Prévia do material em texto
1 Breve evolução histórica do Direito Penal As normas jurídicas e sua forma de aplicação são um reflexo do desenvolvimento de um povo. Desta forma, o direito penal, assim como todos os outros ramos do direito, é um fenômeno histórico. Apesar de ainda haver graves problemas na aplicação do direito penal, a sua evolução é inquestionável. Da vingança de sangue, passando pelos suplícios, hoje se vive o direito penal do fato. Muitas das garantias presentes no ordenamento jurídico-penal são reflexo da superação de situações passadas, vistas hoje como erros ou injustiças. Por exemplo, hoje “nenhuma pena passará da pessoa do condenado” (art. 5º, XLV, CF), mas, nas Ordenações Filipinas (1603), que vigeram por quase dois séculos no Brasil, era uma prática comum a família do condenado também sofrer os efeitos da pena. 1.1 Direito penal primitivo Desde a Antiguidade até hoje verificamos grandes mudanças nos institutos criminais. Se analisarmos a pena, por exemplo, podemos traçar a seguinte evolução: "perda da paz ou vingança indeterminada, vingança limitada pela lei do talião, composição voluntária, composição legal e pena pública" (Bruno, 1956, p. 70 e 71). Conforme ensina Aníbal Bruno (1956, p. 66), "nas sociedades antigas, onde ainda não havia um órgão que exercesse a autoridade coletiva, o respeito às normas era baseado no temor religioso ou até mesmo mágico". E a punição, que era a vingança, visava aplacar a ira dos deuses. A religião sempre esteve muito presente no direito penal. Algumas normas podem servir de exemplo: Leis de Manu, Índia, sécs. 12 ou 13 a.C., e Pentateuco ou Torá, dos hebreus, 1250 a.C. Até hoje normas com cunho religioso são utilizadas na área penal, em especial em países teocráticos orientais. Remontando às sociedades mais primitivas, "a vingança privada era um ato de guerra entre tribos e não uma pena" (Bruno, 1956, p. 68). Entre os membros do grupo a pena era a expulsão, e essa pena equivalia à pena de morte, pois dificilmente o indivíduo conseguiria sobreviver fora dos domínios de proteção e cooperação de seu clã. Da vingança o direito penal evoluiu para a composição. Por esse método o autor do delito “comprava” a sua liberdade. Ao invés da vingança de sangue era pago um valor pecuniário que visava “cobrir” os danos sofridos pela vítima, dentro da esfera privada. 1.2 Vingança pública Com a evolução social e uma maior organização estatal, o Estado afastou a vingança privada e assumiu o poder-dever de aplicar a vingança pública. Passa a ser um dever do Estado manter a ordem e “fazer justiça”. O Direito Romano, o Germânico e o Canônico, embora apresentando graus de evolução e princípios diferenciados, caminharam juntos para a formação do que Aníbal Bruno (1956, p. 84) denomina direito penal comum, o direito penal que regeu a prática da justiça punitiva em diversos países da Europa, durante a Idade Média e a Moderna. Nesse período, o direito visava a proteção do príncipe e da religião. Suas práticas arbitrárias e cruéis criavam uma “atmosfera de incerteza, insegurança e justificado terror” (Bruno, 1956, p. 86). O direito era instrumento para que a nobreza e o clero permanecessem no poder político e econômico: A ausência de proporcionalidade ou respeito à dignidade humana eram vistas na desigualdade de punição entre nobres e plebeus, na indeterminação das penas e na definição dos crimes, na falta de publicidade no processo, na ausência de defesa e nos meios inquisitoriais (Bruno, 1956, p. 86). 1.3 Período humanitário Esses excessos criaram na consciência de todos a necessidade de reformar as leis penais, assim inicia-se o período humanitário. Personagem mais importante desse período é sem dúvida Cesare Beccaria, que publicou em 1764 a obra Dos delitos e das penas. Essa obra é um marco no direito penal, pois visava romper com o direito vigente, baseado em suplícios e no arbítrio dos reis. Vivendo sob a égide do Iluminismo – de cunho racionalista e jusnaturalista – pode-se afirmar que Beccaria sofreu a influência de filósofos como Locke, D’Alembert, Diderot, Hume, Montesquieu, Rousseau e Voltaire. Beccaria pensou um direito fundado no respeito à personalidade humana. Ele defendia a elaboração de leis que fossem mais claras e precisas, com penas proporcionais e o fim da pena de morte e da tortura. As ideias de Beccaria foram aceitas e incluídas, mesmo que de modo ainda incipiente, na legislação de diversos países, como Rússia (1767), Toscana (1786), Áustria (1787), França (1791 e 1810) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) (Fragoso, 1976, p. 43 e 44). 2 Evolução epistemológica do direito penal: escolas penais O estudo da história do direito penal inclui a análise da elaboração da dogmática jurídico-penal. Para Bitencourt (2018, p. 106), “o referencial mais significativo do valor da dogmática penal é a construção da Teoria Geral do Delito”. Se analisará a seguir as algumas linhas de pensamento, ou escolas penais, que foram determinantes na elaboração da dogmática jurídico-penal. Elas foram percussoras da moderna dogmática. É importante ressaltar que não se trata de um processo linear, pois “está vinculado às vicissitudes políticas, sociais, culturais e econômicas das sociedades, desde o advento do Iluminismo até nossos dias” (Bitencourt, 2018, p. 106). 2.1 Escola Clássica A Escola Clássica não produziu uma doutrina única, mas seus juristas se baseavam nas ideias desenvolvidas por Beccaria. Um ícone dessa Escola foi Francesco Carrara (1805-1888). Em sua obra Programa do Curso de Direito Penal, de 1859, ele inicia a ciência penal na Itália. Para Carrara (1956, p. 11) o delito era um ente jurídico, pois na sua essência consiste na violação de um direito. Assim, não haveria delito fora das ações que ofendem ou ameaçam direitos. Para que haja crime Carrara observa a existência de duas forças essenciais. Segundo Carrara (1956, p. 11), o direito é congênito ao homem, já que lhe foi dado por Deus. Embora refutasse a arbitrariedade e crueldade impingidos pela Igreja e pelos governos tirânicos, ele aceitava uma lei eterna, de cunho religioso, preexistente a todas as leis humanas, e que vinculava o legislador. Carrara (1956, p. 14 e 15) chama também a atenção para o processo penal. Para ele todos os preceitos relativos ao processo pertencem à ordem pública e devem proteger o direito, pois interessam a todos os cidadãos. A ideia é preservar os honestos de eventual erro judicial, e também os culpados, para que se lhes aplique uma pena justa. Essa pena é uma retribuição jurídica e o restabelecimento da ordem externa violada pelo delito. Na Alemanha podemos citar Feuerbach (1775-1833), a quem é atribuída a criação de uma ciência jurídico-penal em sentido moderno, caracterizada por uma conceituação e sistematização precisas, desenvolvidas em sua obra Lehrbuch, de 1801. O seu trabalho legislativo mais importante foi o Código Bávaro de 1813. O autor visa construir um sistema completo fundado na lei positiva. Alguns postulados vigoram até hoje, conforme ensina Alessandra Greco (2004, p. 52 e 53). Princípio da legalidade. A imposição da pena só pode ser dar por ocasião de um crime. Todo fato criminal tem uma pena legal correspondente a ele. O fim da pena para Feuerbach é o preventivo geral. 2.2 Escola Positiva A ciência exerceu uma influência decisiva na configuração do Direito Penal do séc. XIX. O evolucionismo de Charles Darwin, o positivismo de Auguste Comte, dentre outros, ditaram os rumos seguidos pela Escola Positiva. A motivação para superar a Escola Clássica pautava-se na crítica a sua ineficácia como meio de repressão à criminalidade. Em linhas gerais, a pena retributiva deveria ser substituída por um sistema de prevenção especial, com base no estudo antropológico do homem delinquente, e o crime deveria ser visto como fato social, e não como ente jurídico (Fragoso, 1976, p. 49 a 60). Na Escola Positiva o delinquentepassa a ser o foco do estudo. Ele é considerado um ser anormal, e por essa razão delinque. Não se considera mais o livre-arbítrio, e sim o determinismo. Na aplicação da lei penal deve levar-se em conta a periculosidade do agente, daí a aplicação das medidas de segurança. Essa Escola elaborou a história natural do homem criminoso, baseada no método empírico. Tentaram fazer do direito penal uma ciência natural. E, conforme assinala Aníbal Bruno (1956, p. 117), essa teoria foi superada, pois o método experimental deve ser aplicado às ciências criminológicas e não ao direito penal. A esse período puramente criminológico sucedeu depois um período jurídico. Foram expoentes da Escola Positiva: Cesare Lombroso (1986-1909) A Lombroso atribui-se o desenvolvimento da antropologia criminal. Ele insere o estudo do criminoso na estrutura do crime, visando uma explicação causal para seu comportamento antissocial. Para ele o delinquente é nato, pois possui um tipo antropológico específico. Algumas características citadas pelo autor: assimetria craniana, orelhas de abano, cabelos abundantes, portador de epilepsia. A teoria de Lombroso encontra-se superada. Porém, ele teve o mérito de iniciar os estudos sobre o delinquente. O seu grande problema foi estabelecer que aspectos físicos determinariam quem seria ou não delinquente, o que não corresponde à realidade. Rafael Garofalo (1851-1934) A Garofalo atribui-se o estudo da criminologia. Ele busca estabelecer um conceito naturalístico de crime identificando-o na violação daquela parte do senso moral que consiste nos sentimentos altruístas de piedade e probidade, considerando a “média” existente na comunidade. (Fragoso, 1976, p. 46). Para ele o crime está sempre no indivíduo e é a revelação de uma natureza degenerada. A causa não seria física, como em Lombroso, mas sim psíquica ou moral. Garofalo, partindo da seleção natural de Darwin, defendia “a aplicação da pena de morte aos delinquentes que não tivessem absoluta capacidade de adaptação, que seria o caso dos ‘criminosos natos’” (Bitenourt, 2018, p. 116). Enrico Ferri (1856-1929) Ferri é considerado o criador da sociologia criminal. Para ele o homem só é responsável porque vive em sociedade, substituindo a responsabilidade moral pela social. Conforme ensina Aníbal Bruno (1956, p. 114), Ferri tinha seu espírito orientado para as ciências sociais, e assim complementou o antropologismo inicial de Lombroso com uma compreensão mais abrangente das origens da criminalidade. Para ele existiam três ordens de fatores do crime: antropológicos, físicos e sociais. O autor defendia que o ambiente social influencia o indivíduo de forma determinante, apesar dos fatores individuais e físicos. Desta forma, “o homem está condicionado a agir pela influência do meio social, que determina seu caráter, visto que o crime é produto de uma doença social grave e o agente não poderia agir conforme o ordenamento jurídico vigente”. (Martinelli; Bem, 2018, p. 71). 2.3 Escola Moderna Alemã Desenvolvida na Alemanha, com base na obra do austríaco Franz von Liszt. Trata-se de uma escola eclética, mais próxima da Escola Positiva, mas com “tendência de conciliação com os clássicos” (Bruno, 1956, p. 123). Em 1882, von Liszt lançou o Programa de Marburgo, considerado “verdadeiro marco na reforma do direito penal moderno, trazendo profundas mudanças de política criminal, fazendo verdadeira revolução nos conceitos do direito penal positivo até então vigentes”. (Bitencourt, 2018, p. 119). Segundo Bitencourt (2018, p. 120), as principais características da moderna escola alemã são: Adoção do método lógico-abstrato e indutivo- experimental O primeiro para o direito penal e o segundo para as demais ciências criminais. Prega a necessidade de distinguir o direito penal das demais ciências criminais, tais como criminologia, sociologia, antropologia etc. Distinção entre imputáveis e inimputáveis O fundamento dessa distinção, contudo, não é o livre-arbítrio, mas a normalidade de determinação do indivíduo. Para o imputável a resposta penal é a pena, e para o perigoso, a medida de segurança, consagrando o chamado duplo-binário. O crime é concebido como fenômeno humano- social e fato jurídico Embora considere o crime um fato jurídico, não desconhece que, ao mesmo tempo, é um fenômeno humano e social, constituindo uma realidade fenomênica. Função finalística da pena A sanção retributiva dos clássicos é substituída pela pena finalística, devendo ajustar-se à própria natureza do delinquente. Mesmo sem perder o caráter retributivo, prioriza a finalidade preventiva, particularmente a prevenção especial. Eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração Representa o início da busca incessante de alternativas às penas privativas de liberdade de curta duração, começando efetivamente a desenvolver uma verdadeira política criminal liberal. 3 Evolução do Direito penal no Brasil Conheça, a seguir, a evolução do Direito penal no Brasil e suas características. 3.1 Ordenações Filipinas O Livro V das Ordenações Filipinas, vigente de 1603 a 1830, foi a legislação penal utilizada no Brasil durante o período colonial. Nessa época não eram muito diferentes o direito da moral e da religião. Podemos citar alguns crimes: feitiçaria, sodomia e adultério, que eram punidos com a pena de morte. Outra característica desse período era a crueldade das penas, que também eram um reflexo da época. Um caso emblemático foi o de Tiradentes, condenado à morte pelo crime de lesa-majestade, e, após ser enforcado, teve seu corpo esquartejado e seus membros fincados em postes e colocados à beira das estradas como “exemplo” para os demais súditos da coroa. Era uma forma de intimidar pelo terror. O Direito Penal desse período era visto como prima ratio, muito diferente de hoje, tudo era matéria de direito penal. As condutas hoje abarcadas por outras áreas do direito, como o administrativo ou civil, recebiam tratamento penal. Exemplo: Título LXXXI – Dos que dão música de noite – pena de prisão por 30 dias, multa e perda dos instrumentos musicais e armas. Outra característica que merece ser comentada é a interferência da “qualidade” do autor na definição da pena, pois não vigia o princípio da igualdade. Por exemplo, para os rufiões (Título XXXIII) a pena era de açoite, multa e degredo para África. Porém, se o homem fosse escudeiro, a pena seria de multa e degredo para fora da vila. Essa legislação também não se adotava o princípio da legalidade, ficando ao arbítrio do julgador a escolha da sanção aplicável (Bitencourt, 2018, p. 100). 3.2 Código Criminal do Império do Brasil Com a proclamação da independência em 1822 se fez necessária a revisão de toda a legislação vigente no país, que era de origem portuguesa. Em 1824 foi outorgada a primeira Constituição do Brasil, e em 1830 foi promulgado o primeiro Código Criminal brasileiro. A Constituição de 1824, elaborada sob o ideário liberal e humanista, trazia em seu art. 179 direitos e garantias individuas que influenciaram sobremaneira a elaboração do Código Criminal. O Código de 1830 foi o primeiro código autônomo da América Latina foi um código elogiado e influente para outras codificações na América e Europa. Segundo aponta Basileu Garcia (1956, p. 179), "a única questão que deu margem a dissídio no Parlamento durante a aprovação do projeto foi a pena de morte. Os conservadores queriam mantê-la no código, e os liberais, extirpá-la. Venceram os primeiros, sob o argumento de que os escravos não temeriam nenhum outro castigo, que não a forca". Apesar de todos os elogios, esse Código mantinha resquícios de uma sociedade escravocrata. A crítica da sociedade da época era que o caráter liberal do Código levaria ao aumento da criminalidade, o que levou a todo um retrocesso de de cunho retrógrado, principalmente contra escravos (Toledo, 2002, p. 59). 