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Ana Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti Direito e Sociedade da Informação Sumário 03 CAPÍTULO 1 – Sociedade da informação ..........................................................................05 1 Conceito e terminologia ..............................................................................................05 2 O estado e a liquidez da sociedade da informação. ........................................................08 3 Novas tecnologias de trabalho na Sociedade da Informação ...........................................09 4 Crimes informáticos na Sociedade da Informação ...........................................................12 5 A nova economia e a relação de consumo na sociedade da informação. ..........................14 6 Conclusões ................................................................................................................15 Capítulo 1 05 1 Conceito e terminologia Da utilização de gestos, sons e desenhos ao surgimento dos primeiros microcomputadores, a informação sempre desempenhou um papel importante na vida em sociedade. Entretanto, hou- ve um momento em que lhe foi dado maior destaque e, segundo Lisboa (2006, p. 78-95), isso ocorreu logo após a Revolução Industrial. Assim, enquanto a época da Revolução Industrial foi marcada pelo aprimoramento dos meios de produção, por intermédio de técnicas e instrumentos que aprimoraram o manejo da matéria prima, a sociedade contemporânea se pautou no mo- mento da informação. Dessa forma, a informação passou a ter valor significativo de mercado, modificando aspectos da repercussão socioeconômica das relações jurídicas, do direito, do meio ambiente, das relações interpessoais, entre outros. Nessa linha de raciocínio, Messias (2005, p. 15), afirma que [...] na sociedade contemporânea, o peso da informação e do conhecimento na dinâmica capitalista, tem ampliado sua valorização no mercado. Assim sendo, a riqueza de uma nação não mais se restringe a tonelagem anual de matéria-prima ou de manufaturados que possam eventualmente produzir, mas engloba principalmente a quantidade de informação e conhecimento que as universidades e os centros de pesquisas forem capazes de produzir, estocar e fazer circular como mercadoria. Como se vê, o foco da sociedade da informação é diferente daquele presente na Revolução Industrial, pois a informação passou a ter importante valor de mercado, tornando-se o principal insumo dos dias atuais. Nesse sentido, vale trazer as observações feitas por Balboni (2007, p. 23), quando diz que [...] a sociedade da informação é hoje uma realidade inquestionável para uma parcela significativa da população. Invadindo todas as esferas da vida cotidiana, as novas tecnologias da informação estão presentes nos escritórios, supermercados, escolas, nas ruas, nas casas. Mesmo sem perceber, nos deparamos com ela quando vamos ao banco, ao assistir televisão, falamos ao telefone e até mesmo quando escolhermos nas urnas nossos representantes políticos. Neste novo contexto global, a informação transformou-se no produto mais importante para o desenvolvimento econômico, político e social de cada nação de cada região, de cada indivíduo. Não só o acesso à informação é determinante para a participação ativa e democrática na sociedade, como a produção e distribuição do conhecimento podem contribuir muito para a construção da cidadania. Para fins didáticos, em ordem cronológica, vale destacar que a sociedade passou da economia agrícola (1880-1910) para a economia industrial (1920-1940) e, por último, para a economia informacional (a partir de 1960 até o presente momento). É justamente a partir dessa perspectiva e com fundamento em Alvin Toffler (A Terceira Onda, 1981), que podemos destacar três ondas de transformações pelas quais a sociedade atravessou: 1) a economia agrícola, tendo por base a propriedade da terra como instrumento de poder (primeira onda); 2) a industrial, em que a riqueza é proveniente da combinação de trabalho, propriedade e capital (segunda onda); e 3) a informacional, iniciada com os grandes veículos de comunicação e da tecnologia digital (a terceira onda). Sociedade da informação 06 Laureate- International Universities Direito e Sociedade da Informação Como muito bem nos ensina Lisboa (2007, p. 118, grifo do autor): [...] enquanto a Revolução Industrial objetivava o desenvolvimento da produção de bens tangíveis ou corpóreos, coube à revolução da informação a finalidade de desenvolver as tecnologias de produção, por meio do acúmulo do conhecimento e da facilitação de seu acesso