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roteiro de estudos - direito penal - professor luciano santoro

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DIREITO PENAL 
ROTEIRO DE ESTUDO 1° E 2° SEMESTRES 
PROF. LUCIANO SANTORO 
LUCIANOFSANTORO@UOL.COM.BR 
 
 
1 HISTÓRIA DIREITO PENAL: 
1.1 POVOS PRIMITIVOS 
 
 
Proteção: o homem primitivo é muito LIGADO À SUA COMUNIDADE. 
 
VÍNCULO DE SANGUE: recíproca tutela dos que possuíam descendência 
comum. 
 
VINGANÇA DE SANGUE: dever de defender a pessoa de seu grupo se 
assassinada por alguém de outra família ou clã, até a morte do agressor. Se a 
ofensa partia de grupo estrangeiro a vingança era coletiva e atingia todo o 
grupo agressor. Se do mesmo grupo, ocasionava a sua expulsão largando-o à 
própria sorte. Gerava guerras infindáveis. Em conseqüência, pouco a pouco, 
o particular foi impedido de exercer a vingança e passou a constituir crime 
fazer justiça com as próprias mãos. 
 
Transferência da punição ao poder central: fundamento na preservação da 
ordem e sobrevivência da comunidade e não em face da vingança. “O fundo de 
vingança se confirma toda a vez que o controle social não se faz presente ou se 
mostra ineficaz na solução de crises geradas pelos mais diversos conflitos” 
(Duek, Fundamentos da pena, p. 6). 
 
Totens e Tabus: ausência de conhecimento dos fenômenos naturais leva a 
crença em forças sobrenaturais, que os levava a serem dominados por totens e 
tabus (existência de espíritos). 
 
Totem, para Freud, é um animal ou vegetal (raro), comível, temido pelo 
grupo (clã). Em primeiro lugar, é o antepassado do clã; além disso, é 
seu guardião e auxiliar, reconhecendo e poupando seus próprios filhos. 
Em compensação os integrantes do clã devem respeito ao totem, por 
ex., não o comendo. Inserido tanto no contexto social como no 
religioso. Por ex., vedação de relações sociais entre pessoas do mesmo 
grupo. 
 
Tabus: código de leis não escrito mais antigo da sociedade. Série de 
proibições religiosas, sociais e políticas. Primeiro, acreditavam que a 
transgressão seria punida por uma divindade. Posteriormente, o próprio 
grupo passou a punir. Passavam de geração por geração. 
Irracionalidade das proibições: não havia justificação. 
 
 
 
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Violação aos totens e tabus levava a vingança, destruição simbólica do 
crime, com a finalidade de purificar aquele grupo que sofreu a ofensa 
(contaminação). Interessa mais as vítimas não vingadas do que o 
próprio culpado. 
 
A pena significava vingança. (VINGANÇA PRIVADA) 
 
 
1.2 ANTIGUIDADE 
 
Estado teológico: a pena encontrava justificativa em fundamentos religiosos e 
tinha por fim satisfazer a divindade ofendida pelo crime. Com a influência da 
religião, a vingança de privada passa a ser divina e regulada pelos sacerdotes. 
Muitos sacrifícios eram transferidos para os animais para purgar os pecados. 
 
Egípcios: justiça administrada pelos sacerdotes, sendo que vários crimes 
eram punidos com a morte. Essência dos indivíduos sobrevivia à morte 
(inicialmente somente dos faraós, posteriormente de todos) 
 
Hebreus: o direito igualmente se confundia na religião. As fontes encontram-
se nos 5 livros da Bíblia. Crime constituía pecado e a comunidade era 
responsável perante Deus e não diante de um poder terreno. Obediência em 
troca da proteção divina. Observa-se, no entanto, uma evolução do direito 
penal: distinção entre homicídio doloso do culposo; preocupação com o 
aspecto subjetivo do crime. Lei de talião, citada na Bíblia, buscava limitar a 
vingança, a forma de retribuição. VINGANÇA DIVINA 
 
Gregos: fundo religioso até a criação das Cidades. Vontade dos Deuses 
representada pelo rei era a fonte suprema de autoridade. Não havia distinção 
entre religião e direito. Posteriormente, desenvolvimento do pensamento 
político. Conseqüência: a razão e não a religião como fonte do 
conhecimento. Debilitação do estado teocrático, exigindo leis escritas (Código 
de Dracon, de 621 a.C.). Sofistas sustentaram a razão como fonte do 
conhecimento. Pena com o fim de satisfazer determinada divindade, passaria a 
satisfazer a sociedade. 
 
Sofistas: 
PLATÃO (delinqüente = enfermo – caráter expiatório da pena – 
função intimidativa – retribuição: além de salvar a alma do 
criminoso, restabelece a ordem lesada); 
ARISTÓTELES (pena era o meio apto para atingir fim moral / 
pena tinha por finalidade restabelecer a igualdade entre os 
indivíduos, violada pelo ato delitusoso, dentro de uma 
proporção de justo e injusto) 
 
 
 
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Romanos: mesma evolução verificada na Grécia antiga. No período da 
fundação (753 a.C.), tinha caráter sagrado. Legislação inicial mais importante: 
Lei das XII Tábuas (451 a 449 a.C.). Ainda na época da realeza o direito 
romano já fazia distinção entre os crimes públicos (traição e conspiração contra 
o Estado e o assassinato) e privados (ofensa ao particular). Posteriormente, o 
legislador deixa de se manifestar em nome dos deuses e passa a exercer seus 
poderes em nome do próprio povo. VINGANÇA PÚBLICA 
 
Germânicos: no início estavam na fronteira com o Império Romano, divididos 
em uma série de povos ou tribos (nômades), unidos sob um ancestral comum e 
liderados por um chefe de guerra. Sociedades eram constituídas por nobres, 
homens livres, semilivres e escravos e dominados pelo entendimento de que os 
deuses dirigem o destino humano. Por volta de 359 a 382 d.C., o Império 
Romano autorizou a sua instalação em terras romanas, o que foi a sua 
derrocada. A partir daí surge um Estado unitário (dinastia merovíngia): direito 
como ordem de paz (pública ou privada) e o delito significava a sua ruptura ou 
negação. Reação: individual ou através do grupo familiar (faida: agressor 
entregue à vitima para a vingança). Delitos eram ofenda para toda a 
comunidade, sendo os culpados expulsos, ficando equiparados à animais e 
todos tinham o direito de matá-lo. Trata-se pois de vingança de sangue. Esta 
foi substituída pela composição (incialmente voluntária e depois obrigatória), 
que era o dever de compensar o prejuízo sofrido (a composição deu origem ao 
que hoje é a multa que integra o sistema de penas e à indenização civil de 
caráter jurídico penal). 
 
 
 
1.3 IDADE MÉDIA 
 
Ocidente: influência das ordálias e Juízos de Deus. Povos bárbaros 
(superstição e crueldades). Essas práticas perduraram por muitos anos. Não 
obstante essa prática, houve uma evolução trazida pelos germânicos. A privada 
podia ser substituída pelo ressarcimento ou composição com a vítima, evitando 
assim a sanção. Direito canônico englobava quase toda a jurisdição, com sua 
decadência a partir do século XIV. Direito canônico (jurisdição eclesiástica): 
heresia, feitiçaria, adultério, usura, etc. 
 
JUSTIÇA CRIMINAL COMUM: jurisdição feudal pertencia ao senhor da terra, 
que a exercia sobre todas as pessoas e coisas que vivessem no seu feudo. O 
sistema era basicamente o mesmo para os direitos civil e criminal, vigorando o 
sistema acusatório, no qual reduzia-se o julgamento a um confronto. O direito 
de acusação pertencia a parte lesada ou aos seus familiares. O procedimento 
era público, oral e formalista, presidido pelo senhor feudal ou seu 
representante. As partes deveriam comparecer a uma assembléia formada por 
seus pares, sendo que os litigantes deveriam apresentar juramento de dizer 
apenas a verdade. Na hipótese de inadmissão dos juramentos, restavam dois 
 
 
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outros expedientes, oriundos do direito germânico, o duelo e os juízos de Deus, 
estes que vieram a desaparecer no século XIV, frente à oposição da Igreja. 
 
Com efeito, ao longo de toda a idade média, a justiça comum 
desconheceu as garantias individuais, encontrando-se ausentes os 
princípios da igualdade, sendo as pessoas tratadas diversamente, no 
processo e nos métodos punitivos, de acordo com a classe social a que 
pertenciam. Tampouco era de conhecimento os princípios basilares do 
direito penale do processo penal, com evidente cerceamento do direito 
de defesa. A prisão processual poderia ser imposta, desde que presentes 
mínimos indícios. 
 
De início adotou-se o sistema da íntima convicção, com absoluta 
liberdade dos julgadores, dando margem ao arbítrio. Em contrapartida, 
surgiu o denominado “sistema das provas legais”: cada prova tinha seu 
valor. Generalização da tortura, denominada “questão”, cuja prática 
era lícita, tratando-se, aliás, do meio processual para apuração da 
verdade. 
 
As leis penais eram prolixas e confusas, não vigorando o princípio do 
“nullum crimen, nulla poena sine lege”. Esta imprecisão conceitual 
favorecia o arbítrio dos julgadores, não existindo qualquer segurança 
aos acusados, permitindo-se o uso da analogia e dos costumes. 
 
A pena podia ser comunicada a terceiros, não vigendo o princípio da 
personalidade da responsabilidade criminal. Podiam ser aplicadas penas 
transpessoais, como o confisco de bens e a “morte civil”. 
 
Por fim, não vigorava o princípio da proporcionalidade da pena, sendo 
a pena de morte a sanção mais aplicada, mesmo aos delitos que hoje 
são considerados insignificantes. 
 
