, propriedade em virtude da qual o objeto tende a produzir ou proporcionar benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (...), ou (...) a impedir que aconteça o dano, a dor, o mal, ou a infelicidade para a parte cujo interesse está em pauta" • Proposições básicas de Bentham: – Princípio do hedonismo psicológico- os indivíduos se comportam visando maximizar a utilidade. – Princípio da Utilidade – critério moral pelo qual uma ação é boa na medida em que promove a maior felicidade do maior número de pessoas. • Estes dois princípios pressupõem que os prazeres e as dores são quantificáveis. • Bentham procura tornar a discussão moral científica. 7 2.3.3. Questões de método a) O caráter matemático da economia • Jevons classifica as ciências em 2 tipos: lógicas e matemáticas. Em uma ciência lógica, a teoria determina apenas se uma coisa é ou não é – se um evento ocorrerá ou não; “mas se a coisa pode ser maior ou menor, ou se o evento ocorrerá mais cedo ou mais tarde, mais próximo ou mais distante, então entram noções quantitativas e a ciência deve ser matemática em essência” (p. 31). • A economia deve ser uma ciência matemática, “simplesmente porque lida com quantidades” (p. 30). Jevons argumenta que “onde quer que os objetos tratados sejam passíveis de ser maior ou menor, aí as leis e relações devem ser matemáticas por natureza” (idem). As leis econômicas são matemáticas, ainda que possam ser formuladas verbalmente. • Para Jevons, “não pode haverdúvida de que o prazer, o sofrimento, o trabalho, a utilidade, o valor, a riqueza, a moeda, o capital, etc... são todos conceitos passíveis de ser quantificados” (p. 32) . • Não confundiruma ciência matemática com uma ciência exata – esta depende de que existam dados precisos que permitam uma resposta precisa para os cálculos a serem efetuados. Jevons achava que a economia poderia gradualmente se tornar uma ciência exata, à medida em que as necessárias estatísticas comerciais fossem produzidas. • O fato de uma variável central da economia – a utilidade – se referir a sentimentos individuais, que não podem ser diretamente mensurados, não é um problema para Jevons. Para ele, os sentimentos se expressam nos movimentos dos preços e quantidades nos mercados, “e é a partir dos efeitos quantitativos dos sentimentos que devemos estimar seus montantes comparativos” (p. 33). • Jevons também admite que o próprio indivíduo pode ter dificuldades em mensurar seus sentimentos, mas o fato da teoria lidar com situações em que a uma variação na margem tornaria factível supor que os indivíduos são capazes de comparar os prazeres das alternativas em jogo (ainda que não sejam capazes de comparar as utilidades ou prazeres totais. Além disso, Jevons ainda assinala que não é possível “comparar o montante de sentimento de uma mente com o de outra” (p. 34). 8 b) O método dedutivo • Jevons aceita, em linhas gerais, o método dedutivo de J. S. Mill: – “devemos começar a partir de algumas leis psicológicas gerais óbvias , como, por exemplo, um ganho maior é preferido a um menor, e daí em diante, devemos raciocinar e predizer os fenômenos que serão produzidos na sociedade por tal lei” (p. 35). E causas perturbadoras sempre farão que a observação dos efeitos inalterados de qualquer lei seja rara. – “Possuindo certos fatos observáveis, construímos uma hipótese sobre as leis que governam estes fatos; raciocinamos a partir da hipótese dedutivamente até os resultados esperados; e, então, examinamos esses resultados em relação aos fatos em questão; a coincidência confirma o conjunto do raciocínio; a discordância nos obriga a procurar as causas perturbadoras ou, alternativamente, a abandonar nossas hipóteses”(p. 36). – Jevons admite, como Mill, que é muito difícil identificar as leis econômicas a partir da observação do funcionamento da economia (devido à multiplicidade de causas). Expor o argumento de Mill. 9 2.3.4. Utilidade e grau de utilidade • Jevons se propõe a demonstrar que “o valor depende inteiramente da utilidade” (p. 29). • Ruptura com os Clássicos no que ao papel do consumo na teoria econômica. – Jevons afirma que “maximizar o prazer é o problema da Economia” (p. 47). Em seguida, afirma que “a Economia deve ter por base uma investigação completa e precisa sobre as condições da utilidade; e para este fundamento devemos necessariamente examinar as necessidades e desejos do homem. Ante de tudo, precisamos de uma teoria do consumo da riqueza” (p. 48). Ele confronta esta posição com a firmação de Mill de não há