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COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR AULA 05 Prof.ª Mariana Monfort Barboza 2 CONVERSA INICIAL Essa é a quinta aula da disciplina Comportamento do Consumidor. O tema principal da aula de hoje é: “Conexão com os clientes”. Como o assunto é bem importante, vamos logo começar! Bons estudos! Introdução Na aula passada conversamos sobre abordagens de mercado como os tipos de decisões de compra, métodos e técnicas de pesquisa do comportamento do consumidor, motivação e valores, atitudes e persuasão, elementos sensoriais do PDV, tudo isso focado em discutir abordagens de mercado. A partir de agora você vai aprender formas possível de se criar conexão com os clientes e intensificar o relacionamento com os consumidores. Portanto, o primeiro tema dessa rota é sobre aprendizagem e memória, salientando como esses processos influenciam na conexão do cliente com a empresa ou o produto. Em seguida, conceitos importantes para o comportamento do consumidor como o eu, a personalidade e o estilo de vida serão trabalhados a fim de dar um panorama geral sobre como esses elementos influenciam o comportamento do consumidor. O envolvimento com a marca também será discutido e serão apresentadas algumas ferramentas para mensurar o nível de envolvimento. Por fim, você irá aprender sobre o papel das comunidades de marca e algumas tendências ligadas ao futuro das marcas. CONTEXTUALIZANDO Falar de conexão com o cliente é um tópico intenso, sobretudo no recorte do comportamento do consumidor. O assunto é complexo e essencial para o sucesso das empresas em um mercado tão competitivo. Leia o trecho da reportagem a seguir e reflita sobre como das empresas podem gerar conexão com o cliente: 3 Consultores que “descobrem” novos códigos que “decifram” magicamente os consumidores é o sonho de todo anunciante. Porém, deve-se dar crédito a Zaltman. A técnica por ele desenvolvida para descobrir as metáforas determinantes do sucesso mercadológico angariou fãs em empresas como a GlaxoSmithKline. Num plano mais profundo, a descoberta do consultor encontra ressonância no velho ditado do filósofo Maimônides sobre a vida humana, segundo o qual “o homem se move pelas planícies das metáforas até escalar o cume da veracidade”. Mas vamos à prática. Existem, segundo Zaltman, sete metáforas que respondem por boa parte dos sentimentos que nutrimos pelas marcas no mercado. São elas: equilíbrio (a busca pessoal de uma existência equilibrada), transformação, jornada (em direção ao crescimento pessoal), recipiente (ou contêiner), conexão (interpessoal), recursos (para mudar uma situação adversa) e controle (sobre determinada situação). Elas não são tão enigmáticas quanto parecem. A metáfora da transformação (ou seja, o consumidor enxergar um produto como um agente de transformação da vida cotidiana) está por trás de coisas tão díspares quanto um cartão da Hallmark ou uma garrafa de Coca-Cola (o que explica, aliás, o sucesso da associação dessas marcas com o Natal, época de uma transição positiva, segundo o imaginário ocidental). No caso da Coca- Cola, outra metáfora que explica a marca é a da conexão (agregação de pessoas), que é habilmente explorada nas campanhas publicitárias da bebida. Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDR84308- 8376,00.html A partir da reportagem, faça a seguinte reflexão: como as empresas podem criar conexão com os seus clientes? Quais os conceitos e técnicas podem ser utilizados para esse processo? TEMA 01: APRENDIZAGEM E MEMÓRIA Todos os dias aprendemos algo novo, já que o ambiente que nos cerca e as interações cotidianas nos estimulam constantemente. O comportamento de consumo também é modificado com esses novos conhecimentos e “a aprendizagem é uma mudança relativamente permanente no comportamento 4 causada pela experiência” (SOLOMON, 2011, p.120). Precisamos nos lembrar que a experiência não precisa ser ativamente vivida pelo consumidor, ele pode aprender comportamentos por observação, por meio do relato de outras pessoas sobre o uso daquele produto e por vias promocionais como