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1 EDIÇÃO 18 Janeiro de 2015 Fechamento autorizado Pode ser aberto pela ECT Lei sancionada em dezembro tem como objetivo garantir a igualdade parental GUARDA COMPARTILHADA ENTREVISTA A magistrada Angela Gimenez aborda os principais fundamentos da nova lei.pág. 5 OPINIÃO A Guarda Compartilhada na berlinda Waldyr Grisard analisa a nova leipág. 12 Veja as principais notícias sobre Direito das Famíliaspág. 14 B AH RI AL TA Y | B AL UC HI S | D OL LA RP HO TO CL UB 2 Rio Grande do Sul 3 EDITORIAL Uma forte mobilização social pode mesmo fazer diferença. E o resultado foi a sanção da Lei da Guarda Compartilhada, no dia 23 de dezembro, pela presidente Dilma Rousseff. Em 2013, apenas 6,8% dos mais de 324 mil divórcios no país resultaram em guarda compartilhada. Em entrevista, a juíza Angela Regina Gama da Silveira Gimenez, presidente do IBDFAM/MT e titular da 1ª Vara Especializada de Família e Sucessões de Cuiabá, conta que a nova lei teve como principais fundamentos a co-responsabilidade dos genitores e o equilíbrio na divisão do tempo de convivência dos pais com seus filhos. O Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Gabriel Carvalho Sampaio, explica que o andamento ágil no Congresso foi justamente porque a guarda compartilhada não era preponderante nas estatísticas. Muito pelo contrário. Já o juiz de Direito da 18ª Vara de Família da Comarca do Rio de Janeiro, André Côrtes Vieira Lopes, relatou que existe uma resistência muito grande por parte dos juízes na aplicação da guarda compartilhada quando há divergências entre os cônjuges. Para ele, os juízes aplicavam a guarda compartilhada como penalidade para a alienação parental e era vista mais como pena do que como solução do conflito. Para a psicóloga Rosely Sayão, uma das tradições ainda muito fortes em nossa sociedade é a de que apenas a mãe é a responsável pelo filho. Em artigo, Waldyr Grisard analisa que no entanto, a norma projetada não só mantém vivos alguns dos velhos equívocos à sua atribuição, como ressuscita outros, de nefasta memória, como a guarda alternada, nunca disciplinada em nosso ordenamento jurídico. “Assim, a guarda compartilhada permanece na berlinda”. Resta-nos agora saber como será a efetiva participação do pai e da mãe na educação e cuidado dos filhos. Boa leitura! PELA CONVIVÊNCIA FAMILIAR PACÍFICA EXPEDIENTE DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Rodrigo da Cunha Pereira (MG) Vice-Presidente: Maria Berenice Dias (RS) Primeiro-Secretário: Rolf Madaleno (RS) Segundo-Secretário: Rodrigo Azevedo Toscano de Brito (PB) Primeiro-Tesoureiro: Antônio Marcos Nohmi (MG) Segundo-Tesoureriro: Jose Roberto Moreira Filho (MG) Diretor do Conselho Consultivo: Jose Fernando Simão (SP) Diretor de Relações Internacionais: Paulo Malta Lins e Silva (RJ); 1º Vice: Cássio Sabbagh Namur (SP), 2ª Vice: Adriana Antunes Maciel Aranha Hapner (PR); Secretária: Marianna de Almeida Chaves Pereira Lima (PB) Diretora de Relações Interdisciplinares: Giselle Groeninga Superintendente: Maurício Santos CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Diretor Norte: Zeno Veloso (PA); Diretor Nordeste: Paulo Luiz Netto Lôbo (AL) Diretora Centro-Oeste: Eliene Ferreira Bastos (DF) Diretor Sul: Luiz Edson Fachin (PR) Diretora Sudeste: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP) COMISSÕES Comissão Científica: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP); Vice: João Batista de Oliveira Cândido (MG); Comissão de Direito das Sucessões: Zeno Veloso (PA); 1ª vice: Tatiana de Almeida Rego Saboya (RJ); 2º Vice: Flavio Murilo Tartuce Silva (SP); Comissão de Mediação: Suzana Borges Viegas de Lima (DF); Comissão da Infância e Juventude: Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade Maciel (RJ); Vice: Melissa Telles Barufi (RS); Comissão do Idoso: Tânia da Silva Pereira (RJ); Comissão de Jurisprudência: Viviane Girardi (SP); Comissão de Assuntos Legislativos: Mário Luiz Delgado Regis (SP); Comissão de Gênero e Violência Doméstica: Adélia Moreira Pessoa (SE); Vice: Rosana Amara Girardi Fachin (PR); Comissão de Notários e Registradores: Priscila de Castro Teixeira Pinto Lopes Agapito (SP); Vice: Karin Regina Rick Rosa (RS); Comissão de Estudos Constitucionais da Família: Gustavo José Mendes Tepedino (RJ); Comissão de Ensino Jurídico de Família: Waldyr Grisard Filho (PR); 1º vice: Fabiola Albuquerque Lôbo (PE); 2º Vice: Marcos Alves da Silva (PR); Comissão de Relações Acadêmicas: Marcelo Luiz Francisco Bürger (PR); Comissão de Direito Homoafetivo: Patrícia Cristina Vasques de Souza Gorisch (SP); Vice: Ana Carla Harmatiuk Matos (PR); Comissão de Adoção: Silvana do Monte Moreira (RJ); Comissão de Advogados de Família: Marcelo Truzzi Otero (SP); Vice: Aldo de Medeiros Lima Filho (RN); Comissão de Magistrados de Família: Jones Figueiredo Alves (PE); Vice: Andréa Maciel Pachá (RJ); Comissão de Promotores de Família: Cristiano Chaves de Farias (BA); Comissão dos Defensores Públicos da Família: Paulo Fernando de Andrade Giostri (SP); Comissão de Direito Previdenciário: Hélio Gustavo Alves. DIRETORIAS ESTADUAIS REGIÃO NORTE: ACRE - Presidente: Eronilço Maia Chaves; AMAPÁ - Presidente: Nicolau Eládio Bassalo Crispino; AMAZONAS -Presidente: Gildo Alves de Carvalho Filho; PARÁ -Presidente: Maria Célia Nena Sales Pinheiro; RONDÔNIA -Presidente: Raduan Miguel Filho; RORAIMA - Presidente: Neusa Silva Oliveira; TOCANTINS - Alessandra Aparecida Muniz; REGIÃO NORDESTE: ALAGOAS - Presidente: Ana Florinda Mendonça da Silva Dantas; BAHIA - Presidente: Alberto Raimundo Gomes dos Santos; CEARÁ - Presidente: Angela Maria Sobreira Dantas Tavares; MARANHÃO - Presidente: Bruna Barbieri Waquim; PARAÍBA - Presidente: Dimitre Braga Soares de Carvalho; PERNAMBUCO - Presidente: Luciana da Fonseca Lima Brasileiro; PIAUÍ - Presidente: Isabella Nogueira Paranaguá de Carvalho Drumond; RIO GRANDE DO NORTE - Presidente: Suetônio Luiz de Lira; SERGIPE - Presidente: João Alberto Santos de Oliveira; REGIÃO CENTRO-OESTE: DISTRITO FEDERAL -Presidente: Ana Maria Gonçalves Louzada; GOIÁS - Presidente: Maria Luiza Póvoa Cruz ; MATO GROSSO - Presidente: Angela Regina Gama da Silveira Gutierres Gimenez; MATO GROSSO DO SUL - Presidente: Paula Guitti Leite; REGIÃO SUDESTE: ESPÍRITO SANTO - Presidente: Thiago Felipe Vargas Simões; MINAS GERAIS - Presidente: Silvio Augusto Tarabal Coutinho; RIO DE JANEIRO- Presidente: Luiz Cláudio de Lima Guimarães Coelho; SÃO PAULO - Presidente: Sérgio Marques da Cruz Filho; REGIÃO SUL: PARANÁ - Presidente: Adriana Antunes Maciel Aranha Hapner; RIO GRANDE DO SUL - Presidente: Conrado Paulino da Rosa; SANTA CATARINA - Presidente: Mara Rúbia Cattoni Poffo. REVISTA IBDFAM A Revista IBDFAM é publicada pela Assessoria de Comunicação Social do Instituto Brasileiro de Direito de Família Redação: Luana Edwiges (Estagiária), Maran Oliveira, Thaís Pontes e Pâmilla Vilas Boas Edição: Pâmilla Vilas Boas Diagramação: Bruno Santos Revisão: Pedro Vianna Projeto gráfico: Agência Reciclo Assessoria Jurídica: Ronner Botelho e Luma Francielle (Estagiária) Tiragem: 6000 exemplares Distribuição: gratuita, aos sócios do IBDFAM. Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores Atendimento ao associado: (31) 3324-9280 Rio Grande do Sul 4 Entrevista ............................ pág. 05 Artigo .................................. pág. 12 Cultura ................................ pág. 13 ESPAÇO DO LEITOR PÁG. 9 Matéria de capa PÁG. 14 Notícias DO LL AR PH OT OC LU B INTERNAUTAS OPINAM SOBRE A LEI DE GUARDA COMPARTILHADA: MARCOS GONZAGA FERREIRA: Penso que é bem complicado para formatar uma resposta, pois existem casos e casos; agora no geral é uma Lei positiva tendo em vista visar ao melhor bem estar à criança propiciando uma convivência de qualidade com os pais. SHEILA RIBEIRO:Compartilho e aprovo essa lei. Que visa o bem estar da criança, assegurando e estimulando a convivência pacifica entre seus pais e responsáveis. IARA SOUZA: Acredito que a educação acerca dos direitos e deveres oriundos do poder familiar, que são, por lei, compartilhados, seria muito mais eficaz. Na prática, temo a aplicabilidade de guarda alternada, que, entendo, é prejudicial ao melhor interesse da criança e do adolescente. ENFERMEIRA ANGELITA: A Guarda Compartilhada, no meu entendimento, deveria ser também acrescida aos avós, pois percebo que muitas vezes fica somente da casa do pai para a casa da mãe, como um cumprimento do que foi estabelecido, deixando de lado o contato com os demais familiares, e se a família for madura suficiente que possam tentar unir-se pelo menos nas datas comemorativas para o bem desta criança/adolescente. A separação conjugal foi do casal e não do filho com o afeto e convívio com a sua família. Fazer trabalhos de conscientização dos padrastos e madrastas em relação à Guarda Compartilhada através dos serviços de apoio de psicologia e assistência social do judiciário/outros seria válido, pois se deles não partir a ação positiva do bom convívio tudo poderá falhar. E antes de qualquer decisão, penso que, a criança e/ou adolescente devam ser ouvidos e respeitados. Torço que a Lei bem oriente as famílias! AN GI OL IN A | D OL LA RP HO TO CL UB WA VE BR EA KM ED IA MI CR O | D OL LA RP HO TO CL UB 5 ENTREVISTA COMO VOCÊ AVALIA A APROVAÇÃO DO PLC 117/2013, QUE ALTERA QUATRO ARTIGOS DO CÓDIGO CIVIL, DENTRE ELES O QUE TRATA DA GUARDA COMPARTILHADA ENTRE OS GENITORES? A modificação da legislação civil, proposta pelo PLC 117/2013, foi efetivada através da Lei nº 13.058/2014, que consolidou a igualdade parental entre os genitores, estabelecendo o significado da expressão “guarda compartilhada”. Para isso foram alterados os artigos 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 do Código Civil Brasileiro, como resultado de uma forte mobilização social, em busca da efetiva participação do pai e da mãe na educação e cuidado dos filhos. A nova lei teve como principais fundamentos a co-responsabilidade dos genitores e o equilíbrio na divisão do tempo de convivência dos pais com seus filhos. A edição da lei da igualdade parental traz avanços reais para o Direito das Famílias, contemporizando-o aos novos arranjos familiares, que não se limitam mais às famílias nucleares. A guarda compartilhada foi estabelecida como o modelo legal vigente, o que significa dizer que a guarda unilateral, conferida a um dos genitores, tornou-se medida de exceção, que só se justifica em situação de inaptidão de um deles para o exercício do poder familiar, ou se um deles não desejar. Assim, a presunção legal é a guarda compartilhada. Reafirmou-se o direito dos genitores na obtenção de informações detalhadas sobre situações e assuntos ligados à saúde física e psicológica dos filhos, bem como das que versem sobre seu desenvolvimento educacional. Institui-se a obrigatoriedade dos estabelecimentos públicos e privados ao fornecimento das referidas informações, sob pena de multa diária, que varia de R$ 200,00 a R$ 500,00. Previu a lei, ainda, a possibilidade de prestação de contas e de redução das prerrogativas daquele genitor que descumprir imotivadamente as cláusulas de guarda firmadas. QUAIS OS PRINCIPAIS PONTOS QUE VOCÊ DESTACARIA NESSA NOVA LEI? O principal ponto positivo está no fato de que a nova lei adota a guarda compartilhada automática, prestigiando o poder familiar dos genitores, que resulta intacto, após as separações ou mesmo quando os pais nunca viveram em comunhão. Dissipa, também, um antigo posicionamento de que a concessão da guarda compartilhada pressupunha um bom entendimento entre os pais, ou seja, que exigiria a ausência de litígio. Sabemos que, na grande maioria dos divórcios e dissoluções de união estável, os cônjuges ou conviventes encontram dificuldade de comunicação, resultante de desentendimentos, mágoas ou inaceitações, dentre outros fatores. Reconhecer que a guarda não poderia ser compartilhada, em situação de dissenso, é confundir grosseiramente a relação de conjugalidade com os vínculos de parentalidade existentes entre os filhos e seus pais. Assim, a guarda compartilhada acaba ou minimiza a primeira disputa que aparece em uma separação, que é a disputa pelos filhos, podendo, inclusive, desestimular a estratégia de litigar continuamente, que tanto sobrecarrega o Judiciário. Com a vigência da lei superou-se a obsoleta divisão entre genitor de primeira linha e genitor de segunda categoria, entre genitor guardião e genitor visitante. A teleologia da lei está voltada ao convívio que os filhos devem ter com seus familiares, de forma harmônica e igualitária, e isso significa dizer que pai e mãe devem participar das atividades cotidianas de seus filhos, acompanhando-os, orientando-os e amando-os presencialmente. Não havia mais espaço, dado ao nosso estágio civilizatório, para que o contato paterno-filial ou materno-filial permanecesse de forma espaçada e superficial. Os processos judiciais comprovaram que as visitas esquadrinhadas, com dia e hora determinados, provocavam fortes angústias em pais e filhos, durante os encontros, e também nos momentos anteriores e posteriores à sua ocorrência, sempre marcada por separações e espaços dilatados entre os reencontros. Termina-se, com o advento da lei, uma prática não pouco usual, vivida na seara dos processos, onde um dos litigantes insistia na perpetuação dos desentendimentos, praticando atos de ANGELA GIMENEZ IGUALDADE PARENTAL Angela Gimenez é magistrada, titular da Primeira Vara Especializada em Família e Sucessões de Cuiabá e Presidente do IBDFAM-MT 6 alienação parental que acabavam sendo legitimados por decisões judiciais, que mantinham o afastamento do filho de um de seus genitores e, tantas vezes, de sua família também. Nesse modelo havia sempre um estranhamento rondando o contato parental, o que dificultava e por vezes até impedia o estabelecimento e a manutenção de vínculos que só se fortalecem com o frequente contato físico que deve existir, ao longo de uma fase tão peculiar do desenvolvimento humano. Quanto às eventuais críticas, um aspecto do texto que merece ser melhor analisado é o que diz respeito ao suposto permissivo legal, para o afastamento da guarda compartilhada, nas situações em que um dos genitores não deseja exercê-la. Cabe aqui um cuidado interpretativo, eis que, por ser a guarda uma responsabilidade parental, não nos parece razoável aceitar a abdicação do dever de cuidado, decorrente do poder familiar, somente por volitividade de um dos genitores, ou seja, por simples querer ou não querer. Cabe lembrar que os tribunais pátrios vêm reconhecendo, inclusive, a responsabilidade civil por abandono afetivo daquele que deixa de exercer seu papel de cuidador, no bojo da família. O sistema legal como um todo aponta para a responsabilidade dos genitores, no desenvolvimento infanto-juvenil, não guardando qualquer razoabilidade eximir-se um deles de sua tarefa, por mero desinteresse. Nesse sentido, apenas em caso justificável o Poder Judiciário poderia legitimar a vigência de uma guarda unilateral, ainda assim mantendo as demais responsabilidades do genitor afastado como, por exemplo, às decorrentes de manutenção da prole. COMO FICAM AS DIFERENÇAS ENTRE GUARDA COMPARTILHADA E GUARDA ALTERNADA? A lei reconhece a guarda compartilhada como o modelo protetivo da infância e juventude a ser seguido. Não há o que se confundir, com a guarda