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marco teórico modificado 3

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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Artes e Comunicação
Departamento de Rádio, TV e Internet
Método de Pesquisa I – Luiza Nóbrega
Grupo: Ariana Pacheco, Erika Vasconcelos, Felipe Santos, Ingrid Moura
16 de Março de 2013
Marco Teórico
O artigo “Casimiro Roberto: a voz marcante do rádio” dos autores Eduardo Kauê Florão, Ilka Margot Goldschmidt e Dirceu Luiz Hermes (2012) traz o passo a passo da entrevista pingue pongue e dialogal realizada por alunos de Jornalismo da Unochapecó. O radialista Casimiro Roberto, foi o entrevistado. 
FLORÃO, GOLDSCHMIDT, HERMES (2012) afirmam: “(...) a entrevista é uma conversa com algum detentor de conhecimento ou informações de interesse público. No caso de entrevistados em que o mais importante é sua trajetória, sua carreira ou algum viés de sua personalidade, denomina-se entrevista em profundidade”. Ao detalhar o trabalho de pré – produção, os autores frisam que o levantamento de informações sobre o entrevistado é o que guia a criação do roteiro. Quando FLORÃO e col. (2012) se referem à entrevista em si, condenam a entrevista não presencial com a afirmação de que há perda da espontaneidade. O local também é um fator importante para deixar o entrevistado à vontade de preferência um lugar familiar a ele. Quando a pós - produção é comentada no artigo o que mais se destaca é o cuidado com a edição. É nessa etapa que pode se organizar as informações de forma mais coesa, mas é preciso ter cautela para não mudar o sentido da fala do entrevistado. 
De acordo com Eliana Vianna Brito (2006) a entrevista é capaz de desfazer isolamentos grupais, individuais, sociais, além de servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática de informações. Como um diálogo construído de modo que um dos interlocutores tenha o poder de interrogar o outro, o seu jogo de questionamentos tem o objetivo de captar a atenção do espectador para uma revelação. Em um programa de entrevistas, cuja finalidade é o confronto de ideias e a expressão de individualidades, distinguem-se três movimentos: os de construção, os de co-construção e os de contestação. Nos movimentos de construção define-se o espaço de troca verbal pela seleção de um tema e de interlocutores ratificados. Já nos movimentos de co-construção, ocorre uma colaboração ou uma confrontação discursiva no interior de um espaço de co-construção semântica (tema). No terceiro movimento, o de constatação, o locutor se recusa a colaborar com a atividade de fala proposta, tornando improvável a discussão de ideias. Eles são comparados a "nódulos internacionais" que cristalizam os conflitos e bloqueiam a comunicação.
A existência de momentos de consenso e de contestação é necessária a fim de que seja criado um clima de espetacularização no programa de entrevistas, pois uma entrevista cujos interlocutores apresentem ideias sempre concordantes estará ameaçada de empobrecimento. Logo, a preservação da face é uma condição para à interação, na medida em que há um constante esforço por parte dos interlocutores em não perder a face, isto é, em não fazer "má figura".
José Carlos Aronchi de Souza (2004) diz que quando existe descontração e intimidade, o gênero se aproxima do talk show. Apesar de parecidos, os dois gêneros têm diferenças fundamentais que demarcam o território do jornalismo e o do show. 
No gênero entrevista, o entrevistado é o foco e não há show comandado pelo jornalista apresentador. Este não tem o compromisso de deixar o entrevistado à vontade, havendo uma abertura para questionamentos sobre fatos polêmicos e para discórdia, marcas que mostram seriedade e compromisso com a verdade, atribuições dos programas jornalísticos. O assunto principal da entrevista pode ser tanto a vida do próprio entrevistado quanto uma ou mais informações de domínio dele. As diferenças desse gênero para o talk show podem ser encontradas, também, no cenário e na maneira que o apresentador se posiciona. Quando há possibilidade para o entrevistador percorrer o cenário em busca de atrações (apresentações musicais, entrevistas, etc.) e entrevistar os convidados de pé, esse programa é classificado como talk show. Já quando um cenário permite que os interlocutores permaneçam sentados, presume-se que uma interação mais longa, característica dos programas de entrevista. 