propaganda. A psicologia se dedicou a estudar os processos de aprendizagem e duas teorias principais sustentam essa questão: a behaviorista e a cognitiva. Já discutimos de forma aprofundada essas teorias na aula 03 e vimos que a behaviorista explica a aprendizagem por conexões estímulo-resposta e a cognitiva amplia a discussão do processo de aprendizagem ao considerar que o consumidor é um solucionador de problemas. Quando falamos de aprendizagem também precisamos considerar um outro processo muito importante para o marketing: a memória! A partir do momento que compreendemos como funciona a memória, podemos utilizar em diversas aplicações mercadológicas como veremos a seguir. Como formamos a nossa memória? Não utilizamos as informações de forma “pura” porque o nosso cérebro faz interpretações dos dados externos. Essa interpretação feita por nós é chamada de processamento de informações que é dividida em três etapas: Fonte: SOLOMON, 2011 A primeira etapa, de codificação, diz respeito àquela que em que uma informação é colocada na memória. Por exemplo, você está no intervalo do jornal que você está assistindo passa uma propaganda com um jingle engraçadinho de uma pastilha para garganta que você desconhecia, chamada Semdhor. Esse momento, portanto, corresponde a codificação da informação da existência desse remédio, que passara a seguir pela fase de armazenagem, na 5 qual você vai “estocar” o conhecimento sobre a pastilha Semdhor até precisar dela um dia, integrando à sua memória. Até que um dia, depois de uma semana de intensas variações climáticas você fica com uma gripe muito forte e consequentemente com dor de garganta. Nesse momento a informação armazenada na memória vai passar por um estágio de recuperação e você vai à farmácia para experimentar o Semdhor. Durante o processo de decisão de compra, combinamos a memória interna com a memória externa. A memória interna são as informações que são recuperadas organicamente no processo de compra, como no exemplo do Semdhor citado anteriormente. Já a memória externa são informações que o consumidor consulta para planejar a compra, como uma lista de compras, por exemplo, que deixa claro os itens faltantes. De acordo com Solomon (2011, p. 132) “[...] se os profissionais de marketing conseguirem induzir o consumidor a planejar a compra de um item antes de ir às compras, haverá uma grande probabilidade de esse item ser comprado”. Seguindo a lógica, as empresas podem criar estratégias para que o consumidor planeje comprar o seu produto com o uso de mecanismos de memória externo correto? Com essa proposta, a Amazon lançou os dispositivos Amazon Dash e o Amazon Dash Button, que tem como intuito de automatizar compras do cotidiano de forma intensa. O primeiro dispositivo lançado em 2014, funciona como um leitor de código de barras com um microfone que se comunica com a conta do consumidor da Amazon, desta forma a medida que os produtos acabam, o consumidor passa o leitor de código de barras na embalagem do produto que dispara um pedido automático pela conta do usuário e entrega é feita na casa do cliente. Para facilitar ainda mais a construção da memória externa, a Amazon criou em 2015 o Amazon Dash Button que é a versão botão do primeiro dispositivo que fica espalhado pela casa nos locais em que os produtos são utilizados.Na imagem, o botão da marca Tide de sabão em pó é posicionado sobre a máquina de lavar roupa. Quando o sabão em pó acabar, o cliente só 6 precisa pressionar o botão que está conectado via wi-fi a conta da Amazon dele e o pedido vai ser inserido à lista de compras. Outro elemento relacionado à memória que é amplamente explorado no marketing é a recuperação das memórias afetivas que construímos com produtos e marcas. A nostalgia é poderosa e pode trazer associações passadas que guardamos, é aquela sensação de reviver os bons tempos. Com a intenção de resgatar esse tipo de memória, a Nestlé relançou em 2012 um dos seus grandes sucessos da década de 1980, o chocolate Lollo. Dentro do conceito de nostalgia no marketing, temos o desenvolvimento de produtos “retrôs” que são uma versão