nenhuma lei do consumo da riqueza a ser estudada pela Economia Política. – Citando Banfield, Jevons assinala que “a base científica da economia está numa teoria do consumo” (p. 49). a) O conceito de utilidade • A discussão do conceito de utilidade de Jevons introduz uma noção de utilidade oriunda da tradição utilitarista, que vai estar na base da teoria neoclássica até o século XX. • Para Jevons, a utilidade não é uma qualidade intrínseca das coisas, mas depende “da relação destas com as exigências do homem”. Jevons dá o exemplo da água, cuja utilidade diminui gradativamente até zero, podendo tornar-se negativa, à medida em que quantidades adicionais são consumidas. Assim, a utilidade passa a ser identificada com o quantum de satisfação – prazer ou sofrimento - obtido no consumo. Nas palavras de Jevons: – “Considere-se que a utilidade é medida pelo acréscimo feito ao contentamento de uma pessoa, ou é até mesmo idêntica a este fato. Ela dá um nome conveniente para o saldo total favorável de sentimento produzido – a soma do prazer criado com o sofrimento evitado” (p. 51). • Se a utilidade não é uma qualidade intrínseca, “tampouco podemos dizer que todas as porções do mesmo bem possuem a mesma utilidade” (p. 50). 10 • Uma vez definida a utilidade em termos de quantidade de satisfação (prazer – sofrimento), Jevons vai apresenta a “lei da variação da utilidade”, bem como definir a “utilidade total” e o ‘Grau de utilidade”. • O grau de utilidade é definido como a utilidade obtida por uma quantidade infinitamente pequena de um bem. – “(...) usarei comumente a expressão grau final de utilidade para designar o grau de utilidade do último acréscimo, ou a próxima possível adição de uma quantidade muito pequena, ou infinitamente pequena, ao montante existente” (p. 53). – “O grau final de utilidade é a função em torno da qual irá girar a teoria econômica” (p. 54). – “Podemos estabelecer como lei geral que o grau de utilidade varia com a quantidade de um bem e finalmente diminui na medida em que a quantidade aumenta” (p. 54). • O conceito de grau final de utilidade permite resolver o paradoxo da água e do diamante, explicando porque “muitos bens que nos são extremamente úteis são pouco desejados e apreciados” (p. 54). 11 b) Grau de utilidade decrescente e alocação ótima • Jevons analisa a alocação de um determinado bem – por exemplo, a cevada – entre usos alternativos – a alimentação e a fabricação de cerveja. • Ele argumenta que, para maximizar a satisfação (a utilidade total) o bem deve ser alocado entre os dois usos de maneira que os graus finais de utilidades sejam igualados. • “O resultado geral é que um bem, se usado por um ser perfeitamente sábio, deverá ser consumido com uma produção máxima de utilidade” (p. 57). c) Utilidade real, provável e potencial • A utilidade real é a utilidade do ferro contido nos trilhos de uma estrada de ferro; a utilidade provável é a utilidade do ferro que jaz na loja de um comerciante; a utilidade potencial é a utilidade do ferro que jaz nas entranhas da terra. • A utilidade potencial não é tratada pela ciência econômica. • Já a utilidade provável é de suma importância, pois muitas decisões envolvem um consumo futuro. Jevons antecipa a noção de utilidade esperada, argumentando que a utilidade de um bem deve levar em conta a probabilidade de um prazer ou sofrimento futuro. 12 d) Alocação intertemporal do consumo de um bem • Se um indivíduo deve alocar o consumo ao longo do tempo, dois fatores adicionais devem ser considerados. – “uma sensação futura tem sempre menos influência que uma sensação presente” (p. 62); – qual a probabilidade de que o bem irá se manter bom para o consumo no futuro. • A condição de maximização da utilidade será a seguinte: v1p1q1 = v2p2q2 = v3p3q3 = ... = vnpnqn Onde, v = grau final de utilidade. p = probabilidade do bem se manter bom no futuro. q = razão entre a quantidade antecipada de prazer e a quantidade futura. 