Buscar

HPE - A Revolução Marginalista

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

História do Pensamento Econômico – 2017.1 
 
2. A Revolução Marginalista 
 
 
 Prof. João Pondé 
 Instituto de Economia – UFRJ 
 ponde@ie.ufrj.br 
 
 
 
 
2.1. Caracterizando a “Revolução” 
 
a) Mudanças teóricas não cumulativas 
 
• A caracterização de uma revolução científica pressupõe uma descontinuidade do 
desenvolvimento de uma disciplina científica. 
– Mudam pressupostos acerca das características básicas do mundo natural e/ou social. 
– Novas hipóteses teóricas são formuladas. 
– Mudam os métodos de análise. 
– Mudam as perguntas e os tipos aceitáveis de respostas. 
 
 
• A revolução Marginalista é usualmente associada à “descoberta” do princípio da 
utilidade marginal decrescente, feita simultaneamente por três autores: 
– William Stanley Jevons (1835-1882) 
– Carl Menger (1840-1921) 
– Marie Esprit Leon Walras (1834-1910) 
 
• Mas existem diferenças importantes entre estes autores. E a formação do sistema 
teórico neoclássico exige mais do que a formulação de uma teoria do valor 
baseada na noção de utilidade marginal. 
1 
 
b) O Sistema Teórico Neoclássico 
 
• Enfoque alocativo. O problema econômico fundamental é a alocação de recursos 
escassos entre fins alternativos. O crescimento econômico – um tema central para 
os clássicos – passa a ser secundário. 
• Teoria subjetiva do valor e hedonismo. Teoria do valor-utilidade (incluindo o 
princípio da utilidade marginal decrescente) e redução do comportamento 
humano a um cálculo racional de dores e prazeres. 
• Marginalismo. Método de análise baseado do princípio da substituição. 
• Individualismo. Os agentes econômicos são indivíduos, ou agregados sociais que 
podem ser considerados como uma unidade de decisão (famílias, firmas). As 
classes sociais desaparecem da análise. 
• Universalização das leis econômicas. As relações sociais deixam de ser objeto da 
ciência econômica e as leis econômicas passam a ter validade universal. 
• Integração do valor e distribuição na teoria dos preços. A teoria da distribuição 
passa a ser um caso especial da teoria do valor. Todos os tipos de rendas são 
explicados simultaneamente e simetricamente em termos das forças da oferta e 
da demanda dos fatores de produção (Terra, Trabalho e Capital). 
 
 
2 
2.2. Precursores 
 
a) Reação Antiricardiana na Inglaterra: Nassau William Senior (1790-1864) 
 
• Em An Outline of the Science of Political Economy (1836), Senior rejeitava 
a teoria do valor trabalho – para ele as condições da oferta (limitações) e 
da demanda (utilidade) determinavam o valor. 
 
• Além disso, Senior tentou explicar os lucros como uma remuneração do 
sacrifício de se colocar o capital a serviço da produção. O argumento de 
Sênior era que: 
– o trabalho e a terra eram as forças ou recursos produtivos originais; 
– a utilização do capital incrementa a produtividade; 
– o capital derivava de um sacrifício – a poupança e correspondente adiamento 
de prazeres – e o lucro era uma remuneração correspondente ao ato de 
poupar (a taxa de lucro dependia do período de antecipação do capital). 
 
 
 
 
3 
b) Augustin Cournot (1801-1877) 
 
• Principal obra: Investigação sobre os Princípios Matemáticos da Teoria da Riqueza. 
• Cournot rejeitava qualquer teoria que buscasse identificar as causas do valor – 
seja no trabalho ou na utilidade. 
• Foi o primeiro a formular em termos rigorosos uma função de demanda, que ele 
utilizou para determinar preços e quantidades em condições de monopólio. 
• Cournot também analisou a determinação do preço em condições de duopólio, 
supondo: 
– Duas firmas produzindo com custo zero e uma função de demanda dada. 
– Cada firma decide o quanto produzir, tomando como dada a produção da outra firma. 
 
c) Jules Dupuit (1804-1866) 
 
• No ensaio Da Utilidade e sua Mensuração (1844), Dupuit constrói uma função de 
demanda e antecipa a noção de excedente do consumidor, com o objetivo de 
avaliar os benefícios sociais de obras públicas, como pontos e canais. 
• Assim como Cournot, Dupuit considerava a relação entre preço e quantidade 
demandada como um fato empírico, que não requeria justificativa teórica. 
 
