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Plano de Negócios Professora conteudista: Ma. Solimar Garcia Sumário Plano de Negócios Unidade I 1 IDEIAS E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS ...............................................................................................2 1.1 Ideia certa no momento errado ........................................................................................................4 1.2 Oportunidade para atender a uma necessidade ........................................................................5 1.3 A experiência no ramo de atividade ................................................................................................5 1.4 Fontes de novas ideias ..........................................................................................................................5 2 AVALIANDO OPORTUNIDADES ......................................................................................................................9 2.1 Demanda de mercado ...........................................................................................................................9 2.2 Tamanho de mercado ......................................................................................................................... 10 2.2.1 Estrutura de mercado ........................................................................................................................... 10 2.3 Análise da margem ...............................................................................................................................11 2.4 Desenvolvendo um banco de oportunidades ............................................................................11 3 EMPREENDEDORISMO .................................................................................................................................. 15 3.1 História do empreendedorismo ...................................................................................................... 15 3.2 Empreendedorismo no Brasil .......................................................................................................... 16 3.3 As incubadoras no Brasil ................................................................................................................... 18 3.4 Definindo empreendedorismo ........................................................................................................ 20 3.5 A experiência brasileira ...................................................................................................................... 21 3.6 O que é empreender? ......................................................................................................................... 23 3.7 Características dos empreendedores ............................................................................................ 26 3.8 Empreendedor corporativo .............................................................................................................. 30 3.8.1 Tipos de empreendedores corporativos ......................................................................................... 31 3.8.2 Papéis dos empreendedores corporativos .................................................................................... 33 4 FINANCIAMENTO DE EMPRESAS .............................................................................................................. 39 4.1 Formas de financiamento ................................................................................................................. 40 4.2 Formas de financiamento para pequenas e médias empresas .......................................... 41 4.3 Empresas de capital de risco ........................................................................................................... 44 5 O PROCESSO EMPREENDEDOR ................................................................................................................. 45 Unidade II 6 POR QUE AS EMPRESAS QUEBRAM? ...................................................................................................... 47 7 PLANO DE NEGÓCIOS E LONGEVIDADE DAS EMPRESAS ................................................................ 48 8 COMO FAZER UM PLANO DE NEGÓCIOS ............................................................................................... 52 9 PLANO DE NEGÓCIOS DETALHADO .......................................................................................................... 59 9.1 Sumário executivo ............................................................................................................................... 60 9.2 Resumo da empresa ............................................................................................................................ 64 9.3 Produtos e serviços .............................................................................................................................. 64 9.4 Análise do mercado ............................................................................................................................. 66 9.5 Estratégia ................................................................................................................................................. 68 9.6 Planejamento estratégico ................................................................................................................. 69 9.7 Visão e missão ....................................................................................................................................... 69 9.7.1 Visão da empresa .................................................................................................................................... 69 9.7.2 Missão da empresa .................................................................................................................................71 9.8 Planejamento de marketing ............................................................................................................. 74 9.8.1 Principais formas de comunicação para divulgar o produto ............................................... 75 9.8.2 Estratégias de vendas ............................................................................................................................ 78 9.8.3 Objetivos e metas de marketing ....................................................................................................... 78 9.9 Organização e gerência ..................................................................................................................... 79 9.9.1 Estrutura organizacional ..................................................................................................................... 79 9.9.2 Equipe gerencial ...................................................................................................................................... 79 9.9.3 Descrição detalhada do processo de produção e/ou de prestação de serviços ............ 79 9.9.4 Formas de remuneração ...................................................................................................................... 79 9.9.5 Formas de avaliação e motivação de pessoal ............................................................................. 80 9.10 Planejamento financeiro ................................................................................................................ 80 9.10.1 Projeção do fluxo de caixa ............................................................................................................... 80 9.10.2 Fluxos de caixa ...................................................................................................................................... 80 9.10.3 Balanço e demonstrativo de resultados ..................................................................................... 81 9.10.4 Break even point (ponto de equilíbrio) ....................................................................................... 819.10.5 Payback .................................................................................................................................................... 81 9.10.6 Outros indicadores de negócios ..................................................................................................... 81 9.11 Planejamento e desenvolvimento do projeto ........................................................................ 82 9.11.1 Estágio atual .......................................................................................................................................... 83 9.12 Cronograma ......................................................................................................................................... 83 9.13 Gestão das contingências .............................................................................................................. 83 9.14 Anexos .................................................................................................................................................... 