Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

1 Breve evolução histórica do Direito 
Penal 
As normas jurídicas e sua forma de aplicação são um reflexo do desenvolvimento 
de um povo. Desta forma, o direito penal, assim como todos os outros ramos do 
direito, é um fenômeno histórico. Apesar de ainda haver graves problemas na 
aplicação do direito penal, a sua evolução é inquestionável. Da vingança de 
sangue, passando pelos suplícios, hoje se vive o direito penal do fato. Muitas 
das garantias presentes no ordenamento jurídico-penal são reflexo da superação 
de situações passadas, vistas hoje como erros ou injustiças. Por exemplo, hoje 
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado” (art. 5º, XLV, CF), mas, nas 
Ordenações Filipinas (1603), que vigeram por quase dois séculos no Brasil, era 
uma prática comum a família do condenado também sofrer os efeitos da pena. 
1.1 Direito penal primitivo 
Desde a Antiguidade até hoje verificamos grandes mudanças nos institutos 
criminais. Se analisarmos a pena, por exemplo, podemos traçar a seguinte 
evolução: "perda da paz ou vingança indeterminada, vingança limitada pela lei 
do talião, composição voluntária, composição legal e pena pública" (Bruno, 1956, 
p. 70 e 71). 
Conforme ensina Aníbal Bruno (1956, p. 66), "nas sociedades antigas, onde 
ainda não havia um órgão que exercesse a autoridade coletiva, o respeito às 
normas era baseado no temor religioso ou até mesmo mágico". E a punição, que 
era a vingança, visava aplacar a ira dos deuses. A religião sempre esteve muito 
presente no direito penal. Algumas normas podem servir de exemplo: Leis de 
Manu, Índia, sécs. 12 ou 13 a.C., e Pentateuco ou Torá, dos hebreus, 1250 a.C. 
Até hoje normas com cunho religioso são utilizadas na área penal, em especial 
em países teocráticos orientais. 
Remontando às sociedades mais primitivas, "a vingança privada era um ato de 
guerra entre tribos e não uma pena" (Bruno, 1956, p. 68). Entre os membros do 
grupo a pena era a expulsão, e essa pena equivalia à pena de morte, pois 
dificilmente o indivíduo conseguiria sobreviver fora dos domínios de proteção e 
cooperação de seu clã. Da vingança o direito penal evoluiu para a composição. 
Por esse método o autor do delito “comprava” a sua liberdade. Ao invés da 
vingança de sangue era pago um valor pecuniário que visava “cobrir” os danos 
sofridos pela vítima, dentro da esfera privada. 
 
1.2 Vingança pública 
Com a evolução social e uma maior organização estatal, o Estado afastou a 
vingança privada e assumiu o poder-dever de aplicar a vingança pública. Passa 
a ser um dever do Estado manter a ordem e “fazer justiça”. O Direito Romano, 
o Germânico e o Canônico, embora apresentando graus de evolução e princípios 
diferenciados, caminharam juntos para a formação do que Aníbal Bruno (1956, 
p. 84) denomina direito penal comum, o direito penal que regeu a prática da 
justiça punitiva em diversos países da Europa, durante a Idade Média e a 
Moderna. 
Nesse período, o direito visava a proteção do príncipe e da religião. Suas práticas 
arbitrárias e cruéis criavam uma “atmosfera de incerteza, insegurança e 
justificado terror” (Bruno, 1956, p. 86). O direito era instrumento para que a 
nobreza e o clero permanecessem no poder político e econômico: 
A ausência de proporcionalidade ou respeito à dignidade humana eram vistas na 
desigualdade de punição entre nobres e plebeus, na indeterminação das penas e na 
definição dos crimes, na falta de publicidade no processo, na ausência de defesa e nos 
meios inquisitoriais (Bruno, 1956, p. 86). 
1.3 Período humanitário 
Esses excessos criaram na consciência de todos a necessidade de reformar as 
leis penais, assim inicia-se o período humanitário. Personagem mais importante 
desse período é sem dúvida Cesare Beccaria, que publicou em 1764 a obra Dos 
delitos e das penas. Essa obra é um marco no direito penal, pois visava romper 
com o direito vigente, baseado em suplícios e no arbítrio dos reis. 
Vivendo sob a égide do Iluminismo – de cunho racionalista e jusnaturalista – 
pode-se afirmar que Beccaria sofreu a influência de filósofos como Locke, 
D’Alembert, Diderot, Hume, Montesquieu, Rousseau e Voltaire. Beccaria pensou 
um direito fundado no respeito à personalidade humana. Ele defendia a 
elaboração de leis que fossem mais claras e precisas, com penas proporcionais 
e o fim da pena de morte e da tortura. As ideias de Beccaria foram aceitas e 
incluídas, mesmo que de modo ainda incipiente, na legislação de diversos 
países, como Rússia (1767), Toscana (1786), Áustria (1787), França (1791 e 
1810) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) (Fragoso, 
1976, p. 43 e 44). 
2 Evolução epistemológica do direito 
penal: escolas penais 
O estudo da história do direito penal inclui a análise da elaboração da dogmática 
jurídico-penal. Para Bitencourt (2018, p. 106), “o referencial mais significativo do 
valor da dogmática penal é a construção da Teoria Geral do Delito”. Se analisará 
a seguir as algumas linhas de pensamento, ou escolas penais, que foram 
determinantes na elaboração da dogmática jurídico-penal. Elas foram 
percussoras da moderna dogmática. É importante ressaltar que não se trata de 
um processo linear, pois “está vinculado às vicissitudes políticas, sociais, 
culturais e econômicas das sociedades, desde o advento do Iluminismo até 
nossos dias” (Bitencourt, 2018, p. 106). 
2.1 Escola Clássica 
A Escola Clássica não produziu uma doutrina única, mas seus juristas se 
baseavam nas ideias desenvolvidas por Beccaria. Um ícone dessa Escola foi 
Francesco Carrara (1805-1888). Em sua obra Programa do Curso de Direito 
Penal, de 1859, ele inicia a ciência penal na Itália. Para Carrara (1956, p. 11) o 
delito era um ente jurídico, pois na sua essência consiste na violação de um 
direito. Assim, não haveria delito fora das ações que ofendem ou ameaçam 
direitos. Para que haja crime Carrara observa a existência de duas forças 
essenciais. 
 
 
Segundo Carrara (1956, p. 11), o direito é congênito ao homem, já que lhe foi 
dado por Deus. Embora refutasse a arbitrariedade e crueldade impingidos pela 
Igreja e pelos governos tirânicos, ele aceitava uma lei eterna, de cunho religioso, 
preexistente a todas as leis humanas, e que vinculava o legislador. Carrara 
(1956, p. 14 e 15) chama também a atenção para o processo penal. Para ele 
todos os preceitos relativos ao processo pertencem à ordem pública e devem 
proteger o direito, pois interessam a todos os cidadãos. A ideia é preservar os 
honestos de eventual erro judicial, e também os culpados, para que se lhes 
aplique uma pena justa. Essa pena é uma retribuição jurídica e o 
restabelecimento da ordem externa violada pelo delito. 
Na Alemanha podemos citar Feuerbach (1775-1833), a quem é atribuída a 
criação de uma ciência jurídico-penal em sentido moderno, caracterizada por 
uma conceituação e sistematização precisas, desenvolvidas em sua 
obra Lehrbuch, de 1801. O seu trabalho legislativo mais importante foi o Código 
Bávaro de 1813. O autor visa construir um sistema completo fundado na lei 
positiva. Alguns postulados vigoram até hoje, conforme ensina Alessandra Greco 
(2004, p. 52 e 53). 
 
Princípio da legalidade. 
 A imposição da pena só pode ser dar por ocasião de um crime. 
 Todo fato criminal tem uma pena legal correspondente a ele. O fim da pena para 
Feuerbach é o preventivo geral. 
2.2 Escola Positiva 
A ciência exerceu uma influência decisiva na configuração do Direito Penal do 
séc. XIX. O evolucionismo de Charles Darwin, o positivismo de Auguste Comte, 
dentre outros, ditaram os rumos seguidos pela Escola Positiva. A motivação para 
superar a Escola Clássica pautava-se na crítica a sua ineficácia como meio de 
repressão à criminalidade. Em linhas gerais, a pena retributiva deveria ser 
substituída por um sistema de prevenção especial, com base no estudo 
antropológico do homem delinquente, e o crime deveria ser visto como fato 
social, e não como ente jurídico (Fragoso, 1976, p. 49 a 60). Na Escola Positiva 
o delinquentepassa a ser o foco do estudo. Ele é considerado um ser anormal, 
e por essa razão delinque. Não se considera mais o livre-arbítrio, e sim o 
determinismo. Na aplicação da lei penal deve levar-se em conta a periculosidade 
do agente, daí a aplicação das medidas de segurança. 
Essa Escola elaborou a história natural do homem criminoso, baseada no 
método empírico. Tentaram fazer do direito penal uma ciência natural. E, 
conforme assinala Aníbal Bruno (1956, p. 117), essa teoria foi superada, pois o 
método experimental deve ser aplicado às ciências criminológicas e não ao 
direito penal. A esse período puramente criminológico sucedeu depois um 
período jurídico. Foram expoentes da Escola Positiva: 
Cesare Lombroso (1986-1909) 
A Lombroso atribui-se o desenvolvimento da antropologia criminal. Ele insere o 
estudo do criminoso na estrutura do crime, visando uma explicação causal para 
seu comportamento antissocial. Para ele o delinquente é nato, pois possui um 
tipo antropológico específico. Algumas características citadas pelo autor: 
assimetria craniana, orelhas de abano, cabelos abundantes, portador de 
epilepsia. A teoria de Lombroso encontra-se superada. Porém, ele teve o mérito 
de iniciar os estudos sobre o delinquente. O seu grande problema foi estabelecer 
que aspectos físicos determinariam quem seria ou não delinquente, o que não 
corresponde à realidade. 
Rafael Garofalo (1851-1934) 
A Garofalo atribui-se o estudo da criminologia. Ele busca estabelecer um 
conceito naturalístico de crime identificando-o na violação daquela parte do 
senso moral que consiste nos sentimentos altruístas de piedade e probidade, 
considerando a “média” existente na comunidade. (Fragoso, 1976, p. 46). Para 
ele o crime está sempre no indivíduo e é a revelação de uma natureza 
degenerada. A causa não seria física, como em Lombroso, mas sim psíquica ou 
moral. Garofalo, partindo da seleção natural de Darwin, defendia “a aplicação da 
pena de morte aos delinquentes que não tivessem absoluta capacidade de 
adaptação, que seria o caso dos ‘criminosos natos’” (Bitenourt, 2018, p. 116). 
Enrico Ferri (1856-1929) 
Ferri é considerado o criador da sociologia criminal. Para ele o homem só é 
responsável porque vive em sociedade, substituindo a responsabilidade moral 
pela social. Conforme ensina Aníbal Bruno (1956, p. 114), Ferri tinha seu espírito 
orientado para as ciências sociais, e assim complementou o antropologismo 
inicial de Lombroso com uma compreensão mais abrangente das origens da 
criminalidade. Para ele existiam três ordens de fatores do crime: antropológicos, 
físicos e sociais. O autor defendia que o ambiente social influencia o indivíduo 
de forma determinante, apesar dos fatores individuais e físicos. Desta forma, “o 
homem está condicionado a agir pela influência do meio social, que determina 
seu caráter, visto que o crime é produto de uma doença social grave e o agente 
não poderia agir conforme o ordenamento jurídico vigente”. (Martinelli; Bem, 
2018, p. 71). 
2.3 Escola Moderna Alemã 
Desenvolvida na Alemanha, com base na obra do austríaco Franz von Liszt. 
Trata-se de uma escola eclética, mais próxima da Escola Positiva, mas com 
“tendência de conciliação com os clássicos” (Bruno, 1956, p. 123). Em 1882, von 
Liszt lançou o Programa de Marburgo, considerado “verdadeiro marco na 
reforma do direito penal moderno, trazendo profundas mudanças de política 
criminal, fazendo verdadeira revolução nos conceitos do direito penal positivo até 
então vigentes”. (Bitencourt, 2018, p. 119). Segundo Bitencourt (2018, p. 120), 
as principais características da moderna escola alemã são: 
 
 Adoção do método lógico-abstrato e indutivo-
experimental 
O primeiro para o direito penal e o segundo para as demais ciências criminais. 
Prega a necessidade de distinguir o direito penal das demais ciências criminais, 
tais como criminologia, sociologia, antropologia etc. 
 Distinção entre imputáveis e inimputáveis 
O fundamento dessa distinção, contudo, não é o livre-arbítrio, mas a normalidade 
de determinação do indivíduo. Para o imputável a resposta penal é a pena, e 
para o perigoso, a medida de segurança, consagrando o chamado duplo-binário. 
 O crime é concebido como fenômeno humano-
social e fato jurídico 
Embora considere o crime um fato jurídico, não desconhece que, ao mesmo 
tempo, é um fenômeno humano e social, constituindo uma realidade fenomênica. 
 Função finalística da pena 
A sanção retributiva dos clássicos é substituída pela pena finalística, devendo 
ajustar-se à própria natureza do delinquente. Mesmo sem perder o caráter 
retributivo, prioriza a finalidade preventiva, particularmente a prevenção especial. 
 Eliminação ou substituição das penas privativas de 
liberdade de curta duração 
Representa o início da busca incessante de alternativas às penas privativas de 
liberdade de curta duração, começando efetivamente a desenvolver uma 
verdadeira política criminal liberal. 
3 Evolução do Direito penal no Brasil 
Conheça, a seguir, a evolução do Direito penal no Brasil e suas características. 
3.1 Ordenações Filipinas 
O Livro V das Ordenações Filipinas, vigente de 1603 a 1830, foi a legislação 
penal utilizada no Brasil durante o período colonial. Nessa época não eram muito 
diferentes o direito da moral e da religião. Podemos citar alguns crimes: feitiçaria, 
sodomia e adultério, que eram punidos com a pena de morte. Outra 
característica desse período era a crueldade das penas, que também eram um 
reflexo da época. 
Um caso emblemático foi o de Tiradentes, condenado à morte pelo crime de 
lesa-majestade, e, após ser enforcado, teve seu corpo esquartejado e seus 
membros fincados em postes e colocados à beira das estradas como “exemplo” 
para os demais súditos da coroa. Era uma forma de intimidar pelo terror. 
O Direito Penal desse período era visto como prima ratio, muito diferente de hoje, 
tudo era matéria de direito penal. As condutas hoje abarcadas por outras áreas 
do direito, como o administrativo ou civil, recebiam tratamento penal. Exemplo: 
Título LXXXI – Dos que dão música de noite – pena de prisão por 30 dias, multa 
e perda dos instrumentos musicais e armas. 
Outra característica que merece ser comentada é a interferência da “qualidade” 
do autor na definição da pena, pois não vigia o princípio da igualdade. Por 
exemplo, para os rufiões (Título XXXIII) a pena era de açoite, multa e degredo 
para África. Porém, se o homem fosse escudeiro, a pena seria de multa e 
degredo para fora da vila. Essa legislação também não se adotava o princípio da 
legalidade, ficando ao arbítrio do julgador a escolha da sanção aplicável 
(Bitencourt, 2018, p. 100). 
3.2 Código Criminal do Império do Brasil 
Com a proclamação da independência em 1822 se fez necessária a revisão de 
toda a legislação vigente no país, que era de origem portuguesa. Em 1824 foi 
outorgada a primeira Constituição do Brasil, e em 1830 foi promulgado o primeiro 
Código Criminal brasileiro. A Constituição de 1824, elaborada sob o ideário 
liberal e humanista, trazia em seu art. 179 direitos e garantias individuas que 
influenciaram sobremaneira a elaboração do Código Criminal. O Código de 1830 
foi o primeiro código autônomo da América Latina foi um código elogiado e 
influente para outras codificações na América e Europa. Segundo aponta 
Basileu Garcia (1956, p. 179), "a única questão que deu margem a dissídio no 
Parlamento durante a aprovação do projeto foi a pena de morte. Os 
conservadores queriam mantê-la no código, e os liberais, extirpá-la. Venceram 
os primeiros, sob o argumento de que os escravos não temeriam nenhum outro 
castigo, que não a forca". 
Apesar de todos os elogios, esse Código mantinha resquícios de uma sociedade 
escravocrata. A crítica da sociedade da época era que o caráter liberal do Código 
levaria ao aumento da criminalidade, o que levou a todo um retrocesso de de 
cunho retrógrado, principalmente contra escravos (Toledo, 2002, p. 59). 
3.3 Código Penal da República 
Como fim da escravidão e o advento da República, novamente se fazia mister 
a ruptura com o velho, e, assim, a elaboração de novos diplomas legais. Em 
1890 foi promulgado o novo Código Penal, que ficou pronto antes da primeira 
Constituição da República, promulgada apenas em 1891. Vale lembrar que 
nessa época já eram conhecidos os estudos de Francesco Carrara – Escola 
Clássica -, e também os ideais da Escola Positiva. Apesar de todas as críticas 
que esse novo código sofreu, por ter sido elaborado às pressas, cabe ressaltar 
que esse código aboliu a pena de morte e instalou o regime penitenciário de 
caráter correcional. 
3.4 Código Penal de 1940 
Entre o final do séc. XIX e início do séc. XX houve um grande desenvolvimento 
da ciência penal, com Escola Clássica, Escola Positiva e escolas ecléticas. 
Surgiu a necessidade de um novo código mais moderno. O Código Penal de 
1940 foi originado no projeto de Alcântara Machado, revisado por uma Comissão 
que participava juristas do peso de Nelson Hungria, Roberto Lyra, Costa e Silva, 
entre outros. 
Nasce no período entre guerras, em pleno Estado Novo, de índole ditatorial, 
onde Getúlio Vargas detém os Poderes Executivo e Legislativo. Mas, conforme 
leciona Francisco de Assis Toledo (2002, p. 63), “o curioso é que, fruto de um 
Estado Ditatorial e influenciado pelo código fascista, manteve a tradição liberal 
iniciada com o Código do Império”. 
Algumas características: "boa técnica e simplicidade; adoção do duplo binário; 
pena retributiva com finalidade repressiva e intimidatória; caráter repressivo, 
construído sobre a crença da necessidade e suficiência da pena privativa de 
liberdade para o controle da criminalidade" (Toledo, 2002, p. 64). Em 1988, com 
Constituição Federal, o direito penal brasileiro tem uma nova fase agora sob a 
égide do estado democrático de direito. Por essa razão, ao longo das últimas 
décadas o Código Penal de 1940 foi reformado diversas vezes. 
4 Conceito de crime 
O crime pode ser conceituado sob três perspectivas: 
 
#PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica que apresenta as três 
perspectivas do crime: formal, material e analítica. 
 