No artigo “A entrevista Televisiva – Espaço de Co-Construção da(s) Identidade(s)” (2004) de Maria Filomena Capucho, há uma definição de entrevista como explicitadora ou criadora do papel social do entrevistado. De acordo com a autora, em uma entrevista, os papéis sociais dos locutores vão para segundo plano, dando lugar a novos papéis: entrevistador e entrevistado. E é só a partir da interação entre eles que se constrói a identidade deste, aquela que se pretende passar ao espectador. O entrevistador define a identidade do entrevistado de várias formas, entre elas apresentando-o na fala inicial do programa, se dirigindo diretamente ao telespectador. Capucho também destaca outra maneira de apresentação que é apenas a menção do nome do entrevistado na abertura do programa. Neste caso o constrangimento se constrói através da menção de títulos (ex.: Dr,...) ou a menção de ações por ele praticadas. Outras formas de introduzir a identidade do entrevistado é inseri-lo no contexto da pergunta ou até mesmo reportagens exibidas antes da entrevista fazem esse papel. As identidades sociais podem ser desconstruídas no decorrer da entrevista, através de uma negociação entre os interlocutores. Isso é o que a autora chama de co-construção da identidade. 
Já Pedro Celso Campos No artigo “Técnicas de Entrevista – Técnicas de Entrevista em Rádio e Televisão”(2011) há duas técnicas de entrevista: a de informação ou de opinião (com autoridades, líderes ou especialistas) e a de perfil (junto a personalidades, com o objetivo de mostrar sua vida). Cada entrevistador desenvolve um estilo próprio e variadas estratégias para conseguir obter as melhores respostas. Esse gênero exige muita intuição, delicadeza, perfeito conhecimento do assunto, do entrevistado, de sua vida e de sua obra, uma grande probidade, que inspire confiança e incite à confidência. Grandes entrevistadores adquirem técnicas que conseguem arrancar declarações que o entrevistado não pretendia fazer. Uma precaução, para evitar problemas na hora de transformar a entrevista em notícia, é sustentar o diálogo de uma maneira mais coloquial, conforme as circunstâncias. É preciso desenvolver, também, uma técnica pessoal para observar se o entrevistado está mentindo. O repórter deve, também, estudar o perfil psicológico do entrevistado para ter uma noção de como deve conduzir a entrevista, evitando assim, situações embaraçosas. E para evitar o famoso branco, é bom ter o nome do entrevistado e o seu cargo exato, visíveis. Acima de tudo, os direitos do entrevistado devem ser respeitados. diz que um bom entrevistador nunca deve falar ao mesmo tempo que o entrevistado, além disso não deve estimulá-lo com gestos. As sílabas devem estar muito bem articuladas na fala do jornalista, com o intuito de não gerar dúvidas no telespectador sobre que informação foi dada. Até mesmo a postura do entrevistador deve ser levada em consideração, pois o corpo pode ser um escape para o nervosismo e não se pode passar insegurança para o entrevistado e telespectadores. Entender o que o convidado está querendo exprimir através de gestos dá dicas sobre quando mudar o foco da entrevista ou alongá-lo. O autor destaca as dificuldades por trás da ilusória simplicidade através da fala de Luiz Amaral: “Entrevistar não é somente fazer uma pergunta, esperar uma resposta e juntar à resposta outra pergunta. É um exercício profissional trabalhoso e ingrato.” (Jornalismo – Matéria de Primeira Página; Rio, Tempo Brasileiro, 1997).
