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Módulo 4 - Estilística do Som

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MÓDULO 4- ESTILÍSTICA DO SOM
MÓDULO 4- ESTILÍSTICA DO SOM
 
Como já enunciado anteriormente, a Estilística também será foco de nossos estudos. Essa disciplina tem por objeto de estudo o estilo. 
No entanto, para estilo há vários conceitos e podemos afirmar que a Estilística enquanto ciência pode ser dividida nas seguintes áreas: estilística da língua; estilística literária; estilística como sociolingüística; estilística funcional e estrutural; estilística e retórica. 
Para efeitos didáticos, nossos estudos serão divididos em estilística do som, estilística da palavra, estilística da frase e estilística da enunciação.Trata-se da proposta que se encontra no livro-texto indicado na bibliografia básica, abaixo descrita:
  MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à Estilística: A expressividade na Língua Portuguesa. 4 ed. São Paulo: EDUSP, 2008.
Portanto, iniciemos com o conceito de Estilística do Som ou Fonoestilística :
                     
                                                      Também chamada de Fonoestilística, trata dos valores expressivos de natureza sonora observáveis nas palavras e   nos enunciados. Fonemas e  prosodemas (acento, entoação, altura e ritmo) constituem um complexo sonoro de extraordinária importância  na função emotiva e poética, segundo Martins (2000).
Segundo Martins (2000), a estilística do som é também chamada de Fonoestilística. Trata dos valores expressivos de natureza sonora observáveis nas palavras e nos enunciados. Fonemas e prosodemas (acento, entoação, altura e ritmo) constituem um complexo sonoro de extraordinária importância na função emotiva e poética.
Os sons podem sugerir ideias ou impressões, provocar sensações de agrado e/ou desagrado. É o que se pode denominar “motivação sonora”, quando há alguma correspondência entre som e significado. Por exemplo, a vogal /u/ pode estar relacionada à ideia de escuridão nas palavras escuro, noturno; todavia, isso não acontece em luz, diurno.
Quando ocorre a interseção de um significante e um significado, temos a metáfora fonética, assim como na metáfora semântica ocorre a interseção de significados – o de um comparante e o de um comparado.
Desse modo, conforme a insistência em sons de valor expressivo, podemos obter as seguintes figuras de som: aliteração, assonância, homeoteleuto etc.
 
2.3.1Aliteração
 
É a repetição insistente dos mesmos sons consonantais (no início ou integrantes da sílaba tônica). Exemplos:
                    “Jabuticaba Caju Maracujá
                    Pipoca Mandioca Abacaxi
                    é tudo tupi
                    tupi guarani” ( Tu tu tu Tupi, de Hélio Ziskind).
 
2.3.2 Assonância
 
É a repetição insistente dos mesmos sons vocálicos. Exemplo:
Jundiaí Morumbi Curitiba Parati ( Tu tu tu Tupi, de Hélio Ziskind).
 
2.3.4 Homeoteleuto e rima
 
Homeoteleuto: repetição de sons no final das palavras; aparecimento de uma terminação igual em palavras próximas, sem obedecer a um esquema regular, ocorrendo ocasionalmente numa frase ou verso. Exemplo:
“Cassiano pensou, fumou, imaginou, trotou, cismou, e, já a duas léguas do arraial (...)” ( Sagarana, Guimarães Rosa, p. 143).
Eco: homeoteleuto não intencional, não estético, que se costuma considerar um vício de linguagem.
Rima: coincidência de sons, geralmente nos finais das palavras. Exemplo:
“O índio andou pelo Brasil
deu nome pra tudo que ele viu
Se o índio deu nome, tá dado!
Se o índio falou, tá falado!”
( Tu tu tu Tupi, de Hélio Ziskind)
 
2.3.5 Anominação
 
Consiste no emprego de palavras derivadas do mesmo radical – em uma mesma frase ou em frases mais ou menos próximas (exemplo: sonho sonhado).
 
2.3.6 Paronomásia
 
Figura pela qual se aproximam palavras que oferecem sonoridade análoga com sentidos diferentes; é um jogo de palavras, um trocadilho (de que pode resultar até um
efeito humorístico). Exemplo:
                “Tão mal cumprida tão mais comprida...”.
 
2.3.7 Onomatopeia
 
É a reprodução de um ruído ou a tentativa de imitação de um ruído por um grupo de sons da linguagem. É a transposição na língua articulada humana de gritos e ruídos inarticulados. Esse é um recurso bastante utilizado em histórias em quadrinhos.
 
2.3.8 Harmonia imitativa
 
Estende-se ao longo de um enunciado, de um fragmento de prosa, de um poema, e resulta de um aglomerado de recursos expressivos: peculiaridades dos fonemas, repetições de fonemas, de palavras, de sintagmas ou frase, do ritmo do verso ou da frase. Veja, por exemplo, o poema “Os sinos”, de Manuel Bandeira:
“Sino de Belém, pelos que inda vêm!
Sino de Belém bate bem-bem-bem.
Sino da paixão, pelos que lá vão!
Sino da paixão bate bão-bão-bão”.
A aliteração do /b/ e a reiteração de vocábulos labiais evocam fonicamente o tanger dos sinos. A onomatopeia bem-bem-bem sugere o som metálico e alegre “pelos que inda vêm” (os batizados); bão-bão-bão, o dobre de finados “pelos que lá vão” (os mortos).
Além desses recursos expressivos, que constituem figuras de linguagem no nível fonético, ou seja, as figuras de som, podemos encontrar outros recursos que não compreendem necessariamente figuras, mas que caracterizam estilos no uso da língua. Vejamos alguns exemplos a seguir.
 