O conceito formal é aquele baseado na lei, ou seja, é crime a conduta definida 
pelo legislador. Esse conceito não se preocupa com o aspecto ontológico e nem 
em identificar os elementos essenciais do crime. O art. 1º da Lei de Introdução 
do Código Penal apresenta a seguinte definição: 
Art. 1º 
Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, 
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão 
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
Segundo o conceito material, crime é o fato humano que lesa ou expõe a perigo 
bens jurídicos penalmente protegidos. Ou seja, não é qualquer conduta que pode 
ser punida. Há uma preocupação com a legitimidade da criminalização. Já 
o conceito analítico dispõe sobre os elementos estruturais do crime. Segundo a 
doutrina majoritária (teoria tripartida), o crime se compõe dos seguintes 
elementos: 
 
#PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica do conceito analítico 
que soma três conceitos importantes: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. 
Desta forma, para que uma conduta humana seja considerada crime devem 
estar presentes todos esses elementos. É importante salientar que não há 
unanimidade na doutrina sobre este tema. Além disso, minoritariamente, há 
outros dois posicionamentos que defendem que os elementos do crime sejam: 
 
#PraCegoVer: Na imagem, temos a representação gráfica de dois posicionamentos 
distintos sobre os elementos do crime. O primeiro soma fato típico e antijuridicidade; já 
o segundo, acrescenta a essa soma os conceitos de culpabilidade e punibilidade. 
 
 
5 Teoria do crime 
Segundo ensina Fragoso (1976, p. 155), “a teoria do crime é a parte da 
dogmática jurídico-penal que estuda o crime como fato punível, analisando suas 
características gerais, bem como suas formas especiais de aparecimento, que 
são a tentativa e a coautoria”. Conforme afirma Figueiredo Dias (2007, p. 235), 
tendo em vista que hoje vivemos sob a égide do direito penal do fato e não do 
direito penal do autor, a construção dogmática do conceito de crime é a 
construção do conceito de fato punível. Seguindo a evolução histórica 
estabelecida pela doutrina (Dias, 2007, p. 238 e 239; Mir Puig, 2007, p. 112 e 
113; Estefam, p. 2018) há quatro grandes períodos na doutrina do fato punível, 
com marcante influência histórico-político-cultural das sociedades onde se 
desenvolveram: 
 sistema clássico; 
 sistema neoclássico; 
 sistema finalista; 
 sistema funcionalista. 
Essas teorias não se excluem. A intenção é sempre superar os pontos negativos 
ou obsoletos da anterior, e se utilizar de suas descobertas e acertos. 
5.1 Sistema clássico ou causalismo 
O conceito causal de ação foi desenvolvido por Liszt-Beling-Radbruch, 
denominado sistema clássico. Teve seu apogeu entre o último terço do séc. XIX 
e o início do séc. XX. As influências dessa corrente eram o positivismo, o 
empirismo e o cientificismo naturalista. A intenção era separar o estudo do direito 
positivo de qualquer preocupação não jurídica, como dados sociológicos ou 
psicológicos (Martinelli; Bem, 2018, p. 418). 
Segundo esse sistema havia de um lado a ação, no processo causal externo, 
objetivo (referindo-se à tipicidade e a antijuridicidade), e de outro o conteúdo da 
vontade, interno, subjetivo (referindo-se à culpabilidade). A ação seria o 
movimento corporal causado por um impulso voluntário, que causa 
modificação no mundo exterior. Essa ação se tornaria típica se se subsumisse 
ao tipo descrito na lei penal. A ação típica se tornaria ilícita se não estivesse 
presente nenhuma causa de justificação. Não havendo a causa, teríamos a 
parte objetiva do delito. 
A parte subjetiva estaria presente na culpabilidade. A ação típica e ilícita seria 
também culpável se fosse possível comprovar a existência de um liame 
psicológico entre o agente imputável e o fato, ou seja, se fosse possível imputar 
o fato ao agente a título de dolo ou culpa. Satisfeitos esses requisitos, estariam 
presentes todos os elementos do conceito de crime. 
Com o passar do tempo essa teoria tornou-se obsoleta. No entendimento de 
Figueiredo Dias (2007, p. 240), esse conceito de ação, ao exigir um movimento 
corpóreo e, também, uma modificação no mundo exterior, “restringia de forma 
inadmissível a base de toda a construção”. Para corroborar esse entendimento 
o autor cita como exemplos o crime de injúria e a omissão (Dias, 2007, p. 240 e 
241), para os quais não se pode aplicar a teoria. 
Figueiredo Dias (2007, p. 241) faz ainda outras considerações. Segundo o autor 
o método lógico-formal de mera subsunção do fato ao tipo legal seria muito 
mecânico, pois desconsidera outras questões ligadas à tipicidade, como as de 
cunho social. No que se refere à ilicitude, o autor entende que considerar ilícito 
o ato pela simples ausência de uma excludente é uma compreensão pobre e 
inexata do que deveria ser um juízo de contrariedade da ordem jurídica. A última 
crítica de Figueiredo Dias diz respeito à concepção psicológica da culpa. Para o 
autor entende que o inimputável também pode agir com dolo ou culpa; na culpa 
inconsciente não há liame psicológico entre o agente e o resultado; não 
consideram a questão do erro ou da inexigibilidade de conduta diversa. 
Para Welzel (1997, p. 48), o erro fundamental da teoria causal da ação consiste 
em que não apenas desconhece a função constitutiva da vontade que rege a 
ação, mas inclusive a destrói e converte em um mero processo causal 
desencadeado por um ato qualquer de vontade. Não obstante às críticas, o 
grande mérito dessa teoria foi ter construído todo um sistema do crime baseado 
numa rigorosa metodologia, dotada de clareza e simplicidade. 
5.2 Sistema neoclássicoou neokantismo 
Essa teoria é baseada na filosofia dos valores de origem neokantiana, 
desenvolvida nas primeiras décadas do séc. XX pela Escola de Baden – 
Alemanha. Podemos citar Mezger e Delitala como seus defensores. Refutando 
o causalismo baseado nas ciências naturais, pregam a autonomia daquilo que 
denominaram ciências do espírito, que não se contentava em observar e 
descrever os fatos, exigindo compreendê-los e valorá-los (Mir Puig, 2007, p. 
155). 
Segundo ensina Figueiredo Dias (2007, p. 242), essa teoria visa retirar o direito 
do mundo naturalista do ser, para, como ciência do espírito, o situar numa zona 
intermediária entre o mundo do ser e do dever-ser. Mais especificamente no 
“mundo das referências da realidade aos valores”. A ação continuou ligada à 
vontade do agente. Já o dolo ou a culpa permaneciam na culpabilidade. 
São reconhecidos elementos normativos e subjetivos do tipo, sendo afastada 
a sua concepção clássica, baseada em fatores puramente objetivos. 
A antijuridicidade, antes pautada na simples contradição formal a uma norma 
jurídica, passou a ser concebida sob um aspecto material, exigindo-se uma 
determinada danosidade social. Esse novo entendimento permitiu graduar o 
injusto de acordo com a gravidade da lesão produzida (Bitencourt, 2018, p. 275). 
Outra modificação é no conceito de culpabilidade, que deixa de ser psicológica 
para ser normativa. Trata-se de um juízo de censura. Essa corrente também já 
se encontra vencida. Além da superação filosófica do neokantismo, a crítica 
continua sendo no tocante ao conceito mecânico-causalista da ação. A essência 
da ação ainda era a modificação do mundo exterior causada pela vontade, mas 
não dirigida pela vontade. Não interessava se o autor queria ou não produzir o 
fato típico. Isso seria analisado na culpabilidade, onde se localizava o dolo. Os 
finalistas substituem a mera causação do resultado pela ação humana com 
finalidade. De uma forma ilustrativa, a crítica que Welzel (1997, p. 40) faz ao 
causalismo é no sentido de que este é cego, enquanto o finalismo é vidente. 
5.3. Sistema finalista 
Iniciaremos esse tópico ressaltando que o acolhimento do finalismo possui 
também um cunho político. Após o advento do Estado Nacional-Socialista de 
Hitler era imperioso romper com o sistema anterior. Por todo o terror 
descortinado desse período ficou claro que o normativismo neokantiano não 
oferecia garantias suficientes de justiça (Dias, 2007, p. 244). Havia a 
necessidade de limitar toda a normatividade, e o caminho encontrado foi o 
fenomenológico e ontológico, ou da natureza das coisas. Foi Welzel quem trouxe 
esse pensamento para o direito penal. 
Hans Welzel (1904-1977), catedrático da Universidade de Bonn na Alemanha, 
revolucionou alguns conceitos do direito penal, e tem seguidores até hoje. Para 
Welzel (1997, p. 1 e 2) "a missão do direito penal é proteger os valores 
elementares da vida em comunidade, ou seja, os bens jurídicos". Welzel (1997, 
p. 39) afirma que a ação humana é o exercício de uma atividade final. Assevera 
que o caráter final da ação, ou finalidade, se baseia na possibilidade do 
homem, graças a seu conhecimento causal, prever, dentro de certos limites, as 
consequências possíveis de sua atividade, e, assim, dirigi-la à consecução de 
seus fins. 
Segundo Luís Greco (2007, p. 8), para o finalismo “o homem age porque 
antecipa as consequências dos atos a que se propõe, e porque pode valer-se do 
conhecimento de que dispõe a respeito dos cursos causais para dirigi-los no 
sentido que lhe aprouver”. Nesse contexto, a ação teria um conceito pré-jurídico, 
ontologicamente determinado, existente antes da valoração humana e por isso 
precedente à valoração jurídica. Podemos citar as principais características do 
finalismo: 
 
O dolo Que nas teorias anteriores compunha a culpabilidade, agora compõe o tipo penal. 
A ilicitude É a contradição de uma realização típica com o ordenamento jurídico em seu conjunto. 
A culpabilidade Excluídos dolo e culpa, passa a exercer apenas o juízo de censura. Fazem parte desta a análise da imputabilidade, da consciência 
da ilicitude e da exigibilidade de conduta diversa. 
 
