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. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PM/MG 
Curso de Formação de Soldados 
 
 
1. Linguagem: como instrumento de ação e interação presente em todas as atividades humanas; 
funções da linguagem na comunicação; diversidade linguística (língua padrão, língua não padrão) ........ 1 
 
2. Leitura: capacidade de compreensão e interpretação do contexto social, econômico e cultural (leitura 
de mundo) .............................................................................................................................................. 33 
 
3. Texto: os diversos textos que se apresentam no cotidiano, escritos nas mais diferentes linguagens 
verbais e não-verbais (jornais, revistas, fotografias, esculturas, músicas, vídeos, entre outros) ............. 46 
 
4. Estrutura textual: organização e hierarquia das ideias: ideia principal e ideias secundárias; relações 
lógicas e formais entre elementos do texto: a coerência e a coesão textual; defesa do ponto de vista: a 
argumentação e a intencionalidade; elementos da narrativa; discurso direto; discurso indireto e indireto 
livre; semântica: o significado das palavras e das sentenças: linguagem denotativa e conotativa; 
sinonímia, antonímia e polissemia .......................................................................................................... 73 
 
 
 
 
 
 
Candidatos ao Concurso Público, 
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas 
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom 
desempenho na prova. 
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar 
em contato, informe: 
- Apostila (concurso e cargo); 
- Disciplina (matéria); 
- Número da página onde se encontra a dúvida; e 
- Qual a dúvida. 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O 
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. 
Bons estudos! 
 
Apostila licenciada exclusivamente para: Tales Henrique Martins 071.746.126-28
 
. 1 
 
 
Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante 
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica 
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida 
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente 
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br 
 
 
Linguagem como expressão do pensamento 
 
O processo de ensino/aprendizagem de língua portuguesa1 tem sido uma questão bastante discutida 
pelos educadores nas últimas décadas. As preocupações em torno do fracasso escolar no ensino do 
Português são evidenciadas pelas constantes pesquisas e projetos de ensino, que abrangem o processo 
geral – Linguagem Verbal -, os quais vêm sendo desenvolvidos por linguistas brasileiros, de modo a 
conhecer e interpretar a realidade das atividades em torno da linguagem em sala de aula, com o objetivo 
de implantar reflexões, propor soluções e contribuir, com subsídios teóricos e práticos, no 
desenvolvimento da prática pedagógica do ensino do Português. Destacam-se, entre esses estudos, 
vastos e complexos temas - oriundos dos problemas detectados nesta área-, como, por exemplo: evasão 
escolar, causas das reprovações na disciplina, dificuldades de aprendizagem dos alunos no uso da língua 
escrita, produção de textos orais e escritos, leitura, interpretação, gramática, análise de livro didático, 
língua padrão, variedades linguísticas, relação professor-aluno, programas de ensino, metodologias de 
ensino, formação do professor, modelo tradicional de ensino, concepções de língua/linguagem, entre 
tantos outros. 
Diversos autores já discutiram a relação entre concepção de linguagem e sua importância para o 
ensino. De acordo com Silva e outros (1986), a forma como vemos a linguagem define os caminhos de 
ser aluno e professor de língua portuguesa, por isso, há de se buscar coerência entre a concepção de 
linguagem e a de mundo. Kato (1995) diz que o professor e suas atitudes e concepções são decisivos, 
no processo de aprendizagem, para se configurar o tipo de intervenção nesse processo. Travaglia (1997) 
destaca que a concepção de linguagem e a de língua altera em muito o modo de estruturar o trabalho 
com a língua em termos de ensino e considera essa questão tão importante quanto a postura que se tem 
em relação à educação. Geraldi (1997a) afirma que toda e qualquer metodologia de ensino articula uma 
opção política com os mecanismos utilizados em sala de aula. Por sua vez, a opção política envolve uma 
teoria de compreensão da realidade, aí incluída uma concepção de linguagem que dá resposta ao para 
que ensinamos o que ensinamos. 
Os estudos mostram, ainda, que nem sempre o professor está consciente da teoria linguística ou do 
método que embasa o seu trabalho. Muitas vezes, não ocorre uma reflexão sobre os pressupostos da 
metodologia que adota em sala de aula, chegando mesmo a não saber exatamente o que está fazendo 
e qual o objetivo pretendido com os seus procedimentos. Essa questão é alarmante, pois não há ensino 
satisfatório sem o conhecimento profundo da concepção de linguagem e, consequentemente, da definição 
de seu objeto específico, a língua. Essa concepção (consciente ou não) interfere nos processos de 
ensino/aprendizagem, determinando o que, como e para que se ensina. Em outras palavras, subjacente 
à prática pedagógica do professor, instaura-se, primeiramente, a sua concepção de língua/linguagem, 
ainda que essa não seja consciente. É certo, porém, que o fato de se pensar de uma determinada forma 
e agir de acordo com ela não significa que o professor esteja alheio a tudo que o rodeia e que tenha uma 
postura irredutível diante das situações. A sensibilidade, a percepção e a intuição aguçadas caracterizam 
os profissionais dessa área e os tornam capazes de, a qualquer momento, refazer o traçado do próprio 
caminho. 
 
Linguagem como expressão do pensamento 
 
Para essa concepção o não saber pensar é a causa de as pessoas não saberem se expressar. Pensar 
logicamente é um requisito básico para se escrever, já que a linguagem traduz a expressão que se 
 
1 Fonte: http://www.unigran.br/interletras/ed_anteriores/n1/inter_estudos/concepcoes.html (adaptado) 
1. Linguagem: como instrumento de ação e interação presente em 
todas as atividades humanas; funções da linguagem na comunicação; 
diversidade linguística (língua padrão, língua não padrão) 
Apostila licenciada exclusivamente para: Tales Henrique Martins 071.746.126-28
 
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constrói no interior da mente, é o “espelho” do pensamento. Nessa tendência, segundo Travaglia (1997: 
21), o fenômeno linguístico é reduzido a um ato racional, “a um ato monológico, individual, que não é 
afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação 
acontece”. O fato linguístico, a exteriorização do pensamento por meio de uma linguagem articulada e 
organizada, é explicado como sendo um ato de criação individual. A expressão exterior depende apenas 
do conteúdo interior, do pensamento da pessoa e de sua capacidade de organizá-lo de maneira lógica. 
Por isso, acredita-se que o pensar logicamente, resultando na lógica da linguagem, deve ser incorporado 
por regras a serem seguidas, sendo que essas regras situam-se dentro do domínio do estudo gramatical 
normativo ou tradicional, que defende que saber língua é saber teoria gramatical. 
Expondo os princípios lógicos da linguagem, a gramática normativa prediz os fenômenos da linguagem 
em “certos” e “errados”, privilegiandoalgumas formas linguísticas em detrimento de outras. Nas palavras 
de Franchi (1991:48), a gramática normativa é “o conjunto sistemático de normas para bem falar e 
escrever, estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons 
escritores.” 
Dessa forma, acredita-se que quem fala ou escreve bem, seguindo e dominando as normas que 
compõem a gramática da língua, é um indivíduo que organiza logicamente o seu pensamento. 
A língua é concebida como simples sistema de normas, acabado, fechado, abstrato e sem 
interferência do social. Em decorrência disso, os estudos tradicionais consideram apenas a variedade dita 
padrão ou culta, ignorando todas as outras formas de uso da língua, consideradas corrupções da língua 
padrão pautada nos modelos literários, na língua literária artística. Não estabelecem, portanto, relação 
com a língua viva do nosso tempo e com o uso do nosso cotidiano. As línguas, nesse caso, obedecem a 
princípios gerais racionais, lógicos, e a linguagem é regida por esses princípios. Assim, impõe-se a 
exigência de que os falantes a usem com clareza e precisão, pois ideias claras e distintas devem ser 
expressas de forma lógica, precisa, sem equívocos e sem ambiguidades, buscando a perfeição. 
Nesta tendência, observa-se a relação psíquica entre linguagem e pensamento, caracterizando a 
linguagem como algo individual, centrada na capacidade mental do indivíduo. As dificuldades de 
expressão, o discurso que se materializa no texto, então, independem da situação de interação 
comunicativa, do interlocutor, dos objetivos, dos fenômenos sociais, culturais e históricos. Se há algum 
desvio quanto às regras que organizam o pensamento e a linguagem, ele só pode ser explicado pela 
incapacidade de o ser humano pensar e raciocinar logicamente. 
De acordo com Koch (2002: 13), “à concepção de língua como representação do pensamento 
corresponde a de sujeito psicológico, individual, dono de sua vontade e de suas ações”. Para ela, como 
esse sujeito é dono absoluto de seu dizer e de suas ações, “o texto é visto como um produto – lógico – 
do pensamento (...) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte senão “captar” essa representação 
mental, juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um papel 
essencialmente passivo” (p. 16). 
 
