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Módulo 6 - Figuras de Palavras

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MÓDULO 6: FIGURAS DE PALAVRAS
MÓDULO 6: FIGURAS DE PALAVRAS
                       Segundo Martins (2000: 71),
                                                “ A Estilística léxica ou da palavra estuda os aspectos                                                                        expressivos das palavras ligados aos seus componentes                                                       semânticos e morfológicos, os quais, entretanto, não podem                                                           ser completamente separados dos aspectos sintáticos e                                                   contextuais”.
       
 
         Há duas formas de associação entre o sentido habitual e o sentido novo de uma palavra. A primeira diz respeito a uma relação de semelhança entre o significado de base e o novo, que se denomina metáfora. Se a associação ocorre por meio de uma relação de contigüidade, implicação, interdependência, tem-se, então, o que se denomina metonímia
        Na construção do sentido dos textos, temos que considerar o sentido figurado das palavras. Para tanto, veremos algumas figuras de palavra, sobretudo as figuras básicas - metáfora e metonímia - as quais compreendem processos que originam outras figuras.
      
                 A Metáfora
 
“... uma comparação em que o espírito, induzido pela associação de duas representações, confunde num só termo a noção caracterizada e o objeto sensível tomado como ponto de comparação...”, segundo Bally (apud MARTINS, 2000: 92)
 
            Bally agrupa as expressões figuradas em três grupos: imagens concretas, sensíveis, imaginativas; imagens afetivas; imagens mortas. Exs.:  
a)  imagens concretas: “O vento engrossa sua grande voz”.
b)  imagens afetivas: “O doente declina dia a dia.”
c) imagens mortas: escrúpulo, do latim scrupulu (designava uma pedrinha usada para pesar coisas pequenas; passou a designar a honestidade do negociante que não queria causar ao freguês o menor prejuízo, genaralizando-se o seu sentido para o de “meticulosidade”).
            Enfim, “as imagens concretas são apreendidas pela imaginação, as afetivas pelo sentimento ou pelos sentidos e as mortas por uma operação intelectual...”
            Segundo Ullmann, o termo imagem é o mais geral e abrange metáfora e símile (em casos mais raros a metonímia).
            O símile se distingue da comparação gramatical, intensiva, por relacionar termos de diferente nível de referência, isto é, termos de natureza diferente.
            Ex. O homem era forte como um touro.
            No símile podemos ter quatro elementos explícitos: o comparado ou termo real (homem), o comparante ou termo irreal, imaginário, metafórico (touro), o análogo, que explicita o ponto comum entre os dois termos (forte) e o nexo gramatical (como).
            Na linguagem falada essas comparações intensificadoras são freqüentes, como por exemplo em  “Surdo como uma porta”; “Liso como sabão” etc.
            Em certas expressões, o comparante ressalta a ironia : “Sutil como um elefante”.
            O nexo comparativo mais usual é como, mas são numerosos os torneios equivalentes, inclusive palavras nocionais como verbos, sendo alguns mais característicos da linguagem popular (que nem, feito) e outros da linguagem culta (tal, à semelhança de, análogo a).
Exemplos selecionados por Martins:
<!--[if !supportLists]-->a)     <!--[endif]-->“Estrondeavam pragas, qual um bafo do inferrno” (José Américo, A bagaceira, p. 193)
<!--[if !supportLists]-->b)    <!--[endif]-->“Isso de querer-bem da gente é que nem avenca peluda, que murcha e, depois de tempo, tendo água outra vez fica verde”. (G. Rosa. Sag., p. 216)
<!--[if !supportLists]-->c)     <!--[endif]-->“Os olhos dela brilhavam reproduzindo folha de faca nova”. (G. Rosa, Urubuquaquá, p. 140)
            A metáforapode ocorrer com substantivos, adjetivos e verbos, mas a metáfora de substantivo é mais comum. Nesse tipo de metáfora tem-se a relação entre dois substantivos (A, termo real; B, termo imaginário), entre os quais se encontram traços comuns (semelhança).
            Para que haja metáfora, os termos comparados devem pertencer a universos diferentes. Como, por exemplo, ao dizer “Jorge  é um touro”, há implícita a comparação entre o homem e o animal, entre os quais é estabelecido um traço de semelhança, no caso, de forte ou de violento.
            Nas metáforas lexicalizadas, mortas, o termo B substitui o termo A, com perda do teor expressivo; a metáfora torna-se um processo denominativo (catacrese) como, por exemplo, em minhocão (elevado na cidade de São Paulo), orelhão (telefone),borboleta(catraca ou roleta dos ônibus), tartaruga (saliência nas ruas para forçar os carros a diminuírem a velocidade) etc.
            No caso de metáforas de adjetivo e de verbo, estas se caracterizam pela inadequação lógica ou não-pertinência ao substantivo com que se relacionam sintaticamente. São exemplos: palavras ocas, caráter reto, nota preta, mesada gorda, arrotar grandeza etc.
            Na atribuição de juízos de valor, a metáfora pode ser utilizada para expressar exagero, indicando exaltação ou depreciação e tem um papel importante na expressão da ironia.
 