 
DIREITO CANÔNICO: predominou durante a Idade Média, perpetuando o 
caráter sacro da punição, que passou a ter um intuito corretivo, visando a 
regeneração do delinqüente. Sanções expiatórias, para o arrependimento e a 
emenda do faltoso. Também não vigia o princípio da reserva legal, sendo 
possível aos juízes eclesiásticos aplicarem sanções diversas das previstas. 
 
No direito canônico a prisão foi largamente utilizada, seja ela como medida 
processual, ou mesmo como pena, com o escopo de propiciar a expiação e a 
emenda. A Igreja não pronunciava pena de morte, mas limitava-se a afirmar a 
existência do crime punível com a vida, a impossibilidade de emenda do 
condenado, entregando-o ao braço secular, para que o executasse. 
 
A tortura foi hostilizada pela Igreja até o século XIII, quando, na luta contra a 
heresia, passou a aceitá-la e a utilizou largamente. 
 
 
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Entende Bernardino Gonzaga que com o Tribunal do Santo Ofício, a Igreja 
pretendeu defender a sua própria integridade, porém, paradoxalmente, o efeito 
se tornou inverso, e o fato de ter existido esse tribunal converteu-se na mais 
fervorosa “máquina de guerra” a dirigida. 
 
Havia a sanção post mortem, onde em caso do herege já ter falecido, assim 
mesmo lhe era aplicada a punição, abrindo-se processo inquisitorial, no qual 
poderia ser condenado à pena máxima. Mas tal não foi exclusivo do direito 
canônico, pois também no direito penal secular eram comuns a condenação e 
execução post mortem, todavia esta em virtude da finalidade intimidatória da 
pena, enquanto que para o direito canônico, tal se devia a necessidade de se 
purificar a alma, de salvá-la. 
 
1.4 IDADE MODERNA 
 
Absolutismo: raízes em Maquiavel, Hobbes (o Estado tem suas próprias 
razões que o indivíduo desconhece, "O Príncipe"). "Os fins justificam os 
meios". Não havia nenhuma prevalência aos direitos humanos em face do 
poder do príncipe. É mais fácil ser temido do que amado. "Leviatã" (Thomas 
Hobbes, 1578 a 1669: homem é um ser egoísta. Só pode existir a lei onde 
houver o poder. Ninguém (súditos) está autorizado a punir o soberano pelos 
seus atos. Pecado é qualquer manifestação de desprezo pelo legislador 
(soberano) e não apenas a lei. Hobbes era absolutista sem ser teólogo. Bossuet 
era absolutista e teólogo. Bossuet: poder advém de delegação divina. Todos os 
homens são iguais. Para estarem unidos devem estar regidos por um soberano. 
Seu trono é estabelecido pela Justiça. Justo ou injusto era legítimo. Penas não 
tinham objetivo de reeducar, mas sim restabelecer o poder do soberano. 
Embutir temor na população. Diante do criminoso deveria cair as penas mais 
cruéis possíveis (ver "Leviatã", de Hobbes e "Vigiar e Punir", de Michel 
Foucault) 
 
* Brasil 1603/1830: Ordenações Filipinas. Inconfidência mineira: crime de lesa 
majestade. Acórdão condenando à morte Tiradentes por enforcamento com 
exposição pública de partes de seu corpo. Forma de embutir a pena. Reafirmar 
poder do soberano. A pena passava da pessoa do condenado e não havia 
qualquer proporcionalidade retributiva. 
 
 
 
 
 
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2 ESCOLAS PENAIS 
2.1 ESCOLA CLÁSSICA 
 
Termo “escola clássica”, tão difundido hoje para caracterizar o PENSAMENTO 
CONTRATUALISTA, foi uma criação de Enrico Ferri, defensor da “escola 
positivista”, que o fez de forma pejorativa. 
 
2 períodos: filosófico ou teórico: Beccaria (pioneiro do direito penal 
liberal) 
 
 jurídico ou prático: Carraca (pioneiro da dogmática 
penal) 
 
BECCARIA: 
 
“É que, para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser 
essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis nas 
circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei” 
 
Com a obra de Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, de 1764, tem início 
a Escola Clássica do Direito Penal. Reflexões sobre crime e pena foram 
escritas três décadas antes da Revolução Francesa, encontrando-se em pleno 
absolutismo, contra o qual se insurgiu. A obra de Beccaria foi a mais 
difundida entre as que defendem o pensamento da escola clássica. Obra mais 
política e filosófica, do que propriamente científica. 
 
Dos Delitos e das Penas foi traduzido para várias línguas, influenciando a 
reforma penal de vários países na Europa. Importante ressaltar que sua obra foi 
objeto de comentário por parte de Voltaire, o que a ajudou a difundi-la ainda 
mais, principalmente na França. 
 
Baseia-se no Contrato Social de Rousseau, razão pela qual tem por requisitos 
o princípio da legalidade do delito e da pena. Enquanto que para Hobbes o 
homem dá toda a liberdade em prol da existência em comum, para Beccaria o 
homem cede mínima parcela da liberdade, aproximando-se de Locke, para 
quem, é cedida pequena parte ao celebrar o pacto social. 
 
Beccaria:“só a necessidade constrange os homens a ceder uma parte de sua 
liberdade; daí resulta que cada um só consente em pôr no depósito comum a 
menor porção possível dela, isto é, precisamente o que era necessário para 
empenhar os outros em mantê-lo na posse do resto” 
 
 
 
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Neste interregno, não se contesta a liberdade, tendo por fundamento de que há 
o LIVRE ARBÍTRIO. 
 
Cesare Beccaria elenca, então, três conseqüências: 
 
1-) SOMENTE AS LEIS PODEM FIXAR AS PENAS DE CADA DELITO, sendo que o 
direito de fazer as leis penais é do legislador, o qual representa toda a 
sociedade reunida por um contrato social. Não pode o magistrado ser mais 
severo do que a lei, pois será injusto, acrescentando castigo novo ao já 
determinado; 
 
2-) PRINCÍPIO DA IGUALDADE: o soberano deve fazer leis gerais, as quais 
devem ser submetidas por todas. Porém, não pode o soberano julgar, pois 
quando um delito é praticado há duas partes: o soberano (alegando que o 
contrato social foi violado) e o acusado (que nega essa violação). Torna-se, 
então, necessário um magistrado para julgar e pronunciar se houve ou não um 
delito; 
 
3-) por fim, a última conseqüência, é o CRITÉRIO DA NECESSIDADE DA PENA, 
isto é, basta provar que a atrocidade das penas é inútil, para se considerá-la 
odiosa, revoltante e contrária a justiça e a própria natureza do contrato social. 
 
Para Beccaria, a sociedade deveria buscar uma UTILIDADE NA PENA, a qual 
deveria ser PROPORCIONAL AO DELITO. Destaca-se o critério da necessidade 
na aplicação da pena. Assim, perde-se o fim de castigo na aplicação da pena, 
para ter lugar o critério da utilidade, o que beneficiaria a sociedade e o próprio 
delinqüente. 
 
Beccaria foi o primeiro absolutista na pena de morte, para quem somente 
poderia ser aplicada para os delitos que pudessemcolocar em risco a vida da 
nação. Mas não se insurgiu apenas contra esta, criticou ferozmente a prática 
da tortura, para quem era um meio seguro de condenar o inocente fraco e de 
absolver o celerado robusto. 
 
Beccaria: Direi ainda que é monstruoso e absurdo exigir que um homem seja 
acusador de si mesmo, e procurar fazer nascer a verdade pelos tormentos, 
como se essa verdade residisse nos músculos e nas fibras do infeliz!” 
 
Insurge-se, também, contra a prisão cautelar de longa duração, até porque a 
pessoa poderia ser considerada inocente ou a pena aplicada muito tempo 
depois perderia o seu valor (critério da utilidade/necessidade). Para o efeito de 
prevenção geral, é necessário punir prontamente um crime cometido. A 
pena por demais retardar torna menos estreia a união do binômio crime e 
castigo. A certeza dos castigos é o que tem o condão de prevenir de forma 
mais eficaz a prática de novos crimes. 
 
Beccaria considera melhor prevenir os crimes, do que puni-los, devendo o 
legislador procurar antes impedir a sua ocorrência, do que ter de repará-la. Para 
 
 
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prevenir os crimes, devem ser feitas leis simples e claras, devendo a nação 
inteira estar pronta para defendê-las. 
 
JEREMIAS BENTHAM: 
 
Defendia o critério da utilidade das penas: o Estado deveria lucrar com a 
aplicação da pena, no sentido de evitar novos delitos. 
 
Defendia o critério de necessidade para prevenção geral: aos indivíduos que 
não praticaram o delito, mas poderiam vir a praticar. 
 
Propõe penas fixas e prisão em círculo (panóptico), com os detentos colocados 
em celas sempre direcionadas para o centro, economizando assim com os 
funcionários, mantendo-se a visibilidade total e permanente dos detentos. 
 
Foucault: “O princípio é conhecido: na periferia, uma construção em anel; no 
centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face 
interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma 
atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para 
o interior, correspondendo às janelas da torre; outra que dá para o exterior, 
permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um 
vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um 
condenado, um operário ou um escolar.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FRANCESCO CARRARA ("Programa de Direito Penal" – 1859): 
 
Contemporâneo a Enrico Ferri, da Escola Positivista. 
 
Entendia o delito como ente jurídico, 
constituído por duas forças: física e moral: movimento 
corpóreo e o 
dano causado pelo crime 
 
 vontade livre e consciente do 
delinqüente 
 
“Delito é a infração da lei do Estado, promulgada para proteger a segurança 
dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo, 
moralmente imputável e politicamente danoso” 
 
1º) é a infração da lei do Estado: princípio da reserva legal (nullum crimen, 
nulla poena, sine lege); princípio da legalidade do delito e das penas; 
 
2º ) promulgada: revela a Lei do Estado. Não se trata de lei moral, nem de lei 
religiosa. A lei moral é revelada pelos homens através de sua consciência, 
enquanto que a religiosa por Deus. 
 