Linguagem como instrumento de comunicação 
 
Segundo Geraldi (1997a: 41), essa concepção de linguagem se liga à Teoria da Comunicação e prediz 
que a língua é um sistema organizado de sinais (signos) que serve como meio de comunicação entre os 
indivíduos. Em outras palavras, a língua é um código, um conjunto de signos, combinados através de 
regras, que possibilita ao emissor transmitir uma certa mensagem ao receptor. A comunicação, no 
entanto, só é estabelecida quando emissor e receptor conhecem e dominam o código, que é utilizado de 
maneira preestabelecida e convencionada. Quanto a essa visão, Bakhtin (1997: 78) diz que “(...)o sistema 
linguístico (...) é completamente independente de todo ato de criação individual, de toda intenção ou 
desígnio. (...) A língua opõe-se ao indivíduo enquanto norma indestrutível, peremptória, que o indivíduo 
só pode aceitar como tal. ” O sistema linguístico é acabado, no sentido da totalidade das formas fonéticas, 
gramaticais e lexicais da língua, garantindo a sua compreensão pelos locutores de uma comunidade. 
Nessa vertente, conforme diversos estudos que elucidam a história sobre a linguagem (Borba (1998), 
Cabral (1988), Orlandi (1986), Lopes (1979), Roulet (1972)), os estudos da linguagem ficam restritos ao 
processo interno de organização do código. Privilegia-se, então, a forma, o aspecto material da língua, e 
as relações que constituem o seu sistema total, em detrimento do conteúdo, da significação e dos 
elementos extralinguísticos. 
Importantes nomes fundamentaram os estudos da linguagem nessa concepção, como os de Ferdinand 
de Saussure (fundador do Estruturalismo, no início deste século) e de Noam Chomsky (linguista 
americano que conduziu a gramática gerativo-transformacional). 
Saussure leva os estudos linguísticos ao que considera essencial: a língua. De seu Curso de 
Linguística Geral (1969), depreende-se a sua visão de língua, um sistema abstrato, homogêneo, um fato 
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social, geral, virtual. Ao mesmo tempo, ela é considerada uma realidade psíquica e uma instituição social 
que é “exterior ao indivíduo, que por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la” (p. 22). Por ser um fato 
social, “um sistema de signos que exprimem ideias” (p. 24), caracterizar-se por sua “natureza homogênea” 
(p. 23) e impor-se ao indivíduo coercitivamente, a língua se constitui em um elemento de organização 
social, prestando-se, portanto, a um estudo sistemático. Ao contrário, revela-se a fala que é excluída do 
campo dos estudos linguísticos, em virtude de ela se constituir de atos individuais. Exclui também de seus 
estudos a pesquisa diacrônica, abordando apenas a descrição de um estado de língua sincronicamente. 
Decorre disso, que o processo pelo qual as línguas se modificam não é levado em consideração. O que 
interessa é saber o modo como elas funcionam, num dado momento, como meio de comunicação entre 
os seus falantes, a partir da análise de sua estrutura e configuração formal. 
Noam Chomsky, na década de 1950, censura o estruturalismo por esse não se ater à criatividade da 
linguagem. Daí o termo gerativa, porque permite que com um número finito de categorias e de regras 
(Competência), o locutor-ouvinte de uma língua possa gerar e interpretar um número infinito de frases 
dessa língua. Ao introduzir os conceitos de competência e de performance (o uso da língua em situações 
concretas ou a concretização da competência através da fala e da escrita), Chomsky se aproxima do 
conceito saussuriano de língua e de fala, porém, substitui uma concepção estática da língua por uma 
concepção dinâmica. 
Para Orlandi (1986:48), “os recortes e exclusões feitos por Saussure e por Chomsky deixam de lado a 
situação real de uso (a fala, em um, e o desempenho, no outro) para ficar com o que é virtual e abstrato 
(a língua e a competência)”. Isolam o homem, portanto, de seu contexto social, uma vez que não 
reconhecem as condições de produção dos enunciados. 
 
A linguística chomskyana não ultrapassa a linguística estrutural. Assim como Saussure, que não 
focaliza a fala, Chomsky não se interessa pela performance. O seu “locutor ouvinte ideal” não é um locutor 
real do uso concreto da linguagem. O estruturalismo exclui o papel do falante no sistema linguístico, o 
que significa que não há interlocutores, mas emissores e receptores, codificadores e decodificadores. A 
gramática gerativa baseia-se, segundo Suassuna (1995: 74), em “um modelo traçado com base em uma 
comunidade linguística homogênea, formada por falantes-ouvintes-ideais, com a consequente 
desatenção às variações linguísticas”. 
 
Essas afirmações são ratificadas por Travaglia (1997:22), que expõe: 
 
Essa concepção levou ao estudo da língua enquanto código virtual, isolado de sua utilização - na fala 
(cf. Saussure) ou no desempenho (cf. Chomsky). Isso fez com que a Linguística não considerasse os 
interlocutores e a situação de uso como determinantes das unidades e regras que constituem a língua, 
isto é, afastou o indivíduo falante do processo de produção, do que é social e histórico na língua. Essa é 
uma visão monológica e imanente da língua, que a estuda segundo uma perspectiva formalista - que 
limita esse estudo ao funcionamento interno da língua - e que separa o homem no seu contexto social. 
 
Koch (2002:14) mostra que a noção de sujeito, nessa concepção de linguagem, “corresponde a de 
sujeito determinado, assujeitado pelo sistema, caracterizado por uma espécie de “não-consciência”. 
Explicaque “o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo 
leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o conhecimento do código, já que o texto, uma vez codificado, 
é totalmente explícito.” (p. 16). O decodificador, portanto, assume, também nessa concepção, um papel 
passivo, uma vez que a informação deve ser recebida tal qual havia na mente do emissor. 
 
Linguagem como interação social 
 
Segundo Travaglia (op. cit.: 23), “nessa concepção, o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão-
somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outrem, mas sim realizar 
ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor)”. Nesse enfoque, a concepção interacionista da 
linguagem contrapõe-se às visões conservadoras da língua, que a tem como um objeto autônomo, sem 
história e sem interferência do social, já que não enfatizar esses aspectos não é condizente com a 
realidade na qual estamos inseridos. Ao contrário das concepções anteriores, esta terceira concepção 
situa a linguagem como um lugar de interação humana, como o lugar de constituição de relações sociais. 
Dessa forma, ela representa as correntes e teorias de estudo da língua correspondentes à linguística da 
enunciação (Linguística Textual, Teoria do Discurso, Análise do Discurso, Análise da Conversação, 
Semântica Argumentativa e todos os estudos ligados à Pragmática), que colocam no centro da reflexão 
o sujeito da linguagem, as condições de produção do discurso, o social, as relações de sentido 
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. 4 
estabelecidas entre os interlocutores, a dialogia, a argumentação, a intenção, a ideologia, a historicidade 
da linguagem, etc. 
A linguagem se faz, pois, pela interação comunicativa mediada pela produção de efeitos de sentido 
entre interlocutores, em uma dada situação e em um contexto sócio histórico e ideológico, sendo que os 
interlocutores são sujeitos que ocupam lugares sociais. 
Em lugar de exercícios contínuos de descrição gramatical e estudo de terminologias e regras que 
privilegiam tão somente a forma das palavras ou a sintaxe da língua, estuda-se o uso da língua em 
situações concretas de interação, percebendo as diferenças de sentido entre uma forma de expressão e 
outra. A língua, nesse caso, é o reflexo das relações sociais, pois, de acordo com o contexto e com o 
objetivo específico da enunciação é que ocorre uma forma de expressão ou outra, uma variante ou outra. 
Em outras palavras, o locutor constrói o seu discurso mediante as suas necessidades enunciativas 
concretas, escolhendo formas linguísticas que permitam que seu discurso figure num dado contexto e 
seja adequado a ele. Sendo assim, o locutor leva em consideração o seu interlocutor, tanto no que se 
refere à imagem que tem dele, quanto à construção de seu discurso, empenhando-se para que ele seja 
compreendido num contexto concreto, preciso e, consequentemente, atinja o objetivo pretendido. 
O pensador russo Bakhtin (1997:95), questionando as grandes correntes teóricas da linguística 
contemporânea, que reduzem a linguagem ou a um sistema abstrato de formas (objetivismo abstrato) ou 
à enunciação monológica isolada (subjetivismo idealista), prioriza que: 
 
(...) na prática viva da língua, a consciência linguística do locutor e do receptor nada tem a ver com o 
sistema abstrato de formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido de conjunto dos 
contextos possíveis de uso de cada forma particular. 
 