3.3 Código Penal da República Como fim da escravidão e o advento da República, novamente se fazia mister a ruptura com o velho, e, assim, a elaboração de novos diplomas legais. Em 1890 foi promulgado o novo Código Penal, que ficou pronto antes da primeira Constituição da República, promulgada apenas em 1891. Vale lembrar que nessa época já eram conhecidos os estudos de Francesco Carrara – Escola Clássica -, e também os ideais da Escola Positiva. Apesar de todas as críticas que esse novo código sofreu, por ter sido elaborado às pressas, cabe ressaltar que esse código aboliu a pena de morte e instalou o regime penitenciário de caráter correcional. 3.4 Código Penal de 1940 Entre o final do séc. XIX e início do séc. XX houve um grande desenvolvimento da ciência penal, com Escola Clássica, Escola Positiva e escolas ecléticas. Surgiu a necessidade de um novo código mais moderno. O Código Penal de 1940 foi originado no projeto de Alcântara Machado, revisado por uma Comissão que participava juristas do peso de Nelson Hungria, Roberto Lyra, Costa e Silva, entre outros. Nasce no período entre guerras, em pleno Estado Novo, de índole ditatorial, onde Getúlio Vargas detém os Poderes Executivo e Legislativo. Mas, conforme leciona Francisco de Assis Toledo (2002, p. 63), “o curioso é que, fruto de um Estado Ditatorial e influenciado pelo código fascista, manteve a tradição liberal iniciada com o Código do Império”. Algumas características: "boa técnica e simplicidade; adoção do duplo binário; pena retributiva com finalidade repressiva e intimidatória; caráter repressivo, construído sobre a crença da necessidade e suficiência da pena privativa de liberdade para o controle da criminalidade" (Toledo, 2002, p. 64). Em 1988, com Constituição Federal, o direito penal brasileiro tem uma nova fase agora sob a égide do estado democrático de direito. Por essa razão, ao longo das últimas décadas o Código Penal de 1940 foi reformado diversas vezes. 4 Conceito de crime O crime pode ser conceituado sob três perspectivas: #PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica que apresenta as três perspectivas do crime: formal, material e analítica. O conceito formal é aquele baseado na lei, ou seja, é crime a conduta definida pelo legislador. Esse conceito não se preocupa com o aspecto ontológico e nem em identificar os elementos essenciais do crime. O art. 1º da Lei de Introdução do Código Penal apresenta a seguinte definição: Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Segundo o conceito material, crime é o fato humano que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos penalmente protegidos. Ou seja, não é qualquer conduta que pode ser punida. Há uma preocupação com a legitimidade da criminalização. Já o conceito analítico dispõe sobre os elementos estruturais do crime. Segundo a doutrina majoritária (teoria tripartida), o crime se compõe dos seguintes elementos: #PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica do conceito analítico que soma três conceitos importantes: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. Desta forma, para que uma conduta humana seja considerada crime devem estar presentes todos esses elementos. É importante salientar que não há unanimidade na doutrina sobre este tema. Além disso, minoritariamente, há outros dois posicionamentos que defendem que os elementos do crime sejam: #PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica de dois posicionamentos distintos sobre os elementos do crime. O primeiro soma fato típico e antijuridicidade; já o segundo, acrescenta a essa soma os conceitos de culpabilidade e punibilidade. 5 Teoria do crime Segundo ensina Fragoso (1976, p. 155), “a teoria do crime é a parte da dogmática jurídico-penal que estuda o crime como fato punível, analisando suas características gerais, bem como suas formas especiais de aparecimento, que são a tentativa e a coautoria”. Conforme afirma Figueiredo Dias (2007, p. 235), tendo em vista que hoje vivemos sob a égide do direito penal do fato e não do direito penal do autor, a construção dogmática do conceito de crime é a construção do conceito de fato punível. Seguindo a evolução histórica estabelecida pela doutrina (Dias, 2007, p. 238 e 239; Mir Puig, 2007, p. 112 e 113; Estefam, p. 2018) há quatro grandes períodos na doutrina do fato punível, com marcante influência histórico-político-cultural das sociedades onde se desenvolveram: sistema clássico; sistema neoclássico; sistema finalista; sistema funcionalista. Essas teorias não se excluem. A intenção é sempre superar os pontos negativos ou obsoletos da anterior, e se utilizar de suas descobertas e acertos. 5.1 Sistema clássico ou causalismo O conceito causal de ação foi desenvolvido por Liszt-Beling-Radbruch, denominado sistema clássico. Teve seu apogeu entre o último terço do séc. XIX e o início do séc. XX. As influências dessa corrente eram o positivismo, o empirismo e o cientificismo naturalista. A intenção era separar o estudo do direito positivo de qualquer preocupação não jurídica, como dados sociológicos ou psicológicos (Martinelli; Bem, 2018, p. 418). Segundo esse sistema havia de um lado a ação, no processo causal externo, objetivo (referindo-se à tipicidade e a antijuridicidade), e de outro o conteúdo da vontade, interno, subjetivo (referindo-se à culpabilidade). A ação seria o movimento corporal causado por um impulso voluntário, que causa modificação no mundo exterior. Essa ação se tornaria típica se se subsumisse ao tipo descrito na lei penal. A ação típica se tornaria ilícita se não estivesse presente nenhuma causa de justificação. Não havendo a causa, teríamos a parte objetiva do delito. A parte subjetiva estaria presente na culpabilidade. A ação típica e ilícita seria também culpável se fosse possível comprovar a existência de um liame psicológico entre o agente imputável e o fato, ou seja, se fosse possível imputar o fato ao agente a título de dolo ou culpa. Satisfeitos esses requisitos, estariam presentes todos os elementos do conceito de crime. Com o passar do tempo essa teoria tornou-se obsoleta. No entendimento de Figueiredo Dias (2007, p. 240), esse conceito de ação, ao exigir um movimento corpóreo e, também, uma modificação no mundo exterior, “restringia de forma inadmissível a base de toda a construção”. Para corroborar esse entendimento o autor cita como exemplos o crime de injúria e a omissão (Dias, 2007, p. 240 e 241), para os quais não se pode aplicar a teoria. Figueiredo Dias (2007, p. 241) faz ainda outras considerações. Segundo o autor o método lógico-formal de mera subsunção do fato ao tipo legal seria muito mecânico, pois desconsidera outras questões ligadas à tipicidade, como as de cunho social. No que se refere à ilicitude, o autor entende que considerar ilícito o ato pela simples ausência de uma excludente é uma compreensão pobre e inexata do que deveria ser um juízo de contrariedade da ordem jurídica. A última crítica de Figueiredo Dias diz respeito à concepção psicológica da culpa. Para o autor entende que o inimputável também pode agir com dolo ou culpa; na culpa inconsciente não há liame psicológico entre o agente e o resultado; não consideram a questão do erro ou da inexigibilidade de conduta diversa. Para Welzel (1997, p. 48), o erro fundamental da teoria causal da ação consiste em que não apenas desconhece a função constitutiva da vontade que rege a ação, mas inclusive a destrói e converte em um mero processo causal desencadeado por um ato qualquer de vontade. Não obstante às críticas, o grande mérito dessa teoria foi ter construído todo um sistema do crime baseado numa rigorosa metodologia, dotada de clareza e simplicidade. 5.2 Sistema neoclássicoou neokantismo Essa teoria é baseada na filosofia dos valores de origem neokantiana, desenvolvida nas primeiras décadas do séc. XX pela Escola de Baden – Alemanha. Podemos citar Mezger e Delitala como seus defensores. Refutando o causalismo baseado nas ciências naturais, pregam a autonomia daquilo que denominaram ciências do espírito, que não se contentava em observar e descrever os fatos, exigindo compreendê-los e valorá-los (Mir Puig, 2007, p. 155). Segundo ensina Figueiredo Dias (2007, p. 242), essa teoria visa retirar o direito do mundo naturalista do ser, para, como ciência do espírito, o situar numa zona intermediária entre o mundo do ser e do dever-ser. Mais especificamente no “mundo das referências da realidade aos valores”. A ação continuou ligada à vontade do agente. Já o dolo ou a culpa permaneciam na culpabilidade. São reconhecidos elementos normativos e subjetivos do tipo, sendo afastada a sua concepção clássica, baseada em fatores puramente objetivos. A antijuridicidade, antes pautada na simples contradição formal a uma norma jurídica, passou a ser concebida sob um aspecto material, exigindo-se uma determinada danosidade social. Esse novo entendimento permitiu graduar o injusto de acordo com a gravidade da lesão produzida (Bitencourt, 2018, p. 275). Outra modificação é no conceito de culpabilidade, que deixa de ser psicológica para ser normativa. Trata-se de um juízo de censura. Essa corrente também já se encontra vencida. Além da superação filosófica do neokantismo, a crítica continua sendo no tocante ao conceito mecânico-causalista da ação. A essência da ação ainda era a modificação do mundo exterior causada pela vontade, mas não dirigida pela vontade. Não interessava se o autor queria ou não produzir o fato típico. Isso seria analisado na culpabilidade, onde se localizava o dolo. Os finalistas substituem a mera causação do resultado pela ação humana com finalidade. De uma forma ilustrativa, a crítica que Welzel (1997, p. 40) faz ao causalismo é no sentido de que este é cego, enquanto o finalismo é vidente. 5.3. Sistema finalista Iniciaremos esse tópico ressaltando que o acolhimento do finalismo possui também um cunho político. Após o advento do Estado Nacional-Socialista de Hitler era imperioso romper com o sistema anterior. Por todo o terror descortinado desse período ficou claro que o normativismo neokantiano não oferecia garantias suficientes de justiça (Dias, 2007, p. 244). Havia a necessidade de limitar toda a normatividade, e o caminho encontrado foi o fenomenológico e ontológico, ou da natureza das coisas. Foi Welzel quem trouxe esse pensamento para o direito penal. Hans Welzel (1904-1977), catedrático da Universidade de Bonn na Alemanha, revolucionou alguns conceitos do direito penal, e tem seguidores até hoje. Para Welzel (1997, p. 1 e 2) "a missão do direito penal é proteger os valores elementares da vida em comunidade, ou seja, os bens jurídicos". Welzel (1997, p. 39) afirma que a ação humana é o exercício de uma atividade final. Assevera que o caráter final da ação, ou finalidade, se baseia na possibilidade do homem, graças a seu conhecimento causal, prever, dentro de certos limites, as consequências possíveis de sua atividade, e, assim, dirigi-la à consecução de seus fins. Segundo Luís Greco (2007, p. 8), para o finalismo “o homem age porque antecipa as consequências dos atos a que se propõe, e porque pode valer-se do conhecimento de que dispõe a respeito dos cursos causais para dirigi-los no sentido que lhe aprouver”. Nesse contexto, a ação teria um conceito pré-jurídico, ontologicamente determinado, existente antes da valoração humana e por isso precedente à valoração jurídica. Podemos citar as principais características do finalismo: O dolo Que nas teorias anteriores compunha a culpabilidade, agora compõe o tipo penal. A ilicitude É a contradição de uma realização típica com o ordenamento jurídico em seu conjunto. A culpabilidade Excluídos dolo e culpa, passa a exercer apenas o juízo de censura. Fazem parte desta a análise da imputabilidade, da consciência da ilicitude e da exigibilidade de conduta diversa. Roxin (2008, p. 56 e 60) aponta como principais avanços do finalismo “o descobrimento do desvalor da ação enquanto um elemento constitutivo do injusto penal, e para a delimitação da culpabilidade”; e o dolo como componente do tipo. Porém, o autor (2008, p. 57) também critica esse sistema afirmando que “hoje não mais se contesta que a existência empírica da omissão, da culpa e da omissão culposa não podem ser explicadas através da finalidade”. Discutindo a relação entre dados empíricos e normativismo, Roxin (2008, p. 63) compara a sua teoria ao finalismo, e propõe “uma dogmática plena de dados empíricos, que se ocupa das realidades da vida de modo muito mais cuidadoso que um finalismo concentrado em estruturas lógico-reais um tanto abstratas”. Complementa afirmando que “o parâmetro de decisão político-criminal, que seleciona e ordena os dados empíricos jurídicos penalmente relevantes, tem preponderância”. Assim, “normativismo e referência empírica não são métodos que se excluem mutuamente, mas eles se completam”. Figueiredo Dias (2007, p. 246) é incisivo em sua crítica ao finalismo. Para ele o “pretenso ontologismo” que estaria na base do sistema, com o escopo de torná- lo um sistema imutável, válido para todos os lugares e atemporal, acabou resultando em um conceitualismo inflexível, sem deixar margens para a política criminal. Segundo o autor “tudo residiria afinal e só em determinar as estruturas lógico-materiais ínsitas nos conceitos usados pelo legislador, e a partir delas deduzir a regulamentação ou a solução aplicáveis ao caso”. Pelo exposto, como salienta Figueiredo Dias (2007, p. 246), essa postura não seria capaz de evitar a repetição de erros passados. Pois, não difere muito do “velho direito natural clássico, ao preencher os conceitos do direito positivo com os conteúdos considerados normativamente mais corretos, para em seguida os deduzir do corpo do direito natural e os apresentar assim como vinculantes e livres de discussão”. 5.4 Sistema funcionalista O estudo do funcionalismo no Brasil é baseado especialmente em dois autores alemães. Claus Roxin, que desenvolveu a sistemática funcional teleológica e Günther Jakobs, que criou o funcionalismo sistêmico. Roxin, que entende que a missão do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos, aproxima o direito penal da política criminal. Ele desenvolve e sistematiza as distintas categorias da teoria do delito partindo do prisma de sua função político criminal (Bitencourt; Muñoz Conde, 2004, p. 10 e 11). O conteúdo da tipicidade deixa de ser a ação para abraçar os fins do ordenamento jurídico. Jakobs, a seu turno, entende que a missão do Direito Penal é a proteção da norma penal. Assim, toda construção jurídico-penal deve ter como função resguardar este mister do Direito Penal. Ambos os autores também defendem a teoria da imputação objetiva. Para Roxin (2008, p. 80) “a imputação objetiva, ao considerar a ação típica uma realização de um risco não permitido dentro do alcance do tipo, estrutura o ilícito à luz da função do Direito Penal”, que seria “defender o indivíduo e a sociedade contra riscos sócio-politicamente intoleráveis”. A ideia do risco, segundo entendimento de Roxin (2008, p. 81), “possibilita e favorece a introdução de questionamentos políticos-criminais e empíricos, e faz com que a dogmática, encerrada em seu edifício conceitual pelas anteriores concepções do sistema, se abra para a realidade”. 