Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTABILIDADE AVANÇADA CHARLINE BARBOSA PIRES (org.) HELEN CRISTINA STEFFEN LUCIANA ARENHART MENEGAT SABRINA TREJES MARENGO Editora Unisinos, 2014 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – Demonstração dos fluxos de caixa Capítulo 2 – Fusão, cisão e incorporação de empresas Capítulo 3 – Demonstrações contábeis consolidadas Capítulo 4 – Demonstração do valor adicionado (DVA) APRESENTAÇÃO Este livro dá continuidade à discussão dos conceitos e técnicas contábeis já abordados nas atividades acadêmicas Contabilidade Introdutória, Contabilidade Básica e Contabilidade Intermediária I e II. Desta forma, destina-se, especialmente, aos alunos da disciplina de Contabilidade Avançada do curso de graduação em Ciências Contábeis. Este livro está estruturado de forma que, ao concluir o semestre, o aluno tenha conhecimentos sobre: (a) demonstração dos fluxos de caixa; (b) operações que envolvem fusão, cisão, incorporação, liquidação e dissolução de empresas; (c) consolidação das demonstrações contábeis; e (d) demonstração do valor adicionado. Cabe destacar que esta obra aborda as atualizações sofridas pela Lei nº 6.404/1976 até a presente data, bem como os Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) pertinentes ao tema e que foram transformados em Normas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) (de aplicação obrigatória pelos profissionais da contabilidade) e em Deliberações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), bem como recepcionados por outros órgãos reguladores. Os autores CAPÍTULO 1 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA Luciana Arenhart Menegat1 Este capítulo apresenta a demonstração dos f luxos de caixa, conhecida como DFC, que evidencia a capacidade de uma empresa gerar caixa e equivalentes de caixa. Inicialmente, são introduzidos os conceitos dessas três atividades: operacionais, de investimentos e de f inanciamentos. Discutidos tais temas, será elaborada uma DFC pelo método direto e, após, uma DFC pelo método indireto, comparando-se as duas metodologias e evidenciando-se suas semelhanças e diferenças. 1.1 Introdução A demonstração dos fluxos de caixa (DFC) substituiu a DOAR (demonstração das origens e aplicações de recursos), com base na Lei nº 11.638/2007, que modificou a Lei nº 6.404/1976, seguindo a tendência do resto do mundo e para atender as necessidades de investidores e analistas de mercado. A DFC tem por objetivo evidenciar a capacidade de uma empresa gerar caixa e equivalentes de caixa, que correspondem às suas disponibilidades durante o período analisado. Apesar de a DOAR fornecer informações mais detalhadas sobre as variações do capital circulante líquido, foi substituída pela DFC que utiliza conceitos mais simples, permitindo um melhor entendimento das informações por parte de seus usuários. Já a demonstração do resultado do exercício (DRE) fornece informações mais completas sobre o desempenho de uma empresa, mas possui certas limitações por ser elaborada conforme o regime de competência. Então, para que seja possível evidenciar, em cada período, as modificações do caixa ou dos equivalentes de caixa é usada a DFC. A DFC permite aos usuários avaliarem modificações nos ativos líquidos, na estrutura financeira (incluindo índices, por exemplo, de liquidez e de solvência). Assim, é possível comparar os modelos de fluxos de caixa atuais com seus fluxos de caixa projetados, realizando eventuais adaptações conforme as circunstâncias e oportunidades. Essa demonstração também propicia comparar o desempenho operacional entre mais de uma empresa, uma vez que elimina tratamentos contábeis diferenciados. O Pronunciamento Técnico Contábil CPC 03 (R2), que dispõe sobre a DFC, evidencia alguns conceitos fundamentais para entender e elaborar essa demonstração. Indica que as informações da DFC são usadas para mostrar valor, época e grau de segurança na projeção de fluxos de caixa futuros, permitindo avaliar os níveis de exatidão das projeções realizadas no passado. O artigo 188, da Lei nº 11.638/2007, determina que a DFC evidencie as modificações ocorridas, no mínimo, nos fluxos das operações, dos financiamentos e dos investimentos por meio dos recebimentos e pagamentos de caixa. O artigo 176, § 6º, dessa lei elimina a obrigatoriedade de publicar essa demonstração para as companhias fechadas com patrimônio líquido, na data do balanço patrimonial, inferior a dois milhões de reais. 1.2 Caixa e equivalentes de caixa Caixa são os valores em espécie e os depósitos bancários disponíveis. Equivalentes de caixa representam as aplicações financeiras de curto prazo e de alta liquidez, podendo ser facilmente transformadas em caixa e com risco muito pequeno de modificar seus valores. Segundo o CPC 03 (R2), os equivalentes de caixa são constituídos com o objetivo de garantir o pagamento dos compromissos assumidos no curto prazo e, em geral, não incluem investimentos. Para um investimento ser considerado equivalente de caixa, deve estar sujeito à conversão de forma imediata em caixa e apresentar insignificante risco de modificar seu valor. Assim, seu vencimento deve ser no curto prazo, ou seja, com prazo igual ou inferior a três meses após a data de sua aquisição. Por essa razão, normalmente, os investimentos em ações devem ser excluídos dos equivalentes de caixa, exceto quando, por exemplo, forem ações preferenciais com prazo definido de resgate, contemplando os critérios de curto prazo. Em geral, os empréstimos bancários são considerados atividades de financiamento. Entretanto, quando decorrentes de cheques especiais, seu pagamento é automático e podem integrar as disponibilidades de uma entidade, uma vez que seu saldo facilmente passa do devedor para o credor. Assim, os saldos bancários a descoberto devem ser considerados equivalentes de caixa, mas o limite não utilizado não participará dos equivalentes de caixa. Eventuais transferências entre caixa e equivalentes de caixas não são considerados fluxos de caixa, uma vez que representam mudanças na gestão financeira de uma entidade e não atividades operacionais. 1.2.1 Exemplos de situações que podem afetar o caixa A seguir serão descritos alguns eventos que podem aumentar as variações do caixa de uma entidade, diminuir ou não interferir nesse contexto. Exemplos de situações que aumentam o caixa a. a integralização de capital pelos sócios ou acionistas, desde que feita em dinheiro, aumentará o caixa da entidade; b. empréstimos e financiamentos representam os recursos financeiros oriundos de instituições financeiras. No momento do ingresso, em dinheiro, haverá um aumento do caixa; c. a venda de um bem do ativo não circulante, no momento do ingresso dos recursos, se for à vista, aumentará o caixa. Exemplos de situações que reduzem o caixa a. pagamento de dividendos aos acionistas; b. pagamento de juros e amortização da dívida contraída; c. compra de ativos imobilizados, investimentos e intangível com o pagamento à vista; d. pagamento das compras de estoques à vista ou dos fornecedores. Exemplos de situações que não afetam o caixa a. depreciação, amortização e exaustão: reduzem o ativo, mas não afetam o caixa; b. acréscimo ou exclusão de investimentos, usando o resultado de equivalência patrimonial. 1.3 Estrutura da DFC A demonstração dos fluxos de caixa está estruturada de modo a classificar os fluxos de caixa em atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos. O s fluxos de caixa evidenciam os recebimentos e pagamentos do caixa e equivalentes de caixa. O enquadramento de uma determinada situação em uma atividade correspondente dependerá de se tratar de uma empresa comercial ou de uma instituição financeira. O CPC 03 (R2) ressalta que, em alguns casos, um único evento pode ser classificado em mais de uma atividade dentro da DFC. Por exemplo, no desembolso decorrente do pagamento de um empréstimo (incluindo os juros eo montante principal), os juros são classificados como atividade operacional, mas o montante principal representa uma atividade de financiamento. O enquadramento do evento na sua respectiva atividade permite aos usuários, no final do período, não só avaliarem o impacto de sua atividade na posição financeira da empresa, no caixa e equivalentes de caixa, bem como analisarem a relação entre as atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos. Para essa classificação, é indispensável compreender o significado de cada atividade conforme descrito a seguir: 1.3.1 Atividades operacionais Atividades operacionais são as operações que geram receitas para a entidade, embora não possam ser classificadas como atividades de investimentos e de financiamentos. As atividades operacionais englobam os fluxos de caixa originados das atividades operacionais da entidade geradoras de receita. A partir delas, a empresa consegue manter sua atividade operacional, avaliar sua capacidade de amortizar empréstimos, pagar dividendos e juros sobre o capital próprio, realizar novos empréstimos e projetar fluxos de caixa operacionais. O CPC 03 (R2) elenca algumas receitas ou despesas, realizadas em espécie ou à vista, que resultarão em valores que modificarão o caixa, por exemplo: títulos ou empréstimos para liquidação imediata ou futura, cujo tratamento é semelhante aos estoques adquiridos para revenda; royalties, honorários, comissões e outras receitas; prêmios de seguros, sinistros, anuidades e outros benefícios descritos em apólices; impostos sobre a renda, exceto quando forem identificados como atividades de financiamento ou de investimento; contratos mantidos para negociação imediata ou disponíveis para venda futura; venda de mercadorias e/ou prestação de serviços; pagamentos de empregados; pagamento de fornecedores. Segundo o CPC 03 (R2), ganhos ou perdas decorrentes de vendas do ativo imobilizado incluídas no lucro líquido ou prejuízo são classificados como atividades de investimento. Já os pagamentos referentes à produção ou compra de ativos para aluguel de terceiros e posterior venda são considerados atividades operacionais. A conciliação entre o lucro líquido e os valores resultantes do fluxo de caixa das atividades operacionais evidencia os efeitos dessas atividades e de outros acontecimentos que possam afetar o lucro líquido e os fluxos operacionais de caixa. 