a todas as pessoas. A revolução informacional, cuida, pois, do acesso aos bens intangíveis ou incorpóreos e de como, por meio deles, se torna possível o acesso aos bens tangíveis e corpóreos. Assim, a Sociedade da Informação aparece após a época industrial e pós-industrial, considerada por muitos como era pós-moderna que, por sua vez, está ligada a uma nova etapa do capitalis- mo. Trata-se de uma sociedade que se fundamenta na circulação de informações (SIMÃO FILHO, 2007, p. 09). As mudanças são muito significativas, Pinheiro (2017, p. 51), lembrando as lições de Tofler (1981), ressalta que a Sociedade da Informação exige que as pessoas executem mais tarefas do que no passado e, com isso, mais informações são acessadas, rompem-se as barreiras do fuso horário e de distâncias físicas entre as pessoas. É como se tivéssemos dois relógios: um analógi- co, que nos dá o tempo físico, vinte e quatro horas por dia, e o digital, que segue uma agenda virtual e extrapola os limites de horas do dia, acumulando ações que devem ser realizadas simul- taneamente. Hoje, somos cobrados para sermos cada vez mais ágeis, assim, as mudanças são rápidas e espantosas. É importante ressaltar que Sociedade da Informação não se reduz ao uso da internet, quer dizer, não se trata de atividade digital em si, mas sim da sociedade em que vivemos agora. Uma so- ciedade impulsionada pelas novas tecnologias da comunicação, mas que vai muito mais além. Utiliza qualquer meio de comunicação presencial ou não como, por exemplo, a televisão a cabo, por antena ou satélite, o rádio e o telefone. A informação pode ser obtida por diversos meios, ou seja, o computador é apenas mais uma ferramenta a fim de facilitar a disseminação da in- formação. Fonte: Shutterstock 07 Como relata Pinheiro (2017, p. 63), [...] a internet consiste na interligação de milhares de dispositivos do mundo inteiro, interconectados mediante protocolos (IP, abreviação de Internet Protocol). Ou seja, essa interligação é possível porque utiliza um mesmo padrão de transmissão de dados. A ligação é feita por meio de linhas telefônicas, fibra óptica, satélite, ondas de rádio ou infravermelho. A conexão do computador com a rede pode ser direta ou através de outro computador, conhecido como servidor. Este servidor pode ser próprio ou, no caso dos provedores de acesso, de terceiros. O usuário navega na internet por meio de um browser, programa usado para visualizar páginas disponíveis na rede, que interpreta as informações do website indicado exibindo na tela do usuário textos, sons e imagens. A internet atualmente é um local muito propício para, dentre outras coisas, realizar negócios e comércio. Nesse aspecto, as relações podem abordar associação entre consumidor e consumi- dor (C2C), empresa e consumidor (B2C), empresa e empresa (B2B), e entre empresa, empresa e consumidor (B2B2C). Essa nova realidade exige novas regras ou aplicação de “velhas” regras e princípios observando-se apenas a peculiaridade do momento. E, o mais importante, a globali- zação da economia e da sociedade nos obriga a um pensar jurídico que extrapola os limites da territorialidade (PINHEIRO, 2017, p. 69). É fato que o computador é de suma importância para a contemporaneidade, já que a Sociedadeda Informação é um ambiente de atuação de pessoas que aperfeiçoaram sistemas de bens de produção e de comunicação a partir da invenção do computador. Como dito, somos a sociedade posterior à revolução causada pela introdução do computador nas relações jurídicas e sociais e a informação é o cerne da questão, sendo que podemos obtê-la por vários meios e não somente no ambiente virtual. Todos os meios de comunicação são facilitadores e transportadores de informação, e o termo “Sociedade da Informação” abrange o estudo das relações jurídicas pelos mais variados meios de comunicação. É possível afirmar que ela atua como um ambiente informacional e não ne- cessariamente informatizado. Assim, a Sociedade a Informação veio aprimorar o convívio social, colaborando para o progresso e facilitando o acesso à informação, inclusive para fins de cele- bração do ato e do negócio jurídico. Logo, todos os ramos do direito podem ser revisitados à luz da Sociedade da Informação (LISBOA, 2007, p. 122-127). Como já vimos no início deste texto, a informação passou a ser o insumo principal da produção econômica do mundo. Agora, confira alguns dos efeitos obtidos a partir da revolução informa- cional: a) transnacionalização e o surgimento de blocos econômicos (Integração mundial entre os Estados); b) surgimento do e-commerce (proporcionando aquisição de produtos pela