Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VOGAIS NASAIS LEITURAS: CAMARA JR. – Parte V (“As vogais e consoantes portuguesas”), pág.58. CALLOU & LEITE – capítulo III (“Descrição fonológica do português”), parte 2, pág. 85. “A interpretação fonológica das vogais nasais em português tem sido sempre objeto de discussão por parte dos linguistas. Confrontando os pares mata / manta seda / senda lida / linda boba / bomba fuga / funga Resta-‐nos saber em que consiste a oposição entre as formas: 1) Na presença, em cada par, de vogais diferentes (vogal oral x vogal nasal) ou 2) Na presença, no segundo elemento de cada par, de um segmento fônico ausente no primeiro (vogal oral x vogal oral + elemento consonân`co nasal).” (Callou e Leite) Em síntese, a questão para a fonologia é: como interpretar a diferença entre “mata” e “manta”, por exemplo? Há 2 possibilidades: 1) Mata e manta cons`tuem um par oposi`vo: /’mata/ x /’mãta/ 2) Mata e manta não cons`tuem um par oposi`vo, pois em mata há 4 fonemas e em manta há um fonema a mais, a consoante nasal travadora de sílaba: /’mata/ x /’maNta/. Esta é a interpretação adotada por C. Jr.. A adoção de uma ou outra interpretação traz consequências diferenciadas para a descrição de outros fatos fonológicos. Se se considera que há vogais nasais no português • o quadro vocálico aumenta e passa a contar com 12 fonemas: 7 vogais orais e 5 vogais nasais; • O quadro consonantal deixa de ter um elemento, o arquifonema /N/; • A língua escrita é acrescida de 10 dígrafos vocálicos: an, am, en, em, in, im, on, om, un, um. C. Jr. apresenta 4 argumentos para defender sua posição (qual seja, a não-‐ existência de fonemas vogais nasais no português) e Callou e Leite, ao apresentar a argumentação do autor, buscam contra-‐argumentar. Vejamos argumentos e contra-‐argumentos: Argumentos de C. Jr. Contra-‐argumentos 1. No português não existe o contraste entre vogal oral, vogal nasal e vogal oral + consoante nasal, como há no francês: [‘bo] x [‘bõ] x [‘bon] Beau x bon x bonne Para Lüdtke, que defende uma interpretação mais concreta, esse argumento não seria válido para o português europeu, considerando uma sequência como: [‘vi] x [‘vĩ] x [‘vim] Vi x vim x vime Argumentos de C. Jr. Contra-‐argumentos 2. A sílaba com a vogal dita nasal comporta-‐se como sílaba travada por consoante e, quando final – seguida de palavra iniciada por vogal – não sofre crase, por exemplo, “lã azul”, “jovem amigo” etc. Callou e Leite: O Segundo exemplo arrolado possibilita, no entanto, uma contração dos vocábulos, admi`ndo-‐se uma realização com ou sem nasalidade, ditongada ou não: ‘jov[ja]migo, jov[jã]migo, jov[a]migo. Cunha: Não é a nasalidade que inviabiliza a crase em “lã azul” e sim a pauta acentual. A crase não ocorre entre vogais tônicas ou entre vogal tônica e vogal átona, o que inviabiliza o exemplo de C. Jr. (lã azul). No entanto, se subs`tuirmos o exemplo por dois vocábulos em que haja vogais nasais átonas, a crase pode ocorrer: “Íma an`go” – ím[ã]`go. Em “lã an`ga”, mais uma vez, a crase não ocorre, pois há o encontro de vogal tônica e vogal átona. Argumentos de C. Jr. Contra-‐argumentos 2. A sílaba com a vogal dita nasal comporta-‐se como sílaba travada por consoante e, quando final – seguida de palavra iniciada por vogal – não sofre crase, por exemplo, “lã azul”, “jovem amigo” etc. Callou e Leite: O Segundo exemplo arrolado possibilita, no entanto, uma contração dos vocábulos, admi`ndo-‐se uma realização com ou sem nasalidade, ditongada ou não: ‘jov[ja]migo, jov[jã]migo, jov[a]migo. Cunha: Não é a nasalidade que inviabiliza a crase em “lã azul” e sim a pauta acentual. A crase não ocorre entre vogais tônicas ou entre vogal tônica e vogal átona, o que inviabiliza o exemplo de C. Jr. (lã azul). No entanto, se subs`tuirmos o exemplo por dois vocábulos em que haja vogais nasais átonas, a crase pode ocorrer: “Íma an`go” – ím[ã]`go. Em “lã an`ga”, mais uma vez, a crase não ocorre, pois há o encontro de vogal tônica e vogal átona. Argumentos de C. Jr. Contra-‐argumentos 3. Depois de vogal nasal só se realiza um r forte (como em tenro) e nunca o brando, próprio de posição intervocálica. Callou e Leite: Não podemos esquecer, porém, que em posição intervocálica o r forte também ocorre. 4. No interior de vocábulo, não há em português vogal nasal em hiato: ou a nasalidade desaparece como em ‘boa’ (face a ‘bom’) ou o elemento consonân`co se desloca para a sílaba seguinte, como em ‘valentona’ (face a ‘valentão’). Callou e Leite: O Estudo diacrônico nosmostra que a tendência evolu`va da língua padrão foi a perda da nasalidade da vogal em hiato: bona > bõa > boa, luna > lũa > lua. No entanto, na fala popular, podemos encontrar ainda hoje exemplos de sua ocorrência. Tal fato está documentado na carta 1 do Atlas Prévio dos Falares Baianos. A forma [’lũa] ocorre em onze pontos do estado da Bahia, em homens e mulheres de áreas e faixa etária diversas.
Compartilhar