1.3.2 Atividades de investimento Atividades de investimento contemplam a compra ou venda de ativos imobilizados usados na produção, na prestação de serviços ou na manutenção do negócio e de outros investimentos que não pertencem aos equivalentes de caixa. Incluem-se neste grupo os pagamentos e recebimentos relacionados aos ativos imobilizados, intangíveis e financeiros na forma de capital ou de dívidas não classificados como caixa ou equivalentes de caixa, realizados com o objetivo de gerar lucros ou fluxos de caixa de longo prazo. Como exemplos, podem-se citar: aquisição e venda de ativos imobilizados, intangíveis ou outros ativos de longo prazo; recebimento de recursos oriundos de adiantamentos e empréstimos feitos a terceiros, exceto os realizados por instituições financeiras; pagamentos e recebimentos relativos a contratos futuros, a termos, de opção e swap, exceto se considerados atividades de financiamento. Quadro 1 – Estrutura do fluxo de caixa das atividades de investimento Fluxo de caixa das Atividades de Investimento (-) Compra de investimentos, imobilizado e intangível (+) Venda de investimentos, imobilizado e intangível (-) Empréstimos ou adiantamentos de caixa feitos a terceiros (+) Recebimento de empréstimos ou adiantamentos feitos a terceiros (+) Dividendos recebidos Caixa líquido usado nas atividades de investimento Fonte: elaborado pela autora. 1.3.3 Atividades de financiamento Atividades de financiamento modificam o tamanho e a composição do capital próprio e do capital de terceiros de uma empresa, ou seja, respectivamente, o patrimônio líquido e o passivo. Nesse grupo, estão incluídas informações sobre os fluxos de caixa futuros relacionados aos passivos e ao patrimônio líquido da empresa, ou seja, os fornecedores de capital para a empresa. Como exemplos, podem-se citar: recebimentos pela emissão de ações; pagamentos realizados a investidores referentes à compra ou resgate de ações; pagamento de arrendamento mercantil financeiro; emissão de debêntures, notas promissórias, empréstimos, hipotecas e outros valores de curto e longo prazo; amortização de empréstimos. Quadro 2 – Estrutura do fluxo de caixa das atividades de financiamento Fluxo de caixa das Atividades de Financiamento (+) Caixa recebido de f inanciamentos a pagar e debêntures de curto e longo prazo (-) Amortização de empréstimos e f inanciamentos a pagar e debêntures de curto e longo prazo (-) Pagamento de arrendamentos mercantis a pagar (+) Recebimento de integralização de capital (-) Dividendos pagos Caixa líquido usado nas atividades de financiamento Fonte: elaborado pela autora. 1.4 Elaboração da demonstração dos fluxos de caixa A DFC pode ser elaborada a partir: dos registros da conta “caixa” ou do livro caixa; ou das demonstrações financeiras, forma adotada no presente capítulo. Após obter os dados necessários para elaborar seus fluxos de caixa, a empresa pode optar por divulgá-los, usando o método direto ou indireto. A principal diferença entre as duas formas encontra-se na apresentação das atividades operacionais. No método direto, as informações fornecidas são mais completas e detalhadas, já no método indireto, em que há maior simplicidade, são fornecidas menos informações a seus usuários. 1.4.1 Método direto Quando a entidade optar pela utilização do método direto, obrigatoriamente deverá apresentar a conciliação entre o lucro líquido e o fluxo de caixa das atividades operacionais. Na conciliação, a empresa evidenciará os diferimentos, provisões, ajustes do lucro líquido, modificações nos recebíveis relacionados às atividades operacionais, nos estoques e nos respectivos pagamentos. Tabela 1 – Exemplo de DFC elaborada pelo método direto Atividades Operacionais R$ (+) Recebimento de clientes 709.245 (-) Pagamento de fornecedores de estoques - 655.300 (-) Pagamento de impostos sobre vendas - 7.400 (-) Pagamento de despesas de vendas e administrativas - 71.250 (-) Pagamento de despesas f inanceiras - 8.250 (+) Recebimento de receitas f inanceiras 9.600 (+) Dividendos recebidos de sociedades investidas 7.900 (-) Pagamentos de IR e CSLL - 8.545 Caixa líquido proveniente das atividades operacionais - 24.000 Atividades de Investimento (-) Aquisição de ativos imobilizados - 129.000 (+) Valor da venda de ativos imobilizados 22.000 Caixa líquido proveniente das atividades de investimento - 107.000 Atividades de Financiamento (+) Recebimento de empréstimos e f inanciamentos 62.000 (-) Pagamento de empréstimos e f inanciamentos - 38.000 (+) Recebimento de integralização de capital 146.600 (-) Dividendos pagos - 9.600 Caixa líquido proveniente das atividades de financiamento 161.000 Aumento ou redução líquido no caixa e equivalentes 30.000 Caixa e equivalentes de caixa no início do período 70.000 Caixa e equivalentes de caixa no final do período 100.000 Fonte: elaborado pela autora. No exemplo anterior, o aumento líquido no caixa e equivalentes (R$ 30.000) corresponde à soma dos fluxos de caixa das atividades operacionais (R$ ‒24.000), das atividades de investimento (R$ ‒107.000) e das atividades de financiamento (R$ 161.000). O valor do caixa e equivalentes de caixa no início do período (R$ 70.000) e no final do período (R$ 100.000) deve ser o mesmo apresentado no balanço patrimonial do exercício social anterior e no exercício social atual. Algumas empresas optam por classificar os dividendos recebidos como atividades de investimento no lugar de atividades operacionais,conforme apresentado no exemplo anterior. 1.4.2 Elaboração da DFC pelo método direto Após demonstração de exemplo da DFC pelo método direto, segue explicação detalhada de como será realizado cada um dos seus passos. Para uma entidade poder elaborar uma DFC, é necessário usar as demonstrações apresentadas a seguir. Balanço Patrimonial Ativo 31.12.X9 31.12.X8 Passivo 31.12.X9 31.12.X8 Circulante 61.000 55.000 Circulante 68.000 61.500 Caixa 6.000 5.000 Fornecedores 27.500 27.000 Clientes 33.000 30.000 Impostos sobre vendas a pagar 11.500 9.000 Estoques 22.000 20.000 Impostos sobre o lucro a pagar 5.000 4.000 Não Circulante 49.000 45.000 Empréstimos a pagar 22.000 20.000 Realizável longo prazo 12.000 10.000 Dividendos a pagar 2.000 1.500 Imobilizado 37.000 35.000 Patrimônio líquido 42.000 38.500 Total 110.000 100.000 Total 110.000 100.000 Demonstração do Resultado do Exercício 31.12.X9 Receita Bruta de Vendas 180.000 Impostos s/ vendas -18.000 Receita Líquida de Vendas 162.000 Custo das mercadorias vendidas -130.500 Lucro Bruto 31.500 Despesas de vendas e administrativas -11.000 Despesas f inanceiras -1.500 Receitas f inanceiras 500 Depreciações -3.500 Lucro antes IR e CSLL 16.000 IR e CSLL -6.000 Lucro Líquido 10.000 Mutações do Realizável no Longo Prazo Saldo inicial 10.000 Recebimento empréstimos concedidos – LP (500) Empréstimos concedidos a terceiros – LP 2.500 Saldo Final 12.000 Mutações do Imobilizado Saldo inicial 35.000 Depreciação do ano (3.500) Aquisição máquinas 5.500 Saldo Final 37.000 Mutações dos Empréstimos a Pagar Saldo inicial 20.000 Novos empréstimos 4.500 Empréstimos pagos -2.500 Saldo Final 22.000 Mutações do Patrimônio Líquido Saldo inicial 38.500 Lucro do período 10.000 Aumento de capital c/ dinheiro 2.000 Dividendos propostos -8.500 Saldo Final 42.000 A seguir será detalhada a metodologia de cálculo de cada um dos itens que compõem a DFC pelo método direto. 1.4.2.1 Recebimento de clientes É determinado pelo saldo inicial de clientes, adicionando-se as vendas realizadas durante o exercício social e excluindo-se o saldo final dos clientes. Assim, é obtido o saldo efetivamente recebido de clientes referente às suas vendas. Saldo inicial de clientes em 31/12/X8 30.000 (-) Saldo f inal de clientes em 31/12/X9 -33.000 Receita bruta de vendas 180.000 Recebimentos de clientes 177.000 1.4.2.2 Pagamento de fornecedores Para se conhecer o valor pago aos fornecedores, é necessário inicialmente calcular o valor das compras. Para isso, usa-se a seguinte fórmula: CMV (custo da mercadoria vendida) = EI (estoque inicial) + Co (compras) – EF (estoque final) 130.500 = 20.000 + Co – 22.000 Co = 132.500 O valor das compras foi de R$ 132.500. O montante pago aos fornecedores ao longo do exercício pode ser obtido pelo saldo dos fornecedores no final do primeiro exercício, adicionando-se as compras realizadas durante o ano e excluindo-se o saldo final dos fornecedores. Os fornecedores devem incluir apenas os valores referentes aos seus estoques, uma vez que os fornecedores de imobilizados são considerados atividades de investimento. Saldo inicial de fornecedores em 31/12/X8 27.000 Compras realizadas durante X9 132.500 (-) Saldo f inal de fornecedores em 31/12/X9 -27.500 Pagamentos de fornecedores 132.000 Assim, o valor pago aos fornecedores durante o exercício X9 foi de R$ 132.000. 1.4.2.3 Pagamento de impostos sobre vendas Os impostos sobre vendas incluem os que incidem diretamente sobre as vendas, tais como PIS, ISS, ICMS, PIS etc. Impostos sobre vendas (DRE) 18.000 Impostos a pagar sobre vendas em 31/12/X8 9.000 (-) Impostos a pagar sobre vendas em 31/12/X9 -11.500 Pagamento de impostos sobre vendas 15.500 A partir dos dados fornecidos, observa-se que esta entidade pagou R$ 15.500 de impostos sobre vendas durante o exercício de X9. 