atualizada de algum produto do passado. De acordo com Oliveira (2012, p.2) “Esses objetos transportam vivências, fazendo com que a expectativa de ter ou reviver essas lembranças seja materializada”. Portanto, nesses casos o foco do consumo na realidade são as associações feitas e não necessariamente o produto em si. Uma linha de produtos nesse conceito é a linha retrô da Brastemp, pioneira no conceito no Brasil, ao resgatar o design de eletrodomésticos dos anos 1950 e 1960, mas com a tecnologia atual. Compreender como o consumidor aprende e como ele armazena e resgata as informações fornecidas pela empresa ou por outras fontes para a tomada de decisão é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de marketing. Leitura obrigatória Leia o capítulo 4 do livro “Comportamento do consumidor: conceitos e casos”. Lá você vai aprender ainda mais. Saiba mais Assista o comercial de comemoração dos 30 anos da Melissa e observe como a marca explorou a questão da memória afetiva do seu público-alvo indicando que a marca melissa esteve presente em diferentes fases da sua vida. Veja o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=s3uoS0wBsVo 7 TEMA 02: O EU, PERSONALIDADE E ESTILO DE VIDA Entender como o consumidor se vê e quais são suas projeções ajuda os profissionais de marketing a compreender quais produtos devem ser desenvolvidos e quais as formas de comunicação mais eficazes com base no autoconceito (ou autoimagem) dos consumidores. Podemos definir o autoconceito como aquilo que “refere-se às crenças de uma pessoa sobre seus próprios atributos e ao modo como ela avalia essas qualidades” (SOLOMON, 2011, p. 192). O autoconceito é formado por cinco dimensões no comportamento do consumidor: eu real, eu ideal, eu social, eu ideal para os outros e eu esperado (SAMARA E MORSCH, 2005, p.142): Eu real: a maneira como os consumidores realmente veem a si mesmo Eu ideal: como os consumidores almejam ser Eu social: como os consumidores sentem que os outros os veem Eu ideal para os outros: como os consumidores gostariam que os outros o vissem Eu esperado: como os consumidores esperam ver a si mesmos em algum momento futuro específico Esse conjunto de “eus” é chamado de “eus múltiplos”, pois o consumidor na vida real desempenha uma série de papéis sociais, portanto cada um de nós na realidade é uma série de pessoas diferentes (SOLOMON, 2011). Ou seja, é o conjunto de como projetamos quem somos ou gostaríamos de ser a partir de diversos elementos como a nossa personalidade, posses, ocupações e relações sociais, por exemplo. Os produtos que utilizamos para representar cada uma dessas “pessoas” também vai variar. No trabalho podemos escolher um perfume com uma essência mais sóbria para desempenhar nosso papel profissional, mas escolher um perfume mais marcante para um encontro no sábado à noite. 8 Portanto, o que consumimos nos ajuda a construir cada um dos nossos “eus” e a moldar nossas representações. No marketing, entender cada um desses papéis é fundamental, especialmente para que a empresa possa compreender quais produtos devem ser desenvolvidos para preencher cada uma das lacunas dos papéis dos consumidores. Em geral, o marketing utiliza a questão do eu ideal para criar um consumo “aspiracional”. Entretanto, iniciativas interessantes como a campanha “Beleza Real” da Dove tenta acabar com a lacuna entre o eu real e o eu ideal. A identidade sexual também é um componente importante para a discussão do autoconceito, que muda de acordo com a cultura e o período temporal. Os profissionais de marketing criam diversos produtos sexualmente tipificados em função de segmentação de mercado (SOLOMON, 2011). Entretanto com a discussão emergente a respeito de gênero que vivemos nos últimos tempos, esse tipo de segmentação passa a ser cada vez mais delicado de ser trabalhado. A BIC lançou uma caneta específica para mulheres nos EUA e a resposta coletiva em relação a esse produto foi bastante negativa, ganhando endosso de grandes influenciadores americanos como a comediante Ellen Degeneres que criticaram a iniciativa sexista da empresa. A empresa de pesquisa