6 O Direito penal e o Estado Democrático de Direito O Direito penal pode ser estruturado sob diferentes perspectivas, dependendo da organização política do Estado. Se se trata de um Estado totalitário, ditatorial, o direito penal será seu maior reflexo, baseado na força e na violência, sem conceder direitos ou garantias aos seus cidadãos. Já o direito penal presentenum estado democrático de direito, atuará como instrumento de controle social legitimado e limitado, protegendo os bens jurídicos fundamentais. Fazendo uma breve análise histórica, constata-se um desenvolvimento significativo na ciência penal. Superados os regimes absolutistas, com a presença marcante da inquisição, há o advento do direito moderno, pós revolução francesa, baseado no princípio da legalidade. É o Estado Legislativo de Direito. Para a sociedade daquela época uma norma jurídica não era válida por ser justa, mas por ser oriunda de um poder legítimo. Nesse positivismo extremo, a lei era vista como a expressão da vontade popular, sendo o legislador insuscetível de controle. Porém, após o término da segunda guerra mundial, restou evidente que esse sistema era falho, pois havia legitimado a barbárie dos estados nazista e fascista. Foram então promulgadas normas paradigmáticas, como a Lei Fundamental Alemã de 1949 e a Constituição da Itália de 1947. A partir desse momento a validade das leis já não depende apenas da legitimidade formal do processo legislativo, mas seu conteúdo deve subordinar-se à orientação constitucional. Nesse contexto, na década de 1970 um “‘novo’ modelo normativo de garantia aos direitos sociais, civis e políticos é lapidado na Itália como sinônimo de Estado constitucional democrático”. Nascia o garantismo, tendo como maior expoente Luigi Ferrajoli. “O autor, num modelo de ‘direito penal mínimo’, limita a atuação punitiva estatal, tanto na cominação, quanto na aplicação da pena, visando consagrar o direito de liberdade dos indivíduos” (Martinelli; Bem, 2018, p. 74). 6.1 Direito penal e Direito constitucional no Brasil No Brasil, o Estado Democrático de Direito surge apenas na década de 80, com o advento da Constituição Federal de 1988. Esse modelo político determina que toda a atividade estatal (legislativa, judicial e administrativa) seja “sempre vinculada axiomaticamente pelos princípios constitucionais explícitos e implícitos” (Bitencourt, 2018, p. 69-70). Hoje, pela relevância de sua função, o legislador não está isento de responsabilidades e é obrigado a obedecer a requisitos de aspecto formal e material no exercício da função legislativa, sobretudo no processo de criação das leis penais. Por sua vez, o judiciário também só pode atuar respeitando a Constituição Federal (art. 5º, XXXVII e s., CF) e os princípios do Estado Democrático de Direito. Por mais grave e abjeto que seja um crime, o juiz não poderá impor uma pena perpétua. Tampouco pode o legislador apenar alguma conduta com a pena de morte. Pois, ambas as penas são vedadas pela Constituição Federal (art. 5º, XLVII, a e b). 6.2 Princípios A seguir encontram-se os principais penais mais relevantes, todos amparados pela Constituição Federal de 1988. 6.2.1 Princípio da legalidade e reserva legal O princípio da legalidade está fundamentado no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal: “não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Este princípio determina que nenhum fato "poderá ser considerado crime e nenhuma pena criminal poderá ser aplicada sem que antes exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve definir a conduta proibida de forma clara e precisa" (Bitencourt, 2018, p. 53). O princípio da reserva legal está pautado no art. 22, I, da Constituição Federal, que determina que compete privativamente à União legislar sobre matéria penal. Ou seja, apenas lei federal pode criar um tipo penal. Nenhum crime pode ser previsto pelo presidente da república, por meio de medida provisória, ou por meio de um decreto estatal ou municipal. Esses princípios atuam como uma limitação ao poder punitivo estatal. Pois, uma pessoa só poderá ser processada e punida com fundamento em leis elaboradas de forma válida. 6.2.2 Princípio da culpabilidade O princípio da culpabilidade prevê que ninguém poderá responder penalmente por um resultado lesivo se não agiu com dolo ou culpa. A existência de nexo causal entre a conduta do agente e o resultado lesivo não é suficiente para a responsabilidade penal. Ou seja, não se admite a responsabilidade objetiva na seara penal, qual seja, a responsabilidade individual que independe de dolo ou culpa. (Martinelli, Bem, 2018, p. 458). 6.2.3 Princípio da dignidade da pessoa humana A Constituição Federal determina que a dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental da ordem jurídica nacional (art. 1º, III). Dessa forma, o estado brasileiro não pode prever penas que firam a dignidade humana (art. 5º, XLVII e XLIX, da CF). Segundo Bitencourt, (2018, p. 73), o princípio de humanidade do direito penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e da prisão perpétua. Além disso, “nenhuma pena privativa de liberdade pode ter uma finalidade que atente contra a incolumidade da pessoa como ser social, o que violaria flagrantemente o princípio da dignidade humana, postulado fundamental da Carta da República” (op. cit., p. 75). 6.2.4 Princípio da intervenção mínima O Direito penal, por ser a forma mais grave de intervenção na liberdade do indivíduo, deve ser aplicado apenas como ultima ratio, ou seja, quando imprescindível. Desta forma, o princípio da intervenção mínima limita o poder incriminador estatal determinando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio idôneo para a prevenção de ataques contra bens jurídicos relevantes (Bitencourt, 2018, p. 56). Vale dizer, quando o controle social não puder ser feito por outro ramo do direito, como o civil ou o administrativo. 6.2.4.1 Princípio da fragmentariedade O princípio da fragmentariedade decorre do princípio da intervenção mínima. Segundo este princípio devem ser protegidos penalmente apenas certos bens jurídicos e, ainda assim, contra determinadas formas de agressão (Toledo, 2002, p. 17). Para Bitencourt (2018, p. 57), “o Direito Penal limita-se a castigar as ações mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes, decorrendo daí o seu caráter fragmentário, uma vez que se ocupa somente de uma parte dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica”. 6.2.5 Princípio da lesividade ou ofensividade O princípio da ofensividade determina que só há crime quando o bem jurídico- penal sofre “pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano” (Bitencourt, p. 64). Esse princípio não se destina apenas ao legislador, mas, especialmente ao magistrado. Cabe a este avaliar se houve efetiva lesão ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico. 6.2.6 Princípio da proporcionalidade Como reminiscências do princípio da proporcionalidade pode-se citar a conhecida lei do talião. O exemplo mais famoso desse tipo de norma é o Código de Hamurabi, Babilônia, 2.083 a.C. O princípio da proporcionalidade contemporâneo fundamenta-se na necessidade da ponderação entre a norma penal restritiva da liberdade e o bem jurídico a ser tutelado por ela, pois há dois direitos igualmente fundamentais que se enfrentam. O quantum da pena indica o grau de importância que os diversos bens jurídicos tutelados penalmente têm no ordenamento jurídico. 6.2.7 Princípio da adequação social O princípio da adequação social dispõe que não se pode punir o sujeito que atua de maneira socialmente adequada (Martinelli; Bem, 2018, p. 255). Pois, esse tipo de conduta não se reveste de tipicidade e, por isso, não pode constituir delito (Bitencourt, 2018, p. 59). A título ilustrativo, a doutrina cita como exemplo a perfuração de orelhas de crianças, a realização de tatuagem ou o topless durante o carnaval (Martinelli; Bem, 2018, p. 257). 6.2.8 Princípio da insignificância O princípio da insignificância deve ser analisado em conjunto com outros princípios, como o da fragmentariedade e da intervenção mínima, com o objetivo de afastar a tipicidade penal. Do ponto de vista formal, há condutas que se adequam perfeitamente a determinado tipo penal.Porém, não apresentam qualquer relevância no aspecto material. Há, nesses casos, exclusão da tipicidade, pois o bem jurídico-penal não chegou a ser lesado (Bitencourt, 2018, p. 63-64). Um exemplo clássico é o furto de algum alimento. Pois, deve haver proporcionalidade entre a conduta a ser punida e a pena a ser aplicada. 7 Fins e objetivos do direito penal O direito penal é uma forma de controle social, e se faz através proteção de bens jurídicos. Porém, por representar a forma mais agressiva de atuação do direito, só deve intervir quando absolutamente imperioso, ou seja, como ultima ratio. A sociedade atual caracteriza-se por um intenso processo de modernização que gerou uma complexidade social sem precedentes. Pode-se citar o surgimento de direitos difusos e coletivos, o incremento da violência, o crime organizado transnacional, crimes de perigo abstrato etc. Esses fenômenos geram uma grave sensação de insegurança na população, que cobra do poder público o endurecimento do direito penal. Essa nova realidade traz imensos desafios ao legislador penal, que necessita encontrar um ponto de equilíbrio entre a tutela penal dos bens jurídicos sem olvidar o respeito à dignidade humana. Contudo, o que se vê no Brasil é um Poder Legislativo desorientado. Ao lado de normas rígidas como a Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90), há a Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95) e a Lei das Penas Alternativas (Lei n. 9.714/98). Há, assim, com um emaranhado de normas penais orientadas por concepções teóricas contraditórias, adotadas sem planejamento, sendo impossível identificar um escopo comum que lhes confira harmonia. O que se mostra evidente é que quando há clamor público, o legislador se apressa em tipificar novas condutas e agravar sanções já existentes. Trata-se, muitas vezes, de um Direito penal meramente simbólico. Porém, o estudante de Direito deve ter em conta que a norma penal deve ser idônea para atingir seus fins e a menos gravosa possível, devendo respeitar a proporcionalidade entre o bem jurídico tutelado e a intervenção trazida pela norma penal incriminadora. 7.1 Bem jurídico penal: conceito e funções Francisco de Assis Toledo (2002, p. 16) define bens jurídicos como “valores ético-sociais que o direito seleciona, com o objetivo de assegurar a paz social, e coloca sob sua proteção para que não sejam expostos a perigo de ataque ou a lesões efetivas”. De forma sintética pode-se conceituar bem jurídico-penal como o objeto da tutela do Direito penal. Para que um bem jurídico seja tutelado pelo direito penal deve respeitar o seguinte binômio: efetivo exercício do controle social x respeito a princípios limitadores. Ainda neste passo, pode-se afirmar que devem ser tutelados apenas os bens jurídicos que tutelem valores fundamentais para a convivência social, não abrangendo valores de ordem estritamente moral, ética ou religiosa. Além da relevância, deve-se levar em conta o caráter subsidiário do Direito Penal. Se o bem puder ser protegido de forma adequada pelos outros ramos do direito, não deve ser objeto de tutela penal. Para exemplificar, pode-se citar o adultério, que até 2005 figurava como crime, previsto no art. 240 do Código Penal. Porém, trata-se de questão que pode ser resolvida no âmbito do Direito civil, sem a necessidade da intervenção penal. 8 Direito penal e as ciências auxiliares O direito penal é uma ciência normativa, pois tem como objeto o estudo da norma. Há outras ciências que orbitam a dogmática jurídico-penal. Vejamos: Criminologia Ciência causal-explicativa que se preocupa com a análise da gênese do crime, das causas da criminalidade, numa interação entre crime, homem e sociedade. (Bitencourt, 2018, p. 40). A criminologia abrange a antropologia criminal (Lombroso), a sociologia criminal (Ferri) e a vitimologia (Mendelsohn). São ciências autônomas, mas intimamente ligadas ao direito penal, pelo menos para a finalidade a que se dirige sua atividade teórica (Martinelli; Bem, 2018, p. 92). Política criminal Ciência crítica que dispõe sobre o fundamento jurídico e os fins do poder de punir, bem como sobre o controle de suas consequências. (Martinelli, p. 92). Medicina legal e criminalística Áreas que auxiliam na esclarecimento dos crimes. Psiquiatria forense Estuda as doenças e as perturbações mentais e suas consequências, bem como investiga a motivação dos agentes na seara criminosa. O STF definiu os requisitos para a aplicação da insignificância no caso concreto: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente; (b) a nenhuma periculosidade social da ação; (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (Confira o acórdão completo: RHC n. 122.464 AGR/BA, rel. Min. Celso de Mello, DJ 10-6- 2014). Além dos direitos e garantias penais previstos na Constituição Federal, são aplicáveis no país tratados internacionais (art. 5º, §§ 2º a 4º, da CF), como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948); a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (1998). É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: a missão do direito penal no estado democrático de direito é atuar como instrumento de controle social legitimado e limitado, protegendo os bens jurídicos fundamentais; Cesare Beccaria é o expoente do período humanitário. O autor publicou em 1764 a obra Dos delitos e das penas, que é um marco no direito penal, pois visava romper com o direito baseado em suplícios e no arbítrio dos reis; o conceito analítico dispõe sobre os elementos estruturais do crime, que são: fato típico + ilicitude (ou antijuridicidade) + culpabilidade; o princípio da legalidade está fundamentado no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal e determina que “não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”; o estudo do funcionalismo no Brasil é baseado especialmente em dois autores alemães. Claus Roxin, que desenvolveu a sistemática funcional teleológica e Günther Jakobs, que criou o funcionalismo sistêmico. Unidade 2 1 Teoria da lei penal A lei penal possui uma estrutura, que é composta por por um preceito primário e também por um preceito secundário. O preceito primário é a parte da lei que define a conduta criminosa, já o preceito secundário estabelece a pena para aquela conduta. Veja o caso da lesão corporal no Código Penal: “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”. Nesse caso, obedecendo a estrutura, temos o preceito primário no caput e o preceito secundário com a pena de detenção. O Brasil se filiou ao sistema de proibição indireta. Nesse sistema, a lei penal é sempre descritiva e não proibitiva. Quando o artigo 121 do Código Penal diz "matar alguém", a proibição é implícita, indireta. 1.2 Fontes do Direito Penal Dizem respeito à criação e manifestação do Direito Penal. As fontes de criação são chamadas de fontes materiais do Direito Penal, enquanto as fontes de aplicação são as formais. Materiais São os órgãos encarregados de criar, de produzir, o Direito Penal. São competências da União, segundo o artigo 22, I, "legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho". A competência exclusiva é indelegável, já a privativa pode ser delegada. E é competência dos Estados, segundo o mesmo atigo, § único, "Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo". Formais Dizem respeito à aplicação do Direito Penal. Imediatas (sem mediação, diretas): só a lei, pois somente a lei pode criar crimes e cominar penas pelo princípio da reserva legal. Mediatas (secundárias): costumes, princípios gerais do direito; atos administrativos, doutrina, jurisprudência,tratados internacionais. 2 Tempo e lugar do crime Tanto para o tempo como para o lugar do crime, existem as teorias da atividade, do resultado e da ubiquidade/mista. Para memorizar as teorias adotadas no Brasil para o tempo e o lugar do crime, lembre-se da palavra LUTA e então tenha em mente as letras separadamente, formando novas palavras: Lugar, Ubiquidade, Tempo e Atividade. 