             Vejamos o anúncio publicitário:
                                                 
 
A metáfora é a alteração do sentido de uma palavra, pelo acréscimo de um significado segundo, quando entre o sentido de base, e o acrescentado há uma relação de semelhança, de intersecção, isto é, quando eles apresentam traços semânticos comuns. Sendo assim, no texto publicitário acima, a metáfora ocorre ao comparar o produto com liberdade. A frase “Red Bull te dá asas” e a imagem de um homem com asas reforçam essa comparação.
 
    A Metonímia
      Segundo Michel Le Guerri (apud Martins, 2000: 102)
                             “é a figura pela qual uma palavra (substantivo) que designa uma                                                    realidade A é substituída por outra palavra que designa uma realidade interdependência, que une A e B, de fato ou no pensamento."
      Vemos, portanto, que a metáfora se estabelece por semelhança, ao passo que a metonímia se dá por contigüidade.
      No dia a dia encontramos expressões metonímicas e nem nos damos conta desse recurso expressivo da língua. É o caso de “ter um teto para morar”, “ o pão nosso de cada dia” , entre outras.
      Todavia, trata-se de um recurso muito utilizado para produzir a beleza de um texto poético.
      Veja os exemplos:
      “Na verdade a mão escrava
      Passava a vida limpando
      O que o branco sujava, ê” (A mão da limpeza de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil)
 
      “Quero ser a cicatriz
      Risonha e corrosiva
      Marcada a frio
      Ferro e fogo
      Em carne viva...” ( Tatuagem de Chico Buarque e- Ruy Guerra)
 
 
Figuras
ANACOLUTO
Ruptura da ordem lógica da frase. É um recurso muito utilizado nos diálogos, que procuram reproduzir na escrita a língua falada. Também permite a caracterização de estados de confusão mental.
Ex:"Deixe-me ver... É necessário começar por... Não, não, o melhor é tentar novamente o que foi feito ontem."
ANÁFORA
Repetição sistemática de termos ou de estruturas sintáticas no princípio de diferentes frases ou de membros da mesma frase. É um recurso de ênfase e coesão.
Ex:Vi uma estrela tão alta, 
Vi uma estrela tão fria! 
Vi uma estrela luzindo 
Na minha vida vazia.  (Manuel Bandeira)
ANTÍTESE
Aproximação de palavras de sentidos opostos.
Ex: Na ofuscante CLARIDADE daquela manhã, pensamentos SOMBRIOS o perturbavam.
ASSÍNDETO
É a coordenação de termos ou orações sem utilização de conectivo. Esse recurso costuma imprimir lentidão ao ritmo narrativo.
Ex: "Foi apanhar gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada de madeira meio ruída pelo cupim, arrancou touceiras de macambira, arrumou tudo para a fogueira." (Graciliano Ramos)
CATACRESE
P alavra que perdeu o sentido original.
Ex: salário (= pagamento que era feito
em sal) 
secretária (= móvel em que se guardavam segredos) 
azulejos (= ladrilhos azuis)
ELIPSE
O omissão de um ou mais termos de uma oração, o qual se subentende, se presume.
Ex: Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para se plantar.  (Omissão do verbo HAVER)
"Canto triste" (Vinicius de Moraes): "Onde a minha namorada? Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço, peço apenas que ela lembre as nossas horas de poesia...". ("está", "anda" etc.).
É bom lembrar que existe um caso específico de elipse, que alguns preferem chamar de "zeugma". Trata-se da omissão de termo já citado na frase.
Ex: "Ele primeiro foi ao cinema, depois, ao teatro". "Eu trabalho com fatos; você, com boatos".
EUFEMISMO
O Dicionário "Houaiss" diz que é "palavra, locução ou acepção mais agradável, de que se lança mão para suavizar ou minimizar (...) outra palavra, locução ou acepção menos agradável, mais grosseira...". O "Aurélio" diz que é "ato de suavizar a expressão duma idéia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mais polida".
Ex:
Ontem, Osvaldo partiu dessa pra melhor (em vez de "morreu")
Este trabalho poderia ser melhor (em vez de "está ruim").
Às vezes, a suavização é feita pela negação do contrário. Para que não se diga, por exemplo, que determinado indivíduo é burro, diz-se que é pouco inteligente, ou simplesmente que não é inteligente. Esse caso, que contém forte dose de ironia, chama-se "litotes". É bom que se diga que com a litotes não necessariamente se suaviza. Para que se diga que uma pessoa é inteligente, pode-se dizer que não é burra: "Seu primo não é nada burro". Em suma, a litotes é "modo de afirmação por meio da negação do contrário", como define o "Aurélio".
HIPÉRBOLE
É bom observar que no extremo oposto do eufemismo está a "hipérbole". Se com aquele suavizamos, atenuamos, abrandamos, com esta aumentamos, enfatizamos, exageramos.
Ex:
Eu já disse um milhão de vezes que não fui eu quem fez isso! 
Ela morreu de medo ao assistir aquele filme de suspense. 
Hoje está um frio de rachar! 
Aquela mãe derramou rios de lágrimas quando seu filho foi preso. 
Não convide o João para sua festa, porque ele come até explodir! 
Os atletas chegaram MORRENDO DE SEDE.
GRADAÇÃO
Consiste em encadear palavras cujos significados têm efeito cumulativo.
Ex:
Os grandes projetos de colonização resultaram em pilhas de papéis velhos, restos de obras inacabadas, hectares de floresta devastada, milhares de famílias abandonadas à própria sorte. 
 