de tendências “Ponto Eletrônico” traz sinais de que a forma como entendemos a identidade e, especificamente o gênero, precisa ser revista pelas empresas. De acordo com Oliveira Jr. (2015): Identidades de gênero — em especial as não-binárias — são tão importantes para o mercado que poderão estabelecer quais empresas permanecerão relevantes nas próximas décadas. A moda, por exemplo, sendo um dos símbolos mais caros à expressão das identidades, já vem apresentando nas últimas temporadas coleções cada vez menos setorizadas quanto à questão de gênero. Com crescente frequência, lemos notícias sobre pais que deixam seus filhos se vestirem de personagens classificados como do sexo oposto, vídeos que viralizam sobre crianças questionando os motivos de existirem brinquedos para meninos e meninas separadamente. 9 São manifestações que alertam a indústria De nada adianta rotular seus produtos por gênero. Ditar a maneira como cada um deve se relacionar com o consumo será uma atitude cada vez mais repudiada, que passa a entender essa divisão como signo de atraso. No outro extremo, tentativas de dissipar barreiras serão cada vez mais bem vistas. Outro conceito importante no comportamento do consumidor nesse tópico é o do eu estendido, que é formado por elementos externos que o consumidor considera como parte de si. O eu estendido pode ser decomposto em quatro níveis (SOLOMON, 2011): Nível individual: são os bens pessoais do consumidor como parte de quem são. Nível familiar: é a residência do consumidor e seus móveis. Nível comunitário: é o seu local de origem e as associações feitas a ele. Nível de grupo: ligações com grupos sociais. Os quatro níveis refletem diretamente no consumo do indivíduo e precisam ser compreendidos pelas empresas. Outro construto que influência o comportamento do consumidor é a sua personalidade, definida como “o conjunto de características psicológicas singulares que levam a reações relativamente coerentes e contínuas em relação ambiente” (SAMARA E MORSCH, 2005, p. 132). Portanto a personalidade é uma espécie de “bússola” que orienta como devemos agir em determinadas situações. Compreender como o consumidor guia suas decisões a partir da sua personalidade é fundamental para o marketing, pois “a personalidade do consumidor influencia o modo como ele reage aos estímulos de marketing” (SOLOMON, 2011, p. 274). Outro elemento que faz com que um consumidor tenha escolhas de compra eminentemente diferente um do outro é o seu estilo de vida adotado. Um dos tipos de segmentação populares é o demográfico, entretanto, hoje em diase admite que não podemos pressupor que só porque as pessoas tenham as mesmas características de consumo somente por pertenceram ao mesmo gênero, idade, classe econômica e nível de escolaridade. 10 Atualmente, o marketing reconhece que “as pessoas se classificam em grupos com base nas coisas que gostam de fazer, como gostam de usar seu tempo livre e como resolvem gastar sua renda disponível” (SOLOMON, 2011, p. 253). A esse tipo de segmentação damos o nome de segmentação psicográfica que influencia diretamente a decisão sobre alguns produtos, já que para diversas pessoas os produtos que elas compram são evidentemente “tijolos” que as ajudam a expressar ao mundo qual o seu estilo de vida. E para que pode ser utilizada a segmentação psicográfica no marketing? A partir da compreensão de qual o estilo de vida consumidor é possível tomar decisões como posicionamento do produto e comunicação dos atributos, por exemplo. Para isso há uma série de ferramentas desenvolvidas para se identificar o estilo de vida do grupo consumidor em questão, na qual as abordagens mais modernas utilizam três categorias bases para agrupar os consumidores, sendo elas: Atividades - Interesses - Opiniões (AIOs) Uma das métricas mais famosas para se mensurar o estilo de vida é o sistema VALS2 (The Value and the Lifestyles System) desenvolvido pela SRI Internacional (SOLOMON, 2011) que utiliza 39 itens (35 psicológicos e 4 demográficos) entre 8 grupos possíveis. Para saber mais sobre as métricas de estilo de vida leia o livro “A influência do consumidor nas decisões de marketing, de Márcia Valéria Paixão, Cap. 2” Estudar o comportamento do consumidor é um fator essencial no trabalho da gestão de Marketing de uma organização. Sabendo disso, uma concessionária de carros decidiu contratar uma empresa para realizar uma pesquisa de mercado, que revelou quatro segmentos distintos de consumidor: entusiasta por status; essencialista; sensato e guiado pela imagem. Com o resultado da pesquisa em mãos, agora é possível traçar o perfil desses consumidores e oferecer o produto que mais combina com cada um deles. 