alternada, pois esta se configura em uma modalidade de guarda unilateral ou monoparental,caracterizada pelo desempenho exclusivo da guarda por um dos genitores, segundo um período predeterminado que pode ser anual, semestral ou outro. Não há compartilhamento porque, embora os pais concordem que a guarda não seja exclusiva de um dos genitores, indeterminadamente, somente um deles formula e desenvolve o viver do filho, durante o período em que este permanece em sua companhia. Criam-se regras, espaços e tempos próprios, nos quais os filhos se submetem a uma alternância sistematizada de convivência, cujos parâmetros podem ser dissociados entre si variando, até mesmo, de forma diametralmente oposta, a depender dos valores de mundo de cada ascendente. Essa modalidade de guarda não se encontra disciplinada na legislação brasileira, e nada tem a ver com a guarda compartilhada, que se caracteriza pela constituição de famílias multinucleares, nas quais os filhos desfrutam de dois lares, estimulando a manutenção de vínculos afetivos e de responsabilidade, essenciais para o desenvolvimento biopsíquico das crianças e dos jovens. É certo que o compartilhamento da guarda pressupõe uma alternância de convívio, para que os dois genitores possam promover a rotina diária de seus filhos e preservar o contato físico imprescindível nas relações de família. Então, o que se alterna é o tempo de convivência e nunca a espécie de guarda. EM SUAS DECISÕES, COMO VOCÊ PERCEBE O IMPACTO DA GUARDA COMPARTILHADA NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS? Nesse aspecto, gostaria de salientar que a experiência vem demonstrando que a conces- são da guarda compartilhada, na esfera judi- cial, inclusive em sede liminar, tem sido bem recebida pelos genitores sempre que, ao longo do processo, sejam oportunizados aos envol- vidos espaços de reflexão e de questionamen- to sobre seu papel e suas condutas familia- res. O que se nota é que os genitores, na sua grande maioria, amam seus filhos e desejam o melhor para eles. No entanto, em alguns mo- mentos, não se percebem praticando atos des- favoráveis ao desenvolvimento das crianças, especialmente quando suas dores ecoam tão alto em seu mundo interior que chegam a en- surdecê-los, afastando-os do comportamento esperado de um cuidador. Na cultura ociden- tal, não se tem oportunidade de se preparar os pais para o desenvolvimento de tão importan- te tarefa. Ao longo da vida nos são repassados vários conteúdos. Aprendemos a ler, escrever, cozinhar, plantar, dirigir, investir capital e tantas outras coisas, mas a primordial tarefa de ser pai e mãe não nos é ensinada. Ninguém nasce pai ou mãe... Nos construímos pais e mães, em meio à cultura. Então, quando o Po- der Judiciário se propõe a fornecer um espaço de análise crítica sobre essa responsabilidade familiar, se coloca, verdadeiramente, ao lado da sociedade, melhorando a ambiência onde se dão as relações em família. As preocupa- ções, tão alardeadas, quanto ao fato dos filhos terem de se desenvolver, inseridos em dois la- res, não se tornam tão significativas quando os adultos se abrem com desprendimento para essa experiência auxiliando, de forma amo- rosa, os filhos a percorrerem seu caminho. Tanto é verdade que o número de ações judi- ciais, visando à modificação da guarda com- partilhada para a guarda unilateral, são infi- nitas vezes menores do que aquelas que, em sentido contrário, visam o compartilhamento da guarda, após a concessão de guarda única. Esse é um dado expressivo, e em que pese não se ter uma pesquisa concreta desses nú- meros, do meu trabalho, posso afirmar que te- mos cerca de menos do que dois por cento de pedidos de alteração de guarda compartilhada “ “ ...o que se alterna é o tempo de convivência e nunca a espécie de guarda. 7 ENTREVISTA ANGELA GIMENEZ para unilateral, o que mostra um sucesso in- questionável do modelo atualmente eleito. Os estudos científicos comprovam também que, para a saúde física e emocional das crianças e dos jovens, a guarda compartilhada se mostra mais eficaz. Cito aqui o importante trabalho de Linda Nielsen, publicado em novembro de 2011, “Shared Parenting After Divorce: A review of shared residential parenting rese- arch”, onde se constatou que o compartilha- mento da residência com ambos genitores se apresentou mais conveniente para os filhos, eis que dos 21 casos estudados, 20 indicaram ser mais positiva a dupla residência do que a residência fixa com a mãe, contra um que não encontrou diferenças. EXISTEM CASOS EM QUE A GUARDA COMPARTILHADA NÃO DEVE SER APLICADA? Reafirmo que a adoção da guarda compar- tilhada não é mais uma questão de opinião ou de preferência, mas sim uma imposição legal. Não se cogita mais em subjugá-la, sem que com isso se esteja ferindo a norma vigente. Assim, os casos em que a guarda comparti- lhada não será aplicada remontam às exce- ções, igualmente previstas em lei. São casos extremos de condutas ilícitas, como aquelas que envolvam violência doméstica, drogas, detenção, dentre outras. Porém, para essa excepcionalidade, valemo-nos de todo arca- bouço legal existente, como por exemplo os preceitos contidos na Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e do Adolescente, Códi- go Penal e leis correlatas. Isso porque, como já afirmamos anteriormente, a relação entre pais e filhos significa um direito dos genitores mas, principalmente, um dever advindo das relações parentais. QUAIS OS ASPECTOS MAIS FUNDAMENTAIS QUE SE DEVE LEVAR EM CONTA EM AÇÕES SOBRE GUARDA COMPARTILHADA? O primeiro ponto de destaque é que, tendo a Lei nº 13.058/2014 introduzido no § 3º do art. 1.584 do CC, a responsabilidade do Poder Judiciário, na divisão equilibrada do tempo da criança com o pai e com a mãe, cabe ao juiz trabalhar com o ideal de compartilhamento na proporção de 50% do tempo para cada um dos genitores. Esse é o ideal a ser perseguido e, ao mesmo tempo, o ponto de partida para a deliberação acerca do exercício da guarda compartilhada, inclusive em sede de liminar ou de antecipação de tutela. A diminuição ex- cepcional desse percentual deverá ser enfren- tada em cada caso, uma vez que, para eventu- al desproporção, há de haver uma satisfatória justificativa. Uma razão a demandar a construção de proposta alternativa poderá se dar quando os genitores residirem em cidades diferentes ou em locais muito distantes. Nessas situações, as partes e o juiz poderão elaborar outro co- eficiente de divisão a partir da subjetividade dos fatos analisados, sempre tomando como parâmetro os estudos já existentes, que dão conta de que um percentual menor do que 35% do tempo, para aquele que detém a me- nor parte dele, significará a instituição de guarda unilateral, se desfazendo a caracterís- tica do compartilhamento. Desse modo, a equação distributiva do tempo é tarefa importante atribuída ao Po- der Judiciário que, em situações especiais, como por exemplo a de longa distância das residências, poderá se valer de uma compen- sação do tempo suprimido de um dos pais, alargando seu período de convívio, durante férias e feriados, sempre em busca da divisão equilibrada preconizada por lei. Outro fator de igual importância é o reconhecimento de que o termo convivência, utilizado pela lei de igualdade parental, significa custódia físi- ca do genitor para com o filho, afastando de vez a obsoleta discussão se o pernoite estaria incluído como elemento integrante do conví- vio. Falo isso porque não raras foram as vezes em que se presenciou o argumento de que a convivência paterno-filial poderia se dar por celular, skype e outros meios, num total des- compasso com a dicção legal. É certo que to- dos os meios eletrônicos ou de outra