Ao ler o poema de Manuel Bandeira, verificamos a gradação:
 
O bicho, de Manuel Bandeira:
 
Vi ontem um bicho 
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
 
Na estrofe: O bicho não era um cão,/ não era um gato,/ não era um rato, verificamos a gradação: cão --- gato ---- rato; ou seja, o poeta vai do maior bicho para o menor bicho. No último verso, encontramos a palavra homem:
cão ---- gato ---- rato ---- homem
o homem, nessa gradação, está abaixo do rato. Quanto ao sentido dessa gradação, o poeta coloca o homem abaixo do rato para mostrar a situação de miséria do ser humano.
 
HIPÉRBATO
É a inversão da ordem natural das palavras.
Ex: "De tudo, ao meu amor serei atento antes" (ordem indireta ou inversa)
Em vez de "Serei atento ao meu amor antes de tudo" (ordem direta)
IRONIA
Consiste em, aproveitando-se do contexto, utilizar palavras que devem ser compreendidas no sentido oposto do que aparentam transmitir. É um poderoso instrumento para o sarcasmo.
Ex: Muito competente aquele candidato! Construiu viadutos que ligam nenhum lugar a lugar algum.
 
PERÍFRASE
Uso de um dos atributos de um ser ou coisa que servirá para indicá-lo.
Ex:
Na floresta, todos sabem quem é o REI DOS ANIMAIS.
 A CIDADE MARAVILHOSA torce para um dia sediar os Jogos Olímpicos.
 
PLEONASMO
Repetição, no falar ou no escrever, de idéias ou palavras que tenham o mesmo sentido. É vício quando empregado por ignorância: Subir para cima; é figura quando consciente, para dar ênfase à expressão.
Ex:
A MIM só me restou a esperança de dias melhores.
 
POLISSÍNDETO
É o uso repetido da conjunção (do conectivo), entre elementos coordenados. Esse recurso costuma acelerar o ritmo narrativo.
Ex:
"O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora." (Machado de Assis)
"No aconchego 
Do claustro, na paciência e no sossego 
Trabalhe, e teima, e lima, e sofre, e sua!" (Olavo Bilac)
PROSOPOPÉIA ou PERSONIFICAÇÃO (ou ainda METAGOGE)
Consiste em atribuir características de seres animados a seres inanimados ou características humanas a seres não-humanos.
Ex:
"A floresta gesticulava nervosamente diante do lago que a devorava. O ipê acenava- lhe brandamente, chamando-o para casa."
As estrelas sorriem quando você também sorri.
 
Leia o divertido poema de Vinícius de Moraes:
 
O ar (o vento), de Vinicius de Moraes:
 
Estou vivo mas não tenho corpo 
Por isso é que não tenho forma 
Peso eu também não tenho 
Não tenho cor
Quando sou fraco 
Me chamo brisa
E se assobio 
Isso é comum
Quando sou forte 
Me chamo vento
Quando sou cheiro 
Me chamo pum!
 
Além da onomatopeia "pum" no final do poema, outro recurso estilístico é a figura prosopopeia. Todo o poema está na voz do próprio vento, que se apropria da palavra e fala no texto.
 
SILEPSE
Figura pela qual a concordância das palavras se faz de acordo com o sentido, e não segundo as regras da sintaxe. A Silepse pode ser de pessoa, número ou gênero.
Ex:
"Os brasileiros somos roubados todos os dias."
"A turma chegou cedo, mas, depois que foi dado o aviso de que o professor se atrasaria, desistiram de esperar e foram embora".
 "Turma, turma, venham".
"São Paulo está assustadíssima com a brutalidade
 "Porto Alegre é linda". "Porto"
"Que será de nós, com a bandidagem podendo andar soltos por aí".
SINESTESIA
A proximação de sensações diferentes.
Ex:
Naquele momento, sentiu um CHEIRO VERMELHO de ódio.

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