Segundo o autor, não se pode separar a linguagem de seu conteúdo ideológico ou vivencial, já que 
ela se constitui pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação, que é um 
diálogo (no sentido amplo do termo, englobando as produções escritas). O sentido do enunciado se dá 
através de uma compreensão ativa entre os sujeitos, ou seja, é o efeito da interação dos interlocutores. 
Para Bakhtin, todo enunciado tem um destinatário, entendido como a segunda pessoa do diálogo. A 
atividade mental do sujeito e sua expressão exterior se constituem a partir do social, portanto, toda a 
enunciação é socialmente dirigida. É no fluxo da interação verbal que a palavra se transforma e ganha 
diferentes significados, de acordo com o contexto em que surge. A categoria básica da concepção de 
linguagem em Bakhtin é a interação verbal, cuja realidade fundamental é o seu caráter dialógico. 
 
Dentro de uma concepção interacionista, a linguagem é entendida, então, como um dos aspectos das 
diferentes relações que se estabelecem historicamente em nível sociocultural. Ela caracteriza-se por sua 
ação social. 
 
Nas palavras de Koch (1992:9), a concepção de linguagem como forma (lugar) de ação ou interação, 
“é aquela que encara a linguagem como atividade, como forma de ação, ação interindividual 
finalisticamente orientada; como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a 
prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e ou comportamentos.” 
 
Ainda, como observa Osakabe (1994: 7): “uma linguagem entendida como uma interlocução e, como 
tal, de um lado, como processo, e de outro, como constitutiva (de) e constituída (por) sujeitos.” 
 
Decorre daí que, numa visão sociointeracionista da linguagem, a percepção das variedades 
linguísticas não se faz, como se observa no interior da primeira concepção de linguagem, com explicações 
simplistas que refletem o “certo” e o “errado”, o “aceitável” e o “inaceitável” ou porque uma linguagem é 
mais rica do que a outra. Penetrando mais fundo na essência da linguagem e entendendo que a língua 
está em constante evolução, entende-se também que todas as variedades existentes em nossa 
sociedade pertencem à nossa língua e que, embora a língua padrão possua maior prestígio social, as 
demais variedades possuem, como a variedade culta, a mesma expressividade e comunicatividade. Do 
ponto de vista interacionista da linguagem, a norma culta é vista como uma variante, uma possibilidade a 
mais de uso e não exclusivamente como o único uso linguisticamente correto e a única linguagem 
representante de uma cultura. Instaura-se a relação dialógica e polifônica em contextos não imunes às 
variações e diferenças existentes nas situações concretas de uso. 
 
Koch (2002: 15) explicita que “os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais”. Destaca, 
portanto, 
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. 5 
(...) o caráter ativo dos sujeitos na produção mesma do social e da interação e defendendo a posição 
de que os sujeitos (re)produzem o social na medida em que participam da definição da situação na qual 
se acham engajados, e que são atores na atualização das imagens e das representações sem as quais 
a comunicação não poderia existir. 
 
Ao referir-se à concepção de texto e de sentido de um texto, esclarece: 
 
(...) o texto passa a ser considerado o próprio lugar de interação (...). Desta forma, há lugar, no texto, 
para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente identificáveis quando se tem, como 
pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. (...) – a compreensão deixa de 
ser entendida como simples “captação” de uma representação mental ou como a decodificação de 
mensagem resultante de uma codificação de um emissor. Ela é, isto sim, uma atividade interativa 
altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos 
linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização 
de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução deste no interior do evento 
comunicativo. 
 
Linguagem 
 
Como instrução geral, podemos dizer que uma hipótese interpretativa é aceitável sempre que otexto 
apresenta pista ou pistas que a confirmam e sustentam. O texto abaixo é bastante apropriado. 
 
“Aquela senhora tem um piano. 
Que é agradável, mas não é o correr dos rios. 
Nem o murmúrio que as árvores fazem... 
Por que é preciso ter um piano? 
O melhor é ter ouvidos 
E amar a Natureza.” 
 
Que simboliza o piano no poema? 
Dentro do contexto que se insere o piano, representa um bem cultural, o que se percebe pela oposição 
que o texto estabelece entre o som do piano (bem cultural) e o correr dos rios e o murmúrio das árvores 
(bens naturais). O poema descarta a necessidade do piano, dando preferência à fruição dos sons da 
Natureza. 
 
O que é a linguagem? 
 
É qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de ideias ou sentimentos 
através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., podendo ser percebida pelos diversos 
órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies ou tipos: visual, auditiva, tátil, etc., ou, 
ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos. Os elementos 
constitutivos da linguagem são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar 
conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos. Embora os animais também se 
comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem. 
Não se devem confundir os conceitos de linguagem e de língua. Enquanto aquela (linguagem) diz 
respeito à capacidade ou faculdade de exercitar a comunicação, latente ou em ação ou exercício, esta 
última (língua ou idioma) refere-se a um conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma 
nação, munido de regras próprias (sua gramática). 
Noutra acepção (anátomo-fisiológica), linguagem é função cerebral que permite a qualquer ser humano 
adquirir e utilizar uma língua. 
Por extensão, chama-se linguagem de programação ao conjunto de códigos usados em computação. 
O estudo da linguagem, que envolve os signos, de uma forma geral, é chamado semiótica. A linguística 
é subordinada à semiótica porque seu objeto de estudo é a língua, que é apenas um dos sinais estudados 
na semiótica. 
A respeito das origens da linguagem humana, alguns estudiosos defendem a tese de que a linguagem 
desenvolveu-se a partir da comunicação gestual com as mãos. Posteriores alterações no aparelho 
fonador, os seres humanos passaram a poder produzir uma variedade de sons muito maior do que a dos 
demais primatas. 
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. 6 
De acordo com Kandel apesar das dificuldades de se apontar com precisão quando ou como a 
linguagem evoluiu há certo consenso quanto a algumas estruturas cerebrais constituírem-se como pré-
requisitos para a linguagem e que estas parecem ter surgido precocemente na evolução humana. 
Segundo esse autor essa conclusão foi atingida após exame dos moldes intracranianos de fósseis 
humanos. Na maioria dos indivíduos o hemisfério esquerdo é dominante para a linguagem; a área cortical 
da fala do lobo temporal (o plano temporal) é maior no hemisfério esquerdo que no direito. Visto que os 
giros e sulcos importantes deixam com frequência impressões no crânio, o registro fóssil foi estudado 
buscando-se as assimetrias morfológicas associadas à fala nos humanos modernos. Essas assimetrias 
foram encontradas no homem de Neanderthal (datando de cerca de 30.000 a 50.000 anos) e no Homo 
erectus (datado de 300.000 a 500.000 anos), o predecessor de nossa própria espécie. 
 
Para que serve a linguagem? 
 
(...) 
Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Todo o sentido da vida 
principia à vossa porta; 
o mel do amor cristaliza 
seu perfume em vossa rosa; 
sois o sonho e sois a audácia, 
calúnia, fúria, derrota... 
 