No artigo O Jogo Interacional nas Entrevistas de TV de Leonor Lopes Fávero, Maria Lúcia C.V.O. Andrade e Zilda G.O Aquino (2002), as autoras falam que a comunicação interpessoal se desenvolve entre indivíduos e uma relação dialógica,
a qual, ambos os interlocutores adaptam constantemente o diálogo às suas necessidades. As entrevistas transmitidas pela TV podem ser estruturadas em três níveis: situacional, comunicacional e discursivo. O primeiro é onde se determina a finalidade da entrevista, a identidade dos participantes, o objetivo e o dispositivo. No nível comunicacional há uma preocupação com a maneira de falar em função dos dados da situação (“como dizer?”). Nele, o sujeito falante (comunicante ou interpretante) se preocupa com os papéis que ele deve apresentar. Já no nível discursivo ocorre uma intervenção do sujeito falante, fazendo com que ele se torne sujeito enunciador. Deve haver satisfação das condições de legitimidade (princípio de alteridade), de credibilidade, (princípio de relevância) e de captação (princípio de influência e regulação), para realizar os atos que podem vir a ser um texto. Na entrevista, os interlocutores representam seu papel discursivo e de identidade (entrevistador/entrevistado), onde seguem direitos e deveres comunicativos associados aos papéis dos interagentes e ao desempenho de uma identidade social. A dinâmica interacional desse gênero se estabelece através de uma interação onde há certo caráter de cumplicidade ou uma disputa entre os parceiros, que deixam pistas de seu envolvimento no processo de negociação da significação.
De acordo com José Marcos Rosendo de Souza (2010) construída a partir dos conhecimentos críticos dos participantes, acerca de um determinado tema, a entrevista tem como protagonista a linguagem. A produção discursiva sofre influência não só dos fatores internos, mas também dos próprios participantes, visto que eles têm suas próprias ideologias e constroem o discurso de acordo com o contexto ao qual estão inseridos. O filósofo e linguista Paul Grice traçou quatro Máximas para guiar essa produção: Máxima de Quantidade, Máxima de Qualidade, Máxima de Relevância e Máxima de Modo. A primeira se relaciona com a quantidade de informação esperada que o locutor forneça, evitando assim, o excesso ou a falta de dados. A segunda faz referência ao grau de veracidade e às evidências indispensáveis para que uma notícia seja dada como verdadeira. A terceira se refere à informação relacionada ao tema abordado, pois frase descontextualizada como tema pode interferir na compreensão da mensagem pelo alocutário. E a última trata da clareza com que se comunica e a forma que o conteúdo é concebido.
Percebe-se que esse gênero é construído a partir da perspectiva dos participantes, em relação ao tema sugerido pela grade do programa, e que, eles podem ser definidos de acordo com a função que desempenham. É necessário determinar que os papéis dos participantes não são fixos, podendo haver inversão na função desempenhada por cada um no desenrolar da interação. A entrevista não se limita, apenas, às respostas de questionário elaborado com a finalidade de se tecer comentários acerca de um tema. Ela propicia o desenvolvimento sócio-cognitivo dos indivíduos e a formação da visão crítica dos indivíduos. 
Segundo Carlos Chaparro (2005), O gênero entrevista é muito abrangente e não é possível fazer uma definição completa. Segundo Marcuschi: “não devemos conceber os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social, como entidades dinâmicas”. Ainda segundo Marcuschi, “a conversa é a primeira das formas de linguagem a que estamos expostos e provavelmente a única da qual nunca abdicamos pela vida”. O gênero textual entrevista é visto com um gênero que abrange diversos subgêneros como, por exemplo, a entrevista jornalística, a entrevista médica, a entrevista de emprego e outras. 
Segundo Medina (2004) partindo de entrevistas feitas por Edgar Morin, fez suas próprias definições de entrevistas como perfis e subgêneros:
1 – Perfil do Pitoresco 
2 – Perfil do inusitado 
3 – Perfil de condenação 
4 – Perfil da Ironia 
5 – Entrevista conceitual 
6 – Entrevista/enquete 
7 – Investigativa 
8 – Confrontação 
9 – Perfil Humanizado 
Em uma entrevista é possível identificar as faces do locutor e do ouvinte. As faces de uma entrevista ou diálogo são divididas em dois conceitos: 
Face positiva é tudo aquilo que o interlocutor exibe para obter aprovação ou reconhecimento, correspondendo ao desejo que as pessoas têm de ser aceitas.