1.4.2.4 Pagamento das despesas de vendas e administrativas O valor das despesas de vendas e administrativas pagas no período pode ser apurado da seguinte forma: Despesas de vendas e administrativas 11.000 Dívidas referentes a estas despesas em 31/12/X8 0 (-) Dívidas referentes a estas despesas em 31/12/X9 0 Pagamento das despesas de vendas e administrativas 11.000 Neste caso, o valor das despesas de vendas e administrativas encontradas na DRE (R$ 11.000) é igual ao montante pago das respectivas despesas, visto que não existem obrigações desse tipo no início e no fim do exercício social. 1.4.2.5 Pagamento de despesas financeiras O valor pago em função das despesas financeiras pode ser obtido da seguinte maneira: Despesas f inanceiras (DRE) 1.500 Juros a pagar em 31/12/X8 0 (-) Juros a pagar em 31/12/X9 0 (-) Variações monetárias passivas sobre os empréstimos 0 Pagamento de despesas f inanceiras 1.500 Assim, o valor das despesas de vendas financeiras encontradas na DRE (R$ 1.500) é igual ao montante pago das respectivas despesas, visto que não existem dívidas desse tipo no início e no fim do exercício social. 1.4.2.6 Recebimento de receitas financeiras Receitas f inanceiras (DRE) 500 Juros a receber em 31/12/X8 0 (-) Juros a receber em 31/12/X9 0 (-) Variações monetárias ativas sobre os empréstimos 0 Recebimento de receitas f inanceiras 500 Neste caso, o valor das receitas de vendas financeiras encontradas na DRE (R$ 500) é igual ao total recebido dessas receitas, uma vez que não existem saldos em 31/12/X8 e 31/12/X9 de juros a receber e das variações monetárias ativas sobre os empréstimos. 1.4.2.7 Pagamentos de Imposto de Renda e Contribuição Social Imposto de renda e contribuição social (DRE) 6.000 Imposto a pagar sobre o lucro em 31/12/X8 4.000 (-) Imposto a pagar sobre o lucro em 31/12/X9 -5.000 Pagamento de Imposto de Renda e Contribuição Social 5.000 O saldo inicial de impostos a pagar sobre o lucro foi de R$ 4.000 e o saldo no final de 31/12/X9 foi de R$ 5.000, já na DRE o valor do imposto de renda e contribuição social foi de R$ 6.000, resultando no montante pago de imposto de renda e contribuição social durante o ano de X9 de R$ 5.000. 1.4.2.8 Recebimento de contas de longo prazo Recebimento de empréstimos concedidos – LP (mutações do realizável a LP) 500 Contas a receber em 31/12/X8 0 (-) Contas a receber em 31/12/X9 0 Recebimento de contas de longo prazo 500 O recebimento de contas de longo prazo é igual ao valor dos recebimentos de empréstimos concedidos encontrado nas mutações do realizável no longo prazo, uma vez que não há saldos nas contas a receber em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.2.9 Empréstimos concedidos a terceiros – LP Empréstimos concedidos a terceiros – LP (mutações do realizável a LP) 2.500 Empréstimos a receber em 31/12/X8 0 (-) Empréstimos a receber em 31/12/X9 0 Empréstimos concedidos a terceiros – LP 2.500 Os empréstimos concedidos a terceiros de longo prazo são iguais aos empréstimos concedidos encontrados nas mutações do realizável no longo prazo, uma vez que não há saldos em empréstimos a receber em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.2.10 Compras de ativos imobilizados Valor das compras do ativo imobilizado (mutações do ativo imobilizado) 5.500 Fornecedores do imobilizado em 31/12/X8 0 (-) Fornecedores do ativo imobilizado em 31/12/X9 0 Compras de ativos imobilizados 5.500 As compras de ativos imobilizados equivalem às compras do ativo imobilizado encontrado nas mutações do ativo imobilizado, uma vez que não há saldos em fornecedores do imobilizado em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.2.11 Recebimento de empréstimos e financiamentos Valores recebidos (conforme mutações de empréstimos a pagar) 4.500 Os valores recebidos de empréstimos e financiamentos, conforme os dados apresentados nas mutações de empréstimos a pagar, foram de R$ 4.500. 1.4.2.12 Pagamento de empréstimos e financiamentos Valores pagos (conforme mutações de empréstimos a pagar) 2.500 Os valores pagos de empréstimose financiamentos, conforme os dados apresentados nas mutações de empréstimos a pagar, foram de R$ 2.500. 1.4.2.13 Recebimento de integralização de capital Valores recebidos (conforme mutações do patrimônio líquido) 2.000 Os valores recebidos como integralização de capital, conforme as informações das mutações do patrimônio líquido, foram de R$ 2.000. 1.4.2.14 Dividendos pagos Valores propostos durante o exercício (mutações do patrimônio líquido) 8.500 Dividendos a pagar em 31/12/X8 1.500 (-) Dividendos a pagar em 31/12/X9 -2.000 Dividendos pagos 8.000 Os valores propostos durante o exercício, segundo as mutações do patrimônio líquido, foram de R$ 8.500, já o saldo dos dividendos a pagar em 31/12/X8 foi de R$ 1.500 e em 31/12/X9 de R$ 2.000, resultando no valor dos dividendos pagos de R$ 8.000. A partir dos dados apresentados, a DFC pelo método direto terá a seguinte composição: Tabela 2 – DFC elaborada pelo método direto Atividades Operacionais R$ (+) Recebimento de clientes (item 1.4.2.1) 177.000 (-) Pagamento de fornecedores de estoques (item 1.4.2.2) -132.000 (-) Pagamento de impostos sobre vendas (item 1.4.2.3) -15.500 (-) Pagamento de despesas de vendas e administrativas (item 1.4.2.4) -11.000 (-) Pagamento de despesas f inanceiras (item 1.4.2.5) -1.500 (+) Recebimento de receitas f inanceiras (item 1.4.2.6) 500 (-) Pagamentos de IR e CSLL (item 1.4.2.7) -5.000 Caixa líquido proveniente das atividades operacionais 12.500 Atividades de Investimento (+) Recebimento de contas de longo prazo (item 1.4.2.8) 500 (-) Empréstimos concedidos a terceiros – LP (item 1.4.2.9) -2.500 (-) Aquisição de ativos imobilizados (item 1.4.2.10) -5.500 Caixa líquido proveniente das atividades de investimento -7.500 Atividades de Financiamento (+) Recebimento de empréstimos e f inanciamentos (item 1.4.2.11) 4.500 (-) Pagamento de empréstimos e f inanciamentos (item 1.4.2.12) -2.500 (+) Recebimento de integralização de capital (item 1.4.2.13) 2.000 (-) Dividendos pagos (item 1.4.2.14) -8.000 Caixa líquido proveniente das atividades de financiamento -4.000 Aumento ou redução líquido no caixa e equivalentes 1.000 Caixa e equivalentes de caixa no início do período 5.000 Caixa e equivalentes de caixa no final do período 6.000 Fonte: elaborada pela autora. 1.4.3 Elaboração da DFC pelo método indireto No método indireto, o fluxo de caixa das atividades operacionais é elaborado a partir do lucro líquido do exercício, que deve ser ajustado de modo a produzir o valor real de suas disponibilidades. Esses ajustes podem ou não modificar os saldos do caixa e dos equivalentes de caixa. Ajuste do lucro líquido sem modificações de caixa: eventos que alteram o lucro líquido do exercício, mas não são responsáveis pela saída de dinheiro, ou seja, são fatos econômicos e não financeiros. Um exemplo é a depreciação. Ajustes do lucro líquido com modificações de caixa: operações que afetam o lucro líquido e o caixa de uma entidade. São exemplos as compras de estoques com pagamento em dinheiro, as vendas a prazo representadas por meio de duplicatas a receber, reduções em estoques e duplicatas a receber, entre outros. Para compreender a estrutura pelo método indireto, é necessário discutir algumas questões: Diminuição do caixa: quando “clientes” apresentam um aumento, significa que houve uma aplicação de recursos nesta conta e, consequentemente, uma redução no seu “caixa”, visto que os estoques foram pagos a prazo. Da mesma forma, quando “fornecedores” sofrem uma redução, significa que parte do seu montante foi pago e houve uma redução no seu “caixa”. Aumento do caixa: uma redução em “estoques” significa um aumento dos recursos do “caixa” que, inicialmente, estavam aplicados em “estoques”, aumentando o valor disponível no “caixa”. Uma redução em “despesas antecipadas” tem o mesmo significado, uma vez que haverá mais recursos disponíveis no “caixa”. Já deixar de pagar contas, resultando em aumento de “contas a pagar”, resulta em aumento nos recursos à vista do “caixa”, uma vez que a empresa continua com valores disponíveis em “caixa”. A seguir um exemplo da estrutura de uma DFC, elaborada pelo método indireto. Tabela 3 – Exemplo de DFC elaborada pelo método indireto Atividades Operacionais R$ Lucro líquido do período 12.417 (+/-) Despesas/receitas que não afetaram o caixa (+) Depreciação e amortização 12.708 (+) Resultado de equivalência patrimonial 2.760 Lucro ajustado 27.885 Redução contas a receber de clientes 5.750 Redução estoques 2.530 Aumento fornecedores de estoques 2.530 Redução impostos sobre vendas -3.910 Aumento de despesas operacionais a pagar 460 Dividendos recebidos 7.084 Caixa líquido proveniente das atividades operacionais 42.329 Atividades de Investimento Empréstimos concedidos a controladas -3.680 (-) Valor de aquisição de máquinas -6.038 (-) Valor de aquisição de investimentos -10.994 Caixa líquido proveniente das atividades de investimento -20.712 Atividades de Financiamento (+) Recebimento de empréstimos e f inanciamentos 40.195 (-) Pagamento de empréstimos e f inanciamentos -42.495 (+) Novos empréstimos a CP 1.380 (+) Recebimento de integralização de capital 3.527 (-) Dividendos pagos -21.004 Caixa líquido proveniente das atividades de financiamento -18.397 Aumento ou diminuição líquido no caixa 3.220 Caixa no início do período 8.050 Caixa no final do período 11.270 Fonte: elaborada pela autora. A seguir uma explicação sobre os principais itens ajustados ao lucro líquido de modo a obter o lucro ajustado no fluxo de caixa das atividades operacionais da DFC elaborada pelo método indireto: Lucro líquido antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social: obtido na DRE, corresponde ao valor do lucro líquido do exercício subtraído os