A liberdade das almas, 
ai! Com letras se elabora... 
E dos venenos humanos 
sois a mais fina retorta: 
frágil, frágil como o vidro 
e mais que o aço poderosa! 
Reis, impérios, povos, tempos, 
pelo vosso impulso rodam... 
(...) 
 
Cecília Meireles. 
Romanceiro da Inconfidência. In: Obra poética. 
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985, p. 442. 
 
Esses versos foram extraídos do poema “Romance LIII ou das palavras aéreas”, em que Cecília 
Meireles fala sobre o poder da palavra. Mostram que a palavra, apesar de frágil, por ser constituída de 
sons, é ao mesmo tempo extremamente forte, porque, com seu significado, derruba reis e impérios; serve 
para construir a liberdade do ser humano e também para envenenar a sua vida; serve para sussurrar 
declarações de amor, para exprimir os sonhos, para impulsionar os desejos mais grandiosos, mas 
também para caluniar, para expor a raiva, para impor a derrota. 
 
- A linguagem é o traço definidor do ser humano, é a aptidão que o distingue dos animais. 
 
O provérbio popular “Palavra não quebra osso”, contrapondo a palavra à ação, insinua que a linguagem 
não tem nenhum poder: um golpe, mas não uma palavra, é capaz de quebrar osso. Ora podemos desfazer 
facilmente essa visão simplista das coisas, analisando para que serve a linguagem. 
 
- A linguagem é uma maneira de perceber o mundo. 
 
“Este deve ser o bosque”, murmurou pensativamente (Alice), “onde as coisas não têm nomes”. (...) 
Ia devaneando dessa maneira quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e 
sombrio. “Bom, de qualquer modo é um alívio”, disse enquanto avançava em meio às árvores, “depois de 
tanto calor, entrar dentro do... dentro do... dentro do quê?” Estava assombrada de não poder se lembrar 
do nome. “Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo das... debaixo disso aqui, ora!”, disse, colocando a 
mão no tronco da árvore. “Como é que essa coisa se chama? É bem capaz de não ter nome nenhum... 
ora, com certeza não tem mesmo!” 
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Ficou calada durante um minuto, pensando. Então, de repente, exclamou: - Ah, então isso terminou 
acontecendo! E agora quem sou eu? Eu quero me lembrar, se puder. 
 
Lewis Carroll. Aventuras de Alice. 
Trad. Sebastião Uchôa Leite. 
3ª ed. São Paulo, Summus, p 165-166 
 
Esse texto, reproduzido do livro “Através do espelho e o que Alice encontrou lá”, mostra que a 
protagonista, ao entrar no bosque em que as coisas não têm nome, é incapaz de apreender a realidade 
em torno dela, de saber o que as coisas são. Isso significa que as coisas do mundo exterior só têm 
existência para os homens quando são nomeadas. A linguagem é uma forma de apreender a realidade: 
só percebemos aquilo a que a língua dá nome. 
Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, comenta essa questão na edição de 26 de junho de 
2002 (p. 130), ao falar da expressão “risco país”, usada para traduzir o grau de confiabilidade de um país 
entre credores ou investidores internacionais: 
 
(...) As coisas não são coisas enquanto não são nomeadas. O que não se expressa não se conhece. 
Vive na inocência do limbo, no sono profundo da inexistência. Uma vez identificado, batizado e 
devidamente etiquetado, o “risco país” passou a existir. E lá é possível viver num país em risco? Lá é 
possível dormir em paz num país submetido à medição do perigo que oferece com a mesma assiduidade 
com que a um paciente se tira a pressão? É como viajar num navio onde se apregoasse, num escandaloso 
placar luminoso, sujeito a tantas oscilações como as das ondas do mar, o “risco naufrágio”. 
 
- A linguagem é uma forma de interpretar a realidade. 
 
O segundo projeto era representado por um plano de abolir completamente todas as palavras, fossem 
elas quais fossem (...). Em vista disso, propôs-se que, sendo as palavras apenas nomes para as coisas, 
seria mais conveniente que todos os homens trouxessem consigo as coisas de que precisassem falar ao 
discorrer sobre determinado assunto (...). ...muitos eruditos e sábios aderiramao novo plano de se 
expressarem por meio de coisas, cujo único inconveniente residia em que, se um homem tivesse que 
falar sobre longos assuntos e de vária espécie, ver-se-ia obrigado, em proporção, a carregar nas costas 
um grande fardo de coisas, a menos de poder pagar um ou dois criados robustos para acompanhá-lo (...). 
Outra grande vantagem oferecida pela invenção consiste em que ela serviria de língua universal, 
compreendida em todas as nações civilizadas, cujos utensílios e objetos são geralmente da mesma 
espécie, ou tão parecidos que o seu emprego pode ser facilmente percebido. 
 
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. 
Rio de Janeiro/São Paulo, Ediouro/Publifolha, p. 194-195. 
 
Esse trecho do livro “Viagens de Gulliver” narra um projeto dos sábios de Balnibarbi: substituir as 
palavras – que, no seu entender, têm o inconveniente de variar de língua para língua – pelas coisas. 
Quando alguém quisesse falar de uma cadeira, mostraria uma cadeira, quem desejasse discorrer sobre 
uma bolsa, mostraria uma bolsa, etc. Trata-se de uma ironia de Swift às concepções vulgares de que a 
compreensão da realidade independe da língua que a nomeia, como se as palavras fossem etiquetas 
aplicadas a coisas classificadas independentemente da linguagem, quando, na verdade, a língua é uma 
forma de categorizar o mundo, de interpretá-lo. 
O que inviabiliza o sistema imaginado pelos sábios de Balnibarbi não é apenas o excesso de peso das 
coisas que cada falante precisaria carregar: é o fato de que as coisas não podem substituir as palavras, 
porque a língua é bem mais que um sistema de demonstração de objetos ou mera cópia do mundo natural. 
As coisas não designam tudo que uma língua pode expressar. 
Mostrar um objeto, por exemplo, não indica sua inclusão numa dada classe. No léxico de uma língua, 
agrupamos os nomes em classes. Maçã, pera, banana e laranja pertencem à classe das frutas. Ao 
mostrar uma fruta qualquer, não consigo exprimir a ideia da classe fruta; não posso, então, expressar 
ideias mais gerais. Não produzimos palavras somente para designar as coisas, mas para estabelecer 
relações entre elas e para comentá-las. Mostrar um objeto não exprime as categorias de quantidade, de 
gênero (masculino e feminino), de número (singular e plural); não permite indicar sua localização no 
espaço (aqui/aí/lá), etc. A língua não é um sistema de demonstração de objetos, pois permite falar do que 
está presente e do que está ausente, do que existe e do que não existe; permite até criar novas realidades, 
mundos não existentes. 
A linguagem é uma atividade simbólica, o que significa que as palavras criam conceitos, e eles 
ordenam a realidade, categorizam o mundo. Por exemplo, criamos o conceito de pôr-do-sol. Sabemos 
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que, do ponto de vista científico, o Sol não “se põe”, uma vez que é a Terra que gira em torno dele. 
Contudo esse conceito, criado pela linguagem, determina uma realidade que encanta a todos. Outro 
exemplo: apagar uma coisa escrita no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi escrito 
a lápis, a caneta ou mesmo a máquina. Por isso, surgiu uma nova palavra para denominar essa nova 
realidade, deletar. No entanto, se essa palavra não existisse, não perceberíamos a atividade de apagar 
no computador como uma ação diferente de apagar o que foi escrito a lápis. Uma nova realidade, uma 
nova invenção, uma nova ideia exigem novas palavras, e estas é que lhes conferem existência para toda 
a comunidade de falantes. 
As palavras formam um sistema independente das coisas nomeadas por elas, tanto é que cada língua 
pode ordenar o mundo de maneira diversa, exprimir diferentes modos de ver a realidade. O inglês, por 
exemplo, para expressar o que denominamos carneiro, tem duas palavras: sheep, que designa o animal, 
e mutton, que significa a carne do carneiro preparada e servida à mesa. Em português, dizemos as duas 
coisas numa palavra só: Este carneiro tem muita lã e Este carneiro está apimentado, ou seja, não 
aplicamos a distinção que os falantes da língua inglesa têm incorporada à sua visão de mundo. Isso 
mostra que a linguagem é uma maneira de interpretar o universo natural e segmentá-lo em categorias, 
segundo as particularidades de cada cultura. Por essa razão, a linguagem modela nossa maneira de 
perceber e de ordenar a realidade. 
A linguagem expressa também as diferentes maneiras de interpretar uma ocorrência. Querendo 
desculpar-se, o filho diz para a mãe: O jarro de porcelana caiu e quebrou. A mãe replica: Você derrubou 
o jarro e, por isso, ele quebrou. Observe que, na primeira formulação, não existe um responsável pela 
queda e pela quebra do objeto. É como se isso se devesse ao acaso. Na segunda formulação, atribui-se 
a responsabilidade pelo acontecimento a um agente. 
 
