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APOSTILA DE DIREITO PENAL

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APOSTILA DE DIREITO PENAL
	Conceito de direito penal
	O Direito penal também é conhecido como Direito criminal. Existem pelo menos dois aspectos pelos quais é possível conceituá-lo: pelo Formal (ou estático); e o Material. Quanto ao aspecto material, o Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade. Do aspecto formal ou estático, Direito Penal é o ramo do direito público dedicado às normas emanadas pelo Poder Legislativo para reprimir os delitos, lhes imputando penas com a finalidade de preservar a sociedade e proporcionar o seu desenvolvimento[1]. O direito penal varia de acordo com a jurisdição, e difere do direito civil, onde a ênfase se concentra principalmente na resolução de litígios e compensação de vítimas do que na punição.
	MISSÕES DO DIREITO PENAL
	A missão do direito penal, segundo muitos teóricos, é selecionar os comportamentos humanos mais graves e nocivos à sociedade, punindo-os quando atinjam valores fundamentais para a subsistência social. Por isso é que se afirma que para se conhecer uma sociedade é preciso, primeiro, conhecer o seu Direito Penal.
	Por outro lado, quando a sociedade não crê mais que a norma penal seja eficaz para proteger tais valores, não resta alternativa, senão a de repensar a própria razão de ser da mesma.
	É logico que uma sociedade não ruirá por conta de um ou de outro comportamento negativo que não é mais respeitado por um ou outro indivíduo, pois assim não teríamos os delitos e nem haveria razão para pensarmos em uma ciência, quanto mais penal.
	Curioso, mas os crimes podem identificar um povo mais ou menos tolerante com o próximo. Explico: quanto mais rígida é a legislação repressora, menor é o grau de tolerância com as transgressões. E, na medida em que a sociedade evolui, alguns comportamentos antes proibidos passam a ser permitidos; ou, a segregação por longos períodos passa a ser substituída por regimes mais brandos e penas alternativas.
	Diante disto não será surpresa se um beduíno que por aqui venha passar férias fique escandalizado com as roupas de nossas mulheres, ou que perceba que os assaltantes brasileiros possuem ambas as mãos, mesmo após cumprirem suas sentenças. Para ele, que não conhece nossa legislação, a ofensa social é tal que, tanto a mulher quanto o assaltante mereçam penas corporais, revelando pertencer a uma sociedade menos tolerante com as transgressões sociais.
	Neste campo, uma sociedade tolerante em demasia não contribui para a evolução do Direito Penal, nem mesmo por via reflexa, já que a eventual transgressão pode ser reprovada com uma advertência. Aqui nos referimos ao uso de drogas ilícitas, que ao teor da legislação vigente não gera mais a segregação.
	A tolerância com os crimes mais simples, porque precursores dos mais graves, ainda mais se não houver a recuperação do transgressor, uma das finalidades da pena, preocupa. Ademais, há teóricos que afirmam que o transgressor não merece qualquer proteção jurídica, salvo aquelas próprias e pertinentes aos concedidos pelos Tribunais de Guerra, porque se trata de pessoa que rompeu com o Estado, passando a ser considerado por este como seu inimigo. Vai daí que o papel legislativo do Estado, enquanto organismo vivo, sempre será o de preservar os interesses sociais que se sobrepõe sobre aos individuais, garantindo assim a existência da sociedade.
	AS FUNÇÕES DO DIREITO PENAL
Para uma compreensão segura da ciência penal é importante saber qual é a função do Direito Penal, a sua missão dentro do Estado Social Democrático de Direito, Material, insculpido na Carta Constitucional de 1988.
O Direito Penal, nesse contexto, tem certas funções. A primeira delas é a indispensável proteção de bens jurídicos essenciais, protegendo de modo legítimo e eficaz os bens jurídicos fundamentais do indivíduo e da sociedade.
Bem, em sentido amplo, é qualquer coisa - objeto material ou imaterial - que satisfaz uma necessidade humana, é tudo que tem valor para o ser humano, que se apresenta como digno, útil ou necessário. Dentre o imenso número de bens existentes, aqueles mais essenciais receberão proteção pela via do Direito Penal, pois se apresentam como bens jurídico-penais essenciais. “o direito penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica dos homens (princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos)”, “o que concede ao direito penal um caráter fragmentário”. 
É somente por esta via “que os bens jurídicos se ‘transformam’ em bens jurídicos dignos de tutela penal ou com dignidade jurídico-penal”. “O conceito de bem jurídico deve ser inferido na Constituição, operando-se uma espécie de normativização de diretivas político-criminais”. Assim, deve “ser rechaçada a ação legislativa que outorgue proteção a bens que não sejam constitucionalmente direta ou indiretamente amparados” e “uma lei penal anterior só poderá ser recepcionada quando houver uma congruência desta com a norma constitucional, ou seja, quando a lei penal tutelar bem jurídico protegido pela Constituição, situação em que a mesma passa a ter eficácia e validade”.
Para melhor entender o significado desta função de indispensável proteção de bens jurídicos essenciais, é preciso dividir o conceito em dois componentes: 
1) a proteção de bens jurídicos essenciais 
2) a necessária ou indispensável proteção, que se traduz na imposição da sanção penal à conduta que atente contra bem jurídico-penal essencial.
Na atualidade, a doutrina é unânime em afirmar, ao menos, que a função do Direito Penal se traduz na proteção de bens jurídicos essenciais.
Assim, pode-se acertadamente defender que “uma ameaça penal contra um comportamento humano é ilegítima, sempre que não possa lastrear-se na proteção de um bem jurídico”, ou seja, sem a presença de um bem jurídico de proteção prevista no preceito punitivo, o próprio Direito Penal, além de resultar materialmente injusto e ético-socialmente intolerável, careceria de sentido como tal ordem de direito, tendo o bem jurídico importância sistemática fundamental.
O que se quer demonstrar é que a função do Direito Penal, voltada para a aplicação de sua específica sanção, não se condiciona apenas em proteção de bem jurídico essencial. O Estado só fará incidir a sanção penal quando verificar a indispensabilidade da proteção a ser dada ao bem jurídico essencial, ou seja, a necessidade concreta de proteção pela via sancionatória penal. Não é só pelo fato de ocorrer a violação do bem jurídico essencial que incidirá a sanção penal, pois essa somente ocorrerá quando for indispensável.
	O Direito Penal, num primeiro momento, que é no plano do tipo penal incriminador, exerce a função de proteção de bens jurídicos essenciais, protegendo a vida ao estabelecer tipificações cujas normas proíbem atentados contra esse bem fundamental. Em casos como, por exemplo, de legítima defesa, onde a vítima em contra-ataque fere ou mata seu agressor, o direito não protegerá este, apesar de sua vida ser um bem jurídico-penal essencial. A função do Direito Penal deve ser acrescentada do vocábulo indispensável, do modo como o emprega expressamente Fernando Fernandes na citação exposta (indispensável tutela dos bens jurídicos essenciais).
	Isso significa que se deve entender como incompletos enunciados expressos da função do Direito Penal que somente exprimam “proteção de bens jurídicos essenciais”. Apesar de ser possível inferir da globalidade dos ensinamentos de diversos autores a menção de ser preciso a necessidade da pena, deveriam expressamente mencionar esse caráter logo no enunciado da função do Direito Penal, já que essa é o ponto de partida para todo o desenvolvimento científico.
	Assim, é certo que o Direito Penal protege os bens jurídicos essenciais, mas correto é que a sanção, que simboliza a proteção em si, só atuará quando o caso trouxer necessidade ou indispensabilidade.
	A função de indispensável proteção de bens jurídicos
essenciais reforça o princípio da intervenção mínima (subsidiariedade e fragmentariedade), que permeia o Direito Penal, reservando a atuação deste para os casos indispensáveis, onde realmente se revelam insuficientes as tutelas extrapenais. Assim, protege os bens jurídicos essenciais, e não quaisquer bens, e ainda, somente contra determinadas configurações de agressão.
	Referida função se apresenta como um fundamento autêntico do regime estatal social e democrático, e isso traz como consequência que o tipo penal incriminador que não contenha um bem jurídico claramente definido e delimitado é nulo por ser materialmente inconstitucional, e a sanção ligada à ofensa do bem jurídico somente poderá incidir quando indispensável e necessária à proteção dele.
	A segunda função do Direito Penal é a função garantidora ou de garantia. A garantia se expressa na proteção da dignidade do indivíduo supostamente autor de um delito frente ao Estado, ficando este adstrito a atuar somente de acordo com a legalidade e a cumprir os princípios garantidores do Direito Penal elencados na Carta Constitucional e legislação inferior.
	É verdadeiro que o Estado, por meio do Direito Penal e de sua sanção, tem em vista assegurar a manutenção do ordenamento jurídico, mas também é certo que essa atuação não pode ser efetuada de qualquer forma e medida para proteger a convivência dos seres humanos em sociedade. São necessários limites, que são por outro lado garantias consagradas à dignidade, vida e liberdade das pessoas.
	Atente-se que algumas das garantias fornecidas ao indivíduo supostamente delinqüente protegem seus bens jurídicos essenciais, como, sua integridade física e moral na proibição de tortura, o que traz à mente a primeira função (indispensável proteção de bens jurídicos essenciais). Outras garantias, como, por exemplo, a presunção de inocência, fornecem ao indivíduo a prerrogativa de um tratamento tal que não o considere culpado antes do trânsito em julgado de uma condenação.