3º) para proteger a segurança dos cidadãos : Proteção da sociedade. Baseia-se 
em métodos dedutivos. Crime é um ente jurídico: delito constitui violação de 
um direito a alguém. Direito penal estabelece meios de defesa contra esta 
violação. E como o faz esta defesa? Através de preceitos que proíbem 
determinados atos, cominando punições para as pessoas que os cometam. 
 
4º) resultante de um ato externo do homem: Direito penal não se ocupa com o 
estado de espírito, sendo necessário externar o ato, portanto, não é punível a 
intenção. Direito penal antigo existia processos contra irracionais. 
 
5º) positivo ou negativo: ação ou omissão. 
 
6º) moralmente imputável: dogma do livre arbítrio (fundamento da escola 
clássica) – imputabilidade moral é precedente indispensável da imputabilidade 
política. Basileu Garcia: “os defensores da tese livre-arbitrista afirmam que 
nós temos a consciência da liberdade das nossas ações e que tal consciência 
prova que a liberdade moral existe”. Nós temos sempre liberdade das nossas 
ações ou somos condicionados pelo meio? O livre arbítrio é a base da 
responsabilidade penal dos defensores da escola clássica. A imputabilidade é 
moral, advém da vontade livre dos homens. 
 
7º) e politicamente danoso: existência de dano. Imediato: ofendido. Mediato: 
repercussão social do fato. 
 
 
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Principais características: 
 
• método utilizado era o dedutivo ou lógico-abstrato, com aceitação de valores 
desprovidos de experiência; Asúa: “conceptos esencialmente racionalistas” 
 
• delito como produto da vontade livre 
 
• delito é um ente jurídico: violação de um direito. 
 
• o delinqüente visto como homem normal, sensível, igual aos outros; 
 
• a pena como meio de tutela jurídica e com função retributiva, sem qualquer 
preocupação com a ressocialização do indivíduo; 
 
• a responsabilidade penal baseada no livre arbítrio (imputabilidade moral); 
critério da utilidade do direito penal (não mais voltada para o passado). 
 
 
2.2 ESCOLA POSITIVA 
 
• Reação à escola clássica. Produto do naturalismo, sofreu influência das 
doutrinas evolucionista (Darwin, Lamarck), materialista (Buchner), sociológica 
(Comte), frenológica (Gall), fisionômica (Lavater). 
 
• Início com Cesare Lombroso, "O Homem Delinqüente" (1876), através do 
estudo da frenologia (ciência que estuda a pessoa com base na característica 
do crânio), fisionomia (arte de conhecer o caráter da pessoa pela sua 
fisionomia) e antropologia (descrever o ser humano com características 
biológicas). 
 
• Criminoso: era visto (e entendido) como um ser anormal fadado a cometer 
crimes. Tão logo violasse a norma, era considerado criminoso e, portanto, um 
ser anormal. Este comportamento (anormal) somente seria de interesse quando 
começasse a representar um perigo para a sociedade. Para os positivistas não 
havia diferença entre a sanção penal e a medida de segurança. A finalidade da 
pena não era retributiva, ao contrário, era exclusivamente preventiva, na 
sua vertente especial negativa de segregação, anulação do delinqüente, com 
a conseqüente proteção da sociedade. 
 
• A escola positiva teve por principais autores (e defensores) CESARE 
LOMBROSO, GAROFALO e ENRICO FERRI. 
 
• 3 fases: Antropológica (Lombroso); Sociológica (Ferri) e Jurídica (Garofalo) 
 
 
 
 
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CESARE LOMBROSO (O homem delinqüente, 1876) 
 
• utilizava-se do método experimental para o estudo da criminalidade. 
• criou a Antropologia Criminal. 
• determinismo biológico: o homem nasceria delinqüente, portador de 
características impeditivas de sua adaptação social, tendo como conseqüência a 
prática criminosa. 
• homem não é livre, mas sim determinado por forças inatas. 
• criminoso tinha características perversas: destacavam-se nos criminosos a 
resistência maior à dor (analgesia), a desvulnerabilidade (não sofriam 
conseqüências por seus atos), além dos caracteres morais (aspecto psíquico, 
insensibilidade moral e imprevidência e ausência de caracteres morais 
pela prática do crime). 
• Reconsiderou seu posicionamento relativamente ao aspecto físico, 
fortalecendo o psíquico. 
• Aproximar o homem do estudo do criminoso: espécie do gênero humano, que 
pratica necessariamente o crime. O delinqüente seria uma espécie peculiar, um 
degenerado com certas conotações anatômicas e anomalias fisiopsicológicas 
(Luiz Luisi). 
• Atavismo (teoria do criminoso nato): homem humano que retrocede aos 
antepassados, através dos genes, e pratica os crimes.“Na sua concepção, 
reaparecem no delinqüente sentimentos religiosos e associações criminosas, 
próprios dos selvagens primitivos, que não passaram pelo processo de 
civilização. Fadado a cometer crimes, o delinqüente não consegue se manter 
dentro dos parâmetros de comportamento prescritos pelo ordenamento-
jurídico penal. O delito, por via de conseqüência, surge como fenômeno 
natural ou "necessário", fora do alcance da vontade do agente, a exemplo do 
que ocorre como o nascimento, a morte, a concepção e as doenças mentais.” 
(DUEK, fundamentos... pg. 69) 
 
ENRICO FERRI ("Sociologia Criminal") 
 
• contestava o livre arbítrio: ser humano era condicionado, determinado. 
• aos fatores antropológicos e psicológicos (inerentes à pessoa do criminoso, 
concernentes à constituição psíquica), acresce fatores físicos (clima, natureza, 
solo, etc.) e sociais (família, religião, costumes, opinião pública, etc.). 
• ser humano era responsável pelos danos que causasse porque viveria em 
sociedade. 
• fundamento da punição era a defesa social. 
• fim da pena era prevenir novos crimes: e não retribuição, porque o homem 
não tem livre arbítrio, mas sim é determinado, por isso é necessário substituí-
la, criando os substitutivos penais. 
• substitutivos penais: criar, educar, reparar. 
• propunha a seleção antropológica dos presos: sanção deve se ajustar ao tipo 
de delinqüente. 
• criminoso equiparado ao inimputável, ambos não teriam o livre arbítrio. 
• Nesta linha de pensamento, defendia até mesmo a aplicação da pena antes da 
prática do crime, pois seria a única forma de defender a sociedade. 
 
 
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• Classificou os criminosos em 5 (cinco) categorias: 
- natos (com base no atavismo), 
- por paixão, 
- loucos (a sociedade deveria se proteger, sendo a pena equiparada à medida de 
segurança, inclusive havia previsão do mínimo mas não do máximo, podendo 
ser até perpétua), 
- de ocasião 
- habitual. 
 
• Elaborou um projeto de código penal para substituir o Código Zanerdelli, 
prevendo inúmeros substitutivos penais (segregação perpétua, indeterminada, 
estabelecimento agrícola, etc.). Não substituiu o Código Zanerdelli, mas foi 
fase para os Códigos Penais Soviéticos de 1922 e 1926 e o Código de Defesa 
Social de Cuba de 1936. 
 
 
GARÓFALO, "Criminologia". 
 
• foi o responsável pelo início do estudo da criminologia enquanto ciência. 
• ressaltou o perfil psicológico do delinqüente (necessário entrar na alma do 
delinqüente) 
• delito natural. 
• criminosidade nata do delinqüente, pois seriam pessoas fadadas a cometer 
delito, razão pela qual se justificava a pena indeterminada (proteção da 
sociedade), mesmo para aqueles que não praticaram crime. 
• perigosidade como base da responsabilidade. 
• perigosidade: “perversidade constante e ativa do delinqüente e a quantidade 
de mal previsto que se deve temer por parte do criminoso”. 
• grau de perigosidade determina a pena aplicável. 
• A pena seria o remédio aos delinqüentes: fim da pena seria a prevenção 
especial. 
• Garofalo defendeu a pena de morte para os criminosos considerados 
invencíveis: qual seria para a sociedade a utilidade na conservação de suas 
vidas? 
 
Principais características: 
• método indutivo ou experimental. 
• crime como realidade fenomênica; 
• delito é fenômeno social e natural; 
• criminoso é sempre um anormal, de forma temporária ou permanente 
• sanção como instrumento de defesa social: delinqüente era uma espécie do 
gênero humano que dificilmente se recuperaria, por isso não poderia haver 
limite para a sua sanção, somente podendo retornar ao convívio social quando 
não representasse mais qualquer risco à sociedade 
• responsabilidade social do homem (deriva do determinismo / vida em 
sociedade); 
• periculosidade do homem: 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
13 
 
• ZAFFARONI e PIERANGELI criticam a escola positiva por entender que o 
"homem era uma coisa entre outras coisas, e existiam os de melhor e de pior 
qualidade. Os de pior qualidade, os "degenerados" e biologicamente 
deficientes, caíam na escala social, por um processo de decantação "natural", 
e deviam se controlados pelos que se mantinham no poder, pois se convertiam 
em uma "classe social perigosa". O "crime" era a manifestação de uma 
inferioridade, que nem sempre podia ser corrigida (em tal caso impunha-se 
eliminar ou segregar definitivamente o portador). O grupo de poder era quase 
invulnerável a tais "sanções", pois sua "superioridade genética" ou 
"biológica" o preservava. Somente por acidente, algum de seus integrantes 
poderia ser atingido. (ZAFFARONI E PIERANGELI, manual... pg. 296). 
 
Principais contribuições: 
• ampliou o conteúdo do direito 
• criminologia 
• preocupação com o delinqüente e a vítima 
• melhor individualização da pena 
• conceito de periculosidade 
 
DIFERENÇAS 
 
Escola Clássica 
 
Escola Positiva 
Método dedutivo ou lógico-abstrato. 
 
Método Indutivo. 
Delito é ente jurídico. 
 