 
 
 
4 
d) Hermann Heinrich Gossen (1810-1858) 
 
• Principal obra: Desenvolvimento das Leis do Intercurso Humano e as Resultantes Regras do 
Comércio (1854). 
• Gossen argumentava que os bens não possuem valor intrínseco. O valor decorreria de uma 
relação entre o sujeito e o obsjeto – sendo tal relação baseada na utilidade. 
• Gossen partiu do pressuposto de que o agente econômico busca maximizar sei prazer e 
formulou duas leis: 
1) O prazer obtido no consumo de um bem decresce á medida em que a quantidade consumida 
aumenta, até que a saciedade é alcançada 
2) O indivíduo escolhe demandas os vários bens em tal proporção que a satisfação obtida a 
aquisição deles é igual. 
 
e) Johann Heinrich von Thünen (1783-1850) 
 
• Principal obra: O Estado Isolado (1826). 
• Von Thünen considerava o capital como um fator de produção, consistindo na quantidade de 
trabalho passado que foi emprega na produção dos meios de produção 
• Ele supunha que o uso do capital aumenta a produtividade do trabalho, mas a uma taxa 
decrescente. O rendimento proporcionado pelo capital dependeria desta função. 
5 
2.3. A Teoria da Economia Política de W. S. Jevons 
 
 
2.3.1. Alguns Dados Biográficos 
 
1835 Nascimento em Liverpool. 
1852-3 Estuda química e botânica no University College. 
1850 Aceita um emprego como técnico na cunhagem de moedas em Sydney. 
1859 Retoma os estudos no University College, dedicando-se às ciência morais. 
1862 “Notice of a General Methematical Theory of Political Economy”. 
1863 Tutor no Owens College (que hoje é a Universidade de Manchester). 
1866 Torna-se professor de lógica e filosofia moral e mental no Owens College. 
1864 The Coal Question. 
1870 Elementary Lessons on Logic. 
1871 Theory of Political Economy. 
1876 Torna-se professor de Economia Política no University College. 
1882 Morte ao 46 anos em Sussex. 
 
 
 
 
 
 6 
 
2.3.2. Influências: a Filosofia Utilitarista 
 
• Jeremy Bentham (1748-1832) 
 
• Definição de Utilidade:: "propriedade existente em qualquer coisa, propriedade em virtude da qual 
o objeto tende a produzir ou proporcionar benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (...), ou 
(...) a impedir que aconteça o dano, a dor, o mal, ou a infelicidade para a parte cujo interesse está 
em pauta" 
 
• Proposições básicas de Bentham: 
– Princípio do hedonismo psicológico- os indivíduos se comportam visando maximizar a utilidade. 
– Princípio da Utilidade – critério moral pelo qual uma ação é boa na medida em que promove a maior 
felicidade do maior número de pessoas. 
 
• Estes dois princípios pressupõem que os prazeres e as dores são quantificáveis. 
 
• Bentham procura tornar a discussão moral científica. 
 