área que possam estabelecer contato entre os familia- res são bem-vindos, desde que, com nature- za complementar, já que o contato físicoque permeia o desenvolver das rotinas diárias da criança é essencial para o seu pleno desenvol- vimento. No mais, leva-se em conta a idade da criança, seu estado de saúde, se se encon- tra em fase de amamentação, as condições do ambiente onde esta vai permanecer, dentre outros fatores. A questão dos custos de manu- tenção, também, tem lugar nessa análise e, em matéria de contribuição alimentícia, os parâ- metros de definição permaneceram intactos, já que a nova lei em nada tratou sobre isso. A fixação da responsabilidade alimentar de cada genitor continua sendo aferida, tendo como base o trinômio: necessidade do alimentando, possibilidade do alimentante e proporciona- lidade. Assim, sobre a quantificação dos ali- mentos, vejo que o regime convivencial trará alteração em casos excepcionais, uma vez que grande parte dos gastos dos filhos se dá com despesas escolares, plano de saúde, material escolar, remédios, roupas e calçados, que se manterão fixos, independentemente do perío- do em que a criança permaneça com um ou outro genitor. COMO VOCÊ AVALIA A PERSPECTIVA PSICANALÍTICA QUE ACREDITA QUE UMA CRIANÇA NÃO PODE TER DUAS CASAS? Juristas têm afirmado que a dupla resi- dência traria prejuízo ao desenvolvimento in- fantil, sob o prisma psicanalítico. No entanto, tais argumentos vêm dissociados do aporte te- órico exigido, já que não há como se afirmar que a Psicanálise apresente uma posição con- “ “ Reafirmo que a adoção da guarda compartilhada não é mais uma questão de opinião ou de preferência, mas sim uma imposição legal. 8 solidada contra a dupla residência. Ao con- trário, os psicanalistas contemporâneos enfa- tizam a importância de um ambiente facilita- dor no desenvolvimento das crianças, não se restringindo a questões de gênero. Para eles, pai e mãe podem desempenhar com maestria a função paterna e materna. A criança tem uma grande capacidade de adaptação onde ti- ver amor e respeito e, por isso, o sucesso de qualquer modelo familiar passará necessaria- mente por esses pressupostos. Sabemos que, em algumas situações especiais, como, por exemplo, as crianças portadoras de necessida- des especiais ou de sofrimento psíquico gra- ve, necessitam de uma certa permanência, em espaços conhecidos, para o seu maior desen- volvimento. Nestas circunstâncias, tem de se garantir, no mínimo, o prolongamento do pe- ríodo de adaptação, como medida de proteção do filho. Porém, as situações excepcionais não são suficientes para afastar a presença dos dois genitores da vida da criança. Ambos são necessários; contudo, destaco a importân- cia da presença paterna, por ser uma consta- tação contemporânea, já que, em nosso país, as guardas unilaterais, em favor das mães, ultrapassaram o índice de 90%. O enfraqueci- mento da figura paterna vem desestabilizando as famílias. Muitos são os estudos que enfren- tam tal constatação e que se encontram à dis- posição como, por exemplo, os existentes em sites especializados, como o do Observatório da Guarda Compartilhada. Saliento o traba- lho da psicóloga Sandra Baccara, intitulado “Ausência da função paterna no contexto da violência juvenil” que, com grande proprie- dade, analisa as mudanças culturais e sociais que nos levaram a uma revisão do papel do homem e da mulher e, consequentemente, das funções maternas e paternas. Nesse texto, a autora demonstra que os impactos dessa sub- jugação familiar do papel do pai se desdobra em questões sociais graves, como as atinentes aos adolescentes em conflito com a lei. As- sim, vivemos novos tempos e reconhecemos que não apenas os homens vêm lutando para o exercício pleno de sua paternidade, inserin- do nele a condição de cuidador. Também as mulheres, cada vez mais, querem sair do res- trito espaço privado, para ganhar os espaços públicos de trabalho, da política, arte e tantos mais. Vivemos mediante a existência de no- vos arranjos familiares, onde o afeto é o elo identificador de uma família, principalmente quando falamos da parentalidade. A ONU estabelece no seu 3º objetivo de desenvolvi- mento do milênio: “promover a igualdade en- tre os sexos e a autonomia das mulheres”. É sabido que a maior responsabilização dos pais nos cuidados parentais é considerada uma das ferramentas necessárias para a promoção da igualdade entre os gêneros. As eventuais dificuldades logísticas, hoje simbolizadas pela expressão “mochila nas costas das crian- ças” perde relevo, diante dos ganhos trazidos pelo aumento da convivência dos filhos com todos os seus familiares, e em especial com seus dois genitores. Lembro aqui o saber de Vitório Vezzetti, pediatra e diretor científico da Associação Nacional Italiana de Profissio- nais de Família, que diz que impedir a guarda compartilhada, por eventuais dificuldades de organização dos pais, é o mesmo que “negar antibióticos às pessoas com pneumonia, para se evitar os inevitáveis efeitos secundários gastrointestinais”. Segundo o mesmo pedia- tra italiano, não existe, desde 1999, qualquer estudo científico validável, favorável à guar- da unilateral ou contrário à guarda compar- tilhada. Esse pediatra salienta que a guarda unilateral é causa de uma série de doenças e desajustes, o que levou ao emprego da ex- pressão “filhos do divórcio”, notadamente referindo-se ao maior adoecimento destes do que daqueles que vivem em famílias nuclea- res e dentre aqueles, o maior adoecimento dos que vivem em regimes unilaterais. Assim, si- gamos em frente, em busca do melhor para as nossas crianças e jovens. No âmbito da Jus- tiça muito se poderá fazer, inclusive, com a implementação da mediação. Lembremos que o novo CPC a introduz como uma fase pro- cessual formal, para todos os processos. Não obstante, a sociedade civil, também, deve estar envolvida na efetivação de uma cultura para a paz, de modo que as escolas, as igrejas, os clubes de serviço e outros setores se com- prometam com o fortalecimento das famílias, independentemente do seu formato. Que os genitores se co-responsabilizem pelos cuida- dos com os filhos, retirando das mulheres o peso da dupla jornada. Que o Estado desen- volva políticas públicas voltadas para aque- les que, muitas vezes, não possuem nem ao menos uma passagem de ônibus para buscar seus filhos, conhecendo os serviços de babás somente se for para exercê-lo. Que possamos caminhar firmes, aprofundando nossas refle- xões, incluindo outras variáveis sociais que são determinantes, tais como a situação das mães abandonadas, dos alcóolatras, dos tran- sexuais, dos aidéticos, dos transtornados men- talmente, dentre outros. Todas essas pessoas, como cada um de nós, têm filhos e amor. ENTREVISTA ANGELA GIMENEZ “ “ A criança tem uma grande capacidade de adaptação onde tiver amor e respeito... “ “ O enfraquecimento da figura paterna vem desestabilizando as famílias. “ “...impedir a guarda compartilhada, por eventuais dificuldades de organização dos pais, é o mesmo que negar antibióticos às pessoas com pneumonia, para se evitar os inevitáveis efeitos secundários gastrointestinais 9 PROJETO DE LEI SANCIONADO EM DEZEMBRO OBRIGA A APLICAÇÃO DA GUARDA COMPARTILHADA MESMO EM CASOS DE CONFLITO ENTRE OS PAIS Consenso, diálogo, responsabilidades. Mesmo fazendo parte do ordenamento jurí- dico desde 2008, a Guarda Compartilhada, ao invés de regra, sempre foi exceção. Se os conflitos do fim do amor são quase ineren- tes aos processos de divórcio, como atrelar o compartilhamento da guarda ao completo entendimento entre os pais? Para corrigir essa visão, reforçada pela jurisprudência brasileira, foi sancionada a lei (PLC 117/2013) que