- A linguagem é uma forma de ação. 
 
Existem certas fórmulas linguísticas que servem para agir no mundo. Quando um padre diz aos noivos 
“Eu vos declaro marido e mulher”, quando alguém diz “Prometo estar aqui amanhã”, quando um leiloeiro 
proclama “Arrematado por mil reais”, quando o presidente de alguma câmara municipal afirma “Declaro 
aberta a sessão”, eles não estão constatando alguma coisa do mundo, mas realizando uma ação. O ato 
de abrir uma sessão realiza-se quando seu presidente a declara aberta; o ato da promessa realiza-se 
quando se diz “Prometo”. Em casos como esses, o dizer se confunde com a própria ação e serve para 
demonstrar que a linguagem não é algo sem consequência, porque ela também é ação. 
 
Funções da Linguagem 
 
Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, a resposta mais comum é que ela serve 
para comunicar. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir informações. É também 
exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? 
 
- A linguagem serve para informar: Função Referencial. 
 
“Estados Unidos invadem o Iraque” 
 
Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos sobre um acontecimento do mundo. 
Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, transmitimos esses conhecimentos a 
outras pessoas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, somos prevenidos contra as tentativas 
mal sucedidas de fazer alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe de outro 
conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os. 
Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender ciências com facilidade? Começai a aprender 
vossa própria língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como aprendemos desde as mais banais 
informações do dia a dia até as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais 
avançados. 
A função informativa da linguagem tem importância central na vida das pessoas, consideradas 
individualmente ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite conhecer o mundo; para o grupo 
social, possibilita o acúmulo de conhecimentos e a transferência de experiências. Por meio dessa função, 
a linguagem modela o intelecto. 
É a função informativa que permite a realização do trabalho coletivo. Operar bem essa função da 
linguagem possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender. 
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A função informativa costuma ser chamada também de função referencial, pois seu principal propósito 
é fazer com que as palavras revelem da maneira mais clara possível as coisas ou os eventos a que fazem 
referência. 
 
- A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: Função Conativa. 
 
“Vem pra Caixa você também.” 
 
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a aumentar o número de correntistas da Caixa 
Econômica Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar esse comportamento, 
formulou-se um convite com umalinguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma vem, de 
segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta 
quando se usa você. 
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer determinadas coisas, a crer em determinadas ideias, 
a sentir determinadas emoções, a ter determinados estados de alma (amor, desprezo, desdém, raiva, 
etc.). Por isso, pode-se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções, paixões. Quem 
ouve desavisada e reiteradamente a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende a ter 
sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, 
aprendemos os preconceitos contra a mulher. 
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos 
que nos influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios publicitários 
que nos dizem como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos determinadas marcas, 
se consumirmos certos produtos. 
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos, que colocam o respeito ao outro acima 
de tudo, quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemorizados, que se 
deixam conduzir sem questionar. 
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem quando esta é usada para interferir no 
comportamento das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma sugestão. A palavra conativo é 
proveniente de um verbo latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). 
 
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: Função Emotiva. 
 
“Eu fico possesso com isso!” 
 
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação com alguma coisa que aconteceu. Com 
palavras, objetivamos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. Exprimimos a revolta e a 
alegria, sussurramos palavras de amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, desdém, 
desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos 
socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos 
dizerem “A intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O Fernando tem mudado o país”. 
Essa maneira informal de se referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de insinuarem 
intimidade com ele e, portanto, de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela proximidade 
com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos para afirmarmo-nos perante o grupo, para 
mostrar nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou nossa competência na 
conquista amorosa. 
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que empregamos, etc., transmitimos uma 
imagem nossa, não raro inconscientemente. 
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utilização da linguagem para a manifestação 
do enunciador, isto é, daquele que fala. 
 
- A linguagem serve para criar e manter laços sociais: Função Fática. 
 
__Que calorão, hein? 
__Também, tem chovido tão pouco. 
__Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros. 
__Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor. 
 
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Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num elevador e devem manter uma conversa 
nos poucos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o silêncio poderia ser 
constrangedor ou parecer hostil. 
Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos manter-nos em silêncio, olhando uns para os 
outros. Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se tem assunto, fala-se do 
tempo, repetem-se histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso, 
não tem nenhuma função que não seja manter os laços sociais. Quando encontramos alguém e lhe 
perguntamos “Tudo bem?”, em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se 
está doente, se está com problemas. A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo social. 
Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre alunos de uma escola, entre torcedores 
de um time de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas não entendam 
bem o significado da letra do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o importante é que, ao 
cantá-lo, sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros. 
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão função fática para indicar a utilização da linguagem 
para estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um falante e seu interlocutor. 
 
- A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem: Função Metalinguística. 
 
Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; 
“Estou usando o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegante usar palavrões”, não estamos 
falando de acontecimentos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a própria linguagem. É 
o que chama função metalinguística. A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos sobre o 
mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos 
outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos comentando o que declaramos: é um modo de 
esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a que estamos enunciando; 
inversamente, podemos usar a metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo de dizer. É o 
que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica, 
vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não podem pescar”. 
 
- A linguagem serve para criar outros universos. 
 
A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala também do que nunca existiu. Com ela, 
imaginamos novos mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: mostrar que outros modos 
de ser são possíveis, que outros universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa púrpura do 
Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para 
consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo 
inúmeras vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um 
dia, ele sai da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra realidade, os homens 
são gentis, a vida não é monótona, o amor nunca diminui e assim por diante. 
 
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função Poética. 
 
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons são formas de tornar a linguagem um 
lugar de prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras para delas extrairmos satisfação. 
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”, diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a 
frase shakespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes, quando soube que 
uma mulher muito gorda se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez o seguinte trocadilho: “É 
a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos”. A palavra banco está usada em dois 
sentidos: “móvel comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está empregado em dois sentidos 
o termo fundos: “nádegas” e “capital”, “dinheiro”. 
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, com significados diferentes, nesta frase do 
deputado Virgílio Guimarães: 
 
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu continência para os militares, bateu palmas 
para o Collor e quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor de consciência e bata 
em retirada.” 
(Folha de S. Paulo) 
 
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Verifica-se que a linguagempode ser usada utilitariamente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é 
utilizada para informar, para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No segundo, para produzir um 
efeito prazeroso de descoberta de sentidos. Em função estética, o mais importante é como se diz, pois o 
sentido também é criado pelo ritmo, pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc. 
Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de Raimundo Correia, a sucessão dos sons 
oclusivos /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: 
 
E o bosque estala, move-se, estremece... 
Da cavalgada o estrépito que aumenta 
Perde-se após no centro da montanha... 
 
Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed. 
Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos. 
 
Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos ocorre no segundo verso, quando se afirma 
que o barulho dos cavalos aumenta. 
Quando se usam recursos da própria língua para acrescentar sentidos ao conteúdo transmitido por 
ela, diz-se que estamos usando a linguagem em sua função poética. 
 
Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo dos elementos da 
comunicação. 
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era desenvolvido de maneira "sistematizada" (alguém 
pergunta - alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto outro escuta em silêncio, etc). 
Exemplo: 
 
Elementos da comunicação 
- Emissor - emite, codifica a mensagem; 
- Receptor - recebe, decodifica a mensagem; 
- Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor; 
- Código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem; 
- Referente - contexto relacionado a emissor e receptor; 
- Canal - meio pelo qual circula a mensagem. 
 
Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se 
a conclusão que quando se trata da parole, entende-se que é um veículo democrático (observe a função 
fática), assim, admite-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diálogo interativo): 
- locutor - quem fala (e responde); 
- locutário - quem ouve e responde; 
- interlocução - diálogo 
 
As respostas, dos "interlocutores" podem ser gestuais, faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) 
na teoria. 
As atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a 
comunicação 
Lembramo-nos: 
 
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no "eu" do emissor, é carregada de subjetividade. 
Ligada a esta função está, por norma, a poesia lírica. 
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de mensagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de 
que este assuma determinado comportamento; há frequente uso do vocativo e do imperativo. Esta função 
da linguagem é frequentemente usada por oradores e agentes de publicidade. 
- Função metalinguística: função usada quando a língua explica a própria linguagem (exemplo: quando, 
na análise de um texto, investigamos os seus aspectos morfo-sintáticos e/ou semânticos). 
- Função informativa (ou referencial): função usada quando o emissor informa objetivamente o receptor 
de uma realidade, ou acontecimento. 
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção dos interlocutores, muito usada em discursos 
políticos e textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). 
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensagem com figuras de estilo, palavras belas, 
expressivas, ritmos agradáveis, etc. 
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Também podemos pensar que as primeiras falas conscientes da raça humana ocorreu quando os sons 
emitidos evoluiram para o que podemos reconhecer como “interjeições”. As primeiras ferramentas da fala 
humana. 
 
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo que mais profundamente distingue o homem dos 
outros animais. 
Podemos considerar que o desenvolvimento desta função cerebral ocorre em estreita ligação com a 
bipedia e a libertação da mão, que permitiram o aumento do volume do cérebro, a par do desenvolvimento 
de órgãos fonadores e da mímica facial. 
Devido a estas capacidades, para além da linguagem falada e escrita, o homem, aprendendo pela 
observação de animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos surdos em diferentes países, não 
só para melhorar a comunicação entre surdos, mas também para utilizar em situações especiais, como 
no teatro e entre navios ou pessoas e não animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas que 
se podem observar entre si. 
 
Potencialidades da Linguagem 
 
Depois de analisar as funções da linguagem, conclui-se que ela é onipresente na vida de todos nós. 
Cerca-nos desde o despertar da consciência, ainda no berço, segue-nos durante toda a vida e 
acompanha-nos até a hora da morte. Sem a linguagem, não se pode estruturar o mundo do trabalho, pois 
é ela que permite a troca de informações e de experiências e a cooperação entre os homens. Sem ela, o 
homem não pode conhecer-se nem conhecer o mundo. Sem ela, não se exerce a cidadania, porque os 
eleitores não podem influenciar o governo. Sem ela não se pode aprender, expressar os sentimentos, 
imaginar outras realidades, construir as utopias e os sonhos. No entanto, a linguagem parece-nos uma 
coisa natural. Não prestamos muita atenção a ela. Nem sempre dedicamos muito tempo ao seu estudo. 
Conhecer bem a língua materna e línguas estrangeiras é uma necessidade. 
Que é saber bem uma língua? Evidentemente, não é saber descrevê-la. A descrição gramatical de 
uma língua é um meio de adquirir sobre ela um domínio crescente. Saber bem uma língua é saber usá-
la bem. No entanto, o emprego de palavras raras e a correção gramatical não são sinônimos do uso 
adequado da língua. Falar bem é atingir os propósitos de comunicação. Para isso, é preciso usar um nível 
de língua adequado, é necessário construir textos sem ambiguidades, coerentes, sem repetições que não 
acrescentam nada ao sentido. 
O texto que segue foi dito por um locutor esportivo: 
 
“Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino a fim de pensar a contusão do filho do Divino Mestre, 
mola propulsora do eleven periquito.” 
(Álvaro da Costa e Silva. In: Bundas, p.33.) 
 
O que o locutor quis dizer foi: Entra em campo o médico do Palmeiras a fim de cuidar da contusão de 
Ademir da Guia (filho de Domingos da Guia), jogador de meio de campo do time do Parque Antártica. 
Certamente, aquele texto não seria entendido pela maioria dos ouvintes. Portanto não é um bom texto, 
porque não usa um nível de língua adequado à situação de comunicação. Outros exemplos: 
 
“As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a 
uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, 
exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 
18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.” 
 
(Jornal Folha do Sudoeste) 
 
Certamente a portaria não deveria obrigar os pais a acompanhar os filhos aos motéis nem a dar-lhes 
uma autorização por escrito para ser exibida na entrada desse tipo de estabelecimento. 
O jornal da USP publicou uma série de textos encontrados em comunicados de paróquias e templos. 
Todos são mal escritos, embora neles não se encontrem erros de ortografia, concordância, etc.: 
 
- Não deixe a preocupação acabar com você. Deixe que a Igreja ajude. 
- Terça-feira à noite: sopão dos pobres, depois oração e medicação. 
- (...) lembre-se de todos que estão tristes e cansados de nossa igreja e de nossa comunidade. 
- Para aqueles que têm filhos e não sabem, nós temos uma creche no segundo andar. 
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- Quinta-feira às 5h haverá reuniãodo Clube das Jovens Mamães. Todos aqueles que quiserem se 
tornar uma Jovem Mamãe, devem contatar padre Cavalcante em seu escritório. (...) 
 
(Jornal da USP, 9, p. 15) 
 
Humor à parte, esses exemplos comprovam que aprender não só a norma culta da língua, mas também 
os mecanismos de estruturação do texto. 
 
A palavra texto é bastante usada na escola e também em outras instituições sociais que trabalham 
com a linguagem. É comum ouvirmos expressões como “O texto constitucional desceu a detalhes que 
deveriam estar em leis ordinárias”; “Seu texto ficou muito bom”; “O texto da prova de Português era muito 
longo e complexo”; “Os atores de novelas devem decorar textos enormes todos os dias”. Apesar de 
corrente, porém, o termo não é de fácil definição: quando perguntamos qual é o seu significado, 
percebemos que a maioria das pessoas é incapaz de responder com precisão e clareza. 
Texto é um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num 
dado tempo e num determinado espaço. 
O texto é um todo organizado de sentido, isso quer dizer que ele não é um amontoado de frases 
simplesmente colocadas umas depois das outras, mas um conjunto de frases costuradas entre si. Por 
isso o sentido de cada parte depende da sua relação com as outras partes, isto é, o sentido de uma 
palavra ou de uma frase depende das outras palavras ou frases com que mantêm relação. Em síntese, o 
sentido depende do contexto, entendido como a unidade maior que compreende uma unidade menor, a 
oração é contexto da palavra, o período é contexto da oração e assim sucessivamente. O contexto pode 
ser explícito (quando é exposto em palavras) ou implícito (quando é percebido na situação em que o texto 
é produzido). Observe os três pequenos textos abaixo: 
 
- Todos os dias ele fazia sua fezinha. Na noite de segunda-feira sonhou com um deserto e jogou seco 
no camelo. 
- Nos desertos da Arábia, o camelo é ainda o principal meio de transporte dos beduínos. 
- O camelo aqui carrega a família inteira nas costas, porque lá ninguém trabalha. 
 
Em cada uma dessas frases a palavra camelo tem um sentido diferente. Na primeira, significa “o oitavo 
grupo do jogo no bicho, que corresponde ao número 8 e inclui as dezenas 29, 30, 31 e 32”; na segunda, 
“animal originário das regiões desérticas, de grande porte, quadrúpede, de cor amarelada, de pescoço 
longo e com duas saliências no dorso”; na terceira, “pessoa que trabalha muito”. O que determina essa 
diferença de sentido da palavra é exatamente o contexto, o todo em que ela está inserida. No texto, 
portanto, o sentido de cada parte não é independente, tudo são relações. Aliás, a palavra texto significa 
“tecido”, que não é um amontoado de fios, mas uma trama arranjada de maneira organizada. O sentido 
não é solitário, é solidário. Vejamos outros dois períodos: 
 
- Marcelinho é um bom atacante, mas é desagregador. 
- Marcelinho é desagregador, mas é um bom atacante. 
 
