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DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com AULA 6 – Os direitos de personalidade Os direitos de personalidade tem uma perspectiva civil constitucional. Embora sejam um avanço do Código de 2002 tiveram sua previsão da CF/88 quando previu os direitos e garantias fundamentais. As garantias são genéricas, mas também necessárias ao ser humano para (re) conhecimento individual, respeito e exercício de cidadania (O art. 5o da CF consagrou cláusulas pétreas que são os direitos fundamentais). Três são os princípios constitucionais intrínsecos à análise dos direitos de personalidade: Dignidade humana, solidariedade social e igualdade (TEPENDIDO, 2015) Assim, temos: Enunciado n. 274, IV JDC: Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. 1. CONCEITO DE DIREITOS DA PERSONALIDADE Direitos de personalidade dizem-se as faculdades jurídicas cujo o objeto são diversos aspectos da própria pessoa do sujeito, bem assim da sua projeção essencial no mundo exterior (FRANÇA, 2015) São direitos subjetivos da pessoa defender o que lhe é próprio ou seja, sua integridade física, intelectual e moral (DINIZ, 2016) Então podemos dizer que os direitos de personalidades são aqueles inerentes a pessoa e à sua dignidade (art. 1, III, CF/88) sendo eles subjetivos e atinentes a toda a construção do ser humano defendendo sua integridade física, intelectual e moral. Podemos, dividi-los em cinco grandes categorias: ü Vida de integridade físico-psíquica; ü Nome da pessoa natural e jurídica1 (com proteções legais específicas) ü Imagem (retrato –reprodução corpórea ou atributo – repercussão social da imagem) ü Honra (subjetiva- autoestima ou objetiva repercussão social da honra) ü Intimidade (inviolável) 1 Pessoa jurídica também tem direito de personalidade vide Súmula 227, STJ. “Súmula: 227 A pessoa jurídica pode sofrer dano DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com Há outros direitos de personalidade que não estão positivados, no entanto, já foram reconhecidos pela doutrina e pelo judiciário como aplicabilidade do direito civil constitucionalizado ou horizontalidade de direitos fundamentais como por exemplo direito à opção sexual (termos pejorativos e negação de direitos) e direito ao esquecimento2 (não veiculação midiática ou das novas tecnologias de informação sobre acontecimentos – crimes ou não- da pessoa) Ex.: Xuxa, Chacina da Candelária, Linha Direta, ...3 Vale ressaltar o Enunciado n. 139, III JDC: “Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes”. 2 Enunciado 531, VI JDC: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. Enunciado 576, VII JDC: O direito ao esquecimento pode ser assegurado por tutela judicial inibitória. 3 STJ reúne julgados sobre a questão do direito ao esquecimento (2013) O STJ divulgou neste domingo, 20, matéria especial acerca do direito ao esquecimento. No texto, são abordados os casos da Chacina da Candelária (REsp 1.334.097) e de Aída Curi (REsp 1.335.153), em que este direito foi evocado. No primeiro caso, a 4ª turma do STJ reconheceu o direito ao esquecimento para um homem inocentado da acusação de envolvimento na chacina da Candelária, que anos depois de absolvido foi retratado pelo programa Linha Direta, da TV Globo. Já no segundo caso, a mesma 4ª turma negou direito de indenização aos familiares de Aída Curi, por entender que, neste caso, "o acolhimento do direito ao esquecimento, com a consequente indenização, consubstancia desproporcional corte à liberdade de imprensa, se comparado ao desconforto gerado pela lembrança". Chacina da Candelária A 4ª turma do STJ reconheceu o direito ao esquecimento para um homem inocentado da acusação de envolvimento na chacina da Candelária, que anos depois de absolvido foi retratado pelo programa Linha Direta, da TV Globo. Ele foi apontado como coautor da chacina da Candelária. No recurso, o homem sustentou que recusou pedido de entrevista feito pela TV Globo, mas mesmo assim o programa veiculado em junho de 2006 citou-o como um dos envolvidos na chacina, posteriormente absolvido. Ele ingressou na Justiça com pedido de indenização, sob o argumento de que sua citação no programa levou a público, em rede nacional, situação que já havia superado, reacendendo na comunidade onde reside a imagem de chacinador e o ódio social, e ferindo seu direito à paz, anonimato e privacidade pessoal. Alegou, ainda, que foi obrigado a abandonar a comunidade para preservar sua