2.1 Tempo do crime O Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade quando trata do tempo do crime, conforme o artigo 4º, que diz que “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.” A adoção da teoria da atividade tem algumas repercussões. Aplica-se a lei penal que era vigente no momento da conduta, exceto nas situações em que a legislação elaborada posteriormente for mais favorável ao agente. Outra repercussão da teoria da atividade é que a imputabilidade do agente deve ser analisada no tempo da conduta. Isso levanta a discussão a respeito da inimputabilidade, do crime permanente e da superveniência da maioridade penal. O crime permanente ocorre quando a consumação se prolonga no tempo por meio de atos da vontade do agente. O agente, ao longo do tempo, de forma deliberada, mantém a situação contrária à previsão legal. Nesses crimes, a prisão em flagrante é possível a qualquer tempo, enquanto durar essa permanência de atitudes do agente. É o exemplo do artigo 159 do Código Penal, que vigora que “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Pena - reclusão, de oito a quinze anos”. Trata-se de crime permanente, que se consuma com a privação da liberdade da vítima. Existe, ainda, a hipótese do artigo 71 do Código: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Trata-se de uma ficção jurídica, uma solução para o crime que é composto por vários crimes numa séria continuada, mas em que cada crime é independente e autônomo. Para aplicar a pena, o Código Penal considera todos como um único crime. A importante jurisprudência, na súmula 711 do STJ, trata sobre o tema: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. O próprio embargante reconhece que a causa dessa decisão foi a "existência de cinco crimes de corrupção ativa, praticados em continuidade delitiva e parcialmente na vigência da nova Lei". Portanto, está bem compreendido o fundamento do acórdão, que, aliás, está bem ancorado na Súmula 711 desta Corte (A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a vigência é anterior à cessão da continuidade ou da permanência). Esta também é a inteligência do art. 71 do Código Penal, que trata da regra a ser aplicada, pelo órgão julgador, da ficção jurídica da continuidade delitiva. A súmula se aplica tanto para os crimes continuados quanto para os crimes permanentes. Importante salientar que o Código Penal adotou a teoria do resultado (art. 111, I, CP) quanto à prescrição: “A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou”. É o início da prescrição da pretensão punitiva, ou seja, o dia em que o crime se consumou que começa a contagem da prescrição do direito de punir. 2.2 Lugar do crime O Código Penal brasileiro escolheu a teoria da ubiquidade em seu artigo 6º: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.” O lugar do crime é o lugar da ação ou omissão e também o lugar do resultado. Essa teoria se aplica aos chamados crimes a distância, que são aqueles que envolvem países diversos. É o caso em que a conduta foi praticada em um determinado país e o resultado ocorreu em um país diverso (não se aplica a cidades diversas de um mesmo país). É uma questão que diz respeito ao assunto da soberania do Estado e não da competência jurisdicional. Vale lembrar que o chamado Bis in idem não é admitido, ou seja, não se permite a dupla punição por um único fato. O agente nos crimes a distância pode ser processado e condenado em dois países. O agente pode inclusive cumprir pena nos dois países. O bis in idem será evitado utilizando o artigo 8º: “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”. Dessa forma, o agente duplamente condenado em dois países pelo mesmo fato, terá pena atenuada no Brasil. Como já vimos, os chamados crimes a distância envolvem países diferentes, sendo relacionados à própria soberania dos Estados. São diferentes dos chamados crimes plurilocais, que acontecem em comarcas diversas de um mesmo país, envolvendo a competência. 2.3 Lei penal no espaço Entender como se aplica a lei penal no espaço é entender o próprio campo de validade da lei penal, o seu âmbito de incidência. A regra geral está no artigo 5º do Código Penal: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. Trata-se da territorialidade, ou seja, será a aplicada a lei brasileira àqueles crimes que forem cometidos no Brasil. Existem exceções a essa regra geral, que são as chamadas hipóteses de extraterritorialidade, previstas no artigo 7º do Código Penal. Como existem essas exceções, no Brasil se fala em territorialidade mitigada. As exceções à regra da territorialidade aparecem nos casos de aplicação da lei brasileira a crimes cometidos no exterior. É importante ressaltar alguns aspectos que surgem a partir das exceções à territorialidade: O primeiro deles é em relação à personalidade, ou nacionalidade, do agente ou vítima. Subdivide-se em personalidade ativa e personalidade passiva. Na personalidade ativa, tratamos dos crimes praticados por autor brasileiro no estrangeiro. O agente é punido conforme a previsão da lei brasileira, independentemente da nacionalidade do sujeito passivo (a vítima) e do bem juridicamente tutelado que foi ofendido no caso concreto. Na personalidade passiva, tratamos dos crimes cometidos contra vítima brasileira, como previsto no artigo 7º, §3º, CP. O segundo ponto a se ressaltar, relativamente à extraterritorialidade, é o domicílio. O autor de um crime deve ser julgado pela lei do país em que tiver domicílio, não importando a sua origem ou nacionalidade, conforme previsão legal do artigo 7º, I, “d”, CP O terceiro ponto é o chamado Princípio da Defesa Real ou da Proteção, que permite a lei brasileira seja aplicada mesmo a crimes praticados no exterior. Quando ofendem os bens jurídicos brasileiros, independentemente da origem do agente do crime e do local onde esse crime tenha sido praticado. Previsão: artigo 7º, I, “a”, “b” e “c”, CP. O quarto aspecto é o Princípio da Justiça Universal, que se relaciona com a cooperação penal internacional. Todo e qualquer Estado tem o direito de punir os autores de crimes que estejam em seus territórios, como previsto pelos acordos e as convenções ou tratados internacionais, qualquer que seja a nacionalidade do agente, o lugar do crime ou do bem jurídico atingido pelo delito. É um dever de todos, pautado na solidariedade ao combate de crimes que interessam a todos os povos, como o tráfico de pessoas, por exemplo. A previsão do princípio está no artigo 7º, II, “a”, CP. Por fim, o Princípio da Representação ou Bandeira trata da aplicação da lei brasileira a crimes cometidos em aeronaves ouembarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando estiverem em território estrangeiro e não forem julgados nos respectivos países. É a previsão do artigo 7º, II, “c”, CP. Vale lembrar que, se estas aeronaves ou embarcações estiverem no Brasil, o que vale é o princípio da territorialidade. Importante ressaltar que se a aeronave ou embarcação for pública ou estiver a serviço do governo brasileiro, elas são territórios brasileiros por extensão (art. 5º, §1º, CP), e então também se aplica o princípio da territorialidade. Desse modo, entendemos a extraterritorialidade como a aplicação a lei brasileira a crimes praticados no exterior. Não existe extraterritorialidade em contravenções penais (art. 2º, DL 3688/41). Divide-se em incondicionada e condicionada. A incondicionada não depende de nenhuma condição. A simples prática do delito no exterior já autoriza a aplicação da lei brasileira. Hipóteses do artigo 7º do Código Penal: Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. A condicionada, por sua vez, depende de condições cumulativas, previstas no art. 7º, §2º e §3º, CP: II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272738_1/index.html#carousel_0 https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272738_1/index.html#carousel_0 § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Precisamos entender também os efeitos gerados por uma sentença estrangeira. O artigo 9º do Código prevê hipóteses em que uma sentença estrangeira precisa ser homologada no Brasil para produzir efeitos jurídicos. Segundo o STF, na súmula 420, "não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado". É tão importante a sentença estrangeira, que pode ser considerada reincidência. Para que a sentença estrangeira configure a reincidência no Brasil, ela não precisa ser homologada, mas apenas ter transitado em julgado (art. 63, CP). A homologação de sentença estrangeira é matéria de competência do STJ conforme estabelecido pelo artigo 105, I, “i”, CR. Antes da EC 45/2004 a competência era do STF. 3 Princípio da proibição do bis in idem Non bis in idem é a expressão do latim que veda a dupla punição pelo mesmo fato: ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. O STJ tratou do assunto na súmula 241: "A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.". Explicando melhor a súmula: se o sujeito só apresenta uma única condenação anterior é caso de reincidência e não pode ser usada a condenação simultaneamente como circunstância judicial desfavorável. 4 Princípio da insignificância O que é insignificante não deve ser objeto do Direito Penal. A natureza jurídica do princípio da significância, ou seja, sua razão de ser jurídica, é de causa de exclusão da tipicidade penal de maneira considerada supralegal, já que não tem previsão legal, está acima das leis. Para o princípio da insignificância, o fato ocorrido apresenta a chamada tipicidade formal, entretanto, não há tipicidade material quando analisamos o fato. A tipicidade é considerada formal, quando se trata do juízo de adequação entre o fato e a norma (se o fato praticado na vida real se amolda ao modelo descrito na lei penal). A tipicidade material é uma análise que leva em conta a lesão ou o perigo de lesão a um bem jurídico naquele caso concreto. No princípio da insignificância, o fato apresenta tipicidade formal, entretanto não há tipicidade material. O princípio da insignificância propõe uma interpretação mais restritiva da lei penal, menos ampla, como uma forma de realmente utilizar a lei penal em último caso. O princípio da insignificância apresenta dois tipos de requisitos. Conheça-os clicando nos cards abaixo: Princípios objetivos: dizem respeito ao fato praticado Princípios subjetivos: dizem respeito ao agente e a vítima. O princípio da insignificância tem requisitos considerados objetivos, como a mínima ofensividade da conduta, ou seja, a ofensa ao bem jurídico deve ter sido a menor possível. Outro requisito é a ausência de periculosidade social da ação, não gerando riscos maiores à sociedade. Também é requisito objetivo para aplicação do princípio da insignificância o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, que, em outras palavras, não deve ser um comportamento arriscado e cruel, mas sim minimamente reprovável. Por fim, há o requisito da inexpressividade da lesão jurídica, que quer dizer que o fato deve ter poucas consequências para o bem jurídico protegido. Todos esses requisitos devem ser avaliados no caso concreto sempre, ou seja, caso a caso. Os requisitos subjetivos, por sua vez, dizem respeito à importância do bem para a vítima (econômica e sentimental) e condições do agente. O princípio da insignificância é aplicável a todo e qualquer crime, seja ele compatível, e não somente aos crimes patrimoniais. Os crimes de natureza tributária, como o descaminho, por exemplo, têm aplicação do princípio da insignificância para certos valores. Existem crimes incompatíveis com o princípio da insignificância, como os crimes contra a vida, roubo ou crimes praticados com violência ou grave ameaça, crimes sexuais, crimes militares. O princípio da insignificância pode ser reconhecido somente pelo juiz segundo o STJ, não cabendo a valoração pela autoridade policial. 5 Lei penal no tempo Entender a aplicação da lei penal começa por entender o princípio da continuidade das leis. Por esse princípio, estabelece-se que lei só é revogada por outra lei. Decisão judicial e controle de constitucionalidade não são capazes de revogar leis. O chamado conflito de leis penais no tempo se verifica quando uma lei é revogada. O Direito Penal intertemporal tem regras para solucionar o conflito. A regra geral é do tempus regit actum: o tempo rege a ação. Aplica-se a lei penal que estava em vigor no momento em que o fato foi praticado. É um desdobramento do princípio da anterioridade do Direito Penal e do princípio da legalidade. A retroavidade benéfica é uma exceção prevista no artigo 5º, XL, da Constituição: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; e também no artigo 2o do Código Penal: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentençacondenatória. Pode ocorrer a retroatividade benéfica em duas situações: abolitio criminis e novatio legis in mellius. Vejamos as características de cada uma delas: Abolitio criminis É uma causa extintiva da punibilidade (art. 107, III, CP). Esta opção do CP é criticada pela doutrina, pois, na verdade, a abolitio, muito mais do que uma causa de excludente de punibilidade, deveria ser causa extintiva da tipicidade, o crime deixa de existir, o fato deixa de ser típico no Direito Penal. A abolitio apaga todos os efeitos penais de eventual sentença condenatória já proferida (exemplo: reincidência). Entretanto, subsistem os efeitos extrapenais como a obrigação de reparar o dano causado, por exemplo). Além disso, ela depende da revogação formal do tipo penal (casos em que o tipo penal deixa de existir; e da supressão material do fato criminoso (casos em que o fato deixa de ter relevância penal, deixando de constituir crime, de interessar ao Direito Penal). Novatio legis in mellius Também chamada lex mitior, é uma nova lei que favorece o agente. A lei penal mais favorável deve ser examinada no caso concreto. É a chamada, também, de teoria da ponderação concreta. Tanto nos casos de abolitio criminis como novatio legis, podemos considerar os seguintes aspectos: A retroatividade benéfica é automática, dispensa cláusula expressa. A nova lei não precisa dizer que é benéfica e, portanto, retroativa. Isso é extraído da interpretação do caso concreto. A lei penal benéfica alcança inclusive os fatos já definitivamente julgados. Em outras palavras, o trânsito em julgado não é obstáculo à retroatividade benéfica. A competência para aplicação da lei penal benéfica depende do momento em que se encontra a persecução penal. 6 Lei penal temporária e lei penal excepcional Disciplinadas pelo art. 3º, Código Penal, que diz que "a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência". Lei penal temporária é aquela que tem um “prazo de validade”, uma vigência predeterminada no tempo. Um exemplo foi a Lei 12663/12, que foi a lei geral da copa do mundo de 2014. Já a lei penal excepcional é aquela que vigora somente em uma situação de anormalidade. Essas leis penais são autorrevogáveis, independentemente de outra lei. Findado o prazo ou a situação excepcional, a lei está revogada. Por isso, também são chamadas de leis penais intermitentes. Essas leis também são dotadas de ultratividade, continuam aplicáveis mesmo depois de revogadas. O fundamento dessa ultratividade é evitar que manobras protelatórias levem à impunidade dos réus. 7 Lei penal em branco Também é chamada de lei penal cega ou lei penal aberta. Conforme estudamos, a lei penal incriminadora é composta de preceito primário (definição da conduta criminosa) e preceito secundário (pena cominada). Na lei penal em branco, o preceito secundário é completo, em outras palavras, a pena foi devidamente cominada pelo legislador. Porém, o preceito primário é incompleto, ou seja, a conduta criminosa depende de complementação. A semelhança entre a lei penal em branco e o tipo penal aberto é que ambos são incompletos, precisando, dessa forma, de complementação. Já a diferença é que, na lei penal em branco, o complemento será uma outra lei (homogênea) ou um ato administrativo (heterogênea). No tipo penal aberto, o complemento será um juízo de valor, não está em lei ou ato administrativo, é extraído da valoração do caso concreto. 