	Tendo sua atuação pautada em prol dessas duas funções, é possível dizer que o Direito Penal cumpre uma função genérica. Esta pode ser descrita, utilizando as palavras de Fernando Fernandes, como a função de assegurar a “manutenção da viabilidade da vida em sociedade”. Aliás, essa é a função do Direito como um todo.
	DIVISÃO DO DIREITO PENAL
	Parte geral: (art. 1º ao art. 120 do código penal) define os critérios a partir dos quais o direito penal será aplicado: quando o crime existe? Como e quando aplicar a pena?
	Parte Especial: prevê os crimes em especial e as penas correspondentes. O crime é uma conduta proibida, que pode ser tanto positiva, uma ação (exemplo: homicídio), quanto negativa, uma omissão (exemplo: omissão de socorro). Cada crime prevê uma determinada escala punitiva (mínima e máxima) de acordo com a gravidade do crime em abstrato.
	EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL
	O estudo da evolução histórico-penal é de suma importância para uma avaliação correta da mentalidade e dos princípios que nortearam o sistema punitivo contemporâneo.
	A história humana não pode ser desvinculada do direito penal, pois desde o princípio o crime vem acontecendo. Era necessário um ordenamento coercitivo que garantisse a paz e a tranqüilidade para a convivência harmoniosa nas sociedades.
	“A história do Direito Penal é a história da humanidade. Ela surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou”.
	Os estudiosos subdividem a história do direito penal em algumas fases, fases estas que não se sucederam de forma linear ou totalmente rígida (os princípios e características de um período penetravam em outro). São elas:
	Vingança Privada: Nos primórdios, quando ocorria um crime a reação a ele era imediata por parte da própria vítima, por seus familiares ou por sua tribo. Comumente esta reação era superior à agressão: não havia qualquer ideia de proporcionalidade. 
	Esta ligação foi definida como sendo um vínculo de sangue, ou seja, era um dever sagrado que recai num membro de determinada família, de um clã ou de uma tribo, que tem de matar um membro de uma unidade correspondente, como forma de reação a uma conduta anterior.
	Foi um período marcado por lutas acirradas entre famílias e tribos, acarretando um enfraquecimento e até a extinção das mesmas. Deu-se então o surgimento de regras para evitar o aniquilamento total e assim foi obtida a primeira conquista no âmbito repressivo: a Lei de Talião (jus talionis).
	O termo talião, de origem latina (tálio + onis), significa castigo na mesma medida da culpa. Foi a primeira delimitação do castigo: o crime deveria atingir o seu infrator da mesma forma e intensidade do mal causado por ele.
O famoso ditado “olho por olho, dente por dente” foi acolhido como principio de diversos códigos como o de Hamurabi e pela Lei das XII Tábuas (Lex XII Tabularum).
	Com o passar do tempo a própria Lei de Talião evoluiu, surgindo a possibilidade do agressor satisfazer a ofensa mediante indenização em moeda ou espécie (gado, vestes e etc). Era a chamada Composição (compositio).
A composição é, assim, uma forma alternativa de repressão aplicável aos casos em que a morte do delinqüente fosse desaconselhável, normalmente porque era mais interessante ao ofendido ou aos membros de seu grupo a reparação do dano causado pela ação delituosa.
	Vingança Divina
	É o direito penal imposto pelos sacerdotes, fundamentalmente teocrático (o Direito se confundindo com a religião).
O crime era visto como um pecado e cada pecado atingia a um certo Deus. A pena era um castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator.
Era comum neste período o uso de penas cruéis e bastante severas.
	Vingança Pública
	Período marcado pelas penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento em vida) para se alcançar o objetivo maior que era a segurança da classe dominante. Com o poder do Estado cada vez mais fortalecido, o caráter religioso foi sendo dissipado e as penas passaram a ter o intuito de intimidar para que os crimes fossem prevenidos e reprimidos.
	Os processos eram sigilosos. O réu não sabia qual era a imputação feita contra ele. O entendimento era de que, sendo inocente, o acusado não precisava de defesa; se fosse culpado, a ela não teria direito. Isso favorecia o arbítrio dos governantes.
	Direito Penal Romano
	De inicio, em Roma, a religião e o direito estavam intimamente ligados. O Pater Famílias consistia no poder de exercitar o direito de vida e de morte (jus vitae et necis) sobre todos os seus dependentes, inclusive mulheres e escravos.
Com a chegada da Republica Romana ocorreu uma ruptura e o desmembramento destes dois alicerces. A vingança privada foi abolida, passando ao Estado o magistério penal. Os romanos contribuíram para a evolução do direito penal fazendo a distinção do crime, do propósito, do ímpeto, do acaso, do erro, da culpa leve, do simples dolo e dolo mau (dolus malus), além do fim de correção da pena.
	Direito Penal Germânico
	O Direito era visto como uma ordem da paz. Desta forma o crime seria a quebra, a ruptura com este estado.
	Inicialmente eram utilizadas a vingança e a composição. Com a invasão de Roma, o poder Estatal foi consideravelmente aumentado, desaparecendo a vingança.
	As leis bárbaras caracterizavam-se pela composição, onde as tarifas eram estabelecidas conforme a qualidade da pessoa, o sexo, idade, local e espécie da ofensa. Para aqueles que não pudessem pagar eram atribuídas as penas corporais.
	Também adotaram a Lei de Talião e, conforme o delito cometido, utilizavam a força para resolver questões criminais.
	Eram admitidas também as ordálias ou juízos de Deus (provas de água fervendo, ferro em brasa, etc.), assim como os duelos judiciários, onde o vencedor era proclamado inocente.
	Direito Canônico
	É o ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana. O vocábulo canônico é derivado da palavra kánon, que significava regra e norma, com a qual originariamente se indicava
qualquer prescrição relativa à fé ou à ação cristã.
	Inicialmente o Direito Canônico tinha o caráter meramente disciplinar, porém com o fortalecimento do poder papal, este direito passou atingir a todos da sociedade (religiosos e leigos).
	Tinha o objetivo de recuperação dos criminosos através do arrependimento, mesmo que fosse necessária a utilização de penas e métodos severos.
	Os delitos eram classificados em:
1) Delicta eclesiástica: Quando havia uma violação ao chamado “direito divino”. O julgamento era de competência dos tribunais eclesiásticos. A punição do infrator era dada em forma de penitências.
2) Delicta mere secularia: Quando havia uma violação à ordem jurídica laica. A competência era dos tribunais do Estado. O infrator era punido com penas comuns.
3) Delicta mixta: Quando havia uma violação à ordem laica e à ordem religiosa. A competência do julgamento era do primeiro tribunal que tomasse conhecimento do delito.
	Nessa fase foi dado relevo ao aspecto subjetivo do crime. A vingança privada foi amenizada com o direito de asilo e as tréguas de Deus. As penas foram humanizadas, com a proibição do uso das ordálias e a introdução das penas privativas de liberdade (eram cumpridas nos monasteries, em celas) em substituição às patrimoniais.
	A penitenciária foi criada nesta fase: era um local onde o condenado não cometeria crimes, se arrependeria dos seus erros e por fim se redimiria podendo voltar ao convívio social.
Os tribunais eclesiásticos não costumavam aplicar as penas capitais até a Inquisição. Nesta época passou-se a empregar a tortura, o processo inquisitório dispensava prévia acusação e as autoridades eclesiásticas agiam conforme os seus valores e entendimentos.
	Período Humanitário
	Em fins do século XVII, com a propagação dos ideais iluministas, ocorreu uma conscientização quanto às barbaridades que vinham acontecendo. Houve um imperativo para a proteção da liberdade individual em face do arbítrio judiciário e para o banimento das torturas, com fundamento em sentimentos de piedade, compaixão e respeito à pessoa humana.
	Almejava-se uma lei penal que fosse simples, clara, precisa e escrita em língua pátria. Deveria ser também severa o mínimo necessário para combater a criminalidade. E o processo penal deveria ser rápido e eficaz.
	César de Bonesana, o Marques de Beccaria, saiu em defesa dos desafortunados e dos desfavorecidos em sua obra Dei Delitti e Delle Pene (“Dos delitos e das penas”), de 1764. Opôs-se às técnicas utilizadas até então pela justiça, era contra a prática da tortura como meio de produção de prova e por fim combateu o sistema presidiário das masmorras. Foi um verdadeiro grito contra o individualismo.
Baseou-se na Teoria do Contrato Social, investiu contra a pena capital, com o argumento de que, apesar do homem ceder parte de sua liberdade ao Bem Comum, não poderia ser privado de todos os seus direitos e a ninguém seria conferido o poder de matá-lo.
	Beccaria foi um marco decisivo para a modificação do Direito Penal. Sua obra ganhou notoriedade na época. Em um tempo de absolutismo, de soberania de origem divina, de confusão das normas penais com religião, moral, superstições, Beccaria defendeu ousadamente um Direito Penal sobre bases humanas, que traçasse fronteiras à autoridade do príncipe e limitasse a pena à necessidade da segurança social.