83 10 IMPOSTOS ........................................................................................................................................................ 83 11 TIPOS DE EMPRESA ...................................................................................................................................... 86 11.1 Abrir uma nova empresa ................................................................................................................ 88 1 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Unidade I 5 10 15 20 25 30 35 Apresentação Caro aluno, a disciplina Plano de Negócios tem como principal objetivo elaborar um plano de negócio, considerando as ameaças e oportunidades de mercado, levando em consideração as habilidades e competências do empreendedor; detectando oportunidades de negócios locais e/ou regionais, para estar apto a empreender seu próprio negócio. Para atingir esses objetivos, serão estudados, em dois módulos, os seguintes tópicos: • oportunidades e negócios; • perfil empreendedor; • estratégia e planejamento estratégico; • linhas de financiamento; • plano de negócios; • fatores críticos de sucesso e fracasso dos empreendimentos. Resumindo Conteúdo programático: • identificação de oportunidades; • empreendedorismo; • aspectos gerais do plano de negócio; 2 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • financiamento de empresas; • elaboração do plano; • sumário executivo; • análise do mercado; • estratégia; • organização e gerência; • planejamento financeiro. 1 IDEIAS E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS Vamos começar, então, por entender o que é uma oportunidade de negócio. Boas ideias, às vezes, podem ser apenas boas ideias e não chegarem a ser bons negócios, pois uma ideia, para virar um bom negócio, precisa passar por análises iniciais feitas pelo empreendedor. A todos os momentos, temos ideias, pensamos em situações, novos negócios, e pode ser que nenhuma delas chegue a ser um negócio. Isso porque, segundo Dornelas (2008), talvez um dos maiores mitos sobre novas ideias de negócios é que elas devam ser únicas. Ao contrário do que muita gente pensa, uma ideia não significa uma oportunidade de negócio. Uma ideia somente se transforma em oportunidade quando seu propósito vai ao encontro de uma necessidade de mercado, ou seja, quando existem clientes potenciais. Os empreendedores, por vezes nem querem contar a ideia que tiveram, pensando que alguém vai roubá-la. Para o autor, este é um erro imperdoável dos empreendedores de primeira viagem. Segundo Dornelas (2008, p. 37), “ideias revolucionárias são raras, produtos únicos não existem e concorrentes com certeza sempre existirão”. Empreendedores 3 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 que acham sua ideia ser única acabam acreditando que têm algo muito diferenciado, e não falando com ninguém a respeito, pois, neste momento, estão movidos pela paixão e não pela razão. É importante que a ideia seja testada junto a clientes em potencial, empreendedores mais experientes, amigos próximos, antes que a paixão pela ideia tire sua capacidade de analisar o negócio. “Uma ideia sozinha não vale nada, elas surgem diariamente. O que importa é saber desenvolvê-las, implementá-las e construir um negócio de sucesso” (Dornelas, 2008, p. 37). Para Dolabela (2008, p. 51), “a mesma ideia pode significar um negócio promissor para uma pessoa enquanto para outra talvez permaneça como simples ideia”. Veja que apenas guardar segredo não é o suficiente para transformar uma ideia em negócio. Novas ideias de negócios podem surgir a qualquer momento. Os empreendedores utilizam essas ideias, transformando-as em produtos ou serviços que façam a empresa crescer. Qual é a diferença entre ideia e oportunidade? Ideia: é gerada de forma aleatória. Oportunidade: é análise de negócio/mercado. Uma ideia somente se transforma em oportunidade quando seu propósito vai ao encontro de uma necessidade de mercado, ou seja, quando existem clientes potenciais. Identificar o mercado-alvo é de fundamental importância para implementar seus projetos empresariais. 4 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 O fracasso da empresa acontece se o empreendedor: • não muda suas ideias; • gasta pouco tempo na comunicação com sócios, colaboradores, clientes; • faz mais, em vez de aprender mais (Dolabela, 2008, p. 57). Na visão do autor, uma empresa pode buscar novas ideias devido a vários fatores, dentre os quais se destacam os seguintes: • necessidade de crescimento; • existência de gaps (espaços, lacunas não preenchidas) no mercado; • necessidade de melhorar a performance financeira; • necessidade de conquistar novos clientes através de novos produtos; • necessidade de inovação. 1.1 Ideia certa no momento errado Pode-se ter uma ideia excelente num momento em que seria impossível para a empresa investir qualquer capital em novas oportunidades. É preciso considerar o timing da ideia (momento em que aparece). Para exemplificar, os negócios da área de informática se transformam muito rapidamente. Se a empresa não for veloz no desenvolvimento de novos negócios, desde a ideia até sua implementação, provavelmente perderá a oportunidade de explorar um novo mercado, um nicho de clientes etc. Outros mercados não fluem de forma tão rápida assim, como o de turismo, que pode aproveitar uma oportunidade, por exemplo: o desenvolvimento de um local novo para turistas, em que o bom atendimento ao turista é bem mais importante do que a velocidade de implantação. Oportunidade: ideia isolada transformada em algo viável de se implantar, visando a atender a um público-alvo que faz parte de um nicho de mercado mal-explorado. 5 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 1.2 Oportunidade para atender a uma necessidade Para detectar essas oportunidades, é importante estar atento ao ambiente externo, verificando o que poderia melhorar a vida das pessoas, reduzir custos, agilizar processos. Olhar para o ambiente externo com o espírito crítico e capacidade de análise é a melhor maneira de estimular a criatividade para gerar oportunidades de negócios. 1.3 A experiência no ramo de atividade Outro fato corriqueiro no ambiente empresarial é o empreendedor ter uma ideia brilhante,mas num ramo em que ele pouco ou nada conhece. Nesse ponto, é preciso pensar sobre a experiência profissional do empreendedor, que deve procurar criar negócios em áreas que conhece, em ramos de atividade que já tenha atuado profissionalmente ou tenha alguma experiência ou buscar sócios que conheçam o negócio. Infelizmente, as chances de sucesso são mínimas quando o empreendedor arrisca tudo em negócios cuja dinâmica do mercado e forma operacional de tocar a empresa ele desconhece. 1.4 Fontes de novas ideias Uma das mais conhecidas formas de estimular a criatividade e a geração de novas ideias é o método brainstorming (tradução literal: tempestade cerebral), que se baseia no fato de as pessoas serem estimuladas a gerar novas ideias quando estão em grupo (Dornelas, 2008). Para se estruturar um brainstorming, aconselham-se as seguintes regras: Primeiro, vem a paixão pelo negócio. Ganhar dinheiro com isso é uma consequência. 6 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 1. ninguém pode criticar outras pessoas do grupo e todos são livres para exposição de ideias, mesmo que pareçam absurdas; 2. em cada rodada, todos os participantes devem dar uma ideia a respeito do tópico em discussão e quanto mais rodadas melhor; 3. podem-se dar ideias baseadas nas ideias anteriores de outras pessoas. Essas combinações são bem-vindas e podem gerar bons resultados; 4. a atividade deve seguir sem que haja uma pessoa dominante, apenas deve ser garantido que todos participem; 5. o empreendedor deve fazer uma análise em uma segunda etapa, após a seleção natural de várias ideias (baseada no feeling). Outras formas de gerar ideias, além de o empreendedor manter a cabeça aberta e antenada ao que ocorre no ambiente, são as seguintes propostas apresentadas por Dornelas (2008, p. 42): • conversar com pessoas de todos os níveis sociais e idade (de adolescentes aos mais velhos e experientes), sobre os mais variados temas, também pode trazer novas ideias de produtos e serviços em um determinado nicho de mercado; • pesquisar novas patentes e licenciamentos de produtos, em áreas onde o empreendedor tem intenção de atuar com um novo negócio, pode produzir conclusões interessantes que definirão a estratégia da empresa; • estar atento aos acontecimentos sociais de sua região, às tendências, preferências da população, mudanças no estilo e ao padrão de vida das pessoas e hábitos dos jovens (futuros e atuais consumidores para determinados O que é feeling? Feeling é um sentimento, uma sensação. Dizemos que o empresário teve feeling para o negócio, teve uma intuição de que seria um bom negócio. 