2.3.9 Alterações fonéticas
 
A estilística fônica trata de alterações fonéticas que têm valor expressivo.
 
2.3.9.1 Metaplasmos
 
Por supressão, acréscimo, por troca e por permuta. Exemplo: arvre (árvore), aspro (áspero), pobrema (problema), guentar (aguentar), embonecrado (embonecado), etc. correspondem a tendências ainda vigentes na língua, perceptíveis na fala popular
e coibidas na língua culta.
 
2.3.9.2 Alterações fonéticas em autores regionalistas
 
São formas populares cujas funções são as de marcar o nível cultural das personagens ou da língua arcaica ainda existente em zonas rurais ou dos sertões.
Esses processos correspondem a: ?acréscimo de fonemas no interior de vocábulo (murucego); ?(b) o acréscimo de /s/ no final de certas palavras ( nuncas); ?(c) supressão de som nas várias partes dos vocábulos (dianta, manhecer); ?(d) supressão da vogal átona (pré ou postônica): escrafuncar (escarafunchar); ?(e) forma diminutiva em –im (riachim, passarim); ?(f) troca de fonemas por vocalização, nasalação, dissimulação, etc.; ?(g) troca do [r] por [l]: militriz; ?(h) permuta ou mudança de posição de fonemas, mais frequentemente com o [R], como em enterter, agardecer, entre outros.
 
2.3.9.3 Alterações fonéticas na poesia
 
Na poesia, a metrificação dos versos está relacionada à sonoridade, que determina as sílabas poéticas, formadas por supressão ou fusão de sons vocálicos. Daí temos os seguintes fenômenos:
??crase (fusão de duas vogais iguais): “Eu não esper o o bem...”;
??elisão (desaparecimento da vogal final de uma palavra ante a vogal inicial da palavra seguinte: “Alma serena e casta...”);
??sinalefa (fusão da vogal final de uma palavra, reduzida a semivogal, com a vogal inicial da palavra seguinte, formando um ditongo): “Tudo quanto afirmais...”;
??eclipse (elisão ou sinalefa de vogal nasal; restringe-se praticamente ao encontro da preposição com e o artigo, variando a gra.a: com o,co’o, co);
??hiato entre vocábulos: usado pelos românticos, condenado pelos parnasianos, por deixar o verso frouxo; em certos casos, realça determinada palavra ou obriga a se emitir o verso num tom pausado. Meu/ can/to/ de/ mor/te, Gue/rrei/ros/, ou/vi:” (Gonçalves Dias)
Há casos em que o hiato torna-se ditongo, fenômeno denominado sinérese, como, por exemplo, em “E o Piaga se ruge/No seu Maracá” (Gonçalves Dias). As vogais formariam um hiato em se tratando de sílaba comum, mas tornam-se ditongo na métrica da sílaba poética.
O inverso também ocorre, e um ditongo desdobra-se em hiato. A esse fenômeno denomina-se diérese. Esse recurso contraria a tendência da língua de reduzir os hiatos.
Devemos considerar, ainda, recursos fonéticos que já não se encontram no segmento da língua, mas no nível suprassegmental, porém, que podem alterar a mensagem, conforme a expressividade
que podem marcar. Vejamos:
 
2.3.10 Prosodemas ou traços suprassegmentais
 
Acento: função distintiva – assim como a entoação, tem função intelectiva (frase afi    rmativa ou interrogativa, por exemplo) e presta funções expressivas importantes. É o caso do acento de duração, que não tem função fonológica, mas expressiva, e na língua escrita pode ser marcada pela repetição de grafemas (rrrolar), por exemplo. Pode, ainda, haver a intensidade de pronúncia marcada em uma sílaba para expressar emoção, energia, duração inusitada (exemplo: Ela é maravilhosa!).
Entoação: é a curva melódica que a voz descreve ao pronunciar palavras, frases e orações. Um nome próprio, por exemplo, com diferentes entoações, pode ter múltiplos significados, que devem ajustar-se ao contexto. É a entoação que indica se as nossas palavras estão no sentido próprio ou no oposto, se estamos sendo sinceros ou irônicos.
Sinais de pontuação e entoação: ponto final, vírgula, ponto-e-vírgula, travessão, parênteses, ponto de interrogação, de exclamação, reticências sugerem diferentes inflexões, mas têm em comum a indicação de uma pausa, precedida de queda, suspensão ou elevação da voz. A supressão de sinais de pontuação esperados pode ter efeito estilístico, permitindo, inclusive, múltiplas leituras.
 
2.3.11 Ortografia
 
A ortografia pode marcar, na escrita, recursos expressivos. Assim, o emprego das maiúsculas, por exemplo, que foge ao Acordo Ortográfico, pode sugerir respeito, admiração, sentimento religioso ou cívico, acatamento de autoridade (Pai, Mestre, Sacerdote, Pátria, etc.). Da mesma forma, o uso da minúscula, no início de nomes próprios, expressa a subversão à ordem, o que tem um valor semântico específico, de acordo com o contexto.

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