	Atenção: Beccaria foi pioneiro ao traçar os contornos do direito de punir do Estado, cujo limite estaria nas pequenas porções de liberdade cedidas pelos seus cidadãos, em prol da manutenção de todo o resto. Segundo seu pensamento, então, todo exercício do poder que se afaste dessa base é abuso e não justiça; é um poder de fato e não de direito; é uma usurpação e não mais um poder legítimo. Dessa sistematização proposta decorrem, então, três postulados: i) caberia apenas ao legislador o direito de elaborar leis, e somente à norma incumbiria a fixação de penas; ii) o responsável pela feitura das leis não seria o mesmo que vigiaria o seu cumprimento; e iii) a imprescindibilidade da utilidade e da necessidade das punições impostas.
	Outras figuras importantes também surgiram neste período, tal como John Howard. Considerado por muitos como o pai da Ciência Penitenciária, em seu livro The State of Prision in England relatou a situação das prisões européias, propondo um tratamento mais digno aos presos (direito ao trabalho, a uma alimentação sadia, assistência religiosa, etc.).
	Citem-se também Jeremias Bentham (Teoria das Penas e das Recompensas); Servan (Discurso sobre a administração da justiça criminal); Marat (Plano de legislação criminal) e Lardizábal (Discurso sobre las penas).
	Período criminológico
	O movimento naturalista do século XVIII, que pregava a supremacia da investigação experimental em oposição à indagação puramente racional, influenciou o Direito Penal. 
	O movimento criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano e professor em Turim César Lombroso, expondo suas teorias e abrindo nova etapa na evolução das idéias penais. Considerando o crime como manifestação da personalidade humana e produto de várias causas, Lombroso estuda o delinqüente do ponto de vista biológico. Criou com seus estudos a Antropologia Criminal e, nela, a figura do criminoso nato. Esse pioneiro firmou alguns conceitos básicos, alguns ampliados, outros retificados por seus seguidores, que deram novas diretrizes e abriram novos caminhos no estudo do crime e do criminoso como uma semente para uma árvore hoje conhecida como Criminologia. Apesar dos exageros da teoria lombrosiana, seus estudos abriram nova estrada na luta contra a criminalidade.
	São as seguintes as ideias de Lombroso:
1. O crime é um fenômeno biológico, não um ente jurídico, como afirmava Carrara. Por essa razão, o método que deve ser utilizado em seu estudo é o experimental, e não o lógico-dedutivo dos clássicos.
2. O criminoso é um ser atávico e representa a regressão do homem ao primitivismo. É um selvagem e nasce delinqüente como outros nascem sábios ou doentios, fenômeno que, na Biologia, é chamado de degeneração.
3. O criminoso nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa etc.
4. O criminoso nato é insensível fisicamente, resistente ao traumatismo, canhoto ou ambidestro, moralmente insensível, impulsivo, vaidoso e preguiçoso.
5. A causa da degeneração que conduz ao nascimento do criminoso é a epilepsia (evidente ou larvada), que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do organismo e produz regressões atávicas.
6. Existe a “loucura moral”, que deixa íntegra a inteligência, suprimindo, porém, o senso moral.
7. O criminoso é, assim, um ser atávico, com fundo epiléptico e semelhante ao louco moral, doente antes que culpado e que deve ser tratado e não punido.
Apesar da evidente incoerência da definição do criminoso nato e dos exageros a que chegou o pioneiro da Escola Positiva e criador da Antropologia Criminal, os estudos de Lombroso ampliaram os horizontes do Direito Penal, que caminhava para um dogmatismo exacerbado.
A ideia de uma tendência para o crime em certos homens não foi sepultada com Lombroso. Desde os tempos de Mendel se sabe que os cromossomos podem intervir na transmissão de traços hereditários e nas deficiências genéticas. Estudos recentes, inclusive em várias instituições como manicômios, levaram à suspeita de que os homens com cromossomos XYY (o normal é a constituição XY) se caracterizam por conduta antissocial, baixa inteligência, mau gênio, tendência para a violência e marcada propensão para o crime.
	Período Contemporâneo
	O período contemporâneo começa com a publicação do livro L’Uomo Delinquente (“O homem delinquente”), de Cesare Lombroso, e com a aparição dos primeiros códigos penais liberais, como decorrência mesmo do movimento humanitário.
	HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO
Antes do descobrimento do Brasil, enquanto dominava a civilização
primitiva, adotava-se a vingança privada. Informam os historiadores que os silvícolas conheciam o sistema de Talião bem como a composição e a expulsão da tribo (perda da paz).
Predominavam as penas corporais, com regras consuetudinárias, comuns ao mínimo convívio social, quase sempre dominadas pelo misticismo.
Com o descobrimento do Brasil, em 1500, passou a vigorar o Direito Lusitano, aplicando-se, sucessivamente:
a) Ordenações Afonsinas: promulgadas em 1146 por D. Afonso V, vigoraram até 1514, com conteúdo do Direito Romano de Justiniano e do Direito Canônico. Marcadas pela crueldade das penas, predominando a arbitrariedade dos juízes em sua fixação.
b) Ordenações Manuelinas: editadas em 1514 por D. Manuel, o Venturoso. Pouco se diferenciavam das Ordenações Afonsinas. Ainda correspondiam à fase da vingança pública.
O direito era aplicado pelos donatários respectivos das capitanias hereditárias.
c) Ordenações Filipinas: datadas de 1603, por medida do Rei Filipe II, mantiveram as ordenações anteriores.
Foi sob a égide desse ordenamento que Tiradentes[1] foi executado, estendendo as consequências penais de seu comportamento também a seus descendentes.
Todas as ordenações, marcadas pela fase da vingança pública, orientavam-se no sentido de uma ampla e generalizada criminalização, com severas punições, as quais objetivavam infundir o temor.
A Constituição Federal de 1824 determinou a urgente e necessária elaboração de um Código Criminal, fundado nas sólidas bases da justiça e equidade.
Em 1827, Bernardo Pereira apresentou o seu projeto, que foi sancionada em 1830pelo Imperador D. Pedro I. Surgia o Código Criminal do Império.
Com a elaboração desses dois ordenamentos, o Direito Penal deu nítidos sinais de evolução em prol da humanização das penas.
Dispunha sobre a vedação dos açoites, tortura, marca de ferro quente e todas as penas cruéis (art. 179, XIX), bem como manifestava a necessidade da pena atingir somente o causador da infração penal (art. 179, XX). Seria a primeira manifestação do princípio da personalidade da pena no Brasil. Contudo, ainda sobreviviam as penas de morte na forca, trabalhos forçados, banimento.
Entre as inovações, consagrou a instituição do sistema do dia-multa, em seu art. 55.
Com o advento da república, João Baptista Pereira foi encarregado de elaborar um projeto de Código Penal, que foi aprovado em 1890. Seus equívocos e deficiências o tornaram uma “colcha de retalhos”, com inúmeras leis extravagantes para suprir suas lacunas. Tantas eram as leis esparsas que, em 1932, concentraram-nas na Consolidação das Leis Penais, de Vicente Piragibe.
Durante o Estado Novo, em 1937, Alcântara Machado apresentou um projeto de Código Penal Brasileiro, que foi sancionado pelo Decreto-Lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940, vigorando desde 1942 até os dias atuais.
Em 1977 houve uma atualização das sanções penais, e, em 1984, uma reforma da parte geral, que humanizou as sanções, adotou penas alternativas à prisão e reintroduziu o sistema de dias-multa.
Em 1969 o projeto de Nelson Hungria foi aprovado para a criação de um novo Código Penal, contudo, revogado ainda em vacatio legis.
	ESCOLAS DO DIREITO PENAL
	ESCOLA CLÁSSICA
	Antes conhecida como Escola Jurídica Italiana, fora substituída de forma pejorativa pela denominação Escola Clássica pelos membros da Escola Positiva, mais precisamente por Enrico Ferri.
Entende-se como Escola Clássica todo o período do chamado direito penal liberal, sendo anterior ao positivismo. Nasceu sob os ideais iluministas e estava fundamentada, resumidamente, nos seguintes postulados:
Livre-arbítrio 
Dissuasão
Prevenção
Retribuição
	Dentre os principais nomes da Escola Clássica podemos citar:
	Pelegrino Rossi: Entendia a pena como a retribuição do mal pelo mal. O reestabelecimento da paz social, violada pelo cometimento do crime é a função da pena. Elabora todo o seu pensamento sob o prisma da justiça moral, rompendo com o utilitarismo e se aproximando do moralismo metafísico.
	Giandomenico Romagnosi: Adepto da filosofia utilitarista e da corrente jusnaturalista. Acredita que a pena tem por função a defesa da sociedade e a de prevenir que o criminoso cometa novos delitos.
	Paul John Anselm von Feuerbach: Cunhou em latim o princípio da legalidade, amplamente utilizado até os dias atuais, qual seja, “nullum crimen, nulla poena sine lege”. Um dos precursores da teoria do delito, sustentou ainda, que a finalidade da pena é a prevenção especial pela coação psicológica que sofrerá o eventual criminoso, pelo medo de ser apenado.
	Francesco Carrara: A pena é uma medida retributiva para o criminoso, tendo em vista o mal causado à sociedade. É um castigo para o homem. Para este estudioso do direito o crime é um ente jurídico, é a violação ao direito de um terceiro.