7 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 produtos e serviços) e também dos mais velhos (mercado promissor e em crescente ascensão em virtude do aumento da expectativa de vida da população); • visitar institutos de pesquisa, universidades, feiras de negócios, empresas etc.; • participar de conferências e congressos da área, ir a reuniões e eventos de entidades de classe e associações. O autor ainda acrescenta mais algumas formas de geração de ideias: • negócios em falência podem oferecer boas oportunidades; • franquias e patentes; • revistas da área, corporações, universidades e institutos de pesquisas; • empregos anteriores. Muitos novos negócios são iniciados enquanto algum empreendedor ainda era empregado de outros; • contatos profissionais (advogados, bancos, contadores etc.); • pesquisa universitária; • experiência adquirida como consumidor; • caos econômico, crises – quando há estabilidade as oportunidades são mais raras. Enfim, o empreendedor deve ser observador e estar sempre atento a tudo e a todos, sem se preocupar em ter uma nova ideia, nem se ela seria uma boa oportunidade. Isso fica para uma segunda etapa, após a seleção natural das ideias, baseada no feeling do empreendedor e no quanto ele se identificou com cada ideia. Nessa segunda fase, alguns critérios mais racionais de negócio devem ser utilizados, como você verá a seguir. 8 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Saiba mais Conheça dois tipos de ideias, propostas por Dolabela (2001): • ideias incrementais: mais próximas das competências-chave da empresa, têm baixo risco e baixo retorno; • ideias radicais: além das competências-chave da empresa, geralmente trazem alto risco acompanhado de alto retorno. Dornelas explica que para criar um ambiente propício ao surgimento de novas ideias, são necessárias duas características: • desenvolvimento de uma estrutura empreendedora. Para isso, se faz necessário: organizar a geração e armazenamento das oportunidades (banco de dados, reuniões periódicas etc.): — rever processos ou estrutura formal e/ou informal; — definir meios de recompensar ou incentivar a geração de ideias; — fazer com que tais políticas façam parte da cultura da organização; — incentivar o aprendizado. • ter as pessoas certas (pelo menos dois tipos de empreendedores): — o líder empreendedor (criativo, gerador das ideias); — o gerente (executa, incentiva os pensadores criativos, facilita o processo, complementa o time). 9 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 2 AVALIANDO OPORTUNIDADES Segundo Dornelas (2008), é preciso pensar se uma ideia pode virar uma oportunidade, se ela pode transformar o ambiente de negócios da empresa. Para entender isso e avaliar uma ideia, pergunte a si próprio, a seus colegas de trabalho e a seus superiores, o seguinte: • quais são os clientes que comprarão estes produtos ou serviços? • qual o tamanho atual do mercado em reais e em número de clientes? • o mercado está em crescimento, estável ou estagnado? • quem atende a esses clientes atualmente, ou seja, quem são os concorrentes? Caso essas perguntas básicas iniciais sejam respondidas com dados concretos, trata-se de uma oportunidade de negócio, e não apenas de uma ideia. Assim, deve-se analisá-la melhor. A proposta de Dornelas (2008) é avaliar as oportunidades para novos negócios a partir da análise de 3Ms. Resumindo Análise de oportunidades - 3Ms • Demanda de mercado. • Tamanho e estrutura de mercado. • Análise da margem. 2.1 Demanda de mercado Neste ponto, é importante encontrar informações precisas sobre os seguintes itens: 10 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • qual é o público-alvo? • qual a durabilidade do produto/serviço no mercado (ciclo de vida)? • os clientes estão acessíveis (canais)? • como os clientes veem o relacionamento com a empresa? • o potencial de crescimento é alto (>10, 15, 20% anual)? • o custo de captação do cliente é recuperável no curto prazo (< 1 ano)? 2.2 Tamanho de mercado • O mercado está crescendo, é emergente? É fragmentado? • Existem barreiras que dificultem a entrada no novo negócio? Existem excessivos custos para sair do negócio? Você tem estratégias para transpor estas barreiras? • Quantos competidores/empresas-chaves estão no mercado? • Em que estágio do ciclo de vida está o produto (risco depende também do ciclo de vida e maturidade do produto)? • Qual é o tamanho do mercado em R$ e o potencial para se conseguir um bom market share (fatia de mercado)? 2.2.1 Estrutura de mercado • E o setor, como está estruturado? • Poder dos fornecedores. • Poder dos compradores.• Poder dos competidores. 11 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • Poder dos substitutos. • Como a indústria está segmentada, quais são as tendências, que eventos influenciam os cenários etc.? 2.3 Análise da margem • Determine as forças do negócio. • Identifique as possibilidades de lucros (margem bruta > 20, 30, 40%?!). • Analise os custos (necessidades de capital), breakeven (ponto de equilíbrio), retornos etc. • Mapeie a cadeia de valor do negócio. • Para isso, você deverá saber como seu produto/serviço chega até o cliente final. Fazer essas análises iniciais é muito importante para transformar uma ideia em oportunidade. Senão, ela não deixará de ser mais uma boa ideia desperdiçada. É preciso transformar as ideias em oportunidades de bons negócios, analisando o mercado em que ela poderia existir. 2.4 Desenvolvendo um banco de oportunidades Procedimentos para criação de um banco de dados de oportunidades atualizado e utilizado por toda organização (Dornelas, 2008): • registrar as ideias/oportunidades passadas que não foram implementadas na organização; • estimular os funcionários para identificar necessidades e sugerir soluções; promover tempo para que se dediquem a essas atividades; 12 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • promover reuniões periódicas, workshops, eventos etc., com equipes complementares visando à geração de ideias; • instituir uma política de recompensa/reconhecimento pela geração de ideias e implantação de oportunidades; • criar um fundo de capital de risco interno da organização promovendo recursos para testar ideias e analisar a viabilidade de sua implantação (a ideia pode ser uma oportunidade?); • promover eventos internos para avaliação das oportunidades (competições de planos de negócios, concurso de elevator speech e premiação das melhores ideias). Exemplos de empresas que utilizam banco de oportunidades: Procter & Gamble, Intel, 3M, entre outras. Resumindo É necessário que se analise quanto à oportunidade: • se tem mercado; • se pode ser vendida a um preço atrativo; • se há como promovê-la; • se há como distribuí-la; • se há como produzi-la com qualidade e em escalas suficientes; • se o negócio será lucrativo dado determinado potencial de vendas. Exemplo: no Japão, foi desenvolvida uma lata de refrigerante que tem um espiral interno com gás, e quando Uma oportunidade não é por si só um bom negócio! 13 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 a lata é aberta o líquido gela automaticamente. Ao contrário do que muitos pensam, este produto não é campeão de vendas. Isso acontece porque o custo do produto ainda é muito alto (Salim, 2003). Saiba mais Elevator Speech – a abordagem de um minuto1 Por: Luiz de Paiva Talvez você já tenha visto o termo elevator pitch, ou elevator speech, em textos ou web sites em inglês sobre empreendedorismo, mas sabe o que significa? Elevator, obviamente significa elevador, e pitch quer dizer Abordagem de Vendas. Desta forma, obtemos “Abordagem de Vendas no Elevador”. O elevador representa o tempo que você tem para fazer a abordagem (um minuto, a média que você fica dentro do elevador). Portanto, trata-se da abordagem de vendas que você consegue fazer de seu negócio em 1 minuto. Normalmente, isto não se aplica a produtos e serviços para um cliente, e sim à venda de uma ideia ou negócio para outro interessado (por exemplo, um investidor). Qual é a importância disso? Acontece que muitas vezes, um minuto é tudo que você tem para ganhar o interesse de uma pessoa. Você pode ser apresentado a um investidor, mas não conseguirá agendar uma reunião com ele a menos que naquele instante desperte seu interesse. Em reuniões de networking, ter um bom “elevator pitch” também é muito importante, já que muitas pessoas estarão ouvindo muitas, muitas ideias, e um discurso eficiente atrairá a atenção para você. 1 Disponível em: <http:// www.ogerente.com.br>. Acesso em: 11 out. 2010. 14 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Ao preparar sua abordagem de um minuto, leve em consideração o seguinte: mostre empolgação – ninguém ficará impressionado com seu plano se você mesmo parece desanimado. Mostre que acredita e tem paixão pela ideia, evitando exageros teatrais. Cuidado com o tempo: se seu texto é muito longo, ou você “sai do roteiro” para entrar em detalhes, poderá ser interrompido e sua ideia não ficará completa. O texto deve ser simples e objetivo. Não se esqueça de pedir: você precisa de um investidor? De um parceiro de negócios? De uma referência? De tempo para uma apresentação detalhada? Deixe isso claro no final do discurso. Aborde todos os pontos-chave do negócio: é quase um plano de negócios resumido. Mostre que fez seu dever de casa falando brevemente sobre o produto, mercado potencial, modelo de receita, equipe e vantagens competitivas. Também é importante deixar claro como sua ideia resolverá uma necessidade ou problema dos outros. Treine, treine, treine: escreva sua abordagem, decore-a, e faça o discurso para amigos, familiares e outras pessoas de confiança. Eles lhe ajudarão a identificar erros no raciocínio e você se acostumará com o texto. Crie frases chamativas, com cuidado: dizer “nosso serviço vai mudar a forma das pessoas se comunicarem” pode ser interessante caso sua ideia realmente seja inovadora, mas dizer “vamos tirar as operadoras de telecomunicações do mercado” mostra falta de seriedade. 