prioriza a Guarda Compartilhada mesmo que haja conflito entre os pais. A proposta, sancionada sem vetos pela presidente DilmaRousseff no dia 23 de dezembro de 2014, passa a valer imediatamente. De acordo com o texto, se os pais estiverem aptos a exercer o poder familiar, o juiz deverá conceder a guarda compartilhada. A guarda só poderá ser con- cedida de forma unilateral se um dos pais declararem expressamente, e por escrito, que não a deseja. As Estatísticas do Registro Civil refor- çam esse quadro. Em 2013 foram conce- didos 324.921 divórcios diretos no Brasil. Deste número, 86,3% tiveram a responsabi- lidade pelos filhos concedida às mulheres. Apenas 6,8% tiveram a guarda comparti- lhada. O Pará, com 11,4%, e o Amazonas, com 10,8%, foram os estados brasileiros com os maiores percentuais de divórcios nos quais foram evidenciadas as guardas compartilhadas. O Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Gabriel Carvalho Sampaio, explica que a justificativa princi- pal para que o Projeto de Lei tivesse o anda- mento ágil no Congresso foi justamente esse triste diagnóstico. “Foi a mola propulsora para que o projeto fosse aprovado. Todos os setores que se envolveram na aprovação partilhavam da visão de que a guarda com- partilhada ainda não é preponderante nas estatísticas, o que estimulou a mobilização pelo fortalecimento da guarda compartilha- da no país”, relata. Para o Secretário, a posi- tivação da Lei é um passo para a efetivação da guarda compartilhada para além daquela condicionada ao consenso entre os pais. O juiz de Direito da 18ª Vara de Família da Comarca do Rio de Janeiro, André Côrtes Vieira Lopes, relata que ainda existe uma resistência muito grande por parte dos juí- zes na aplicação da guarda compartilhada quando há divergências entre os cônjuges. “Temos encontrado certa dificuldade na aplicação. Geralmente os juízes aplicavam a guarda compartilhada como penalidade para a alienação parental. Era vista mais como pena do que como solução do conflito”, ressalta. Em uma das ações em que André con- cedeu a guarda compartilhada, um dos ex- cônjuges entrou com uma reclamação con- tra o juiz na Corregedoria com o objetivo de afastá-lo da ação. “Hoje, infelizmente, as partes, ao invés de recorrerem aos tribu- nais superiores, estão utilizando o meio do afastamento do julgador para conseguir a decisão desejada. Às vezes nem recorrem, apenas representam contra o magistrado que vai contra seus interesses”, ressalta. O juiz aponta que é direito da parte re- correr e reclamar. É por isso que os órgãos de controle devem estar atentos e tomar as medidas cabíveis para analisar cada caso. André acredita que o compartilhamento da guarda é inerente ao poder parental e, por isso, não precisaria de Lei para normatizar o tema. “Falta uma conscientização sobre o interesse do menor. Só vamos ver o resul- tado desse PL quando for aplicado. Há uma AN GI OL IN A | D OL LA RP HO TO CL UB DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR CAPA 10 forte jurisprudência no sentido da não apli- cação da guarda compartilhada quando não há consenso entre os pais. Como veio a lei, só depois da aplicação é que vamos saber se vingou ou não”, revela. Para a psicóloga Rosely Sayão, uma das tradições ainda muito fortes em nossa socie- dade é a de que apenas a mãe é a respon- sável pelo filho. “Hoje temos muito casais casados e a guarda não é compartilhada. É a mãe que cuida e resolve os problemas do filho. Não é difícil você ouvir a expressão: ‘Olha o que seu filho está fazendo’. O filho é dos dois. A resistência à guarda comparti- lhada também se refere à nossa tradição de usar as crianças como estratégia de ataque e de luta”, ressalta. RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS Compartilhar a guarda representa o di- reito da criança de crescer acompanhada e convivendo com o pai e com a mãe, ressalta Rosely. Para ela, significa os pais conversa- rem sobre o que é melhor para o filho nas questões mais importantes com respeito às diferenças entre os ex-companheiros. “Pai tem um jeito e mãe tem outro. Não podemos somar o tempo e dizer que é um tempo com o pai e outro tempo com a mãe. Não se trata disso. É quase como dizer de uma responsa- bilidade compartilhada”, ressalta. A nova lei não obriga o revezamento de moradia entre a casa do pai e a da mãe; trata-se de uma divisão balanceada do tempo da criança com os responsáveis, onde as de- cisões relativas ao filho também devem ser compartilhadas. “A Lei só vem a garantir isso, mas sabemos que as leis no Brasil nem sempre são cumpridas. A Lei não me deixa muito otimista, mas o fato de ter a Lei me faz pensar que a sociedade está começando a se mobilizar sobre o assunto”, ressalta. Com a sanção, a expectativa é evitar que o pai ou a mãe prive o ex-companheiro da convivên- cia com o filho. Para a psicóloga, é preciso ter consciên- cia de que casamento se dissolve, mas pater- nidade e maternidade não; é para o resto da vida. É por isso que o ideal seria que os pais pudessem suspender as mágoas em prol do bem-estar do filho, mas são poucos os casais que conseguem dialogar após a separação. “As pessoas acham que isso se dissolve com o divórcio, mas não, vai ter que conviver com o filho para o resto da vida. A criança não pode ser afastada por um tempo de um dos pais ou apenas vê-lo nos momentos de visitas. Eu sempre digo que pai ou mãe não pode ser visita para a criança. Pai é pai, mãe é mãe”, afirma. Rosely avalia que existem casos onde não é bom que a criança conviva com os pais em casos como de violência, drogas ou quadros de doenças mentais, mas essas são questões extremas. “Significa garantir o bem-estar na vida dela, não tirar o que ela tem direito e pode ter, que é a companhia do pai e da mãe. O casal precisa conseguir dialogar, suspenden- do a figura de mulher, homem, de ex-casal, deixando a figura de pai e de mãe preva- lecer. Toda vez que um casamento acaba, ficam mágoas. É um sonho que os dois têm que abandonar, um projeto de vida. A gente só precisa ter maturidade para não deixar que as mágoas caiam sobre os mais novos”, ressalta. MUDANÇAS NO TEXTO Gabriel explica que desde que o Projeto de Lei chegou ao Senado havia uma pressão muito forte pela aprovação do PL na forma do texto aprovado na Câmara. Uma das al- terações proposta para o texto original foi feita pelo IBDFAM para a modificação do termo “guarda compartilhada” por “convi- vência familiar”. “Havíamos tentado articu- lar com os vários interlocutores para avaliar a demanda por aperfeiçoar o texto. O enca- FI DE LI O |D OL LA RP HO TO CL UB “ “Todos os setores que se envolveram na aprovação partilhavam da visão de que a guarda compartilhada ainda não é preponderante nas estatísticas, o que estimulou a mobilização pelo fortalecimento da guarda compartilhada no país. 11 CAPA minhamento tomado pelos senadores, após audiência pública no Senado, foi o de apro- var o texto sem alterações”, afirma. A proposta foi apresentada na fase de tra- mitação no Senado e voltou a ser discutida em audiência pública com representantes de diferentes entidades, como o IBDFAM, que apontaram algumas modificações. Apesar do projeto não ter contemplado a solicitação de alteração do termo, Gabriel acredita na importância de se manter o debate em prol da modernização das terminologias. “Para o atual momento do debate legislativo não houve a compreensão dos parlamentares sobre essa mudança fundamental ser acolhi- da no projeto. Mas é um debate que estamos dispostos a continuar fazendo em respeito à posição doutrinária pela mudança dessa terminologia. O processo legislativo não permitiu que fosse acolhido, mas de nossa parte o tema deve continuar a fazer