 
Roxin (2008, p. 56 e 60) aponta como principais avanços do finalismo “o 
descobrimento do desvalor da ação enquanto um elemento constitutivo do 
injusto penal, e para a delimitação da culpabilidade”; e o dolo como componente 
do tipo. Porém, o autor (2008, p. 57) também critica esse sistema afirmando que 
“hoje não mais se contesta que a existência empírica da omissão, da culpa e da 
omissão culposa não podem ser explicadas através da finalidade”. 
Discutindo a relação entre dados empíricos e normativismo, Roxin (2008, p. 63) 
compara a sua teoria ao finalismo, e propõe “uma dogmática plena de dados 
empíricos, que se ocupa das realidades da vida de modo muito mais cuidadoso 
que um finalismo concentrado em estruturas lógico-reais um tanto abstratas”. 
Complementa afirmando que “o parâmetro de decisão político-criminal, que 
seleciona e ordena os dados empíricos jurídicos penalmente relevantes, tem 
preponderância”. Assim, “normativismo e referência empírica não são métodos 
que se excluem mutuamente, mas eles se completam”. 
Figueiredo Dias (2007, p. 246) é incisivo em sua crítica ao finalismo. Para ele o 
“pretenso ontologismo” que estaria na base do sistema, com o escopo de torná-
lo um sistema imutável, válido para todos os lugares e atemporal, acabou 
resultando em um conceitualismo inflexível, sem deixar margens para a política 
criminal. Segundo o autor “tudo residiria afinal e só em determinar as estruturas 
lógico-materiais ínsitas nos conceitos usados pelo legislador, e a partir delas 
deduzir a regulamentação ou a solução aplicáveis ao caso”. 
Pelo exposto, como salienta Figueiredo Dias (2007, p. 246), essa postura não 
seria capaz de evitar a repetição de erros passados. Pois, não difere muito do 
“velho direito natural clássico, ao preencher os conceitos do direito positivo com 
os conteúdos considerados normativamente mais corretos, para em seguida os 
deduzir do corpo do direito natural e os apresentar assim como vinculantes e 
livres de discussão”. 
5.4 Sistema funcionalista 
O estudo do funcionalismo no Brasil é baseado especialmente em dois autores 
alemães. Claus Roxin, que desenvolveu a sistemática funcional teleológica e 
Günther Jakobs, que criou o funcionalismo sistêmico. 
Roxin, que entende que a missão do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos, 
aproxima o direito penal da política criminal. Ele desenvolve e sistematiza as 
distintas categorias da teoria do delito partindo do prisma de sua função político 
criminal (Bitencourt; Muñoz Conde, 2004, p. 10 e 11). O conteúdo da tipicidade 
deixa de ser a ação para abraçar os fins do ordenamento jurídico. Jakobs, a seu 
turno, entende que a missão do Direito Penal é a proteção da norma penal. 
Assim, toda construção jurídico-penal deve ter como função resguardar este 
mister do Direito Penal. 
Ambos os autores também defendem a teoria da imputação objetiva. Para Roxin 
(2008, p. 80) “a imputação objetiva, ao considerar a ação típica uma realização 
de um risco não permitido dentro do alcance do tipo, estrutura o ilícito à luz da 
função do Direito Penal”, que seria “defender o indivíduo e a sociedade contra 
riscos sócio-politicamente intoleráveis”. A ideia do risco, segundo entendimento 
de Roxin (2008, p. 81), “possibilita e favorece a introdução de questionamentos 
políticos-criminais e empíricos, e faz com que a dogmática, encerrada em seu 
edifício conceitual pelas anteriores concepções do sistema, se abra para a 
realidade”. 
6 O Direito penal e o Estado 
Democrático de Direito 
O Direito penal pode ser estruturado sob diferentes perspectivas, dependendo 
da organização política do Estado. Se se trata de um Estado totalitário, ditatorial, 
o direito penal será seu maior reflexo, baseado na força e na violência, sem 
conceder direitos ou garantias aos seus cidadãos. Já o direito penal presentenum estado democrático de direito, atuará como instrumento de controle 
social legitimado e limitado, protegendo os bens jurídicos fundamentais. 
Fazendo uma breve análise histórica, constata-se um desenvolvimento 
significativo na ciência penal. Superados os regimes absolutistas, com a 
presença marcante da inquisição, há o advento do direito moderno, pós 
revolução francesa, baseado no princípio da legalidade. É o Estado 
Legislativo de Direito. 
Para a sociedade daquela época uma norma jurídica não era válida por ser justa, 
mas por ser oriunda de um poder legítimo. Nesse positivismo extremo, a lei era 
vista como a expressão da vontade popular, sendo o legislador insuscetível de 
controle. Porém, após o término da segunda guerra mundial, restou evidente que 
esse sistema era falho, pois havia legitimado a barbárie dos 
estados nazista e fascista. 
Foram então promulgadas normas paradigmáticas, como a Lei Fundamental 
Alemã de 1949 e a Constituição da Itália de 1947. A partir desse momento a 
validade das leis já não depende apenas da legitimidade formal do processo 
legislativo, mas seu conteúdo deve subordinar-se à orientação constitucional. 
Nesse contexto, na década de 1970 um “‘novo’ modelo normativo de garantia 
aos direitos sociais, civis e políticos é lapidado na Itália como sinônimo de Estado 
constitucional democrático”. Nascia o garantismo, tendo como maior 
expoente Luigi Ferrajoli. “O autor, num modelo de ‘direito penal mínimo’, limita 
a atuação punitiva estatal, tanto na cominação, quanto na aplicação da pena, 
visando consagrar o direito de liberdade dos indivíduos” (Martinelli; Bem, 2018, 
p. 74). 
6.1 Direito penal e Direito constitucional no 
Brasil 
No Brasil, o Estado Democrático de Direito surge apenas na década de 80, 
com o advento da Constituição Federal de 1988. Esse modelo político 
determina que toda a atividade estatal (legislativa, judicial e administrativa) seja 
“sempre vinculada axiomaticamente pelos princípios constitucionais explícitos e 
implícitos” (Bitencourt, 2018, p. 69-70). 
Hoje, pela relevância de sua função, o legislador não está isento de 
responsabilidades e é obrigado a obedecer a requisitos de aspecto formal e 
material no exercício da função legislativa, sobretudo no processo de criação das 
leis penais. Por sua vez, o judiciário também só pode atuar respeitando a 
Constituição Federal (art. 5º, XXXVII e s., CF) e os princípios do Estado 
Democrático de Direito. 
Por mais grave e abjeto que seja um crime, o juiz não poderá impor uma pena 
perpétua. Tampouco pode o legislador apenar alguma conduta com a pena de 
morte. Pois, ambas as penas são vedadas pela Constituição Federal (art. 5º, 
XLVII, a e b). 
6.2 Princípios 
A seguir encontram-se os principais penais mais relevantes, todos amparados 
pela Constituição Federal de 1988. 
6.2.1 Princípio da legalidade e reserva legal 
O princípio da legalidade está fundamentado no art. 5º, XXXIX, da 
Constituição Federal: “não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal”. Este princípio determina que nenhum 
fato "poderá ser considerado crime e nenhuma pena criminal poderá ser aplicada 
sem que antes exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção 
correspondente. A lei deve definir a conduta proibida de forma clara e precisa" 
(Bitencourt, 2018, p. 53). O princípio da reserva legal está pautado no art. 22, 
I, da Constituição Federal, que determina que compete privativamente à União 
legislar sobre matéria penal. Ou seja, apenas lei federal pode criar um tipo penal. 
Nenhum crime pode ser previsto pelo presidente da república, por meio de 
medida provisória, ou por meio de um decreto estatal ou municipal. Esses 
princípios atuam como uma limitação ao poder punitivo estatal. Pois, uma pessoa 
só poderá ser processada e punida com fundamento em leis elaboradas de 
forma válida. 
6.2.2 Princípio da culpabilidade 
O princípio da culpabilidade prevê que ninguém poderá responder penalmente 
por um resultado lesivo se não agiu com dolo ou culpa. A existência de nexo 
causal entre a conduta do agente e o resultado lesivo não é suficiente para a 
responsabilidade penal. Ou seja, não se admite a responsabilidade objetiva na 
seara penal, qual seja, a responsabilidade individual que independe de dolo ou 
culpa. (Martinelli, Bem, 2018, p. 458). 
6.2.3 Princípio da dignidade da pessoa 
humana 
A Constituição Federal determina que a dignidade da pessoa humana é um 
princípio fundamental da ordem jurídica nacional (art. 1º, III). Dessa forma, o 
estado brasileiro não pode prever penas que firam a dignidade humana (art. 5º, 
XLVII e XLIX, da CF). Segundo Bitencourt, (2018, p. 73), o princípio de 
humanidade do direito penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e 
da prisão perpétua. Além disso, “nenhuma pena privativa de liberdade pode ter 
uma finalidade que atente contra a incolumidade da pessoa como ser social, o 
que violaria flagrantemente o princípio da dignidade humana, postulado 
fundamental da Carta da República” (op. cit., p. 75). 
6.2.4 Princípio da intervenção mínima 
O Direito penal, por ser a forma mais grave de intervenção na liberdade do 
indivíduo, deve ser aplicado apenas como ultima ratio, ou seja, quando 
imprescindível. Desta forma, o princípio da intervenção mínima limita o poder 
incriminador estatal determinando que a criminalização de uma conduta só se 
legitima se constituir meio idôneo para a prevenção de ataques contra bens 
jurídicos relevantes (Bitencourt, 2018, p. 56). Vale dizer, quando o controle social 
não puder ser feito por outro ramo do direito, como o civil ou o administrativo. 
6.2.4.1 Princípio da fragmentariedade 
O princípio da fragmentariedade decorre do princípio da intervenção mínima. 
Segundo este princípio devem ser protegidos penalmente apenas certos bens 
jurídicos e, ainda assim, contra determinadas formas de agressão (Toledo, 2002, 
p. 17). Para Bitencourt (2018, p. 57), “o Direito Penal limita-se a castigar as ações 
mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes, decorrendo 
daí o seu caráter fragmentário, uma vez que se ocupa somente de uma parte 
dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica”. 
6.2.5 Princípio da lesividade ou ofensividade 
O princípio da ofensividade determina que só há crime quando o bem jurídico-
penal sofre “pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano” 
(Bitencourt, p. 64). Esse princípio não se destina apenas ao legislador, mas, 
especialmente ao magistrado. Cabe a este avaliar se houve efetiva lesão ou 
perigo concreto de lesão ao bem jurídico. 
6.2.6 Princípio da proporcionalidade 
Como reminiscências do princípio da proporcionalidade pode-se citar a 
conhecida lei do talião. O exemplo mais famoso desse tipo de norma é o Código 
de Hamurabi, Babilônia, 2.083 a.C. O princípio da 
proporcionalidade contemporâneo fundamenta-se na necessidade da 
ponderação entre a norma penal restritiva da liberdade e o bem jurídico a ser 
tutelado por ela, pois há dois direitos igualmente fundamentais que se 
enfrentam. O quantum da pena indica o grau de importância que os diversos 
bens jurídicos tutelados penalmente têm no ordenamento jurídico. 
 
6.2.7 Princípio da adequação social 
O princípio da adequação social dispõe que não se pode punir o sujeito que 
atua de maneira socialmente adequada (Martinelli; Bem, 2018, p. 255). Pois, 
esse tipo de conduta não se reveste de tipicidade e, por isso, não pode constituir 
delito (Bitencourt, 2018, p. 59). A título ilustrativo, a doutrina cita como exemplo 
a perfuração de orelhas de crianças, a realização de tatuagem ou 
o topless durante o carnaval (Martinelli; Bem, 2018, p. 257). 
6.2.8 Princípio da insignificância 
O princípio da insignificância deve ser analisado em conjunto com outros 
princípios, como o da fragmentariedade e da intervenção mínima, com o objetivo 
de afastar a tipicidade penal. Do ponto de vista formal, há condutas que se 
adequam perfeitamente a determinado tipo penal.Porém, não apresentam 
qualquer relevância no aspecto material. Há, nesses casos, exclusão da 
tipicidade, pois o bem jurídico-penal não chegou a ser lesado (Bitencourt, 2018, 
p. 63-64). Um exemplo clássico é o furto de algum alimento. Pois, deve haver 
proporcionalidade entre a conduta a ser punida e a pena a ser aplicada. 
7 Fins e objetivos do direito penal 
O direito penal é uma forma de controle social, e se faz através proteção de 
bens jurídicos. Porém, por representar a forma mais agressiva de atuação do 
direito, só deve intervir quando absolutamente imperioso, ou seja, como ultima 
ratio. 
A sociedade atual caracteriza-se por um intenso processo de modernização que 
gerou uma complexidade social sem precedentes. Pode-se citar o surgimento de 
direitos difusos e coletivos, o incremento da violência, o crime organizado 
transnacional, crimes de perigo abstrato etc. Esses fenômenos geram uma 
grave sensação de insegurança na população, que cobra do poder público o 
endurecimento do direito penal. Essa nova realidade traz imensos desafios ao 
legislador penal, que necessita encontrar um ponto de equilíbrio entre a tutela 
penal dos bens jurídicos sem olvidar o respeito à dignidade humana. 
Contudo, o que se vê no Brasil é um Poder Legislativo desorientado. Ao lado de 
normas rígidas como a Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90), há a Lei dos 
Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95) e a Lei das Penas Alternativas (Lei n. 
9.714/98). 
Há, assim, com um emaranhado de normas penais orientadas por concepções 
teóricas contraditórias, adotadas sem planejamento, sendo impossível identificar 
um escopo comum que lhes confira harmonia. 
O que se mostra evidente é que quando há clamor público, o legislador se 
apressa em tipificar novas condutas e agravar sanções já existentes. Trata-se, 
muitas vezes, de um Direito penal meramente simbólico. Porém, o estudante 
de Direito deve ter em conta que a norma penal deve ser idônea para atingir seus 
fins e a menos gravosa possível, devendo respeitar a proporcionalidade entre o 
bem jurídico tutelado e a intervenção trazida pela norma penal incriminadora. 
 
7.1 Bem jurídico penal: conceito e funções 
Francisco de Assis Toledo (2002, p. 16) define bens jurídicos como “valores 
ético-sociais que o direito seleciona, com o objetivo de assegurar a paz social, e 
coloca sob sua proteção para que não sejam expostos a perigo de ataque ou a 
lesões efetivas”. De forma sintética pode-se conceituar bem jurídico-penal como 
o objeto da tutela do Direito penal. Para que um bem jurídico seja tutelado pelo 
direito penal deve respeitar o seguinte binômio: efetivo exercício do controle 
social x respeito a princípios limitadores. 
Ainda neste passo, pode-se afirmar que devem ser tutelados apenas os bens 
jurídicos que tutelem valores fundamentais para a convivência social, não 
abrangendo valores de ordem estritamente moral, ética ou religiosa. Além da 
relevância, deve-se levar em conta o caráter subsidiário do Direito Penal. Se 
o bem puder ser protegido de forma adequada pelos outros ramos do direito, não 
deve ser objeto de tutela penal. Para exemplificar, pode-se citar o adultério, que 
até 2005 figurava como crime, previsto no art. 240 do Código Penal. Porém, 
trata-se de questão que pode ser resolvida no âmbito do Direito civil, sem a 
necessidade da intervenção penal. 
8 Direito penal e as ciências 
auxiliares 
O direito penal é uma ciência normativa, pois tem como objeto o estudo da 
norma. Há outras ciências que orbitam a dogmática jurídico-penal. Vejamos: 
 
Criminologia 
Ciência causal-explicativa que se preocupa com a análise da gênese do crime, das causas da criminalidade, numa interação entre 
crime, homem e sociedade. (Bitencourt, 2018, p. 40). A criminologia abrange a antropologia criminal (Lombroso), a sociologia 
criminal (Ferri) e a vitimologia (Mendelsohn). São ciências autônomas, mas intimamente ligadas ao direito penal, pelo menos 
para a finalidade a que se dirige sua atividade teórica (Martinelli; Bem, 2018, p. 92). 
Política criminal 
Ciência crítica que dispõe sobre o fundamento jurídico e os fins do poder de punir, bem como sobre o controle de suas 
consequências. (Martinelli, p. 92). 
Medicina legal e 
criminalística 
Áreas que auxiliam na esclarecimento dos crimes. 
Psiquiatria forense 
Estuda as doenças e as perturbações mentais e suas consequências, bem como investiga a motivação dos agentes na seara 
criminosa. 
 
 
 
O STF definiu os requisitos para a aplicação da insignificância no caso 
concreto: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente; (b) a nenhuma 
periculosidade social da ação; (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do 
comportamento; e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (Confira o 
acórdão completo: RHC n. 122.464 AGR/BA, rel. Min. Celso de Mello, DJ 10-6-
2014). Além dos direitos e garantias penais previstos na Constituição 
Federal, são aplicáveis no país tratados internacionais (art. 5º, §§ 2º a 4º, da 
CF), como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948); a Convenção 
Americana de Direitos Humanos (1969) e o Estatuto de Roma do Tribunal 
Penal Internacional (1998). 
 
É ISSO AÍ! 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de: 
 a missão do direito penal no estado democrático de direito é atuar como 
instrumento de controle social legitimado e limitado, protegendo os bens 
jurídicos fundamentais; 
 Cesare Beccaria é o expoente do período humanitário. O autor publicou em 
1764 a obra Dos delitos e das penas, que é um marco no direito penal, pois 
visava romper com o direito baseado em suplícios e no arbítrio dos reis; 
 o conceito analítico dispõe sobre os elementos estruturais do crime, que 
são: fato típico + ilicitude (ou antijuridicidade) + culpabilidade; 
 o princípio da legalidade está fundamentado no art. 5º, XXXIX, da 
Constituição Federal e determina que “não haverá crime sem lei anterior que o 
defina, nem pena sem prévia cominação legal”; 
 o estudo do funcionalismo no Brasil é baseado especialmente em dois autores 
alemães. Claus Roxin, que desenvolveu a sistemática funcional teleológica e 
Günther Jakobs, que criou o funcionalismo sistêmico. 
Unidade 2 
 
1 Teoria da lei penal 
A lei penal possui uma estrutura, que é composta por por um preceito primário e 
também por um preceito secundário. O preceito primário é a parte da lei que 
define a conduta criminosa, já o preceito secundário estabelece a pena para 
aquela conduta. Veja o caso da lesão corporal no Código Penal: “Art. 129. 
Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três 
meses a um ano”. Nesse caso, obedecendo a estrutura, temos o preceito 
primário no caput e o preceito secundário com a pena de detenção. 
 
O Brasil se filiou ao sistema de proibição indireta. Nesse sistema, a lei penal é 
sempre descritiva e não proibitiva. Quando o artigo 121 do Código Penal diz 
"matar alguém", a proibição é implícita, indireta. 
1.2 Fontes do Direito Penal 
Dizem respeito à criação e manifestação do Direito Penal. As fontes de criação 
são chamadas de fontes materiais do Direito Penal, enquanto as fontes de 
aplicação são as formais. 
 
 Materiais 
São os órgãos encarregados de criar, de produzir, o Direito Penal. São 
competências da União, segundo o artigo 22, I, "legislar sobre: I - direito civil, 
comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e 
do trabalho". A competência exclusiva é indelegável, já a privativa pode ser 
delegada. E é competência dos Estados, segundo o mesmo atigo, § único, "Lei 
complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas 
das matérias relacionadas neste artigo". 
 Formais 
Dizem respeito à aplicação do Direito Penal. Imediatas (sem mediação, diretas): 
só a lei, pois somente a lei pode criar crimes e cominar penas pelo princípio da 
reserva legal. Mediatas (secundárias): costumes, princípios gerais do direito; 
atos administrativos, doutrina, jurisprudência,tratados internacionais. 
 
 
2 Tempo e lugar do crime 
Tanto para o tempo como para o lugar do crime, existem as teorias da atividade, 
do resultado e da ubiquidade/mista. 
 
 
Para memorizar as teorias adotadas no Brasil para o tempo e o lugar do crime, 
lembre-se da palavra LUTA e então tenha em mente as letras separadamente, 
formando novas palavras: Lugar, Ubiquidade, Tempo e Atividade. 
 