Face negativa é o “território” que o interlocutor deseja preservar ou ver preservado. 
	Nesse ínterim, surgem os conceitos de polidez, são posturas usadas para amenizar os efeitos das FTAs (atos ameaçadores de faces), existem dois tipos de polidez que são: 
Polidez Positiva: A polidez positiva é um tipo de estratégia que procura manter a face positiva do ouvinte, já que através dela ou desejo que se tem de ser admirado pelos outros é alimentado[...]
Polidez Negativa: esse tipo de estratégia é endereçado à face negativa do ouvinte, atua no sentindo de tentar evitar a imposição ao interlocutor[...]
A entrevista é um gênero que é muito usado também em trabalhos científicos. Para se produzir um artigo científico é necessário passar por alguns passos, e pré-produção, ou seja, a pesquisa e obtenção de dados é a parte mais significativa do trabalho. Após passar pela pesquisa bibliográfica, e observação em campo, o pesquisador precisa de uma abordagem mais direta. 
O pesquisador que usa a entrevista como forma de obtenção de dado para seu trabalho científico, precisa saber que essa entrevista é, essencialmente, uma conversa; e que ele precisa guiá-la da forma mais sutil possível, para, como já foi dito antes, obter o máximo de conhecimento que o entrevistado pode oferecer-lhe. 
“As formas de entrevistas mais utilizadas em Ciências Sociais são: a entrevista estruturada, semi-estruturada, aberta, entrevistas como grupos focais, história de vida e também a entrevista projetiva” (Valdete Boni e Silvia Jurema Quaresma)
Durante a entrevista o entrevistador precisa estar sempre pronto para enviar sinais de retorno ao entrevistado, o entrevistado precisa perceber no entrevistador o interesse pelo que está sendo dito para que ele forneça as melhores informações. Nunca interrompa o discurso do entrevistado, isso quebra o raciocínio planejado por ele desde a interpretação da pergunta feita por você. A entrevista coletiva é caracterizada pelo número de entrevistadores, por isso, coletiva. O principal objetivo do Jornalista deveria ser sempre ser capaz se fugir da previsibilidade. É verdade que em uma entrevista coletiva, por haver muitas cabeças pensantes e invariáveis possibilidades de perguntas, ser imprevisível é uma tarefa extremamente difícil. Em uma entrevista coletiva você está sujeito a ter sua pergunta queimada/respondida por outra pergunta que a engloba. 
Já Fernanda Maurício Silva (2009), se resume primeiramente a explicar a origem dos talk-shows norte-americanos que na década de 50, cobriam três faixas da programação, um pela manhã que se dedicava às notícias, outro vespertino, mais voltado ao debate em forma de aconselhamento e o noturno, ligado ao humor e entrevista com celebridades. No começo, o programa era mais voltado ao jornalismo em sua natureza própria, uma forma de educar seus telespectadores, porém, ao apropriar-se do Stand Up Comedy, o gênero começou a mudar e a ser visto como uma forma de entretenimento humorístico para o público. Juntando isso à ideia de programas de auditório, o talk-show passou a ter platéia para agilizar a forma de interação requerente do público. Com o surgimento das tvs privadas nos anos 80, a concorrência aumentou e o formato generalizou para várias atmosferas da sociedade com temas como pornografia, brigas, etc. 
A autora chama a atenção desse gênero hoje em dia parecer mais pejorativo do que é ao misturar informação com entretenimento e intimidade, o que ela chama de infotainment. O entretenimento, ligado à distração, prazer e lazer se afasta do “verdadeiro jornalismo” e é refutado por intelectuais como Hegel e a escola
de Frankfurt que associavam o entretenimento às classes baixas e não produtoras de informação e intelectualidade, levando o jornalismo, principalmente a partir do séc. XIV a ser levado a sério, como uma fonte da racionalidade humana. 