	Para Carrara o crime é uma infração a lei do Estado promulgada para promover a segurança dos cidadãos resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo moralmente imputável e politicamente danoso.
	O Professor Guaracy Moreira Filho explica ponto a ponto esse conceito de crime dado por Carrara:
a) Infração da lei do Estado: consagra Carrara o Princípio da legalidade. É a norma fundamental do Direito Penal, não há crime sem lei anterior que a defina, nem pena sem prévia cominação legal;
b) promulgada para promover a segurança dos cidadãos: o vocábulo segurança relaciona-se com o conceito de tutela jurídica, que se endereça aos bens essenciais das pessoas aos que dizem respeito à sua segurança. O plural “cidadãos” abrange não apenas o indivíduo isoladamente considerado como também a comunidade;
c) Resultante de um ato externo do homem: por que externo? O Direito Penal não se ocupa com os estados de espírito dos homens, mas tem em vista aqueles atos que se manifestam externamente. Ademais, só a criatura humana pode ser sujeito ativo de uma infração penal;
d) Positivo ou negativo: o crime pode ser realizado mediante ação (positivo) ou omissão (negativo). Pode se matar alguém mediante ação, dando tiros, por exemplo, como ainda mediante omissão, abstendo-se de cuidados indispensáveis, como a mãe que mata o recém nascido deixando de alimentá-lo. Mata-se uma flor arrancando-a do solo, mas mata-se também deixando-se de aguá-la;
e) Moralmente imputável: o livre-arbítrio é o fundamento indeclinável da Escola Clássica. Deve o agente ter capacidade de entender o caráter ilícito da sua conduta criminosa, psiquicamente desenvolvido e mentalmente são. Quanto mais perfeito o livre-arbítrio, maior é a responsabilidade do agente, e consequentemente maior deve ser sua pena;
f) E politicamente danoso: para que haja o crime deve haver o dano, que pode ser imediato quando causado diretamente àquele que sofreu o delito, e mediato pela repercussão social do crime;
	ESCOLA POSITIVA
	Para essa escola o crime não decorre do livre-arbítrio e sim de fatores sociais e naturais, sua conduta é determinada por fatores internos e externos. Analisa- se o criminoso, usando o método experimental de pesquisa.
	A escola positiva pode ser dividida em três fases e cada uma delas tendo seu principal expoente:
Antropologia Criminal – Cesare Lombroso: Os delinquentes estão propensos aos crimes devido às suas características físicas, levado pelo efeito de sua natureza. Examinando delinquentes, estudando a anatomia de crânios, cérebros e vísceras e comparando com homens não delinquentes, Lombroso chegou à conclusão de que há características biológicas e psicológicas nos criminosos. Daí chegando na conclusão do criminoso nato com os seus caracteres morfológicos. É o direito tratado como uma ciência empírica. Este criminoso nato tem características psicológicas, morais e intelectuais.
	Álvaro Mayrink Costa através de precioso estudo nos mostra os principais aspectos desse criminoso nato:
Psiquicamente: pequena capacidade craniana. Mandíbula pesada e desenvolvida. Grande capacidade orbitária. Índice Orbitário análogo ao dos cretinos. Arcadas sobreciliares salientes. Crânio frequentemente anormal, assimétrico.
Pouca ou nenhuma barba. Cabelos abundantes. Orelhas em forma de asa. Fisionomia ordinariamente feminina do homem e viril na mulher. Predominância do mancinismo na população do crime. Pequena força muscular nas mãos. Grande agilidade.
Moralmente: profunda depressão moral, manifestada desde a infância, pela vileza, crueldade, inclinação para o roubo, vaidade excessiva, astúcia, mentira, aversão pelos hábitos de família, caráter impulsivo e relutância por toda a espécie de educação. O criminoso nato é invejoso, vingativo, odeia por odiar; é indiferente às punições e sujeito a explosões de furor sem causa, as quais, por vezes, são periódicas. É preguiçoso, libertino, imprevidente, poltrão, versátil, jogador. Não é suscetível de remorsos e abandona-se muitas vezes com alegria às suas inclinações malévolas.
Intectualmente: o criminoso nato, quando sabe escrever, tem uma forma de letra característica, e adorna a assinatura com arabescos. A sua linguagem peculiar, muito espalhada e extremamente análoga nos diversos países, tem por caracteres diferenciais as abreviaturas, a designação de cada coisa por algum dos seus atributos e, paralelamente, o uso frequente dos arcaísmos.
	Era de fundamental importância o estudo do criminoso e não do delito. Ao contrário do que propôs Carrara sobre uma dogmática penal e um conceito de crime, Lombroso propõe um estudo específico a cada delinquente.
	Afirma Lombroso que o criminoso nato padece de atavismo, comparando-o aos homens primitivos.
O crime é originado de fatores biológicos, psicológicos e sociais, afastando a concepção de crime como um ente jurídico.
	ESCOLA CRÍTICA	
	Segundo a doutrina penalista, depois das Escolas Penais Clássica e Positiva, surgiram outras correntes denominadas de Escolas Ecléticas ou Intermediárias.
	A Terza Scuola Italiana é uma das Correntes Ecléticas, sendo também identificada por Escola Crítica. Tem seu nascimento com publicação do artigo Una Terza Scuola di Diritto Penale in Itália, de autoria do pensador Manuel Carnevale.
	As características da Terza Scuola Italiana são as seguintes:
a) A responsabilidade penal tem por base a imputabilidade moral, sem o livre arbítrio, que é substituído pelo determinismo psicológico, ou seja, quando o homem é determinado pelo motivo mais forte, sendo imputável quem tiver capacidade de se deixar levar pelos motivos. A quem não tiver tal capacidade, deve ser aplicada medida de segurança, mas, de forma alguma, a pena. A imputabilidade funda-se na dirigibilidade do ato humano e na intimidabilidade.
b) O delito é contemplado no seu aspecto real – é concebido como um fenômeno social e individual.
c) A pena tem uma função defensiva ou preservadora da sociedade, ou seja, o fim da pena é a defesa social, embora sem perder seu caráter aflitivo, e é de natureza absolutamente distinta da medida de segurança.
	Em relação a aplicabilidade da medida de segurança no lugar da pena, defendida pela Terza Scuola Italiana, conclui o professor Cesar Roberto Bitencourt:
	“O crime, para esta escola, é concebido como um fenômeno social e individual, condicionado, porém, pelos fatores apontados por Ferri. O fim da pena é a defesa social, embora sem perder seu caráter aflitivo, e é de natureza absolutamente distinta da medida de segurança”.
	Explicando melhor, constata-se que, apesar de defender a utilização da medida de segurança e buscar a defesa social a Terza Scuola Italiana ainda ignora qualquer hipótese de ressocialização do individuo, ou seja, a pena serve apenas para afastar o criminoso do meio social. A pena simplesmente retributiva dos clássicos é substituída pela pena de fim. A pena tem um fim prático: a prevenção geral ou especial. E dentro destas funções, surge uma função preventiva geral, que recai sobre todos e, uma função preventiva especial, que recai sobre o delinqüente. Pena é a arma de ordem jurídica na luta contra delinquência.
	Na Terza Scuola Italiana distingue-se o imputável do inimputável, sem se fundar, porém, no livre-arbítrio, e sim na determinação normal do indivíduo. Houve a substituição da noção da imputabilidade pela de perigosidade.
	ESCOLA MODERNA ALEMÃ
	Em 1882, Von Liszt ofereceu ao mundo jurídico o seu famoso Programa de Marburgo — A ideia do fim no Direito Penal, verdadeiro marco na reforma do Direito Penal moderno, trazendo profundas mudanças de política criminal, fazendo verdadeira revolução nos conceitos do Direito Penal positivo até então vigentes. Como grande dogmático que se revelou, sistematizou o Direito Penal, dando-lhe uma complexa e completa estrutura, admitindo a fusão com outras disciplinas, como a criminologia e a política criminal. Por isso é possível afirmar que a moderna teoria do delito nasce com Von Liszt. 
	Inicialmente, Von Liszt não admitia o livre-arbítrio, que substituía pela normalidade que deveria conduzir o indivíduo, e deixou em segundo plano a finalidade retributiva da pena, priorizando a prevenção especial. Von Liszt incluiu na sua ampla concepção de ciências penais a Criminologia e a Penologia (esta expressão criada por ele): a Criminologia, para ele, teria a missão de explicar as causas do delito, enquanto a Penologia estudaria as causas e os efeitos da pena. Embora conhecedor das teorias de Lombroso, Ferri e Garofalo, com os quais não concordava, com seu Programa de Marburgo passou a defender a prevenção especial, ganhando grande repercussão internacional. 
	Enfim, as principais características da moderna escola alemã podem ser sintetizadas nas seguintes: 
a) adoção método lógico-abstrato e indutivo-experimental — o primeiro para o Direito Penal e o segundo para as demais ciências criminais. Prega a necessidade de distinguir o Direito Penal das demais ciências criminais, tais como Criminologia, Sociologia, Antropologia etc.; 
b ) distinção entre imputáveis e inimputáveis — o fundamento dessa distinção, contudo, não é o livre arbítrio, mas a normalidade de determinação do indivíduo. Para o imputável a resposta penal é a pena, e para o perigoso, a medida de segurança, consagrando o chamado duplo-binário; 
c) o crime é concebido como fenômeno humanosocial e fato jurídico — embora considere o crime um fato jurídico, não desconhece que, ao mesmo tempo, é um fenômeno humano e social, constituindo uma realidade fenomênica; 
d) função finalística da pena — a sanção retributiva dos clássicos é substituída pela pena finalística, devendo ajustar-se à própria natureza do delinquente. Mesmo sem perder o caráter retributivo, prioriza a finalidade preventiva, particularmente a prevenção especial; 
e) eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração — representa o início da busca incessante de alternativas às penas privativas de liberdade de curta duração, começando efetivamente a desenvolver uma verdadeira política criminal liberal.