2.1 Tempo do crime 
O Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade quando trata do tempo do 
crime, conforme o artigo 4º, que diz que “considera-se praticado o crime no 
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.” A 
adoção da teoria da atividade tem algumas repercussões. Aplica-se a lei penal 
que era vigente no momento da conduta, exceto nas situações em que a 
legislação elaborada posteriormente for mais favorável ao agente. Outra 
repercussão da teoria da atividade é que a imputabilidade do agente deve ser 
analisada no tempo da conduta. Isso levanta a discussão a respeito da 
inimputabilidade, do crime permanente e da superveniência da maioridade 
penal. 
O crime permanente ocorre quando a consumação se prolonga no tempo por 
meio de atos da vontade do agente. O agente, ao longo do tempo, de forma 
deliberada, mantém a situação contrária à previsão legal. Nesses crimes, a 
prisão em flagrante é possível a qualquer tempo, enquanto durar essa 
permanência de atitudes do agente. É o exemplo do artigo 159 do Código Penal, 
que vigora que “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, 
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Pena - reclusão, de 
oito a quinze anos”. Trata-se de crime permanente, que se consuma com a 
privação da liberdade da vítima. Existe, ainda, a hipótese do artigo 71 do Código: 
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes 
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras 
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, 
aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, 
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. 
Trata-se de uma ficção jurídica, uma solução para o crime que é composto por 
vários crimes numa séria continuada, mas em que cada crime é independente e 
autônomo. Para aplicar a pena, o Código Penal considera todos como um único 
crime. A importante jurisprudência, na súmula 711 do STJ, trata sobre o tema: 
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua 
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. O próprio 
embargante reconhece que a causa dessa decisão foi a "existência de cinco crimes de 
corrupção ativa, praticados em continuidade delitiva e parcialmente na vigência da nova 
Lei". Portanto, está bem compreendido o fundamento do acórdão, que, aliás, está bem 
ancorado na Súmula 711 desta Corte (A lei penal mais grave aplica-se ao crime 
continuado ou ao crime permanente, se a vigência é anterior à cessão da continuidade 
ou da permanência). Esta também é a inteligência do art. 71 do Código Penal, que trata 
da regra a ser aplicada, pelo órgão julgador, da ficção jurídica da continuidade delitiva. 
A súmula se aplica tanto para os crimes continuados quanto para os crimes 
permanentes. Importante salientar que o Código Penal adotou a teoria do 
resultado (art. 111, I, CP) quanto à prescrição: “A prescrição, antes de transitar 
em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se 
consumou”. É o início da prescrição da pretensão punitiva, ou seja, o dia em que 
o crime se consumou que começa a contagem da prescrição do direito de punir. 
2.2 Lugar do crime 
O Código Penal brasileiro escolheu a teoria da ubiquidade em seu artigo 6º: 
“Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no 
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o 
resultado.” O lugar do crime é o lugar da ação ou omissão e também o lugar do 
resultado. 
Essa teoria se aplica aos chamados crimes a distância, que são aqueles que 
envolvem países diversos. É o caso em que a conduta foi praticada em um 
determinado país e o resultado ocorreu em um país diverso (não se aplica a 
cidades diversas de um mesmo país). É uma questão que diz respeito ao 
assunto da soberania do Estado e não da competência jurisdicional. 
Vale lembrar que o chamado Bis in idem não é admitido, ou seja, não se permite 
a dupla punição por um único fato. O agente nos crimes a distância pode ser 
processado e condenado em dois países. O agente pode inclusive cumprir pena 
nos dois países. O bis in idem será evitado utilizando o artigo 8º: “A pena 
cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, 
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”. Dessa forma, o 
agente duplamente condenado em dois países pelo mesmo fato, terá pena 
atenuada no Brasil. 
 
Como já vimos, os chamados crimes a distância envolvem países diferentes, 
sendo relacionados à própria soberania dos Estados. São diferentes dos 
chamados crimes plurilocais, que acontecem em comarcas diversas de um 
mesmo país, envolvendo a competência. 
2.3 Lei penal no espaço 
Entender como se aplica a lei penal no espaço é entender o próprio campo de 
validade da lei penal, o seu âmbito de incidência. A regra geral está no artigo 5º 
do Código Penal: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, 
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território 
nacional”. Trata-se da territorialidade, ou seja, será a aplicada a lei brasileira 
àqueles crimes que forem cometidos no Brasil. Existem exceções a essa regra 
geral, que são as chamadas hipóteses de extraterritorialidade, previstas no artigo 
7º do Código Penal. Como existem essas exceções, no Brasil se fala em 
territorialidade mitigada. As exceções à regra da territorialidade aparecem nos 
casos de aplicação da lei brasileira a crimes cometidos no exterior. 
É importante ressaltar alguns aspectos que surgem a partir das exceções à 
territorialidade: 
 
O primeiro deles é em relação à personalidade, ou nacionalidade, do agente ou 
vítima. Subdivide-se em personalidade ativa e personalidade passiva. 
Na personalidade ativa, tratamos dos crimes praticados por autor brasileiro no 
estrangeiro. O agente é punido conforme a previsão da lei brasileira, 
independentemente da nacionalidade do sujeito passivo (a vítima) e do bem 
juridicamente tutelado que foi ofendido no caso concreto. Na personalidade 
passiva, tratamos dos crimes cometidos contra vítima brasileira, como previsto 
no artigo 7º, §3º, CP. 
 
O segundo ponto a se ressaltar, relativamente à extraterritorialidade, é o 
domicílio. O autor de um crime deve ser julgado pela lei do país em que tiver 
domicílio, não importando a sua origem ou nacionalidade, conforme previsão 
legal do artigo 7º, I, “d”, CP 
 
 
O terceiro ponto é o chamado Princípio da Defesa Real ou da Proteção, que 
permite a lei brasileira seja aplicada mesmo a crimes praticados no exterior. 
Quando ofendem os bens jurídicos brasileiros, independentemente da origem 
do agente do crime e do local onde esse crime tenha sido praticado. Previsão: 
artigo 7º, I, “a”, “b” e “c”, CP. 
O quarto aspecto é o Princípio da Justiça Universal, que se relaciona com a 
cooperação penal internacional. Todo e qualquer Estado tem o direito de punir 
os autores de crimes que estejam em seus territórios, como previsto pelos 
acordos e as convenções ou tratados internacionais, qualquer que seja a 
nacionalidade do agente, o lugar do crime ou do bem jurídico atingido pelo 
delito. É um dever de todos, pautado na solidariedade ao combate de crimes 
que interessam a todos os povos, como o tráfico de pessoas, por exemplo. A 
previsão do princípio está no artigo 7º, II, “a”, CP. 
Por fim, o Princípio da Representação ou Bandeira trata da aplicação da lei 
brasileira a crimes cometidos em aeronaves ouembarcações brasileiras, 
mercantes ou de propriedade privada, quando estiverem em território 
estrangeiro e não forem julgados nos respectivos países. É a previsão do artigo 
7º, II, “c”, CP. Vale lembrar que, se estas aeronaves ou embarcações estiverem 
no Brasil, o que vale é o princípio da territorialidade. Importante ressaltar que 
se a aeronave ou embarcação for pública ou estiver a serviço do governo 
brasileiro, elas são territórios brasileiros por extensão (art. 5º, §1º, CP), e então 
também se aplica o princípio da territorialidade. 
 
Desse modo, entendemos a extraterritorialidade como a aplicação a lei brasileira 
a crimes praticados no exterior. Não existe extraterritorialidade em 
contravenções penais (art. 2º, DL 3688/41). Divide-se em incondicionada e 
condicionada. A incondicionada não depende de nenhuma condição. A simples 
prática do delito no exterior já autoriza a aplicação da lei brasileira. Hipóteses do 
artigo 7º do Código Penal: 
Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia 
ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. 
A condicionada, por sua vez, depende de condições cumulativas, previstas no 
art. 7º, §2º e §3º, CP: 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade 
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272738_1/index.html#carousel_0
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272738_1/index.html#carousel_0
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que 
absolvido ou condenado no estrangeiro. 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das 
seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta 
a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
Precisamos entender também os efeitos gerados por uma sentença estrangeira. 
O artigo 9º do Código prevê hipóteses em que uma sentença estrangeira precisa 
ser homologada no Brasil para produzir efeitos jurídicos. Segundo o STF, na 
súmula 420, "não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do 
trânsito em julgado". É tão importante a sentença estrangeira, que pode ser 
considerada reincidência. Para que a sentença estrangeira configure a 
reincidência no Brasil, ela não precisa ser homologada, mas apenas ter 
transitado em julgado (art. 63, CP). A homologação de sentença estrangeira é 
matéria de competência do STJ conforme estabelecido pelo artigo 105, I, “i”, CR. 
Antes da EC 45/2004 a competência era do STF. 
3 Princípio da proibição do bis in 
idem 
Non bis in idem é a expressão do latim que veda a dupla punição pelo mesmo 
fato: ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. O STJ tratou do 
assunto na súmula 241: "A reincidência penal não pode ser considerada como 
circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância 
judicial.". Explicando melhor a súmula: se o sujeito só apresenta uma única 
condenação anterior é caso de reincidência e não pode ser usada a condenação 
simultaneamente como circunstância judicial desfavorável. 
4 Princípio da insignificância 
O que é insignificante não deve ser objeto do Direito Penal. A natureza jurídica 
do princípio da significância, ou seja, sua razão de ser jurídica, é de causa de 
exclusão da tipicidade penal de maneira considerada supralegal, já que não tem 
previsão legal, está acima das leis. Para o princípio da insignificância, o fato 
ocorrido apresenta a chamada tipicidade formal, entretanto, não há tipicidade 
material quando analisamos o fato. A tipicidade é considerada formal, quando se 
trata do juízo de adequação entre o fato e a norma (se o fato praticado na vida 
real se amolda ao modelo descrito na lei penal). A tipicidade material é uma 
análise que leva em conta a lesão ou o perigo de lesão a um bem jurídico naquele 
caso concreto. 
No princípio da insignificância, o fato apresenta tipicidade formal, entretanto não 
há tipicidade material. O princípio da insignificância propõe uma interpretação 
mais restritiva da lei penal, menos ampla, como uma forma de realmente utilizar 
a lei penal em último caso. O princípio da insignificância apresenta dois tipos de 
requisitos. Conheça-os clicando nos cards abaixo: 
 
Princípios objetivos: dizem respeito ao fato praticado 
Princípios subjetivos: dizem respeito ao agente e a vítima. 
O princípio da insignificância tem requisitos considerados objetivos, como 
a mínima ofensividade da conduta, ou seja, a ofensa ao bem jurídico deve ter 
sido a menor possível. Outro requisito é a ausência de periculosidade social 
da ação, não gerando riscos maiores à sociedade. Também é requisito objetivo 
para aplicação do princípio da insignificância o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento, que, em outras palavras, não deve ser 
um comportamento arriscado e cruel, mas sim minimamente reprovável. Por fim, 
há o requisito da inexpressividade da lesão jurídica, que quer dizer que o fato 
deve ter poucas consequências para o bem jurídico protegido. Todos esses 
requisitos devem ser avaliados no caso concreto sempre, ou seja, caso a caso. 
Os requisitos subjetivos, por sua vez, dizem respeito à importância do bem 
para a vítima (econômica e sentimental) e condições do agente. O princípio 
da insignificância é aplicável a todo e qualquer crime, seja ele compatível, e não 
somente aos crimes patrimoniais. Os crimes de natureza tributária, como o 
descaminho, por exemplo, têm aplicação do princípio da insignificância para 
certos valores. Existem crimes incompatíveis com o princípio da insignificância, 
como os crimes contra a vida, roubo ou crimes praticados com violência ou grave 
ameaça, crimes sexuais, crimes militares. O princípio da insignificância pode ser 
reconhecido somente pelo juiz segundo o STJ, não cabendo a valoração pela 
autoridade policial. 
5 Lei penal no tempo 
Entender a aplicação da lei penal começa por entender o princípio da 
continuidade das leis. Por esse princípio, estabelece-se que lei só é revogada 
por outra lei. Decisão judicial e controle de constitucionalidade não são capazes 
de revogar leis. O chamado conflito de leis penais no tempo se verifica quando 
uma lei é revogada. O Direito Penal intertemporal tem regras para solucionar o 
conflito. A regra geral é do tempus regit actum: o tempo rege a ação. Aplica-se 
a lei penal que estava em vigor no momento em que o fato foi praticado. É um 
desdobramento do princípio da anterioridade do Direito Penal e do princípio da 
legalidade. A retroavidade benéfica é uma exceção prevista no artigo 5º, XL, da 
Constituição: 
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
e também no artigo 2o do Código Penal: 
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando 
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentençacondenatória. 
Pode ocorrer a retroatividade benéfica em duas situações: abolitio 
criminis e novatio legis in mellius. Vejamos as características de cada uma delas: 
 
 
Abolitio criminis 
É uma causa extintiva da punibilidade (art. 107, III, CP). Esta opção do CP é criticada pela doutrina, pois, na verdade, a abolitio, 
muito mais do que uma causa de excludente de punibilidade, deveria ser causa extintiva da tipicidade, o crime deixa de existir, o 
fato deixa de ser típico no Direito Penal. 
A abolitio apaga todos os efeitos penais de eventual sentença condenatória já proferida (exemplo: reincidência). Entretanto, 
subsistem os efeitos extrapenais como a obrigação de reparar o dano causado, por exemplo). Além disso, ela depende 
da revogação formal do tipo penal (casos em que o tipo penal deixa de existir; e da supressão material do fato criminoso (casos em 
que o fato deixa de ter relevância penal, deixando de constituir crime, de interessar ao Direito Penal). 
Novatio legis in 
mellius 
Também chamada lex mitior, é uma nova lei que favorece o agente. A lei penal mais favorável deve ser examinada no caso concreto. 
É a chamada, também, de teoria da ponderação concreta. 
 
 
Tanto nos casos de abolitio criminis como novatio legis, podemos considerar os 
seguintes aspectos: 
 
A retroatividade benéfica é automática, dispensa cláusula expressa. A nova lei 
não precisa dizer que é benéfica e, portanto, retroativa. Isso é extraído da 
interpretação do caso concreto. 
A lei penal benéfica alcança inclusive os fatos já definitivamente julgados. Em 
outras palavras, o trânsito em julgado não é obstáculo à retroatividade 
benéfica. 
A competência para aplicação da lei penal benéfica depende do momento em 
que se encontra a persecução penal. 
 
6 Lei penal temporária e lei penal 
excepcional 
Disciplinadas pelo art. 3º, Código Penal, que diz que "a lei excepcional ou 
temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as 
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua 
vigência". Lei penal temporária é aquela que tem um “prazo de validade”, uma 
vigência predeterminada no tempo. Um exemplo foi a Lei 12663/12, que foi a lei 
geral da copa do mundo de 2014. Já a lei penal excepcional é aquela que vigora 
somente em uma situação de anormalidade. 
Essas leis penais são autorrevogáveis, independentemente de outra lei. Findado 
o prazo ou a situação excepcional, a lei está revogada. Por isso, também são 
chamadas de leis penais intermitentes. Essas leis também são dotadas de 
ultratividade, continuam aplicáveis mesmo depois de revogadas. O fundamento 
dessa ultratividade é evitar que manobras protelatórias levem à impunidade dos 
réus. 
7 Lei penal em branco 
Também é chamada de lei penal cega ou lei penal aberta. Conforme 
estudamos, a lei penal incriminadora é composta de preceito primário (definição 
da conduta criminosa) e preceito secundário (pena cominada). Na lei penal em 
branco, o preceito secundário é completo, em outras palavras, a pena foi 
devidamente cominada pelo legislador. Porém, o preceito primário é incompleto, 
ou seja, a conduta criminosa depende de complementação. 
 
