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1 GDE124 – Língua Brasileira de Sinais Profa. Erica Alves Barbosa Medeiros Tavares Nome: Gabriela Nunes Matrícula: 201421198 Turma: 13A Resenha do filme “A Família Bélier” (2014) O filme francês é um brilhante retrato da vida de uma adolescente um tanto quanto introvertida: Paula, que é filha de pais surdos e tem um irmão mais novo também surdo. De forma bem humorada e realista, o filme mostra os dramas de Paula em relação a sua família, seu futuro e suas paixões. É uma história de descobertas e superações que quebra padrões e preconceitos a respeito da surdez. Muitas das situações retratadas no filme já haviam sido comentadas durante as aulas, e talvez eu nem as tivesse notado com tanta clareza se já não possuísse o conhecimento prévio, sendo assim, o filme e os ensinamentos das aulas se complementam perfeitamente. A história se inicia em um dia normal na casa dos Bélier, que moram numa fazenda, onde produzem queijos. O que me chamou a atenção logo de cara, nesta cena, foi o fato de a casa deles ser extremamente barulhenta no café da manhã, com as panelas, talheres e hábitos à mesa, e Paula é a única pessoa que parece se incomodar um pouco com isso. É o primeiro dia de aula e Paula está cansada devido às tarefas da fazenda, é possível notar que ela assume muitas responsabilidades, como negociar compras por telefone para seus pais, por isso, ela acaba dormindo na aula. Ela precisa escolher uma atividade extraclasse e acaba se inscrevendo em canto por causa de um menino que é afim. No dia do teste, entretanto, sua amiga, Matilde, não é aceita e quando ela tenta desistir para ficar junto com a amiga, o professor não a deixa por perceber potencial em sua voz sem que ela sequer tivesse cantado. Os pais de Paula vão buscá-la na escola e novamente é mostrado que eles fazem muito barulho, pois chegam buzinando diversas vezes em frente à escola e com o som alto. Neste dia, Paula deveria acompanhá-los ao médico, uma vez que sua mãe está com uma irritação vaginal que não está melhorando, pois seu pai não quer usar a pomada prescrita. Toda essa situação é descrita com muitos detalhes e Paula tem que traduzir, o que, no meu ponto de vista, seria absurdamente desconfortável, mas ela reage com muita naturalidade. Não consegui entender se é uma questão cultural ou se é devido ao fato de ela ter sempre feito esse tipo de coisa por seus pais nas mais diversas situações. Nessa cena, alguns diálogos entre os pais não são traduzidos, já que o filme que eu assisti era dublado, mas em um momento consegui ver um sinal parecido com um que a professora relatou em um caso engraçado. Além disso, me lembrei da história muito cômica, narrada pela professora, de uma vez que ela teve de acompanhar um conhecido ao médico. Prosseguindo com a história, outro momento relevante é quando eles estão vendendo queijo na feira. Uma cliente tenta fazer o pedido e a Sra. Bélier apenas sorri, então Paula é quem a atente, dizendo “ela sorri e eu falo”, sem tratar aquilo como algo anormal. Nessa mesma cena, o prefeito da cidade aparece e, com intenção de se reeleger, começa a fazer promessas de melhorias aos “deficientes” da cidade, o que é 2 muito indelicado, pois eles são surdos e capazes de tudo, como qualquer outra pessoa, então, segundo os estudos da disciplina de LIBRAS, eles não devem ser considerados deficientes. Em outro momento, Paula e Matilde estão conversando na casa dos Bélier e, de repente, se iniciam sons de batidas e gemidos vindos do quarto dos pais. Paula ri um pouco constrangida, porém liga o som para disfarçar, como se já estivesse acostumada com aquilo, algo que não acontece normalmente em casas de ouvintes. Acredito que os pais realmente não têm noção do barulho que fazem, mas Paula sabe do que se trata e talvez seja por isso que encare com tanta naturalidade situações como a do dia em que os acompanhou ao médico. Na escola, quando começam os ensaios do coral, é perceptível que Paula não tem consciência da própria voz. No decorrer das aulas, o professor vê Paula se revelando e investe em seu potencial, porém ela é muito tímida e tem dificuldade em aceitar essa nova situação. Ela é convidada para fazer um