7 
2.3.3. Questões de método 
 
a) O caráter matemático da economia 
 
• Jevons classifica as ciências em 2 tipos: lógicas e matemáticas. Em uma ciência lógica, a teoria determina apenas 
se uma coisa é ou não é – se um evento ocorrerá ou não; “mas se a coisa pode ser maior ou menor, ou se o 
evento ocorrerá mais cedo ou mais tarde, mais próximo ou mais distante, então entram noções quantitativas e a 
ciência deve ser matemática em essência” (p. 31). 
• A economia deve ser uma ciência matemática, “simplesmente porque lida com quantidades” (p. 30). Jevons 
argumenta que “onde quer que os objetos tratados sejam passíveis de ser maior ou menor, aí as leis e relações 
devem ser matemáticas por natureza” (idem). As leis econômicas são matemáticas, ainda que possam ser 
formuladas verbalmente. 
• Para Jevons, “não pode haverdúvida de que o prazer, o sofrimento, o trabalho, a utilidade, o valor, a riqueza, a 
moeda, o capital, etc... são todos conceitos passíveis de ser quantificados” (p. 32) . 
• Não confundiruma ciência matemática com uma ciência exata – esta depende de que existam dados precisos que 
permitam uma resposta precisa para os cálculos a serem efetuados. Jevons achava que a economia poderia 
gradualmente se tornar uma ciência exata, à medida em que as necessárias estatísticas comerciais fossem 
produzidas. 
• O fato de uma variável central da economia – a utilidade – se referir a sentimentos individuais, que não podem ser 
diretamente mensurados, não é um problema para Jevons. Para ele, os sentimentos se expressam nos 
movimentos dos preços e quantidades nos mercados, “e é a partir dos efeitos quantitativos dos sentimentos que 
devemos estimar seus montantes comparativos” (p. 33). 
• Jevons também admite que o próprio indivíduo pode ter dificuldades em mensurar seus sentimentos, mas o fato 
da teoria lidar com situações em que a uma variação na margem tornaria factível supor que os indivíduos são 
capazes de comparar os prazeres das alternativas em jogo (ainda que não sejam capazes de comparar as 
utilidades ou prazeres totais. Além disso, Jevons ainda assinala que não é possível “comparar o montante de 
sentimento de uma mente com o de outra” (p. 34). 
 
8 
b) O método dedutivo 
 
• Jevons aceita, em linhas gerais, o método dedutivo de J. S. Mill: 
– “devemos começar a partir de algumas leis psicológicas gerais óbvias , como, 
por exemplo, um ganho maior é preferido a um menor, e daí em diante, 
devemos raciocinar e predizer os fenômenos que serão produzidos na 
sociedade por tal lei” (p. 35). E causas perturbadoras sempre farão que a 
observação dos efeitos inalterados de qualquer lei seja rara. 
– “Possuindo certos fatos observáveis, construímos uma hipótese sobre as leis 
que governam estes fatos; raciocinamos a partir da hipótese dedutivamente 
até os resultados esperados; e, então, examinamos esses resultados em 
relação aos fatos em questão; a coincidência confirma o conjunto do 
raciocínio; a discordância nos obriga a procurar as causas perturbadoras ou, 
alternativamente, a abandonar nossas hipóteses”(p. 36). 
– Jevons admite, como Mill, que é muito difícil identificar as leis econômicas a 
partir da observação do funcionamento da economia (devido à multiplicidade 
de causas). Expor o argumento de Mill. 
 
 
 
 
 
 
9 
2.3.4. Utilidade e grau de utilidade 
 
• Jevons se propõe a demonstrar que “o valor depende inteiramente da utilidade” (p. 29). 
 
• Ruptura com os Clássicos no que ao papel do consumo na teoria econômica. 
– Jevons afirma que “maximizar o prazer é o problema da Economia” (p. 47). Em seguida, afirma que “a Economia deve ter por 
base uma investigação completa e precisa sobre as condições da utilidade; e para este fundamento devemos necessariamente 
examinar as necessidades e desejos do homem. Ante de tudo, precisamos de uma teoria do consumo da riqueza” (p. 48). Ele 
confronta esta posição com a firmação de Mill de não há nenhuma lei do consumo da riqueza a ser estudada pela Economia 
Política. 
– Citando Banfield, Jevons assinala que “a base científica da economia está numa teoria do consumo” (p. 49). 
 
 
a) O conceito de utilidade 
 
• A discussão do conceito de utilidade de Jevons introduz uma noção de utilidade oriunda da tradição utilitarista, 
que vai estar na base da teoria neoclássica até o século XX. 
 