rede); c) economicidade da informação (atribuição de um valor econômico à informação); d) formação de bancos de dados (facilitador das relações jurídicas); e) transferência eletrônica de dados (facili- tador de acesso à informação); e f) estabelecimento de normas comunitárias (uniformização do tratamento). A era da informação é um fato e a economia baseada no conhecimento é a nova economia. A sociedade pós-moderna exigiu a criação de novas maneiras de fazer negócio, nas empresas, inclusive, os ativos de conhecimento (capital intelectual) passaram a ser mais impor- tantes que os ativos financeiros e físicos (LISBOA, 2007, p. 119-120). Portanto, a Sociedade da Informação é o resultado de uma revolução com mudanças tecnológi- cas que foram responsáveis pela remodelação da sociedade atual, alterando relações pessoais, econômicas, sociais, jurídicas, culturais e governamentais. A geração, processamento e a trans- missão da informação tornaram-se as fontes fundamentais de produtividade e poder (CASTELLS, 2016, p. 21). 08 Laureate- International Universities Direito e Sociedade da Informação Fonte: Shutterstock Como você pôde notar, no que tange à terminologia, adotamos como a mais correta “Sociedade da Informação”, sendo, inclusive, a mesma utilizada no Livro verde da Sociedade da Informação no Brasil (2000), obra elaborada a pedido do Ministério do Estado da Ciência e Tecnologia e que contém um plano de metas de implantação do Programa Sociedade da Informação no Brasil; como mecanismo para estabelecer normas aplicáveis à tecnologia da informação como acesso, conectividade, incentivo à pesquisa e comércio eletrônico, dente outras questões. Mas é possí- vel encontrar outros posicionamentos, e termos como “Sociedade Informacional”, “Sociedade do Conhecimento”, “Sociedade Pós-industrial”, “Sociedade Pós-moderna”, “Sociedade Digital”, “Cibercultura” e “Sociedade do Saber”, por exemplo, também são utilizados. 2 O estado e a liquidez da sociedade da informação. De acordo com Bauman (2001, p. 07-24) a modernidade é líquida. O termo “líquido”, utilizado pelo autor, significa a constante mudança em que vivemos. Assim, “fluidez” ou “liquidez” são usados por ele como metáfora para captar a natureza da modernidade, sempre em movimento. Para Bauman (2001, p. 144), as mudanças sociais abriram espaço para as chamadas “moderni- dade pesada” e “modernidade leve”. A pesada se confunde com a era do hardware, modernidade obcecada pelo volume em que tamanho é poder, “quanto maior, melhor”! Época das máquinas pesadas e cada vez mais potentes, período em que a conquista do espaço era o objetivo supremo, pois a modernidade pesada foi a era da conquista territorial. Já a modernidade leve, que aparece com o advento do software, é marcada pela instantaneidade, pela realização imediata. Maior não quer dizer mais eficiente. O autor dá a entender que a modernidade deve ser vista como um processo de transição e que, para chegarmos à modernidade líquida, temos que “derreter os sólidos” já existentes. Seguindo-se esse raciocínio, hoje estamos vivendo na modernidade leve. Pela teoria desenvolvida por Bauman, as duas características mais importantes da modernidade líquida são, sem dúvida nenhuma, 1) a substituição da ideia de coletividade e de solidariedade pelo individualismo; e 2) a transformação do cidadão em consumidor. Não há ruptura ou supe- ração, mas sim uma confirmação da modernidade como uma lógica diferenciada. A fixidez da época industrial foi substituída pela volatilidade sob o domínio do imediato, do individualismo e do consumo. 09 Contudo, o mesmo autor, ao tratar em outro livro das questões da transformação da nossa socie- dade, defende que a sociedade moderna é fluida e líquida, sempre em movimento, mas que, por outro lado, precisa de certezas e vínculos duráveis. Além disso, temos cada vez mais percebido que nossos movimentos são monitorados, acompanhados, rastreados e observados. É o que Bauman chama de “vigilância líquida” como forma de controle social. Assim, o desenvolvimento tecnológico tem seu lado positivo e seu lado negativo e as ações também têm efeitos colaterais não desejados e não planejados. Beck (2011) propõe a ideia de que toda e qualquer ação envolve riscos e que o efeito positivo da ação e seu efeitos colateral negativo tem as mesmas causas. Portanto, não se pode ter um sem o outro, se aceitamos uma ação somos compelidos a aceitar os riscos que lhe são inerentes. Por exemplo, ao criar a rede ferroviária nossos ancestrais também inventaram o desastre de trem, ou seja, uma coisa está ligada a outra, a tecnologia atômica nos trouxe Chernobyl e