Esses períodos relacionam diferentemente as orações. No primeiro, a oração é “desagregador” é 
introduzida por “mas”, enquanto no segundo é a oração “é um bom atacante” que é iniciada por essa 
conjunção. O sentido é completamente diferente, pois o “mas” introduz o argumento mais forte e, por 
conseguinte, determina a orientação argumentativa da frase. Isso significa que, quando afirmo, “não quero 
o jogador no meu time”; quando digo, “acredito que todos os seus defeitos devem ser desculpados”. 
Observe agora o poema “Canção do Exílio” de Murilo Mendes: 
 
Minha terra tem macieiras da Califórnia 
onde cantam gaturamos de Veneza. 
Os poetas da minha terra 
são pretos que vivem em torres de ametista, 
os sargentos de exército são monistas, cubistas, 
os filósofos são polacos vendendo a prestações. 
A gente não pode dormir 
com os oradores e os pernilongos. 
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. 
Eu morro sufocado 
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em terra estrangeira. 
Nossas flores são mais bonitas 
nossas frutas mais gostosas 
mas custam cem mil réis a dúzia. 
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade 
e ouvir um sabiá com certidão de idade! 
 
Poesias (1925-1953). Rio de Janeiro, 
José Olympio, 1959, p. 5. 
 
Tomando apenas os dois primeiros versos, pode-se pensar que esse poema seja uma apologia do 
caráter universalista e cosmopolita da brasilidade: macieiras e gaturamos representam a natureza vegetal 
e animal, respectivamente; Califórnia e Veneza são a imagem do espaço estrangeiro, e minha terra, a do 
solo pátrio. No Brasil, até a natureza acolhe o que é estrangeiro. 
 
Pode-se ainda acrescentar, em apoio a essa tese, que esses versos são calcados nos dois primeiros 
do poema homônimo de Gonçalves Dias, que é uma glorificação da terra pátria: 
 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
 
Apud: Manuel Bandeira. 
Gonçalves Dias: Poesia. 7ª ed. Rio de Janeiro 
Agir, 1976, p. 18. Coleção Nossos Clássicos. 
 
Essa hipótese de leitura, se não é absurda quando isolamos os versos em questão, não encontra 
amparo quando os confrontamos com o restante do texto. Murilo Mendes mostra, na verdade, que as 
características da brasilidade não têm valor positivo, não concorrem para a exaltação da pátria: o poeta 
denuncia que a cultura brasileira é postiça, é uma miscelânea de elementos advindos de vários países. 
Ele mostra que os “poetas são pretos que vivem em torres de ametista”, alienados num mundo idealizado, 
evitando as mazelas do mundo real, sem se preocupar com os negros, que vivem, em geral, em condições 
muito precárias (trata-se de uma referência irônica ao Simbolismo e, principalmente, a Cruz e Sousa); 
que “os sargentos do exército são monistas, cubistas”, ou seja, em vez da preocupação com seu ofício 
de garantir a segurança do território nacional, têm pretensões de incursionar por teorias filosóficas e 
estéticas; que “os filósofos são polacos vendendo a prestações”, são prostituídos (polaca é termo 
designativo de prostituta) pela venalidade barata; que “os oradores” se identificam com “os pernilongos” 
em sua oratória repetitiva; que o romantismo gonçalvino estava certo ao afirmar que a natureza brasileira 
é pródiga, só que essa prodigalidade não é acessível à maioria da população. A exclamação do final é, 
ao mesmo tempo, a manifestação do desejo de ter contato com coisas genuinamente brasileiras e um 
lamento, pois o poeta sabe que não se tornará realidade. 
O texto de Murilo faz referência ao de Gonçalves Dias, mas, diferentemente do poema gonçalvino, não 
celebra ufanisticamente a pátria. Ao contrário, ironiza-a, lamenta a invasão estrangeira. O exílio é a 
própria terra, desnaturada a ponto de parecer estrangeira. 
Desse modo, os dois primeiros versos não podem ser interpretados como um elogio ao caráter 
cosmopolita da cultura brasileira. Ao contrário, devem ser lidos como uma crítica ao caráter postiço da 
nossa cultura. Isso porque só a segunda interpretação se encaixa coerentemente dentro do contexto. 
Por exemplo, comprova-se que o significado das frases não é autônomo. Num texto, o significado das 
partes depende do todo. Por isso, cada frase tem um significado distinto, dependendo do contexto em 
que está inserida. 
Que é que faz perceber que um conjunto de frases compõe um texto? O primeiro fator é a coerência, 
ou seja, a compatibilidade de sentido entre elas, de modo que não haja nada ilógico, nada contraditório, 
nada desconexo. Outro fator é a ligação das frases por certos elementos que recuperam passagens já 
ditas ou garantem a concatenação entre as partes. Assim, em “Não chove há vários meses. Os pastos 
não poderiam, pois, estar verdes”, a palavra “pois” estabelece uma relação de decorrência lógica entre 
uma e outra frase. O segundo fator, entretanto, é menos importante que o primeiro, pois mesmo sem 
esseselementos de conexão, um conjunto de frases pode ser coerente e, portanto, um todo organizado 
de sentido. 
 
 
 
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Tipos de Linguagem 
 
Linguagem é a capacidade que possuímos de expressar nossos pensamentos, ideias, opiniões e 
sentimentos. Está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há comunicação, há linguagem. 
Podemos usar inúmeros tipos de linguagens para estabelecermos atos de comunicação, tais como: 
sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, 
por exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de 
sinais que se valem os indivíduos para comunicar-se. 
A linguagem pode ser: 
 
- Verbal: aquela que faz uso das palavras para comunicar algo. 
 
 
 
As figuras acima nos comunicam sua mensagem através da linguagem verbal (usa palavras para 
transmitir a informação). 
 
- Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as palavras. Dentre 
elas estão: a linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a linguagem corporal, uma figura, a 
expressão facial, um gesto, etc. 
 
 
 
Essas figuras fazem uso apenas de imagens para comunicar o que representam. 
 
A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais que possibilitam 
que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e 
compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portuguesa. 
A língua possui um caráter social: pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre 
ela. Cada membro da comunidade pode optar por esta ou aquela forma de expressão. Por outro lado, 
não é possível criar uma língua particular e exigir que outros falantes a compreendam. Dessa forma, cada 
indivíduo pode usar de maneira particular a língua comunitária, originando a fala. A fala está sempre 
condicionada pelas regras socialmente estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para 
permitir um exercício criativo da comunicação. Um indivíduo pode pronunciar um enunciado da seguinte 
maneira: 
 
A família de Regina era paupérrima. 
 
Outro, no entanto, pode optar por: 
 
A família de Regina era muito pobre. 
 
As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às diversas manifestações da fala de cada um. 
Note, além disso, que essas manifestações devem obedecer às regras gerais da língua portuguesa, para 
não correrem o risco de produzir enunciados incompreensíveis como: 
 
Família a paupérrima de era Regina. 
 
Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação distintos. A escrita 
representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea, abrange a 
comunicação linguística em toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas 
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vezes por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é apenas a representação da língua 
falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, 
as mímicas e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas 
existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se: 
 
- Fatores Regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante da região 
nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há variações no uso 
da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um 
cidadão que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado. 
- Fatores Culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo também são fatores 
que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de uma 
maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola. 
- Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos: 
quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos 
discursando em uma solenidade de formatura. 
- Fatores Profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas formas de 
língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso 
praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e 
da informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas. 
- Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais, como idade e 
sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-se em linguagem 
infantil e linguagem adulta. 
 
Fala 
 
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a 
manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua 
necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente sociocultural em que 
vive, etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos mais variados 
níveis da fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é 
por isso que somos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem 
sempre a linguagem delas seja exatamente como a nossa. 
Devido ao caráter individual da fala, é possível observar alguns níveis: 
 
- Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente 
em situações informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preocupamos em 
saber se falamos de acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela língua. 
- Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente utilizado pelas pessoas em situações formais. 
Caracteriza-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras gramaticais 
estabelecidas pela língua. 
 