parte das discussões”, ressalta. Para o Secretário de Assuntos Legislativos,o espírito dessa operação legis- lativa é sempre o de levar em consideração o princípio do melhor interesse da criança. “No momento da decisão, o juiz deve ava- liar e ter como vértice a preservação do me- lhor interesse da criança. Afastar o consenso como princípio para aplicação da guarda compartilhada não pode afastar o respeito ao superior interesse da criança; isso deve ser levado em consideração nas decisões judiciais”. Gabriel ressalta ainda a necessidade de que a Lei seja interpretada sob o prisma de preceitos que visam a proteção da criança. “Genericamente, a gente compreende as preocupações de vários setores em relação a aplicação da guarda compartilhada no Brasil. Entendemos que, qualquer que seja a decisão, certamente será necessário que o Poder Judiciário leve em consideração o melhor interesse da criança da forma como o texto menciona no projeto. Esse deve ser o fio condutor para as dúvidas durante a apli- cação da lei.” O juiz André Lopes exemplifica a im- portância de se preservar o melhor interesse da criança de acordo com o modelo alemão de guarda, denominada Nidal. Nesse tipo de proposta, a criança fica num ninho e quem se alterna são os pais. “Seria fantástico se nossa cultura permitisse esse modelo onde as crianças ficam protegidas. Já tentei apli- car, mas não consegui. A criança fica onde está e os pais que estão brigando se alter- nam para sentir que a criança é o principal”, ressalta. A preocupação do juiz é com a cres- cente demanda de processos de família. Na vara onde atua, hoje são cerca de quatro mil processos em tramitação. “Você tem num Tribunal um volume muito grande de pro- cessos em tramitação que são de difícil re- solução. Trata-se de litígios acirrados, pro- cessos paralisados”, afirma. Com a redução das varas de família no Rio de Janeiro, os processos vêm se acumulando ainda mais. Para o juiz, são decisões que não podem ser julgadas de forma rápida, com um prazo delimitado. “A demora é sempre em favor da paz social. Processo de família não pode ter um prazo delimitado. Se durante o processo houve um avanço, estou satisfeito. Em famí- lia é diferente, temos que estabilizar o litígio para resolvê-lo. Se não fizer isso, você só vai acirrar o litígio numa situação posterior. Uma disputa litigiosa de guarda, em que nos apoiamos em pareceres, não dá para ser de- cidida às pressas”, ressalta. Para tentar reverter o quadro, o juiz cita as oficinas de parentalidade e os projetos de mediação, em sua Vara, que têm sido efi- cazes na conscientização dos pais sobre os conflitos, principalmente em ações de guar- da e divórcio. MA YA K RU CH AN CO VA | DO LL AR PH OT OC LU B “ “ O casal precisa conseguir dialogar, suspendendo a figura de mulher, homem, de ex-casal, deixando a figura de pai e de mãe prevalecer. 12 Fechando o mês de novembro, o Senado da República aprovou o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC) nº 117/2013, que “Altera os arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para estabelecer o significado da expressão ‘guarda compartilhada’ e dispor sobre sua aplicação.” A lei projetada reacende o debate acerca dessa modalidade de guarda de filhos de pais que não convivem, intenso desde sua inserção no Código Civil de 2002, pela Lei nº 11.698 de 2008. A guarda compartilhada – o efetivo convívio da criança com ambos os pais - não estava prevista na redação original do Código Civil de 2002, mas, timi- damente, era aplicada quando havia consenso entre os pais sobre sua estipulação, como lhes facultava o art. 1.583: “observar-se-á o que os cônjuges acorda- rem sobre a guarda dos filhos.” Com a lei de 2008, a guarda compartilhada ganhou disciplina e preferen- cialidade legal em caso de divergência entre os ge- nitores. Contudo, a novidade suscitou resistências à sua aplicação em diversos cenários, doutrinário e ju- risprudencial, notadamente quanto a necessidade ou não de consenso entre os pais, o local de residência do menor, os alimentos, o direito de visitas e pernoi- tes. Porém, frente a forte mobilização social visando o desfazimento desses equívocos interpretativos, a lei projetada vem reafirmar a guarda compartilhada como a melhor solução e o modelo mais eficaz, sob qualquer ponto de vista que se analise – jurídico, psi- cológico, sociológico - , ao exercício da parentalida- de, em que pai e mãe, na mesma medida e na mesma intensidade, participam efetivamente da criação, edu- cação e integral formação dos filhos comuns. No entanto, a norma projetada não só mantém vivos alguns dos velhos equívocos à sua atribuição como ressuscita outros, de nefasta memória, como a guarda alternada, nunca disciplinada em nosso or- denamento jurídico. Assim, a guarda compartilhada permanece na berlinda. O PLC 117/2013, sob este brevíssimo comentá- rio, mantém o equívoco da legislação em vigor (CC, art. 1.584, § 4º), que prevê punição aos pais quando negligentes no cumprimento de suas funções: redu- ção de prerrogativas ou diminuição do período de convívio com os filhos quando alteradas ou descum- pridas as condições estabelecidas judicialmente para o exercício da guarda, mas elimina essa última san- ção pessoal (diminuição de tempo de permanência), medidas de duvidosa eficácia. Se, por um lado, o dis- positivo convoca os pais à necessidade de obediência religiosa ao que foi convencionado ou decretado, por outro, a previsão legislativa não está em sintonia com a atualidade do instituto, pois contraria o espírito da própria lei, mais penalizando a criança que o pai ou a mãe infrator, além de negar efetividade ao princípio da proteção integral. Outro aspecto de grande relevo na legislação por vir é o reconhecimento da obrigatoriedade de fixa- ção da guarda compartilhada mesmo na ausência de acordo entre os pais, levando em consideração e refe- rência o melhor interesse da criança e do adolescente, critério alheio e superior aos embates no plano da conjugalidade (PLC art. 1.584, § 2º). Na justificativa da nova lei, observou-se que a redação do dispositivo ainda em vigor induz os juízes a determinar a guarda compartilhada “sempre que possível”, e a presença de litígio não tornaria possível a atribuição conjunta do pleno exercício do poder familiar, circunstância, porém, que não significa indispensável harmonia e relacionamento próximo, pois se cuida de proteção aos filhos antes que de reconciliação dos pais. O texto projetado desestimula o genitor beligerante a sustentar o litígio com o objetivo de impedir a guar- da compartilhada e, é razoável imaginar, minimiza as ações tendentes à alienação parental. Somente é afastada a guarda compartilhada em situações em que um ou ambos dos genitores declaram ao juiz não pretender exercê-la ou não se mostrem aptos para o exercício do poder familiar. Para eliminar a confusão provocada pela expressão “sempre que possível” (en- tendida como consenso e harmonia e não capacida- de psicológica e emocional), o projetista a substitui pela expressão “encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar”, deslocando o foco da questão do interesse do filho para priorizar o inte- resse dos pais. Novo equívoco. Hipóteses extremas, como violência doméstica ou abuso sexual, inviabi- lizam a guarda compartilhada entre os genitores, não porém entre um dos pais e os pais do outro ou outros parentes com os quais o menor tenha relações de afi- nidade e afetividade. Questão delicada é a decisão que afasta a guar- da compartilhada por inaptidão de um ou de ambos os pais ao exercício do poder familiar (suspensão ou perda), o que deve resultar de procedimento ordiná- rio, assegurado o contraditório e o amplo