No Brasil, os talk shows se diferenciavam dos programas de entrevista, pois após o regime militar, o telejornalismo se dinamizou criando novos formatos que antes eram refutados pelos telejornais. Nesse interím foram criados os programas de entrevistas, tais como o Abertura da TV Tupi e Canal Livre da Bandeirantes, dando visibilidade a assuntos e personalidades da política. Foi com a despretensão de Silvio Santos e o SBT que foi criado o primeiro talk show do Brasil, o Jô Soares Onze e Meia, daí a diferenciação entre programas de entrevistas e talk shows, pois Jô Soares, em sua vêia cômica, levou à tv brasileira os formatos de talk shows norte-americanos, que levavam informação com humor ao público. 
José Ignacio López Vigil (2000) nos ensina como fazer uma entrevista, onde as perguntas podem ser de:
Esclarecimento: Servem para conhecer melhor o assunto que se está a tratar; Ou para esclarecer uma resposta confusa do entrevistado.
Análise: Servem para entender melhor os problemas, para descobrir as causas dos mesmos. Servem também para aprofundar algumas respostas superficiais.
 Ação: Servem para passar da teoria à prática, para que os entrevistados expressem as ações que vão desenvolver em relação aos problemas analisados.
Fechadas: Aquelas a que se pode responder com um “sim” ou com um “não” ou
Abertas: As que começam com “como”, “por quê”, “o que é que acha ...
Antes de sair, deve-se rever bem o gravador e todos os equipamentos que serão utilizados. O entrevistador improvisado também não se preocupa em preparar a entrevista. Não aprofundou o tema e, portanto, as suas perguntas serão desordenadas e superficiais. O entrevistador deve criar um clima de confiança para o entrevistado, antes de gravar é bom falar de outras coisas que sirvam para afastar a tensão. As perguntas devem ser curtas e claras, pois se fizer duas ou mais perguntas em uma só, o entrevistado ficará confuso e não saberá o que responder. 
Se o entrevistado está a utilizar palavras muito técnicas e conceitos abstratos, trata de interromper, pedindo “que explique mais claramente” para que todos possam compreender. “Manipular” é formular as perguntas de tal maneira que não fica alternativa ao entrevistado senão dar razão ao entrevistador. O locutor não deve demonstrar a sua opinião ao formular as perguntas nem acrescentar comentários pessoais às respostas dos entrevistados. O tom geral das entrevistas deve ser alegre e entusiasmado. Se a entrevista for feita num ambiente fechado, para evitar ressonância, deve-se colocar o entrevistado num dos cantos. O entrevistado deve estar de frente para o centro da sala. É melhor gravar sentado, com uma mesa na frente. O entrevistador deve sentar-se ao lado e nunca à frente do entrevistado. Colocar o microfone na mesa, sem tocá-lo durante a gravação. Avisar o entrevistado para não fazer ruído ou bater na mesa. Durante a gravação, deve-se tomar cuidado para que não haja muito barulho por perto (motores, carros a passar, música alta, etc.). Se houver muito vento, colocar um lenço para proteger o microfone e colocar-se de costas para o vento. Ao editar temos que cortar tudo aquilo que sobra: erros, rodeios e repetições, o menos importante. 
Maíra Avelar Miranda (2011), começa explicitando sobre a analogia de Patrick Charaudeau, que diz que o gênero talk-show encontra-se no quesito “acontecimento provocado” pois por mais espontâneo que seja, o mesmo tem o objetivo de emocionar ou divertir os telespectadores. Ela chama de contrato de comunicação midiático quando locutor e interlocutor estabelecem uma relação dialética provida de liberdade, ela os chama de parceiros de troca linguageira e este contrato que ambos concordam deriva-se de um acordo prévio antes de qualquer intenção e estratégia particular de reconhecimento das condições da realização da troca linguageira que estão envolvidos. Para isso, é preciso que haja quatro princípios básicos:
O princípio de alteridade, que funda a existência dos dois sujeitos da comunicação (locutor e interlocutor), que estabelecem uma interlocução recíproca e não simétrica;
O princípio de influência, que funda a existência de um objetivo comunicativo fundado por parte do sujeito produtor do ato de linguagem e que define a finalidade do ato de comunicação;
O princípio de pertinência, que funda o universo de discurso que constitui o objeto de troca que os sujeitos devem reconhecer e compartilhar (sendo que compartilhar não significa necessariamente aderir ou estar de acordo, mas reconhecer como algo comum dentro do ato de comunicação);
O princípio de regulação, que estabiliza a relação entre os parceiros e distribui os papeis desempenhados por eles, de forma que cada um deles se encontre independente do outro.