segurança e a de seus familiares. Ao analisar a ação, a 4ª turma entendeu que o réu condenado ou absolvido pela prática de um crime tem o direito de ser esquecido, pois se os condenados que já cumpriram a pena têm direito ao sigilo da folha de antecedentes e à exclusão dos registros da condenação no instituto de identificação, por maiores e melhores razões aqueles que foram absolvidos não podem permanecer com esse estigma, conferindo-lhes a lei o mesmo direito de serem esquecidos. Concluiu, ainda, que a ocultação do nome e da fisionomia do autor da ação não macularia sua honra nem afetaria a liberdade de imprensa. A sentença então foi mantida e a emissora ao pagamento de indenização no valor R$ 50 mil. Caso Aída Curi A história desse crime foi apresentada no programa Linha Direta com a divulgação do nome da vítima e de fotos reais, o que, segundo seus familiares, trouxe a lembrança do crime e todo sofrimento que o envolve. Os irmãos da vítima então entraram com ação contra a emissora com o objetivo de receber indenização por danos morais, materiais e à imagem. Por maioria de votos, o STJ entendeu que, nesse caso, o crime era indissociável do nome da vítima. Isto é, não era possível que a emissora retratasse essa história omitindo o nome da vítima. Segundo os autos, a reportagem só mostrou imagens originais de Aída uma vez, usando sempre de dramatizações, uma vez que o foco da reportagem foi no crime e não na vítima. Assim, a turma decidiu que a divulgação da foto da vítima, mesmo sem consentimento da família, não configurou abalo moral indenizável. Mesmo reconhecendo que a reportagem trouxe de volta antigos sentimentos de angústia, revolta e dor diante do crime, que aconteceu quase 60 anos atrás, a turma entendeu que o tempo, que se encarregou de tirar o caso da memória do povo, também fez o trabalho de abrandar seus efeitos sobre a honra e a dignidade dos familiares. Esquecimento na internet O direito ao esquecimento tem sido abordado na defesa dos cidadãos diante de invasões de privacidade pelas mídias sociais, blogs, provedores de conteúdo ou buscadores de informações. O instituto vem ganhando contornos mais fortes em razão da facilidade de circulação e de manutenção de informação pela internet, capaz de proporcionar superexposição de boatos, fatos e notícias a qualquer momento, mesmo que decorrido muito tempo desde os atos que lhes deram origem. Autor do enunciado 531, o promotor de Justiça do RJ Guilherme Magalhães Martins explica que o direito ao esquecimento não se sobrepõe ao direito à liberdade de informação e de manifestação de pensamento, mas ressalta que há limites paraessas prerrogativas. O promotor ainda esclarece que, apesar de não ter força normativa, o enunciado 531 remete a uma interpretação do CC referente aos direitos da personalidade, ao afirmar que as pessoas têm o direito de ser esquecidas pela opinião pública e pela imprensa. Parâmetros que serão fixados e orientados pela ponderação de valores, de modo razoável e proporcional, entre os direitos fundamentais e as regras do CC sobre proteção à intimidade e à imagem, de um lado, e, de outro, as regras constitucionais de vedação à censura e da garantia à livre manifestação do pensamento. (Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI188685,61044- STJ+reune+julgados+sobre+a+questao+do+direito+ao+esquecimento > DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com 2. TÉCNICAS DE PONDERAÇÃO A técnica da ponderação consiste em técnica de decisão judicial diante de casos essencialmente difíceis, principalmente em discussões acerca do princípio da proporcionalidade e do conteúdo múltiplo dos direitos fundamentais. A ponderação de princípios é utilizada em casos de difícil solução (hard cases) no judiciário sendo previsto inclusive no Novo Código de Processo Civil (art. 489) como possibilidade tangível desde que justificado os critérios gerais da ponderação. Vale ressaltar que não há hierarquia entre os princípios, deverá ser analisado o caso para verificar quais princípios deverão ser sopesados a fim de atender a justiça. Para Alexy temos três premissas que deverão ser analisadas: a) Primeira: os direitos fundamentais são mandamentos de otimização; b) Segunda: Comprometimento com valores constitucionais c) Terceira: Argumentação jurídica sólida para a decisão não ser arbitrária e irracional. Outrossim, a técnica de ponderação sofre críticas como de Lênio Streck que entende ser necessária a ponderação mas a falta de limite nas ponderações poderia gerar uma possível insegurança jurídica. 