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A Mitologia do Preconceito Linguístico (pg. 13 – 14). Primeiro capitulo BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: Como é, como se faz. São Paulo, Brasil, 1999. “Parecer haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que eles não têm nenhum fundamento racional, nenhuma ignorância, da intolerância ou da manipulação. ” (pg. 13) “O preconceito linguístico fica bastante claro numa série de afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem de si mesmo e da língua falada por aqui. Outras afirmações são até bem-intencionadas, mas mesmo assim compõem uma espécie de preconceito positivo, que também se afasta da realidade. Vamos examinar algumas dessas afirmações falaciosas e ver em que medida elas são, na verdade, mitos e fantasias que qualquer análise mais rigorosa não demora a derrubar. “(pg. 13-14) Mito nº 1: A língua portuguesa falada no brasil apresenta a unidade surpreendente. (pg. 15 – 19) “Como a educação ainda é privilégio de muito pouca gente em nosso país, uma quantidade gigantesca de brasileiros permanece à margem do domínio de uma norma culta. ” (pg. 16) “É preciso, portanto que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da unidade do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística do nosso país. “ (pg. 18) Mito nº 2: Brasileiro não sabe português. Só em Portugal se fala bem português. (pg. 20-34) “Essa história de dizer que brasileiro não sabe português e que só Portugal se fala bem português. Trata - se de uma grande bobagem, infelizmente transmitida de geração pelo ensino tradicional da gramatica na escola. “ (pg. 22) “O brasileiro sabe português, sim. O que acontece é que nosso português é diferente do português falado em Portugal. “ (pg. 24) “O único nível em que ainda é possível uma compreensão quase total entre brasileiros e portugueses é o da língua escrita formal, porque a ortografia é praticamente a mesma, com poucas diferenças. “ (pg. 25) Mito nº 3: Português é muito difícil. (pg. 35 – 39) “Essa afirmação preconceituosa é prima-irmã da ideia que acabamos de derrubar, a de que brasileiro não sabe português. “ (pg. 35) “Se tanta gente continua a repetir que português é difícil, é porque o ensino tradicional da língua no Brasil não leva em conta o uso brasileiro do português. “ (pg. 36) “Por isso tantas pessoas terminam seus estudos, depois de onze anos de ensino fundamental e médio, sentindo-se incompetentes para redigir o que quer que seja. ” (pg. 37) Mito nº 4: As pessoas sem instrução falam errado. (pg. 40 – 45) “Se dizer Craudia, praca, pranta é considerado errado, e, por outro lado, dizer frouxo, escravo, branco, praga é considerado certo, isso se deve simplesmente a uma questão que não é linguística, mas social e política. “ (pg. 42) “Como se vê, do mesmo modo com existe o preconceito contra a fala de determinadas classes sociais, também existe o preconceito contra a fala características de certas regiões. “ (pg. 43) Mito nº 5: O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão. (pg. 46 – 51) “Ora, somente por esse arcaísmo, por essa conservação de um único aspecto de linguagem clássica literária, que coincide com a língua falada em Portugal ainda hoje, é que se perpetua o mito de que o maranhão é o lugar onde melhor se fala o português no Brasil. “ (pg. 47) Mito nº 6: O certo é falar assim porque se escreve assim. (pg. 52 – 61) “Infelizmente, existe uma tendência (mais um preconceito!) muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar do jeito que se escreve, como se essa fosse a única maneira certa de falar português. “ (pg. 52) “É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mais não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada ‘artificial’ e reprovando como ‘erradas’ as pronuncias que são resultado natural das forças internas governam o idioma. ” (pg. 52 – 53) “Quando o estudo na gramatica surgiu, no entanto, na antiguidade clássica, seu objetivo declarado era investigar as regras de língua escrita para poder preservar as formas consideradas mais corretas e elegantes da língua literária. “ (pg. 56) Mito nº 7: É preciso saber gramatica para falar e escrever bem. (pg. 62 – 68) “Ora, os escritores são os primeiros a dizer que a gramatica não é com eles! “ (pg. 63) “Ora, não é a gramatica normativa que estabelece a norma culta. A norma culta simplesmente existe como tal. A tarefa de uma gramatica, seria, isso sim, definir, identificar e localizar os falantes cultos, coletar a língua usada por eles e descrever essa língua de forma clara, objetiva e com critérios teóricos e metodológicos coerentes. “ (pg. 65) Mito nº 8: O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social. (pg. 69 – 72) “Ora se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e política do país, não é mesmo. “ (pg. 69) “Achar que basta ensinar a norma culta a uma criança pobre para que ela suba na vida é o mesmo que achar que é preciso aumentar o número dos policiais nas ruas e de vagas nas penitenciarias para resolver o problema da violência urbana. “ (pg. 70)
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