• Para Jevons, a utilidade não é uma qualidade intrínseca das coisas, mas depende “da relação destas com as 
exigências do homem”. Jevons dá o exemplo da água, cuja utilidade diminui gradativamente até zero, podendo 
tornar-se negativa, à medida em que quantidades adicionais são consumidas. Assim, a utilidade passa a ser 
identificada com o quantum de satisfação – prazer ou sofrimento - obtido no consumo. Nas palavras de Jevons: 
– “Considere-se que a utilidade é medida pelo acréscimo feito ao contentamento de uma pessoa, ou é até mesmo idêntica a este 
fato. Ela dá um nome conveniente para o saldo total favorável de sentimento produzido – a soma do prazer criado com o 
sofrimento evitado” (p. 51). 
 
• Se a utilidade não é uma qualidade intrínseca, “tampouco podemos dizer que todas as porções do mesmo bem 
possuem a mesma utilidade” (p. 50). 
 
10 
 
• Uma vez definida a utilidade em termos de quantidade de satisfação (prazer – sofrimento), Jevons 
vai apresenta a “lei da variação da utilidade”, bem como definir a “utilidade total” e o ‘Grau de 
utilidade”. 
 
• O grau de utilidade é definido como a utilidade obtida por uma quantidade infinitamente pequena 
de um bem. 
– “(...) usarei comumente a expressão grau final de utilidade para designar o grau de utilidade do último 
acréscimo, ou a próxima possível adição de uma quantidade muito pequena, ou infinitamente pequena, ao 
montante existente” (p. 53). 
– “O grau final de utilidade é a função em torno da qual irá girar a teoria econômica” (p. 54). 
– “Podemos estabelecer como lei geral que o grau de utilidade varia com a quantidade de um bem e 
finalmente diminui na medida em que a quantidade aumenta” (p. 54). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
• O conceito de grau final de utilidade permite resolver o paradoxo da água e do diamante, 
explicando porque “muitos bens que nos são extremamente úteis são pouco desejados e 
apreciados” (p. 54). 
11 
b) Grau de utilidade decrescente e alocação ótima 
 
• Jevons analisa a alocação de um determinado bem – por exemplo, a cevada – entre usos 
alternativos – a alimentação e a fabricação de cerveja. 
 
• Ele argumenta que, para maximizar a satisfação (a utilidade total) o bem deve ser alocado entre os 
dois usos de maneira que os graus finais de utilidades sejam igualados. 
 
• “O resultado geral é que um bem, se usado por um ser perfeitamente sábio, deverá ser consumido 
com uma produção máxima de utilidade” (p. 57). 
 
 
c) Utilidade real, provável e potencial 
 
• A utilidade real é a utilidade do ferro contido nos trilhos de uma estrada de ferro; a utilidade 
provável é a utilidade do ferro que jaz na loja de um comerciante; a utilidade potencial é a utilidade 
do ferro que jaz nas entranhas da terra. 
 
• A utilidade potencial não é tratada pela ciência econômica. 
 
• Já a utilidade provável é de suma importância, pois muitas decisões envolvem um consumo futuro. 
Jevons antecipa a noção de utilidade esperada, argumentando que a utilidade de um bem deve 
levar em conta a probabilidade de um prazer ou sofrimento futuro. 
12 
d) Alocação intertemporal do consumo de um bem 
 
• Se um indivíduo deve alocar o consumo ao longo do tempo, dois fatores 
adicionais devem ser considerados. 
 
– “uma sensação futura tem sempre menos influência que uma sensação 
presente” (p. 62); 
 
– qual a probabilidade de que o bem irá se manter bom para o consumo no 
futuro. 
 