Delito é um fato humano e social. 
Delinqüente é igual aos demais. Delinqüente é um indivíduo provido 
de caracteres pessoais peculiares, que 
devem ser estudados e que às vezes 
constituem anomalias denunciadoras 
de propensão ao crime. 
 
Pena proporcional à gravidade do 
delito. 
Pena como defesa social, proporcional 
à periculosidade do agente delituoso. 
 
Livre-arbítrio. Responsabilidade social ou legal. 
 
 
 
 
 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
14 
3 HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO 
3.1 INSTITUIÇÕES INDÍGENAS (ATÉ A COLONIZAÇÃO) 
 
“Dado o seu primarismo, as práticas punitivas das tribos selvagens que 
habitavam o nosso país, em nenhum momento, influíram na nossa legislação” 
(José Henrique Pierangelli) 
 
3.2 ORDENAÇÕES DO REINO 
 
1º) Ordenações Afonsinas (até 1512) - não chegaram a influir no Brasil, 
até 
 porque a carta ao donatário, 
entregava 
2º) Ordenações Manuelinas (até 1569) a este o exercício de toda justiça 
 
3º) Ordenações Filipinas (até 1830): “espelho, onde se refletia, com inteira 
fidelidade, a dureza das codificações contemporâneas, era um misto de 
despotismo e de beatice, uma legislação híbrida e feroz, inspirada em falsas 
idéias religiosas e políticas, que invadindo as fronteiras da jurisdição divina, 
confundia crime e pecado, e absorvia o indivíduo no Estado fazendo dele um 
instrumento. Na previsão de conter os maus pelo terror, a lei não media a 
pena pela gravidade da culpa; na graduação do castigo obedecia, só, ao 
critério da utilidade” (Batista Pereira) 
 
 
3.3 PERÍODO IMPERIAL 
 
O artigo 179, § 18, da Constituição do Império determinava que fosse 
elaborado um Código Criminal “fundado nas sólidas bases da justiça e da 
equidade”. 
 
Código Criminal do Império de 1830 
 
Características: 
- índole liberal; 
- fixava um esboço de individualização da pena; 
- previa a cumplicidade (co-deliquencia como agravante), separando o autor 
principal do secundário; 
- previa a existência de circunstâncias atenuantes e agravantes; 
- estabelecia julgamento especial para os menores de 14 anos; 
 
 
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15 
- responsabilidade sucessiva nos crimes por meio de imprensa, isto é, quando 
não indica o autor, a ação penal é movida contra o responsável pelo jornal que 
tem a faculdade de indicar o autor do texto, que contra este correrá a ação 
penal; 
- imprescritibilidade da condenação; 
- escravo recebeu tratamento desigual, sendo-lhes reservada a pena de galés e 
pena de morte. 
- não admitia a detração penal. 
 
3.4 PERÍODO REPUBLICANO 
 
Código Penal de 1890: 
Características: 
- abolição da pena de morte; 
- regime penitenciário correcional (avanço da legislação penal); 
- previa o princípio da insignificância, ao determinar a ausência de punição da 
tentativa de contravençãoe de crime do qual não esteja imposta pena superior 
a 1 mês de prisão (princípio da insignificância); 
- limite para prisão de 30 anos; 
- admitia a possibilidade da detração; 
- contempla a prescrição, tanto da ação (pretensão punitiva) quando da 
condenação (pretensão executória). 
 
Considerando as críticas recebidas, este Código Penal de 1890 foi recebendo 
alterações e aditamentos, através de inúmeras leis que acabaram por ser 
compiladas pelo Desembargador Vicente Piragibe, que recebeu o nome de 
Consolidação das Leis Penais, oficializada por decreto em 14 de dezembro de 
1932. 
 
3.5 CÓDIGO PENAL DE 1940 
 
“uma das maiores virtudes do novo Código – senão a maior – é a boa técnica 
e a simplicidade com que está redigido, tornando-o uma lei de fácil manejo, 
fato que lhe tem acarretado merecidos elogios” (Francisco de Assis Toledo) 
 
Características: 
- eclético: concilia idéias dos clássicos (pena retributiva) com as do positivistas 
(medidas de segurança); 
- aproveitou o que melhor havia entre nas legislações moderna de orientação 
liberal; 
- adotou o dualismo culpabilidade-pena e periculosidade-medida de segurança; 
- adoção do duplo binário, utilizando-se conjuntamente a pena e a medida de 
segurança. 
- consideração a respeito da personalidade do criminoso; 
- aceitação excepcional da responsabilidade objetiva. 
 
 
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16 
 
3.6 CÓDIGO PENAL DE 1969 
 
Embora devesse entrar em vigor em 1/07/1969, teve sua vigência 
sucessivamente adiada, acabando por ser revogado (nasceu morto). 
 
3.7 A REFORMA DE 1984 
 
Características: 
- liberal e humanista, evitando-se o encarceramento de autores por curto lapso 
de tempo; 
- respeito à dignidade do homem; 
- apoio no princípio nullum crimen sine culpa, enfatizando a culpabilidade 
como indispensável à responsabilidade penal. 
- adota a distinção entre erro de tipo e erro de proibição; 
- exclui a responsabilidade objetiva e insere a norma especial referente aos 
crimes qualificados; 
- reformula o concurso de agentes, para resolver o problema do desvio 
subjetivo entre os participantes do crime; 
- extingue a divisão entre penas principais e acessórias. 
- cria as penas restritivas de direitos (alternativa) para crimes de menor 
gravidade; 
- abandono do sistema duplo-binário para as medidas de segurança, com a 
exclusão da presunção de periculosidade. 
 
 
 
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17 
 
4 PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL 
4.1 EXPLÍCITOS 
 
 
LEGALIDADE OU RESERVA LEGAL: impossibilidade de aplicação da pena sem 
prévia cominação legal (nulla poena sine lege, Feuerbach). Segundo o 
princípio da legalidade nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma 
pena pode ser aplicada sem a prévia instituição por lei do tipo delitivo e da 
respectiva pena, tratando-se de limitação ao Estado de interferir na esfera das 
liberdade intividuais. 
 
Art. 5º, XXXIX, CF - não há crime sem lei anterior que o 
defina, nem pena sem prévia cominação legal; 
 
Art. 1º, CP Não há crime sem lei anterior que o defina. Não 
há pena sem prévia cominação legal. 
ANTERIORIDADE: não adianta apenas criarmos a lei, é necessário que esta seja 
criada antes da prática criminosa (nullum crimen, nulla poena sine lege 
praevia). A lei que institui o crime e a pena deve ser anterior ao fato que se 
quer punir. 
 
RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA: a lei penal volta no tempo para 
favorecer o agente, ainda que o fato tenha sido decido por sentença penal 
condenatório transitada em julgado (art. 5º, XL, CF e art. 2º CP). A lei 
posterior pode abolir o crime, denominada (abolitio criminis), ou pode 
favorecer o réu de alguma forma, ser mais benigna (lex mitior).“Verifica-se a 
abolitio criminis quando a lei nova exclui da órbita penal um fato considerado 
crime pela legislação anterior. Trata-se de uma hipótese de descriminalização. 
Quando isso ocorre, extingue-se a punibilidade (CP, art. 107, III), 
arquivando-se os processos em curso, no tocante ao crime abolido, ou 
cessando a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, ainda que 
transitada em julgado” (Francisco Assis Toledo) 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
18 
Art. 5º, XL, CF - a lei penal não retroagirá, salvo para 
beneficiar o réu; 
 
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior 
deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a 
execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
PERSONALIDADE OU RESPONSABILIDADE PESSOAL: a pena não pode 
ultrapassar a pessoa do condenado (art. 5º, XLV CF). O limite na perda de bens 
e valores é a herança (patrimônio transferido). 
Art. 5º, XLV, CF: nenhuma pena passará da pessoa do 
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a 
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, 
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o 
limite do valor do patrimônio transferido. 
 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San 
Jose da Costa Rica)Art. 5o, 3. A pena não pode passar da 
pessoa do delinqüente. 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: estabelecer a pena exata e merecida. Art. 5º, 
XLVI CF. 
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, 
entre outras, as seguintes: 
HUMANIDADE: vedação a aplicação de penas insensíveis e dolorosas, devendo-
se respeitar a integridade física do agente. O princípio da humanidade encontra 
previsão constitucional em vários dispositivos, devendo ser observado antes do 
processo (art. 5º, LXI, LXII, LXIII e LXIV); durante o processo (art. 5º, LIII, 
LIV, LV, LVI e LVII) e na execução da pena (proibição de penas 
degradantes, cruéis, de trabalhos forçados, de banimento e da sanção 
capital – art. 5º, XLVII, XLVIII, XLIX e L). 
 
 
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19 
Art. 5º, XLVII, CF - não haverá penas: 
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos 
do art. 84, XIX; 
b) de caráter perpétuo; 
c) de trabalhos forçados; 
d) de banimento; 
e) cruéis; 
Art. 5º, XLIX, CF - é assegurado aos presos o respeito à 
integridade física e moral; 
Art. 75, CP - O tempo de cumprimento das penas privativas 
de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 
4.2 IMPLÍCITOS 
 
INTERVENÇÃO MÍNIMA OU SUBSIDIARIEDADE: o direto penal é a ultima ratio, 
somente devendo intervir quando outros meios se mostrarem insuficientes. 
Assim, para que se possa tipificar uma determinada conduta, há necessidade da 
conjugação de três fatores: merecimento (desmembrado em dignidade do bem 
jurídico e ofensividade da conduta), necessidade, além da adequação e eficácia 
da tutela penal. 
 
O princípio da intervenção mínima compreende três perspectivas 
reciprocamente complementares: 
- princípio da necessidade: o direito penal deve ficar adstrito à 
proteção de bens de elevada valia e somente pode atuar sobre as 
condutas que não puderam ser resolvidas por outros ramos do direito. 
- princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos: o direito penal 
deve proteger bens de extrema valia (impeçam o conviver em 
sociedade). 
- princípio da ofensividade: verificar se a conduta perpetrada foi capaz 
de provocar um abalo social e se há necessidade de intervenção penal 
(busca-se estabelecer garantias e limites ao jus puniendi estatal). 
 