11 Leitura obrigatória Leia o capítulo 2 do livro “A Influência do Consumidor nas Decisões de Marketing”. Acesse a Biblioteca Virtual. Saiba mais E como o estilo de vida se traduz para a nova era de consumo digital? Como esses recursos moldam suas identidades? Assista o vídeo a seguir da proposta da DM9 em relação a perfis “digigráficos”: https://www.youtube.com/watch?v=BIvkAtr1k2U E depois responda essa: O que você pensa sobre essa proposta de segmentação? TEMA 03: ENVOLVIMENTO COM A MARCA Criar mecanismos que envolvam o consumidor com produto, marca, mensagem ou outros processos diversos de consumo é uma prática bastante disseminada na área de marketing. O sentido original de envolvimento surgido na “[...] psicologia social, é um conceito que se traduz na relação estabelecida entre um sujeito e um objeto, um sujeito e outro ser ou um sujeito e uma situação concreta. É utilizado para justificar determinadas atitudes ou mudanças de atitudes.” LEMOS, 2014, p.29 Assim, o envolvimento com a marca conseguiria levar o consumidor a atitudes concretas como a compra. Para Solomon (2011, p.164) “Podemos ver o envolvimento como motivação para processar informações. Até onde houver uma ligação percebida entre as necessidades, metas ou valores de um consumidor e o conhecimento do produto”. O envolvimento com a marca pode ser definido pelo grau de importância percebido pelo consumidor em relação à marca, em que “o grau de envolvimento com uma pessoa pode ser concebido como um continuum, que vai da total falta de interesse em um estímulo de marketing até a obsessão” (SOLOMON, 2011, p.164). Há marcas que conseguem atingir um nível de envolvimento tão alto que motivam o consumidor à rituais irracionais como nos lançamentos da Apple, por 12 exemplo, em que os clientes acampam na frente da loja. Tudo para serem os primeiros a comprarem os produtos, mesmo que tenham a opção de comprar online e receber em alguns dias em casa depois da data de lançamento. Para Solomon (2011) o envolvimento com a marca é influenciado por fatores pessoais, situacionais e do próprio objeto (estímulo). Os fatores situacionais dizem respeito às necessidades, importância, interesse e valores atribuídos pelo consumidor Entender o nível de envolvimento do consumidor com a marca é importante para o marketing entender como deve disponibilizar as informações, traçar as estratégias de distribuição, comunicação, etc. Para isso precisamos mensurar essa questão e uma das medidas mais utilizadas para avaliar o envolvimento com a marca é pela escala PII (Personal Involvement Inventory), desenvolvida por Zaichkowsky (1994). A escala em questão é de diferencial semântico e possui 10 itens (com 20 pares de palavras) que precisam ser avaliados de 10 a 70, sendo eles (SOLOMON, 2011, p.172): * Indica que o item tem escore inverso Outro modelo que se propõe a medir o envolvimento é a CIP (Consumer Involvement Profile), desenvolvida por Laurent e Kapferer (1985) e que está fundamentada em 5 dimensões (VERBEKEE E VACKIER, 2003): 1. Importância percebida, que se trata do significado pessoal que a marca possui para o consumidor; 2. O valor hedônico, relacionado à capacidade do produto em provocar prazer e afeto; 1. Importante – Sem importância* 2. Entediante – Interessante 3. Relevante – Irrelevante* 4. Empolgante – Sem graça* 5. Insignificante – Muito significativo 6. Atraente – Não atrativo* 7. Fascinante – Trivial* 8. Sem valor – Valioso 9. Envolvente – Indiferente* 10. Desnecessário – Desnecessário 13 3. O valor simbólico, que diz respeito a