assim por diante. Neste aspecto, podemos dizer que a tecnologia é uma “espada de dois gumes”. Para minimizar os efeitos co- laterais, temos que ser cuidadosos e calcular os riscos e, nesse caso, a vigilância também serve para evitar danos que podem ser afastados. (BAUMAN, 2014, p. 68). A partir do século XXI, a segurança passou a ser uma das principais preocupações da sociedade e, essa necessidade criada pela nossa sociedade nos leva também ao mundo da vigilância. Mas, como já falamos, tudo tem seu lado positivo e negativo e com o advento da tecnologia para a segurança veio também o medo, sua consequência, seu efeito colateral. Nas palavras de Bau- man (2014, p. 73) esse é o [...] paradoxo do nosso mundo saturado de dispositivos de vigilância, quaisquer que sejam seus pretensos propósitos: de um lado, estamos mais protegidos da insegurança que qualquer geração anterior, de outro, porém, nenhuma geração anterior, pré-eletrônica vivenciou os sentimentos de insegurança como experiência de todos os dias e de todas as noites. Para explorar um pouco mais essa questão das mudanças e concepção da modernidade líquida, trataremos a seguir de alguns aspetos que reputamos essenciais: 1) como encontra-se a relação de trabalho na Sociedade da Informação; 2) a questão dos crimes informáticos no Brasil diante da Sociedade da Informação e, finalmente, 3) as novas relações entre a economia e o consumo. 3 Novas tecnologias de trabalho na Sociedade da Informação A globalização e a tecnologia estão cada dia mais avançadas, isto é, o processo de inovação é cada dia mais rápido. Para que esse processo acelerado de tecnologia seja completamente compreendido, necessário se faz a análise de tempos passados. O estudo correspondente a este item foi realizado pelo professor Pedro Henrique Benatto. Para sua sobrevivência, há milhares de anos, os homens sobreviviamessencialmente da caça e da pesca. Quase não havia troca de informações entre as pessoas e quando feita era de forma lenta e precária. Isso ocorreu até o surgimento do acontecimento histórico, denominado Revo- lução Agrícola, que incluiu novas tecnologias para a produção de alimentos. Posteriormente, ocorreu a Revolução Industrial, que trouxe o uso de máquinas a vapor, trens, entre outros que vieram a modificar por completo o comportamento social; estamos falando da era das máquinas, da produção industrial. Como já mencionado anteriormente, atualmente vivemos a terceira revolução, qual seja a Re- volução da informação. O impacto direto desta revolução é vivenciado, dia após dia, com a tecnologia amplamente presente no trabalho, na educação, bem como no entretenimento. A denominada sociedade pós industrial (Sociedade da Informação) impacta diretamente relacio- 10 Laureate- International Universities Direito e Sociedade da Informação namentos interpessoais e até mesmo relacionamentos profissionais, haja vista o fácil acesso da globalização das informações. A Sociedade da Informação impactou, e muito, o mundo por meio de sua tecnologia, em espe- cial, o mundo do trabalho, transformando o próprio meio ambiente laboral, bem como as con- dições de trabalho, regidas pelo advento dessa tecnologia, crescente. Devido ao grande avanço da tecnologia, empregado e empregador não necessariamente convivem mais no mesmo espaço físico, ou seja, aquele convívio diário entre patrão e empregado passou a ser flexibilizado, graças a própria Sociedade da Informação. Com esta nova era na sociedade, surgem novas formas de trabalho, havendo a possibilidade do empregado desenvolver o ofício à distância. Essa tecnolo- gia possibilita que o trabalho seja feito em qualquer local, podendo, em tese, ser muito benéfico para incluir pessoas com deficiência no próprio mercado de trabalho, considerando o tipo de deficiência que a pessoa porta e o tipo de trabalho que será executado. Fonte: Shutterstock Essas grandes mudanças ocorridas na Sociedade da Informação atingem todos os setores da sociedade. Apesar de haver inúmeras benesses oriundas dessa tecnologia, existem também os efeitos negativos que devem ser administrados. Atualmente, a tecnologia traz um paradoxo para o direito do trabalho, pois, nesta era, ocorre também a substituição da mão de obra por tecno- logia, ou seja, trabalhadores perdem espaço para máquinas, que podem perfeitamente fazer o serviço prestado por um humano, sem remuneração alguma. Soma-se isto ao fato de que a tec- nologia traz algumas formas de flexibilização de direitos trabalhistas, criando um paradoxo, pois com a tecnologia surgem formas de tentar reduzir o emprego em todos os setores da sociedade. A crise do