3. CARACTERÍSTICAS4 ü Absolutos: Oponibilidade erga omnes 4 Um ex-participante do programa Big Brother Brasil perdeu ação na Justiça contra a REDE TV! SÃO PAULO, em que a acusava de ataques morais que o teriam feito perder o prêmio de R$ 1 milhão. A decisão é do juiz da 18ª vara Cível de Brasília/DF e cabe recurso. O autor afirmou que participou do BBB 7, na Rede Globo de Televisão, em que passou a ser visto como o favorito ao prêmio pelo público externo e pelos demais participantes. Segundo ele, a empresa ré iniciou ataques à sua pessoa até desacreditá-lo perante a opinião pública, o que eliminou suas chances de ganhar o prêmio. Os ataques teriam sido feitos no programa "A Tarde é Sua". O autor sustentou ainda que as calúnias e difamações feitas no programa da ré fizeram com que ele perdesse o emprego na Administração da Santa Casa, em Belo Horizonte/MG, após ser eliminado do programa. Ele pediu que a REDE TV! fosse condenada a indenizá-lo por danos morais em R$ 1 milhão. A ré contestou, sob o argumento de que o autor, ao participar do reality show, concordou com a exposição total de sua vida pessoal, profissional e familiar. Para a REDE TV!, o autor se expôs, consequentemente, aos comentários, críticas e opiniões públicas. A ré alegou que vários meios de comunicação utilizaram o termo "vilão", o que demonstra que a imagem foi criada pelo próprio autor, pelos atos praticados no jogo. A REDE TV! afirmou ainda que a apresentadora do referido programa, em vários momentos, deixou claro que as críticas e opiniões diziam respeito às atitudes dos participantes dentro do programa e não sobre a pessoa fora do confinamento. Na sentença, o juiz entendeu que o autor não tem razão, pois os argumentos utilizados por ele não encontraram respaldo nas provas produzidas. "Não obstante possa verificar um prejuízo material ou até imaterial, exige-se que o resultado favorável seja de razoável ocorrência, não se tratando de mera possibilidade", explicou o magistrado. De acordo com a doutrina trazida pelo julgador, a perda de uma chance só seria indenizável se houvesse a possibilidade de sucesso superior a 50%. "Ora, a probabilidade de o autor vencer o jogo, tendo em vista que se tratava de 16 participantes, era bem inferior a 50%", afirmou o juiz. Quanto à alegação de que a ré denegriu a honra e a imagem do autor, o juiz também não entendeu como verdadeira. Para o magistrado, a apresentadora do programa cuidou de se ater apenas às disputas do reality show. "Não há o dever, pelos demais meios de comunicação, de abstenção de realizar comentários acerca do reality show, pois, caso contrário, atentar-se-ia contra a livre manifestação do pensamento e a livre iniciativa", concluiu o juiz. O magistrado julgou improcedente o pedido do autor e o condenou a pagar as custas processuais e os honorários advocatícios, fixados em R$ 700. Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI135347,71043- TJDF+ExBBB+perde+acao+de+danos+morais+contra+canal+de+televisao > DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com ü Gerais: são outorgados a todas as pessoas, simplesmente pelo fato de existirem. ü Indisponíveis: A indisponibilidade significa que nem por vontade própria do indivíduo o direito pode mudar de titular. ü Imprescritíveis: inexiste um prazo para seu exercício, não se extinguindo pelo não uso ü Impenhoráveis: o próprio direito da personalidade não é penhorável, mas as vantagens verificadas pela disposição válida de alguns deles, pode ser objeto de penhora. ü Intransmissíveis5: Não admite alteração dos sujeitos nas relações genéricas de direito privado. Não se admite a cessão do direito de um sujeito para outro. Não quer dizer, que não se possa ter cunho negocial da imagem...mas o exercício do direito é somente daquele que detém as prerrogativas. ü Irrenunciáveis: traduz a ideia de que os direitos personalíssimos não podem ser abdicados. ü Extrapatrimoniais: ausência de um conteúdo patrimonial direito, aferível objetivamente, ainda que sua lesão gere efeitos econômicos. Ex.: direitos autorais (que dividem-se em morais e patrimoniais). ü Vitalícios: são adquiridos no instante da concepção e acompanham a pessoa até sua morte. Assim, temos: 4. TUTELA GERAL DA PERSONALIDADE Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. 