• A condição de maximização da utilidade será a seguinte: 
 
v1p1q1 = v2p2q2 = v3p3q3 = ... = vnpnqn 
 
Onde, 
v = grau final de utilidade. 
p = probabilidade do bem se manter bom no futuro. 
q = razão entre a quantidade antecipada de prazer e a quantidade futura. 
 
 
 
 
 
 
13 
2.3.5. Teoria das Trocas 
 
a) Mercado e concorrência 
 
 
• Definição de mercado: 
– “qualquer comunidade de pessoas que estão em relações diretas de negócios e realizam grandes 
transações com qualquer bem” (p. 69). 
– Um mercado pode ter uma localização geográfica específica ou não. 
 
• As condições de livre concorrência são caracterizadas por Jevons da seguinte forma: 
 
– As informações relevantes são completamente difundidas entre os participantes do mercado, de 
modo que, quando duas ou mais pessoas negociam,“suas intenções de troca e estoque destes bens 
são do conhecimento de todos. Também é essencial que a relação de troca entre duas pessoas 
quaisquer seja conhecida por todas as outras (...) um mercado é teoricamente perfeito apenas 
quando todos os comerciante têm perfeito conhecimento das condições de oferta e procura, e da 
relação de troca consequente” (p. 70). 
– Os indivíduos agem “puramente de acordo com suas próprias necessidades e interesses”, e realizam 
trocas uns com os outros “pela menor vantagem aparente” (p. 70). 
– Inexistem “conspirações que absorvam ou retenham suprimentos de modo a provocar relações de 
troca anormais” (p. 70). 
 
• Jevons acredita que “a concepção teórica de um mercado perfeito se confirma mais ou menos 
completamente na prática”. 
 
14 
 
• Em condições de livre concorrência, sendo os produtos homogêneos e de qualidade 
uniforme, vale a “lei da indiferença”. 
– “no mesmo mercado livre, em qualquer momento, não podem existir dois preços para o 
mesmo tipo de artigo” (p. 72). 
 
• Jevons analisa o funcionamento do mercado a partir da noção de “comunidade comercial” – 
grupos de vendedores ou compradores que podem corresponder a um único indivíduo ou 
mesmo a todos os habitantes de um continente. 
– A comunidade comercial é uma forma (problemática!) de passar da análise do indivíduo 
para a análise do mercado no agregado. 
– Jevons supõe que o comportamento da comunidade reflete fielmente o 
comportamento dos indivíduos, sem as perturbações que a ação de “motivos 
estranhos” e os “caprichos” produzem nos ações individuais. “Desse modo, nossas leis 
econômicas serão teoricamente verdadeiras no caso de indivíduos, e verdadeiras na 
prática no caso de grandes agregados, já que os princípios gerais serão os mesmos, seja 
qual for a extensão da comunidade comercial considerada” (p. 72). 
 
15 
b) Determinação das Relações de Troca 
 
• Proposição central da Teoria da Troca: 
A relação de troca de dois bens quaisquer será correspondente à relação dos 
graus finais de utilidade das quantidades dos bens disponíveis para consumo 
depois que a troca se complete. 
 
• Pressupostos: 
– A Comunidade A possui inicialmente a quantidade a de trigo. 
– A Comunidade B possui inicialmente a quantidade b de carne. 
– A troca consiste em dar x unidades de trigo por y unidades de 
carne. 
– Após a troca, A possui a – x unidades de trigo e y unidades de 
carne. 
– Após a troca, B possui x unidades de trigo e b – y unidades de 
carne. 
– Condição de equilíbrio: “uma quantidade infinitamente pequena 
de um bem, [que] se roque a mais, pela mesma taxa, não trará 
nem perda nem ganho de utilidade. 
16 
 
• Seja 𝜑1 𝑎 − 𝑥 o grau final de utilidade do trigo para A e 𝜓1 𝑦 o grau final de utilidade da 
carne para A, a condição de maximização da utilidade desta comunidade será: 
 