FRAGMENTARIEDADE: o direito penal deve ocupar-se apenas das condutas 
mais graves, verdadeiramente lesivas à vida em sociedade (não deixa de ser um 
corolário do princípio da intervenção mínima). Roxin defende que se for 
utilizada a tutela penal quando outros ramos do direito se fizerem suficientes, 
faltará legitimidade, que seria advinda da necessidade social, até porque a 
utilização exacerbada provocaria o efeito inverso, isto é, as situações a que se 
dispõe a combater, porque é evidente que nada favorece tanto a criminalidade 
como a penalização de qualquerbagatela. 
 
CULPABILIDADE: significa que ninguém será penalmente punido, se não 
houver agido com dolo ou culpa. Art. 18, CP. Dentro de um Estado 
Democrático de Direito não se admite transformar a punição mais gravosa que 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
20 
o ordenamento jurídico pode impor. Nulla poena sine culpa (não há pena sem 
culpa) e a pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade. 
 
TAXATIVIDADE: as condutas típicas devem ser claras e simples, não deixando 
dúvidas ao destinatário das normas. 
 
PROPORCIONALIDADE: a pena deve ser proporcional ao crime, guardando 
equilíbrio entre a infração praticada e a sanção imposta. 
 
NON BIS IN IDEM: vedação da dupla punição pelo mesmo fato. Art. 8º, 4, Pacto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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21 
 
5 TEORIA DA LEI PENAL 
5.1 FONTES DO DIREITO PENAL 
 
 
• material (via hábil à produção do direito): a única fonte de produção do 
direito penal é o Estado, ou melhor, a União, art. 22, I, CF/88. 
 
• formal (permitem o conhecimento do direito, proporcionando a 
exteriorização das normas penais) 
Imediatas (diretas): leis em sentido estrito 
 
Mediatas (indiretas): costumes e princípios gerais de 
direito (art. 4º, LICC), meros auxiliadores do processo 
de interpretação e aplicação da lei penal. 
 
5.2 INTERPRETAÇÃO: 
 
a| Quanto ao sujeito que a elaborou: 
- Autêntica ou legislativa: realizada pelo mesmo órgão que elaborou a lei 
interpreta, podendo ser contextual (mesma lei), ex. art. 327 CP ou não-
contextual (em lei posterior) 
 
- Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos. 
 
- Judicial: órgãos jurisdicionais. 
 
b| Quando aos meios empregados: 
- Literal: fundada na própria significação das palavras, em que se expressa; 
 
- Teleológica: é a que vai perquirir o pensamento do legislador, tendo por fim 
adaptar a lei aos fatos correntes, tomando-se em consideração os que ela rege, 
e a analogia e semelhança entre eles, como diz Ihering, procurar o pensamento 
da lei, passando por cima das palavras. 
 
 
 
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22 
- Sistemática: é aquela que se realiza em consonância com a rede 
hierarquizada, máxime na Constituição, tecida por princípios, normas e valores 
considerados dinamicamente e em conjunto. Assim, ao se aplicar uma norma, 
está-se aplicando o sistema inteiro. 
- Analógica: processo de integração do sistema normativo, criando-se norma 
processual penal onde não esta não exista. 
 
- Histórica: o intérprete examina o processo evolutivo da lei. 
c| c) Quanto ao resultado: 
- Declarativa: o resultado da interpretação coincide com o exato sentido da lei. 
 
- Restritiva: a lei disse mais do que queria, assim restringe-se o alcance dos 
termos utilizados na lei para atingir seu real significado. 
 
- Extensiva: processo de extração do autêntico significado da norma, 
ampliando-se o alcance das palavras legais, a fim de se atender à real 
finalidade do texto. Intérprete conclui que o alcance da norma é mais amplo do 
que indicam os seus termos. 
5.3 LEI PENAL: 
 
 - imperativa; 
 - geral; 
Características - impessoal; 
 - exclusiva; 
 - fatos futuros 
 
TIPO 
 
“Nomen iuris” (nome do tipo) 
Preceito primário: comando principal (conduta) 
Preceito secundário: sanção penal 
 
 - gerais: vigem em todo território nacional; 
 - especiais: vigem em determinados seguimentos (não 
há); 
 - comuns: aplicável a todas as pessoas (CP e leis 
extravagantes); 
 - especiais: classe de indivíduos (CP Militar); 
 - ordinárias: vigem em qualquer circunstância; 
Classificação - excepcionais: vigência em situação de emergência; 
 - incriminadoras: define os tipos penais e comina as 
sanções; 
 - não incriminadoras - explicativa: esclarecem 
o conteúdo 
 
 
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23 
 - permissiva: não 
consideram ilícitos ou 
isentam de pena o autor 
de fatos típicos. 
 
5.4 APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO 
 
 
• Regra geral: legis tempus regit actum. 
 
• Exceção: extratividade (aplicação de uma lei a fatos ocorridos fora do 
âmbito de sua vigência). 
 
- Retroatividade: aplicação da lei nova mais benéfica a fatos 
anteriores; 
 
- Ultratividade: aplicação da lei penal já revogada que 
beneficia o réu, que é a aplicação da lei que entrou em vigor 
após a prática do fato e já revogada ao tempo da sentença. 
 
• Irretroatividade X Retroatividade: a irretroatividade da lei incriminadora e a 
retroatividade da lei benéfica. 
 
• Abolitio criminis: lei posterior deixa de considerar determinado fato como 
crime, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença penal transitada em 
julgado. 
 
Pode o juiz combinar leis penais para beneficiar o réu? 
3 correntes: 
a) Pode (Frederico Marques, Basileu Garcia, Mirabete, Noronha, Damásio), 
pois seria apenas um processo de integração penal. 
b) Não pode (Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Heleno Fragoso, Paulo José da 
Costa Jr., Pierangeli), pois o juiz estaria legislando. 
c) Posição intermediária (Jimenez de Asúa, Roxin, Nucci), o juiz deve verificar 
no caso concreto qual terá resultado mais favorável ao réu, mas sem combiná-
las, evitando-se a criação de uma terceira lei. 
 
• Competência para aplicar a lei mais favorável: cabe ao magistrado se o 
processo estiver em primeiro grau (enquanto não tiver sido proferida sentença) 
ou ao Tribunal se estiver em fase de recurso. No entanto, transitada em julgado 
a sentença penal condenatória, compete ao juízo das execuções criminais a 
aplicação da lei penal mais benigna (Súmula 611 do STF). 
 
 
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24 
SÚMULA STF Nº 611 - Transitada em julgado a sentença 
condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de 
lei mais benigna. 
 
• Crime permanente: aplica-se a lei nova durante a atividade executória do 
crime permanente (consumação se estende no tempo), ainda que prejudicial ao 
réu. Súmula 711 do STF. 
SÚMULA STF Nº 711 - A lei penal mais grave aplica-se ao 
crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência 
é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 
• Crime continuado: trata-se de ficção jurídica, prevista no artigo 71 CP. 
Duas correntes: 
a) mesma regra do permanente (Nelson Hungria, Frederico Marques). Súmula 
711 STF. 
b) não se aplica a regra do crime permanente, razão pela qual a norma penal 
mais grave somente deve ter incidência na série de crimes cometidos durante 
sua vigência e não na anterior, sob pena de desrespeitar o princípio da 
legalidade (Delmanto). 
 
• Leis intermitentes: formuladas para durar um período determinado e breve. 
 
- Lei Excepcional: promulgada para satisfazer e enquanto durar a 
situação anormal (terremoto, inundação, guerra), deixando de vigorar a 
norma quando a situação for remediada. 
 
- Lei Temporária: vigência da norma previamente fixada pelo 
legislador, deixando de existir após o período para o qual foi 
promulgada. 
 
Características: a) não respeitam o princípio da retroatividade 
benéfica (art. 2º CP); b) ultratividade: continuam a fazer efeitos 
aos fatos praticados durante a sua época de vigência, ainda que 
tenham sido revogados; 
 
• Lei penal em branco: são aquelas que possuem a descrição da conduta 
indeterminada, dependente de um complemento, extraído de outra fonte 
legislativa extrapenal, para obter sentido e poder ser aplicada. No entanto o 
 
 
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25 
preceito sancionador (pena) deve ser sempre determinado. Própria: 
complemento extraído de norma de hierarquia inferior (resolução, portaria, 
etc.). Imprópria: complemento extraído de norma de igual hierarquia. 
 
 
TEMPO DO CRIME: momento em que se considera praticado o crime para 
aplicaçãoda lei penal ao seu autor: aplicação da lei, imputabilidade, anistia, 
prescrição, etc. 
 
3 Teorias: 
 
- Atividade: considera praticado o crime no momento da conduta, não 
importando o resultado (adotada pelo art. 4º CP) 
- Resultado: considera praticado o crime no momento do resultado; 
- Mista ou ubiqüidade: considera que o crime pode ser praticado tanto 
no momento do resultado, quanto na conduta. 
 
Tempo do crime 
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação 
ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 
5.5 APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO 
 
 
TERRITORIALIDADE: aplicação da lei penal brasileira aos crimes ocorridos no 
território nacional. 
 
 - solo ocupado pela nação; 
 - os rios, os lagos e os mares interiores e sucessivos; 
 - os golfos, as baías e os portos; 
• Território - mar territorial: a faixa de mar exterior, que corre ao largo da 
costa (12 milhas); 
 - a parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e 
mares fronteiriços(acordo internacional ou metade do leito); 
 - o espaço aéreo correspondente ao território (inclusive do mar 
territorial, até o limite da atmosfera); 
 
• Território por equiparação (art. 5º, § 1º, CP): 
 
a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do 
governo brasileiro onde estiverem; 
 
 
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26 
b) embarcações e aeronaves brasileiras de propriedade privada, que 
estiverem navegando em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
 
 
 
EXTRATERRITORIALIDADE: é a aplicação da lei penal brasileira aos crimes 
ocorridos fora do território nacional. 
 