emprego atormenta o ser humano desde os primórdios, não somente nos dias atuais, lembrando que o homem que almeja a entrada no mercado de trabalho deve se atualizar cons- tantemente, criando oportunidades e melhorias em suas qualificações para que consiga adentrar ao mercado de trabalho, independente da atividade, para que tenha sua carteira assinada e preserve todos os seus direito de um empregado, regido pela égide da Consolidação das Leis do Trabalho. Assim, é importante destacar que a tecnologia alterou relações laborais e fez com que o homem se adaptasse à era digital, pois, da mesma forma que empregos foram excluídos em decorrência da tecnologia, outros empregos surgiram justamente pelo advento da tecnologia. 11 Dessa forma, no que tange ao Direito do Trabalho, o avanço da tecnologia poderá acarretar em redução do trabalho ou até mesmo em readaptação dos cargos funcionais. Nesse sentido, Barreto Júnior (2011, p. 05-06) disserta que: Ao mesmo tempo em que o avanço tecnológico propicia uma série de melhorias e benesses à humanidade, a condição humana é submetida a novos agravos e conflitos uma vez que essa nova configuração do meio ambiente do trabalho, com aplicação do aparato tecnológico, constrange o usufruto pleno de direitos. Resulta desse novo mundo do trabalho: a) Reserva abundante de mão de obra parcialmente qualificada; b) Redução nos rendimentos advindos do trabalho; c) Criação de novos empregos no setor de serviços com reduzida exigência de capacidade intelectual e escolarização. Com isso, o mercado de trabalho e o próprio perfil do emprego sofrem alterações e surgem novas especializações profissionais. As mudanças de postos de trabalho ou até mesmo extinção de antigos postos irão variar de acordo com as condições de cada Estado, região e até mesmo qualificação do empregado. As estratégias dos chefes governamentais serão fundamentais para geração de novos postos de emprego, para qualificação de antigos trabalhadores, a fim de que estes se adaptem à nova era de trabalho, bem como à criação de centros para que os desempre- gados possam ser amparados e até mesmo qualificados. Dentre todas essas novas tecnologias surgidas, chamamos a atenção para o denominado teletra- balho, que, conforme Garcia (2016, p. 249), é a [...] modalidade de trabalho à distância, típica dos tempos modernos, em que o avanço da tecnologia permite o trabalho preponderantemente fora do estabelecimento do empregador (normalmente na própria residência do empregado), embora mantendo o contato com este por meio de recursos eletrônicos e de informática, principalmente o computador e a internet. Atualmente, o teletrabalho está regulamentado no art. 6º parágrafo único da CLT. É, portanto, uma forma permitida de relação de emprego no Brasil. Importante ressaltar, entretanto, que após a aprovação da Reforma Trabalhista (2017), o teletrabalho estará regulamentado com as alterações e inclusões dos arts. 75-A, 75-B, 75-C, 75-D, 75-E e art. 134 da CLT. Ou seja, após o prazo para vigência da legislação que impôs a reforma trabalhista, passará a ser considerado como teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do em- pregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natu- reza, não se constituam como trabalho externo, sendo que o comparecimento às dependências do empregador para realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho. Fonte: Shutterstock 12 Laureate- International Universities Direito e Sociedade da Informação Com base no surgimento dessas novas tecnologias de trabalho e, principalmente, na possibili- dade de surgimento de modalidades de trabalho à distância, pessoas com limitações de loco- moção, por exemplo, têm melhores condições para uma colocação de trabalho. A Sociedade da Informação possibilita, portanto, inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, dentre outras questões. Dessa forma, vimos que a revolução digital impacta na geração de empregos e na qualidade destes de forma significativa. Todavia, por outro lado, um dos problemas que podem surgir nessa mudança é que países ainda não considerados desenvolvidos provavelmente sofrerão mais com o desemprego por conta da baixa qualificação dos trabalhadores disponíveis e isso, via de regra, tende a gerar subempregos. Para afastar esse destino, caberá ao Poder Público possibilitar me- lhores condições de aprendizado aos seus cidadãos. 