15 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 3 EMPREENDEDORISMO Outro conceito importante a ser compreendido é o de empreendedorismo. Dolabela (1999) propõe um panorama do empreendedorismo no mundo e no Brasil, a partir do qual nos baseamos para relatar a história abaixo. 3.1 História do empreendedorismo Tudo começou com foco nas pequenas empresas e não em empreendedorismo. Em 1947, a Harvard Business School criou um curso sobre gerenciamento de pequenas empresas. Em 1953, Peter Drucker montou um curso de empreendedorismo e inovação na New York University. Esses foram os passos pioneiros, mas ainda demoraria até que o assunto entrasse na pauta das universidades e do mundo em geral. Em 1948, na Suíça, a Universidade de St. Gallen promoveu a primeira conferência sobre a pequena empresa e seus problemas. Em 1956, surge o International Council for Small Business (ICSB), a maior associação voltada para a pesquisa de empreendedorismo, na University of Colorado sobre desenvolvimento de pequenos negócios. O primeiro congresso internacional foi realizado em 1973 em Toronto, Canadá. Em 1978, foi instituído o primeiro prêmio para empreendedores de classe mundial, patrocinado pelo Babson College, Boston, o Academy Distinnguished Entrepreneus. Ele deu origem a outros como Entrepreneur of the Year Award da Ernst & Young, que também tem uma versão brasileira atualmente. O autor destaca que as publicações científicas da área de empreendedorismo também são recentes: o Journal of Small Business Management, órgão oficial do ICSB, que teve seu início em 1963. Em 1981, já como tradicional pesquisador do assunto, o Babson College, por meio dos pesquisadores Karl Vésper e 16 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Jack Hornaday, criouum dos mais importantes congressos acadêmicos em empreendedorismo. À época, havia a preocupação de não haver trabalhos suficientes sobre o tema para justificar um congresso, mas isso não se concretizou e consolidou o local como centro de excelência na área. Outra contribuição foi a criação do Price-Babson Fellows, que levou para o campus empreendedores experientes que gostariam de lecionar na área. Segundo Timmons (1994 apud Dolabela,1999) há uma revolução silenciosa, “que será para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX”. “Os números apresentados pelas micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) em todo o planeta refletem a sua importância: alta participação no PIB, grande geração de empregos, inovação tecnológica” (Dolabela, 1999, p. 38). O que se observa é que o empreendedorismo vai além de uma solução para o problema do desemprego. Apesar dos riscos que apresenta e em épocas de pleno emprego, os jovens buscam realizar seus sonhos por meio do negócio próprio. Segundo Dolabela, eles perceberam que o desenvolvimento das habilidades empreendedoras os coloca em melhores condições para engrenar em um mundo em constante mudança e oferece vantagens também àqueles que preferem disputar a corrida do emprego. 3.2 Empreendedorismo no Brasil No Brasil, tiveram início os estudos sobre o empreendedorismo bem mais tarde, e os resultados já indicam a “revolução silenciosa” por aqui também. O primeiro curso de que se tem notícia na área surgiu em 1981, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, por iniciativa do professor Ronald Degen, e era chamado de “Novos Negócios”. Era uma disciplina do curso de especialização, e em 1984, foi estendida para a graduação, com o nome de 17 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 “Criação de novos negócios – formação de empreendedores”. Em 2004, foi criado na FGV-SP o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (CENN) com importante atuação na área acadêmica. Em 1984, o professor Newton Braga Rosa, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instalou a disciplina Ensino de Criação de Empresas no curso de Ciência da Computação. A Universidade de São Paulo (USP) começou a ensinar empreendedorismo em 1984, quando o professor Silvio Aparecido dos Santos introduziu a disciplina Criação de Empresas no curso de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). Na pós- graduação de Administração, em 1985, também na FEA, foi oferecida a disciplina Criação de Empresas e Empreendimentos de Base Tecnológica. Em 1992, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) criou a Escola de Novos Empreendedores (ENE), que tem projetos conjuntos com outras universidades e organismos internacionais. No mesmo ano, a Universidade Federal de Pernambuco criou o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), por meio do Departamento de Informática e com o objetivo de aplicar o conhecimento acadêmico à indústria. Essa experiência foi importante para a concepção do projeto Softex-Gênesis, que, na Universidade Federal de Alagoas, em 1993, concebeu um curso de Administração de empresas com ênfase em empreendedorismo. Em 1994, a mesma universidade instaurou o mestrado direcionado ao empreendedorismo também. Em 1995, foi a vez da Escola Federal de Engenharia de Itajubá, em Minas Gerais, implantar o Centro Empresarial de Formação Empreendedora de Itajubá (Cefei). No início dos anos 1990, o Sebrae-MG (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) apoiou a criação do Grupo de Estudos da Pequena Empresa (GEPE) no Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas 18 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Gerais. O GEPE destacou-se pelos workshops, apresentados entre 1992 e 1994 por professores canadenses liderados por Louis Jacques Filion, que se tornaram núcleos de propagação do empreendedorismo. “A teoria desenvolvida por Filion, baseada em pesquisas feitas com 51 empreendedores em vários países, constitui o fundamento da metodologia de ensino utilizada hoje no Brasil” (Dolabela, p. 40). Em 1993, Dolabela desenvolveu a metodologia de ensino de empreendedorismo a convite do Programa Softex do CNPq, por meio do núcleo mineiro, o Fumsoft. Em 1996, o programa Softex implanta dois projetos, o Gênesis de incubação universitária, e o Softstart, na área de ensino de empreendedorismo. A partir de 1998, a metodologia implantada alcançou o país inteiro, num esforço do Sebrae Nacional. Recentemente, destacam-se as ações criadas pelo Endeavor, ONG dedicada ao apoio a empreendedores, e o GEM (Global Entrepreneurship Monitor), dedicado à pesquisa. 3.3 As incubadoras no Brasil A Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), criada em 1987 e que patrocina o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, liderou o movimento de incubadoras. De 1988, quando existiam apenas duas incubadoras, foram registradas em 1999, 339 incubadoras em ação. Hoje, seu total chega a 400, e mais de 80% delas são integradas às universidades brasileiras. As empresas que passam pelo processo de incubação têm a taxa de mortalidade reduzida de 70% para 20%, detectada entre empresas nascidas fora da incubadora. Segundo o Sebrae, o processo de incubação é um dos mais eficazes mecanismos de formação de empresas sólidas, e ganha força por meio de programas de apoio e estímulo. 19 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Saiba mais Considerada como a mais abrangente pesquisa sobre empreendedorismo no mundo, a Global Entrepreneurship Monitor – GEM – é executada no Brasil desde o ano 2000 pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP. A pesquisa GEM 2009 faz retrato do empreendedorismo brasileiro e identifica pontos fortes e fracos do empreendedorismo no Brasil e em outros países. Um dos destaques da Pesquisa GEM 2009 foi o crescimento do empreendedorismo no Brasil. O número de negócios com até três meses de atividade cresceu 97% em relação a 2008, quando 2,93% da população adulta tocavam empreendimentos. Em 2009, esse número saltou para 5,78%. Ao longo dos dez anos de pesquisa GEM, o Brasil apresentou média de 13% de sua população economicamente ativa empreendendo, taxa que subiu para 15% em 2009. A pesquisa mostra ainda que a maior parte dos negócios está nas mãos dos jovens: 52,5% dos empreendedores têm entre 18 e 34 anos. Entre outros fatores, analisa os impactos do auge da crise mundial em 2009. Uma das consequências é a queda no índice de empreendedores por oportunidade (os que têm vocação ou enxergam nichos de mercado). Na pesquisa anterior, para cada dois empreendedores por oportunidade, havia um por necessidade. Hoje, a razão é de 1,6 para 1. É curioso observar, no entanto, que entre os empreendimentos nascentes, houve aumento entre os que são motivados por oportunidade. Novamente, percebe-se um percentual maior de mulheres empreendedoras (53%) 20 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 em relação aos homens (47%). É a primeira vez, no entanto, que a proporção do empreendedorismo feminino por oportunidade supera a do masculino na mesma condição. De acordo com o estudo, os pequenos negócios são responsáveis pela maior parte dos empregos gerados no Brasil: dos 24,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada, 13,1 milhões estão em MPEs. Destes,64,9%, estão no interior2. 