É preciso também ter a visão do “fazer saber”, onde a informação é valorizada e está relacionada à credibilidade e o “fazer sentir” que obedece a uma lógica comercial para captação emocional da massa.
Assim, a televisão passa da fase de apresentar um herói ao público para a fase de identificação, pois os telespectadores se identificam com aqueles que estão na televisão porque poderiam ser eles no lugar.
François Jost coloca o gênero talk show, em sua escala operacional de programas de tv, entre o autêntico e o lúdico pois ao mesmo tempo em que tem um compromisso com a verdade, os talk-shows também criam suas próprias regras. O entrevistado é chamado para dar depoimentos reais sobre o vivido, porém, como esse depoimento se baseia no relato do indivíduo baseado numa reconstrução dos fatos pela memória, há uma ficcionalização do fato, que passa a ser mimetizado e simulado pela narração. 
G. Silva disponibiliza também mais três categorias sobre o assunto: os efeitos de real, que está relacionado à credibilidade do contrato de comunicação midiático, isso provém do fato de os convidados retratarem, por meio de testemunhos, fatos da realidade que aconteceram com eles. O efeito de ficção, pois o entrevistado ao conduzir um fato a partir da recordação do mesmo, distancia o telespectador da realidade, aproximando-o de um universo ficcional, fazendo com que sejam vistos de forma arquetípica, como heróis, vilões, etc. E o efeito de patemização, onde existe um mecanismo de socialização da intimidade.
Já Raul Mourão Ruela (2011), trabalha com o Método socrático voltado para a TV, explicando primeiramente, o que significa tal método. Por intermédio de Mikhail Bakhtin, Ruela explica o método socrático de diálogo por si, ao demonstrar a aplicação espontânea da maiêutica que dispunha em o individuo “parir” suas próprias ideias por meio de perguntas retóricas. Assim, chega-se a Síncrise, que expõe uma ideia sobre algum assunto através de perguntas, levando em conseguinte à contraposição e logo mais, a confrontação da ignorância e percepção das próprias ideias e à Anácrise, que leva o interlocutor a expressar suas ideias mesmo quando elas não estão claras para ele mesmo. 
Um exemplo do bom uso dessa técnica para a entrevista é uma série produzida por Jean-Luc Godard chamada Six Fois Deux, exibido entre 1976 e 1978 pelo Institut National l’Audiovisuel da França, onde Godard conduzia entrevistas com, por exemplo, candidatos a emprego, onde não perguntava sobre suas condições para trabalhar e currículo, mas sobre o trabalho assalariado, a exploração no serviço, o desemprego, etc. Também fez entrevistas com crianças de 8 anos, onde não as tratava como crianças e assim gerava várias discussões filosóficas sobre a vida, a obediência, os gêneros, etc. 
O autor cita também vários programas que fizeram história nos programas de entrevista da TV brasileira, como o Abertura de Glauber Rocha, Vox Populi e Roda Viva da Tv Cultura. É preciso, num programa de entrevista, que tanto o entrevistador quanto
o entrevistado saiam alterados do encontro, que exista a liberdade, sem scripts para que a conversa flua.
O autor também explicita uma classificação de Mario Erbolato:
1) Como geradoras de matéria jornalística: 
a. de rotina, e 
b. caracterizadas. 
2) Quanto aos entrevistados: 
a. individual, 
b. de grupos (subdivididas estas últimas em enquete e de pesquisa). 