4 Crimes informáticos na Sociedade da Informação A mudança de comportamento na nossa sociedade gera efeitos no mundo jurídico e um dos mais significativos está relacionado aos crimes e à responsabilidade penal. Para a análise desse aspecto, utilizaremos os ensinamentos da professora Greice Patrícia Füller. Os crimes informáticos podem ser denominados cibercrimes, delitos cibernéticos, delinquência informática, crimes virtuais e relacionam-se a dois aspectos primordiais: 1) informática; e 2) as novas tecnologias. Sob a ótica do conceito amplo de crimesinformáticos, podemos considerá-los como aqueles ilícitos praticados por intermédio das tecnologias de informação, gerando danos de forma indi- vidual ou coletiva. Podem ainda ser classificados, de forma mais restrita, como crimes: a) puros (toda e qualquer conduta ilícita que tem como finalidade o sistema de computador, inclusive dados e sistemas); b) mistos (aqueles cujo uso da internet é condição imprescindível para a realização da conduta, embora o bem jurídico lesado seja diverso do informático); e c) comuns ( aqueles que se utilizam da internet somente como instrumento para a realização da conduta delitiva tipificada em lei penal, especificamente, no Código Penal). Os crimes informáticos caracterizam-se como delitos de perigo e são pluriofensivos, pois violam os direitos referentes à intimidade, à privacidade, à honra, à imagem, à informação, ao patrimô- nio, à ordem econômica e social e ao lazer. Para além disso, podem ser praticados por qualquer pessoa, são os denominados crackers. As condutas informáticas que podem caracterizar crimes são: a) acesso ilegítimo (art. 154-A, Có- digo Penal: acesso ilegítimo forçado com rompimento de obstáculo); b) interceptação ilegítima (art. 10 da Lei 9276/96); c) interferência de dados (art. 154- B do Código Penal e art. 163 do Código Penal se apenas causa o dano informático sem invasão); d) interferência em sistemas (Lei 12737/2012 não tutelou a conduta daquele que dolosamente causa obstrução grave, intencio- nal e ilegítima ao funcionamento de um sistema informático, por meio da introdução, transmis- são, danificação, eliminação, deterioração ou supressão de dados informáticos, mas somente a conduta de interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública), e) uso abusivo de dispositivos (art. 154-A Código Penal); f) falsidade ou fraude informática (não há um tipo específico para tutelar a conduta de introdu- ção, alteração ou supressão intencional e ilegítima de dados informáticos, produzindo dados não autênticos, com a intenção de que sejam considerados ou utilizados legalmente como se fossem autênticos. Pode-se apenas argumentar o delito de falsidade ideológica, previsto no art. 299 do 13 Código Penal, e no âmbito dos crimes praticados por funcionários públicos contra administração, o art. 313-A do Código Penal e o art. 313-B do Código Penal); g) burla informática ou sabota- gem informática (não há tipificação legal); h) furto de dados ou vazamento de informações (arts. 153 e 154-A do Código Penal); i) pichação informática ou defacement (art. 154- A do Código Penal); j) envio de mensagens não solicitadas (não há legislação específica); e k) uso indevido informático (não há tipificação legal). Fonte: Shutterstock Além das condutas acima apresentadas, as Leis 12.375 e 12737, ambas de 2012, trouxeram tipificações específicas. A Lei 12735/2012 alterou o inciso II do §3º do art. 20 da Lei 7716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes de preconceito de raça e cor, e prevê a possibilidade da cessação das trans- missões eletrônicas ou publicação em qualquer meio, em casos de fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, especificamente, quan- do houver a utilização dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza. Infelizmente, pela lei citada acima, foram vetadas as seguintes condutas: a) acesso não autoriza- do à rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado; b) obtenção, transferência ou fornecimento não autorizado de dado o informação; c) divulgação ou utilização indevida de informações e dados pessoais; d) dano informático; e) inserção ou difusão de código malicioso; f) inserção ou difusão de código malicioso seguido de dano; g) estelionato eletrônico; h) atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública; i) falsificação de dado eletrônico ou documento público; j) pornografia infantil ou informática; e k) guarda de logs e obrigações para os provedores de serviços e de acesso à internet no Brasil. A Lei 12737/2012 tipifica as seguintes condutas, quais sejam: a) invasão de dispositivo informá- tico; e b) interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública e a falsificação de cartão de crédito ou débito. 