montantes de Imposto de Renda e Contribuição Social. Depreciação: está incluída no custo das mercadorias vendidas ou nas despesas operacionais elencadas na DRE. Como não afeta as disponibilidades, deve-se eliminar seu efeito, para isso é necessário adicioná-la ao fluxo de caixa, uma vez que, originariamente, o valor do resultado líquido do exercício reduziu. Variações monetárias ativas do realizável de longo prazo: por exemplo, de empréstimos compulsórios, depósitos judiciais e adiantamentos. Como não afetam as disponibilidades, deve-se eliminar seu efeito, para isso é necessário excluí-las do fluxo de caixa, uma vez que, originariamente, o valor do resultado líquido do exercício aumentou. Variações monetárias passivas do passivo não circulante: por exemplo, financiamentos a pagar LP e debêntures ‒ LP. Como não afetam o CCL, deve-se eliminar seu efeito, para isso é necessário adicioná-las ao fluxo de caixa, uma vez que, originariamente, o valor do resultado líquido do exercício reduziu. Resultado de equivalência patrimonial: situa-se no grupo das outras receitas ou despesas operacionais. Como não afeta as disponibilidades, deve-se eliminar seu efeito e, caso seja credor, deve-se subtraí-lo da DFC ou, caso seja devedor, adicioná-lo. Ganhos ou perdas de capital: encontram-se os ganhos ou perdas decorrentes das baixas realizadas no ativo imobilizado, investimentos ou intangível. Como não afetam as disponibilidades, deve-se subtrair o ganho de capital na DFC, uma vez que o resultado líquido do exercício aumentou, ou acrescentar a perda, visto que o respectivo resultado reduziu. A seguir será mostrado de forma detalhada como elaborar uma DFC pelo método indireto, usando os mesmos dados do exemplo apresentado no método direto. Balanço Patrimonial Ativo 31.12.X9 31.12.X8 Passivo 31.12.X9 31.12.X8 Circulante 61.000 55.000 Circulante 68.000 61.500 Caixa 6.000 5.000 Fornecedores 27.500 27.000 Clientes 33.000 30.000 Impostos sobre vendas a pagar 11.500 9.000 Estoques 22.000 20.000 Impostos sobre o lucro a pagar 5.000 4.000 Não Circulante 49.000 45.000 Empréstimos a pagar 22.000 20.000 Realizável longo prazo12.000 10.000 Dividendos a pagar 2.000 1.500 Imobilizado 37.000 35.000 Patrimônio Líquido 42.000 38.500 Total 110.000 100.000 Total 110.000 100.000 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) 31.12.X9 Receita Bruta de Vendas 180.000 Impostos s/ vendas -18.000 Receita Líquida de Vendas 162.000 Custo das mercadorias vendidas -130.500 Lucro Bruto 31.500 Despesas de vendas e administrativas -11.000 Despesas f inanceiras -1.500 Receitas f inanceiras 500 Depreciações -3.500 Lucro antes IR e CSLL 16.000 IR e CSLL -6.000 Lucro Líquido 10.000 Mutações do Realizável de Longo Prazo Saldo inicial 10.000 Recebimento empréstimos concedidos – LP (500) Empréstimos concedidos a terceiros – LP 2.500 Saldo Final 12.000 Mutações do Imobilizado Saldo inicial 35.000 Depreciação do ano (3.500) Aquisição máquinas 5.500 Saldo Final 37.000 Mutações dos Empréstimos a Pagar Saldo inicial 20.000 Novos empréstimos 4.500 Empréstimos pagos -2.500 Saldo Final 22.000 Mutações do Patrimônio Líquido Saldo inicial 38.500 Lucro do período 10.000 Aumento de capital c/ dinheiro 2.000 Dividendos propostos -8.500 Saldo Final 42.000 Segue a apresentação da metodologia de cálculo adotada para obter cada elemento que compõe as atividades operacionais da DFC pelo método indireto. 1.4.3.1 Depreciação A depreciação foi de R$ 3.500 (conforme mutações do ativo imobilizado). Seu valor deverá ser adicionado ao lucro ajustado, uma vez que, no cálculo do lucro líquido do período, o valor da depreciação é excluído. 1.4.3.2 Contas a receber de clientes Clientes em 31/12/X8 30.000 (-) Clientes em 31/12/X9 -33.000 Contas a receber de clientes -3.000 O saldo das contas a receber de clientes ao longo do ano X9 de R$ ‒3.000 pode ser obtido pela diferença entre o saldo dos clientes em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.3.3 Estoques Estoques em 31/12/X8 20.000 (-) Estoques em 31/12/X9 -22.000 Estoques -2.000 O saldo da conta estoques ao longo do ano X9 de R$ ‒2.000 pode ser obtido pela diferença entre o saldo dos estoques em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.3.4 Fornecedores de estoques Fornecedores em 31/12/X8 27.000 (-) Fornecedores em 31/12/X9 -27.500 Fornecedores -500 O saldo da conta fornecedores ao longo do ano X9 de R$ ‒500 pode ser obtido pela diferença entre o saldo de fornecedores em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.3.5 Impostos sobre vendas Impostos sobre vendas em 31/12/X8 9.000 (-) Impostos sobre vendas em 31/12/X9 -11.500 Impostos sobre vendas -2.500 O saldo da conta impostos sobre vendas ao longo do ano X9 de R$ ‒2.500 pode ser obtido pela diferença entre o saldo de impostos sobre vendas em 31/12/X8 e em 31/12/X9. 1.4.3.6 Impostos sobre lucros Impostos sobre lucros em 31/12/X8 4.000 (-) Impostos sobre lucros em 31/12/X9 -5.000 Impostos sobre lucros -1.000 O saldo da conta impostos sobre lucros ao longo do ano X9 de R$ ‒1.000 pode ser obtido pela diferença entre o saldo de impostos sobre lucros em 31/12/X8 e em 31/12/X9. Os dados obtidos resultam na seguinte estrutura das atividades operacionais apresentadas pelo método indireto da DFC. Tabela 4 – DFC elaborada pelo método indireto – atividades operacionais Atividades Operacionais R$ Lucro líquido do período (conforme DRE) 10.000 (+/-) Despesas/receitas que não afetaram o caixa (+) Depreciação (item 1.4.3.1) 3.500 Lucro ajustado 13.500 Contas a receber de clientes (item 1.4.3.2) -3.000 Estoques (item 1.4.3.3) -2.000 Aumento de Fornecedores de estoques (item 1.4.3.4) 500 Aumento impostos sobre vendas (item 1.4.3.5) 2.500 Aumento de impostos sobre lucro (item 1.4.3.6) 1.000 Caixa líquido proveniente das atividades operacionais 12.500 Fonte: elaborada pela autora. Os saldos das atividades de investimento e de financiamento são iguais aos apresentados na DFC elaborada pelo método direto, abordado no item anterior. Tabela 5 – DFC elaborada pelo método indireto – atividades de investimento e de financiamento Atividades de Investimento R$ (+) Recebimento de contas de longo prazo 500 (-) Empréstimos concedidos a terceiros – LP (item 9) -2.500 (-) Aquisição de ativos imobilizados (item 10) -5.500 Caixa líquido proveniente das atividades de investimento -7.500 Atividades de Financiamento (+) Recebimento de empréstimos e f inanciamentos (item 11) 4.500 (-) Pagamento de empréstimos e f inanciamentos (item 12) -2.500 (+) Recebimento de integralização de capital (item 13) 2.000 (-) Dividendos pagos (item 14) -8.000 Caixa líquido proveniente das atividades de financiamento -4.000 Aumento ou redução líquido no caixa e equivalentes 1.000 Caixa e equivalentes de caixa no início do período 5.000 Caixa e equivalentes de caixa no final do período 6.000 Fonte: elaborada pela autora. 1.4.4 Comparação entre os métodos direto e indireto Perceba que a principal diferença entre os métodos direto e indireto na apresentação da DFC encontra-se nas atividades operacionais, uma vez que o método direto descreve cada atividade operacional; já o método indireto, realiza a conciliação entre o lucro líquido e o fluxo de caixa das atividades operacionais. A empresa pode optar pelo uso do método direto ou indireto. Entretanto, a norma contábil determina que, caso use o método direto, a entidade deve fazer a conciliação do seu resultado líquido com o caixa líquido gerado ou consumido durante suas atividades operacionais, ou seja, deve apresentar nas notas explicativas o método indireto, por isso é mais comum tal uso. É possível fazer a conferência da DFC, independentemente do método usado, após a sua elaboração: verificar se o aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa é igual ao somatório dos fluxos de caixa obtidos nas atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos. 1.5 Transações que não devem ser apresentadas na DFC As operações de investimento e financiamento que não afetarem o caixa ou equivalente de caixa não devem ser apresentadas na DFC, mas descritas nas notas explicativas, evidenciando os dados relevantes para as atividades de investimento e de financiamento. Seguem alguns exemplos: compra de ativos por meio de arrendamento financeiro; compra de uma empresa por meio de instrumentos patrimoniais; transformação de uma dívida em instrumentos patrimoniais. As atividades que não afetarem diretamente o caixa ou equivalente de caixa devem ser excluídas. Entretanto, por alterarem a estrutura do capital e dos ativos da empresa, devem ser evidenciadas nas notas explicativas. 