3.4 Definindo empreendedorismo Segundo Dolabela (1999), o termo empreendedorismo é uma livre tradução da palavra entrepreneurship, utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades e o seu universo de atuação. O termo designa uma área de grande abrangência, além da criação de empresas: a geração do autoemprego, empreendedorismo comunitário e funcional. Para Dornelas (2008), podemos definir empreendedorismo como conjunto de atitudes criativas e inovadoras que priorizam valores como a geração e distribuição de riquezas, autossustentação e o desenvolvimento econômico e social. Ambas as definições levam em conta a questão social, diferentemente do que pode dar a impressão, pois quem trabalha em negócio próprio pode se fazer entender como alguém que almeja apenas seu desenvolvimento próprio. Vejamos o contexto do boom empreendedor no mundo. Em 1990, os EUA explodiram em novos negócios, após desfrutarem de oito anos de crescimento econômico, o período mais longo de crescimento contínuo no século XX. Houve nessa época também o boom da internet, em que pequenos negócios e pequenos empreendedores geraram 2 Vale conhecer o resumo da pesquisa GEM 2009, disponível em: <http://www.gembrasil.org.br>. Acesso em: 10 out. 2010. 21 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 a famosa bolha da internet. Negócios que simplesmente não tinham existência na vida real, mas apenas no mundo virtual eram mais valiosos do que grandes empresas reais. Isso proporcionou ganhos vultosos nas bolsas de Nova York e Nasdaq e gerou uma quantidade enorme de novos jovens milionários. 3.5 A experiência brasileira O assunto empreendedorismo começa a ser discutido no mundo acadêmico no início da década de 1980 e permanece apenas como assunto tangencial por vários anos. A partir da década de 1990, o empreendedorismo começa a ganhar força, durante a abertura da economia que fechou muitos postos de trabalho na indústria obsoleta, atravancada pelos produtos importados, que tinham melhor qualidade e menor preço. Além disso, os produtos importados ajudam a controlar o preço, condição importante para o país voltar a crescer. Havia uma enorme dificuldade para a indústria nacional competir com os importados, em vários setores, como o de brinquedos e de confecção. Era preciso modernizar o parque industrial brasileiro. Nessa mesma época, começa uma série de reformas patrocinadas pelo governo que culminariam na melhoria do país, com ajustes na economia e o controle da inflação. Assim, o país ganha estabilidade, planejamento e respeito, e a economia volta a crescer. Só no ano 2000, surge um milhão de novos postos de trabalho, e, juntas, as empresas empregam cerca de 40 milhões de trabalhadores. Dessa forma, a partir dessa época, o empreendedorismo começa a ser ensinado em todos os cursos superiores. Segundo Dornelas, o empreendedorismo é o combustível para o crescimento econômico, criando emprego e prosperidade. Do grego, empreender significa “fazer acontecer com as próprias mãos”. Para que o empreendedorismo ocorra nas organizações, 22 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 há a necessidade de pessoas que o façam acontecer, ou seja, é preciso ter a figura dos empreendedores. Dolabela propõe o empreendedor como alguém que define por si mesmo o que vai fazer e em que contexto será feito. Ao definir o que vai fazer, ele leva em conta seus sonhos, desejos, preferências, o estilo de vida que quer ter. Desta forma, consegue dedicar-se intensamente, já que seu trabalho se confunde com o prazer. Peter Drucker explica que são empreendedores aqueles que criam algo novo, algo diferente; eles mudam ou transformam valores. O espírito empreendedor é uma característica distinta, seja de um indivíduo ou de uma instituição. Não é um traço de personalidade, mas sim um comportamento e suas bases são o conceito e a teoria, e não a intuição. Resumindo Começam a aumentar as ações que promovem o empreendedorismo a partir da ação das incubadoras e da preocupação mundial com o tema: • Softex (Genesis); • Empretec (Sebrae); • Brasil Empreendedor; • Projeto Reune (CNI/IEL); • começa a haver a figura do capitalista de risco; • crescimento das incubadoras de empresas tradicionais, tecnológicas e mistas; • ensino de empreendedorismo nas universidades; • entidades de apoio (Sebrae, Endeavor, Instituto Empreendedor do Ano da Ernst & Young etc.); Filion diz que empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões. 23 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • alternativas de financiamento: Fapesp, Finep, Angels, VCs; • crescimento de franquias. 3.6 O que é empreender? Segundo as diversas definições, e a partir do que foi explicado até aqui sobre novos negócios e empreendedorismo, percebe-se que, para entender o que é um empreendedor, não basta à pessoa apenas abrir ou comprar um negócio. É preciso identificar novas oportunidades, melhorando e/ou modificando conceitos/ produtos e concepções. Nota-se também que nos diversos conceitos de empreendedorismo, destacam-se a inovação, a busca de oportunidades, a mudança e a iniciativa. São, portanto, esses conceitos que nortearão o desenvolvimento do trabalho empreendedor. Mas o que têm de diferente as pessoas que empreendem? Segundo Dornelas (2008), essas pessoas têm características diferentes que fazem com que sejam persistentes, otimistas e animadas com suas ideias. Em qualquer definição de empreendedorismo, encontram-se, pelo menos, os seguintes aspectos referentes ao empreendedor: • iniciativa para criar/inovar e paixão pelo que faz; • utiliza os recursos disponíveis de forma criativa transformando o ambiente social e econômico onde vive; • aceita assumir os riscos e a possibilidade de fracassar. Dolabela (2008, p. 207) afirma que: o empreendedor deve ter alto comprometimento com o ambiente, em todos os seus aspectos: cidadania, “O empreendedor é aquele que faz acontecer, antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização.” (Dornelas, 2001) 24 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 ética, economia, justiça social, ecologia. Fortalecendo e preservando o meio ambiente, contribuindo para a economia, ele estará criando melhores condições para seu próprio desenvolvimento como cidadão e empreendedor. Saiba mais3 Segundo uma pesquisa de José Dornelas e Caio Cezar, um estudo qualitativo com 399 entrevistas de empreendedores de sucesso, trabalho apresentado em 2006 no XVI Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadora de Empresas, sobre empreendedores no Brasil, identificar o perfil do brasileiro de sucesso não é algo simples. Hoje, o Brasil é considerado o sétimo país mais empreendedor do mundo, com 20 milhões de pessoas que têm o seu próprio negócio ou planejam tê-lo em breve, segundo dados do GEM (Monitor Global de Empreendedorismo, na sigla em inglês). No entanto, segundo dados do Sebrae, 59% das pequenas e médias empresas quebram nos dois primeiros anos. Mais do que isso, no Brasil, ainda se empreende por necessidade, e não pela identificação da oportunidade. Os autores da pesquisa acreditam que o empreendedor de sucesso identifica uma oportunidade antes de ingressar no próprio negócio. Segundo dados da pesquisa de Cezar e Dornelas, mais de 80% dos empreendedores de sucesso aproveitaram uma oportunidadepara iniciar o seu negócio. Esta capacidade de ver um novo mercado, somada à rede de relacionamentos, ganha uma proporção inusitada. Mesmo para o empreendedor de sucesso, não há a cultura de que a planificação é o elemento número um para o sucesso. Na 3 Baseado em Renato Marques, Salvador (BA), Mitos e fatos sobre o empreendedor brasileiro. Disponível em: <http://www.universia.com.br>. Acesso em: 10 out. 2010. 