13 2.3.5. Teoria das Trocas a) Mercado e concorrência • Definição de mercado: – “qualquer comunidade de pessoas que estão em relações diretas de negócios e realizam grandes transações com qualquer bem” (p. 69). – Um mercado pode ter uma localização geográfica específica ou não. • As condições de livre concorrência são caracterizadas por Jevons da seguinte forma: – As informações relevantes são completamente difundidas entre os participantes do mercado, de modo que, quando duas ou mais pessoas negociam,“suas intenções de troca e estoque destes bens são do conhecimento de todos. Também é essencial que a relação de troca entre duas pessoas quaisquer seja conhecida por todas as outras (...) um mercado é teoricamente perfeito apenas quando todos os comerciante têm perfeito conhecimento das condições de oferta e procura, e da relação de troca consequente” (p. 70). – Os indivíduos agem “puramente de acordo com suas próprias necessidades e interesses”, e realizam trocas uns com os outros “pela menor vantagem aparente” (p. 70). – Inexistem “conspirações que absorvam ou retenham suprimentos de modo a provocar relações de troca anormais” (p. 70). • Jevons acredita que “a concepção teórica de um mercado perfeito se confirma mais ou menos completamente na prática”. 14 • Em condições de livre concorrência, sendo os produtos homogêneos e de qualidade uniforme, vale a “lei da indiferença”. – “no mesmo mercado livre, em qualquer momento, não podem existir dois preços para o mesmo tipo de artigo” (p. 72). • Jevons analisa o funcionamento do mercado a partir da noção de “comunidade comercial” – grupos de vendedores ou compradores que podem corresponder a um único indivíduo ou mesmo a todos os habitantes de um continente. – A comunidade comercial é uma forma (problemática!) de passar da análise do indivíduo para a análise do mercado no agregado. – Jevons supõe que o comportamento da comunidade reflete fielmente o comportamento dos indivíduos, sem as perturbações que a ação de “motivos estranhos” e os “caprichos” produzem nos ações individuais. “Desse modo, nossas leis econômicas serão teoricamente verdadeiras no caso de indivíduos, e verdadeiras na prática no caso de grandes agregados, já que os princípios gerais serão os mesmos, seja qual for a extensão da comunidade comercial considerada” (p. 72). 15 b) Determinação das Relações de Troca • Proposição central da Teoria da Troca: A relação de troca de dois bens quaisquer será correspondente à relação dos graus finais de utilidade das quantidades dos bens disponíveis para consumo depois que a troca se complete. • Pressupostos: – A Comunidade A possui inicialmente a quantidade a de trigo. – A Comunidade B possui inicialmente a quantidade b de carne. – A troca consiste em dar x unidades de trigo por y unidades de carne. – Após a troca, A possui a – x unidades de trigo e y unidades de carne. – Após a troca, B possui x unidades de trigo e b – y unidades de carne. – Condição de equilíbrio: “uma quantidade infinitamente pequena de um bem, [que] se roque a mais, pela mesma taxa, não trará nem perda nem ganho de utilidade. 16 • Seja 𝜑1 𝑎 − 𝑥 o grau final de utilidade do trigo para A e 𝜓1 𝑦 o grau final de utilidade da carne para A, a condição de maximização da utilidade desta comunidade será: 𝜑1 𝑎 − 𝑥 .dx = 𝜓1 𝑦 .dy Ou 𝜑1 𝑎−𝑥 𝜓1 𝑦 = 𝑑𝑦 𝑑𝑥 Dada a lei da indiferença, 𝜑1 𝑎−𝑥 𝜓1 𝑦 = 𝑦 𝑥 • Seja 𝜑2 𝑥 o grau final de utilidade do trigo para B e 𝜓2 𝑏 − 𝑦 o grau final de utilidade da carne para B, a condição de maximização da utilidade desta comunidade será: 𝜑2 𝑥 .dx = 𝜓2 𝑏 − 𝑦 .dy Ou 𝜑2 𝑥 𝜓2 𝑏−𝑦 = 𝑑𝑦 𝑑𝑥 Dada a lei da indiferença, 𝜑2 𝑥 𝜓2 𝑏−𝑦 = 𝑦 𝑥 17 c) Avaliação crítica • Jevons não dá nenhuma pista ou justificativa para o procedimento de agregação das funções de utilidade. • No caso de existirem vários indivíduos na comunidade comercial, o grau de utilidade médio depende não apenas do estoque inicial de bens, mas da sua distribuição; • Jevons determina os preços relativos dados os estoques iniciais de produtos, mas não oferece qualquer explicação da produção e da determinação de tais estoques. • Jevons não explica como o equilíbrio é determinado. A condição de equilíbrio que ele estabelece é compatível com múltiplos equilíbrios, como percebeu Francis Ysidro Edgeworth (1845-1926). 18 2.3.6. Utilidade e oferta de trabalho a) Definição de “trabalho” • Jevons define trabalho como “qualquer esforço penoso da mente ou do corpo empreendido parcial ou totalmente tendo em vista um bem futuro” (p. 110). • Por sua vez, o montante de trabalho é uma grandeza de duas dimensões, o tempo e a intensidade. A variação do montante de trabalho afeta tanto a sua recompensa quanto o esforço ou sacrifício envolvidos. • Variáveis que afetam a decisão do trabalhados: t = tempo ou duração do trabalho. I = montante de trabalho ou saldo total de sofrimento associado a este, sendo que l = f(t). x = montante total de bens produzidos pelo trabalho, sendo que x = f (t). u = utilidade total destes bens. 19 b) Determinação da duração do tempo de trabalho • Jevons demonstra que o trabalhador maximiza sua utilidade