8 Conflito aparente de leis penais É uma situação jurídica em que para um único fato relevante praticado, duas ou mais leis penais poderiam ser aplicadas. Esta matéria se relaciona com a interpretação da lei penal. Seus requisitos são: Requisito 1 Unidade de fato. Requisito 2 Pluralidade de leis aparentemente aplicáveis. Requisito 3 Vigência simultânea de todas elas. No conflito aparente de leis penais, todas as leis que parecem possíveis de serem aplicadas devem estar em vigor ao tempo do fato. No chamado conflito de leis no tempo, só uma dessas leis está em vigor. No conflito aparente, existe um único crime, o agente responde apenas por um crime, ele só praticou um fato. No concurso de crimes, existem vários delitos e o agente responde por todos eles. Vejamos suas finalidades: Evitar o bis in idem. Se o agente praticou um único fato, ele só pode responder por um crime. Unidade de fato. Manter a coerência do ordenamento jurídico como um todo. Unidade 3 1 Correntes doutrinárias O conceito de crime é definido por três correntes doutrinárias: Corrente bipartida Que entende o crime como fato típico e antijurídico. Corrente tripartida Que entende o crime como fato típico, antijurídico e culpável. Corrente quadripartida Crime como fato típico, antijurídico, culpável e punível. Independentemente da corrente doutrinária adotada, qualquer que seja o conceito de crime, a tipicidade é requisito central, já que faz parte da essência do crime. A tipicidade objetiva tem um campo formal, já que todo crime é descrito numa lei, possui uma forma prescrita. Existem quatro requisitos formais: conduta humana voluntária, resultado naturalístico (só nos crimes materiais, está no campo do que é físico, verificável, ex: morte), nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado deve haver uma ligação) e adequação típica (descrito em lei, adequação do fato à lei). Já no campo material, a origem doutrinária dessa tipidicidade tem amparo doutrinário em Roxin e Zaffaroni. Roxin desenvolveu a chamada teoria da imputação objetiva. Zaffaroni desenvolveu a teoria da tipicidade conglobante. A tipicidade formal é antecedente lógico da tipicidade material. E só constatadas as duas passamos para a chamada verificação da teoria subjetiva. A tipicidade material envolve dois aspectos: Juízo de valoração da conduta A conduta pertence à forma, mas no campo material, o juiz valora, a fim de saber se é conduta relevante ou não para fins de direito. Juízo de verificação do resultado jurídico (ofensa ao bem jurídico) Não há crime sem ofensa ao bem jurídico, e esta ofensa pode se configurar de três maneiras: por meio de lesão , por perigo concreto ou por perigo abstrato real - perigo presumido não é admitido; no perigo abstrato real é necessária situação anormal que poderia atingir uma vítima, não é necessário vítima concreta). 2 Teoria do crime O conceito de crime está sujeito a variações conforme os critérios adotados para essa definição. De acordo com o critério material, crime é conceituado como uma ação ou omissão humana que gera lesão ou expõe a perigo de lesão os chamados bens jurídicos penalmente protegidos. Esse conceito reforça o próprio princípio da reserva legal. O legislador não pode incriminar qualquer conduta mas apenas as condutas aptas a lesar ou colocar em perigo um bem jurídico. Vale lembrar que quanto à pessoa jurídica, a posição dominante na jurisprudência é a da possibilidade de responsabilização desde que conte com dois requisitos: previsão na Constituição Federal e regulamentação por lei ordinária. Atualmente no Brasil, a única hipótese admitida de responsabilidade penal da pessoa jurídica é em caso de crime ambiental. Tal responsabilização foi prevista no artigo 225, § 3º, CF/88: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. O conceito legal ou formal de crime propõe que crime é tudo aquilo que a lei disser que é crime. No artigo 1o da Lei de Introdução ao Código Penal está o conceito legal de crime no Brasil: Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Um conceito formal ou analítico de crime leva em conta a estrutura do crime, seus elementos estruturais. Há variações teóricas quanto ao conceito, em três correntes doutrinárias. Teoria quadripartida Considera o crime fato típico, ilícito, culpável, antijurídico e punível. Não tem grandes expoentes atualmente, e é teoria criticada pelo fato de a punibilidade não ser elemento do crime. A punibilidade é consequência do crime, é efeito do crime. Surge com a prática do crime o direito do Estado de punir o agente. Teoria tripartida Considera o crime fato típico, ilícito e culpável. Se divide em teoria tripartida clássica (Nelson Hungria) ou tripartida finalista (Welzel). Teoria bipartida Crime como fato típico e ilícito. A culpabilidade é entendida como pressuposto de aplicação da pena. 3 Elementos do crime 3.1 Fato típico Independente da teoria adotada, fato típico é considerado elemento do crime. Fato típico acontece quando uma conduta humana está prevista em uma norma penal incriminadora. São requisitos do fato típico: conduta, resultado (naturalístico), relação de causalidade ou nexo causal e tipicidade. Esses quatro elementos só estarão reunidos simultaneamente nos crimes materiais consumados. Nesses crimes, o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico e exige a produção deste último para sua consumação. Nos chamados crimes formais o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico. Entretanto, nesses crimes, a tipificação penal dispensa o resultado naturalístico para considerar um crime consumado. Nos crimes de mera conduta o tipo penal apenas prevê uma conduta, sem tratar do resultado naturalístico. O ponto em comum entre um crime formal e um crime de mera conduta é que ambos são crimes sem resultado, não há exigência desse resultado, já que eles se consumam só com a prática da conduta. A diferença entre eles é que nos crimes formais o resultado naturalístico pode ocorrer, ainda que não seja necessário para ser considerado consumado. Com exceção dos crimes materiais consumados, todos os demais crimes, crimes formais, crimes de mera conduta e crimes tentados o fato típico só tem dois elementos: conduta e tipicidade. Assista aí Enriqueça seu conhecimento! Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=8y4Kvr5c9lM&feature=emb_title https://www.youtube.com/watch?v=8y4Kvr5c9lM&feature=emb_title 3.2 Conduta Conduta é entendida como a ação ou omissão humana, que seja considerada consciente e voluntária, e que seja voltada a um fim. Ação e omissão Crimes praticados por ação são os chamados comissivos; e por omissão, omissivos. O agente que pratica um crime considerado comissivo, está indo contra uma norma proibitiva. Já nos crimes omissivos, a violação é de uma norma preceptiva (que ordena a realização de um comportamento). Consciente e voluntária Com a evolução histórica desse do conceito de conduta, dolo e culpa antes considerados como parte do conceito da culpabilidade foram transferidos para a conduta. Dirigida a um fim O fim é a prática de um crime ou mesmo de uma contravenção penal. Importante ressaltar que não existe crime sem que haja conduta. 3.2.1 Formas de conduta São duas as formas de conduta: ação e omissão. Na ação, estamos diante dos crimes comissivos e a conduta é positiva, a conduta consiste em um fazer. A maioria dos crimes é comissivos. Já na omissão, os chamados crimes omissivos se dividem em omissivos próprios (puros) ou omissivos impróprios (espúrios ou comissivos por omissão). Nesses crimes, a conduta é uma inação, um não fazer, uma conduta negativa. Os crimes omissivos próprios (puros) são aqueles em que a omissão é descrita no próprio tipo penal, a redação do tipo apresenta uma conduta negativa. Um exemplo é o artigo 135 do Código Penal: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Os crimes omissivos próprios são tidos como crimes comuns ou gerais pois podem ser praticados por qualquer pessoa, ou seja, qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo, o agente, nos crimes chamados omissivos próprios. Estes crimes omissivos próprios não admitem tentativa pelo fato de serem crimes unissubisistente (conduta composta de um único ato, suficiente para a consumação). Se o crime é unissubisistente não há como dividir sua execução, o processo executório. Normalmente, são crimes de mera conduta. Nos crimes omissivos impróprios o tipo penal descreve uma ação, mas a falta de ação do agente que descumpre o seu dever leva à produção de um resultado naturalístico que lesa um bem juridicamente relevante, conforme o artigo 13, §2o, CP: Relevância da omissão § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Quando consideramos quem pode ser o sujeito ativo, os tipos penais requerem para os crimes omissivos impróprios uma situação fática ou jurídica diferenciada: só podem ser praticados por quem tem o dever de agir para evitar o resultado. Causas de exclusão da conduta: Caso fortuito e força maior Acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, escapam do controle. O caso fortuito tem origem humana, como uma greve, por exemplo. Força maior tem origem na natureza, como uma forte tempestade. Movimentos reflexos São reações fisiológicas decorrentes da provocação dos sentidos. Não existe conduta no movimento reflexo, já que neles falta vontade. Coação física irresistível Fato atípico por exclusão da conduta. Trata-se de situação diferente da chamada coação moral irresistível, que é uma situação de inexigibilidade de conduta diversa (não se exigiria outra conduta no caso concreto) e, por isso, exclui a culpabilidade. Na coação física irresistível não há elemento de vontade. Na coação moral irresistível existe vontade, porém viciada pela coação. Sonambulismo e hipnose Atos praticados em estado de inconsciência. 3.2.2 Resultado Resultado é o desdobramento natural da conduta. A figura jurídica do resultado pode ser dividida em duas espécies: Juridico / normativo É a própria violação da norma penal, ofendendo ao bem jurídico protegido e relevante. Ex: homicídio. Material/ Naturalistico É o que acontece no mundo exterior como consequência da própria conduta do agente, podendo ser constatado no mundo real. Ex: pessoa está morta. 3.2.3 Relação de causalidade ou nexo causal O artigo 13 do CP traz no seu texto a denominação relação de causalidade: Relação de causalidade Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido Trata-se de um vínculo entre a conduta e o resultado naturalístico consequente. A relação de causalidade é o vínculo que se estabelece entre a conduta realizada pelo agente e o resultado naturalístico no mundo real, sendo que o resultado é causado pela conduta. Só se aplica nos crimes materiais, já que só eles têm resultado naturalístico. 3.2.4 Concausas Concorrência de causas ou concausa é quando uma outra causa, diferente e externa em relação à conduta do agente influi na produção do resultado naturalístico que o agente buscou. 4 Tipicidade Assista aí 4.1 Natureza jurídica da tipicidade A tipicidade é elemento do fato jurídico presente em todo e qualquer crime.Modernamente a tipicidade penal é a soma da tipicidade formal com a tipicidade material. A tipicidade formal é o juízo de subsunção, a adequação entre o fato e a norma. A tipicidade considerada material é aquela que trata da lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico penalmente protegido e relevante. Adequação típica é a tipicidade formal colocada em prática. Ela pode ser de duas espécies: imediata e mediata. Quando a adequação típica é imediata, ou de subordinação imediata, o fato se encaixa diretamente no tipo penal, não há necessidade de utilização de nenhuma outra norma (exemplo: homicídio consumado). Quando a adequação típica é mediata, ou de subordinação mediata (também chamada de adequação típica ampliada ou por extensão), o fato praticado pelo agente não se encaixa diretamente no tipo penal, há necessidade de utilização de outra norma. São as chamadas normas de extensão ou complementares da tipicidade. Elas são três: tentativa, participação e omissão penalmente relevante. 4.2 Teoria do tipo Tipo é o um modelo abstrato proposto pela norma penal que descreve uma conduta criminosa (tipos incriminadores ou legais; previstos na parte especial do CP ou na legislação extravagante;) ou de uma conduta permitida (tipos permissivos ou justificadores; são causas de exclusão da ilicitude, o legislador autoriza a prática de um fato típico). O tipo não deve ser confundido com a figura da tipicidade. Tipo é uma figura jurídica que resulta da criação do legislador, enquanto a tipicidade é um juízo, uma avaliação sobre uma determinada conduta para saber se contempla no caso concreto o que o legislativo pensou ao criar a regra. Dolo (crime doloso): Dolo integra a conduta, é elemento subjetivo da conduta. Teoria sobre dolo :Para a Teoria da Representação, basta a previsão do resultado. Para a Teoria da Vontade, não basta a previsão do resultado, o agente deve ter a vontade de produzi-lo. Para a Teoria do Assentimento (Consentimento ou Anuência), complementando a Teoria da Vontade, existe o dolo não apenas quando o agente busca um resultado, mas também quando o agente assume qualquer risco de produzir esse resultado. Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; Conforme podemos ver, o Código Penal adotou no artigo 18 a Teoria da Vontade para o Dolo Direto e a Teoria da Representação para o Dolo Eventual 5 Culpa (crime culposo) 5.1 Espécies de culpa Culpa inconsciente (sem previsão ou ex ignorantia) O agente não prevê o resultado que no caso concreto era previsível. Culpa consciente (com previsão ou ex lascivia) O agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que não ocorrerá. É importante diferenciar a culpa consciente do dolo eventual. Culpa própria (propriamente dita) O agente não busca o resultado, nem assume os riscos de produzi-lo, ou seja, produziu "sem querer" o resultado. Culpa imprópria (por equiparação, por extensão ou por assimilação) O agente após prever o resultado e desejar a sua produção realiza a conduta por erro inescusável quanto à ilicitude do fato. O agente supõe que existe no caso concreto uma causa excludente da ilicitude e por isso age. Na culpa imprópria o agente busca o resultado e por isso trata-se de uma figura juridicamente híbrida, mista. A culpa imprópria na verdade é dolo, mas é um dolo que o legislador decidiu punir como culpa. A culpa imprópria ocorre no contexto de uma descriminante putativa. Na culpa imprópria é admitida tentativa (única hipótese de crime culposo que admite tentativa). Culpa mediata (culpa indireta) É aquela em que o agente produz o resultado no caso concreto de forma indireta, a título de culpa. Culpa presumida (in re ipsa) Abolida do Direito Penal brasileiro. Decorria da simples inobservância de uma disposição legal ou regulamentar. São hipóteses de exclusão da culpa o caso fortuito e força maior, erro profissional, princípio da confiança, risco tolerado. 5.2 Praeterdolo Acontece quando através de conduta dolosa surge um resultado mais grave, dessa vez culposo, mas também provocado pelo agente. No primeiro comportamento, antecedente, temos o dolo e no segundo, consequente, a culpa. São crimes qualificados pelo resultado e esses que tem quatro espécies: Praeterdoloso Dolo e culpa (crime doloso qualificado pelo resultado culposo). Doloso Dolo e dolo (crime doloso qualificado pelo resultado doloso; exemplo: latrocínio). Culposo Culposo e culposo (crime culposo qualificado pelo resultado culposo; exemplo: incêndio culposo qualificado pela morte culposa). Culposo Culposo e doloso (crime culposo qualificado pelo resultado doloso; homicídio culposo em que o agente dolosamente não presta socorro). 