25 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 pesquisa, ainda, mais de 40% dos entrevistados afirmam que seguiram sua intuição ao invés de planejar. Ao mesmo tempo, apenas 10% afirmaram planejar constantemente o seu negócio. Características pessoais Outra questão interessante é a composição dos fatores que levaram os empreendedores de sucesso a partir para um negócio próprio. Muitos acreditam que a motivação principal está na possibilidade de ganhos maiores, liberdade e sonhos pessoais. Embora esses fatores estejam, sim, presentes entre os apontados nas entrevistas, os principais são mesmo a existência de uma oportunidade (34%) e os contatos vindos da rede de relacionamentos (32%). A racionalidade apontada no item anterior, a existência de uma oportunidade, se mostra também em outros pontos da pesquisa. Primeiro porque apesar de se mostrarem afeitos ao risco, os empreendedores de sucesso não se arriscam a captar recursos externos para iniciar o negócio. “Apesar do apetite por riscos, a grande maioria, 70%, prefere começar sua empresa com recursos próprios”, esclareceu Cezar. Além disso, a pesquisa apontou também que 70% dos entrevistados possuem, ao menos, Ensino Superior completo. Assim, com a tabulação destes dados, os pesquisadores construíram uma tabela comparando o senso comum sobre os empreendedores para ver se ele se confirma no caso dos empreendedores de sucesso. Confira o resultado na tabela abaixo: 26 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Característica empreendedora Constatações na pesquisa de campo São indivíduos que fazem a diferença Não constatado(*) Sabem explorar ao máximo as oportunidades Confirma São determinados e dinâmicos/Persistência Confirma São dedicados/Possuem comprometimento Confirma São otimistas e apaixonados pelo que fazem Confirma São independentes e constroem o próprio destino Confirma Ficam ricos Não constatado (**) São bem relacionados (networking) Confirma Planejam, planejam, planejam/Estabelecem metas Não confirma Possuem conhecimento/ Buscam informações Confirma Assumem riscos calculados Confirma Histórico familiar Confirma (*) como se trata de análise subjetiva, é de difícil medição. (* *) as entrevistas não levantaram dados que permitissem esta constatação. 3.7 Características dos empreendedores Este estudo inicial trouxe as características dos empreendedores apresentadas por Dornelas (2007). Acompanhe: • são visionários; • sabem tomar decisões; • são indivíduos que fazem a diferença; • sabem explorar ao máximo as oportunidades; 27 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • são determinados e dinâmicos; • são dedicados; • são otimistas e apaixonados pelo que fazem; • são independentes e constroem seu próprio destino; • são líderes e formadores de equipes; • são bem relacionados (networking)�; • são organizados; • planejam, planejam, planejam; • possuem conhecimento; • assumem riscos calculados. O autor apresenta ainda o que chama de mitos sobre o empreendedor. Segundo ele, as pessoas acreditam que o empreendedor é uma pessoa diferenciada, que nasce para o sucesso, que assume altos riscos e é muito solitário. Ele explica a realidade de cada um desses mitos: • mito 1: empreendedores são natos, nascem para o sucesso. — Realidade: a capacidade de ter visão e perseguir oportunidades aprimora-se com o tempo; • mito 2: empreendedores são “jogadores” que assumem riscos altíssimos. — Realidade: evitam riscos desnecessários e compartilham os riscos com os outros; • mito 3: os empreendedores são “lobos solitários” e não conseguem trabalhar em equipe. — Realidade: são ótimos líderes e sabem criar times. 28 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Saiba mais Veja a lista de mitos proposta por Timmons (1994). Mitos sobre empreendedores • Mito 1: empreendedores nascem feitos. — Realidade: embora empreendedores nasçam com certa inteligência, vontade de criar e energia, sua formação depende da acumulação de habilidades relevantes, experiência, contatos. • Mito 2: qualquer um pode começar um negócio. — Realidade: pode. Sobreviver e florescer “é que são elas”. Empreendedores que entendem a diferença entre uma ideia e uma oportunidade e pensam grande têm mais chances de serem bem- sucedidos. • Mito 3: dinheiro é o fator mais importante para montar uma empresa. — Realidade: se as outras peças e o talento estão no lugar, o dinheiro virá. Dinheiro é como o pincel e a tinta para um pintor – materiais que, nas mãos certas, produzem maravilhas. • Mito 4: empreendedores não têm chefe e são completamente independentes. — Realidade: todo mundo é chefe do empreendedor: seus sócios, investidores, clientes, fornecedores, empregados, família, comunidade. Mas os empreendedores podem escolher as exigências a que vão atender e quando. 29 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • Mito 5: empreendedores devem ser jovens e cheios de energia. — Realidade: essas qualidades podem ajudar, mas idade não é barreira. O que é crítico é possuir o conhecimento relevante, experiência e contatos que facilitam reconhecer e agarrar uma oportunidade. • Mito 6: empreendedores trabalham mais do que executivos de grandes companhias. — Realidade: alguns trabalham mais, outros não. • Mito 7: empreendedores são “lobos solitários”. — Realidade: os empreendedores mais bem-sucedidos são líderes que constroem grandes equipes e ótimos relacionamentos com pares, diretores, investidores, clientes, fornecedores e outros. • Mito 8: empreendedores são jogadores. — Realidade: empreendedores bem-sucedidos calculam muito bem os riscos. Eles tentam influenciar o jogo de probabilidades, frequentemente atraindo outros para dividir os riscos com eles. • Mito 9: qualquer empreendedor com uma boa ideia pode atrair investimentos de risco. — Realidade: nos Estados Unidos, apenas entre 1 e 3 de cada 100 empreendedores com boas ideias conseguem atrair capitalistas de risco. • Mito 10: empreendedores querem o show todo só para eles. — Realidade: privilegiar o próprio ego coloca um teto nas possibilidades de crescimento. Os melhores 30 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 empreendedores geralmente sabem construir um time, uma organização, uma companhia. • Mito 11: empreendedores sofrem um estresse tremendo. — Realidade: sem dúvida, mas não há evidências de que o empreendedor sofra mais estresse do que outros profissionais com muita responsabilidade. A maioria dos empreendedores, ao contrário, acha seu trabalho muito satisfatório. 3.8 Empreendedor corporativo No século XVII, Richard Cantillon foi um importante escritor e economista considerado por muitos como um dos criadores do termo empreendedorismo, tendo sido um dos primeiros a diferenciar oempreendedor, como aquele que assume risco, do capitalista: aquele que fornecia o capital. No século XVIII, o capitalista e o empreendedor foram finalmente diferenciados, provavelmente devido ao início da industrialização que ocorria no mundo, por conta da Revolução Industrial. No século XIX e XX, os empreendedores foram frequentemente confundidos com os administradores (o que ocorre até hoje), sendo analisados meramente de um ponto de vista econômico, ou seja, aquele que dirige e controla as ações desenvolvidas na organização. Vejamos, a seguir, as diferenças entre empreendedorismo de Start up (empresas iniciantes) e o empreendedor corporativo, segundo Dornelas (2007): Start up Empreendedor corporativo Criação de riqueza Construir/melhorar a imagem da marca Busca investimento junto a angels etc. Busca recursos internos ou reloca os existentes Start up: empresa iniciante. 31 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Cria estratégias e culturas organizacionais Deve trabalhar dentro de uma cultura existente e a oportunidade deve estar coerente com a estratégia da organização Sem regras Regras claras Horizonte de curto prazo Horizonte de médio/longo prazo Passos rápidos (caos controlado) Burocracia Muitas corporações podem ser resistentes ao empreendedorismo porque contradizem suas filosofias e seus procedimentos. Porém, elas entendem que precisam ser mais empreendedoras. Para consolidar um comportamento empreendedor na organização, o executivo deve, muitas vezes, pensar e agir como um empreendedor (Dornelas, 2007). Para as empresas, é importante identificar indivíduos que sejam empreendedores, pois, conforme foi visto anteriormente, estas pessoas podem fazer a diferença quando se trata de implantar novas ideias e projetos. Veja os tipos de empreendedores corporativos que existem no próximo tópico. 3.8.1 Tipos de empreendedores corporativos Dornelas (2007) apresenta os seguintes tipos de empreendedores corporativos: • Tipo 1: o empreendedor que busca resultados (empreendedor clássico): — tem uma necessidade grande de realização; — sente a necessidade de receber um feedback (avaliação) de sua performance; — planeja e estabelece metas; — tem uma forte iniciativa pessoal; — compromete-se fortemente e se identifica com a organização; — possui autocontrole (define os caminhos a seguir); 32 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 — acredita que o trabalho deveria ser guiado por metas pessoais, e não pelos outros; • Tipo 2: o grande vendedor (atinge o sucesso através de sua rede de relacionamentos, capacidade de vender e ser persuasivo, e das habilidades pessoais): — tem grande capacidade de se entender com as pessoas (muita empatia); — deseja ajudar aos outros; — acredita que os relacionamentos, interações e as atividades sociais são importantes; — necessita possuir fortes relacionamentos com outras pessoas; — acredita que o ato de vender é crucial para que a empresa implemente suas estratégias; — geralmente, tem alguma experiência em vendas; • Tipo 3: o gerente (possui boas habilidades gerenciais combinadas com uma agressiva orientação ao crescimento profissional): — deseja ser um líder corporativo; — é competitivo; — é decisivo (gosta e sente-se à vontade ao tomar decisões); — deseja o poder; — tem atitudes positivas em relação à autoridade; — fica um pouco distante dos demais funcionários; • Tipo 4: o criativo (gerador de ideias): — desejo de inovação; 33 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 — adora ideias, é curioso, mente aberta; — acredita que o desenvolvimento de novos produtos é parte crucial para a estratégia da empresa; — é muito inteligente; o ato de pensar é o diferencial de sua abordagem empreendedora; — usa a inteligência como vantagem competitiva; — deseja evitar tarefas muito arriscadas. 