5 Enunciado n. 4, IJDC: “O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente e geral” Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com Temos dois princípios retirados desse artigo: ü Princípio da Prevenção Enunciado n. 140, III JDC: “A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo”. Desse modo, cabe o pedido (obrigação de fazer e não fazer que iremos aprofundar do próximo direitocivil) de astreintes (multa) a ser aplicada de ofício pelo magistrado (ex officio) ü Princípio da Reparação Integral de danos Súmula 37 do STJ (1992) “ São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. Súmula 387 do STJ (2009) “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.” Súmula 403 do STJ (2009) “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Enunciado n. 587, VII JDC: “O dano à imagem restará configurado quando presente a utilização indevida desse bem jurídico, independentemente da concomitante lesão a outro direito da personalidade, sendo dispensável a prova do prejuízo do lesado ou do lucro do ofensor para a caracterização do referido dano, por se tratar de modalidade de dano in re ipsa.” Outrossim, o parágrafo único reconhece direitos da personalidade ao morto6, cabendo a legitimidade 7 para ingressar com a ação correspondente os lesados indiretos : cônjuge, ascendentes, descendentes e colaterais até 4o grau. Por analogia aplica-se também ao companheiro ou convivente conforme Enunciado n. 275 “O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro”. Chama-se de dano indireto ou dano ricochete, uma vez que o dano atinge e repercute em seus familiares. O que se discute é acerca da legitimidade dos colaterais até 4o grau, haja vista que o art. 20, parágrafo único não os elenca, por tal motivo temos o Enunciado n. 5, IJDC: “Arts. 12 e 20: 1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de 6 Enunciado n. 400, V JDC: “Os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito próprio, aos parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão perpetrada post mortem.” 7 Enunciado n. 398, V JDC: Art. 12, parágrafo único. As medidas previstas no art. 12, parágrafo único, do Código Civil podem ser invocadas por qualquer uma das pessoas ali mencionadas de forma concorrente e autônoma. DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.” Art. 12, parágrafo único, CC/2002 Art. 20, parágrafo único, CC/2002 Lesão a direitos de personalidade do morto Lesão à imagem do morto Legitimados pela norma: ascendentes, descendentes, cônjuge e colaterais até 4o grau. Legitimados pela norma: ascendentes, descendentes e cônjuge. Exemplos: Os mais atuais e pertinentes tangem a biografias não-autorizadas e livros acerca de pessoas públicas como Garrincha, Lampião. 5. DIREITOS DA PERSONALIDADE VOLTADOS A INTEGRIDADE FÍSICA Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte8. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Art. 159. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. • Enunciado n. 6 da I JDC: “Art. 13: A expressão “exigência médica” contida no art. 13 refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente.” • Enunciado n. 276, IV JDC: “Art. 13: O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil.” • Enunciado n. 401, V JDC: “Art. 13: Não contraria os bons costumes a cessão gratuita de direitos de uso de material biológico para fins de pesquisa científica, desde que a manifestação de vontade tenha sido livre, esclarecida e puder ser revogada a qualquer tempo, conforme as normas éticas que regem a pesquisa científica e o respeito aos direitos fundamentais.” • Enunciado n. 532, VI JDC: “É permitida a disposição gratuita do próprio corpo com objetivos exclusivamente científicos, nos termos dos arts. 11 e 13 do Código Civil.10” 8 Deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica e depende de autorização de parente maior, da linha reta ou colateral até 2o grau, ou do cônjuge sobrevivente, mediante documento escrito perante duas testemunhas (art. 4o da Lei 9.434/1997 e Lei 10.211/2001) – Princípio do Consenso afirmativo 9 Princípio da Beneficência e da não maleficência. 