5.3 Iter criminis Itinerário, caminho do crime. São as fases de realização do crime. A fase interna é a cogitação. A fase externa é dividida em preparação, execução e consumação. O exaurimento não faz parte do iter criminis. A cogitação tem três momentos distintos: idealização (surge a ideia de praticar o crime), deliberação (o agente coloca na balança as vantagens e desvantagens da prática do crime) e a resolução (o agente se decide pela prática do crime). A cogitação nunca é punível, pois não há sequer perigo ao bem jurídico. A vontade está no claustro psíquico do agente. Direito à perversão: todos tem direito a ser mentalmente perversos, o Direito Penal não pune isso. A preparação é a fase dos atos preparatórios, indispensáveis para a posterior execução do crime. Em regra, os atos preparatórios não são puníveis, pois ainda não há ofensa ao bem jurídico. Na execução, fase dos atos executórios, surge a punibilidade do Estado. Surge, no mínimo, um crime tentado. Todo ato de execução deve apresentar duas características: o ato de execução deve ser idôneo (capaz de ofender o bem jurídico) e inequívoco (se dirige ao ataque do bem jurídico). A consumação ocorre quando o agente realiza todos os elementos do tipo. 5.4 Tentativa O artigo 14, II, CP traz o conceito de tentativa: “Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente” – É quando começa execução do crime, que somente não se torna um crime consumado por algumas circunstâncias diferentes do que quis o agente. São elementos da tentativa o início da execução do crime, a não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente e o dolo de consumação - o dolo do crime tentado é idêntico ao do crime consumado. Espécies de tentativa: Cruenta ou vermelha Quando a conduta atinge a pessoa ou bem protegido, mesmo que o crime não seja consumado. Incruenta ou branca É aquela em que o objeto material (pessoa ou coisa que suporta a conduta criminosa) não é atingido. Perfeita (acabada ou crime falho) O agente faz toda a execução mas o crime não se consuma por alguma razão alheia à sua vontade. Imperfeita (inacabada ou propriamente dita) O agente não faz todos os atos da execução e o crime não se consuma por alguma razão diferente disso. 5.5 Desistência voluntária e arrependimento eficaz São as chamadas hipóteses de tentativa abandonada, já que o crime não se consuma por vontade do agente. que abandona sua vontade do resultado. É diferente da tentativa, já que aqui o crime não se consuma por vontade do agente. Na tentativa o agente quer consumar mas não consegue, por outras razões. Na figura da desistência voluntária, o agente suspende a execução do crime, não dando fim a todos os atos do processo executório. Em regra, a desistência voluntária se caracteriza por uma conduta negativa. Já nos crimes omissivos impróprios a desistência voluntária se caracteriza por uma conduta positiva. Nos casos de arrependimento eficaz a execução do crime já se encerrou, mas ele adota providências para impedir a consumação.São requisitos para desistência voluntária e arrependimentoeficaz: Voluntariedade: ato livre de coação. Eficácia: é preciso que o agente consiga parar a consumação. Se ainda que acontendo o arrependimento ocorrer o resultado do crime antes desejado, o agente vai responder crime, embora tenha a seu favor uma atenuante genérica. 5.6 Crime impossível Também chamado de tentativa impossível, se verifica quando, por ineficácia absoluta do meio ou por impropriedade absoluta do objeto, jamais ocorrerá a consumação. É o teor do artigo 17: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. 5.6.1 Espécies de crime impossível Ineficácia absoluta do meio de execução: Quando o meio utilizado pelo agente para executar o crime não é capaz de produzir o resultado, por mais que o seu uso seja repetido. Impropriedade absoluta do objeto: A ineficácia absoluta deve ser avaliada no caso concreto. Objeto material não existe ao tempo da conduta. A mera existência do objeto material já caracteriza a tentativa. 5.7 Concurso de pessoas O tema está tratado nos artigos 29 a 31 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. O instituto também é chamado de Coautoria. Hoje o Código Penal fala em concurso de pessoas, tratado como gênero: TÍTULO IV DO CONCURSO DE PESSOAS Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. No concurso de pessoas temos duas figuras jurídicas possíveis: a coautoria e a participação. Concurso de pessoas é esse instituto jurídico penal em que duas ou mais pessoas praticam crime ou contravenção penal. 5.7.1 Requisitos do concurso de pessoas Pluralidade de agentes culpáveis Para haver concurso de pessoas, deve haver mais de um agente. Todos os agentes que concorrerem precisam também ser culpáveis. Os crimes unissubjetivos (unilaterais, concurso eventual), entretanto, são praticados por uma única pessoa (um único agente leva o crime ao resultado final), mas admitem o concurso. Exemplo: homicídio. Os crimes plurissubjetivos (plurilaterais, concurso necessário) são aqueles que necessariamente devem ser praticados por mais de uma pessoa para que haja o resultado pretendido no caso concreto. Exemplo: associações criminosas (artigo 288, CP). Os crimes acidentalmente coletivos (eventualmente) em tese podem ser praticados por um única pessoa mas quando há vários agentes no caso concreto, a lei prevê uma modalidade mais grave do delito. Exemplos: furto e roubo. O concurso de pessoas do artigo 29 a 31 do CP só se aplica aos crimes unissubjetivos. Nos crimes plurissubjetivos e nos crimes acidentalmente coletivos as regras do concurso de pessoas aparecem nos próprios tipos penais de cada um desses crimes. Nos crimes unissubjetivos todos os agentes devem ser culpáveis. Se faltar a culpabilidade de um dos agentes, estará caracterizada autoria mediata e não concurso de pessoas. Nos crimes plurissubjetivos e nos crimes acidentalmente coletivos basta que um agente seja culpável. Relevância causal das condutas Dois ou mais agentes praticando cada um uma conduta e todas as condutas contribuem para a produção do resultado. Vínculo subjetivo Também chamado de concurso de vontades. Traz o princípio da convergência ou das vantagens homogêneas, pelo qual, se o crime é doloso, todos os agentes devem concorrer dolosamente. Se o crime é culposo, os agentes vão estar em concurso de pessoas de crime culposo, pela regra da homogeneidade de elementos subjetivos. A regra é clara: não é possível haver uma participação dolosa num crime considerado culposo. O contrário também não é possível, não se admite participação culposa em crime que seja doloso. Vínculo subjetivo (menos) é diferente de prévio ajuste (mais). Vínculo subjetivo basta para o concurso de pessoas. O vínculo subjetivo é a vontade de colaborar para o crime de terceiro, ainda que este desconheça a colaboração. O prévio ajuste é o acerto, a combinação para a prática do crime. Faltando o vínculo subjetivo estará excluído o concurso de pessoas e surge autoria colateral. Unidade de crime para todos os agentes O artigo 29, caput, do CP, consagra a Teoria Unitária ou Monista. Concurso de pessoas é a pluralidade de agentes com unidade de crime. Todos que concorrem para o crime respondem pelo mesmo crime, mas a unidade de crime não leva obrigatoriamente à unidade de pena. Isso pois o CP segue à risca o princípio da culpabilidade. Sem prejuízo, existem algumas exceções pluralistas (Teoria Pluralista). Exceções pluralistas são situações em que os agentes buscam o mesmo resultado mas respondem por crimes diversos uma vez que o legislador criou crimes diversos. É o caso do aborto, em que a mãe e o médico respondem por crimes diversos embora queiram o mesmo resultado (artigos 124 e 126, CP). Na doutrina existe uma teoria dualista para qual há um crime para os autores e outro para os partícipes. Nosso código não adotou essa teoria. 5.7.2 Modalidades de concurso de pessoas Coautoria Coautoria é a presença de dois ou mais autores. A primeira teoria em relação à coautoria é a Teoria Restritiva Objetivo-Formal. É chamada de restritiva já que é limitadora do conceito de autor. Considera-se por essa Teoria que, autor é quem executa o núcleo do tipo. Já o partícipe é quem concorre de qualquer modo para o crime, ainda que sem ser o responsável por executá-lo. Tradicionalmente o Brasil sempre se filiou a essa teoria doutrinariamente. Essa teoria precisa ser complementada pela autoria mediata. O autor mediato, é aquele que usa uma pessoa sem culpabilidade para executar o crime. Na autoria mediata, portanto não há concurso de pessoas. Faltam nesse caso dois dos requisitos para o concurso: pluralidade de agentes culpáveis e vínculo subjetivo. O autor imediato pode ser considerado apenas um instrumento do crime. Há ainda a Teoria do Domínio do Fato, ampliadora do conceito de autor. Em outras palavras, essa teoria não revoluciona o conceito de autor, ela apenas traz novas considerações. O autor para essa teoria é a pessoa que pratica o núcleo do tipo, seja como o autor intelectual (o mentor ou idealizador do crime; para a teoria anterior o autor intelectual seria apenas um partícipe), seja como o autor mediato ou aquele que tem controle final do fato. A teoria do domínio do fato só pode ser aplicada em casos de crimes dolosos, já que nos crimes culposos o resultado é involuntário, diferente do pretendido pelos agentes. Esse é um problema da teoria, que necessita outra para explicar os crimes culposos. A teoria do domínio do fato admite a figura jurídica do partícipe no caso concreto. Para esta teoria o partícipe é quem colaborou de qualquer modo para o crime, ainda que sem executá-lo e sem ter o controle final do fato. Autoria de escritório A figura da autoria de escritório, criada por Zaffaroni, chamada de teoria do domínio da organização por Roxin, surge no âmbito das “estruturas ilícitas de poder” (organizações criminosas e grupos terroristas). Essas estruturas são como “empresas do crime” com um comando que conhece as atividades criminosas desempenhadas. São teorias intimamente relacionadas à teoria do domínio do fato. 5.8 Participação O partícipeé uma figura acessória para o crime. Ele realiza uma conduta que é paralela quando comparada a do autor, a principal conduta que leva ao resultado do crime. São espécies de participação: moral (quanto às ideias, sugestões e conselhos; se divide em induzimento – fazer surgir na mente de alguém a vontade criminosa – e instigação – reforçar uma vontade criminosa que já existe; devem ser para crime determinado e pessoa determinada; não existe concurso de pessoas no induzimento e na instigação de natureza genérica) e material (caráter concreto, com instrumentos e objetos, não se esgota em sugestões e conselhos; é o auxílio; é também chamada de cumplicidade; o auxílio acontece durante a preparação ou execução do crime, mas nunca após a consumação). 5.8.1 Punição do partícipe Teorias da acessoriedade: Mínima Para se punir o partícipe basta que o autor pratique fato típico. Não é uma teoria aceita por poder gerar casos em que o autor não seria punido mas o partícipe sim. Limitada A punição do partícipe é possível quando o autor pratica fato típico e ilícito. Historicamente preferida no Brasil. Máxima ou externa A punição do partícipe é possível quando o autor pratica fato típico, ilícito e culpável. Hiperacessoriedade ou Ultracessoriedade A punição do partícipe é possível quando o autor pratica fato típico, ilícito, culpável e o autor deve ser efetivamente punível. Não é aceita pois se o autor morre, não é possível punir o partícipe. Executor de reserva O chamado executor de reserva pode ser coautor ou partícipe, devemos analisar no caso concreto. É alguém que presencia a execução do crime e atua se precisa intervir. 5.9 Circunstâncias incomunicáveis Dispostas no artigo 30, CP. Comunicabilidade é a transmissibilidade. Elementares são os dados que formam a modalidade básica do crime, são os dados que formam o tipo fundamental. As circunstâncias são os dados que se unem ao tipo fundamental para aumentar ou diminuir a pena, são as qualificadoras, as causas de aumento de pena, as figuras privilegiadas e as causas de diminuição de pena. As circunstâncias podem ser pessoais (subjetivas, diz respeito ao agente) ou reais (objetivas, dizem respeito ao fato). As condições são situações que existem independentemente da prática do crime. Também se dividem em pessoais (subjetivas, diz respeito ao agente) ou reais (objetivas, dizem respeito ao fato). Pelo artigo 30, CP, as elementares sempre se comunicam, desde que sejam do conhecimento de todos os agentes (evita a responsabilidade penal objetiva). Pelo mesmo artigo, as circunstâncias pessoais nunca se comunicam. As circunstâncias reais, entretanto, comunicam-se, desde que sejam do conhecimento de todos os agentes. As condições pessoais nunca se comunicam (exemplo: reincidência), já as condições reais são comunicáveis. 5.10 Autoria colateral Também chamada de coautoria lateral, coautoria imprópria ou autoria parelha. Acontece quando duas ou mais pessoas realizam atos de execução de um mesmo crime, cada uma desconhecendo a vontade da outra. Na autoria colateral é identificada a pessoa que produziu o resultado (quem produz o resultado responde pelo crime consumado, quem queria o resultado, mas não foi o responsável responde por tentativa). Na autoria colateral não há concurso de pessoas, cada um responde por um crime diferente. 5.11 Autoria incerta Pressupõe uma autoria colateral, mas não se descobre quem produziu o resultado. Não há, nesse caso, concurso de pessoas, não há vínculo subjetivo. Ambos praticam atos de execução, mas não se sabe quem produziu o resultado. Tendo em vista o in dubio pro réu, ambos serão punidos por tentativa. Se um pratica ato de execução e outro crime impossível, pelo in dubio pro réu, haverá crime impossível para os dois. Não confundir autoria incerta com autoria desconhecida. Na autoria desconhecida não há sequer indícios de quem foi o autor e gera o arquivamento do inquérito, sendo um assunto de direito processual penal. 