3.8.2 Papéis dos empreendedores corporativos Segundo Dornelas (2007): • iniciador: é aquele que dá início ao processo empreendedor, que identifica a oportunidade, algum problema interno que deve ser resolvido, uma inovação que pode ser obtida etc. Muitos podem ser os iniciadores de projetos, mas geralmente os champions (defensores da ideia) ou gerentes é que acabam fazendo isto acontecer; • sponsor (apoiador)/facilitador: são os gerentes seniores, diretores ou outros funcionários de alto escalão, os quais agem como críticos e conselheiros do projeto, ajudando a equipe a conseguir os recursos e até mesmo interferindo e tentando modificar regras internas para que o projeto seja implementado. É o grande protetor do projeto internamente e facilitador do processo; • crítico: é o advogado do diabo, está sempre analisando questões críticas, identificando pontos fracos, apresentam alternativas para implementação e argumentos para a não implementação de certas ideias, tudo com base em sua experiência e conhecimento do mercado e da empresa. Para Dornelas (2007), os papéis principais e mais importantes são o do gerente (champion) e do apoiador (sponsor), pois estes definirão a continuidade ou não do projeto, um tendo a 34 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 iniciativa de levar o projeto adiante e o outro abrindo caminho para que isso ocorra. Ele sugere que a empresa atente para as características desses indivíduos: • como é seu trânsito dentro da organização, se é bem- relacionado e visto de forma respeitosa pelos outros; • se ele/ela é uma pessoa que tem sido desafiada e mesmo assim levou projetos inovadores adiante; • se ele/ela já atingiu status suficiente na organização e não vê o projeto como uma forma de se autopromover; • se ele/ela tem o poder de tomar ou influenciar a tomada de decisões na organização; • se ele/ela é uma pessoa conhecedora do sistema corporativo e de como as decisões são tomadas e implementadas na organização; • se ele/ela é uma pessoa comprometida com os projetos nos quais se envolve e procura focar suas ações buscando resultados. Os conselhos de Dornelas (2007) para os empreendedores corporativos são os seguintes: • faça o trabalho que for necessário para que seu projeto dê certo, independente de sua função/cargo na empresa; • compartilhe os créditos do sucesso; • lembre-se: é mais fácil pedir perdão que permissão; • venha trabalhar cada dia querendo ser demitido; • peça conselho antes de pedir recursos; • siga sua intuição a respeito das pessoas; construa um time composto pelos melhores; • prepare-se antes de divulgar sua ideia; publicidade prematura não é imune ao sistema corporativo; 35 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 • nunca aposte uma corrida da qual não esteja participando; • seja verdadeiro com suas metas, mas realista sobre as formas de atingi-las; • honre seus superiores, sua empresa, seus patrocinadores. Estudo de caso Intraempreendedorismo, que bicho é esse?4 Por Marcos Hashimoto Muitas vezes, o conceito de empreender dentro da empresa esbarra na cultura corporativa. Quem consegue derrubar este muro cria um novo modelo de negócios e uma empresa ágil. O momento que as grandes empresas estão vivendo não é fácil. Há uma necessidade crescente de promover uma cultura interna de inovação como fonte de competitividade, evidenciando que as cabeças pensantes dos departamentos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento)não estão dando conta da demanda por novidades e melhorias nos produtos e serviços oferecidos ao mercado. Em compensação, este movimento está provocando o nascimento de um novo modelo de organização, a organização empreendedora, que promove o empreendedorismo corporativo ou o intrapreneurship, termo cunhado pelo consultor americano Gifford Pinchot em 1978 para caracterizar empresas que estimulam e incentivam as iniciativas empreendedoras de seus funcionários. Ainda que seja um conceito recente, a sua proliferação já massificou e em alguns casos já chegou até a vulgarizar o 4 Marcos Hashimoto é mestre em administração pela FGV, professor universitário e consultor de empresas. Artigo publicado originalmente na revista Você S/A de 21 ago. 2003. Disponível em: <http://www.via6.com. br>. Acesso em: 11 out. 2010. 36 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 termo, empresas se dizem empreendedoras ao simplesmente colocar em prática algum programa interno de ideias de funcionários, a famosa “caixa de sugestões”, só que o intraempreendedorismo é muito mais do que isto. Requer uma radical mudança cultural interna que permita o surgimento de novos modelos de negócio e agilidade para a implantação dos projetos. Obviamente, qualquer um que trabalhe em uma empresa de grande porte sabe que os principais entraves para se instaurar uma cultura empreendedora passam pela rigidez dos processos de aprovação e decisão, gerentes mesquinhos e egoístas, burocracia, falta de espírito de equipe, delimitações impostas pelas descrições de cargo, obediência irrestrita às normas e padrões internos, pouca ou nenhuma tolerância a erros e fracassos, falta de orçamentos para empreendimentos de risco, entre outros. As organizações que iniciaram a jornada nesta direção começaram por romper os paradigmas que tradicionalmente delimitam suas fronteiras. Antes, o ciclo externo era bastante claro: fornecedor – empresa – cliente. Hoje, poderíamos dizer que o que temos é algo parecido com: parceiro – empresa – parceiro. Cada vez mais as empresas estão delegando parte de suas operações para fornecedores e clientes, dividindo responsabilidades com eles, incorporando os valores dos clientes de seus clientes e a realidade dos fornecedores de seus fornecedores. A tecnologia tem permitido aos clientes e fornecedores entrarem e participarem cada vez mais dos seus processos internos visando a ganhos mútuos e tornando os limites mais e mais difusos e indistintos. Na geração de uma cultura corporativa empreendedora, este mesmo movimento está acontecendo agora dentro da organização. Almeja-se, assim, que funcionários e departamentos se tornem parceiros da empresa, gozando de 37 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 autonomia e independência para iniciar e conduzir projetos de alto valor agregado, capacitando seus colaboradores a se tornarem verdadeiras empresas, com noções de marketing, finanças, operações, dando-lhes condições para estruturar uma ideia e negociá-la, noções de gestão de projetos e liderança, habilidades para tecer relações e obter apoio, tanto político como financeiro. Para medir quem já está fazendo isso, a revista Exame está lançando, em parceria com o Instituto Brasileiro de Intraempreendedorismo (IBIE), o ranking das organizações empreendedoras. Não é novidade que as pequenas empresas já façam isso, justamente pela cultura rápida e ágil. Por conta disso, um dos critérios de seleção do IBIE é aceitar as inscrições de empresas com mais de 100 funcionários apenas. Nas pequenas empresas, os poucos funcionários já agem de forma polivalente, já tem contato direto com a diretoria e são menos supervisionados e regidos por burocracia do que nas empresas de grande porte. Os desafios das grandes empresas são muito maiores neste sentido. Como os gerentes saberão a quem deverão ouvir e quem deverão ignorar? Como minimizar os riscos apresentados por uma ideia aparentemente muito boa? Como recompensar os intraempreendedores? Como identificá-los? Como romper as delimitações do cargo ou dos departamentos? Como pesar com bom senso a relação entre sonho e viabilidade? Uma vez, um amigo que trabalha numa empresa de software contou-me sua aventura na criação de um novo produto da empresa, um sistema de Help Desk. Depois de tentar apresentar a ideia à sua diretoria por três vezes, ele resolveu agir por conta própria. Durante dez meses, 38 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 ele trabalhou sozinho, na clandestinidade, durante muitas noites e finais de semana, desenvolvendo o software, até que um dia, o seu gerente quis saber o que tanto ele fazia à noite para não cobrar horas extras. Com 80% do sistema concluído, ele teve a coragem de mostrar algumas telas e falar sobre a funcionalidade do produto. Ao longo da explanação, ele percebia nitidamente os traços sisudos do seu chefe se converterem em sinais de interesse e perplexidade. No dia seguinte, foi feita uma apresentação à mesma diretoria que havia recusado suas ideias antes. Desta vez, atenta, ela reconheceu que enfim compreendeu a concepção do produto e assumiu então as rédeas do projeto, transformando-o num produto comerciável ao cabo de três meses, tendo-o sempre como mentor e gestor, sem, no entanto, ganhar um centavo a mais por isso. Este é um típico perfil de talento que não se mantém por muito tempo neste tipo de organização. Com um pouco mais de coragem e capital, ele parte para a carreira independente, engrossando a fila dos empreendedores por oportunidade. Se fosse só isso, tudo bem, mas o cenário é pior: o intraempreendedor possui algumas características que não só são ignoradas pelas empresas, como são indesejadas. O intraempreendedor questiona as regras, enfrenta a autoridade formal, é avesso às ordens e incomoda os demais. Muitos deles não saem por livre e espontânea vontade: são sumariamente demitidos por falta de aderência aos “valores corporativos” e acabam engrossando outra fila, a do empreendedorismo por necessidade, justamente aquele em que o Brasil se destaca, segundo levantamento do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) de 2001. EXERCÍCIOS Algumas empresas adotam o intraempreendedorismo, que nada mais é do que o funcionário passar a se sentir dono da empresa e ter liberdade para criar novos projetos e orientá-los. 39 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 O ambiente de trabalho permite isso e novas ideias são cobradas do funcionário. 