	ESCOLA TÉCNICO JURÍDICA
	Influenciada pela Escola Clássica, tem como principal expoente Arturo Rocco.
	 Trata o direito penal alheio às influências de outras ciências, refutando, portanto, ilações com a Sociologia, Criminologia, Filosofia, Antropologia etc.
	Tem a lei como alicerce do direito penal e o ordenamento jurídico vigente. O direito positivo dever ser a única fonte.
	De forma escorreita Gianpaolo Poggio Smanio pontua as principais caraterísticas dessa Escola:
“Assim, propõe Rocco, abertamente, que nenhuma ciência externa deve interferir no Direito Penal, que deve resumir-se ao Direito Positivado, ou seja, à letra da lei.
	Advoga, ainda, que o conhecimento sistemático das normas jurídicas permite descobrir sua uniformidade, determinar suas causas, fundamentos e princípios, oferecendo um conhecimento científico do Direito. Operando dessa maneira, acredita Rocco que a ciência jurídica constrói dogmaticamente o sistema dos princípios do direito vigente e que o conhecimento metódico e sistemático de tais princípios é sobremaneira útil para a fecunda e vigorosa aplicação do direito.
	Adotados esses critérios, Rocco propõe que O estudo da lei penal deve ser decomposto em
uma investigação exegética (interpretação da lei, segundo a ordem por ela mesmo definida), uma investigação dogmática e sistemática (análise dos princípios e fundamentos do Direito Positivo e sua coordenação lógica) e uma investigação crítica do Direito por outro diferente).
	De forma bem sintética, podemos afirmar que para Arturo Rocco: o único objeto da ciência criminal é o ordenamento jurídico vigente, isto é, o estudo das normas jurídicas que proíbem as ações humanas imputáveis, injustas ou nocivas, indiretamente geradoras e reveladoras de um perigo para a existência da sociedade juridicamente organizada; que a Ciência Criminal deve limita-se estudar o delito e a sanção de um ponto de vista pura e simplesmente jurídico, pois são fatos jurídicos dos quais um é causa e o outro consequência; que o delito é um fato humano e social e que a pena é um fato social e político”.
	Entendem o crime como um ente jurídico, e o direito penal um ramo autônomo e autossuficiente, que independe de outras ciências. Ressuscita o livre arbítrio como fundamento da pena.
	
	ESCOLA DA DEFESA SOCIAL
	Visava-se um direito penal do autor (e não do fato), ou seja, a pessoa é presa como uma medida de defesa social em razão de sua antissociabilidade e não como pena em razão do fato criminoso que cometeu. Prioriza a proteção da sociedade, através de retribuição, um castigo pelo mal feito. CRIME é um mal que desestabiliza o aprimoramento social; DELINQUENTE pessoa que precisa ser adaptada à ordem social; PENA é uma reação da sociedade com objetivo de proteção do cidadão; PENA é uma reação da sociedade com objetivo de proteção do cidadão.
	Fontes Formais (Imediatas e mediatas)
	Você já sabe quem é competente para produzir leis penais. A lei penal fora criada e está “estática”. Muito bem. Ocorre que quando o sujeito pratica um ilícito penal, o Estado tem de aplicar imediatamente, uma norma penal. Daí o surgimento das fontes formais. As normas penais podem ser mediatas e mediatas. Vejamos:
	a) Imediatas – São as leis penais. Classificam-se em:
	Normas penais incriminadoras: são aquelas estabelecidas no código penal ou leis penais especiais, que descrevem o crime. Essas normas possuem dois preceitos: primário (descreve o crime) e secundário (comina a pena).
	Não incriminadoras: o nome é bastante sugestivo, não vão incriminar. Podem ser:
- a) permissivas justificantes (excludentes de ilicitude / antijuridicidade, art. 23, CP) e exculpantes (excludentes de culpabilidade. Ex: art. 26, caput, CP);
- b) explicativas (o legislador apenas explica, conceitua. Ex: art. 327, CP); e
- c) complementares (uma norma complementa a outra. Ex: o art. 68 complementa o artigo 59 do CP). Em momento oportuno estudaremos as referidas normas. Coloquei-as, apenas, para você saber quais são as fontes formais. Apenas para iniciarmos a estrutura do seu estudo.
	b) Mediatas
	Antes de tudo, deve saber e jamais esquecer que as fontes mediatas não criam leis, não revogam leis. Para isso há um processo legislativo. Mas professor, para que servem? Caro aluno, servem para integrar a norma. Servem, apenas, para auxiliar ao intérprete. São chamadas de aporia ou colmatação. As fontes mediatas são: analogia, costumes e princípios gerais do direito.
	- Analogia: Deve-se observar que não existe analogia de norma penal incriminadora – in malem partem. Utiliza-se analogia apenas para beneficiar o acusado – in bonam partem. Mas que eu é analogia? É a análise por semelhança. É aplicar a alguma hipótese não prevista em lei, lei relativa ao caso semelhante. Mas não entendi, pode exemplificar? Sim, é claro. Vamos lá: Ex: você sabe que o art. 128 do CP prevê as hipóteses legais de abortamento. A hipótese mais clássica é aquela em que a mulher é vitima é estupro e fica grávida. A lei, nesse caso, admite a manobra abortiva. Mas o legislador impôs requisitos, quais sejam: que haja consentimento da gestante e seja realizado por médico. Isto é, não o abortamento não for realizado por médico, o agente que o praticou responderá pelo crime de aborto, ok? Mas imaginemos que Eva tenha ficado grávida em decorrência do estupro. E Eva mora em cidade longínqua que não há médico na região; há, apenas, uma parteira. Eva procura a parteira e esta realiza a manobra abortiva. Ocorre que a parteira responderá pelo crime de aborto, porque o legislador disse que tem de ser praticado apenas por médico. Para que não ocorra injustiça, teremos de fazer o uso da analogia, in bonam partem, para beneficiar a parteira.
	- Costumes: Trata-se do conjunto de normas de comportamento que as pessoas obedecem de forma constante e uniforme, pela convicção de sua obrigatoriedade. Costume há obrigatoriedade; hábito não há obrigatoriedade. Obs.: os costumes não criam delitos, pois há o princípio da reserva lega. Servem, apenas, para integrar a lei penal. Ex: se uma garota for à praia com um biquíni extremamente curto, por nada responderá, pois está-se diante de um insignificante jurídico. Mas pergunto, e se essa garota entrar com essa mesma vestimenta em um Tribunal? Provavelmente enfrentará problemas.
	- Princípios gerais do direito: São premissas éticas extraídas da lei, que orientam a compreensão do ordenamento jurídico para melhor elaboração, aplicação e integração das normas. Exemplifique professor? Sim. Vamos lá: a) aos acusados em geral devem ser assegurados o contraditório e a ampla devesa; b/ ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória, que trata do princípio da inocência; c) ninguém é obrigado a produzir prova contra si, que decorre do direito ao silêncio etc.
	Princípios Constitucionais do Direito Penal
Princípio da intervenção mínima: Este princípio remete tanto ao legislador quando ao operador do direito. Tendo em vista que o legislador deverá ter cautela ao eleger as condutas que merecerão punição criminal, abstendo-se de incriminar qualquer conduta. O operador do Direito não deve proceder ao enquadramento típico, quando perceber que outros ramos do direito já resolvem o caso. A intervenção mínima decorre da característica da subsidiariedade, ou seja, o Direito Penal servirá como subsídio quando os outros ramos do Direito não atuarem. O princípio da intervenção mínima é o responsável não só pela indicação dos bens de maior relevo que merecem a especial atenção do direito penal, mas se presta, também, a fazer com que ocorra a chamada descriminalização. Se é com base neste principio que os bens são selecionados para permanecer sob a tutela do direito penal , porque considerados como os de maior importância, também será com fundamento nele que o legislador, atento as mudanças/evoluções na sociedade deixa de dar importância a bens que, no passado, eram da maior relevância, retirando do nosso ordenamento jurídico-penal certos tipos incriminadores.
Princípio da lesividade: Ao direito penal somente interessa a conduta que implica dano social relevante aos bens jurídicos essenciais à coexistência. A autorização para submeter às pessoas a sofrimento através da intervenção no âmbito dos seus direitos somente está justificada nessas circunstâncias. É o princípio que justifica (ou legitima) o Direito Penal; o direito penal somente está legitimado para punir as condutas que implicam dano ou ameaça significativa aos bens jurídicos essenciais à coexistência. Alguns autores não diferenciam o princípio da alteridade da lesividade. A lesividade é aquela em que para que haja lesão ao Direito, é necessário atingir o direito de outrem. Nada irá ser punido se não houver a lesividade. E o que é a lesividade? É a lesão a um bem juridicamente tutelado pelo direito penal. O princípio da lesividade busca desfazer a confusão que havia entre o direito e moral, possui quatro principais funções: 1. Proibir a incriminação de uma atitude interna; 2. Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor; 3. Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais; 4. Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem
qualquer bem jurídico.