5.12 Erro de tipo Embora a doutrina fale em erro de tipo, o Código Penal, no artigo 20, fala em erro sobre os elementos do tipo: Erro sobre elementos do tipo Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. O erro, no Direito Penal, é a falsa percepção da realidade. Diferente da ignorância, que consiste no total desconhecimento de algo. O Código Penal utiliza a palavra erro em sentido amplo, englobando o erro propriamente dito e a ignorância. O erro de tipo é aquele que acontece em relação os chamados elementos do tipo penal. Ele pode ser escusável (inevitável, invencível) e inescusável (evitável, vencível). O que diferencia se o erro de tipo é escusável ou inescusável é o que faria o homem médio. No erro de tipo escusável, o agente errou, mas um homem médio em seu lugar também erraria. No erro de tipo inescusável, o agente erra, mas não esperamos que um homem médio em seu lugar errasse. O erro de tipo sempre exclui o dolo do crime. O erro de tipo escusável também a culpa do crime e o erro de tipo inescusável exclui somente o dolo, permitindo possibiliade de punição por crime culposo, se previsto em lei. O erro de tipo se divide em espontâneo e provocado. No erro espontâneo a pessoa erra sozinha. No erro provocado, terceiro determina o erro (terceiro responderá pelo crime, conforme artigo 20, §2o, CP). Existe diferença entre o erro de tipo com o chamado crime putativo por erro de tipo, sendo institutos totalmente opostos. No erro de tipo o agente não sabe que pratica fato típico. No crime putativo por erro de tipo, ou crime imaginário, não tem existência real, só existe na cabeça do suposto agente. O agente imagina que praticar um crime, acredita que faz algo incorreto. O erro de tipo pode ser essencial ou acidental. O erro de tipo essencial acontece em relação aos elementos constitutivos do crime e o erro de tipo acidental sobre circunstâncias ou dados irrelevantes do crime. O erro de tipo acidental tem algumas modalidades: Pessoa O agente confunde a pessoa que queria atingir (vítima virtual) com pessoa diversa (vítima real). Reflete na dosimetria da pena, levando em conta as condições da pessoa que o agente queria atingir e não da pessoa que foi efetivamente atingida. Coisa Erro sobre a coisa, o bem jurídico, contra qual o crime é praticado. Pode caber o princípio da insignificância na análise do caso concreto. Qualificadora O agente não sabe que existe uma condição qualificadora. Esse erro retira a qualificadora, mas o agente continua respondendo pelo crime na sua modalidade fundamental. Nexo causal Aberratio causae: o agente pratica uma conduta e acredita ter lcançado o resultado desejado, em seguida, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas é esta que efetivamente produz a consumação. Leva-se em conta o meio como realmente aconteceu, aplicando qualificadoras (para MP e Polícias, para Defensoria não). Erro na execução Aberratio ictus: por errar na execução do crime, o agente acaba por atingir outra pessoa. Está previsto no artigo 73, CP. Existem duas espécies de erro na execução. Quando acontece o chamado erro na execução com unidade simples ou resultado único, o agente só consegue atingir outra pessoa, mas não a que desejava atingir inicialmente. Não é erro sobre a pessoa, já que nesse caso não há confusão nenhuma por parte do agente sobre quem deveria ser a vítima real. Quando acontece o chamado erro na execução com unidade complexa ou resultado duplo, o agente atinge a pessoa desejada e também outra pessoa, respondendo por dois crimes em concurso formal. Para haver erro nesses casos, o segundo crime deve ser culposo. Resultado diverso do pretendido – aberratio delicti: o resultado obtido é diverso do pretendido. Previsto no artigo 74, CP.: Resultado diverso do pretendido Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. O agente queria praticar determinado crime, mas por erro, acabou praticando outro. As três últimas modalidades de erro acidental são chamadas crimes aberrantes. 5.12.1 Erro de proibição A nomenclatura é criação da doutrina e da jurisprudência, já que o artigo 21 do CP fala em erro sobre a ilicitude do fato: Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Nos casos em que há erro de proibição, o agente erra sobre o caráter ilícito do fato praticado, ou seja, o agente não acha que sua conduta está contrariando as normas. Não devemos confundir o erro de proibição com mero desconhecimento da lei. O desconhecimento da lei é inescusável conforme artigo 21, CP e artigo 3o, LINDB, e funciona como uma atenuante genérica (artigo 65, II, CP) ou uma autorização do perdão judicial no caso de contravenções penais (artigo 8o, LCP). No erro de proibição, portanto, o agente conhece a lei, mas não sabe que o fato que está praticando tem caráter ilícito, ignorando, portanto, o real conteúdo da lei. Os efeitos jurídicos do erro de proibição estão no artigo 21 como vimos e atingem diretamente a culpabilidade. O erro de proibição pode ser classificado como inevitável (escusável ou invencível) ou evitável (inescusável ou vencível). O critério não é do homem médio como no erro de tipo, mas sim o critério do perfil subjetivo do agente. O perfil subjetivo do agente é uma análise do que cabe especificamente àquele agente no caso concreto. Ele erra, mas por mais que se esforçasse, ainda assim erraria. O erro de proibição pode ser direto É o erro de proibição propriamente dito, como já estudado, o agente desconhece o caráter ilícito do fato praticado. O erro de proibição pode ser indireto Casos das chamadas descriminantes putativas. O erro de proibição pode ser mandamental Agente tem o dever de agir mas acredita que, no caso concreto, está liberado desse dever de agir. 5.12.2 Diferenças entre erro de tipo e erro de proibição O erro de tipo como vimos é relacionado ao fato típico e à conduta (relativo ao dolo e, quando escusável,tamb ém a culpa). São casos em que o agente não sabe o que faz. O erro de proibição é relacionado à culpabilidade e ao seu elemento de potencial consciência da ilicitude. Nesses casos o agente sabe o que faz, mas não sabe que seu comportamento é contrário ao Direito. 5.13 Descriminantes putativas Descriminantes são as causas de exclusão de ilicitude. Putativas significam aparentes, parecem ser mas são coisas diversas. Descriminantes Putativas são, portanto, causas de exclusão de ilicitude erroneamente imaginadas pelo agente. A natureza jurídica das descriminantes putativas vai depender de qual teoria ou corrente doutrinária sobre a culpabilidade foi adotada. Para a teoria normativa pura a descriminante putativa sempre será um erro de proibição indireto. Para a teoria limitada, descriminante putativa pode ser erro de proibição, mas também pode ser erro de tipo. Nesse sentido, num caso concreto de erro sobre a legítima defesa: o erro pode recair sobre a existência da legítima defesa em si, e aí seria caso de erro de proibição. O erro pode recair também sobre os limites dessa legítima defesa, também sendo caso de erro de proibição. Se o erro pode for sobre os pressupostos fáticos do caso, aí sim seria erro de tipo (erro de tipo permissivo). A doutrina e a jurisprudência se dividem quanto ao tem. A lei penal possui uma estrutura. Essa estrutura é composta por um preceito primário e também por um preceito secundário. O preceito primário é a parte da lei que define a conduta criminosa. Já o preceito secundário estabelece a pena para aquela conduta. Veja o caso da lesão corporal no Código Penal: “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”. Nesse caso, obedecendo a estrutura, temos o preceito primário no caput e o preceito secundário com a pena de detenção. O Brasil se filiou ao sistema de proibição indireta. Nesse sistema, a lei penal é sempre descritiva e não proibitiva. Quando o artigo 121 do Código Penal diz "matar alguém" a proibição é implícita, indireta. UNIDADE IV 1 Culpabilidade: evolução histórica Importante retomar a conceituação da estrutura do crime e seus elementos para as diferentes variações das correntes teóricas para compreender a evolução do conceito a culpabilidade. Na Teoria Quadripartida, o crime é fato típico, ilícito, culpável, antijurídico e punível. Como considera que a punibilidade é elemento do crime ficou em desuso, já que hoje se acredita majoritariamente que a punibilidade é um efeito pós crime, que surge da força Estatal para punir o agente do fato. Considera o crime fato típico, ilícito e culpável. Se divide em teoria tripartida clássica (Nelson Hungria) ou tripartida finalista (Welzel). Crime como fato típico e ilícito. A culpabilidade é entendida como pressuposto de aplicação da pena. Obrigatoriamente é finalista aquele que se filia a teoria bipartida. O finalismo bipartido é uma interpretação da doutrina brasileira no Código Penal Brasileiro, criado pelo penalista René Ariel Dotti. Em São Paulo, a teoria bipartida é dominante. Claus Roxin adota teoria bipartida, em que o crime seria formado por um injusto penal (fato típico já revestido de ilicitude) e a sua responsabilidade penal (culpabilidade; grau de responsabilidade e necessidade de pena). Assista aí 2 Elementos do Crime 2.1 Fato típico Independente da teoria adotada, fato típico é considerado elemento do crime. Fato típico é a conduta humana (e da pessoa jurídica nos crimes ambientais; existe dúvida quanto a crimes financeiros, econômicos e contra a economia popular já que a CR/88 não trata expressamente da responsabilização da pessoa jurídica nesses casos e além disso, ainda que se considere que o artigo 173 engloba pessoas jurídicas, não há regulamentação legal) que encontra correspondência em uma norma penal incriminadora. O chamado fato típico no direito penal apresenta quatro requisitos para sua formação. São eles, a conduta, o resultado, o nexo causal e atipicidade. O único cenário em que esses quatro requisitos ou elementos do tipo penal acontecem simultameneamente é em caso de crime material consumado. Nesses crimes, o próprio tipo penal que a lei traz contém a conduta, o resultado e exige que esse resultado aconteça para que o crime seja consideramo consumado. Já nos casos em que chamamos de crimes formais o tipo penal contém a conduta e o resultado naturalístico, mas não requer que o resultado aconteça para considerar o crime consumado. Nos crimes de mera conduta (o legislador traz um tipo penal que se limita a prever uma conduta, sem resultado naturalístico vinculado a ela. Os crimes formais e os de mera conduta têm em comum o fato de que não exigem resultados naturalísticos para serem consumados. Na prática isso quer dizer que se consumam simplesmente quando o agente pratica a conduta descrita no tipo pemal. Eles se diferenciam, entretanto, pois no primeiro caso, dos crimes formais, esse resultado naturalístico desnecessário para a consumação pode chegar a acontecer. Importante ressaltar que para todos os crimes analisados, com exceção dos crimes materiais consumados, o fato típico tem apenas dois elementos: conduta e tipicidade. O ponto em comumentre um crime formal e um crime de mera conduta é que são crimes sem resultado, não exigem resultado, se consumam com a prática da conduta. A diferença é que nos crimes formais o resultado naturalístico, embora desnecessário para a consumação, pode ocorrer. Se ocorrer o resultado no crime formal, estaremos diante do exaurimento, do crime exaurido (Zaffaroni chama o exaurimento de consumação material). Nos crimes de mera conduta o resultado naturalístico jamais ocorrerá, pois o tipo não o prevê. Com exceção dos crimes materiais consumados, todos os demais crimes, crimes formais, crimes de mera conduta e crimes tentados o fato típico só tem dois elementos: conduta e tipicidade. Se não há resultado naturalístico e logo, não há nexo causal entre conduta e resultado naturalístico. Clique para abrir a imagem no tamanho original Tabela 1 - CondutaFonte: Elaborada pelas autoras, 2019. #PraCegoVer: Na imagem, temos uma tabela com três colunas: a primeira indica a teoria da conduta; a segunda o sistema pena e, a terceira e última, a teoria da culpabilidade. A culpabilidade nada mais era que o vínculo psicológico, estabelecido pelo dolo ou pela culpa, entre o agente imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado. O dolo normativo é aquele que contenha a consciência real da ilicitude como relação de contrariedade entre o fato praticado pelo agente e o direito. Em relação ao conceito de conduta, podemos dizer que é um movimento humano corporal voluntário que produz um resultado no mundo exterior. A conduta é uma “fotografia do crime” ou seja, retrata o fato praticado pelo agente e o resultado no mundo exterior. Quem se filia a teoria clássica vê o crime de maneira tripartida, já que o dolo e a culpa estão inseridos no conceito de culpabilidade e desse modo, evita-se a responsabilidade penal objetiva. Se no sistema clássico não se considerar a culpabilidade, haverá crime independente de dolo e de culpa, e por isso não é possível ser clássico e bipartido, sob pena de aceitar a indesejável responsabilidade penal objetiva. Clique para abrir a imagem no tamanho original Figura 1 - Sistema ClássicoFonte: Elaborado pelas autoras, 2019. No sistema clássico, a culpabilidade indicava um vínculo psicológico entre o agente do crime e o fato típico que ele praticava. Esse vínculo era estabelecido pela presença do dolo ou da culpa. Nesse caso, o dolo considerado normativo é aquele que demonstra que o agente tem a consciência plena e real da ilicitude do fato praticado. Essa ilicitude é uma relação de contrariedade à norma, ou seja, o agente saber que o fato praticado vai contra o direito. Aparece no sistema da teoria clássica o conceito causalista de conduta. A conduta é vista como um movimento humano corporal voluntário capaz de produzir resultados naturalísticos, resultados no mundo exterior. A corrente doutrinária da teoria clássica enxerga o crime de modo tripartido, com dolo e culpa partes da culpabilidade. Clique para abrir a imagem no tamanho original Tabela 2 - Sistema NeoclássicoFonte: Elaborado pelas autores, 2019. No sistema Neoclássico a teoria adotada para a conduta também é a teoria causalista e assim como no sistema clássico, a ilicitude é considerada como a relação de contrariedade entre o fato praticado pelo agente e o direito vigente. A novidade do sistema neoclássico é o olhar da doutrina para a análise da culpabilidade. Em 1907, o penalista Reinhart Frank desenvolveu a Teoria da Normalidade das Circunstâncias Concomitantes. Com essa Teoria, foi incluído na Culpabilidade um terceiro elemento: exigibilidade de conduta diversa. A partir dessa visão, considera-se culpável aquele que praticou um fato quando era exigido um outro comportamento, a chamada conduta diversa. É uma teoria Psicológico-Normativa da culpabilidade, já que a figura da culpabilidade não é mais exclusivamente psicológica. Ela passa ter esse elemento normativo da exigência de outra conduta. Existem autores que chamam esse sistema Neoclássico de Neokantista (Neokantismo penal). Mantido o conceito causalista de conduta: conduta é um movimento humano corporal voluntário que produz um resultado no mundo exterior. A conduta é uma “fotografia do crime” ou seja, retrata o fato praticado pelo agente e o resultado no mundo exterior. Clique para abrir a imagem no tamanho original Tabela 3 - Sistema FinalistaFonte: Elaborado pelas autoras, 2019. O Finalismo, base do sistema finalista, surge na Alemanha em 1930, fruto dos estudos de Hanz Welzel. Para essa corrente teórica, dolo e culpa fazem parte do conceito de conduta. Consideram que se não há dolo ou culpa não há conduta e, por isso, o fato é atípico. O conceito de conduta, nesse sistema, é a ação ou omissão humana, desde que seja consciente, voluntária e dirigida a um fim específico. Quem se filia ao Finalismo pode entender o crime de acordo com a visão bipartida ou tripartida, já que dolo e culpa estão na conduta e não na culpabilidade. Logo, não correm risco de gerar responsabilidade objetiva. A culpabilidade pode ser, para essa teoria, tanto um elemento do crime, se adotado conceito tripartido do crime, quanto pressuposto de aplicação da pena, se adotado conceito de crime bipartido. Culpabilidade chamada “vazia” pois foi esvaziada em relação aos elementos psicológicos, por isso é uma teoria normativa pura (só elementos normativos, sem elementos psicológicos que agora estão na conduta). Para a teoria do finalismo o dolo é algo natural. Para as teorias anteriores (teoria clássica e neoclássica) o dolo era considerado normativo, já que continha a chamada consciência de ilicitude. 3 Coculpabilidade Para as correntes doutrinárias que escolhem o conceito tripartido de crime (típico, ilícito e culpável), a culpabilidade é um elemento do crime. Importante ressaltar que a culpabilidade não é do fato, ou seja, não é o fato que é considerado culpável ou não, mas sim o agente do crime que será analisado quanto à sua culpabilidade. Já para as teorias que escolhem o conceito bipartido do crime, a culpabilidade não é considerada elemento do crime, mas sim um pressuposto para a aplicação da pena. A culpabilidade carrega uma ideia de reprovação independente do conceito de crime a ser adotado. 3.1 Evolução histórica da culpabilidade Para o sistema penal clássico (autores como Von Liszt, Beling) a teoria da culpabilidade adotada era a psicológica, para qual os elementos da culpabilidade eram a imputabilidade e o dolo normativo ou culpa – consciência da ilicitude. Já no sistema penal neoclássico ou neokantista, como vimos a teoria da culpabilidade é psicológico normativa e seus elementos eram a imputabilidade, dolo normativo ou culpa – consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. Já no sistema penal finalista (Welzel) a teoria da culpabilidade é a normativa pura. Seus elementos, para essa teoria, são a imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa; dolo e culpa na conduta. Essa teoria normativa pura da culpabilidade se subdivide em outras duas correntes teóricas. Uma teoria normativa pura extrema ou estrita e uma limitada que se diferenciam pela presença de descriminantes putativas. 