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Direito Administrativo - Agências reguladoras
PUC-GOIÁS
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As atribuições do poder concedente, denominadas “encargos” pela Lei de Concessões (Lei nº 8.987, de 13/2/95), estão definidas no Capítulo VII, nos arts. 29 e 30, desse diploma legal, abrangendo: a) o controle e a fiscalização da execução dos serviços e das obrigações da concessionária; b) a homologação de reajustes e revisões; c) o zelo que a Administração deve ter para assegurar a prestação de serviço adequado e o atendimento aos direitos dos usuários; d) as providências do Poder Públi- co, necessárias à execução do serviço público ou da obra necessária para a sua realização (desapropriações e constituição de servidões); e) a implementação de estímulos à qualidade, produtividade, preservação do meio ambiente, competitividade e à formação de associações de usuários. Revista de Informação Legislativa154 Muito embora o contrato de concessão contenha as regras regulamentares e econô- micas da concessão, todas as normas que vierem a ser baixadas pela agência regula- dora, dentro dos poderes que lhe foram delegados por lei, passam a ser aplicáveis aos contratos já firmados, considerando a prerrogativa do Poder Público de exercer o ius variandi, ou seja, de alterar unilateral- mente as cláusulas regulamentares ou de serviço, desde que mantidas as cláusulas econômicas atinentes à remuneração da concessionária ou do permissionário, que são intangíveis por força de garantias constitucionais, legais e contratuais62. A Lei de Concessões reforça esse preceito de ordem pública, delegando ao Poder Concedente competência para exercer a atividade regulamentar, modificando, quando for necessário, as regras de serviço, sempre no sentido de zelar pela adequada e regular execução do objeto da concessão, com vistas ao seu constante aperfeiçoa- mento, para atendimento das melhores e mais modernas condições técnicas e opera- cionais. O poder de modificar unilateral- mente o contrato administrativo é irrenun- ciável pela Administração Pública, conforme já prelecionaram os tratadistas franceses63, mas não pode onerar o concessionário, quebrando ou alterando a equação econô- mico-financeira. Compete ao poder concedente, ainda, editar normas regulamentares claras e completas sobre as etapas e instrumentos dos processos fiscalizatório, interventivo e punitivo, definindo os meios e os prazos para o exercício dos direitos à ampla defesa e ao contraditório, por parte do concessio- nário ou do permissionário, sempre com observância do devido processo legal (art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal). As atribuições do poder concedente não se esgotam, contudo, no estabelecimento de regras, mas dele se exige, no novo ordena- mento das concessões, uma efetiva atuação e dinâmica, principalmente no âmbito da prevenção de práticas nocivas à perfeita execução do objeto da concessão ou da permissão, inclusive implementando a participação da comissão mista de represen- tantes do poder concedente e dos usuários, no exercício do controle e da fiscalização do devido cumprimento das obrigações fixadas no contrato de concessão ou permissão. Cabe-lhe, enfim, efetivar um sistema eficaz de atendimento ao usuário, que deverá prever a obrigatória resposta aos seus reclamos, em trinta dias, informando sobre a adoção das providências cabíveis. Os incisos X, XI e XII do art. 29 da lei de concessões (Lei nº 8.987, de 13/2/95) atribuem ao poder concedente as funções de estimular o aumento de qualidade, produtividade, preservação e conservação do meio ambiente; competitividade e formação de associação de usuários, tudo com a finalidade maior de criar condições adicionais para o aprimoramento dos serviços concedidos. Diante da delegação de poderes, que nasce da lei criadora das agências reguladoras, estão elas legitimadas e habilitadas a adotar os procedimentos e práticas administrativas destinadas a alcançar tais finalidades. A ANEEL, instituída pela Lei nº 9.427/ 96, tem por finalidade regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal, bem como promover a articulação com os Estados e o Distrito Federal para o aproveitamento energético dos cursos de água e a compatibilização com a política nacional de recursos hídricos64, objeto da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Compete especialmente à ANEEL65: a) implementar as políticas e diretrizes do governo federal para a exploração da energia elétrica e o aproveitamento dos potenciais hi- dráulicos, expedindo os atos regula- mentares necessários ao cumprimento das normas estabelecidas pela Lei nº 9.074/95; b) promover as licitações destina- das à contratação de concessionárias Brasília a. 36 n. 141 jan./mar. 1999 155 de serviço público para produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos; c) definir o aproveitamento ótimo do qual tratam os §§2º e 3º do art. 5º da Lei nº 9.074/95; d) celebrar e gerir os contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de con- cessão de uso de bem público, expedir as autorizações, bem como fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, as concessões e a prestação dos serviços de energia elétrica; e) dirimir, no âmbito administrati- vo, as divergências entre concessioná- rias, permissionárias, autorizadas, produtores independentes e autopro- dutores, bem como entre esses agentes e seus consumidores; f) fixar critérios para o cálculo do preço de transporte de que trata o §6º do art. 15 da Lei nº 9.074/95, e arbitrar seus valores nos casos de negociação frustrada entre os agentes envolvidos; g) estabelecer, com vistas a propi- ciar a concorrência efetiva entre os agentes e a impedir a concentração econômica nos serviços e atividades de energia elétrica, restrições, limites ou condições para empresas, grupos empresariais e acionistas quanto à obtenção e transferência de conces- sões, permissões e autorizações, à concentração societária e à realização de negócios entre si; h) zelar pelo cumprimento da legislação de defesa da concorrência, monitorando e acompanhando as práticas de mercado dos agentes do setor de energia elétrica, na forma a ser estabelecida em regulamento; i) fixar multas administrativas a serem impostas aos concessionários, permissionários e autorizados de instalações e serviços de energia elétrica, observado o limite, por infra- ção, de 2% do faturamento, ou do valor estimado da energia produzida nos casos de autoprodução e produção independente, correspondente aos últimos 12 meses anteriores à lavra- tura do auto de infração. Para o segmento de telecomunicações, a Lei nº 9.472/97 dotou a ANATEL das atribuições necessárias ao atendimento ao interesse público, no âmbito de sua compe- tência, especialmente66: a) implementar a política nacional de telecomunicações; b) representar o Brasil nos orga- nismos internacionais de telecomu- nicações; c) elaborar e propor a adoção de medidas referentes ao plano geral de metas e outorgas; d) expedir normas quanto à outor- ga, prestação e fruição dos serviços de telecomunicações no regime público; e) editar atos de outorga e extinção de direito de exploração do serviço no regime público; f) celebrar e gerenciar contratos de concessão e fiscalizar a prestação do serviço no regime público67; g) controlar, acompanhar e proce- der à revisão de tarifas dos serviços prestados no regime público; h) administrar o espectro de radiofreqüências e o uso de órbitas para os satélites, expedindo as respec- tivas normas; i) editar atos de outorga e extinção do direito de uso de radiofreqüência e de órbita, fiscalizando e aplicando sanções aos concessionários e permis- sionários; j) expedir normas