1. Será que todas as empresas estão prontas ou dispostas a dar essa liberdade ao funcionário? 2. Como agir, nos casos em que a empresa, além de tudo, ainda se aproveita da ideia do funcionário? Resolução dos exercícios 1. As empresas que tratam os funcionários dessa forma ainda são uma minoria, e isso também é razão para trocas de empregos constantes. Essas empresas não conseguem reter seus talentos. 2. Conversas francas sobre o assunto ajudam. Em muitos casos, a demissão é a única solução. 4 FINANCIAMENTO DE EMPRESAS Assim que o futuro empresário teve uma ideia, transformou- a em oportunidade de negócio, avaliou suas competências e habilidades para ser um empreendedor, é preciso estudar formas de conseguir dinheiro para empreender seu novo negócio. Há várias possibilidades de consegui-lo, desde capital próprio, economias particulares de familiares e amigos, e também muitos órgãos nacionais estão dispostos a investir em novos negócios. Segundo estudosem diversas partes do mundo, boas ideias precisam ser incentivadas, inclusive com capital para que possam ser colocadas em prática e ajudar no desenvolvimento mundial. Vamos conhecer as principais formas de conseguir capital para empreender novos negócios. Primeiro de tudo é preciso entender qual a finalidade do dinheiro, qual o prazo de retorno e o que se tem para consegui-lo. Segundo Márcio Iavelberg, 40 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 consultor especializado em finanças para pequenas e médias empresas, “a dica é tentar entender o que soluciona o problema de forma mais rápida e barata”. 4.1 Formas de financiamento A professora Dariane Fraga Castanheira, do Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento da Fundação Instituto de Administração (Proced/FIA), diz que é importante mostrar segurança para o banco na hora de pedir recursos. “Toda empresa tem que atualizar anualmente o plano de negócio. O banco quer garantia de que o cliente vai pagar a conta”, explica. Vale lembrar que conversar com sócios e até com o gerente do banco é uma prática saudável para evitar fazer uma escolha errada. Confira a lista, elaborada com a ajuda dos especialistas, das opções mais procuradas e quando usá-las: 1. cheque especial: ele é o vilão de muitas contas físicas e jurídicas. É uma opção para situações emergenciais e quando o empresário sabe que poderá pagar a dívida em um prazo de poucos dias. “Ele pode ser vantajoso nestas circunstâncias. Juros mais altos, mas por poucos dias compensa. Até porque um empréstimo cobra outras coisas, como IOF e taxa de contrato”, ensina Márcio; 2. conta garantida: é parecida com o cheque especial, mas pode ter juros um pouco mais baixos. É uma linha de crédito rotativo, que pode ser usada para qualquer finalidade. “O empresário usa o valor e paga juros sobre o limite que pediu”, conta Márcio; 3. leasing: esta é uma opção de médio a longo prazo, indicada para adquirir máquinas, veículos e outros equipamentos. Depois de pagar as prestações, a pessoa pode optar por comprar o bem ao final do contrato; 41 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 4. empréstimo: para ampliar as instalações, investir em um maquinário novo ou na modernização da sua empresa, vale buscar empréstimos no BNDES. Os juros são mais baixos do que o banco comercial e ainda há um período de carência. Para isso, é preciso ter um projeto justificando para que o dinheiro será usado. Já os empréstimos dos bancos comerciais são diferentes e não é preciso justificar o uso do dinheiro. São uma boa opção para ampliar o capital de giro, por exemplo. “Mas o mais indicado é sempre insistir nos financiamentos das fontes governamentais”, diz Dariane; 5. antecipação de recebível: esta é uma forma aconselhada principalmente para quem trabalha com comércio. Você pode vender um produto no cartão e pedir a antecipação do pagamento para a operadora. “Se você precisa de um dinheiro urgente, ao invés de receber daqui a 30 dias, pede e recebe antes”, ensina Márcio5. Conheça agora um apanhado geral sobre formas de financiamento para empresas pequenas e médias. Tenha em mente a sua necessidade de capital, estude as taxas, as prestações para que caibam em seu orçamento e planeje muito bem seus pagamentos. 4.2 Formas de financiamento para pequenas e médias empresas O governo incentiva bastante o trabalho dos empreendedores e sempre patrocina projetos em que acredita, entrando com o montante financeiro necessário para a empreitada. É preciso pesquisar para conhecer as formas de financiamento existentes. Todos os bancos têm suas linhas de crédito aos empreendedores. Colocaremos aqui apenas algumas opções que vêm diretamente do Governo Federal por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) 5Baseado em Priscila Zuini. Conheça os tipos mais usados e qual a forma apropriada para cada situação. Revista Exame. Disponível em: <http://www.exame.com>, 10.05.2010. Acesso em: 11 out. 2010. 42 Unidade I Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 e da Caixa Econômica Federal, além das formas de apoio do Sebrae, agência de apoio ao micro e pequeno empresário, existente em todos os estados. Os governos estaduais e até algumas prefeituras também liberam dinheiro para os empreendedores.6 Incentivos para pequenas e médias empresas BNDES Nome Objetivo Forma de apoio Valores mínimos e máximos Taxa de juros/ Custo Prazo Nível de participação Garantias Finame Financiar a aquisição de máquinas e equipamentos nacionais novos com capital de giro associado. Financiamento indireto. TJLP + Remuneração BNDES + Taxa de Intermediação Financeira + Remuneração Instituição Financeira. Até 60 meses. Até 100%. Definidas com o agente financeiro. Finame Componentes Financiar a aquisição de peças, partes e componentes de fabricação nacional para incorporação em máquinas e equipamentos em fase de produção. Financiamento indireto. TJLP + Remuneração BNDES + Taxa de Intermediação Financeira + Remuneração Instituição Financeira. Até 18 meses. Até 90%. Definidas com o agente financeiro. BNDES Automático Financiar projetos de implantação, expansão ou modernização de atividades produtivas, com capital de giro associado. Financiamento indireto. Até R$ 10 milhões por empresa a cada 12 meses. TJLP + Remuneração BNDES + Taxa de Intermediação Financeira + Remuneração Instituição Financeira. Definido com o agente financeiro. Até 100%. Definidas com o agente financeiro. Cartão BNDES Oferecer crédito para a aquisição de bens de produção e alguns insumos credenciados através do Portal de Operações do Cartão BNDES Financiamento automático através de crédito rotativo, pré-aprovado. Até R$ 1milhão por cartão. Ver taxa do mês. De 3 a 48 meses. Prosoft Comercialização Financiar a aquisição, no mercado interno, de softwares e serviços correlatos desenvolvidos no Brasil. Financiamento exclusivamente indireto. TJLP + Remuneração BNDES + Remuneração Instituição Financeira. Até 42 meses. Até 100%. Definidas com o agente financeiro. 6Baseado em informações da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Disponível em: <http://www.abinee.org.br/ informac/arquivos/cartinc.pdf>. Acesso em: 11 out. 2010. 43 PLANO DE NEGÓCIOS Re vi sã o: G er al do - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 01 /2 01 1 Incentivos para pequenas e médias empresas Finep Nome Objetivo Forma de apoio Valores Mínimos e Máximos Taxa de Juros/ Custo Prazo Garantia Parcerias Juro Zero Financiar micro e pequenas empresas inovadoras, com faturamento anual de até R$ 10,5 milhões, com uma redução drástica de burocracia. Empréstimo sem juros. Mínimo - R$ 100 mil Máximo - R$ 900 mil. Correção pelo IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo. 100 meses. Fundo de aval. Subvenção Econômica Aplicação de recursos em empresas, para compartilhar com elas os custos e riscos inerentes a atividades de inovação. Aplicação de recursos públicos não reembolsáveis através de editais. Progex Gerar novas empresas exportadoras ou ampliar a capacidade das que já atuam no mercado internacional. Consultorias e serviços objetivos e dirigidos que visam à adequação tecnológica
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