𝜑1 𝑎 − 𝑥 .dx = 𝜓1 𝑦 .dy 
 
Ou 
𝜑1 𝑎−𝑥
𝜓1 𝑦
 =
𝑑𝑦
𝑑𝑥
 
 
Dada a lei da indiferença, 𝜑1 𝑎−𝑥
𝜓1 𝑦
 =
𝑦
𝑥
 
 
 
• Seja 𝜑2 𝑥 o grau final de utilidade do trigo para B e 𝜓2 𝑏 − 𝑦 o grau final de utilidade da 
carne para B, a condição de maximização da utilidade desta comunidade será: 
 
𝜑2 𝑥 .dx = 𝜓2 𝑏 − 𝑦 .dy 
 
Ou 
𝜑2 𝑥
𝜓2 𝑏−𝑦
 =
𝑑𝑦
𝑑𝑥
 
 
Dada a lei da indiferença, 𝜑2 𝑥
𝜓2 𝑏−𝑦
 =
𝑦
𝑥
 
 
 
17 
c) Avaliação crítica 
 
• Jevons não dá nenhuma pista ou justificativa para o procedimento 
de agregação das funções de utilidade. 
 
• No caso de existirem vários indivíduos na comunidade comercial, o 
grau de utilidade médio depende não apenas do estoque inicial de 
bens, mas da sua distribuição; 
 
• Jevons determina os preços relativos dados os estoques iniciais de 
produtos, mas não oferece qualquer explicação da produção e da 
determinação de tais estoques. 
 
• Jevons não explica como o equilíbrio é determinado. A condição de 
equilíbrio que ele estabelece é compatível com múltiplos 
equilíbrios, como percebeu Francis Ysidro Edgeworth (1845-1926). 
 
 
18 
2.3.6. Utilidade e oferta de trabalho 
 
a) Definição de “trabalho” 
 
• Jevons define trabalho como “qualquer esforço penoso da mente ou do corpo 
empreendido parcial ou totalmente tendo em vista um bem futuro” (p. 110). 
 
• Por sua vez, o montante de trabalho é uma grandeza de duas dimensões, o tempo 
e a intensidade. A variação do montante de trabalho afeta tanto a sua recompensa 
quanto o esforço ou sacrifício envolvidos. 
 
• Variáveis que afetam a decisão do trabalhados: 
t = tempo ou duração do trabalho. 
I = montante de trabalho ou saldo total de sofrimento associado a este, sendo que l = f(t). 
x = montante total de bens produzidos pelo trabalho, sendo que x = f (t). 
u = utilidade total destes bens. 
 
 
 
19 
b) Determinação da duração do tempo de trabalho 
 
• Jevons demonstra que o trabalhador maximiza sua utilidade quando, na margem, o ganho de 
utilidade proporcionados pelo consumo dos bens produzidos é igual ao sofrimento gerado pelo 
trabalho. 
 
• Ou seja, a condição de equilíbrio do trabalhador é: 
𝑑𝑙
𝑑𝑡
=
𝑑𝑥
𝑑𝑡
∙
𝑑𝑢
𝑑𝑥
 
 
• Análise gráfica: 
 
 
 
Dd 
D 
d 
 
 
dddd 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
2.4. Menger e a Escola Austríaca 
 
• Carl Menger (1840-1821) formou-se em direito e, inicialmente, de dedicou-se 
ao jornalismo. A partir da prática do jornalismo econômico, começou estudar 
Economia Política em 1871. 
 
• Publicou os Princípios de Economia Política em 1871 e, dois anos depois, foi 
indicado para a Cadeira de Teoria Econômica da Faculdade de Direito da 
Universidade de Viena. 
 
• Em 1883, publicou o livro Investigação sobre o Método das Ciências Sociais, 
que desencadeou a “Batalha dos Métodos”. 
 