• Extraterritorialidade incondicionada (inc. I do art. 7º CP): 
 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito 
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa 
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação 
instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado 
no Brasil. 
 
• Extraterritorialidade condicionada (inc. II do art. 7º CP): 
 
a) justiça universal 
b) nacionalidade 
c) representação 
 
 
 - entrada do agente em território nacional; 
 - ser o fato punível também no país em que foi 
praticado; 
 - estar incluído entre aqueles pelos quais a lei 
brasileira autoriza a extradição; 
Condições - não ter sido o agente absolvido no estrangeiro 
ou não ter aí cumprido pena; 
 - não ter sido o agente perdoado ou, por outro 
motivo, não estar extinta a punibilidade, 
segundo a lei mais favorável; 
 - contra brasileiro (teoria da proteção): que não 
tenha sido pedida ou tenha sido negada a 
extradição e que haja requisição do Ministro 
da Justiça 
 
 
LUGAR DO CRIME: 
 
 
 
 
 
 
 
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27 
 
3 Teorias: 
 
 
- Atividade: local do delito aquele onde foi praticada a conduta; 
- Resultado: local do delito é aquele onde ocorreu o resultado; 
- Mista ou da ubiqüidade: lugar do crime tanto onde ocorreu a 
conduta, quanto o resultado (adotada pelo art. 6º CP). 
 
 
 
Lugar do crime 
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que 
ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como 
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
Extradição: instrumento pelo qual um Estado entrega a outro pessoa acusada 
do cometimento de crimes para o cumprimento de pena ou para que responda 
ao processo. 
 
Condições: prática de crime; exame prévio do STF; existência de 
tratado ou convenção ou ao mesmo oferecimento de reciprocidade; 
existência de sentença penal condenatória; ser estrangeiro; não ter estar 
sendo processado ou ter sido absolvido no Brasil pelo mesmo crime; 
não ser tribunal de exceção; ser praticado o crime no território do 
Estado requerente ou se lhe aplicarem suas leis penais, entre outras. 
 
Imunidades diplomáticas e consulares: exceção ao princípio da territorialidade, 
concedendo aos diplomatas e cônsules isenção à jurisdição brasileira, motivo 
pelo qual somente podem ser processados criminalmente em seus países de 
origem. 
 
Características: inviolabilidade pessoal; independência; isenção da 
jurisdição criminal, civil e tributária; inviolabilidade de habitação; 
dever de cumprimento das leis do Estado que estão servindo. 
 
Imunidades parlamentares: outra exceção ao princípio da territorialidade, 
possibilitando ao parlamentar, no exercício de seu mandato, por opiniões, 
palavras e votos, não possa ser criminal ou civilmente responsabilizado. 
 
 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
28 
6 CONTAGEM DO PRAZO PENAL E FRAÇÕES DE PENA 
PRAZO PENAL: inclui o dia do começo. São computados todos os dias, 
incluindo normalmente feriado, fins de semana e qualquer outro dia sem 
expediente forense. 
 
Contagem de prazo 
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. 
Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário 
comum. 
PRAZO PROCESSUAL PENAL: exclui-se o dia do começo, mas incluir-se-á o dia 
do vencimento, é dizer, o prazo somente terá início no primeiro dia útil 
subseqüente ao do começo e terá por termo a data do vencimento. O prazo que 
encerrar em dia sem expediente forense é automaticamente prorrogado ao 
primeiro dia útil subseqüente. 
 
Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão 
contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, 
domingo ou dia feriado. 
§ 1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-
se, porém, o do vencimento. 
§ 2º A terminação dos prazos será certificada nos autos 
pelo escrivão; será, porém, considerado findo o prazo, 
ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do 
dia em que começou a correr. 
§ 3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado 
considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato. 
§ 4º Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, 
força maior, ou obstáculo judicial oposto pela parte 
contrária. 
FRAÇÕES DE PENA: não são computadas nas penas privativas de liberdade e 
nas restritivas de direitos as frações de dia, sendo simplesmente desprezadas. 
Com relação à pena de multa, desprezam-se os centavos. 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
29 
Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e 
nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena 
de multa, as frações de cruzeiro. 
 
 
 
 
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30 
 
7 CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
CONFLITO APARENTE DE NORMA: ilusória aparência de que duas normas 
poderiam ser aplicadas, quando não verdade apenas é correta a aplicação de 
uma delas. 
 
Alguns critérios permitem esclarecer qual é a norma aplicável: 
 
 
 - sucessividade 
 - especialidade 
Critérios - subsidiaridade 
 - absorção (consunção) 
 
 
SUCESSIVIDADE: se houver duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo fato, 
aplica-se a lei posterior. Por ex.: art. 3º, V, Lei nº 1521/51 e art. 4º, VI, da Lei 
nº 8.137/90. Assim, sempre será válida a norma posterior, por ser a mais 
recente. 
 
ESPECIALIDADE: a lei posterior afasta a aplicação da lei geral. Entre uma 
norma geral e a especial há uma relação hierárquica de subordinação que 
estabelece a prevalência da última, visto que contém todos os elementos 
daquela e mais alguns denominados especializantes. Exs.: arts. 121, caput, e 
121, § 2º CP (privilegiado); 155, caput, e 155, § 4º (privilegiado); 121 e 123 
(infanticídio); 140 (injúria), todos do CP. 
 
SUBSIDIARIEDADE: uma norma é considerada subsidiária em relação à outra, 
quando a conduta nela prevista integra o tipo da principal, significando que a 
lei principal afasta a aplicação da lei secundária. 
 
- explícita: a própria lei indica ser a normasubsidiária de outra (“se o 
fato não constitui crime mais grave”, “se o fato não constitui elemento 
de outro crime”). Ex.: art. 132 (exposição a perigo), 249 , 307 
 
- implícita: quando o fato incriminado em uma norma entra como 
elemento componente ou agravante especial de outra norma. Ex.: 
estupro contendo o constrangimento ilegal; furto qualificado pelo 
arrombamento (art. 155, § 4º, I, prevalece sobre o art. 163 – dano). 
 
CONSUNÇÃO: a conduta prevista no primeiro delito constitui apenas uma fase 
da realização do segundo crime (crime-meio e do crime-fim). Ex.: violação de 
domicílio com a finalidade de praticar o furto; porte ilegal de arma e prática de 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
31 
homicídio; falsidade e estelionato (Sumula STJ nº 17). Pune-se apenas o crime-
fim. 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
32 
 
8 TEORIA GERAL DO DELITO 
8.1 CONCEITO DE CRIME 
• formal: crime é toda conduta contrária ao direito, a que a lei atribui uma 
pena; 
 
• material: crime é a conduta que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos 
protegidos pela lei penal; 
 
• legal: crime é a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de 
detenção (art. 1º LICP). 
 
• conceito analítico: crime será toda conduta, que pode ser positiva (ação) 
ou negativa (omissão); típica, isto é, prevista em lei como crime; 
antijurídica, porque ela deve ser contrária ao direito, posto que não é 
possível atribuir responsabilidade criminal a uma pessoa se o direito 
prescreve que aquela conduta é legal, como ocorre nos casos de legítima 
defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e 
exercício regular de um direito; por fim, deve ser culpável, assim, a pessoa 
deve ser imputável, ter potencial consciência da ilicitude – a ninguém é 
dado desconhecer a lei – e, na situação concreta, possa ser exigível conduta 
diversa (de acordo com o direito). 
 
A(conduta) T(típica) A(antijurídica) C(culpável) 
 
Diferença entre crime e contravenção: crime é apenado com reclusão ou 
detenção, enquanto que a contravenção apenas com prisão simples. 
 
 
8.2 ELEMENTOS DO FATO TÍPICO: CONDUTA 
 
 
 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
33 
n Teorias Clássica, Finalista e Social 
 
Teoria causalista: a conduta é um comportamento humano voluntário no 
mundo exterior, que consiste em fazer ou não fazer. Trata-se de um 
processo mecânico e voluntário. Basta afirmar que o agente atuou 
voluntariamente, sendo irrelevante o que queria, para se afirmar a ação 
típica. Para se concluir a ação típica, deve-se apreciar o comportamento 
sem qualquer indagação a respeito de sua ilicitude ou de sua culpabilidade. 
Busca ver o conceito de conduta despido de qualquer valoração. Dolo e 
culpa situados na culpabilidade 
 
 
-> Conduta 
-> Típica 
-> Antijurídica 
-> Culpável: culpabilidade psicológico-normativo (elementos 
psicológicos como dolo e normativos como a culpa, a exigibilidade de 
conduta, a inimputabilidade) 
 
 
Teoria finalista: partindo do pressuposto que todo comportamento humano 
tem uma finalidade, a conduta é uma atividade final humana, portanto a 
vontade constitui elemento indispensável à ação típica de qualquer crime. A 
CONDUTA É VALORADA, portanto, a conduta é ação ou omissão VOLUNTÁRIA E 
CONSCIENTE, que se volta a uma finalidade. Porém, reserva-se para a 
culpabilidade o conteúdo de formação dessa vontade (isto é, a consciência 
dessa ilicitude). 
-> conduta 
-> típica (dolo e culpa): dolo psicológico, puramente natural, sendo 
que a idéia de saber o que é ou não proibido fica na culpabilidade. 
-> Antijurídica 
-> Culpabilidade: puramente normativa (imputabilidade, potencial 
consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta diversa) 
 
 
Teoria social: a ação é a conduta socialmente relevante, dominada ou 
dominável pela vontade humana. Ação socialmente adequada está desde o 
início excluída do tipo porque se realiza dentro do âmbito de normalidade 
social. 
 