O direito penal não poderá punir aquelas condutas que não sejam lesivas a bens de terceiros, pois não excedem ao âmbito do próprio autor. Ninguém pode ser punido por aquilo que pensa ou mesmo por seus sentimentos pessoais se tais sentimentos não forem exteriorizados e não produzirem lesão a bens de terceiros.
Princípio da adequação social: a teoria da adequação social, concebida por Hans Welzel, significa que apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. Temos como exemplo a contravenção do “ jogo do bicho”. Pela maioria da sociedade, essa prática é adequada, e sobre elas não mais deveriam incidir os rigores da lei penal. Obs.: Em hipótese alguma a lei de contravenção foi revogada pelo não uso. Não é porque a lei não é visivelmente aplicada que ele foi revogada. Aliás, somente lei revoga outra lei.
	
	Princípio da Fragmentariedade: O direito penal só deve se ocupar com ofensas realmente graves aos bens jurídicos protegidos. Tem-se, aqui, como variante, a intervenção mínima. Entende-se que devem ser tidas como atípicas as ofensas mínimas ao bem jurídico. Não há tipicidade material. Há, apenas, tipicidade formal. Se a conduta for insignificante, a exemplo de quem furta um clipe de metal, deve ser tida como atípica, inexistindo tipicidade material. A doutrina majoritária inclina-se no sentido de que o referido princípio (insignificância) é causa de exclusão de tipicidade material.
	Princípio da proporcionalidade: A pena, ou seja, a resposta punitiva do Estado deve guardar proporção com o mal infligido ao corpo social. Deve ser proporcional à extensão do dano, não se admitindo penas idênticas para crimes de lesividade distintas, ou para infrações dolosas e culposas. 
Princípio da individualidade da pena: O legislador, de acordo com um critério político, valora os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito Penal, individualizando as penas de cada infração penal de acordo com a sua importância e gravidade. Uma vez em vigor a lei penal, proibindo ou impondo condutas sob a ameaça de sanção, que varia de acordo com a relevância do bem, se o agente, ainda assim insistir em cometer a infração penal deverá por ela responder. Se o agente optou por matar ao invés de somente ferir, a ele será aplicada a pena correspondente de homicídio.
Princípio da responsabilidade pessoalidade: É aquele em que somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado. “Nunca se pode interpretar uma lei penal no sentido de que a pena transcenda da pessoa que é autora ou partícipe do delito. A pena é uma medida de caráter estritamente pessoal, haja vista ser uma ingerência ressocializadora sobre o condenado”.
Princípio da Limitação das Penas: Historicamente, vê-se que as penas já foram das mais diversas, com requintes de crueldade e total desrespeito à dignidade da pessoa humana. Para limitar a atuação do legislador, a atual Constituição previu, em seu art. 5º, XLVII, os seguintes limites, não haverá penas: de morte, salvo em caso de guerra declarada; de caráter perpétuo; de trabalhos forçados; de banimento e cruéis.
Princípio da Culpabilidade: Nilo Batista leciona que o princípio da culpabilidade “impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico”. Isso significa que para determinado resultado ser atribuído ao agente é preciso que a sua conduta tenha sido dolosa ou culposa. Se não houve dolo ou culpa, é sinal de que não houve conduta; se não houve conduta, não se pode falar em fato típico; e não existindo fato típico, como consequência lógica, não haverá crime.
Princípio da legalidade: Este princípio está disposto no artigo 5º, XXXIX, da Constituição Federal, que diz: Não há crime sem lei anterior que o defina, nem prévia sem cominação legal. Tudo que não for expressamente proibido é lícito em Direito Penal. Este princípio já vem desde a carta magna inglesa de 1215 de João sem-terra, no qual limitava as arbitrariedades com relação a propriedades, liberdades das pessoas pelos “poderosos”. Funções do princípio da legalidade: Proibir a retroatividade da lei penal; proibir a criação de crimes e penas pelos costumes; proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas; proibir incriminações vagas e indeterminadas.
	EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL
	A lei penal, mesmo depois de revogada, pode continuar a	regular	fatos ocorridos durante sua vigência ou retroagir para alcançar aqueles	que aconteceram anteriormente à sua entrada em vigor. Essa possibilidade que é dada à lei penal para se movimentar no tempo chama-se extra atividade.
	A regra geral, trazida	no próprio texto da Constituição Federal, é	a da irretroatividade in pejus, ou seja, a	da absoluta impossibilidade de a lei 	penal retroagir para, de qualquer modo, prejudicar o agente; a exceção é a retroatividade in	 mellius, quando a lei	vier, também, de qualquer modo, a favorecê--lo, conforme se dessume do inciso XL	de seu	art. 5º,assim redigido: Art. 5º. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
	TEMPO DO CRIME
	O primeiro marco, necessário ao confronto	das leis que se sucederam no tempo, deverá ser identificado com clareza. É preciso, 	pois, apontar com precisão o chamado tempo do crime, com base no qual nosso raciocínio se desdobrará. Várias teorias disputam o tratamento do tema relativo ao tempo	do crime, podendo-se destacar	as seguintes:
a) teoria da atividade;
b) teoria do resultado;
c) teoria mista	ou da ubiquidade.
	Pela teoria da	atividade, tempo do crime será o da	ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Para	essa teoria, o	que importa é	o momento da	 conduta, comissiva ou omissiva, mesmo que o	resultado dela	se distancie no tempo.
	Já a teoria do resultado determina que o tempo do	crime será, como sua	própria	denominação nos está a	induzir, o da ocorrência do resultado. Aqui, 	sobreleva-se a importância do momento do	resultado da infração penal.
	A teoria mista	ou da ubiquidade concede igual relevo aos	dois momentos apontados pelas teorias anteriores, asseverando que	o tempo do crime será o da ação ou da omissão, bem como o do	momento do resultado.
	O Código Penal adotou a teoria da atividade, conforme se	 verifica no seu art. 4º, assim redigido: Art. 4º.	Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda	que outro seja	o momento do resultado.
	EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL – ESPÉCIES
	Chamamos de extra-atividade a capacidade que tem a lei	 penal de se movimentar no	tempo regulando fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas	anteriormente	à sua vigência, desde que benéficas ao agente.	Temos, portanto, a extra-atividade como gênero, do qual seriam	espécies a ultra—atividade e a retroatividade.
	Fala-se em ultra-atividade quando a	 lei, mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante sua vigência; retroatividade seria a possibilidade conferida à	lei penal de retroagir	no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à	sua entrada em vigor.
	Concluindo, a	ultra-atividade	 e a retroatividade da	lei penal serão realizadas, sempre, 	em benefício do agente, e nunca em seu prejuízo, e pressupõem, necessariamente, sucessão de leis no tempo.
	NOVATIO LEGIS IN MELLIUS E NOVATIO LEGIS IN PEJUS
	A lei nova, editada posteriormente à conduta do agente, poderá conter dispositivos que o prejudiquem ou que o beneficiem. Será considerada novatio legis in pejus, se prejudicá-lo; ou novatio legis in mellius, se beneficiá-lo.
	Pode a lei nova prejudicar o agente: ampliando o rol das circunstâncias agravantes, criando causas de aumento de pena, aumentando o
prazo de prescrição ou mesmo trazendo novas causas interruptivas ou suspensivas etc. Poderá beneficiá-lo quando: trouxer causas de diminuição de pena, reduzir os prazos prescricionais, condicionar as ações	 penais à representação do ofendido etc.
	A novatio legis in mellius será sempre retroativa, sendo aplicada aos fatos ocorridos anteriormente à sua vigência, ainda	que tenham sido decididos por sentença condenatória já transitada em julgado.
	Aplicação da novatio legis in pejus nos crimes permanentes e continuados
	Diz-se permanente o crime quando sua execução se prolonga, se perpetua no tempo. Existe uma ficção de que	o agente, a cada instante, enquanto	durar a permanência, está praticando atos de execução.	 Na verdade, a execução e a	 consumação do delito, como regra, acabam se confundindo, a exemplo do que ocorre com o crime de sequestro, previsto no art. 148 do Código Penal. Ocorre o crime continuado, segundo	a definição trazida pelo art. 71 do Código Penal, quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro.
	Pode acontecer a hipótese em que, durante um crime de extorsão mediante sequestro (art.159 do CP), o	agente	tenha privado	a vítima de sua liberdade enquanto	estava	em vigor a lei A, e, mesmo depois da entrada em vigor da lei B, que agravava, por exemplo, 	a pena	cominada pela legislação anterior, a vítima ainda não tenha sido	libertada, pois	 os sequestradores ainda estavam negociando sua libertação.	 Nesse	 caso, aplica-se a lei A, ou seja, a lei vigente quando da prática dos primeiros atos de execução, ou	a lei B?
	Qual das leis deverá ser aplicada ao caso concreto: a anterior, mais benéfica, ou a posterior, considerada novatio legis in pejus? A lei penal mais grave	 aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Dessa forma, no caso exposto, deverá ter aplicação a lei B, desde que não tenha cessado a permanência ou a continuidade das infrações penais até o início da vigência da lex gravior.