A semelhança entre a lei penal em branco e o tipo penal aberto é que ambos 
são incompletos, precisando, dessa forma, de complementação. Já 
a diferença é que, na lei penal em branco, o complemento será uma outra lei 
(homogênea) ou um ato administrativo (heterogênea). No tipo penal aberto, o 
complemento será um juízo de valor, não está em lei ou ato administrativo, é 
extraído da valoração do caso concreto. 
8 Conflito aparente de leis penais 
É uma situação jurídica em que para um único fato relevante praticado, duas ou 
mais leis penais poderiam ser aplicadas. Esta matéria se relaciona com a 
interpretação da lei penal. Seus requisitos são: 
 Requisito 1 
Unidade de fato. 
 Requisito 2 
Pluralidade de leis aparentemente aplicáveis. 
 Requisito 3 
Vigência simultânea de todas elas. 
No conflito aparente de leis penais, todas as leis que parecem possíveis de 
serem aplicadas devem estar em vigor ao tempo do fato. No chamado conflito 
de leis no tempo, só uma dessas leis está em vigor. No conflito aparente, existe 
um único crime, o agente responde apenas por um crime, ele só praticou um 
fato. No concurso de crimes, existem vários delitos e o agente responde por 
todos eles. Vejamos suas finalidades: 
 Evitar o bis in idem. Se o agente praticou um único fato, ele só pode responder 
por um crime. Unidade de fato. 
 Manter a coerência do ordenamento jurídico como um todo. 
Unidade 3 
 
1 Correntes doutrinárias 
O conceito de crime é definido por três correntes doutrinárias: 
 Corrente bipartida 
Que entende o crime como fato típico e antijurídico. 
 Corrente tripartida 
Que entende o crime como fato típico, antijurídico e culpável. 
 Corrente quadripartida 
Crime como fato típico, antijurídico, culpável e punível. 
Independentemente da corrente doutrinária adotada, qualquer que seja o 
conceito de crime, a tipicidade é requisito central, já que faz parte da essência 
do crime. A tipicidade objetiva tem um campo formal, já que todo crime é descrito 
numa lei, possui uma forma prescrita. Existem quatro requisitos 
formais: conduta humana voluntária, resultado naturalístico (só nos crimes 
materiais, está no campo do que é físico, verificável, ex: morte), nexo de 
causalidade (entre a conduta e o resultado deve haver uma ligação) 
e adequação típica (descrito em lei, adequação do fato à lei). 
Já no campo material, a origem doutrinária dessa tipidicidade tem amparo 
doutrinário em Roxin e Zaffaroni. Roxin desenvolveu a chamada teoria da 
imputação objetiva. Zaffaroni desenvolveu a teoria da tipicidade conglobante. A 
tipicidade formal é antecedente lógico da tipicidade material. E só constatadas 
as duas passamos para a chamada verificação da teoria subjetiva. A tipicidade 
material envolve dois aspectos: 
 Juízo de valoração da conduta 
A conduta pertence à forma, mas no campo material, o juiz valora, a fim de saber 
se é conduta relevante ou não para fins de direito. 
 Juízo de verificação do resultado jurídico (ofensa 
ao bem jurídico) 
Não há crime sem ofensa ao bem jurídico, e esta ofensa pode se configurar de 
três maneiras: por meio de lesão , por perigo concreto ou por perigo abstrato 
real - perigo presumido não é admitido; no perigo abstrato real é necessária 
situação anormal que poderia atingir uma vítima, não é necessário vítima 
concreta). 
2 Teoria do crime 
O conceito de crime está sujeito a variações conforme os critérios adotados para 
essa definição. De acordo com o critério material, crime é conceituado como 
uma ação ou omissão humana que gera lesão ou expõe a perigo de lesão os 
chamados bens jurídicos penalmente protegidos. Esse conceito reforça o próprio 
princípio da reserva legal. O legislador não pode incriminar qualquer conduta 
mas apenas as condutas aptas a lesar ou colocar em perigo um bem jurídico. 
Vale lembrar que quanto à pessoa jurídica, a posição dominante na 
jurisprudência é a da possibilidade de responsabilização desde que conte com 
dois requisitos: previsão na Constituição Federal e regulamentação por lei 
ordinária. Atualmente no Brasil, a única hipótese admitida de responsabilidade 
penal da pessoa jurídica é em caso de crime ambiental. Tal responsabilização 
foi prevista no artigo 225, § 3º, CF/88: 
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
O conceito legal ou formal de crime propõe que crime é tudo aquilo que a lei 
disser que é crime. No artigo 1o da Lei de Introdução ao Código Penal está o 
conceito legal de crime no Brasil: 
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa;contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão 
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
Um conceito formal ou analítico de crime leva em conta a estrutura do crime, 
seus elementos estruturais. Há variações teóricas quanto ao conceito, em três 
correntes doutrinárias. 
 
 Teoria quadripartida Considera o crime fato típico, ilícito, culpável, antijurídico e punível. Não 
tem grandes expoentes atualmente, e é teoria criticada pelo fato de a punibilidade não ser 
elemento do crime. A punibilidade é consequência do crime, é efeito do crime. Surge com a 
prática do crime o direito do Estado de punir o agente. 
Teoria tripartida Considera o crime fato típico, ilícito e culpável. Se divide em teoria tripartida 
clássica (Nelson Hungria) ou tripartida finalista (Welzel). 
Teoria bipartida Crime como fato típico e ilícito. A culpabilidade é entendida como pressuposto 
de aplicação da pena. 
 
3 Elementos do crime 
3.1 Fato típico 
Independente da teoria adotada, fato típico é considerado elemento do crime. 
Fato típico acontece quando uma conduta humana está prevista em uma norma 
penal incriminadora. São requisitos do fato típico: conduta, resultado 
(naturalístico), relação de causalidade ou nexo causal e tipicidade. Esses quatro 
elementos só estarão reunidos simultaneamente nos crimes materiais 
consumados. Nesses crimes, o tipo penal contém conduta e resultado 
naturalístico e exige a produção deste último para sua consumação. 
Nos chamados crimes formais o tipo penal contém conduta e resultado 
naturalístico. Entretanto, nesses crimes, a tipificação penal dispensa o resultado 
naturalístico para considerar um crime consumado. Nos crimes de mera conduta 
o tipo penal apenas prevê uma conduta, sem tratar do resultado naturalístico. O 
ponto em comum entre um crime formal e um crime de mera conduta é que 
ambos são crimes sem resultado, não há exigência desse resultado, já que eles 
se consumam só com a prática da conduta. A diferença entre eles é que nos 
crimes formais o resultado naturalístico pode ocorrer, ainda que não seja 
necessário para ser considerado consumado. Com exceção dos crimes 
materiais consumados, todos os demais crimes, crimes formais, crimes de 
mera conduta e crimes tentados o fato típico só tem dois elementos: conduta e 
tipicidade. 
Assista aí 
Enriqueça seu conhecimento! Clique 
aqui: https://www.youtube.com/watch?v=8y4Kvr5c9lM&feature=emb_title 
https://www.youtube.com/watch?v=8y4Kvr5c9lM&feature=emb_title
3.2 Conduta 
Conduta é entendida como a ação ou omissão humana, que seja considerada 
consciente e voluntária, e que seja voltada a um fim. 
 
Ação e omissão 
Crimes praticados por ação são os chamados comissivos; e por omissão, 
omissivos. O agente que pratica um crime considerado comissivo, está indo 
contra uma norma proibitiva. Já nos crimes omissivos, a violação é de uma 
norma preceptiva (que ordena a realização de um comportamento). 
Consciente e voluntária 
Com a evolução histórica desse do conceito de conduta, dolo e culpa antes 
considerados como parte do conceito da culpabilidade foram transferidos para a 
conduta. 
Dirigida a um fim 
O fim é a prática de um crime ou mesmo de uma contravenção penal. 
Importante ressaltar que não existe crime sem que haja conduta. 
3.2.1 Formas de conduta 
São duas as formas de conduta: ação e omissão. 
Na ação, estamos diante dos crimes comissivos e a conduta é positiva, a conduta 
consiste em um fazer. A maioria dos crimes é comissivos. Já na omissão, os 
chamados crimes omissivos se dividem em omissivos próprios (puros) ou 
omissivos impróprios (espúrios ou comissivos por omissão). Nesses crimes, a 
conduta é uma inação, um não fazer, uma conduta negativa. 
Os crimes omissivos próprios (puros) são aqueles em que a omissão é descrita 
no próprio tipo penal, a redação do tipo apresenta uma conduta negativa. Um 
exemplo é o artigo 135 do Código Penal: 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Os crimes omissivos próprios são tidos como crimes comuns ou gerais pois 
podem ser praticados por qualquer pessoa, ou seja, qualquer pessoa pode ser 
o sujeito ativo, o agente, nos crimes chamados omissivos próprios. Estes crimes 
omissivos próprios não admitem tentativa pelo fato de serem crimes 
unissubisistente (conduta composta de um único ato, suficiente para a 
consumação). Se o crime é unissubisistente não há como dividir sua execução, 
o processo executório. Normalmente, são crimes de mera conduta. 
Nos crimes omissivos impróprios o tipo penal descreve uma ação, mas a falta de 
ação do agente que descumpre o seu dever leva à produção de um resultado 
naturalístico que lesa um bem juridicamente relevante, conforme o artigo 13, §2o, 
CP: 
Relevância da omissão 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para 
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de 
cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
Quando consideramos quem pode ser o sujeito ativo, os tipos penais requerem 
para os crimes omissivos impróprios uma situação fática ou jurídica diferenciada: 
só podem ser praticados por quem tem o dever de agir para evitar o resultado. 
Causas de exclusão da conduta: 
 
 Caso fortuito e força maior 
Acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, escapam do controle. O caso fortuito 
tem origem humana, como uma greve, por exemplo. Força maior tem origem na 
natureza, como uma forte tempestade. 
 Movimentos reflexos 
São reações fisiológicas decorrentes da provocação dos sentidos. Não existe 
conduta no movimento reflexo, já que neles falta vontade. 
 Coação física irresistível 
Fato atípico por exclusão da conduta. Trata-se de situação diferente da chamada 
coação moral irresistível, que é uma situação de inexigibilidade de conduta 
diversa (não se exigiria outra conduta no caso concreto) e, por isso, exclui a 
culpabilidade. Na coação física irresistível não há elemento de vontade. Na 
coação moral irresistível existe vontade, porém viciada pela coação. 
 Sonambulismo e hipnose 
Atos praticados em estado de inconsciência. 
 
3.2.2 Resultado 
Resultado é o desdobramento natural da conduta. A figura jurídica do resultado 
pode ser dividida em duas espécies: 
 
Juridico / normativo É a própria violação da norma penal, ofendendo ao bem jurídico 
protegido e relevante. Ex: homicídio. 
Material/ Naturalistico É o que acontece no mundo exterior como consequência da própria 
conduta do agente, podendo ser constatado no mundo real. Ex: pessoa está morta. 
3.2.3 Relação de causalidade ou nexo causal 
O artigo 13 do CP traz no seu texto a denominação relação de causalidade: 
Relação de causalidade 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a 
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado 
não teria ocorrido 
Trata-se de um vínculo entre a conduta e o resultado naturalístico 
consequente. A relação de causalidade é o vínculo que se estabelece entre a 
conduta realizada pelo agente e o resultado naturalístico no mundo real, sendo 
que o resultado é causado pela conduta. Só se aplica nos crimes materiais, já 
que só eles têm resultado naturalístico. 
3.2.4 Concausas 
Concorrência de causas ou concausa é quando uma outra causa, diferente e 
externa em relação à conduta do agente influi na produção do resultado 
naturalístico que o agente buscou. 
4 Tipicidade 
Assista aí 
4.1 Natureza jurídica da tipicidade 
A tipicidade é elemento do fato jurídico presente em todo e qualquer crime.Modernamente a tipicidade penal é a soma da tipicidade formal com a tipicidade 
material. A tipicidade formal é o juízo de subsunção, a adequação entre o fato e 
a norma. A tipicidade considerada material é aquela que trata da lesão ou o 
perigo de lesão ao bem jurídico penalmente protegido e relevante. 
Adequação típica é a tipicidade formal colocada em prática. Ela pode ser de 
duas espécies: imediata e mediata. Quando a adequação típica é imediata, ou 
de subordinação imediata, o fato se encaixa diretamente no tipo penal, não há 
necessidade de utilização de nenhuma outra norma (exemplo: homicídio 
consumado). 
Quando a adequação típica é mediata, ou de subordinação mediata (também 
chamada de adequação típica ampliada ou por extensão), o fato praticado pelo 
agente não se encaixa diretamente no tipo penal, há necessidade de utilização 
de outra norma. São as chamadas normas de extensão ou complementares da 
tipicidade. Elas são três: tentativa, participação e omissão penalmente relevante. 
4.2 Teoria do tipo 
Tipo é o um modelo abstrato proposto pela norma penal que descreve uma 
conduta criminosa (tipos incriminadores ou legais; previstos na parte especial do 
CP ou na legislação extravagante;) ou de uma conduta permitida (tipos 
permissivos ou justificadores; são causas de exclusão da ilicitude, o legislador 
autoriza a prática de um fato típico). O tipo não deve ser confundido com a figura 
da tipicidade. Tipo é uma figura jurídica que resulta da criação do legislador, 
enquanto a tipicidade é um juízo, uma avaliação sobre uma determinada conduta 
para saber se contempla no caso concreto o que o legislativo pensou ao criar a 
regra. 
 
Dolo (crime doloso): Dolo integra a conduta, é elemento subjetivo da conduta. 
 
Teoria sobre dolo :Para a Teoria da Representação, basta a previsão do resultado. 
Para a Teoria da Vontade, não basta a previsão do resultado, o agente deve ter a 
vontade de produzi-lo. Para a Teoria do Assentimento (Consentimento ou Anuência), 
complementando a Teoria da Vontade, existe o dolo não apenas quando o agente 
busca um resultado, mas também quando o agente assume qualquer risco de produzir 
esse resultado. 
 
Art. 18 - Diz-se o crime: 
 I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de 
produzi-lo; 
 
Conforme podemos ver, o Código Penal adotou no artigo 18 a Teoria da Vontade para 
o Dolo Direto e a Teoria da Representação para o Dolo Eventual 
 
5 Culpa (crime culposo) 
5.1 Espécies de culpa 
Culpa inconsciente 
(sem previsão ou ex 
ignorantia) 
O agente não prevê o resultado que no caso concreto era previsível. 
Culpa consciente 
(com previsão ou ex 
lascivia) 
O agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que não ocorrerá. É importante diferenciar a culpa consciente do dolo 
eventual. 
Culpa própria 
(propriamente dita) 
O agente não busca o resultado, nem assume os riscos de produzi-lo, ou seja, produziu "sem querer" o resultado. 
Culpa imprópria (por 
equiparação, por 
extensão ou por 
assimilação) 
O agente após prever o resultado e desejar a sua produção realiza a conduta por erro inescusável quanto à ilicitude do fato. O 
agente supõe que existe no caso concreto uma causa excludente da ilicitude e por isso age. Na culpa imprópria o agente busca o 
resultado e por isso trata-se de uma figura juridicamente híbrida, mista. A culpa imprópria na verdade é dolo, mas é um dolo que o 
legislador decidiu punir como culpa. A culpa imprópria ocorre no contexto de uma descriminante putativa. Na culpa imprópria é 
admitida tentativa (única hipótese de crime culposo que admite tentativa). 
Culpa mediata (culpa 
indireta) 
É aquela em que o agente produz o resultado no caso concreto de forma indireta, a título de culpa. 
Culpa presumida (in 
re ipsa) 
Abolida do Direito Penal brasileiro. Decorria da simples inobservância de uma disposição legal ou regulamentar. 
 
São hipóteses de exclusão da culpa o caso fortuito e força maior, erro 
profissional, princípio da confiança, risco tolerado. 
5.2 Praeterdolo 
Acontece quando através de conduta dolosa surge um resultado mais grave, 
dessa vez culposo, mas também provocado pelo agente. No primeiro 
comportamento, antecedente, temos o dolo e no segundo, consequente, a culpa. 
São crimes qualificados pelo resultado e esses que tem quatro espécies: 
 Praeterdoloso 
Dolo e culpa (crime doloso qualificado pelo resultado culposo). 
 Doloso 
Dolo e dolo (crime doloso qualificado pelo resultado doloso; exemplo: latrocínio). 
 Culposo 
Culposo e culposo (crime culposo qualificado pelo resultado culposo; exemplo: 
incêndio culposo qualificado pela morte culposa). 
 Culposo 
Culposo e doloso (crime culposo qualificado pelo resultado doloso; homicídio 
culposo em que o agente dolosamente não presta socorro). 
5.3 Iter criminis 
Itinerário, caminho do crime. São as fases de realização do crime. A fase interna 
é a cogitação. A fase externa é dividida em preparação, execução e 
consumação. O exaurimento não faz parte do iter criminis. 
A cogitação tem três momentos distintos: idealização (surge a ideia de praticar 
o crime), deliberação (o agente coloca na balança as vantagens e desvantagens 
da prática do crime) e a resolução (o agente se decide pela prática do crime). 
A cogitação nunca é punível, pois não há sequer perigo ao bem jurídico. A 
vontade está no claustro psíquico do agente. Direito à perversão: todos tem 
direito a ser mentalmente perversos, o Direito Penal não pune isso. A preparação 
é a fase dos atos preparatórios, indispensáveis para a posterior execução do 
crime. Em regra, os atos preparatórios não são puníveis, pois ainda não há 
ofensa ao bem jurídico. Na execução, fase dos atos executórios, surge a 
punibilidade do Estado. Surge, no mínimo, um crime tentado. Todo ato de 
execução deve apresentar duas características: o ato de execução deve ser 
idôneo (capaz de ofender o bem jurídico) e inequívoco (se dirige ao ataque do 
bem jurídico). A consumação ocorre quando o agente realiza todos os elementos 
do tipo. 
5.4 Tentativa 
O artigo 14, II, CP traz o conceito de tentativa: “Diz-se o crime: II - tentado, 
quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente” – É quando começa execução do crime, que somente não 
se torna um crime consumado por algumas circunstâncias diferentes do que quis 
o agente. 
 