1.6 Situações específicas A seguir será elencado o tratamento de alguns casos específicos que alteram os fluxos de caixa. Fluxos de caixa em moeda estrangeira As empresas que realizarem operações em moeda estrangeira deverão fazer seus registros, usando a moeda que estiverem expressas as demonstrações contábeis da empresa. Essa conversão observará o valor da taxa cambial na data do respectivo fluxo de caixa. Assim, eventuais variações cambiais deverão ser registradas no período em que forem apuradas como receitas ou despesas, conforme o caso. Impostos sobre a renda Os fluxos de caixa de impostos serão divulgados separadamente e, em geral, classificados como atividades operacionais, exceto quando forem definidos como atividades de financiamento e investimento. Compra e venda de controladas Os fluxos de caixa oriundos da compra ou da venda de controladas que resultam na obtenção ou na perda de seu controle acionário devem ser apresentados de forma separada, considerados como atividades de investimento, juntamente com os ativos e passivos adquiridos ou alienados. Caso ocorram modificações nas participações da empresa controlada, que não resultem em perda de controle, estas serão consideradas atividades de financiamento. Complementação dos estudos Para complementar o estudo sobre a DFC, sugere-se a leitura do Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2), disponível no site do Comitê de Pronunciamentos Contábeis:http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/183_CPC_03_R2_rev%2003.pdf. Acesse, também, o site da Comissão de Valores Mobiliários (http://www.cvm.gov.br/) e verifique as DFC elaboradas e publicadas pelas companhias de capital aberto. Termos-chave2 Atividades de financiamento: resultam em mudanças no tamanho e na composição do capital próprio e no capital de terceiros da entidade. Atividades de investimento: referentes à aquisição e à venda de ativos de longo prazo e de outros investimentos não incluídos nos equivalentes de caixa. Atividades operacionais: principais atividades geradoras de receita da entidade e outras atividades que não são de investimento e tampouco de financiamento. Caixa: compreende numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis. Equivalentes de caixa: aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, prontamente conversíveis em montante conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor. Fluxos de caixa: entradas e saídas de caixa e equivalentes de caixa. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Marcelo C. Curso Básico de Contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ______. Manual prático de interpretação contábil da lei societária. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Lei nº 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976. Brasília, DF: Senado Federal, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acessado em: 30 jul. 2013. BRASIL. Lei nº 11.638/07, de 28 de dezembro de 2007. Brasília, DF: Senado Federal, 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acessado em: 31 jul. 2013. BRASIL. Lei nº 11.941/09, de 27 de maio de 2009. Brasília, DF: Senado Federal, 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.htm> Acessado em: 20 jul. 2013. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/index.php> Acessado em: 21 jul. 2013. IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2010. KANITZ, Stephen; RAMOS, Alkindar de Toledo; CASTILHO, Edison; BENATTI, Luiz. Contabilidade Introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2012. PADOVEZE, Clóvis Luis. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e intermediária. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009. SANTOS, José Luiz dos; SCHMIDT, Paulo. Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2011. __________ 1 Luciana Arenhart Menegat. Doutoranda em Ciências Contábeis pela UNISINOS. Mestre em Educação em Ciências e Matemática pela PUCRS. Especialista em Auditoria e Perícia pela Faculdade Porto-Alegrense. Bacharel em Ciências Atuariais pela UFRGS e em Ciências Contábeis. Professora nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Gestão da Produção Industrial na Universidade Feevale e no curso de Ciências Contábeis da UNISINOS. 2 Definições apresentadas no Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2) – Demonstração dos Fluxos de Caixa. CAPÍTULO 2 FUSÃO, CISÃO E INCORPORAÇÃO DE EMPRESAS Sabrina Trejes Marengo3 Este capítulo trata as operações que envolvem fusão, cisão e incorporação de empresas. São abordados aspectos contábeis e societários decorrentes de tais operações, bem como conceitos legais e tópicos subjacentes ao tema. 2.1 Considerações iniciais No Brasil, essas operações de fusão, cisão e incorporação de empresas no que diz respeito aos aspectos contábeis são regulamentadas pelo Pronunciamento Técnico CPC 15 (R1), que trata sobre Combinação de Negócios. Quanto aos aspectos legais, são regulamentados pela Lei nº 6.404/1976. Nem toda fusão, cisão ou incorporação será considerada uma combinação de negócio, pois ela ocorrerá para fins contábeis apenas quando, por meio da operação, houver a obtenção do controle de um ou mais negócios. Portanto, é muito importante identificar se a incorporação, fusão ou cisão representa uma combinação de negócios. De acordo com o CPC 15 (R1), combinação de negócios é uma operação ou outro evento por meio do qual um adquirente obtém o controle de um ou mais negócios, independentemente da forma jurídica da operação. Se a operação não se enquadrar como combinação de negócio, ela é contabilizada como valor contábil dos ativos e passivos. Por outro lado, se temos uma combinação de negócio, o acervo líquido, ativos e passivos, é contabilizado pelo valor justo. O CPC 15 (R1) também define controle como o poder para governar a política financeira e operacional da empresa de forma a obter benefícios de suas atividades. 2.2 Incorporação É a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhe sucede em todos os direitos e obrigações (art. 227 da Lei nº 6.404/1976). Na incorporação, normalmente a empresa controladora absorve a(s) empresa(s) controlada(s) ou coligada(s), fazendo que deixe(m) de existir. A Figura 1 representa esse processo. Figura 1 – Processo de incorporação. Fonte: elaborada pela autora. A empresa A incorpora a empresa B, continuando a existir apenas a empresa A, agora com o patrimônio maior pela adição do ativo e passivo da empresa B, que deixa de existir. 2.3 Fusão É a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações (art. 228 da Lei º 6.404/1976). Neste caso, duas empresas se juntam, vertendo seus ativos e passivos para a constituição de uma terceira, desaparecendo as duas anteriores. A Figura 2 representa esse processo. Figura 2 – Processo de fusão. Fonte: elaborada pela autora. Normalmente, a empresa maior é a que provoca a fusão, passando a manter o controle administrativo da nova empresa formada. A fusão da empresa A com a empresa B gerou a empresa C, que assume todos os direitos e obrigações das duas empresas fundidas. 2.4 Cisão É a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim, ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, e dividindo-se o seu capital, se parcial a versão (art. 229 da Lei nº 6.404/1976). Nessa situação, parcelas dos ativos e/ou dos passivos de uma empresa são transferidas para uma conta ou para outras, criada nesse momento ou já existente anteriormente; pode ou não desaparecer a que teve seu patrimônio cindido, dependendo da quantidade de parcelas transferidas. A Figura 3 apresenta este processo. Figura 3 – Processo de cisão ‒ I. Fonte: elaborada pela autora. A empresa A é cindida (repartida), gerando duas novas empresas decorrentes da cisão, as empresas B e C, extinguindo-se a empresa original A. Pode também haver uma cisão em que a empresa A continua existindo, mas com patrimônio inferior, gerando uma ou mais empresas com ativos e passivos transferidos para as novas entidades. A Figura 4 representa essa outra forma de processo. Figura 4 – Processo de cisão ‒ II. Fonte: elaborada pela autora. Na Figura 4, a empresa A continua existindo com um patrimônio menor, gerando duas novas empresas decorrentes da cisão, as empresas B e C. 2.5 Aspectos societários dos processos de cisão, fusão e incorporação Nos processos de incorporação, fusão e cisão, os seguintes aspectos devem ser observados: Incorporação: uma vez aprovados pela assembleia geral da incorporadora o laudo de avaliação e a incorporação, a incorporada deve ser extinta. Fusão: após as aprovações em assembleia, todas as fusionadas são extintas, dado que seus ativos e passivos serão absorvidos pela nova sociedade, a qual lhes sucederá em todos os direitos e obrigações. Cisão: como a parcela do patrimônio será transferida para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, somente haverá a extinção da companhia cindidaquando houver a versão de todo seu patrimônio. Assim, se houver uma versão parcial, seu patrimônio será então dividido e a companhia cindida continuará a existir. Além disso, um processo de incorporação, fusão e cisão, antes de se efetivar, requer uma série de medidas preliminares de caráter legal, como: (a) o protocolo dos órgãos de administração ou sócios; (b) instrumento de justificação e deliberação em assembleia; e (c) aprovação do protocolo e nomeação dos peritos. 2.6 Aspectos contábeis dos processos de cisão, fusão e incorporação De acordo com a Lei nº 6.404/1976, compete à CVM estabelecer normas especiais de avaliação e contabilização aplicáveis às operações de fusão, incorporação e cisão (§ 3º do art. 226) que envolva companhia aberta, bem como da alienação de controle por outras formas que não a incorporação, fusão ou cisão. Com relação aos aspectos contábeis, a norma aplicável, aprovada pela Deliberação CVM nº 580/2009, é o Pronunciamento Técnico CPC 15 (R1) – Combinação de Negócios. As definições do CPC 15 (R1) se aplicam a todas as combinações de negócios, exceto para: formação de empreendimentos controlados em conjuntos (joint ventures); aquisição de um ativo ou grupo de ativos que não constituam um negócio; combinações de entidade ou negócios sob controle comum. Essas combinações recebem tratamentos diferenciados, que não são objetos deste estudo. Contudo, antes da aplicação do CPC 15 (R1), é necessário determinar se uma operação, ou evento, constitui efetivamente uma combinação de negócios, nos termos do referido pronunciamento. Para que se possa ter uma melhor compreensão dos aspectos relacionados à combinação de negócios, apresenta-se a seguir alguns termos que podem auxiliar a compreensão da combinação de negócios apresentadas nas normas internacionais de contabilidade. Combinação de negócio: resultado de transações ou outros eventos em que a adquirente obtém o controle de um ou mais negócios. Adquirente: entidade que obtém o controle da adquirida. Adquirida: negócio(s) sobre o(s) qual(is) a adquirente obtém controle em uma combinação de