dueto com Gabriel, o garoto de quem ela é afim, e o professor diz pra eles ensaiarem enquanto dançam abraçados para que sintam a música e não apenas a escutem e reproduzam. O conselho de “sentir” a música é também uma referência sutil à temática da surdez, uma vez que mesmo sem ouvir a música, os surdos podem sentir as vibrações. Enquanto isso, o pai de Paula se revolta com algumas propostas do prefeito para a reeleição e resolve se eleger também. A família o apoia, mas a comunidade apresenta uma certa resistência de início, até que a força de vontade do Sr. Bélier os convence de que ele é capaz. Novamente, uma cena indelicada envolve o prefeito, que fala várias asneiras ao Sr. Bélier, enquanto Paula traduzia erroneamente os xingamentos de seu pai, para amenizar a situação. Mas até ela se irrita quando o prefeito pergunta a ela se as pessoas votariam num surdo, deixando mais claro ainda o preconceito. Certo dia, Gabriel vai à casa dos Bélier para ensaiar o dueto e Paula o aguardava toda arrumada, pois sua família achou que ele era namorado dela. Tudo estava indo bem, até que Paula saiu correndo para o banheiro, pediu Gabriel para chamar a mãe dela e ele, nesse momento, entendeu que os familiares de Paula eram surdos. Sra. Bélier, entretanto, faz Paula passar por um constrangimento, quando desce até a sala com uma calça manchada, mostrando a todos, inclusive a Gabriel, que Paula havia ficado menstruada. Paula fica muito nervosa e diz a seus pais que ser surdo não é desculpa para tudo, se referindo ao fato deles terem a envergonhado sem pensar em como ela se sentiria naquele momento. No dia seguinte, Paula fica muito brava com Gabriel na escola, por ele ter contado para outras pessoas o que aconteceu. Então, no ensaio do coral, sem perceber, ela usa o canto para exteriorizar o que estava sentindo e acaba alcançando uma nota alta, chamando atenção do professor. Por isso, após o ensaio, o professor convida Paula para participar de um concurso de canto que daria chance, aos selecionados, de estudar em Paris e ela, inicialmente, se sente insegura por deixar seus pais sozinhos. Entretanto, depois ela entende o valor dessa oportunidade, aceitando ser treinada por seu professor de canto numa rotina disciplinada de ensaios. Mesmo já tendo iniciado os ensaios para o concurso, Paula ainda não se sente confiante para contar à sua família sobre o canto. Num certo dia, então, ela tem de 3 faltar do ensaio, pois seu pai daria uma entrevista e ela deveria estar lá parar traduzir. Emburrada com isso, Paula age de maneira displicente durante a entrevista, não traduzindo nem metade das coisas que seu pai falava e ele contorna a situação para não precisar dela. Paula então sai correndo para o ensaio, em um dia muito chuvoso, e quando chega à casa do professor, não é recebida, já que ele é rigoroso e não aceita atrasos. Nesse mesmo dia, durante o jantar, vendo que seu pai estava chateado com ela e percebendo que eles não entediam o motivo dela estar tão emburrada mais cedo, Paula conta à sua família sobre o concurso. Porém, seus pais não demonstram apoio a ela, sendo resistentes no fato dela mudar para Paris, e alegam que ela já tem muitas obrigações. Nessa cena, fiquei revoltada com a atitude dos pais, pois eles colocam muitas responsabilidades sobre ela que, na verdade, deveriam ser deles. Fazendo isso, de certa forma, eles assumem uma condição de incapazes, não deixando a filha fazer algo por ela mesma paraque pudesse ajudá-los. Na cena seguinte, passa-se um diálogo apenas dos pais todo em língua de sinais e não houve tradução dessa parte na versão dublada, então minha interpretação pode ser incorreta, mas me pareceu que eles falam do fato de Paula se mudar para Paris, cuidar dela mesma, etc. Daí pra frente, os pais parecem ter percebido que Paula está apenas seguindo um sonho e começam a tentar fazer mais coisas sem precisar dela e para tentar compensar sua falta, Paula indica Matilde para ajudá-los na feira. O irmão mais novo se interessa por Matilde, começa a ensiná-la a língua de sinais e os dois acabam se aproximando bastante. Em meio a tudo isso, a campanha das eleições continua, Sr. Bélier faz um evento para ouvir a comunidade e acaba não sendo muito