14 Laureate- International Universities Direito e Sociedade da Informação 5 A nova economia e a relação de consumo na sociedade da informação. A Sociedade da Informação possibilitou o surgimento de empresas com aspectos completamente diferentes daquelas do passado. Uma das inovações mais tratadas e estudadas nesse aspecto é a empresa digital. Não estamos falando das empresas que simplesmente possuem uma extensão virtual, mas que são físicas e reais, mas sim daquelas que existem somente no ambiente virtual, que não possuem loja física e que oferecem produtos ou serviços pela internet, como, por exem- plo, a Amazon (PINHEIRO, 2017, p. 132). É fato que a internet alterou o sistema de mercado no mundo. A concorrência mudou, a credibi- lidade mudou e, consequentemente, o comportamento de consumo também mudou. Para Castells (2016, p. 217) “[...] o surgimento da economia informacional global se caracteriza pelo desenvolvimento de uma nova lógica organizacional que está relacionada com o processo atual de transformação tecnológica, mas não depende dele”. Com essa mudança de paradigmas, o consumo também mudou. Hoje vemos uma busca frené- tica para produção e consumo. A informação revolucionou os mercados e os produtos, mas o consumo representa um suposto “bem-estar” e felicidade (LISBOA, 2013, p. 146). Fonte: Shutterstock A Sociedade da Informação, sem dúvida nenhuma, revolucionou os mercados e os produtos. Os custos baixaram devidos à globalização, as mercadorias são fabricadas em escala que atendam ao apelo de consumo, não por necessidade, mas por status, em especial. O consumo interfere até mesmo nas relações sociais e é, por muitos, visto como a solução de diversos problemas. De acordo com Lisboa, ao citar Cohen (2013, p. 146-147), a modernidade trouxe um novo mo- delo de economia, a “economia do descartável”. A sociedade de hoje é marcada pelo consumo, ou seja, pela sedução, e a satisfação do cliente não está relacionada com o produto e sua fun- cionalidade, mas com a satisfação de um desejo pessoal. Aliás, esse tipo de comércio e consumo acabou criando uma situação também de importância para a sociedade moderna, o negócio dos recicláveis. Hoje, muitos investimentos são feitos para o pós-consumo, ou seja, para minimizar, em especial, os danos ambientais que possam aparecer por conta desse consumo descartável e, de certa forma, desenfreado. Assim, existe uma preocupação também de que esse formato de consumo possa resultar em uma maior escala de poluição de rios, depósitos de lixo, e outras questões que refletem no bom viver e em uma sociedade equilibrada. 15 6 Conclusões A Sociedade da Informação é a nova era da tecnologia. Vimos que informação é bem de consu- mo de relevante interesse da sociedade e do mercado. Nada mais se faz sem informação. Con- tudo, é importante lembrar que Sociedade da Informação não se limita ao uso da internet, mas sim a todo e qualquer meio ou tecnologia que possibilite a troca de informações. Após a Revolução Industrial, estudamos que houve a criação de uma sociedade pós-industrial, pós-moderna, que alterou de forma significativa as relações pessoais, econômicas, sociais, jurí- dicas, culturais e governamentais. Trata-se da modernidade líquida em que tudo é volátil, tudo muda, tudo se adéqua. E, com a realidade da sociedade mais fluida, aparecem também seus efeitos colaterais, seuspontos negativos e um dos mais reconhecidos e estudados é a questão da segurança ou da insegurança. Vem ocorrendo agora uma grande preocupação em relação à vigilância líquida. Como a nossa sociedade tem lidado com este vigiar por parte das empresas, dos governos, das pessoas? Esse é o dilema atual. E, finalizando, a Sociedade da Informação mexeu com alguns temas jurídicos de extrema rele- vância e citamos como exemplo as relações trabalhistas, os crimes informáticos - cibercrimes e novas regras de consumo, resultando no consumo desenfreado e descartável. 16 Laureate- International Universities Referências BALBONI, Mariana Reis. Por detrás da inclusão digital: uma reflexão sobre o consumo e produção de informação em centros públicos de acesso à internet. 2007. 222 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências da Comunicação. Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. BARRETO JÚNIOR, Irineu Francisco. Sociedade da Informação e as novas configurações no meio ambiente de trabalho. Revista Brasileira de Direito Ambiental, São Paulo, v. 7, n. 27, p.5- 6, jul/set, 2011. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. ______. Vigilância Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. BECK, Ulrich. Sociedade de risco. São Paulo: Editora 34, 2011. 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