negócios. Data de aquisição: data em que a adquirente obtém o controle da adquirida. Controle: poder de definir unilateralmente as políticas financeiras e operacionais de uma entidade, ou negócio, a fim de se obter benefícios econômicos de suas atividades. Negócio: conjunto integrado de atividades e ativos que seja passível de ser conduzido e administrado com a finalidade de fornecer diretamente, para investidores ou outros proprietários, acionistas ou participantes, retorno sob forma de dividendos, redução de custos ou outros benefícios econômicos. Valor contábil: valor pelo qual um ativo é reconhecido no balanço patrimonial após a dedução da amortização acumulada e da provisão para perda por redução no valor recuperável. Valor justo de um ativo: valor pelo qual um ativo pode ser negociado entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com ausência de fatores que pressionem a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória. Ágio: diferença apurada entre o valor contábil de uma sociedade e seu respectivo valor justo (valor contábil adicionado os valores de marca, carteira de clientes etc., que não podem ser registrados quando criado internamente.) Goodwill: diferença apurada entre o valor pago no investimento e seu respectivo valor justo determinado mediante aplicação da porcentagem de participação da sociedade investidora no patrimônio líquido da sociedade investida (valor pago > % adquirido). Para caracterizar o goodwill, o valor pago sempre deve ser superior ao valor do patrimônio adquirido. Ganho de uma compra vantajosa (negative goodwill): diferença apurada entre o valor pago no investimento e seu respectivo valor justo determinado mediante aplicação da porcentagem de participação da sociedade investidora no patrimônio líquido da sociedade investida (% adquirido > valor pago). Para caracterizar o ganho de uma compra vantajosa (negative goodwill), o valor pago sempre deve ser inferior ao valor do patrimônio adquirido. Entidades ou negócio sob controle comum (joint venture): combinação de negócios em que não existe controlador, ou seja, um não toma decisão sem o “aval” do outro, sendo que qualquer tomada de decisão é compartilhada 50%, assim como os investimentos, responsabilidades, entre outros. Se a operação não se enquadrar como combinação de negócio, ela é contabilizada como valor contábil dos ativos e passivos. Por outro lado, se temos uma combinação de negócios, o acervo líquido, ativos e passivos, é contabilizado pelo valor justo. Com relação à obtenção do controle de um ou mais negócios, isso pode ocorrer de diferentes formas: transferência de dinheiro, equivalentes de caixa ou outros ativos (incluindo ativos líquidos que constituam um negócio); assunção de passivos; emissão de instrumentos de participação societária; combinação de mais de um dos tipos de contraprestação aqui relacionados. Também é possível obter o controle de um negócio sem transferir nenhuma contraprestação (remuneração dada em troca do controle). Para a contabilização de uma combinação, o único método aceito é o denominado método de aquisição, que exige: identificação de um adquirente; determinação da data de aquisição; custo de aquisição; reconhecimento e mensuração de ativos identificáveis adquiridos, passivos assumidos e qualquer participação não controladora na adquirida; reconhecimento e mensuração do ágio (goodwill) ou um ganho em uma compra vantajosa (negative goodwill). 2.7 Reconhecimento e mensuração dos ativos adquiridos e passivos assumidos Os ativos adquiridos e passivos assumidos devem ser reconhecidos e mensurados a partir da data de aquisição. O adquirente deve reconhecer, separadamente do ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), os ativos identificáveis adquiridos, os passivos assumidos e quaisquer participações de não controladores na adquirida (CPC 15 (R1)). Um item é identificável se for separável ou advir de um contrato ou outro direito legal. Existem alguns ativos intangíveis que serão reconhecidos nas demonstrações contábeis consolidadas na data de aquisição, mas não das demonstrações contábeis individuais (adquirida). O CPC 15 (R1) fornece orientações específicas sobre a mensuração ao valor justo de determinados ativos identificáveis (itens B40 a B43), as quais figuram a seguir: ativo intangível; incerteza na realização financeira de ativos (estimativa de perdas esperadas); ativo objeto de arrendamento operacional quando a adquirida for a arrendadora; ativo que o adquirente não pretende utilizar. Relembrando, um ativo identificável adquirido ou um passivo assumido será reconhecido como parte da aplicação do método de aquisição somente se atenderem as definições de ativos e passivos e se fizerem parte da transação de troca entre as partes para obtenção do controle da adquirida. A regra geral de mensuração é o valor justo na data de aquisição. Entretanto, há itens (22 a 31) que especificam os tipos de ativos identificáveis e passivos que incluem itens para os quais o CPC 15 (R1) prevê limitadas exceções às regras gerais de reconhecimento e mensuração. São elas: passivo contingente; tributos sobre o lucro; benefícios a empregados; ativo de indenização; direito readquirido; pagamento baseado em ações; ativo mantido para venda. 2.8 Reconhecimento e mensuração da participação de acionistas não controladores De acordo com o Apêndice A do CPC 15 (R1), a participação de não controladores é definida como “a parte do patrimônio líquido de controlada não atribuível direta ou indiretamente à controladora”. A Ernst & Young e a Fipecafi (2010) descrevem que a participação dos não controladores deve ser mensurada ou pelo seu valor na data da aquisição, ou pela aplicação do seu percentual de participaçãosobre o valor justo dos ativos líquidos identificáveis da adquirida. A diferença entre os métodos de mensuração ocorre quando a adquirente opta por mensurar o valor justo das ações dos não controladores, como, por exemplo, com base nos preços de cotação de um mercado ativo. Esse valor pode diferir do valor da participação dos não controladores sobre os ativos líquidos da adquirida, cujos valores justos foram avaliados pela adquirente. 2.9 Reconhecimento do ágio (goodwill) ou ganho de compra vantajosa (negative goodwill) O adquirente deve reconhecer o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), na data da aquisição, mensurado pelo montante que (a) exceder (b) abaixo: a. O valor justo do montante transferido para obtenção do controle, somado ao valor atribuído à participação dos não controladores e ao valor justo de alguma participação existente previamente na adquirida, se houver. b. O valor justo dos ativos identificáveis, adquiridos líquido dos passivos assumidos. Persistindo um excesso de valor de (b) sobre (a), um ganho deve ser reconhecido no resultado do período (ganho de compra vantajosa ou negative goodwill). O goodwill não deve ser amortizado e deve ser objeto de análise periódica para determinar se o mesmo deve ser submetido a uma provisão para perda (impairment) ou teste de perda de valor de ativos (teste de impairment), conforme descrito na IAS 36. Esse teste de impairment deve ser realizado anualmente, garantindo que o valor de goodwill não esteja superavaliado. Devido ao fato de o goodwill ser um ativo que não pode ser reavaliado, as perdas devem ser reconhecidas diretamente no resultado do período e não poderão ser revertidas posteriormente. A não amortização do goodwill significa dizer que não há um período específico para que aquele ativo traga benefício econômico. Caso ocorra alguma compra com a característica negative goodwill, o CPC 15 (R1) determina que a avaliação dos valores justos dos ativos e passivos deve ser feita para certificar- se de que não houve um erro na avaliação inicial. 2.10 Combinação de negócios na prática 2.10.1 Banco Santander e Banco Real O banco Santander Espanha assumiu, em julho de 2008, o controle acionário do ABN Amro Real. De acordo com o jornal Valor Online (2008), “somados, Santander e Real terão mais de 55 mil funcionários, 8 milhões de correntistas e 500 mil clientes pessoa jurídica no Brasil”. Conforme divulgado em nota explicativa em suas demonstrações financeiras de 2009, a contabilização da combinação foi realizada da seguinte forma (Quadro 3). Quadro 3 – Combinação de Negócio – Banco Santander e Banco Real Em milhares de reais Valor contábil Valor justo (1) Ajuste Ativo líquido adquirido 132.301.795,00 130.930.255,00 - 1.371.540,00 Ativo Sendo: Disponibilidades e reservas no Banco Central do Brasil 12.147.982,00 12.147.982,00 - Instrumentos de dívida 21.758.968,00 21.728.385,00 - 30.583,00 Empréstimos e financiamentos e clientes 69.669.710,00 68.039.392,00 - 1.630.318,00 Ativo tangível 1.072.896,00 1.344.375,00 271.479,00 Passivo Sendo: Depósitos e instituições de crédito - 20.946.768,00 - 20.932.165,00 14.603,00 Depósitos de clientes - 75.372.552,00 - 75.419.152,00 - 46.600,00 Dívidas subordinadas - 3.440.670,00 - 3.491.143,00 - 50.473,00 Outros passivos financeiros - 5.974.858,00 - 5.852.833,00 122.025,00 Provisões (4) - 3.536.049,00 - 4.968.623,00 - 1.432.574,00 0,00 Ativo líquido adiquirido 12.865.671,00 10.103.600,00 - 2.762.071,00 Intangível (2) 1.229.716,00 Valor justo dos ativos 11.333.316,00 Contraprestação total (3) 38.946.426,00 Através de: Ações 39.920.753,00 Caixa 25.673,00 Ágio 27.613.110,00 1. Os valores de mercado dos ativos e passivos adquiridos foram apurados com base em uma avaliação realizada em 29 de agosto de 2008 (data de aquisição) e ajustada em 30 de junho de 2009 conforme permito pelo IFRS. Esses ativos e passivos foram mensurados com base em avaliações dos ativos tangíveis, na remuneração dos assessores jurídicos relacionados a passivos contingentes (em provisões) e na análise do f luxo de caixa descontado de outros ativos e passivos, considerando a previsão de benefícios econômicos futuros gerados pelos ativos intangíveis. 