receptivo com os eleitores. Paula e sua mãe precisam se retirar no meio do evento para socorrer o irmão de Paula, que havia tido uma reação alérgica enquanto estava com Matilde em casa. Sr. Bélier chega em casa bravo antes de entender tudo e então, ele e Paula escutam Sra. Bélier do lado de fora, bêbada e chorando por achar que era uma mãe ruim e Paula, por ficar tocada com tudo isso, desiste das aulas de canto para voltar a ajudar seus pais. Anteriormente, Paula já não vinha tendo um desempenho muito bom nos ensaios e o seu professor tinha dito que ela estava pensando demais. Quando ela o avisou que desistiria, alegando que ela sabia o que fazia de sua vida, ele disse “tem certeza de que a vida é sua?”, claramente percebendo que grande parte das angústias de Paula eram relacionadas não apenas a ela mesma. Enquanto isso, Gabriel, parceiro de Paula no dueto e que também estava ensaiando para o concurso, passava por outros conflitos em sua vida pessoal e havia também desistido do concurso e do coral, o que mostra que todos têm problemas familiares, não sendo os de Paula exclusivos pelo fato de seus pais serem surdos. No fim das contas, Gabriel e Paula, que desde o acontecimento na casa dos Bélier estavam ressentidos um com o outro, se acertaram e mesmo que mantivessem alguns insultos mútuos, dessa vez, parecia mais que eles estavam implicando porque se gostavam e tinham receio de expressar os reais sentimentos. Dessa forma, ambos voltam ao coral para apresentar o dueto. 4 No dia do evento, a família de Paula foi vê-la e o filme tenta retratar nessa parte a sensação dos surdos numa apresentação de coral: o som some e percebe-se as expressões vazias deles em comparação com os outros expectadores, que estavam emocionados com as músicas. Mesmo que os pais se sentissem orgulhosos de Paula, eles não participavam do principal do espetáculo, que era a música, pois não havia recursos para fazê-los “sentir” o que estava sendo apresentado. No fim do evento, o professor de canto de Paula, orgulhoso do desempenho dela, tenta convencê-la a ir para Paris no dia seguinte, para o concurso. Revoltado, ele diz aos pais que eles deveriam apoiá-la mais, achando que eles estavam impedindo que ela fosse, sem saber que, na verdade, eles eram surdos e por isso não estavam tão empolgados quanto deveriam com a apresentação. Quando os Bélier chegam à fazenda, Paula canta para seu pai a música que havia apresentado, explicando o significado, e ele sente as vibrações de suas cordas vocais. É nesse momento que o Sr. Bélier finalmente entende o quanto Paula realmente ama aquilo, pois ela mostra seu talento a ele de uma forma que ele pôde sentir as emoções que os outros sentiram ao ouvi-la cantar. Com isso, ele resolve levá-la a Paris para o concurso. No outro dia, pela manhã, Gabriel, que havia beijado Paula no dia anterior, recebe uma mensagem dela dizendo que estava indo para Paris e vai correndo avisar o professor, para que eles fossem acompanhá-la. Paula chega antes, com seus pais e quando é chamada a se apresentar, tem um problema por não ter levado a partitura da música. Mas antes que o pior aconteça, Gabriel chega e o professor deles se oferece para tocar a música no piano enquanto ela canta. Paula inicia mal a música, porém, o professor a ajuda, ela se concentra e canta, dessa vez, não só através da voz, mas traduzindo a música em língua de sinais, para que seus pais entendam. Ela canta lindamente e passa uma grande emoção, não apenas a quem pode ouvi-la, mas também a seus pais e irmão, porque suas expressões faciais e corporais transmitem tudo que ela está sentindo. Por fim, nos créditos, é possível ver algumas cenas que indicam que Paula foi sim para Paris, com Gabriel. Sr. Bélier conseguiu se eleger prefeito e o irmão de Paula continuou a cultivar seus laços com Matilde. O filme é muito divertido, com um final emocionante e uma mensagem de amor e tolerância, além de mostrar a importância da comunicação, em todas as suas formas, seja em língua de sinais ou oral ou qualquer outra maneira através da qual as pessoas possam se entender. Pois as barreiras não existem, o ser humano é que as cria por motivos tolos.
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