São elementos da tentativa o início da execução do crime, a não consumação 
por circunstâncias alheias à vontade do agente e o dolo de consumação - o 
dolo do crime tentado é idêntico ao do crime consumado. 
Espécies de tentativa: 
Cruenta ou vermelha Quando a conduta atinge a pessoa ou bem protegido, mesmo que o crime não seja consumado. 
Incruenta ou branca É aquela em que o objeto material (pessoa ou coisa que suporta a conduta criminosa) não é atingido. 
Perfeita (acabada ou 
crime falho) 
O agente faz toda a execução mas o crime não se consuma por alguma razão alheia à sua vontade. 
Imperfeita 
(inacabada ou 
propriamente dita) 
O agente não faz todos os atos da execução e o crime não se consuma por alguma razão diferente disso. 
5.5 Desistência voluntária e arrependimento 
eficaz 
São as chamadas hipóteses de tentativa abandonada, já que o crime não se 
consuma por vontade do agente. que abandona sua vontade do resultado. É 
diferente da tentativa, já que aqui o crime não se consuma por vontade do 
agente. Na tentativa o agente quer consumar mas não consegue, por outras 
razões. Na figura da desistência voluntária, o agente suspende a execução do 
crime, não dando fim a todos os atos do processo executório. Em regra, a 
desistência voluntária se caracteriza por uma conduta negativa. Já nos crimes 
omissivos impróprios a desistência voluntária se caracteriza por uma conduta 
positiva. Nos casos de arrependimento eficaz a execução do crime já se 
encerrou, mas ele adota providências para impedir a consumação.São requisitos 
para desistência voluntária e arrependimentoeficaz: 
 Voluntariedade: ato livre de coação. 
 Eficácia: é preciso que o agente consiga parar a consumação. Se ainda que 
acontendo o arrependimento ocorrer o resultado do crime antes desejado, o 
agente vai responder crime, embora tenha a seu favor uma atenuante genérica. 
5.6 Crime impossível 
Também chamado de tentativa impossível, se verifica quando, por ineficácia 
absoluta do meio ou por impropriedade absoluta do objeto, jamais ocorrerá a 
consumação. É o teor do artigo 17: “Não se pune a tentativa quando, por 
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é 
impossível consumar-se o crime”. 
5.6.1 Espécies de crime impossível 
 
Ineficácia absoluta do meio de execução: Quando o meio utilizado pelo agente para executar o 
crime não é capaz de produzir o resultado, por mais que o seu uso seja repetido. 
 
Impropriedade absoluta do objeto: A ineficácia absoluta deve ser avaliada no caso concreto. 
Objeto material não existe ao tempo da conduta. A mera existência do objeto material já 
caracteriza a tentativa. 
 
5.7 Concurso de pessoas 
O tema está tratado nos artigos 29 a 31 do CP: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um 
sexto a um terço. 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á 
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido 
previsível o resultado mais grave. 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo 
quando elementares do crime. Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o 
auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, 
pelo menos, a ser tentado. 
O instituto também é chamado de Coautoria. Hoje o Código Penal fala em 
concurso de pessoas, tratado como gênero: 
TÍTULO IV 
DO CONCURSO DE PESSOAS 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
No concurso de pessoas temos duas figuras jurídicas possíveis: a coautoria e a 
participação. Concurso de pessoas é esse instituto jurídico penal em que duas 
ou mais pessoas praticam crime ou contravenção penal. 
5.7.1 Requisitos do concurso de pessoas 
 Pluralidade de agentes culpáveis 
Para haver concurso de pessoas, deve haver mais de um agente. Todos os 
agentes que concorrerem precisam também ser culpáveis. Os crimes 
unissubjetivos (unilaterais, concurso eventual), entretanto, são praticados por 
uma única pessoa (um único agente leva o crime ao resultado final), mas 
admitem o concurso. Exemplo: homicídio. 
Os crimes plurissubjetivos (plurilaterais, concurso necessário) são aqueles que 
necessariamente devem ser praticados por mais de uma pessoa para que haja 
o resultado pretendido no caso concreto. Exemplo: associações criminosas 
(artigo 288, CP). Os crimes acidentalmente coletivos (eventualmente) em tese 
podem ser praticados por um única pessoa mas quando há vários agentes no 
caso concreto, a lei prevê uma modalidade mais grave do delito. Exemplos: furto 
e roubo. O concurso de pessoas do artigo 29 a 31 do CP só se aplica aos crimes 
unissubjetivos. Nos crimes plurissubjetivos e nos crimes acidentalmente 
coletivos as regras do concurso de pessoas aparecem nos próprios tipos penais 
de cada um desses crimes. 
Nos crimes unissubjetivos todos os agentes devem ser culpáveis. Se faltar a 
culpabilidade de um dos agentes, estará caracterizada autoria mediata e não 
concurso de pessoas. Nos crimes plurissubjetivos e nos crimes acidentalmente 
coletivos basta que um agente seja culpável. 
 Relevância causal das condutas 
Dois ou mais agentes praticando cada um uma conduta e todas as condutas 
contribuem para a produção do resultado. 
 Vínculo subjetivo 
Também chamado de concurso de vontades. Traz o princípio da convergência 
ou das vantagens homogêneas, pelo qual, se o crime é doloso, todos os agentes 
devem concorrer dolosamente. Se o crime é culposo, os agentes vão estar em 
concurso de pessoas de crime culposo, pela regra da homogeneidade de 
elementos subjetivos. A regra é clara: não é possível haver uma participação 
dolosa num crime considerado culposo. O contrário também não é possível, não 
se admite participação culposa em crime que seja doloso. 
Vínculo subjetivo (menos) é diferente de prévio ajuste (mais). Vínculo subjetivo 
basta para o concurso de pessoas. O vínculo subjetivo é a vontade de colaborar 
para o crime de terceiro, ainda que este desconheça a colaboração. O prévio 
ajuste é o acerto, a combinação para a prática do crime. Faltando o vínculo 
subjetivo estará excluído o concurso de pessoas e surge autoria colateral. 
 Unidade de crime para todos os agentes 
O artigo 29, caput, do CP, consagra a Teoria Unitária ou Monista. Concurso de 
pessoas é a pluralidade de agentes com unidade de crime. Todos que concorrem 
para o crime respondem pelo mesmo crime, mas a unidade de crime não leva 
obrigatoriamente à unidade de pena. Isso pois o CP segue à risca o princípio da 
culpabilidade. 
Sem prejuízo, existem algumas exceções pluralistas (Teoria Pluralista). 
Exceções pluralistas são situações em que os agentes buscam o mesmo 
resultado mas respondem por crimes diversos uma vez que o legislador criou 
crimes diversos. É o caso do aborto, em que a mãe e o médico respondem por 
crimes diversos embora queiram o mesmo resultado (artigos 124 e 126, CP). 
Na doutrina existe uma teoria dualista para qual há um crime para os autores e 
outro para os partícipes. Nosso código não adotou essa teoria. 
5.7.2 Modalidades de concurso de pessoas 
Coautoria 
Coautoria é a presença de dois ou mais autores. A primeira teoria em relação à 
coautoria é a Teoria Restritiva Objetivo-Formal. É chamada de restritiva já que é 
limitadora do conceito de autor. Considera-se por essa Teoria que, autor é quem 
executa o núcleo do tipo. Já o partícipe é quem concorre de qualquer modo para 
o crime, ainda que sem ser o responsável por executá-lo. Tradicionalmente o 
Brasil sempre se filiou a essa teoria doutrinariamente. Essa teoria precisa ser 
complementada pela autoria mediata. O autor mediato, é aquele que usa uma 
pessoa sem culpabilidade para executar o crime. Na autoria mediata, portanto 
não há concurso de pessoas. Faltam nesse caso dois dos requisitos para o 
concurso: pluralidade de agentes culpáveis e vínculo subjetivo. O autor imediato 
pode ser considerado apenas um instrumento do crime. 
Há ainda a Teoria do Domínio do Fato, ampliadora do conceito de autor. Em 
outras palavras, essa teoria não revoluciona o conceito de autor, ela apenas traz 
novas considerações. O autor para essa teoria é a pessoa que pratica o núcleo 
do tipo, seja como o autor intelectual (o mentor ou idealizador do crime; para a 
teoria anterior o autor intelectual seria apenas um partícipe), seja como o autor 
mediato ou aquele que tem controle final do fato. 
A teoria do domínio do fato só pode ser aplicada em casos de crimes dolosos, já 
que nos crimes culposos o resultado é involuntário, diferente do pretendido pelos 
agentes. Esse é um problema da teoria, que necessita outra para explicar os 
crimes culposos. 
A teoria do domínio do fato admite a figura jurídica do partícipe no caso concreto. 
Para esta teoria o partícipe é quem colaborou de qualquer modo para o crime, 
ainda que sem executá-lo e sem ter o controle final do fato. 
Autoria de escritório 
A figura da autoria de escritório, criada por Zaffaroni, chamada de teoria do 
domínio da organização por Roxin, surge no âmbito das “estruturas ilícitas de 
poder” (organizações criminosas e grupos terroristas). Essas estruturas são 
como “empresas do crime” com um comando que conhece as atividades 
criminosas desempenhadas. São teorias intimamente relacionadas à teoria do 
domínio do fato. 
5.8 Participação 
O partícipeé uma figura acessória para o crime. Ele realiza uma conduta que é 
paralela quando comparada a do autor, a principal conduta que leva ao resultado 
do crime. 
São espécies de participação: moral (quanto às ideias, sugestões e conselhos; 
se divide em induzimento – fazer surgir na mente de alguém a vontade criminosa 
– e instigação – reforçar uma vontade criminosa que já existe; devem ser para 
crime determinado e pessoa determinada; não existe concurso de pessoas no 
induzimento e na instigação de natureza genérica) e material (caráter concreto, 
com instrumentos e objetos, não se esgota em sugestões e conselhos; é o 
auxílio; é também chamada de cumplicidade; o auxílio acontece durante a 
preparação ou execução do crime, mas nunca após a consumação). 
5.8.1 Punição do partícipe 
Teorias da acessoriedade: 
Mínima 
Para se punir o partícipe basta que o autor pratique fato típico. Não é uma teoria aceita por poder gerar casos em que o autor não 
seria punido mas o partícipe sim. 
Limitada A punição do partícipe é possível quando o autor pratica fato típico e ilícito. Historicamente preferida no Brasil. 
Máxima ou externa A punição do partícipe é possível quando o autor pratica fato típico, ilícito e culpável. 
Hiperacessoriedade 
ou Ultracessoriedade 
A punição do partícipe é possível quando o autor pratica fato típico, ilícito, culpável e o autor deve ser efetivamente punível. Não é 
aceita pois se o autor morre, não é possível punir o partícipe. 
Executor de reserva 
O chamado executor de reserva pode ser coautor ou partícipe, devemos analisar 
no caso concreto. É alguém que presencia a execução do crime e atua se precisa 
intervir. 
5.9 Circunstâncias incomunicáveis 
Dispostas no artigo 30, CP. Comunicabilidade é a transmissibilidade. 
Elementares são os dados que formam a modalidade básica do crime, são os 
dados que formam o tipo fundamental. As circunstâncias são os dados que se 
unem ao tipo fundamental para aumentar ou diminuir a pena, são as 
qualificadoras, as causas de aumento de pena, as figuras privilegiadas e as 
causas de diminuição de pena. As circunstâncias podem ser pessoais 
(subjetivas, diz respeito ao agente) ou reais (objetivas, dizem respeito ao fato). 
As condições são situações que existem independentemente da prática do 
crime. Também se dividem em pessoais (subjetivas, diz respeito ao agente) ou 
reais (objetivas, dizem respeito ao fato). 
Pelo artigo 30, CP, as elementares sempre se comunicam, desde que sejam do 
conhecimento de todos os agentes (evita a responsabilidade penal objetiva). 
Pelo mesmo artigo, as circunstâncias pessoais nunca se comunicam. As 
circunstâncias reais, entretanto, comunicam-se, desde que sejam do 
conhecimento de todos os agentes. As condições pessoais nunca se comunicam 
(exemplo: reincidência), já as condições reais são comunicáveis. 
5.10 Autoria colateral 
Também chamada de coautoria lateral, coautoria imprópria ou autoria parelha. 
Acontece quando duas ou mais pessoas realizam atos de execução de um 
mesmo crime, cada uma desconhecendo a vontade da outra. Na autoria colateral 
é identificada a pessoa que produziu o resultado (quem produz o resultado 
responde pelo crime consumado, quem queria o resultado, mas não foi o 
responsável responde por tentativa). Na autoria colateral não há concurso de 
pessoas, cada um responde por um crime diferente. 
5.11 Autoria incerta 
Pressupõe uma autoria colateral, mas não se descobre quem produziu o 
resultado. Não há, nesse caso, concurso de pessoas, não há vínculo subjetivo. 
Ambos praticam atos de execução, mas não se sabe quem produziu o resultado. 
Tendo em vista o in dubio pro réu, ambos serão punidos por tentativa. Se um 
pratica ato de execução e outro crime impossível, pelo in dubio pro réu, haverá 
crime impossível para os dois. 
Não confundir autoria incerta com autoria desconhecida. Na autoria 
desconhecida não há sequer indícios de quem foi o autor e gera o arquivamento 
do inquérito, sendo um assunto de direito processual penal. 
5.12 Erro de tipo 
Embora a doutrina fale em erro de tipo, o Código Penal, no artigo 20, fala em 
erro sobre os elementos do tipo: 
Erro sobre elementos do tipo 
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas 
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. 
O erro, no Direito Penal, é a falsa percepção da realidade. Diferente da 
ignorância, que consiste no total desconhecimento de algo. O Código Penal 
utiliza a palavra erro em sentido amplo, englobando o erro propriamente dito e a 
ignorância. 
O erro de tipo é aquele que acontece em relação os chamados elementos do 
tipo penal. Ele pode ser escusável (inevitável, invencível) e inescusável (evitável, 
vencível). O que diferencia se o erro de tipo é escusável ou inescusável é o que 
faria o homem médio. No erro de tipo escusável, o agente errou, mas um homem 
médio em seu lugar também erraria. No erro de tipo inescusável, o agente erra, 
mas não esperamos que um homem médio em seu lugar errasse. O erro de tipo 
sempre exclui o dolo do crime. O erro de tipo escusável também a culpa do crime 
e o erro de tipo inescusável exclui somente o dolo, permitindo possibiliade de 
punição por crime culposo, se previsto em lei. 
O erro de tipo se divide em espontâneo e provocado. No erro espontâneo a 
pessoa erra sozinha. No erro provocado, terceiro determina o erro (terceiro 
responderá pelo crime, conforme artigo 20, §2o, CP). 
Existe diferença entre o erro de tipo com o chamado crime putativo por erro de 
tipo, sendo institutos totalmente opostos. No erro de tipo o agente não sabe que 
pratica fato típico. No crime putativo por erro de tipo, ou crime imaginário, não 
tem existência real, só existe na cabeça do suposto agente. O agente imagina 
que praticar um crime, acredita que faz algo incorreto. 
O erro de tipo pode ser essencial ou acidental. O erro de tipo essencial acontece 
em relação aos elementos constitutivos do crime e o erro de tipo acidental sobre 
circunstâncias ou dados irrelevantes do crime. O erro de tipo acidental tem 
algumas modalidades: 
Pessoa 
O agente confunde a pessoa que queria atingir (vítima virtual) com pessoa diversa (vítima real). Reflete na dosimetria da pena, 
levando em conta as condições da pessoa que o agente queria atingir e não da pessoa que foi efetivamente atingida. 
Coisa 
Erro sobre a coisa, o bem jurídico, contra qual o crime é praticado. Pode caber o princípio da insignificância na análise do caso 
concreto. 
Qualificadora 
O agente não sabe que existe uma condição qualificadora. Esse erro retira a qualificadora, mas o agente continua respondendo 
pelo crime na sua modalidade fundamental. 
Nexo causal 
Aberratio causae: o agente pratica uma conduta e acredita ter lcançado o resultado desejado, em seguida, pratica nova conduta, 
com finalidade diversa, mas é esta que efetivamente produz a consumação. Leva-se em conta o meio como realmente aconteceu, 
aplicando qualificadoras (para MP e Polícias, para Defensoria não). 
Erro na execução Aberratio ictus: por errar na execução do crime, o agente acaba por atingir outra pessoa. Está previsto no artigo 73, CP. 
Existem duas espécies de erro na execução. Quando acontece o chamado erro 
na execução com unidade simples ou resultado único, o agente só consegue 
atingir outra pessoa, mas não a que desejava atingir inicialmente. Não é erro 
sobre a pessoa, já que nesse caso não há confusão nenhuma por parte do 
agente sobre quem deveria ser a vítima real. Quando acontece o chamado erro 
na execução com unidade complexa ou resultado duplo, o agente atinge a 
pessoa desejada e também outra pessoa, respondendo por dois crimes em 
concurso formal. Para haver erro nesses casos, o segundo crime deve ser 
culposo. 
Resultado diverso do pretendido – aberratio delicti: o resultado obtido é diverso 
do pretendido. Previsto no artigo 74, CP.: 
Resultado diverso do pretendido 
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução 
do crime,sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o 
fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se 
a regra do art. 70 deste Código. 
O agente queria praticar determinado crime, mas por erro, acabou praticando 
outro. As três últimas modalidades de erro acidental são chamadas crimes 
aberrantes. 
5.12.1 Erro de proibição 
A nomenclatura é criação da doutrina e da jurisprudência, já que o artigo 21 do 
CP fala em erro sobre a ilicitude do fato: 
Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se 
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a 
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou 
atingir essa consciência. 
Nos casos em que há erro de proibição, o agente erra sobre o caráter ilícito do 
fato praticado, ou seja, o agente não acha que sua conduta está contrariando as 
normas. Não devemos confundir o erro de proibição com mero desconhecimento 
da lei. O desconhecimento da lei é inescusável conforme artigo 21, CP e artigo 
3o, LINDB, e funciona como uma atenuante genérica (artigo 65, II, CP) ou uma 
autorização do perdão judicial no caso de contravenções penais (artigo 8o, LCP). 
No erro de proibição, portanto, o agente conhece a lei, mas não sabe que o fato 
que está praticando tem caráter ilícito, ignorando, portanto, o real conteúdo da 
lei. Os efeitos jurídicos do erro de proibição estão no artigo 21 como vimos e 
atingem diretamente a culpabilidade. 
O erro de proibição pode ser classificado como inevitável (escusável ou 
invencível) ou evitável (inescusável ou vencível). O critério não é do homem 
médio como no erro de tipo, mas sim o critério do perfil subjetivo do agente. O 
perfil subjetivo do agente é uma análise do que cabe especificamente àquele 
agente no caso concreto. Ele erra, mas por mais que se esforçasse, ainda assim 
erraria. 
 O erro de proibição pode ser direto 
É o erro de proibição propriamente dito, como já estudado, o agente desconhece 
o caráter ilícito do fato praticado. 
 O erro de proibição pode ser indireto 
Casos das chamadas descriminantes putativas. 
 O erro de proibição pode ser mandamental 
Agente tem o dever de agir mas acredita que, no caso concreto, está liberado 
desse dever de agir. 
5.12.2 Diferenças entre erro de tipo e erro de 
proibição 
O erro de tipo como vimos é relacionado ao fato típico e à conduta (relativo ao 
dolo e, quando escusável,tamb ém a culpa). São casos em que o agente não 
sabe o que faz. O erro de proibição é relacionado à culpabilidade e ao seu 
elemento de potencial consciência da ilicitude. Nesses casos o agente sabe o 
que faz, mas não sabe que seu comportamento é contrário ao Direito. 
5.13 Descriminantes putativas 
Descriminantes são as causas de exclusão de ilicitude. Putativas significam 
aparentes, parecem ser mas são coisas diversas. Descriminantes Putativas são, 
portanto, causas de exclusão de ilicitude erroneamente imaginadas pelo agente. 
A natureza jurídica das descriminantes putativas vai depender de qual teoria ou 
corrente doutrinária sobre a culpabilidade foi adotada. Para a teoria normativa 
pura a descriminante putativa sempre será um erro de proibição indireto. 
Para a teoria limitada, descriminante putativa pode ser erro de proibição, mas 
também pode ser erro de tipo. Nesse sentido, num caso concreto de erro sobre 
a legítima defesa: o erro pode recair sobre a existência da legítima defesa em si, 
e aí seria caso de erro de proibição. O erro pode recair também sobre os limites 
dessa legítima defesa, também sendo caso de erro de proibição. Se o erro pode 
for sobre os pressupostos fáticos do caso, aí sim seria erro de tipo (erro de tipo 
permissivo). A doutrina e a jurisprudência se dividem quanto ao tem. 
A lei penal possui uma estrutura. Essa estrutura é composta por um preceito 
primário e também por um preceito secundário. O preceito primário é a parte da 
lei que define a conduta criminosa. Já o preceito secundário estabelece a pena 
para aquela conduta. 
Veja o caso da lesão corporal no Código Penal: “Art. 129. Ofender a integridade 
corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”. 
Nesse caso, obedecendo a estrutura, temos o preceito primário no caput e o 
preceito secundário com a pena de detenção. 
 