2. Valor relacionado à carteira de clientes, cuja vida útil estimada é de 10 anos. 3. A contraprestação total baseia-se nos valores pagos pelo Grupo Santander para a aquisição do Banco Real. 4. Inclui o montante de R$ 124.684 mil ajustado em 30 de junho de 2009 relacionado a revisão do valor justo das provisões, conforme permitido pelo IFRS 3. Fonte: Banco Santander (2010). Na combinação entre o Banco Santander e o Banco Real, foi realizada uma operação do preço de compra (Purchase Price Allocation – PPA) que demonstra como devem ser contabilizados ativos e passivos a valor justo, intangíveis com vida útil definida (10 anos) e intangível sem vida útil definida (goodwill). Segundo nota explicativa do Banco Santander, a incorporação do Banco Real e da AAB Dois Par no Banco resultou em um aumento na participação do mercado do banco e na sua capacidade de diversificação da carteira, resultando em uma posição mais forte de capital e liquidez (BANCO SANTANDER, 2010). Complementação dos estudos Para complementar os estudos sobre o que está exposto neste capítulo, acesse o site: http://www.cpc.org.br/pronunciamentos, e leia o documento CPC 15 (R1) – Combinações de Negócios. Termos-chave Ágio: diferença apurada entre o valor contábil de uma sociedade e seu respectivo valor justo (valor contábil adicionado os valores de marca, carteira de clientes etc., que não podem ser registrados quando criado internamente). Combinação de negócio: resultado de transações ou outros eventos em que a adquirente obtém o controle de um ou mais negócios. Entidades ou negócio sob controle comum (joint venture): combinação de negócios em que não existe controlador, ou seja, um não toma decisão sem o “aval” do outro, sendo que qualquer tomada de decisão é compartilhada 50%, assim como os investimentos, responsabilidades, entre outros. Ganho de uma compra vantajosa (negative goodwill): diferença apurada entre o valor pago no investimento e seu respectivo valor justo determinado mediante aplicação da porcentagem de participação da sociedade investidora no patrimônio líquido da sociedade investida (% adquirido > valor pago). Para caracterizar o ganho de uma compra vantajosa (negative goodwill), o valor pago sempre deve ser inferior ao valor do patrimônio adquirido. Goodwill: diferença apurada entre o valor pago no investimento e seu respectivo valor justo determinado mediante aplicação da porcentagem de participação da sociedade investidora no patrimônio líquido da sociedade investida (valor pago > % adquirido). Para caracterizar o goodwill, o valor pago sempre deve ser superior ao valor do patrimônio adquirido. Negócio: conjunto integrado de atividades e ativos que seja passível de ser conduzido e administrado com a finalidade de fornecer diretamente, para investidores ou outros proprietários, acionistas ou participantes, retorno sob forma de dividendos, redução de custos ou outros benefícios econômicos. Valor contábil: valor pelo qual um ativo é reconhecido no balanço patrimonial após a dedução da amortização acumulada e da provisão para perda por redução no valor recuperável. Valor justo de um ativo: valor pelo qual um ativo pode ser negociado entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com ausência de fatores que pressionem a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória. REFERÊNCIAS BANCO SANTANDER. Nota Explicativa 3. In: Demonstrações Financeiras. 2010. Disponível em: <http://www.ri.santander.com.br/Download.aspx? Arquivo=i/P5Ux/aSJH/l86uYH9xbg==http://www.ri.santander.com.br/web/conteudo_pt.asp? tipo=228&id=0&idioma=0&conta=28&subme nu=&img=&ano=2009>.Acessado em: 28 fev. 2013. BRASIL. Lei nº 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976. Brasília, DF: Senado Federal, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acessado em: 30 jul. 2013. CPC ‒ Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 15 (R1)/11, de 3 de junho de 2011. ______. CPC 26 (R1), de 2 de dezembro de 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/CPC26_R1_final.doc>. Acessado em: 21 jul. 2013. ERNST & YOUNG; FIPECAPI. Manual de Normas Internacionais de Contabilidade: IFRS versus Normas Brasileiras. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. VALOR ONLINE. Com aprovação do BC, Santander assume controle do Banco Real; Fábio Barbosa lidera integração. 2008. Disponível em: <http://www.valor.com.br/arquivo/589933/com- aprovacao-do-bc-santander-assume-controledo- banco-real-fabio-barbosa-lidera-integracao>. Acessado em: 28 fev. 2013. __________ 3 Sabrina Trejes Marengo. Mestre em Ciências Contábeis e bacharel em Ciências Contábeis, ambas pela UNISINOS. Contadora e consultora autônoma. Atua como perito-contadora nas áreas cível e trabalhista. Ministrante de cursos sobre contabilidade gerencial. Integrante do Núcleo de Pesquisas em Gestão de Custos (Nupegec). Revisora de artigos técnicos do Congresso Brasileiro de Contabilidade. Professora auxiliar da UNISINOS nos cursos de Ciências Contábeis e Administração e Tutora dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e Gestão Financeira ofertados na modalidade a distância. CAPÍTULO 3 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS CONSOLIDADAS Charline Barbosa Pires4 Este capítulo trata da consolidação das demonstrações contábeis. Primeiramente, apresenta os conceitos e objetivos da consolidação. Na sequência, discutem-se a obrigatoriedade da elaboração e divulgação das demonstrações consolidadas e os aspectos relacionados à definição de controle. Por f im, são apresentados os procedimentos de consolidação, com exemplos práticos envolvendo lançamentos de ajuste/eliminação a partir do uso de papéis de trabalho. 3.1 Conceito e objetivos Quando uma empresa (controladora) possui investimentos relevantes em outras empresas (controladas), a análise individual das diversas demonstrações contábeis que fazem parte deste conjunto (controladora e respectivas controladas) pode ser insuficiente para que se conheça o desempenho global do grupo. Iudícibus et al. (2013) explicam que a análise individual das demonstrações, além de fazer perder a visão do conjunto de empresas, não fornece informações sobre os valores apurados especificamente em função das operações realizadas com terceiros e que são externos ao grupo. É neste contexto que surgem as demonstrações contábeis consolidadas que, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 36 (R3) – Demonstrações Consolidadas, “são as demonstrações contábeis de grupo econômico, em que os ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas, despesas e fluxos de caixa da controladora e de suas controladas são apresentados como se fossem uma única entidade econômica”. No CPC 36 (R3), um grupo econômico é formado por uma controladora (entidade que controla uma ou mais controladas) e suas controladas (entidades controladas por outra entidade), sendo que um investidor controla suas investidas quando “está exposto a, ou tem direitos sobre, retornos variáveis decorrentes de seu envolvimento com a investida e tem a capacidade de afetar esses retornos por meio de seu poder5 sobre a investida.”. Assim, a consolidação das demonstrações contábeis têm como objetivo “apresentar duas ou mais sociedades, representadas pela controladora e pelas suas controladas, como se fossem uma única entidade” (ALMEIDA, 2010, p. 217). A partir das demonstrações consolidadas é possível compreender a posição patrimonial e a capacidade de geração de receitas e lucros do grupo como um todo (PADOVEZE; BENEDICTO; LEITE, 2012). 3.2 Obrigatoriedade O art. 249 da Lei nº 6.404/1976 estabelece que as demonstrações consolidadas devem ser elaboradas e divulgadas por todas as companhias de capital aberto que possuem mais de 30% do valor do seu patrimônio líquido representado por investimentos em sociedades controladas. Além disso, em seu art. 275, essa mesma lei define que o grupo de sociedades formalmente constituído nos termos do que estabelece o Capítulo XXI desta legislação deve apresentar demonstrações consolidadas, compreendendo todas as sociedades do grupo. Isto significa que, de acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, são obrigadas a elaborar demonstrações contábeis consolidadas: as companhias de capital aberto que possuem mais de 30% do valor do seu patrimônio líquido representado por investimentos em sociedades controladas; as sociedades, de capital aberto ou não, que fazem parte de um grupo de sociedades formalmente constituído. Por outro lado, considerando-se que tanto a Comissão de Valores Mobiliários, na Deliberação nº 698/2012, como o Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resolução CFC nº 1.426/2013, aprovaram o Pronunciamento Técnico CPC 36 (R3), é preciso considerar o que estabelece esta norma contábil no que diz respeito à necessidade de elaboração das demonstrações contábeis pelas empresas, sejam elas de capital aberto ou não. Assim, conforme estabelece o item 4 do CPC 36 (R3), toda entidade controladora deve apresentar demonstrações consolidadas, exceto quando todas as seguintes situações forem atendidas e houver previsão legal da dispensa: (a) a controladora é ela própria uma controlada (integral ou parcial) de outra entidade, a qual, em conjunto com os demais proprietários, incluindo aqueles sem direito a voto, foram consultados e não f izeram objeção quanto à não apresentação das demonstrações consolidadas pela controladora; (b) seus instrumentos de dívida ou patrimoniais não são negociados publicamente (bolsa de valores nacional ou estrangeira ou mercado de balcão, incluindo mercados locais e regionais); (c) ela não tiver arquivado nem estiver em processo de arquivamento de suas demonstrações contábeis junto a uma Comissão de Valores Mobiliários ou outro órgão regulador, visando à distribuição pública de qualquer tipo ou classe de instrumento no mercado de capitais; (d) a controladora f inal, ou qualquer controladora intermediária da controladora, disponibiliza ao público suas demonstrações consolidadas em conformidade com os Pronunciamentos do CPC. Iudícibus et al. (2013) explicam que, ainda que o CPC 36 (R3) indique que uma controladora pode vir a ser dispensada de apresentar suas demonstrações contábeis consolidadas, na realidade brasileira esta situação é praticamente impossível para as companhias abertas. De qualquer forma, os autores afirmam que, se for o caso, a empresa deve apresentar suas demonstrações contábeis separadas, observando o que estabelece o Pronunciamento Técnico CPC 35 – Demonstrações Contábeis Separadas. Em suma, considerando-se o que define a Lei nº 6.404/1976 e alterações posteriores, bem como o Pronunciamento Técnico CPC 36 (R3), todas as empresas com investimentos em controladas, sejam elas de capital aberto ou fechado, devem elaborar demonstrações contábeis consolidadas. O mesmo se aplica às empresas limitadas. 