quando, na margem, o ganho de utilidade proporcionados pelo consumo dos bens produzidos é igual ao sofrimento gerado pelo trabalho. • Ou seja, a condição de equilíbrio do trabalhador é: 𝑑𝑙 𝑑𝑡 = 𝑑𝑥 𝑑𝑡 ∙ 𝑑𝑢 𝑑𝑥 • Análise gráfica: Dd D d dddd 20 2.4. Menger e a Escola Austríaca • Carl Menger (1840-1821) formou-se em direito e, inicialmente, de dedicou-se ao jornalismo. A partir da prática do jornalismo econômico, começou estudar Economia Política em 1871. • Publicou os Princípios de Economia Política em 1871 e, dois anos depois, foi indicado para a Cadeira de Teoria Econômica da Faculdade de Direito da Universidade de Viena. • Em 1883, publicou o livro Investigação sobre o Método das Ciências Sociais, que desencadeou a “Batalha dos Métodos”. • A Escola Austríaca se forma a partir de seus dois discípulos diretos e de alunos da Universidade de Viena. – 2ª Geração: Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) e Friedrich von Wieser (1851-1926). – 3ª Geração: Ludwig von Mises (1881-1973), Friedrich A. Hayek (1899-1992) e, em parte, Joseph Schumpeter (1883-1950). • A partir da década de 1930, a Tradição Austríaca vai se afastar da ortodoxia neoclássica e se configurar como uma abordagem alternativa heterodoxa. 21 • O ponto de partida da Teoria de Valor de Menger é o conceito de bem econômico - coisas úteis que podem estabelecer uma relação de causa e efeito com a satisfação de necessidades humanas. • Para que um elemento do mundo externo seja um bem, quatro condições devem estar presentes. 1) Uma necessidade humana. 2) A Propriedade de um objeto que o torna capaz de estabelecer uma conexão causal com a satisfação da necessidade. 3) O conhecimento humano desta conexão causal. 4) O comando sobre o objeto para direcioná-lo à satisfação da necessidade. • O bens são econômicos quando o montante que as pessoas devem possuir para satisfazer suas necessidades supera a quantidade disponível – são escassos. Isso cria a necessidade de economizá-los. • O conhecimento da conexão causal entre as propriedades de um objeto e a satisfação das necessidades tem um componente subjetivos – o que leva à distinção entre necessidades reais e imaginárias, bens reais e imaginários. 22 • Os bens econômicos possuem valor porque servem a diferentes usos, cuja importância em termos de satisfação das necessidades varia. • No ato de economizar, os indivíduos valoram os bens de acordo com a importância da satisfação de diferentes necessidades, levando em conta: – A importância da satisfação de necessidades de diferentes tipos. – A importância de satisfazermais ou menos a necessidade de um determinado tipo. • Os bens podem ser classificados de acordo com sua posição no nexo de causalidade entre os bens e a satisfação das necessidades: – Bens de 1ª Ordem: atendem diretamente as necessidades (Pão). – Bens de 2ª Ordem: atendem indiretamente as necessidades (Farinha de Trigo). 23 • Menger analisa como, no ato de economizar, o indivíduo ordena suas necessidades e aloca os bens de maneira a ir progressivamente satisfazendo as necessidades menos urgentes. Daí ele deduz que: – O valor de um bem para o indivíduo corresponde a valoração da última unidade alocada para a satisfação da necessidade relativamente menos importante. – O valor de um bem não é uma propriedade intrínseca do objeto, mas sim um juízo que o indivíduo faz da sua capacidade de satisfazer as necessidades (por isso o valor é subjetivo). – O preço que o indivíduo está disposto a pagar por um bem diminui com a quantidade consumida. • Menger pode então ser identificado como um dos descobridores do Principio da Utilidade Marginal decrescente e um dos formuladores da Teoria do Valor-Utilidade. 24 • Mas os “austríacos” contemporâneos identificam na obra de Manger elementos que justificam distanciá-la do núcleo da tradição neoclássica. – Diferentemente de Jevons e Walras, Menger não toma a Física como um modelo para o desenvolvimento da ciência econômica, nem aceita que sua matematização seja necessária e desejável. – O problema econômico é analisado como mais do que a mera alocação de recursos, mas como a descoberta das conexões entre os objetos e a satisfação das necessidades. – A aquisição de conhecimento é, assim, parte fundamental do processo econômico (Hayek, por exemplo, var caracterizar a competição como um “processo de descoberta”). – O progresso econômico depende do progresso do conhecimento das conexões entre os objetos e a satisfação das necessidades. 25
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