	ABOLITIO CRIMINIS
	Quando o legislador, atento às mutações sociais, resolve não mais continuar a incriminar determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a	infração que a	 previa, pois passou a entender que o Direito Penal	não mais se fazia necessário à proteção de	 determinado bem, ocorre o fenômeno jurídico conhecido	por abolitio criminis.
	A abolitio criminis tem sua previsão	no caput do art. 2º do	Código Penal, que diz: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos	penais	da sentença condenatória.
	Descriminalizando aquela conduta até então punida pelo Direito Penal, o Estado abre mão do seu ius puniendi e, por conseguinte, declara a extinção	 da punibilidade (art.	107, I I I, do CP) de todos os	fatos ocorridos anteriormente à edição da	 lei nova.
	Efeitos da abolitio criminis
	Além de conduzir à extinção da punibilidade, a abolitio criminis faz cessar todos	 os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, contudo, seus	efeitos civis. Extrai-se do caput do art. 2º do Código	 penal que, havendo	 a descriminalização e uma vez cessados os efeitos penais da sentença condenatória, deverá ser providenciada a retirada do nome do agente do rol dos culpados, não podendo sua condenação ser considerada para fins de reincidência ou mesmo antecedentes penais. Os efeitos civis, ao contrário, não serão	 atingidos pela abolitio criminis.
	Abolitio criminis temporalis
	Tem-se entendido por abolitio criminis temporalis, ou suspensão	da tipicidade, a situação na qual a aplicação de determinado tipo penal encontra-se temporariamente suspensa, não permitindo, consequentemente, a	 punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão.	
	Princípio da continuidade normativo-típica
	Pode ocorrer que determinado tipo penal incriminador seja expressamente revogado, mas seus elementos venham a migrar para outro tipo penal já existente, ou mesmo criado por nova lei. Nesses casos, embora aparentemente tenha havido a abolição da figura típica, temos aquilo que se denomina continuidade normativo-típica.
	Não ocorrerá, portanto, a abolitio criminis, mas, sim, a permanência da conduta anteriormente incriminada, só que constando de outro tipo penal.
	SUCESSÃO	DE LEIS NO TEMPO
	Entre a data do fato praticado e o término do cumprimento da pena podem surgir várias leis penais, ocorrendo aquilo que chamamos de	sucessão de leis no tempo. Nessa sucessão de leis, vamos observar as regras da ultra-atividade ou retroatividade benéficas.
	Lei intermediária
	Pode acontecer a hipótese em que a lei a ser aplicada não seja nem aquela vigente à época dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolação da sentença. É o caso da	 chamada lei intermediária.	A regra da ultra-atividade e da retroatividade é absoluta no sentido de, sempre,	ser aplicada ao agente a lei que mais	 lhe favoreça,	não importando, na verdade,	 o momento de sua vigência,	 isto é,	se na data do fato, na data	da sentença ou mesmo entre esses	dois marcos.
	Sucessão de leis temporárias ou excepcionais
	As leis temporárias e	excepcionais encontram previsão no art. 3º	do Código Penal, assim redigido: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias	 que a	determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.
	Considera-se temporária a lei quando esta	traz expressamente em seu texto o	dia do início, bem como o do término de sua vigência, a exemplo do que ocorreu com a Lei nº 12.663, de	 5 de junho de 2012, que dispôs sobre as medidas relativas à Copa das Confederações, FIFA	2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e aos eventos relacionados, que foram realizados no Brasil. Conforme se verifica no art.36 do referido diploma legal, os tipos previstos no Capítulo VI I I, correspondente às disposições penais, teriam vigência até o	dia 31 de dezembro de 2014. Da mesma forma, a Lei nº 13.284, de 10 de maio	de 2016, dispondo sobre as medidas relativas aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 e aos eventos relacionados, realizados no Brasil, criou uma série de tipos penais, a exemplo da utilização indevida de símbolos oficiais (art. 17), marketing	 de emboscada por associação (art. 19), dentre outros, que tiveram sua vigência limitada até o dia 31 de dezembro de 2016.
	Encerrado o período de sua vigência, ou cessadas as circunstâncias anormais que a determinaram, tem-se por revogadas as leis temporária e	excepcional.
	Uma vez que, não tendo a Constituição Federal ressalvado a possibilidade de ultra-atividade in pejus das leis temporárias e excepcionais, não será possível tal interpretação, devendo prevalecer o entendimento	no sentido de	que o art. 3º do Código Penal, em tema de sucessão de leis no tempo, não foi recepcionado	pela atual Carta Constitucional, para fins de aplicação da lei anterior em	 prejuízo do agente.
Assim, portanto, havendo sucessão de leis temporárias ou excepcionais, prevalecerá a regra constitucional da extra-atividade in mellius, ou seja, sempre que a lei anterior for benéfica, deverá gozar dos efeitos da ultra-atividade; ao contrário, 	sempre que a	posterior beneficiar o agente, deverá retroagir, não se	podendo, outrossim, excepcionar a regra constitucional.
	COMBINAÇÃO DE LEIS
	Fala-se em combinação de leis quando, a fim de atender aos princípios da ultra-atividade e da retroatividade	in mellius, ao julgador é conferida a possibilidade de extrair de dois diplomas os dispositivos que atendam aos interesses do agente, desprezando aqueles outros que o prejudiquem.
	Entendemos que a combinação de leis levada a efeito pelo julgador, ao contrário de criar um terceiro gênero, atende aos princípios constitucionais da ultra-atividade e retroatividade benéficas. Se a lei anterior,
já revogada, possui pontos que, de qualquer modo, beneficiam o agente, deverá ser ultra-ativa; se na lei posterior que revogou o diploma anterior também existem aspectos que o beneficiem, por respeito aos imperativos constitucionais, devem ser aplicados, a exemplo do que ocorreu com as Leis nº 6.368/76 e nº 11.343/2006, em que a pena mínima cominada ao delito de tráfico de drogas era de 3 (três) anos (revogado art.12), sendo que a novatio legis a aumentou para 5 (cinco). No entanto, a nova lei previu, em seu art. 33, § 4º,uma causa especial de redução de pena que não constava	da lei anterior,	dizendo que, verbis, § 4º os delitos	definidos no caput e no § 1º	deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de 1/6 (um sexto) a 2/3(dois terços), vedada a conversão em penas restritivas	 de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.
	Assim, deverá o julgador, na hipótese de crime de tráfico ocorrido na vigência da Lei nº 6.368/76, além de partir, obrigatoriamente, da pena mínima de 3 (três) anos, aplicar, se o caso concreto permitir, a causa de redução prevista na Lei nº 11.343/2006, conjugando, assim, em benefício do	 agente, os dois diplomas legais, em estrita obediência ao disposto no inciso XL	do art.	5º da Constituição Federal, que, prevendo os princípios da ultra e da	retroatividade	benéficas, determina	que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar	o réu.
	COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA LEX MITIOR
	Pode acontecer que, ainda durante a fase investigatória, 	surja outra lei mais benéfica ao agente. O Ministério Público, ao receber os autos de inquérito policial, já deverá oferecer a denúncia tomando por base o	novo texto. Se o processo já estiver em andamento, o juiz ou o Tribunal 	poderá	aplicar	a lex mitior.
	Embora, à primeira vista, pareça não haver	 mais discussões a respeito da competência para aplicação da lex mitior após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, merece ser destacado que competirá ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benéfica sempre que tal aplicação importar num cálculo meramente matemático. Caso contrário, não.	Ou seja, toda vez que o juiz da Vara de Execuções, a	fim de aplicar	a lex	mitior	 tiver de, obrigatoriamente, adentrar no mérito da ação penal de conhecimento, já não possuirá competência para tanto.
	Suponhamos que a nova lei penal tenha criado uma causa geral	de diminuição de pena por considerar a idade do agente ao tempo da ação ou da omissão.	Ao juiz, para aplicar a referida redução, bastará conferir o documento de identidade existente nos	autos.	Se o agente se adequar às novas disposições, fará jus à redução. O cálculo, neste caso, é meramente matemático, objetivo. Agora, tomando de empréstimo o exemplo, se o juiz tiver de	 avaliar a participação do agente para poder chegar à conclusão de que fora de menor importância, deverá, obrigatoriamente, 	reavaliar o mérito da ação penal .	 Em casos como esses, a competência não mais será do juiz das	 execuções, mas a aplicação da lei benéfica ficará a cargo do Tribunal competente para a apreciação do recurso, via ação de revisão criminal, pois que “entendimento contrário conduziria a transformar o juiz da execução	penal num superjuiz com competência até para invadir a	área privativa da Segunda Instância, alterando qualificações jurídicas definitivamente estatuídas.
	APURAÇÃO DA MAIOR BENIGNIDADE DA LEI
	Pode acontecer que ocorra sucessão de leis e, na busca por aquela que melhor atenda aos interesses do agente, não consiga o julgador identificar a que efetivamente possa ser considerada como lex mitior.