3) Quanto aos entrevistadores: 
a. pessoal (ou exclusiva), e 
b. coletiva (podendo a última subdividir-se em conferências de imprensa e pool ). 
4) quanto ao conteúdo: 
a. informativas; 
b. opinativas; 
c. ilustrativas ou biográficas.
Um primeiro contato também com o entrevistado, a simples educação e um olhar honesto e sincero pode transformar uma entrevista. Raul Mourão fala que é preciso saber assoprar ou bater, filosofar sobre o que o entrevistado merece. Uma pergunta embaraçosa pode desmontar uma pessoa fazendo com que a mesma fale tudo sobre o assunto, ou pode deixá-la irritada fazendo com que ela só responda tudo monossilábica. A hora do encerramento é percebida quando são esclarecidos os conceitos e ideias e tem-se um consenso, não quanto ao assunto, mas quanto ao que o interlocutor está dizendo. Nesse momento, agradece a participação, cumprimenta-se e informa sobre a veiculação da entrevista, nesses momentos é possível ainda detectar algum tipo de tensão entre os dois interlocutores e o entrevistador precisa perceber isso para lembrar de algo que não foi dito ou entrar em um assunto mais polêmico dando uma nova perspectiva à entrevista.
A entrevista apesar de todas as análises existentes ainda é um gênero de infinitas possibilidades. Fato é que ela pode ser usada de várias maneiras; é possível utilizá-la para ajudar alguém, ou pode ser usada para prejudicar. A essência da entrevista está baseada em obter informações do entrevistado. Isso é uma característica constante à entrevista. É partindo desse ponto que pode se chegar a resultados bons ou ruins para o próprio entrevistado. Como foi dito nesse mesmo trabalho e com a reinteração de vários especialista em diversão campos de aplicação da entrevista, a entrevista nos permite fazer uso das perguntas e repostas, dados que o entrevista a priori não estaria disposto à compartilhar. São inúmeros os casos de entrevistas que provocaram a coerção do entrevistado, quando o entrevistador faz uso do seu domínio na entrevista ele pode levar o entrevistado a ficar sem possibilidade de resposta ou até mesmo responder e prejudicar sua própria imagem. Além disso, a entrevista quando não é ao vivo ainda atenua outro dispositivo de manipulação, que é a edição. Não é justo dizer que o poder da manipulação está centrado tão somente na figura do entrevistador. 
O entrevistado também pode fazer uso das suas respostas para “desandar” a entrevista em seu favor. Por isso é de extrema importância que o entrevistado esteja por dentro de todos os rumos que a entrevista possa tomar, e que ele esteja preparado para debater sobre todos os assuntos que a entrevista possa oferecer-lhe. Não são tão vastos os casos em que o entrevistado conseguiu sobrepor-se ao entrevistador; geralmente, por ter uma vasta experiência, na maioria dos casos, o entrevistador nunca deixa a entrevista caminhar para um lado que ele não esteja preparado para discutir, e mais ainda, quando percebe que o entrevistado pretende deixá-lo desconfortável na entrevista, trata logo, de maneira sutil, demonstrar quem está de fato a comandar a entrevista. Percebe-se que um fator comum aos dois lados de uma entrevista é o preparo, ou seja, a pré-entrevista. A entrevista é um gênero bem definido, onde o entrevistado foi chamando para compartilhar seu conhecimento, e o entrevistador tem o objetivo de extraí-las; e o preparo é de extrema importância para que o entrevistado não fale mais do que planeja, e para que o entrevistador consiga obter tudo aquilo que planejara desde o início. 