direito de defesa. Ao enfatizara necessidade de se determinar um lapso temporal de convivência entre pais e filhos, revelada nas expressões “estabelecer ... períodos de convivência”, “divisão equilibrada de tempo”, o Projeto não privilegia os fatores existenciais e o apro- xima da nefasta guarda alternada. A guarda compar- tilhada proposta, nessa linha de disciplinação, corre o risco de transformar-se em guarda alternada, operan- do um retrocesso social. Mas o Projeto não é só dificuldades; ele inova ao retirar do genitor guardião (geralmente a mãe) o poder de definir, potestativamente, o regime de guar- da. Outro mérito da lei é condicionar a concessão da guarda, em sede de medida cautelar, preferencial- mente após a manifestação de ambas as partes pe- rante o juiz. Como novidade, a lei possibilita ao ali- mentante solicitar prestação de contas, objetivas ou subjetivas, de uma vagueza extrema. A mudança de domicílio do menor por decisão unilateral do guar- dião, com intenção de prejudicar o convívio entre o outro e o filho, inclusive com avós e demais parentes, pode ser repelida até com a inversão da guarda. Entre falsas expectativas e concretas esperanças que o Projeto possa induzir, decorre do seu contex- to, e isso é o que importa, que permanece preser- vado o postulado do melhor interesse da criança ou adolescente. OPINIÃO A GUARDA COMPARTILHADA NA BERLINDA WALDYR GRISARD FILHO Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociais pela UFPR. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados do Paraná – IAP-PR. Sócio-Fundador do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM - e seu Diretor Nacional (Comissão de Ensino do Direito de Família e de Professores de Direito de Família).Vice-Presidente do IBDFAM-PR. Membro da Comissão Estadual Judiciária de Adoção – CEJA/TJPR. Professor Titular de Direito de Família e Sucessões no Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Autor de livros e artigos publicados em revistas e periódicos especializa- dos. Advogado em Curitiba. 13 CULTURA FILMES, TEATRO, MÚSICA & IMAGEM *SUGERIMOS QUE CERTIFIQUE SE OS FILMES / PEÇAS ESTÃO EM CARTAZ NA SUA CIDADE. FILMES BOA SORTE Drama. Com problemas comportamen- tais, o adolescente João é internado em uma clínica psiquiátrica, onde conhece e se apaixona por Judite. De Carolina Jabor (Brasil). Com Deborah Secco, João Pedro Zappa, Fernanda Montenegro. BOYHOOD – DA INFÂNCIA À JUVENTUDE Drama. A história de Mason, da infância até o fim da adolescência, vivendo no Texas com sua irmã e seus pais divorcia- dos. De Richard Linklater (EUA). Com Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke. CASTANHA Drama. João é um ator de 52 anos que vive com a mãe. Ele trabalha à noite como transformista em bares gays e, de dia, em peças infantis. De Davi Pretto. Com João Carlos Saldanha, Celina Castanha. HOMENS, MULHERES E FILHOS Comédia dramática. Sempre conectados, adultos, adolescentes e crianças amam, sofrem, se relacionam e compartilham tudo. De Jason Reitman (EUA). Com Ansel Elgort, Kaitlyn Dever, Jennifer Garner. IDA Na década de 1960, às vésperas de assu- mir seus votos como freira no convento onde foi criada, Anna conhece sua única parente viva, a tia Vanda. (Polônia/ Dinamarca). Com Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Halina Skoczynska. Drama. De Pawel Pawlikowski. EMPIRE Drama familiar da Fox sobre um impé- rio do mundo hip hop. Na série, Lucious Lion (Howard) descobre que tem uma doença fatal e precisa decidir qual dos seus três filhos herdará o comando do império. Os produtores Lee Daniels e Danny Strong fazem sua estreia na TV assumindo a direção e o roteiro da série, respectivamente. No elenco estão Taraji P. Henson, que interpreta a ex-esposa e ex-sócia de Lucious, Cookie Lyon, Hakeem (Bryshere Gray), potencial her- deiro do trono de Lyon; Jussie Smollet, que vive um filho do casal, Jamal Lyon, e Gabourey Sidibe, protagonista do filme pelo qual Lee Daniels foi indicado ao Oscar. Preciosa. 14 STJ DECIDE QUE DOMICÍLIO DOS AVÓS DE MENOR É COMPETENTE PARA JULGAR ADOÇÃO O Superior Tribunal de Justiça decidiu que ações de interesse de um menor fossem julgadas no domicilio dos avós e não da pessoa que detém a guarda. O Tribunal desconsiderou a aplicação do artigo 147 do ECA e a súmula 383 da Corte. O colegiado entendeu que o reconhecimento da competência do juízo do foro do domicílio do detentor da guarda provisória dificultaria a defesa dos avós da criança e poderia levar à ocorrência de possível irregularidade na concessão da guarda provisória. Para a advogada Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão de Adoção do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), a decisão proferida não teve um resultado assertivo, pois acredita que, pela situação atípica do caso, a decisão procurou se sair pela tangente; afinal, a competência é sempre do local onde a criança se encontra e, no caso, com quem tem a sua guarda. “Ao que parece, o que se buscou foi uma alternativa para facilitar a situação dos avós, em detrimento de quem está atualmente com a guarda da criança, que, ao que parece, não é da sua família. Claro que a parte sempre vai ter mais facilidades quando o processo corre na comarca aonde reside, pois terá menos gastos, o advogado terá mais facilidade de acesso aos autos, à equipe técnica, juiz e promotor”, argumenta. Silvana do Monte Moreira aponta que a previsão legal do domicílio para estas ações é disposição de ordem pública, ou seja, se impõe e não pode ser escolhida ou rejeitada. “Mas isso se dá em razão do princípio da proteção integral das crianças e adolescentes. Assim, fixa-se onde estão as crianças/adolescentes - presumindo-se que onde estão tem alguém que por eles responda oficialmente - para facilitar seu acesso à justiça, bem como os eventuais estudos ou diligências que instruirão o feito. Tudo é realizado para que se facilite a jurisdição no interesse dos incapazes protegidos pelo Estatuto da Criança e da Adolescente (ECA)”, esclarece. De acordo com a advogada, o juízo competente para a adoção é o do local onde a criança se encontra quando da entrega, ainda que não seja o da família adotiva que terá que fazer o pedido no lugar da criança e o estudo social será feito por meio de carta precatória. Segundo Silvana, a competência, nos casos de guarda, pode ser alterada no curso do processo, pois a criança pode mudar de local de residência, muitas vezes dificultando o andamento do processo, em razão da necessidade de expedição de precatórias, seja para realização de audiências ou estudo social. “Sem esquecer que é muito melhor quando, para o juiz que vai julgar, é o que instrui o processo, como também quando ele tem mais contato com a assistente social e a psicóloga que atende o caso. Para que se compreenda a decisão do STJ, é necessário lembrar que o próprio ECA prevê que crianças e adolescentes em situação de risco têm preferência de acolhimento em família substituta. Ou seja, uma integração transitória em uma família até que se encontrem os pais, responsáveis ou família extensa que possa e tenha condições globais de recebê-las em definitivo”, explica. A advogada ainda aconselha que o caso em questão não pode ser generalizado pois, para decidir, o STJ levou em consideração questões muito particulares do caso e, mesmo violando o texto da lei, cumpriu a norma de regência a ela subjacente. “Aparentemente houve um julgamento que não aplicou o disposto no artigo 147 do ECA, mas, em verdade, fez cumprir a norma subjacente a ele e que lhe dá razão de existência. Preocupa-nos, sobremaneira, a abertura de precedentes que tornarão ainda mais complicados e morosos os processos de adoção, violando