• A Escola Austríaca se forma a partir de seus dois discípulos diretos e de alunos 
da Universidade de Viena. 
– 2ª Geração: Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) e Friedrich von Wieser (1851-1926). 
– 3ª Geração: Ludwig von Mises (1881-1973), Friedrich A. Hayek (1899-1992) e, em parte, 
Joseph Schumpeter (1883-1950). 
 
• A partir da década de 1930, a Tradição Austríaca vai se afastar da ortodoxia 
neoclássica e se configurar como uma abordagem alternativa heterodoxa. 
 
 
 
 
 
 
21 
• O ponto de partida da Teoria de Valor de Menger é o conceito de bem 
econômico - coisas úteis que podem estabelecer uma relação de causa e efeito 
com a satisfação de necessidades humanas. 
 
• Para que um elemento do mundo externo seja um bem, quatro condições 
devem estar presentes. 
1) Uma necessidade humana. 
2) A Propriedade de um objeto que o torna capaz de estabelecer uma conexão causal 
com a satisfação da necessidade. 
3) O conhecimento humano desta conexão causal. 
4) O comando sobre o objeto para direcioná-lo à satisfação da necessidade. 
 
• O bens são econômicos quando o montante que as pessoas devem possuir 
para satisfazer suas necessidades supera a quantidade disponível – são 
escassos. Isso cria a necessidade de economizá-los. 
 
• O conhecimento da conexão causal entre as propriedades de um objeto e a 
satisfação das necessidades tem um componente subjetivos – o que leva à 
distinção entre necessidades reais e imaginárias, bens reais e imaginários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
• Os bens econômicos possuem valor porque servem a diferentes usos, cuja 
importância em termos de satisfação das necessidades varia. 
 
 
• No ato de economizar, os indivíduos valoram os bens de acordo com a 
importância da satisfação de diferentes necessidades, levando em conta: 
– A importância da satisfação de necessidades de diferentes tipos. 
– A importância de satisfazermais ou menos a necessidade de um 
determinado tipo. 
 
 
• Os bens podem ser classificados de acordo com sua posição no nexo de 
causalidade entre os bens e a satisfação das necessidades: 
– Bens de 1ª Ordem: atendem diretamente as necessidades (Pão). 
– Bens de 2ª Ordem: atendem indiretamente as necessidades (Farinha 
de Trigo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
• Menger analisa como, no ato de economizar, o indivíduo ordena suas 
necessidades e aloca os bens de maneira a ir progressivamente 
satisfazendo as necessidades menos urgentes. Daí ele deduz que: 
 
– O valor de um bem para o indivíduo corresponde a valoração da última 
unidade alocada para a satisfação da necessidade relativamente menos 
importante. 
 
– O valor de um bem não é uma propriedade intrínseca do objeto, mas sim um 
juízo que o indivíduo faz da sua capacidade de satisfazer as necessidades (por 
isso o valor é subjetivo). 
 
– O preço que o indivíduo está disposto a pagar por um bem diminui com a 
quantidade consumida. 
 
 
• Menger pode então ser identificado como um dos descobridores do 
Principio da Utilidade Marginal decrescente e um dos formuladores 
da Teoria do Valor-Utilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
• Mas os “austríacos” contemporâneos identificam na obra de 
Manger elementos que justificam distanciá-la do núcleo da 
tradição neoclássica. 
 
– Diferentemente de Jevons e Walras, Menger não toma a Física 
como um modelo para o desenvolvimento da ciência 
econômica, nem aceita que sua matematização seja necessária 
e desejável. 
 
– O problema econômico é analisado como mais do que a mera 
alocação de recursos, mas como a descoberta das conexões entre 
os objetos e a satisfação das necessidades. 
 
– A aquisição de conhecimento é, assim, parte fundamental do 
processo econômico (Hayek, por exemplo, var caracterizar a 
competição como um “processo de descoberta”). 
 
– O progresso econômico depende do progresso do conhecimento 
das conexões entre os objetos e a satisfação das necessidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25

Outros materiais