	Nélson Hungria, citando dispositivos dos Códigos mexicano e espanhol que dispunham que em caso de dúvida sobre a lei mais favorável deverá ser ouvido o réu, entendia ser essa a posição “mais racional, pois ninguém melhor do que o réu para conhecer as disposições que lhe são mais benéficas”, razão pela qual, se houver dúvidas quanto à aplicação da lei que melhor atenda aos interesses do agente, o réu, por intermédio de seu advogado, deverá ser consultado a fim de que faça a escolha daquela que, segundo a sua particular situação, seja tida como a mais favorável .
	IRRETROATIVIDADE DA LEX GRAVIOR	E MEDIDAS DE SEGURANÇA
	Em virtude do	princípio constitucional da irretroatividade in pejus, podemos afirmar que a lei posterior que de qualquer modo vier a prejudicar o agente não terá aplicação retroativa, ou seja, não poderá alcançar os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor.
	APLICAÇÃO DA LEX MITIOR DURANTE O PERÍODO DE V ACATIO LEGIS
	Como tivemos oportunidade de ressaltar, somente depois da entrada em vigor da lei penal é que lhe devemos obediência. A vigência da lei penal, portanto, é o nosso marco inicial.
	Contudo, tal regra diz respeito somente àquelas leis que criem novas figuras típicas, agravem a aplicação da pena ou que, de qualquer modo, prejudiquem o agente. Pode acontecer que a lei nova contenha dispositivos benéficos, sendo considerada, assim, uma novatio legis in mellius. Nesse caso, para que possa vir a ser aplicada, é preciso que aguardemos o início de sua vigência, ou basta a sua só publicação?
	Embora tal posicionamento não seja unânime, a maior parte de nossos doutrinadores, entende ser possível a aplicação da lex mitior mesmo durante o período de vacatio legis, muito embora tenham existido em nossa história leis penais que permaneceram em vacatio legis durante um longo espaço de tempo e vieram	a ser revogadas sem sequer terem entrado em vigor, como foi o caso do Código Penal de1969.
	VACATIO LEGIS INDIRETA
	Tem-se entendido como vacatio legis indireta a hipótese em que a lei, além do seu normal período de vacatio legis, em seu próprio corpo, prevê outro prazo para que determinados dispositivos possam ter aplicação, a exemplo	do que ocorreu com o art. 30 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento), com a nova redação que lhe foi dada	pela Lei nº 11.706, de 19 de junho de 2008	que, expressamente, diz:
	Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a I I I do caput do art. 4º desta Lei .
	PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE
Cuida do lugar onde o crime é praticado, servindo como parâmetro para solucionar situações em que um crime inicia sua execução em um determinado território e a consumação dar-se em outro. Para esclarecer estas possíveis situações o Direito Penal utiliza-se de alguns princípios, vejamos: 
Princípio da Territorialidade: Previsto no artigo 5º, §§ 1º e 2º do Código Penal Brasileiro: 
	Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável à lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se àquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. 	
	Fazendo uma análise simples do artigo acima, o Princípio da Territorialidade afirma que a lei penal somente pode ser aplicada
no espaço (território) do Estado que a criou, não atendendo à nacionalidade do sujeito ativo ou passivo do delito ou o titular do bem jurídico lesado. Para este princípio, os países devem aplicar as suas leis aos crimes cometidos dentro de seu território jurídico. Este critério não é absoluto. Para tanto, o Brasil adotou o Princípio da Territorialidade Temperada, que diz: 
	A lei penal brasileira aplica-se, em regra, ao crime praticado em seu território, porém a lei estrangeira será aplicada em crimes praticados em parte ou total em nosso território, quando assim exigirem tratados e convenções internacionais (Intraterritorialidade/de fora para dentro). 
	É importante analisar as situações de extensões do território nacional, uma vez que o alto-mar não está sujeito a qualquer soberania dos Estados, vejamos: 
	A. Princípio do Pavilhão ou da Bandeira: As embarcações e aeronaves são extensões do território do país em que estiverem registradas (bandeira). Os navios e aeronaves de guerra são extensões do território nacional. Assim, os crimes cometidos no interior deles terão aplicação das leis dos respectivos países. Isto não se aplica aos delitos praticados fora das embarcações pelos tripulantes. Neste caso estarão sujeitos à jurisdição penal do Estado em cujo território se encontram. 
	B. Navios e Aeronaves Públicas ou Privadas: Os navios oficiais (chefe de Estado/representantes diplomáticos) são considerados extensões do território nacional (mesmo comando do Princípio do Pavilhão). Já aos navios privados (mercantes ou de propriedade privada) em mar de território estrangeiro aplica-se a lei do país estrangeiro em alto-mar, e em mar territorial brasileira, a lei brasileira é a aplicável. 
Casos em que a legislação brasileira não tem incidência:
	Imunidades Diplomáticas: Não pode ser preso nem processado sem autorização de seu país. As sedes diplomáticas não são extensões do território do país, mas são invioláveis (embaixador, corpo técnico da embaixada, familiares do agente diplomático, chefes de Estado Estrangeiro que visitam o país, os empregados particulares não gozam de imunidade);
	Imunidades dos Parlamentares: Garantia dos parlamentares para o exercício de suas funções. Previstas no artigo 53 da Constituição Federal: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. A imunidade é irrenunciável, entretanto, não alcança os parlamentares licenciados para ocupar outro cargo.
	2. Princípio da Extraterritorialidade: Princípio que possibilita a aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos em territórios de outros Estados. Encontra-se previsto no artigo 7º do Código Penal: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
	I- os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
	II - Os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
a) Territorialidade absoluta: Só a lei brasileira aplica -se aos fatos praticados no território nacional. 
b) Territorialidade temperada: Em regra aplica-se a lei brasileira aos crimes cometidos no território nacional, porém, excepcionalmente, aplica-se a lei estrangeira quando, assim, determinarem os tratados, convenções e regras de direito internacional. 
	Para identificar qual é o lugar do crime, temos que analisar as 3 teorias, são elas: 
a) Teoria da atividade – O lugar do crime é aquele onde houve a conduta. 
b) Teoria do resultado – O lugar do crime é aquele onde há a produção do resultado. 
c) Teoria da ubiquidade – Para saber qual é o local do crime, não importa se foi onde o agente pratico uma conduta ou onde foi realizado o resultado, tanto faz. 
	Para o CPP, em seu art. 70, este se utiliza da teoria do resultado. (Está relacionado à competência jurisdicional, ou seja, qual juiz competente. Ademais, é necessário saber qual o melhor local para colhimento de provas.) 
	Aplicação da teoria do Código Penal brasileiro: 
	a) Crimes a distância: São aqueles em que a execução se dar em país e a consumação em outro país. Ex.: Suponhamos que alguém, residente na Argentina, enviasse uma carta-bomba tendo como destinatário uma vítima que reside no Brasil. A carta-bomba chega ao seu destino e, ao abri-la, a vítima detona o seu mecanismo de funcionamento, fazendo-a explodir, causando-lhe a morte. Se adotada no Brasil a teoria da atividade e na Argentina a teoria do resultado, o a gente, autor do homicídio ficaria impune. A adoção da teoria da ubiquidade resolve problemas de Direito Penal internacional. 
	Crimes à pluri-locais: São aqueles aonde a execução se dar em um local e a consumação em outro local, só que no mesmo país.
	CONCEITO E EVOLUÇÃO DA TEORIA DO CRIME
	Embora o crime seja insuscetível de fragmentação, pois que é um todo unitário, para efeitos de estudo, faz-se necessária a análise de cada uma de suas características ou elementos fundamentais, isto é, o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade. Podemos dizer que cada um desses elementos, na ordem em que foram apresentados, é um antecedente lógico e necessário à apreciação do elemento seguinte.
	Ao contrário de outras legislações que adotaram o chamado critério tripartido, a exemplo da França e da Espanha, no qual existe diferença entre crime, delito e contravenção, diferença esta que varia de acordo com a gravidade do fato e a pena cominada à infração penal, nosso sistema jurídico-penal, da mesma forma que o alemão	e o italiano, fez a opção pelo critério bipartido, ou seja, entende de um lado, os crimes e os delitos como expressões sinônimas, e, do	outro, as contravenções penais.
	Quando quisermos nos referir indistintamente a qualquer uma dessas figuras, devemos utilizar a expressão infração penal. A infração penal, portanto, como gênero, refere-se de forma abrangente aos crimes/delitos	e às contravenções penais como espécies.
	Inicialmente deve ser registrado que o legislador adotou um critério para a distinção entre eles. Assim, no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, temos a seguinte definição: Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
	Na verdade, não há diferença substancial entre contravenção e crime. O critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo Direito Penal é político, da mesma forma que é política a rotulação da conduta como contravencional ou criminosa. O que hoje é considerado crime amanhã	poderá vir a tornar-se contravenção e vice-versa.	
	Às contravenções penais, por serem, na concepção de Hungria, consideradas delitos-anões, devem, em geral, tocar as infrações consideradas menos graves, ou seja, aquelas que ofendam bens jurídicos não tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um delito.
	Na verdade, se aplicássemos fielmente o princípio da intervenção mínima, que apregoa que o Direito Penal só deve preocupar-se com os bens e interesses mais importantes e necessários ao convívio em sociedade, não deveríamos sequer falar em contravenções, cujos bens por elas tutelados bem poderiam ter sido protegidos satisfatoriamente pelos demais ramos do Direito.
	CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DAS INFRAÇÕES PENAIS
	Crimes e contravenções penais
	Ao

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