como o consumidor relaciona a marca para a expressão de sua individualidade e autoconceito; e a última dimensão é a probabilidade de risco associada a compra da marca, que se refere às consequências negativas de se fazer uma escolha equivocada e à probabilidade de se fazer tal escolha 4. A percepção da importância das consequências negativas de se fazer uma escolha ruim 5. A probabilidade percebida de se fazer a escolha errada. Depois de decidir qual ferramenta utilizar para medir o envolvimento com o consumidor, o profissional de marketing deve utilizar essas informações para trabalhar em estratégias adequadas para aquele determinado nível de envolvimento. No caso de marcas com baixo envolvimento, o profissional de marketing precisa criar formas de motivar o consumidor a processar informações relevantes. Como? Através dessas técnicas (SOLOMON, 2011): Apelar para o senso hedônico dos consumidores. Usar novos estímulos nos comerciais, como uma cinematografia incomuns, silêncios repentinos ou movimentos inesperados. Usar estímulos importantes, como música alta e ação rápida, para chamar a atenção nos comerciais. Permitir que os clientes criem as mensagens através da co-criação. Já as marcas que conquistaram um alto nível de envolvimento precisam trabalhar constantemente para manter esse nível, já que o envolvimento tem consequências bastante positivas como a lealdade. A pesquisa de Lemos (2014) encontrou indícios de que a experiência com a marca influência no envolvimento com a marca e o envolvimento consequentemente tem relação com a fidelização do cliente. Leitura obrigatória Leia o capítulo 4 do livro “Comportamento do consumidor: conceitos e casos”. Acesse a Biblioteca Virtual. 14 Saiba mais A rede de concessionárias Toyotaconquistou a primeira posição no ranking das 20 empresas que se relacionam melhor com o seu consumidor. A pesquisa CX Index Brasil 2015, realizada pela SAX, avaliou 15 setores do mercado, três a mais em relação ao ano passado, em nove estados brasileiros. Leia mais em: https://www.mundodomarketing.com.br/ultimas- noticias/34947/toyota-conquista-lideranca-de-melhor-relacionamento-com- cliente.html TEMA 04: O PAPEL DAS COMUNIDADES DE MARCA Ao longo da vida participamos de diversas comunidades como na escola, no trabalho e no bairro em que vivemos. Na adolescência, muitos fizeram parte de alguma tribo urbana, compartilhando com outras pessoas os mesmos gostos e preferências musicais, ideológicos e estéticos, por exemplo. No entanto, a comunidade de marca tem uma característica especial pois as pessoas nela estão ligadas umas às outras com base na conexão que elas têm com uma marca. Para Muniz e O’Guinn (2001) as comunidades de marca são não geográficas, especializadas, limitadas e baseadas em um conjunto estruturado de relações sociais entre admiradores de uma determinada marca. Para os autores, assim como em outras comunidades são demarcadas por uma consciência compartilhada, rituais e tradições, além de um senso de responsabilidade moral. Devemos compreender, portanto, que o foco da comunidade de marca não está somente na relação entre o consumidor e ela, mas principalmente na ligação criada entre os consumidores, compartilhando um sentimento mútuo e criando vínculo entre eles. Assim, algumas marcas tem o poder de criar uma comunidade de fãs ao redor dela. As comunidades podem emergir organicamente pelos próprios consumidores ou pode ser construída pela marca, sendo que ambos os casos as empresas precisam fornecem uma infraestrutura de apoio para suportar a comunidade, estruturando a comunidade de marca em uma configuração triádica (consumidor-marca-consumidor). 