O Brasil se filiou ao sistema de proibição indireta. Nesse sistema, a lei penal é 
sempre descritiva e não proibitiva. Quando o artigo 121 do Código Penal diz 
"matar alguém" a proibição é implícita, indireta. 
 
UNIDADE IV 
 
1 Culpabilidade: evolução histórica 
Importante retomar a conceituação da estrutura do crime e seus elementos para 
as diferentes variações das correntes teóricas para compreender a evolução do 
conceito a culpabilidade. 
Na Teoria Quadripartida, o crime é fato típico, ilícito, culpável, antijurídico e 
punível. Como considera que a punibilidade é elemento do crime ficou em 
desuso, já que hoje se acredita majoritariamente que a punibilidade é um efeito 
pós crime, que surge da força Estatal para punir o agente do fato. 
Considera o crime fato típico, ilícito e culpável. Se divide em teoria tripartida 
clássica (Nelson Hungria) ou tripartida finalista (Welzel). 
Crime como fato típico e ilícito. A culpabilidade é entendida como pressuposto 
de aplicação da pena. Obrigatoriamente é finalista aquele que se filia a teoria 
bipartida. O finalismo bipartido é uma interpretação da doutrina brasileira no 
Código Penal Brasileiro, criado pelo penalista René Ariel Dotti. Em São Paulo, 
a teoria bipartida é dominante. Claus Roxin adota teoria bipartida, em que o 
crime seria formado por um injusto penal (fato típico já revestido de ilicitude) e 
a sua responsabilidade penal (culpabilidade; grau de responsabilidade e 
necessidade de pena). 
Assista aí 
2 Elementos do Crime 
2.1 Fato típico 
Independente da teoria adotada, fato típico é considerado elemento do crime. 
Fato típico é a conduta humana (e da pessoa jurídica nos crimes ambientais; 
existe dúvida quanto a crimes financeiros, econômicos e contra a economia 
popular já que a CR/88 não trata expressamente da responsabilização da pessoa 
jurídica nesses casos e além disso, ainda que se considere que o artigo 173 
engloba pessoas jurídicas, não há regulamentação legal) que encontra 
correspondência em uma norma penal incriminadora. O chamado fato típico no 
direito penal apresenta quatro requisitos para sua formação. São eles, a conduta, 
o resultado, o nexo causal e atipicidade. O único cenário em que esses quatro 
requisitos ou elementos do tipo penal acontecem simultameneamente é em caso 
de crime material consumado. 
Nesses crimes, o próprio tipo penal que a lei traz contém a conduta, o resultado 
e exige que esse resultado aconteça para que o crime seja consideramo 
consumado. Já nos casos em que chamamos de crimes formais o tipo penal 
contém a conduta e o resultado naturalístico, mas não requer que o resultado 
aconteça para considerar o crime consumado. Nos crimes de mera conduta (o 
legislador traz um tipo penal que se limita a prever uma conduta, sem resultado 
naturalístico vinculado a ela. 
Os crimes formais e os de mera conduta têm em comum o fato de que não 
exigem resultados naturalísticos para serem consumados. Na prática isso quer 
dizer que se consumam simplesmente quando o agente pratica a conduta 
descrita no tipo pemal. Eles se diferenciam, entretanto, pois no primeiro caso, 
dos crimes formais, esse resultado naturalístico desnecessário para a 
consumação pode chegar a acontecer. 
Importante ressaltar que para todos os crimes analisados, com exceção dos 
crimes materiais consumados, o fato típico tem apenas dois elementos: conduta 
e tipicidade. 
O ponto em comumentre um crime formal e um crime de mera conduta é que 
são crimes sem resultado, não exigem resultado, se consumam com a prática 
da conduta. A diferença é que nos crimes formais o resultado naturalístico, 
embora desnecessário para a consumação, pode ocorrer. Se ocorrer o resultado 
no crime formal, estaremos diante do exaurimento, do crime exaurido (Zaffaroni 
chama o exaurimento de consumação material). Nos crimes de mera conduta o 
resultado naturalístico jamais ocorrerá, pois o tipo não o prevê. 
Com exceção dos crimes materiais consumados, todos os demais crimes, crimes 
formais, crimes de mera conduta e crimes tentados o fato típico só tem dois 
elementos: conduta e tipicidade. Se não há resultado naturalístico e logo, não há 
nexo causal entre conduta e resultado naturalístico. 
 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Tabela 1 - CondutaFonte: Elaborada pelas autoras, 2019. 
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma tabela com três colunas: a primeira 
indica a teoria da conduta; a segunda o sistema pena e, a terceira e última, a 
teoria da culpabilidade. 
A culpabilidade nada mais era que o vínculo psicológico, estabelecido pelo dolo 
ou pela culpa, entre o agente imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado. O 
dolo normativo é aquele que contenha a consciência real da ilicitude como 
relação de contrariedade entre o fato praticado pelo agente e o direito. Em 
relação ao conceito de conduta, podemos dizer que é um movimento humano 
corporal voluntário que produz um resultado no mundo exterior. A conduta é uma 
“fotografia do crime” ou seja, retrata o fato praticado pelo agente e o resultado 
no mundo exterior. 
Quem se filia a teoria clássica vê o crime de maneira tripartida, já que o dolo e a 
culpa estão inseridos no conceito de culpabilidade e desse modo, evita-se a 
responsabilidade penal objetiva. Se no sistema clássico não se considerar a 
culpabilidade, haverá crime independente de dolo e de culpa, e por isso não é 
possível ser clássico e bipartido, sob pena de aceitar a indesejável 
responsabilidade penal objetiva. 
 
 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Figura 1 - Sistema ClássicoFonte: Elaborado pelas autoras, 2019. 
No sistema clássico, a culpabilidade indicava um vínculo psicológico entre o 
agente do crime e o fato típico que ele praticava. Esse vínculo era estabelecido 
pela presença do dolo ou da culpa. Nesse caso, o dolo considerado normativo 
é aquele que demonstra que o agente tem a consciência plena e real da ilicitude 
do fato praticado. Essa ilicitude é uma relação de contrariedade à norma, ou seja, 
o agente saber que o fato praticado vai contra o direito. 
Aparece no sistema da teoria clássica o conceito causalista de conduta. 
A conduta é vista como um movimento humano corporal voluntário capaz de 
produzir resultados naturalísticos, resultados no mundo exterior. 
A corrente doutrinária da teoria clássica enxerga o crime de modo tripartido, com 
dolo e culpa partes da culpabilidade. 
 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Tabela 2 - Sistema NeoclássicoFonte: Elaborado pelas autores, 2019. 
No sistema Neoclássico a teoria adotada para a conduta também é a teoria 
causalista e assim como no sistema clássico, a ilicitude é considerada como a 
relação de contrariedade entre o fato praticado pelo agente e o direito vigente. 
A novidade do sistema neoclássico é o olhar da doutrina para a análise da 
culpabilidade. Em 1907, o penalista Reinhart Frank desenvolveu a Teoria da 
Normalidade das Circunstâncias Concomitantes. Com essa Teoria, foi incluído 
na Culpabilidade um terceiro elemento: exigibilidade de conduta diversa. 
A partir dessa visão, considera-se culpável aquele que praticou um fato quando 
era exigido um outro comportamento, a chamada conduta diversa. É uma teoria 
Psicológico-Normativa da culpabilidade, já que a figura da culpabilidade não é 
mais exclusivamente psicológica. Ela passa ter esse elemento normativo da 
exigência de outra conduta. Existem autores que chamam esse sistema 
Neoclássico de Neokantista (Neokantismo penal). 
Mantido o conceito causalista de conduta: conduta é um movimento humano 
corporal voluntário que produz um resultado no mundo exterior. A conduta é uma 
“fotografia do crime” ou seja, retrata o fato praticado pelo agente e o resultado 
no mundo exterior. 
 