 
 
 
 
 
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34 
8.3 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES: 
 
- crimes comuns: podem ser praticados por qualquer pessoa; 
- crimes próprios: somente uma determinada categoria pode praticá-los 
 
- crimes instantâneos: consumação ocorre com a conduta; 
- crimes permanentes: a consumação ocorre com uma única conduta, no 
entanto a situação antijurídica gerada se prolonga no tempo; 
- crimes instantâneos com efeitos permanentes: aparência de 
permanentes por causa do método de execução (bigamia), “ocorrem 
quando, consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem, 
independentemente da vontade do sujeito ativo”(Mirabete) 
 
 - crime comissivo: exigem uma ação, em regra, movimento corpóreo, 
portanto conduta positiva. 
- crime omissivo: é a inatividade, a abstenção de movimento. O fundamento 
de todo crime omissivo constitui-se em uma ação esperada e na não-
realização de um comportamento exigido do sujeito. Conduta negativa. 
- crime comissivo por omissão ou omissivo impróprio: trata-se de uma 
forma de alcançar o resultado previsto para um crime comissivo. A conduta 
descrita é comissiva, de fazer, mas o resultado ocorre por não tê-lo 
impedido o sujeito ativo. Necessária a presença do dever jurídico de agir (ou 
seja, de impedir o resultado), art. 13, § 2º do CP. “Nos crimes omissivos 
impróprios a lei descreve uma conduta de fazer, mas o agente se nega a 
cumprir o dever de agir” (Mirabete). Ex.: mãe que deixa de amamentar seu 
filho causando a morte; enfermeira que deixa de dar o medidamento; 
 
- crime de atividade: podem ser formais ou de mera conduta, contentando-
se apenas com a atividade humana, independente do resultado naturalístico. 
Nos formais há a ocorrência de um resultado naturalístico, embora não se 
exige a sua ocorrência para a consumação do crime (ex.: prevaricação, 
ameaça). Nos delitos de mera conduta, não há ocorrência de resultado 
naturalístico, punindo-se apenas a conduta do agente (ex.: porte de arma). 
- crime de resultado ou materiais: exigem a presença do resultado externo, 
sendo que sem a sua ocorrência o delito é meramente uma tentativa (ex.: 
homicídio, furto). 
 
 
 
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35 
- crime de dano: consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico 
- crime de perigo: consumam com a mera probabilidade de haver um dano 
 
- crime unissubjetivo: a conduta pode ser praticada por um único sujeito, 
porém eventualmente são cometidos por mais de um agente 
- crime plurissubjetivos: o tipo penal exige a pluralidade do agente – rixa, 
bigamia, quadrilha ou bando. 
 
- crime simples: é o tipo básico descrito na lei; 
- crime qualificado: é o tipo básico acrescido de circunstância que agrava 
sua natureza, elevando os limites da pena. 
- crime privilegiado: é o tipo básico acrescido de circunstância que o torna 
menos grave, diminuindo a sua pena (ex.: art. 121, § 1º, 155, § 2º) 
 
- crime progressivo: um tipo penal contém implicitamente outro (ex.: 
homicídio que contém a lesão corporal) 
- crime com progressão criminosa: aqui são duas ou mais condutas, isto é, 
o agente ao praticar um crime resolve, durante a prática criminosa, praticar 
outro mais grave (ex.: agente após causar lesões corporais, resolve matar a 
vítima). 
 
- crime habitual: reiteração de atos que acabam por constituir um único 
delito (ex.: curandeirismo, art. 284, I) 
 
- crime unissubsistente: prática com um único ato (injúria); 
- crime plurissubsistente: prática ocorre com vários atos, componentes da 
ação (homicídio) – admitem tentativa. 
 
8.4 SUJEITOS DO CRIME 
 
Ativo: pessoa que pratica o crime. 
 
 
 
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36 
Passivo: é o titulardo bem jurídico protegido pelo delito 
 
Formal: titular do direito de punir, que é o Estado; 
Material: titular do bem jurídico protegido. 
 
8.5 OBJETO JURÍDICO DO CRIME: 
 
Interesse ou bem jurídico protegido pela norma penal (vida, patrimônio, 
integridade física). 
 
 
8.6 ELEMENTOS: VONTADE, FINALIDADE, EXTERIORIDADE, 
CONSCIÊNCIA 
 
Elementos da conduta: ato de vontade dirigido a um fim e a manifestação 
dessa vontade (atuação psíquica e mecânica), ou seja, a exteriorização 
consciente dessa vontade. 
 
Vontade: domina a ação dolosa (alcança o resultado) e a culposa (só vai até 
a causa do resultado). Assim não constituem conduta atos que não intervém 
a vontade (coação física irresistível e estados de inconsciência). 
 
 
8.7 FORMAS: COMISSIVA, OMISSIVA, COMISSIVA-OMISSIVA 
 
Comissiva: ação, em regra, movimento corpóreo. 
 
Omissiva: é a inatividade, a abstenção de movimento. O fundamento de 
todo crime omissivo constitui-se em uma ação esperada e na não-realização 
de um comportamento exigido do sujeito. 
 
Comissiva-omissiva: também denominado omissivo impróprio ou comissivo 
por omissão. Trata-se de uma forma de alcançar o resultado previsto para 
um crime comissivo. A conduta descrita é comissiva, de fazer, mas o 
resultado ocorre por não tê-lo impedido o sujeito ativo. Necessária a 
presença do dever jurídico de agir (ou seja, de impedir o resultado). Art. 13, 
§ 2º do CP. 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
37 
 
9 ELEMENTO SUBJETIVO: DOLO, CULPA, PRETERDOLO 
9.1 DOLO 
Conceito depende da teoria adotada: 
◊ Finalista: é a vontade consciente de praticar a conduta típica; 
◊ Causalista: é a vontade consciente de praticar a conduta típica, 
acompanhada da consciência de se tratar de um ato ilícito. 
 
Na lição de Basileu Garcia "dolo, consoante o conceito de Carrara, é a 
intenção mais ou menos perfeita de praticar um ato que se sabe contrário à 
lei". 
Hoje, pode-se afirmar que dolo é consciência e vontade, isto é, saber e 
querer em relação à realização do tipo legal. A base da fundamentação 
finalista é o binômio "saber e querer". Saber é o elemento 
cognitivo/intelectivo e o querer é o elemento volitivo (idéia pura do 
conceito: querer realizar e saber-se capaz de controlar a realização). Deve 
ser ressaltado que o querer realizar deve abranger as elementares objetivas, 
descritivas e normativas. 
Três são as teorias que procuram estabelecer o conteúdo do dolo1: 
 
d| Vontade: age dolosamente quem pratica a ação com consciência 
- da conduta e do resultado - e voluntariedade; 
e| Representação: o dolo é a simples previsão do resultado, isto é, 
consciência de que a conduta provocará o resultado; 
f| Assentimento: há o dolo quando simplesmente o agente 
consente em causar o resultado ao praticar a conduta, não 
sendo necessário que queira o resultado. 
 
 
1 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal, vol I, São Paulo: Atlas, 2007, p. 129 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
38 
Nos termos do artigo 18, inciso I, do Código Penal, o crime será “doloso 
quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”, 
portanto, o legislador brasileiro adotou a teoria da vontade para o dolo 
direto e do assentimento para o indireto. 
 
 
O Código Penal adotou a teoria da vontade para o dolo direto e do 
assentimento para o indireto. 
 
 
 
Espécies de dolo 
 
- Dolo genérico: vontade praticar a conduta típica (elementos objetivos) 
 
- Dolo específico: adiciona-se um finalidade especial, também 
conhecida como elemento subjetivo do ilícito (além de elementos 
objetivos, há o subjetivo) 
 
 
- Dolo Direto: sujeito prevê o resultado e age para alcançá-lo. 
 
- Dolo Indireto 
a) Eventual: aquele em o sujeito prevê o resultado e tolera o 
risco de sua produção. O foco do agente é a manutenção da 
conduta (agir). 
b) Alternativo: quando o sujeito faz a previsão de um resultado 
ou nenhum resultado lesivo e os aceita alternativamente. 
 
 
- Dolo Direto de Primeiro Grau: pretensão dirigida ao resultado típico. 
 
- Dolo Direto de Segundo Grau: refere-se aos resultados secundários 
representados como certos ou necessários (o sujeito não quer o 
resultado secundário, mas tem certeza de sua produção). 
 
Válida a advertência de Guilherme de Souza Nucci2: 
 
“A lei não faz distinção entre dolo direto e eventual para fins 
de tipificação da pena. Por isso, o juiz poderá fixar a mesma 
pena para quem agiu com dolo direto e para quem atuou com 
 
2 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de direito penal, 2ª ed., São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2006, p. 215. 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O F E S S O R L U C I A N O S A N T O R O 
39 
dolo eventual. Em regra, já que os tipos penais que nada 
falam a respeito do elemento subjetivo do delito são dolosos 
(ex.: ‘matar alguém’ – art. 121, CP, onde nada se diz acerca 
do dolo), pode-se aplicar tanto o direto, quanto o indireto. 
Excepcionalmente, quando a lei exigir unicamente o dolo 
direto, tal circunstância vem claramente definida no tipo 
penal, como se pode observar no tipo da denunciação 
caluniosa (‘crime de que o sabe inocente’), do art. 339 do 
Código Penal.” 
 
 
9.2 CULPA 
 
Por outro lado, não existe uma definição perfeita de culpa em sentido 
estrito3. A lei penal brasileira limita-se a prever as modalidades da culpa: 
imprudência, imperícia e negligência. 
De acordo com Basileu Garcia4: 
 
"no delito culposo deve existir, de início, um ato voluntário. É 
desse ato voluntário que se origina o resultado ofensivo ao 
direito. Mas o resultado não é previsto pelo agente.... Era, 
contudo previsível - eis uma essencial condição. Portanto, são 
elementos do crime culposo na sua forma comum: ato 
voluntário inicial; previsibilidade; ausência de previsão; 
finalmente, um resultado involuntário lesivo". 
 