frontalmente os princípios da prioridade absoluta e do melhor interesse da criança”, completa. O CASO - Segundo os autos do caso, a criança teve os paismortos em situação trágica e permaneceu na posse dos assassinos de seus pais por um curto período de tempo. Após o trauma, o menor foi colocado sob a guarda da Delegada de Polícia que investigou os fatos. Depois de todo o ocorrido, os avós pleitearam a concorrência pela guarda do menor diante do Juízo da cidade de Cacoal, em Rondônia, onde a criança nasceu e todos residem. Assim se criou o conflito entre a vara da Infância e da Juventude da cidade rondoniense e a 1ª vara Especializada da Infância e da Juventude de Cuiabá, onde vive a delegada. De acordo com o ministro Marco Aurélio Bellizze, o caso possui detalhes extremos e ressaltou a importância de esclarecer que a decisão se limita apenas a fixar a competência do Juízo para processar e julgar as ações que tratam sobre a guarda do menor, e nada mais. O ministro ainda explicou que a determinação do Juízo declarado competente não está ligada a nenhum tipo de entendimento acerca do mérito da causa, que deverá ser julgado seguindo os princípios do processo legal e assegurando o respeito ao princípio do melhor interesse e bem-estar do menor. Tal julgamento levará em consideração várias singularidades e principalmente a formação de vínculo de afetividade criado com a criança, em decorrência do tempo. 15 NOTÍCIAS DO LL AR PH OT OC LU B EFEITOS DA DECISÃO - Para a procuradora de justiça Kátia Regina Maciel (MP-RJ), presidente da Comissão da Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), trata-se de um Conflito Positivo de Competência e deve-se acentuar, de inicio, que a decisão do STJ se fixou apenas na questão processual da competência e, em momento algum, adentrou no mérito de qual família deveria cuidar definitivamente do menino e de qual medida seria adequada. “Como se sabe, com suporte em inúmeros precedentes de conflitos de competência decorrentes de lides de guarda de filhos, o Superior Tribunal de Justiça consolidou a Súmula 383 com o seguinte teor: “A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda”. Havendo, assim, conflito de competência (tanto o positivo quanto o negativo) entre o juízo de domicílio dos pais biológicos e o juízo de domicílio dos guardiões da criança e/ou adolescente, prevalecerá a competência do juízo do domicílio destes”, aponta. A procuradora expõe que a decisão, a despeito da previsão sumular de que a competência para a guarda de criança e de adolescente seja fixada pelo domicílio do guardião, efetuou interpretação além da “letra fria” da lei e da referida súmula e determinou a competência do local do domicílio da família extensa da criança que não estava exercendo a guarda do neto, mas que, de fato, era a responsável pela criança. “In casu, fez-se, ainda, uma interpretação do próprio verbete sumular que, ao usar a expressão “em princípio”, sugere que não se deve aplicá-lo de modo automático, mas sim observar as nuances singulares postas em litígio”, acentua. Kátia Maciel explica ainda que a decisão foi explícita em enfatizar que houve erro em se conceder a guarda à Delegada de Polícia e que esta situação indevida não poderia fixar a competência para apreciar a medida adequada a ser aplicada ao menino, pois as raízes de nascimento e familiares do menor estavam na cidade de Cacoal-RO, local onde reside a família ampliada que possuía contatos com o menino. “Vale acrescentar que a família ampliada é uma extensão da família natural (representantes legais do infante) e que, no falecimento dos pais, por lei, são os responsáveis apontados para o exercício da guarda e da tutela, conforme expressamente prevê o artigo 28, §3 º do ECA c/c art. 1731, I do Código Civil. Portanto, neste caso concreto, afastar este ramo da árvore genealógica do menino seria amputar os seus demais ascendentes e retirar dele o direito de conviver com os parentes próximos, sua história e identidade familiar”, completa. NOVA REGRA PARA CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE COMEÇA A VALER Fonte: Portal Brasil A partir de 14 de janeiro é preciso comprovar ao menos dois anos de casamento ou união estável para requerer o benefício. A regra que estabelece a comprovação de dois anos de casamento ou união estável para concessão do benefício de pensão por morte, está em vigor desde 14 de janeiro. A norma não vale para o segurado que falecer em decorrência de acidente ou no caso de invalidez do cônjuge, companheiro ou companheira após o início do casamento ou união estável. A partir do dia 14 será exigido também a comprovação de dois anos de casamento ou união estel para a concessão do auxílio-reclusão. As determinações estão na Medida Provisória nº 664, de 30 de dezembro de 2014, que contém outras modificações, entre elas sai a carência de 24 meses de contribuição para a concessão do benefício. Já está em vigor, desde o último dia 30 de dezembro, a normativa que se refere à exclusão do recebimento de pensão pelo dependente condenado por homicídio doloso que tenha resultado na morte do segurado. EQUILÍBRIO FISCAL - As alterações nas regras para a concessão dos benefícios trabalhistas e previdenciários garantirão uma economia de R$ 18 bilhões por ano ao governo federal, cerca de 0,3% do PIB previsto para o próximo ano, segundo dados do Ministério do Planejamento. As mudanças não atingem os atuais beneficiários e serão válidas apenas daqui para frente. Em sua participação no Face to Face do Portal Brasil, no dia 7 de janeiro, o novo ministro da Previdência, Carlos Gabas, destacou que as mudanças na concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários anunciados pelo governo no fim de 2014 tem como objetivo corrigir fortes distorções e não reduzir direitos dos trabalhadores. Gabas deixou isso claro ao responder a internauta Eunice Bailoni Beliz, que questionou o ministro acerca de boatos sobre o fim da pensão por morte para o cônjuge viúvo: “Eu posso garantir que a pensão por morte está mantida ao cônjuge viúvo ou viúva. A Previdência Social é, na sua essência, um mecanismo de proteção aos trabalhadores e suas famílias. Jamais faltaremos com o nosso compromisso, especialmente numa hora difícil como essa,” destacou. 16 Vendas: Tel (31) 3324.9280 revista@ibdfam.org.br 25% DE DESCONTO PARA ASSOCIADO IBDFAM Garanta a sua assinatura! R e v ista IB D FA M - F a m ília s e S u c e ssõ e s A Revista IBDFAM - Famílias e Sucessões é uma publicação bimestral do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM e tem como objetivos promover reflexões, renovar o pensamento e difundir o conhecimento em Direito das Famílias e Sucessões no país. A missão da Revista é a de acolher artigos científicos, contribuição estrangeira, teses, decisões comentadas, resenhas bibliográficas, pareceres, que tenham por objeto temas vinculados ao Direito das Famílias e Sucessões. Além disso, a Revista publica decisões inovadoras, ementários de jurisprudência, noticiário e atos normativos, para propiciar ao leitor o acesso às informações atualizadas, seja do Poder Judiciário, Legislativo e/ou Executivo. Assim, prioriza abordagens inovadoras, que ofereçam aos leitores a possibilidade de uma nova teoria e prática em Direito das Famílias e Sucessões. Colaboradores desta edição: Ana Maria Brayner Iencarelli António José Fialho Euclides de Oliveira Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka José Fernando Simão Lisieux Nidimar Dias Borges Luciana Dadalto Rolf Madaleno Tânia da Silva Pereira Ja n / Fev 2014 0 1 Ja n / F e v 2 0 14 0 1 Ja n / Fev 2014 0 1 Jaa n / Fev 2014 Mai / Jun 2014 03
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