10 Justificativa: Pesquisas com seres humanos vivos são realizadas todos os dias, sem as quais não seria possível o desenvolvimento da medicina e de áreas afins. A Resolução CNS n. 196/96, em harmonia com o Código de Nuremberg e com a Declaração de Helsinque, dispõe que pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil somente podem ser DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com • Enunciado n. 277, IV JDC: “O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.” • Enunciado n. 402, V JDC: “Art. 14, parágrafo único: O art. 14, parágrafo único, do Código Civil, fundado no consentimento informado, não dispensa o consentimento dos adolescentes para a doação de medula óssea prevista no art. 9o, § 6o, da Lei n. 9.434/199711 por aplicação analógica dos arts. 28, § 2o (alterado pela Lei n. 12.010/2009), e 45, § 2o, do ECA.” • Enunciado n. 533, VI JDC: “O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos.” 6. DIREITOS DA PERSONALIDADE VOLTADOS AO NOME, SINAL OU PSEUDÔNIMO Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. a) Elementos: prenome (nome próprio); sobrenome, apelido ou patronímico (origem da família ou reconhecimento social); partícula (da, do, dos...) e agnome (visa perpetuar um nome existente Filho, Neto, ...)realizadas mediante aprovação prévia de um Comitê de Ética em Pesquisa - CEP, de composição multiprofissional, e com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -TCLE pelo participante da pesquisa, no qual devem constar informações claras e relevantes acerca do objeto da pesquisa, seus benefícios e riscos, a gratuidade pela participação, a garantia de reparação dos danos causados na sua execução e a faculdade de retirada imotivada do consentimento a qualquer tempo sem prejuízo para sua pessoa. 11 Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. § 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde. DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com b) Possibilidades de alteração: substituição de nome que expõe a pessoa ao ridículo ou a embaraços inclusive em casos de homonímias; por erro crasso de grafia; adequação de sexo; introdução de alcunhas ou cognomes (Xuxa, Lula, Pelé,...); introdução do nome do cônjuge ou companheiro; introdução do nome de origem familiar e entendimento jurisprudencial abarca também o remoto (consanguíneo, afetivo/multiparental ou legal); tradução de nomes estrangeiros; havendo coação ou ameaça decorrente da colaboração com apuração de crime; nos casos de abandono afetivo excluindo-se o nome do genitor. Conforme a Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973) Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. Enunciado 278, IV JDC: A publicidade que divulgar, sem autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da personalidade. 7. DIREITOS DA PERSONALIDADE VOLTADOS À IMAGEM12 Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. 12 Não exclui o direito à informação e à liberdade da expressão. Enunciado n. 279, IV JDC: “A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.” DIREITO CIVIL I Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa profcarol.vargas@gmail.com Em outras palavras: Para a utilização da imagem de outrem é necessária autorização, sob pena de aplicação dos princípios de prevenção e da reparação integral de danos. A autorização é dispensável se a pessoa interessar à ordem pública ou à administração da justiça. Lembrem-se da diferença entre imagem-retrato e imagem- atributo 8. DIREITOS DA PERSONALIDADE VOLTADOS À INTIMIDADE Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. De qualquer forma, esse direito não é absoluto, devendo ser ponderado com outros direitos, sobretudo constitucionais. O desafio atual não está na sua afirmação, mas na sua efetividade, em tempos líquidos e de alta tecnologia e rapidez de informações constantemente a vida privada é violada sistematicamente além do que ainda fica difícil aferir o que é vida privada e o que é intimidade. Ex.: e-mails corporativos, senhas de redes sociais entre casais, aplicativos e redes sociais, aplicativos de localização ... Em havendo lesão ou excesso, caberá medida judicial, devendo o Poder Judiciário adotar medidas visando impedir ou cessar a lesão (reparação material e moral). Enunciado n. 404, V JDC: Art. 21. A tutela da privacidade da pessoa humana compreende os controles espacial, contextual e temporal dos próprios dados, sendo necessário seu expresso consentimento para tratamento de informações que versem especialmente o estado de saúde, a condição sexual, a origem racial ou étnica, as convicções religiosas, filosóficas e políticas. Enunciado n. 405, V JDC: Art. 21. As informações genéticas são parte da vida privada e não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram seu armazenamento, registro ou uso, salvo com autorização do titular. E por fim: O direito de personalidade segundo STF não apaga o passado!
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