3.2 Cocupabilidade A teoria da coculpabilidade foi desenvolvida por Zaffaroni. Por essa teoria, há um reconhecimento de que as pessoas não tiveram as mesmas oportunidades (educação, cultura, lazer). Termo coculpabilidade vem da concorrência de culpabilidades. A família, a sociedade e o Estado excluem e marginalizam pessoas, e para elas a criminalidade é uma saída mais fácil. Essa teoria é uma construção doutrinária, ou seja, não encontra base normativa ou legal, mas pode ser adotada no Brasil como uma atenuante genérica inominada conforme previsão do artigo 66, CP: Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, emboranão prevista expressamente em lei. A chamada coculpabilidade às avessas tem dois aspectos que devem ser analisados. O primeiro deles, trata da seletividade e vulnerabilidade do direito penal. O Direito Penal muitas vezes tem como alvos pessoas mais vulneráveis, sem oportunidades. Já o segundo aspecto, trata justamente da maior reprovação para as pessoas dotadas de elevado poder econômico, que tiveram todas as oportunidades e abusam do seu poder econômico para a prática de crimes e por isso devem ser mais fortemente reprovadas. A coculpabilidade as avessas entretanto não pode ser utilizada como agravante genérica por ausência de previsão legal, seria um caso de analogia “in malam partem”. 4 Elementos da culpabilidade Existem algumas causas que são capazes de excluir a culpabilidade, as chamadas dirimentes. Não confundir com eximentes, que são as causas excludentes da ilicitude. 4.1 Imputabilidade O primeiro elemento formador da culpabilidade a ser analisado é a imputabilidade. O CP não define a imputabilidade, mas apenas prevê hipóteses de inimputabilidade (art. 26, caput, 27 e 28, §1º: Inimputáveis Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- se de acordo com esse entendimento. Menores de dezoito anos Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Imputabilidade é a capacidade do agente de entender o caráter ilícito do fato praticado, o chamado elemento intelectivo, e de querer praticar ainda assim, autodeterminando-se através do elemento da vontade ou volitivo. O código penal brasileiro e a Constituição adotaram um critério cronológico, no tocante à imputabilidade: são imputáveis os maiores de dezoito anos, mas fizeram isso estabelecendo a inimpubalidade dos menores de dezoito anos. Conforme o artigo 27 do CP acima e o artigo 228 da CF: Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Quando as pessoas completam dezoito anos, a maioridade penal chega, com uma presunção relativa de imputabilidade. A imputabilidade deve ser analisada ao tempo da conduta (desdobramento da teoria da atividade, adotada no artigo 4o do CP, relativa ao tempo do crime). O artigo 26, caput, CP, também traz essa regra de análise da imputabilidade ao tempo da conduta. Quanto à inimputabilidade, são cinco as hipóteses. A primeira hipótese de inimputabiliade é a menoridade. Nesse caso, não são imputáveis os menores de dezoito anos. A segunda hipótese é a doença mental, que torna inimputável aqueles que portem essas doenças. A terceira é o desenvolvimento mental incompleto. Nesse caso, indivíduos com alterações mentais são inimputáveis. A quarta hipótese de inimputabilidade é o desenvolvimento mental retardado, quando os indivíduos não tem as capacidades cognitivas totais. A quinta e última hipótese é a da embriaguez completa, fortuita ou acidental. Existem sistemas para identificação da inimputabilidade. São eles o sistema biológico (para este basta a presença de uma deficiência mental, fortalecendo a atuação do perito na definição do caso concreto), o sistema psicológico (para qual pouco importa se o agente tem ou não alguma deficiência mental, bastando a evidente incapacidade de entendimento e autodeterminação, fortalecendo a atuação do juiz no caso concreto para definir) e o sistema biopsicológico (o agente deve apresentar uma deficiência mental que acarrete incapacidade de entendimento e autodeterminaçãom, unindo as forças do perito e do juiz para decisão no caso concreto). No Brasil, o sistema biopsicológico é a regra geral, prevista no artigo 26, caput, CP: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento O sistema biológico foi adotado como exceção para os menores de 18 anos e no caso da embriaguez completa, fortuita ou acidental. Quanto à combinação de leis penais, o plenário do STF não admite e o STJ editou a súmula 501. Os tribunais não aceitavam, passaram a aceitar e agora não admitem mais a combinação de leis. Quanto à insignificância de crimes tributários, nos crimes de descaminho, STF e STJ entendiam que o valor para descaminho era o mesmo considerado pela fazenda como inexecutável (R$10000). As portarias MF 75 e 130/2002 aumentaram o valor para R$20000. Após isso, o STJ, pela terceira seção disse que o valor continua sendo R$10000. O STF ainda não se pronunciou a respeito. Quanto à menoridade, o direito brasileiro adota o critério biológico (menores de 18 anos são inimputáveis), art. 228, CR e art. 27, CP, como vimos acima. Para os menores de 18 anos existe uma presunção absoluta (iuris et de iure) da inimputabilidade. Já para quem é maior de 18 anos essa presunção é relativa. De acordo com a Súmula 74, STJ: SÚMULA 74 - PARA EFEITOS PENAIS, O RECONHECIMENTO DA MENORIDADE DO REU REQUER PROVA POR DOCUMENTO HABIL. Data da Publicação - DJ 20.04.1993 p. 6769 Dessa forma, de acordo com a jurisprudência a prova da menoridade somente pode ser feita por documento hábil. Importante ressaltar que as pessoas emancipadas civilmente são inimputável para o direito penal, já que a capacidade civil não interfere na imputabilidade penal. Quanto à doença mental, a interpretação deve ser em sentido amplo, abrangendo todas as enfermidades permanentes ou transitórias, congênitas ou adquiridas, que retiram a capacidade de entendimento e autodeterminação. Entretanto, quando um doente mental praticar o crime em intervalo de lucidez ele é imputável, tendo em vista a adoção do critério biopsicológico. 4.1.1 Emoção e paixão Assunto previsto no artigo 28, I, CP: Emoção e paixão Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão; Emoção e paixão não são excludentes da imputabilidade e tem um ponto em comum que são alterações da psique humana, do estado psicológico do ser humano. A diferença entre eles é quanto à duração: a emoção tem natureza transitória (exemplos: medo, raiva), a paixão é duradoura (exemplos: o amor, a inveja). Se forem patológicas, serão equiparadas a doenças mentais (artigo 26, CP). 4.1.2 Embriaguez Trata-se de intoxicação aguda do organismo humano pelo álcool ou substância de efeitos análogos. O CP utilizou mais uma vez a interpretação analógica ou intralegem (forma fechada seguida de forma genérica). O artigo 28, II, CP, traz que a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substancia de efeitos análogos não exclui a imputabilidade penal: Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. Trata-se da embriaguez aguda ou simples, que são casos de excesso no consumo do álcool. Se a embriaguez for crônica ou patológica, quando o organismo não consegue se livrar dos efeitos do álcool, ou quando o sujeito é dependente, a embriaguez será equiparada às doenças mentais. A embriaguez apresenta uma primeira fase eufórica, quando o ébrio se mostra falante e desinibido. Uma segunda fase agitada, ébrio fala alto, fica agressivo. E uma terceira fase comatosa (cansaço, sono, coma). Nas duas primeiras fases, o sujeito pode praticar crimes comissivos ou omissivos. Na terceira fase apenas crimes omissivos (próprios ou impróprios). Quanto à intensidade, a embriaguezpode ser completa, relativa à segunda ou terceira fase. A embriaguez incompleta se limita à primeira fase. Quanto à origem, a embriaguez voluntária, também chamada intencional, é aquela em que o sujeito quer se embriagar, mas não quer praticar crime algum. A embriaguez é culposa quando o sujeito não quer se embriagar, mas por imprudência se excede no consumo do álcool. A embriaguez voluntária e a embriaguez não excluem a imputabilidade penal (artigo 28, II, CP). Existe ainda a embriaguez preordenada, também chamada embriaguez dolosa, em que o sujeito escolhe se embriagar para cometer um crime. Nesse caso não há exclusão de imputabilidade, mas sim uma agravante genérica conforme o artigo 61, II, “l”, CP: Circunstâncias agravantes Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime: l) em estado de embriaguez preordenada. Por fim, a embriaguez pode ser fortuita ou acidental, quando emana de caso fortuito ou força maior, quando por exemplo, alguém força o sujeito a beber. Se a embriaguez fortuita ou acidental for completa, isenta de pena, ou seja, exclui a culpabilidade (artigo 28, §1o, CP). Se for incompleta, não isenta de pena, mas a pena será diminuída de 1/3 a 2/3 (artigo 28, §2o, CP): Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. A embriaguez admite qualquer meio de prova. Dentre esses meios de prova, os principais são o exame laboratorial (ressalva de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo), o exame clínico (análise do indivíduo), prova testemunhal. 4.2 Teoria do actio libera in causa É a ação livre na causa. Esta teoria surgiu na Itália para solucionar os crimes nos casos de embriaguez preordenada, quando o agente escolhe se embriagar. Essa teoria antecipa o momento da análise da imputabilidade. A imputabilidade não será analisada no momento em que o crime foi praticado, e por isso se faz a crítica de ter elementos remanescentes de responsabilidade penal objetiva. A doutrina se divide quanto à aplicação da teoria da actio libera in causa. Primeira corrente doutrinária A teoria da actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez culposa é responsabilidade penal objetiva e, portanto, é inaceitável. Segunda corrente doutrinária A teoria da actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez culposa seria sim responsabilidade penal objetiva, mas é necessária para a proteção do interesse público. Terceira corrente doutrinária A teoria da actio libera in causa é totalmente desnecessária, pois se o ébrio consegue praticar o crime, teria vontade residual – um resquício de consciência. A teoria da actio libera in causa não deve ser aplicada à embriaguez fortuita ou acidental, já que nesses casos o sujeito não tem a intenção de consumir o álcool. Assista aí Enriqueça seu conhecimento! Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=K8mS_mEjZAg&feature=emb_title 4.3 Potencial consciência da ilicitude É o segundo dos elementos da culpabilidade. Só é considerado culpável o agente que no momento da conduta tinha ao menos a possibilidade de entender o caráter ilícito do fato. Existem sistemas ou critérios para identificação da potencial consciência de ilicitude. O primeiro é o critério formal, pelo qual o agente precisa saber que está violando determinada norma penal (Belin, Binding, Von Liszt). Para o critério material, o agente deve conhecer o caráter injusto de sua conduta (Max Ernst Mayer). Para o critério intermediário não se exige o conhecimento da norma penal violada nem da injustiça do comportamento, basta que o agente, na sua condição de leigo saiba que há ilicitude. https://www.youtube.com/watch?v=K8mS_mEjZAg&feature=emb_title 4.4 Exigibilidade de conduta diversa É o terceiro elemento da culpabilidade. Só pode ser considerado culpável quem pratica o fato típico e ilícito quando lhe era exigível uma conduta diversa. Existem duas causas excludentes da exigibilidade de conduta diversa previstas no artigo 22, CP: Coação irresistível e obediência hierárquica Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. A primeira é a coação moral irresistível, que consiste em obrigar a alguém a praticar um crime (a coação física irresistível exclui a conduta, o fato é atípico; a coação que atinge a culpabilidade é a moral irresistível). São requisitos da coação moral irresistível: ameaça do coator (promessa de um mal grave e iminente), inevitabilidade do perigo (o coagido não tem outra forma de afastar esse perigo, a não ser cedendo ao coator), caráter irresistível da ameaça (o coagido não tem como vencer a ameaça) e presença de pelo menos três pessoas (coator, coagido e a vítima do crime). São efeitos da coação moral irresistível: somente o coator responde pelo crime, o coagido fica isento de pena (entre coator e coagido não há concurso de pessoas, falta vínculo subjetivo). a coação moral irresistível é uma forma de autoria mediata. Se a coação moral for resistível, existirá concurso de pessoas entre coator e coagido (para o coator incidirá agravante genérica – artigo 62, II, CP; Para o coagido uma atenuante genérica – artigo 65, III, “c”, 1a parte, CP: Agravantes no caso de concurso de pessoas Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: II - coage ou induz outrem à execução material do crime; Circunstâncias atenuantes Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; A coação moral irresistível não deve ser confundida com o temor reverencial. O temor reverencial não exclui a culpabilidade. A coação moral irresistível caracteriza o delito de tortura, conforme o artigo 1o, I, “b”, Lei 9455: Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; Na coação moral irresistível o coator sempre responderá pelo crime praticado pelo coagido e pela tortura. segunda excludente da exigibilidade de conduta diversa é a obediência hierárquica, conforme artigo 22, CP: Coação irresistível e obediência hierárquica Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem São requisitos da obediência hierárquica: ordem não manifestamente ilegal (se a ordem é legal, não há crime para ninguém, estão protegidos por excludente da ilicitude de estrito cumprimento de dever legal; se a ordem é manifestamente ilegal, ambos responderão pelo crime em concurso de pessoas, com agravante genérica para o superior hierárquico – artigo 62, III, CP, e com atenuante genérica para o subalterno – artigo 65, III, “c”, CP; ordem não manifestamente ilegal é a ordem ilegal de aparente legalidade, nela somente o superior hierárquico responde pelo crime,o subalterno fica isento de pena, tratando-se de hipótese de autoria mediata), ordem emanada de autoridade competente, relação de direito público (só é possível nas relações de direito público, pois só nelas existe poder hierárquico), presença de ao menos três pessoas (superior hierárquico, subalterno e vítima do crime) e cumprimento estrito da ordem (o subalterno não extrapola, faz exatamente o que foi determinado pelo superior hierárquico). Agravantes no caso de concurso de pessoas Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; Circunstâncias atenuantes Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; Existem ainda hipóteses supralegais (não previstas em lei) de exigibilidade de conduta diversa. Estas causas supralegais de exclusão de culpabilidade fundadas na inexigibilidade de conduta diversa foram criadas na Alemanha e são pacificamente admitidas pela jurisprudência brasileira. O MP no Brasil é contra as causas supralegais de exclusão da culpabilidade no Tribunal do Júri, por causar insegurança nos jurados. https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272746_1/index.html#carousel_0 https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272746_1/index.html#carousel_0 https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272746_1/index.html#carousel_0