Ao analisar, por exemplo, o programa de entrevistas e divagações de Rogério Skylab, chamado “Matador de Passarinhos” (2013), podemos perceber claramente os moldes clássicos do gênero entrevista, como por exemplo, a posição das câmeras, as perguntas, o conhecer do entrevistador, porém, Skylab parece se sentir extremamente confortável de um certo modo que ele domina o seu programa e sua audiência é dele e não do entrevistado. Sem confundir Skylab com Jô Soares, que domina o seu programa, mas de forma impetuosa e desproporcional, pegando como referência a entrevista feita com o vlogueiro da página do Yahoo “Away Nilzer”, Skylab faz perguntas ao entrevistado e deixa ele falar, não o corta para fazer gracinhas, o respeito mútuo existe e Skylab prova que está preparado para bater um papo com o Away, questionando sobre curiosidades de sua vida. Sobra espaço até para certas divagações divertidas de Rogério, fora do estúdio e citação de um poema seu para saber a resposta, não só dita, mas também física, do entrevistado. Claro, que isso não deixa de lado, de maneira alguma a proposta de que Skylab não quer ser a estrela do programa, mas ele ganhou méritos por isso. O importante para ser um entrevistador é ter do auto-conhecimento, afinal, somente quem se conhece pode ser rápido em suas questões e embaraçamentos, pensar rapidamente, poder conhecer o outro intimamente, pela alma, reconhecer transpirações, aspirações, saber a resposta de um olhar, ser humilde e se deixar levar para que a entrevista não seja somente mais uma em sua vida e na vida dos telespectadores, uma única entrevista, pode mudar não só o ponto de vista de cada pessoa que é tocada por ela (entrevistado, entrevistador e telespectador) mas também, pode mudar a vida e o modo de olhar dessas pessoas. Esse feeling sim, é um dom, que poucas pessoas nascem, procuram se informar ou o aprendem, porém, com este aprendizado, o entrevistador pode ir muito mais longe do que o seu entrevistado e a sua platéia podem imaginar. 
Bibliografia:
BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a Entrevistar: Como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Em Tese, v. 2, n. 1, p. 68-80, jan.-jul. 2005.
BRITO, Eliana. A entrevista na tv: uma reflexão sobre a co-construção dos sentidos. In: I Jornada nacional de linguística e filologia da língua portuguesa. 2006, RJ. Livro de resumos e programação, 2006, p. 22-23. 
CAMPOS, Pedro Celso. Técnicas de Entrevista – Técnicas de Entrevista em Rádio e Televisão. 2011
CAPUCHO, Maria Filomena. A entrevista Televisiva – Espaço de Co-Construção da(s) Identidade(s).  Máthesis. Viseu. ISSN 0872-0215. Nº 13 (2004), p. 253-263.
CHAPARRO, Carlos. Não há entrevista sem boas perguntas. São Paulo: Reescrita, 2005 (artigo semanal)
FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O.; AQUINO, Zilda G.O. O jogo interacional nas entrevistas de tv. 2002. 
FLORÃO, Eduardo Kauê; GOLDSCHMIDT, Ilka Margot; HERMES, Dirceu Luiz. Casemiro Roberto: a voz marcante do rádio. 2011.
GUIMARÃES, Sílvia Bragatto. A entrevista: Um estudo do gênero a partir da construção da face e da polidez. 2009.
MIRANDA, Maíra Avelar. Subjetividade e Gêneros televisivos: a criação de efeitos patêmicos no gênero talk-show. 2011
MOURA, Ingrid. Análise do programa de entrevistas Matador de Passarinhos de Rogério Skylab. Março de 2013.
RUELA, Raul Mourão. A Entrevista no Programa de TV. 2011.
SILVA, Fernanda Maurício. Talk Show: um gênero televisivo entre o jornalismo e o entretenimento. 2009.
SILVA, Nívia Rohling; RODRIGUES, Rosângela Hammes. Relações dialógicas do gênero entrevista pingue-pongue do jornalismo de revista. 2012.
SOUZA, José Carlos Aronchi. Gêneros e formatos na televisão brasileira. SP, Summus Editorial, 2004.
SOUZA, José Marcos Rosendo de. Os matizes do gênero entrevista: o contexto de produção. 2010.
VIGIL, José Ignacio López. Como Fazer Entrevistas. Cadernos da Rádio Local, Novembro, 2000, nº 6.

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