3.3 Determinação do controle De acordo com o item 5 do Pronunciamento Técnico CPC 36 (R3), o investidor deverá determinar se é controlador avaliando se controla ou não sua investida. Tal avaliação independe da natureza de seu envolvimento com a entidade em questão. Conforme estabelece o referido pronunciamento, existirá controle se todos os seguintes atributos forem observados: O investidor possui poder sobre a investida: o item 10 do CPC 36 (R3) estabelece que o investidor tem poder sobre uma empresa na qual investe quando os direitos existentes lhe permitem dirigir as atividades que afetam de forma significativa os seus retornos. Tal poder, conforme prevê o item 11, decorre de direitos e pode ser facilmente avaliado quandoé obtido direta e exclusivamente em função dos direitos de votos decorrentes de participação acionária ou, em situações mais complexas, ser avaliado em função de outros fatores como, por exemplo, um ou mais acordos contratuais. O investidor está exposto a, ou tem direitos sobre, os retornos variáveis decorrentes do seu envolvimento com a investida: tal situação pode ser identificada quando os retornos do investidor variam, positiva ou negativamente, em função do desempenho obtido pela investida. O investidor possui capacidade para usar o seu poder sobre a investida, afetando o valor dos seus retornos: neste caso, o investidor tem poder sobre a investida e usa este poder para influenciar o retorno sobre o seu investimento por meio do seu envolvimento com a empresa. Desta forma, é possível afirmar que “a determinação do controle baseia-se no poder (sobre as atividades relevantes da investida), nos retornos (para o investidor) e na relação entre eles (o uso desse poder para obter retornos sobre o investimento” (IUDÍCIBUS et al., 2013, p. 736). Conforme prevê o Pronunciamento Técnico CPC 36 (R3), todos os fatos e circunstâncias deverão ser avaliados pelo investidor para determinar a existência de controle sobre uma investida. Uma vez identificado o controle, esta investida (controlada) deverá ser considerada na elaboração das demonstrações contábeis consolidadas. 3.4 Procedimentos de consolidação A responsável pela consolidação das demonstrações contábeis é a empresa controladora, sendo que todas as demonstrações devem ser apresentadas de forma consolidada: balanço patrimonial, demonstração dos resultados do exercício (DRE), demonstração do resultado abrangente (DRA), demonstração das mutações do patrimônio líquido (DMPL), demonstração dos fluxos de caixa (DFC) e demonstração do valor adicionado (DVA) (nos casos aplicáveis), acompanhadas das notas explicativas às demonstrações consolidadas. Normalmente, realiza-se a consolidação do balanço patrimonial, da DRE, da DRA e da DMPL e, a partir do balanço patrimonial e da DRE já consolidados, são elaboradas a DFC e a DVA consolidadas. Conforme Padoveze, Benedicto e Leite (2012), a consolidação das demonstrações contábeis é a metodologia contábil e financeira que envolve a soma dos ativos e passivos e dos resultados de todas as empresas de um grupo econômico (controladora e suas controladas), de forma que todas estas informações sejam reunidas em um único conjunto de demonstrações contábeis. Iudícibus et al. (2013) explicam que, de posse das demonstrações contábeis individuais das empresas que serão consolidadas, deve-se, primeiramente, somar os saldos das contas (técnica básica). Portanto, o saldo consolidado da conta caixa, por exemplo, será igual à soma do caixa de cada uma das empresas consolidadas. O mesmo procedimento deve ser adotado para as demais contas do balanço patrimonial e de resultado. Ainda de acordo com os autores, após a soma dos saldos, outros procedimentos devem ser adotados com a finalidade de promover ajustes para que os saldos das demonstrações consolidadas representem a posição financeira e patrimonial do grupo em função das operações com terceiros, desconsiderando-se, portanto, as transações realizadas entre as empresas que formam o consolidado. Almeida (2012) afirma que as demonstrações consolidadas devem apresentar a posição econômico-financeira e o resultado das operações de um grupo de sociedades que estão sob o controle da sociedade controladora. De acordo com o autor, da mesma forma que uma empresa não gera lucro ou prejuízo ao realizar uma operação internamente, o consolidado deve mostrar os efeitos das operações realizadas apenas com terceiros. Em função disso, as transações entre as sociedades que formam o consolidado devem ser eliminadas. O item B86 do CPC 36 (R3) define os seguintes procedimentos necessários à consolidação das demonstrações contábeis: combinação dos itens similares dos ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas, despesas e fluxos de caixa da controladora com os itens de suas controladas; realização dos ajustes, com a finalidade de compensar (eliminar) o valor do investimento da controladora em cada uma das controladas com a parcela do patrimônio líquido de cada controlada; realização dos ajustes com o objetivo de eliminar os efeitos das transações entre as entidades que compõem o grupo (transações intragrupos). Neste processo, também cabe ressaltar que, conforme estabelece o item 22 do CPC 36 (R3), as demonstrações consolidadas deverão evidenciar a participação de não controladores no balanço patrimonial. Tal item deve ser apresentado dentro do patrimônio líquido, segregado do patrimônio líquido que pertence aos proprietários da controladora. Da mesma forma, de acordo com o que define o item B94, a entidade deve atribuir os lucros, prejuízos e cada componente de outros resultados abrangentes aos proprietários da controladora e aos não controladores, apresentando estas informações de forma separada na DRE e na DRA consolidadas. O CPC 36 (R3), em seu item B87, determina que políticas contábeis uniformes devem ser adotadas. Assim, se uma empresa do grupo adotar políticas contábeis diferentes daquelas utilizadas nas demonstrações consolidadas, devem ser feitos os ajustes necessários para garantir a conformidade das políticas contábeis do grupo. Almeida (2012) explica que a consolidação é um processo realizado extracontabilmente e que as sociedades consolidadas continuam existindo juridicamente. Normalmente, as empresas utilizam papéis de trabalho para realizar os ajustes e apurar os saldos consolidados das demonstrações. A seguir, apresentam-se exemplos de papéis de trabalho que podem ser utilizados no processo de consolidação. Quadro 4 – Papel de trabalho – consolidação do balanço patrimonial Contas Controladora A Controlada B Controlada C Eliminação de Consolidação Saldos Consolidados Débito Crédito Ativo Circulante Caixa Contas a receber Estoques ... ... etc. Total do Ativo Passivo Circulante Salários a pagar Fornecedores ... ... etc. Total do Passivo + PL Fonte: elaborado pela autora com base em Iudícibus et al. (2013). Quadro 5 – Papel de Trabalho – DRE Contas Controladora A Controlada B Controlada C Eliminação de Consolidação Saldos Consolidados Débito Crédito Receita com vendas Deduções das vendas CVM = Lucro Bruto Despesas operacionais ... ... etc. = Lucro ou Prejuízo do Exercício Fonte: elaborado pela autora com base em Iudícibus et al. (2013). Segundo Iudícibus et al. (2013), os seguintes passos devem ser observados: 1º passo: os saldos das contas de cada uma das empresas que compõem o consolidado, extraído de suas demonstrações individuais, devem ser transcritos nas respectivas colunas do papel de trabalho. 2º passo: os lançamentos de eliminação/ajuste devem ser realizados nas colunas Débito/Crédito. 3º passo: são realizadas as somas horizontais (por conta) e verticais (por colunas). Para melhor compreensão do processo de consolidação, a seguir apresentam-se alguns exemplos de eliminações e ajustes de consolidação. Para fins de simplificação, os efeitos dos tributos foram desconsiderados. a. Contas a receber e a pagar entre as empresas do grupo Todos os valores a receber em uma empresa, que correspondem a valores a pagar no balanço patrimonial de outra empresa do grupo consolidado, devem ser eliminados. Neste exemplo, considera-se que a empresa controladora A, na data do balanço patrimonial, possui um empréstimo a receber que corresponde a um empréstimo a pagar no passivo da empresa controlada B. Como se trata de uma operação entre empresas do grupo (consolidado), o saldo deve ser eliminado para fins de consolidação. Tabela 6 – Eliminação de consolidação: contas a receber e a pagar entre as empresas do grupo Eliminação de Contas ControladoraA Controlada
Compartilhar