Signo 
 
É um elemento representativo que apresenta dois aspectos: o significado e o significante. Ao escutar 
a palavra “cachorro”, reconhecemos a sequência de sons que formam essa palavra. Esses sons se 
identificam com a lembrança deles que está em nossa memória. Essa lembrança constitui uma real 
imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que é o significante do signo “cachorro”. Quando 
escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, 
orelhas, etc. Esse conceito que nos vem à mente é o significado do signo “cachorro” e também se 
encontra armazenado em nossa memória. 
Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer às regras gramaticais 
convencionadas pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar o artigo indefinido “um” 
diante do signo “cachorro”, formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não seria possível se 
quiséssemos colocar o artigo “uma” diante do signo “cachorro”. A sequência “uma cachorro” contraria 
uma regra de concordância da língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os 
signos que constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de 
uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como também o uso adequado de suas regras 
combinatórias. 
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Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e significante. 
Significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + Significante (é a 
imagem sonora, a forma, a parte concreta dosigno, suas letras e seus fonemas). 
Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que obedecem às regras gramaticais. 
Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade de expressão 
e compreensão. 
 
Estudo do Significado 
 
O papel essencial da linguagem, em quaisquer das suas formas, é a produção de significado: ao se 
relacionar com as coisas, o homem faz uso de sinais que as representam. 
A linguagem pode ser usada pelo homem para múltiplas finalidades: para ajudá-lo a compreender a si 
mesmo, o mundo físico e as pessoas que o rodeiam, para influenciar o outro e até para trapacear, fingindo 
uma intenção para esconder outra. A linguagem pode também manifestar-se sob grande variedade de 
formas: 
- Sons produzidos pela voz (linguagem verbal) 
- Cores, formas e volumes (linguagem visual) 
- Movimentos do corpo (linguagem corporal, dança) 
- Sons produzidos por instrumentos (linguagem musical) 
- Imagens em movimento (cinema), etc. 
Para resumir, costumamos distinguir duas grandes divisões para definir as formas de linguagem: 
 
- Linguagem Verbal: mais especificamente constituída pela língua, seja ela oral, seja escrita. 
- Linguagens não-verbais: constituídas por todas as outras modalidades diferentes da língua: pintura, 
escultura, música, dança, cinema, etc. 
 
Hoje em dia, graças, sobretudo à facilidade de reprodução de sons, cores, movimentos e imagens, é 
muito comum a exploração conjunta de várias formas de linguagem: a linguagem do cinema e da televisão 
é uma demonstração eloquente da exploração conjunta de sons musicais e da voz humana, de cores, de 
imagens em movimento. 
Qualquer que seja a forma de manifestação, toda linguagem tem um ponto em comum: nenhuma opera 
com a realidade tal que ela é, mas com representações da realidade. Dizendo de outra maneira, toda 
linguagem é constituída de signos. E o que são signos? 
Signos são qualquer forma material (sons, linhas, cores, volumes, imagens em movimento) que 
representam alguma coisa diferente dela mesma. Em outras palavras, todo signo é constituído de algo 
material, perceptível pelos órgãos dos sentidos (ouvido, olho) e de algo imaterial, uma representação 
mental, inteligível. A dimensão material do signo costuma ser designada por dois nomes: plano de 
expressão ou significante. 
A dimensão imaterial e inteligível é chamada por dois nomes: plano de conteúdo ou significado. Por 
uma questão de simplificação, usaremos a seguinte nomenclatura: 
 
Signo: qualquer tipo de sinal material usado para representar algo, isto é, tornar presente alguma 
coisa ausente. 
 
Uma árvore plantada no bosque não é um signo, porque não passa de uma árvore, não representa 
nada além de si mesma. Prova disso é que não podemos trazer para este livro a árvore real, apenas uma 
representação dela, formada de cores e formas sobre uma superfície de papel. 
Que o signo não passa de representação da realidade é um tema que tem sido objeto de debate entre 
os homens. O célebre pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967), pintou um cachimbo com 
requintes de pormenores, dando a máxima impressão de realismo. Surpreendentemente, num jogo de 
ironia, escreveu abaixo da pintura a frase Ceci n’est pás une pipe (“Isto não é um cachimbo”). 
Aos que o contestavam, achando absurda a ideia de negar que aquilo fosse um cachimbo, conta-se 
que ele desafiava: 
 
__ Então acenda-o e comece a fumá-lo. 
 
Após essas considerações, vamos fazer duas observações de ordem terminológica: 
- a representação do cachimbo é um signo do cachimbo, não o objeto cachimbo; 
- ao objeto chamamos de referente, ou a coisa real. 
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Podemos, então, após esses dados, montar um esquema daquilo que os estudiosos chamam de signo: 
 
Signo: é qualquer objeto, forma ou fenômeno material que representa a ideia de algo diferente dele 
mesmo. 
 
Assim sendo, o signo apresenta três dimensões: 
 
- Significante (ou plano de expressão): é a parte material do signo (um objeto, uma forma ou um 
fenômeno perceptível pelos sensores do corpo humano). 
- Significado (ou plano de conteúdo): é o conceito, ou a forma mental criada no intelecto pelo 
significante. 
- Referente: é a coisa representada pelo signo. É dado de realidade trazido à mente por meio do signo. 
 
São os signos que nos permitem trazer para a lembrança referentes que já deixaram de existir. As 
palavras, por exemplo, são signos e, por meio delas, podemos trazer para o presente pessoas e fatos 
que já desapareceram. Tomemos, por exemplo, uma palavra como Camões. 
Trata-se de um signo, pois o referente (o poeta em carne e osso) não existe mais. Significante: uma 
conjunto de sons, representado pelo espectro de uma onda sonora. Significado: o conceito associado no 
intelecto quando ouvimos essa combinação de sons. O referente é o famoso poeta português Luís Vaz 
de Camões, que, como se sabe, morreu faz tempo. 
Observação: A rigor, não é exato usar um retrato de Camões para ilustrar o significado da palavra 
Camões, pois este, na verdade, é de instância intelectual. Excluindo esse inconveniente, a pintura, serve 
para sugerir o conceito que a combinação de sons (k – a – m – õ – e – s) cria no nosso intelecto. 
A conclusão mais importante de tudo isso é que usamos os signos no lugar das coisas e, pela 
linguagem, construímos um universo paralelo ao universo real. Se levarmos em conta que as relações 
entre os homens são determinadas mais pelas representações que fazemos das coisas do que pelas 
coisas em si, vamos compreender que interpretar e produzir significados é a competência de maior 
importância para quem deseja dominar os segredos da linguagem. 
Relacionando o aprendizado do português com esses dados preliminares, podemos encadear os 
seguintes raciocínios: 
- A principal função de qualquer forma de linguagem é a construção de significados para atingir certos 
resultados planejados pelo construtor. 
- O português é uma forma de linguagem. 
- Portanto a competência mais importante para os falantes da língua portuguesa é saber construir 
significados e decifrar os significados produzidos por meio dela. 
 
Esse é um dado de extrema importância tanto para quem ensina quanto para quem aprende não só o 
português como qualquer outra língua, com o propósito de usá-la para o mundo do trabalho, para o 
exercício da cidadania e para aquisição de novos conhecimentos. 
Para quem aprende uma língua com esse tipo de interesse, o que mais importa é adquirir a capacidade 
de compreender, com a máxima proficiência, os significados direcionados para atingir os resultados 
programados. 
Resumindo tudo, para quem estuda uma língua do ponto de vista de quem vai conviver e trabalhar 
com ela, o que mais importa é a capacidade de produzir e compreender significados. 
Todos os demais tipos de aprendizado linguístico estão subordinados a essas duas competências mais 
amplas e mais altas. 
A Semântica é um ramo da Linguística que se ocupa do significado das formas linguísticas em geral. 
Por formas linguísticas vamos entender tanto as mínimas unidades de significado constituintes das 
palavras (os prefixos e sufixos, por exemplo) quanto enunciados maiores, como orações e períodos. 
Analisar, pois, uma palavra ou uma frase sob o ponto de vista semântico equivale a tentar decifrar o que 
elas significam ou o que querem dizer. 
Dado que a finalidade última de qualquer linguagem é a produção de significado, não é preciso 
destacar a importância fundamental da Semântica dentro dos estudos linguísticos. Nem é preciso também 
falar da importância desse tópico nas provas de concursos na matéria de língua portuguesa em geral. 
Para facilitar a compreensão de certas particularidades relativas ao significado das palavras e das 
formas linguísticas em geral,

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