15 Para Almeida et al (2011, p.369): A comunidade atua como importante grupo de referência para seus participantes. Assim, o processo de internalização nas comunidades virtuais ocorre quando um indivíduo acha que seus valores fecham com aqueles de outros membros do grupo. Na extensão em que os valores de um membro da comunidade estiverem em congruência com os valores dos demais membros, as intenções conjuntas devem aumentar. As marcas esportivas são muito bem-sucedidas em criar comunidades de marca como torcidas organizadas ao redor dos seus times, por exemplo. Outro exemplo bastante interessante é a comunidade de “harleyros” formada ao redor da marca Harley Davidson. A Harley-Davidson criou em 1983 um grupo de motociclistas da marca conhecido como HOG (Harley Owners Group) com uma estimativa de ser formado por cerca de 500 mil membros no mundo no ano de 2000 (ALMEIDA ET AL, 2013). Os consumidores se reúnem em forma de comunidade tanto para criticar quanto para trocar experiências positivas sobre a mesma. De acordo com Alves, Monfort e Rolon (2014, p. 160): “Quanto maior o tempo de participação dos membros em comunidades de marca, mais fortalecida fica sua identificação com os demais membros”. Portanto, com o passar do tempo, a tendência é que as comunidades tomem uma proporção cada vez maior para o consumidor. Desta forma a empresa deve-se questionar o quanto o consumidor pertencer a uma comunidade de marca explica ou representa quem ele é para entender a dimensão da sua importância na vida do cliente. “Quanto mais central a atividade de consumo é para o autoconceito psicológico do indivíduo, ou seja, quanto mais importante os símbolos desta forma particular de consumo são para a autoimagem, maior a probabilidade de ele prosseguir e valorizar à sua filiação à comunidade que está centrada neste tipo de consumo.” (BORGES, BAPTISTA E MAFFEZZOLLI, 2012, p.3) Do ponto de vista do marketing conseguir manter uma comunidade de marca é uma vantagem competitiva muito forte, pois além de gerar a lealdade, 16 esses laços com os consumidores são baseados em um certo grau de dependência já que a marca faz parte da identidade do consumidor. Além disso, empresas novas no mercado também devem criar esse ambiente para propiciar a troca de informações de fontes mais credíveis como outros consumidores. Leitura obrigatória Leia o capítulo 4 do livro “Marketing de Relacionamento: Como Construir e Manter Relacionamentos Lucrativos”. Acesse a Biblioteca Virtual. Saiba mais O sonho de toda marca é ter a seu lado consumidores fiéis que orientem as criações, tendências e novos negócios, de modo que a marca sempre acabe agradando porque oferece exatamente o que seus fãs desejam. Leia mais em: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/midias- sociais/2010/08/12/comunidades-o-poder-do-consumidor/ TEMA 05: O FUTURO DAS MARCAS Para fechar a aula sobre conexão com os clientes, nada mais atual do que falar das tendências identificadas pela Empresa Trendwatching (2015) sobre o futuro das marcas que apontam justamente para esse caminho, mostradas a seguir. Human-brands Esta tendência diz respeito ao fato de a comunicação corporativa formal, em que as empresas são colocadas como instituições romantizadas e perfeitas estão causando cada vez mais aversão e descrença aos consumidores e conseguindo cada vez menos atenção. E qual seria a saída para essa questão? É justamente humanizar as marcas, ou seja, fazê-las descer do seu pedestal e ter uma linguagem cada vez mais natural, admitindo inclusive suas imperfeições e erros. 17 Isso acontece porque a natureza humana diz que as pessoas têm dificuldades em estabelecer um elo verdadeiro, se aproximar, ou realmente confiar em outros humanos que fingem não ter fraquezas, defeitos ou erros. [...] A medida que certas empresas obtêm sucesso ao mesmo tempo em que continuam sendo justas, prestativas, divertidas ou até mesmo um pouco “humanas”, os consumidores ficarão cada vez mais desiludidos ao lidar com marcas tradicionais, insossas e impessoais. (TRENDWATCHING, 2012) O pressuposto que sustenta essa relação no fundo é bastante simples: as pessoas querem se relacionar com pessoas, por isso a lógica de comunicação deve ser a interação em primeiro lugar e a venda uma consequência. Um exemplo de ação de marketing que teve como foco a transparência foi justamente a campanha da pizzaria Domino’s em 2011 na qual foram transmitiram opiniões boas e ruins de consumidores ao vivo pelo outdoor digital localizado na Times Square em Nova York. Assim, marcas que reconhecem seus erros e se