Em consequência, os elementos do crime culposo são: 
a| conduta; 
b| tipicidade; 
c| inobservância de cuidado objetivo; 
d| resultado lesivo involuntário; 
e| previsibilidade. 
 
3 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de direito penal, vol. 1, 24ª ed., São Paulo: Atlas, 2007, 
p. 135. 
4 GARCIA, Basileu, Instituições de direito penal, vol. 1, p. 259. 
 
 
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40 
Com efeito, o dever geral de cuidado não é um dever jurídico, mas um dever 
objetivo de cuidado (mandamento moral): 
 "Assim, se o agente não observa esses cuidados 
indispensáveis, causando com isso dano a bem jurídico alheio, 
responderá por ele. É a inobservância do cuidado objetivo 
exigível do agente que torna a conduta antijurídica."5 
A conduta culposa somente será típica quando ela puder ser previsível pela 
perspectiva comum, normal dos homens. Neste diapasão, surge a indagação: 
a previsibilidade deve ser analisada à luz do homem médio ou do sujeito que 
praticou a ação? Para Günther Jakobs, deve ser analisado o homem médio. 
Porém, a tendência é desprezar o homem médio, levando-se em 
consideração o sujeito e o que se espera dele (neste sentido Claus Roxin, 
Juarez Tavares). 
Ressalte-se, mais uma vez, que o delito culposo, para ser caracterizado, 
exige a ausência de adoção do dever objetivo de cuidado (o agente deixa de 
seguir as regras básicas e gerais de atenção e cautela) e a previsibilidade da 
conduta. 
Três são as modalidades de culpa previstas no inciso II do artigo 18 do CP: 
Elementos do crime culposo: 
 
 
Imperícia: ausência de conhecimento da arte e da técnica para 
exercer determinada profissão; 
 
Imprudência: imprevisão do agente em relação às 
conseqüências de seu ato, as quais devia e podia prever; 
 
Negligência: desatenção, falta de cuidado ou de precaução. 
 
 
Culpa inconsciente: culpa semprevisão de resultado. 
 
 
Culpa consciente: agente prevê o resultado, mas acredita que o evento não se 
realizará, confiando na sua ação para impedir o resultado (não assume o risco). 
 
 
9.3 DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE 
Interessante discorrer, ainda que superficialmente, sobre as diferenças 
entre a culpa consciente e o dolo eventual: 
 
5 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual..., p. 137. 
 
 
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41 
f| no dolo eventual o sujeito leva a sério a possibilidade de 
produzir do resultado (nível cognitivo) e no nível volitivo se 
conforma com tal resultado (não atua diretamente para evitá-
lo); 
g| na culpa consciente há leviandade quanto a produção do 
resultado (nível cognitivo) e o sujeito atua confiando que irá 
evitá-lo (nível volitivo), assim a grande diferença encontra-se 
em levar a sério ou não o risco de produzir o resultado. 
 
9.4 CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO: 
 
O sujeito pretendia praticar um determinado crime, mas o resultado acaba 
sendo mais grave do que o pretendido inicialmente, culminando com uma 
pena maior. De acordo com o disposto no artigo 19 CP, somente é imputado 
o resultado mais grave se o sujeito agiu ao menos culposamente. 
 
 
HIPÓTESES: 
 
 
a) dolo na antecedente e dolo na subsequente (latrocínio, art. 157, § 3º; 
extorsão mediante sequestro com resultado lesão grave ou morte, art. 
159, §§ 2º e 3º); 
Observar que o latrocínio também pode ser derivado da culpa, 
o que não modifica a sua pena. 
 
 
b) dolo na antecedente e culpa na subseqüente (lesão corporal seguida de 
morte, art. 129, § 3º CP – forma autêntica; é possível ainda o latrocínio, 
desde que a morte tenha ocorrido por culpa) – CRIME 
PRETERDOLOSO; 
 
 
c) culpa na antecedente e culpa na conseqüente (incêndio culposo com 
resultado de lesão corporal grave ou morte, art. 258 c.c. art. 250, § 2º 
CP). 
 
 
 
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42 
10 NEXO CAUSAL 
Não existe crime sem conduta. 
 
Fato = conduta + resultado + nexo causal 
 
10.1 TEORIAS DO RESULTADO: 
 
Naturalístico: é a modificação sensível gerada no mundo exterior, no mundo 
fenomênico, que tem significado para o Direito. Para os defensores desta 
teoria, há crime sem resultado, porque não é todo crime que gera um 
resultado físico (naturalístico) no mundo exterior, não constituindo o 
evento/resultado como elemento do crime. Isto ocorre, por exemplo, nos 
crimes de mera conduta, que se consumam sem a verificação de qualquer 
resultado, assim, o crime é a ofensa a um bem ou interesse tutelado pela norma 
penal. 
 
Crimes de mera conduta: basta o comportamento do agente, 
independentemente do resultado produzido no mundo exterior. 
 
Crimes materiais: o legislador exige um evento naturalístico que 
integra o tipo como elemento necessário e indispensável. 
 
Crimes formais: a intenção do agente é a realização de um evento, cuja 
consumação a norma retroage a um momento anterior, dispensando a 
sua concretização. 
 
Jurídico ou normativo: evento é a lesão ou ameaça de lesão ao bem-jurídico 
tutelado pela norma penal (vida, patrimônio, saúde, etc.). Para os defensores 
desta corrente, não há crime sem resultado, posto que mesmo nos crimes de 
mera conduta, há resultado em sentido jurídico, consistente na violação da 
norma. 
10.2 CONCEITO: 
 
Nexo causal é o vínculo estabelecido entre a conduta do agente e o resultado 
por ele gerado, considerando-se como causa toda ação ou omissão 
indispensável para configurar o resultado concreto. 
 
10.3 TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS RESULTADOS (CONDITIO 
SINE QUA NON): 
 
 
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43 
 
Considera causa todo fato sem o qual o resultado não se teria operado. Assim, 
basta que a ação tenha concorrido para a produção do resultado 
(independentemente de existirem outras ações que também contribuíram à 
ocorrência do resultado) que ela é considerada causa e o agente o seu causador. 
 
10.4 TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA: 
 
Causa é a condição em geral idônea, apta a produzir o resultado, isto é, é o 
antecedente, não só necessário, mas adequado à produção do evento. Não são 
levadas em conta todas as circunstâncias necessárias, mas somente aquelas 
idôneas à realização do resultado. 
 
O Brasil adotou, no seu artigo 13, "caput", do C.P., a teoria da equivalência 
dos antecedentes e muitos consideram que o parágrafo primeiro, tratando da 
superveniência de causa relativamente independente, teria adotado a teoria 
da causalidade adequada. 
 
DA PRESENÇA DO NEXO CAUSAL NAS CAUSAS DEPENDENTES, CONCAUSAS E 
INDEPENDENTES: 
 
Causa dependente (há nexo causal): Ex.: A dá um tiro e mata B. 
 
Causas relativamente independentes: também chamadas de concausa (causas 
concomitantes que se unem para gerar o resultado). 
 
a) preexistem (há nexo causal): é aquela causa que já existia antes mesmo do 
comportamento do agente, sendo que com esta conduta adicionada gera o 
resultado. Ex.: A dá um veneno a B que só vem a falecer porque apresenta 
uma doença determinada; 
 
b) concomitantes (há nexo causal): é a causa que numa relação de 
simultaneidade com a conduta do agente e com ela conjugada, também é 
considerada produtora do resultado Ex.: A desfecha um tiro em B e este sofre 
um ataque cardíaco devido ao susto; 
 
c) supervenientes (não há nexo causal): a característica das causas 
relativamente independentes é que sem o evento não se opera o resultado. 
Todavia, tendo em vista que o parágrafo 1º adota a teoria da causalidade 
adequada, considera-se rompido o nexo causal para as causas supervenientes. 
Ex.: A dá um tiro em B, que é hospitalizado e acaba falecendo em virtude de 
um incêndio no hospital. 
 
Causas absolutamente independente (não há nexo causal). Ex.: A corta 
os freios do carro de B para que esse sofra um acidente e morra, mas 
esse vem a falecer antes, em virtude de um ataque cardíaco. 
 
 
 
 
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DEVER DE AGIR (crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão) 
 
 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
 
b) de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
 
 
 
 
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11 TIPICIDADE 
11.1 CONCEITO 
 
Para que uma conduta seja considerada criminosa é necessário que dela se 
extraia a tipicidade, isto é, esta conduta deve se ajustar a um tipo legal de 
crime, previamente estabelecido pela legislação penal (princípios da 
legalidade e anterioridade). 
 
A tipicidade formal nada mais é do que a subsunção do fato (conduta 
praticada) à norma penal (tipo penal). 
 
Tipo, como lembra Francisco de Assis Toledo, exprime a idéia de “modelo”, 
“esquema”. O direito penal utiliza-se de tipos, mais precisamente, tipos 
legais de crime. Portanto, o tipo penal é um “modelo abstrato de 
comportamento proibido”, frutos de um juízo de desvalor ético-social. 
 
Cabe a advertência de Zaffarani e Pierangelli para não se confundir tipo com 
tipicidade: “‘tipo’ é a fórmula legal que diz ‘matar alguém’ (está no CP); 
tipicidade é a característica de adequação ao tipo que possui a conduta que 
um sujeito ‘A’ que dispara cinco tiros contra ‘B’, causando-lhe a morte 
(está na realidade). A conduta de ‘A’, por apresentar a característica de 
tipicidade, dizemos que é uma conduta ‘típica’”. 
 
 
 
 
TIPO 
 
“Nomen iuris” (nome do tipo) 
 
Preceito primário: comando principal (conduta proibida, no tipo penal 
incriminador ou conduta permitida, no tipo 
permissivo) 
 
Preceito secundário: sanção penal (tipo incriminador) 
 
 
R O T E I R O D E E S T U D O – P R O

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