 
Clique para abrir a imagem no tamanho original 
Tabela 3 - Sistema FinalistaFonte: Elaborado pelas autoras, 2019. 
O Finalismo, base do sistema finalista, surge na Alemanha em 1930, fruto dos 
estudos de Hanz Welzel. Para essa corrente teórica, dolo e culpa fazem parte 
do conceito de conduta. Consideram que se não há dolo ou culpa não há conduta 
e, por isso, o fato é atípico. 
O conceito de conduta, nesse sistema, é a ação ou omissão humana, desde que 
seja consciente, voluntária e dirigida a um fim específico. 
Quem se filia ao Finalismo pode entender o crime de acordo com a visão 
bipartida ou tripartida, já que dolo e culpa estão na conduta e não na 
culpabilidade. Logo, não correm risco de gerar responsabilidade objetiva. A 
culpabilidade pode ser, para essa teoria, tanto um elemento do crime, se adotado 
conceito tripartido do crime, quanto pressuposto de aplicação da pena, se 
adotado conceito de crime bipartido. 
Culpabilidade chamada “vazia” pois foi esvaziada em relação aos elementos 
psicológicos, por isso é uma teoria normativa pura (só elementos normativos, 
sem elementos psicológicos que agora estão na conduta). 
Para a teoria do finalismo o dolo é algo natural. Para as teorias anteriores (teoria 
clássica e neoclássica) o dolo era considerado normativo, já que continha 
a chamada consciência de ilicitude. 
3 Coculpabilidade 
Para as correntes doutrinárias que escolhem o conceito tripartido de crime 
(típico, ilícito e culpável), a culpabilidade é um elemento do crime. 
Importante ressaltar que a culpabilidade não é do fato, ou seja, não é o fato que 
é considerado culpável ou não, mas sim o agente do crime que será analisado 
quanto à sua culpabilidade. 
Já para as teorias que escolhem o conceito bipartido do crime, a culpabilidade 
não é considerada elemento do crime, mas sim um pressuposto para a aplicação 
da pena. 
A culpabilidade carrega uma ideia de reprovação independente do conceito de 
crime a ser adotado. 
3.1 Evolução histórica da culpabilidade 
Para o sistema penal clássico (autores como Von Liszt, Beling) a teoria da 
culpabilidade adotada era a psicológica, para qual os elementos da culpabilidade 
eram a imputabilidade e o dolo normativo ou culpa – consciência da ilicitude. 
Já no sistema penal neoclássico ou neokantista, como vimos a teoria da 
culpabilidade é psicológico normativa e seus elementos eram a imputabilidade, 
dolo normativo ou culpa – consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta 
diversa. 
Já no sistema penal finalista (Welzel) a teoria da culpabilidade é a normativa 
pura. Seus elementos, para essa teoria, são a imputabilidade, potencial 
consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa; dolo e culpa na 
conduta. Essa teoria normativa pura da culpabilidade se subdivide em outras 
duas correntes teóricas. Uma teoria normativa pura extrema ou estrita e uma 
limitada que se diferenciam pela presença de descriminantes putativas. 
3.2 Cocupabilidade 
A teoria da coculpabilidade foi desenvolvida por Zaffaroni. Por essa teoria, há um 
reconhecimento de que as pessoas não tiveram as mesmas oportunidades 
(educação, cultura, lazer). Termo coculpabilidade vem da concorrência de 
culpabilidades. A família, a sociedade e o Estado excluem e marginalizam 
pessoas, e para elas a criminalidade é uma saída mais fácil. 
Essa teoria é uma construção doutrinária, ou seja, não encontra base normativa 
ou legal, mas pode ser adotada no Brasil como uma atenuante genérica 
inominada conforme previsão do artigo 66, CP: 
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, 
anterior ou posterior ao crime, emboranão prevista expressamente em lei. 
A chamada coculpabilidade às avessas tem dois aspectos que devem ser 
analisados. O primeiro deles, trata da seletividade e vulnerabilidade do direito 
penal. O Direito Penal muitas vezes tem como alvos pessoas mais vulneráveis, 
sem oportunidades. Já o segundo aspecto, trata justamente da maior reprovação 
para as pessoas dotadas de elevado poder econômico, que tiveram todas as 
oportunidades e abusam do seu poder econômico para a prática de crimes e por 
isso devem ser mais fortemente reprovadas. 
A coculpabilidade as avessas entretanto não pode ser utilizada como agravante 
genérica por ausência de previsão legal, seria um caso de analogia “in malam 
partem”. 
4 Elementos da culpabilidade 
Existem algumas causas que são capazes de excluir a culpabilidade, as 
chamadas dirimentes. Não confundir com eximentes, que são as causas 
excludentes da ilicitude. 
4.1 Imputabilidade 
O primeiro elemento formador da culpabilidade a ser analisado é a 
imputabilidade. O CP não define a imputabilidade, mas apenas prevê hipóteses 
de inimputabilidade (art. 26, caput, 27 e 28, §1º: 
Inimputáveis 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da 
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento. 
Redução de pena 
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. 
Menores de dezoito anos Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação 
especial. 
Imputabilidade é a capacidade do agente de entender o caráter ilícito do fato 
praticado, o chamado elemento intelectivo, e de querer praticar ainda assim, 
autodeterminando-se através do elemento da vontade ou volitivo. 
O código penal brasileiro e a Constituição adotaram um critério cronológico, no 
tocante à imputabilidade: são imputáveis os maiores de dezoito anos, mas 
fizeram isso estabelecendo a inimpubalidade dos menores de dezoito anos. 
Conforme o artigo 27 do CP acima e o artigo 228 da CF: 
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às 
normas da legislação especial. 
Quando as pessoas completam dezoito anos, a maioridade penal chega, com 
uma presunção relativa de imputabilidade. A imputabilidade deve ser analisada 
ao tempo da conduta (desdobramento da teoria da atividade, adotada no artigo 
4o do CP, relativa ao tempo do crime). O artigo 26, caput, CP, também traz essa 
regra de análise da imputabilidade ao tempo da conduta. 
Quanto à inimputabilidade, são cinco as hipóteses. A primeira hipótese de 
inimputabiliade é a menoridade. Nesse caso, não são imputáveis os menores 
de dezoito anos. A segunda hipótese é a doença mental, que torna inimputável 
aqueles que portem essas doenças. A terceira é o desenvolvimento mental 
incompleto. Nesse caso, indivíduos com alterações mentais são inimputáveis. A 
quarta hipótese de inimputabilidade é o desenvolvimento mental retardado, 
quando os indivíduos não tem as capacidades cognitivas totais. A quinta e última 
hipótese é a da embriaguez completa, fortuita ou acidental. 
Existem sistemas para identificação da inimputabilidade. São eles o sistema 
biológico (para este basta a presença de uma deficiência mental, fortalecendo a 
atuação do perito na definição do caso concreto), o sistema psicológico (para 
qual pouco importa se o agente tem ou não alguma deficiência mental, bastando 
a evidente incapacidade de entendimento e autodeterminação, fortalecendo a 
atuação do juiz no caso concreto para definir) e o sistema biopsicológico (o 
agente deve apresentar uma deficiência mental que acarrete incapacidade de 
entendimento e autodeterminaçãom, unindo as forças do perito e do juiz para 
decisão no caso concreto). No Brasil, o sistema biopsicológico é a regra geral, 
prevista no artigo 26, caput, CP: 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, 
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de 
acordo com esse entendimento 
O sistema biológico foi adotado como exceção para os menores de 18 anos e no 
caso da embriaguez completa, fortuita ou acidental. 
Quanto à combinação de leis penais, o plenário do STF não admite e o STJ 
editou a súmula 501. Os tribunais não aceitavam, passaram a aceitar e agora 
não admitem mais a combinação de leis. 
Quanto à insignificância de crimes tributários, nos crimes de descaminho, STF e 
STJ entendiam que o valor para descaminho era o mesmo considerado pela 
fazenda como inexecutável (R$10000). As portarias MF 75 e 130/2002 
aumentaram o valor para R$20000. Após isso, o STJ, pela terceira seção disse 
que o valor continua sendo R$10000. O STF ainda não se pronunciou a respeito. 
Quanto à menoridade, o direito brasileiro adota o critério biológico (menores de 
18 anos são inimputáveis), art. 228, CR e art. 27, CP, como vimos acima. 
Para os menores de 18 anos existe uma presunção absoluta (iuris et de iure) da 
inimputabilidade. Já para quem é maior de 18 anos essa presunção é relativa. 
De acordo com a Súmula 74, STJ: 
SÚMULA 74 - 
PARA EFEITOS PENAIS, O RECONHECIMENTO DA MENORIDADE DO REU 
REQUER PROVA POR DOCUMENTO HABIL. Data da Publicação - DJ 
20.04.1993 p. 6769 
Dessa forma, de acordo com a jurisprudência a prova da menoridade somente 
pode ser feita por documento hábil. Importante ressaltar que as pessoas 
emancipadas civilmente são inimputável para o direito penal, já que a 
capacidade civil não interfere na imputabilidade penal. Quanto à doença mental, 
a interpretação deve ser em sentido amplo, abrangendo todas as enfermidades 
permanentes ou transitórias, congênitas ou adquiridas, que retiram a capacidade 
de entendimento e autodeterminação. Entretanto, quando um doente mental 
praticar o crime em intervalo de lucidez ele é imputável, tendo em vista a adoção 
do critério biopsicológico. 
4.1.1 Emoção e paixão 
Assunto previsto no artigo 28, I, CP: 
 Emoção e paixão 
 Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: 
 I - a emoção ou a paixão; 
Emoção e paixão não são excludentes da imputabilidade e tem um ponto em 
comum que são alterações da psique humana, do estado psicológico do ser 
humano. A diferença entre eles é quanto à duração: a emoção tem natureza 
transitória (exemplos: medo, raiva), a paixão é duradoura (exemplos: o amor, a 
inveja). Se forem patológicas, serão equiparadas a doenças mentais (artigo 26, 
CP). 
4.1.2 Embriaguez 
Trata-se de intoxicação aguda do organismo humano pelo álcool ou substância 
de efeitos análogos. O CP utilizou mais uma vez a interpretação analógica 
ou intralegem (forma fechada seguida de forma genérica). O artigo 28, II, CP, 
traz que a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substancia de 
efeitos análogos não exclui a imputabilidade penal: Embriaguez 
 II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos 
análogos. 
Trata-se da embriaguez aguda ou simples, que são casos de excesso no 
consumo do álcool. Se a embriaguez for crônica ou patológica, quando o 
organismo não consegue se livrar dos efeitos do álcool, ou quando o sujeito é 
dependente, a embriaguez será equiparada às doenças mentais. 
A embriaguez apresenta uma primeira fase eufórica, quando o ébrio se mostra 
falante e desinibido. Uma segunda fase agitada, ébrio fala alto, fica agressivo. E 
uma terceira fase comatosa (cansaço, sono, coma). Nas duas primeiras fases, o 
sujeito pode praticar crimes comissivos ou omissivos. Na terceira fase apenas 
crimes omissivos (próprios ou impróprios). 
Quanto à intensidade, a embriaguezpode ser completa, relativa à segunda ou 
terceira fase. A embriaguez incompleta se limita à primeira fase. 
Quanto à origem, a embriaguez voluntária, também chamada intencional, é 
aquela em que o sujeito quer se embriagar, mas não quer praticar crime algum. 
A embriaguez é culposa quando o sujeito não quer se embriagar, mas por 
imprudência se excede no consumo do álcool. A embriaguez voluntária e a 
embriaguez não excluem a imputabilidade penal (artigo 28, II, CP). 
Existe ainda a embriaguez preordenada, também chamada embriaguez dolosa, 
em que o sujeito escolhe se embriagar para cometer um crime. Nesse caso não 
há exclusão de imputabilidade, mas sim uma agravante genérica conforme o 
artigo 61, II, “l”, CP: 
 Circunstâncias agravantes 
 Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não 
constituem ou qualificam o crime: 
 II - ter o agente cometido o crime: 
 l) em estado de embriaguez preordenada. 
Por fim, a embriaguez pode ser fortuita ou acidental, quando emana de caso 
fortuito ou força maior, quando por exemplo, alguém força o sujeito a beber. Se 
a embriaguez fortuita ou acidental for completa, isenta de pena, ou seja, exclui a 
culpabilidade (artigo 28, §1o, CP). Se for incompleta, não isenta de pena, mas a 
pena será diminuída de 1/3 a 2/3 (artigo 28, §2o, CP): 
Embriaguez 
 II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos 
análogos. § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, 
proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da 
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. 
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por 
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo 
da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato 
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
A embriaguez admite qualquer meio de prova. Dentre esses meios de prova, os 
principais são o exame laboratorial (ressalva de que ninguém é obrigado a 
produzir prova contra si mesmo), o exame clínico (análise do indivíduo), prova 
testemunhal. 
4.2 Teoria do actio libera in causa 
É a ação livre na causa. Esta teoria surgiu na Itália para solucionar os crimes nos 
casos de embriaguez preordenada, quando o agente escolhe se embriagar. 
Essa teoria antecipa o momento da análise da imputabilidade. A imputabilidade 
não será analisada no momento em que o crime foi praticado, e por isso se faz 
a crítica de ter elementos remanescentes de responsabilidade penal objetiva. 
A doutrina se divide quanto à aplicação da teoria da actio libera in causa. 
 Primeira corrente doutrinária 
A teoria da actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez 
culposa é responsabilidade penal objetiva e, portanto, é inaceitável. 
 Segunda corrente doutrinária 
A teoria da actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez 
culposa seria sim responsabilidade penal objetiva, mas é necessária para a 
proteção do interesse público. 
 Terceira corrente doutrinária 
A teoria da actio libera in causa é totalmente desnecessária, pois se o ébrio 
consegue praticar o crime, teria vontade residual – um resquício de consciência. 
A teoria da actio libera in causa não deve ser aplicada à embriaguez fortuita ou 
acidental, já que nesses casos o sujeito não tem a intenção de consumir o álcool. 
Assista aí 
Enriqueça seu conhecimento! Clique 
aqui: https://www.youtube.com/watch?v=K8mS_mEjZAg&feature=emb_title 
4.3 Potencial consciência da ilicitude 
É o segundo dos elementos da culpabilidade. Só é considerado culpável o 
agente que no momento da conduta tinha ao menos a possibilidade de entender 
o caráter ilícito do fato. 
Existem sistemas ou critérios para identificação da potencial consciência de 
ilicitude. O primeiro é o critério formal, pelo qual o agente precisa saber que está 
violando determinada norma penal (Belin, Binding, Von Liszt). 
Para o critério material, o agente deve conhecer o caráter injusto de sua conduta 
(Max Ernst Mayer). 
Para o critério intermediário não se exige o conhecimento da norma penal violada 
nem da injustiça do comportamento, basta que o agente, na sua condição de 
leigo saiba que há ilicitude. 
https://www.youtube.com/watch?v=K8mS_mEjZAg&feature=emb_title
4.4 Exigibilidade de conduta diversa 
É o terceiro elemento da culpabilidade. Só pode ser considerado culpável quem 
pratica o fato típico e ilícito quando lhe era exigível uma conduta diversa. 
Existem duas causas excludentes da exigibilidade de conduta diversa previstas 
no artigo 22, CP: 
 
Coação irresistível e obediência hierárquica 
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não 
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. 
 
A primeira é a coação moral irresistível, que consiste em obrigar a alguém a praticar um crime 
(a coação física irresistível exclui a conduta, o fato é atípico; a coação que atinge a 
culpabilidade é a moral irresistível). São requisitos da coação moral irresistível: ameaça do 
coator (promessa de um mal grave e iminente), inevitabilidade do perigo (o coagido não tem 
outra forma de afastar esse perigo, a não ser cedendo ao coator), caráter irresistível da 
ameaça (o coagido não tem como vencer a ameaça) e presença de pelo menos três pessoas 
(coator, coagido e a vítima do crime). São efeitos da coação moral irresistível: somente o 
coator responde pelo crime, o coagido fica isento de pena (entre coator e coagido não há 
concurso de pessoas, falta vínculo subjetivo). a coação moral irresistível é uma forma de 
autoria mediata. Se a coação moral for resistível, existirá concurso de pessoas entre coator e 
coagido (para o coator incidirá agravante genérica – artigo 62, II, CP; 
Para o coagido uma atenuante genérica – artigo 65, III, “c”, 1a parte, CP: 
 
 
Agravantes no caso de concurso de pessoas 
 
 Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: 
 II - coage ou induz outrem à execução material do crime; 
 
Circunstâncias atenuantes 
 Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
 III - ter o agente: 
 c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de 
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da 
vítima; 
A coação moral irresistível não deve ser confundida com o temor reverencial. O temor 
reverencial não exclui a culpabilidade. A coação moral irresistível caracteriza o delito de 
tortura, conforme o artigo 1o, I, “b”, Lei 9455: 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento 
físico ou mental: 
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; 
Na coação moral irresistível o coator sempre responderá pelo crime praticado pelo coagido e 
pela tortura. 
 
segunda excludente da exigibilidade de conduta diversa é a obediência hierárquica, conforme 
artigo 22, CP: 
 Coação irresistível e obediência hierárquica 
 Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não 
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem 
São requisitos da obediência hierárquica: ordem não manifestamente ilegal (se a ordem é 
legal, não há crime para ninguém, estão protegidos por excludente da ilicitude de estrito 
cumprimento de dever legal; se a ordem é manifestamente ilegal, ambos responderão pelo 
crime em concurso de pessoas, com agravante genérica para o superior hierárquico – artigo 
62, III, CP, e com atenuante genérica para o subalterno – artigo 65, III, “c”, CP; ordem não 
manifestamente ilegal é a ordem ilegal de aparente legalidade, nela somente o superior 
hierárquico responde pelo crime,o subalterno fica isento de pena, tratando-se de hipótese de 
autoria mediata), ordem emanada de autoridade competente, relação de direito público (só é 
possível nas relações de direito público, pois só nelas existe poder hierárquico), presença de ao 
menos três pessoas (superior hierárquico, subalterno e vítima do crime) e cumprimento estrito 
da ordem (o subalterno não extrapola, faz exatamente o que foi determinado pelo superior 
hierárquico). 
Agravantes no caso de concurso de pessoas 
 Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: 
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em 
virtude de condição ou qualidade pessoal; 
Circunstâncias atenuantes 
 Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
 III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de 
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da 
vítima; 
Existem ainda hipóteses supralegais (não previstas em lei) de exigibilidade de conduta diversa. 
Estas causas supralegais de exclusão de culpabilidade fundadas na inexigibilidade de conduta 
diversa foram criadas na Alemanha e são pacificamente admitidas pela jurisprudência 
brasileira. O MP no Brasil é contra as causas supralegais de exclusão da culpabilidade no 
Tribunal do Júri, por causar insegurança nos jurados. 
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272746_1/index.html#carousel_0
 
 
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272746_1/index.html#carousel_0
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.2006.59103/content/_4272746_1/index.html#carousel_0

Mais conteúdos dessa disciplina