disponibilizam a corrigi-los estão sendo cada vez mais bem aceitas pelos consumidores. Outro exemplo de humanização de marca no Brasil, é o do conhecido caso da prefeitura de Curitiba nas redes sociais que foram os primeiros a quebrar o protocolo de utilizar uma linguagem excessivamente formal e rebuscada como uma instituição pública e aderiram a uma linguagem que se aproxime da população. Desta forma, a população se interessa pelo conteúdo sério postado nas redes sociais da prefeitura, já que a comunicação é feita de uma forma leve, humana, se apropriando de memes e elementos da cultura pop para se aproximar do seu público. In-hand brands De acordo com essa tendência, servir é a nova forma de vender, fazendo com que as empresas precisem ser mordomos contemporâneos. Desta forma as marcas precisam estar presentes na vida dos consumidores para ajudá-los de fato em várias situações de suas vidas de forma onipresentee criar um laço mais forte com a marca. 18 Com a tecnologia móvel a possibilidade de oferta de serviços cresce exponencialmente e força as empresas a transformar as suas campanhas em serviços para surpreender o cliente de forma positiva quando ele menos espera em forma de aplicativos. A Nivea desenvolveu o aplicativo The Nivea Sun para que os brasileiros possam se bronzearem de forma segura ao sugerir o SPF correto e o dia específico que o cliente deve se bronzear a partir da coleta de informações dele. Além disso o aplicativo gera um alerta ao usuário quando o protetor solar deve ser reaplicado. A tendência da marca mordomo não fica restrita a dimensão online e diversos serviços offline podem ser aplicados a partir desse conceito. Muitas marcas utilizaram o espaço do evento rock in rio 2015 para fornecer serviços gratuitos, como a Ortobom que disponibilizava um espaço com seus colchões para que os frequentadores do festival pudessem descansar por 10 minutos e ouvir uma música relaxante para voltar a maratona de shows reenergizados. Assim, as marcas passam a servir os consumidores com serviços diversos que facilitam suas vidas em diversas situações e criam associações com seus produtos, elas passam a fazer parte de suas vidas. Brands stands Em um cenário de transformações e mudanças, outra tendência forte é que os consumidores esperam que as marcas se posicionem em relação a diversas causas, por mais delicadas que elas sejam. Os clientes querem ter a sensação de que estão do lado certo ao se aproximar de marcas que tomam partido em questões importantes. A marca Uber em parceria com o Dog Hero e o Instituto Luisa Mell, criou a campanha uberPET para estimular a adoção de animais abandonados, em que os interessados podiam solicitar um uberPET, e assim que possível um motorista iria até a casa do potencial dono com 2 a 3 cachorrinhos para que o mesmo pudesse brincar durante 15 minutos e se gostasse do animal de estimação adotá-lo na hora. O Boticário, na campanha de dia dos namorados de 2015 se posicionou em relação ao reconhecimento de relacionamentos homoafetivos que foi ovacionada por uma parte do público e gerou discussões por uma outra 19 parcela. O importante é que eles se posicionaram em relação ao tema e ficaram no centro da discussão. Leitura obrigatória Leia o capítulo 8 do livro “Comportamento do consumidor: conceitos e casos”. Acesse a Biblioteca Virtual. Saiba mais A adoção de aplicativos como estratégia de mercado ainda dá seus primeiros passos. Mas as empresas que apostaram no recurso já conseguem enxergar resultados. Leia mais em: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2014/08/aplicati vos-melhoram-comunicacao-com-clientes-diz-pesquisa.html TROCANDO IDEIAS A campanha da Dove tenta acabar com a lacuna entre o eu real e o eu ideal. Essa perspectiva funciona muito bem para a Dove que foi a pioneira nesse conteúdo. Entretanto, o conceito de eu ideal e o uso de uma comunicação fantasia ainda é um tópico em evidência no marketing. Vocês acreditam que essa a estratégia adotada pela Dove é sustentável em longo prazo? NA PRÁTICA Você já ouviu falar da expressão Brand Lover? Pela novidade do termo pode ser que não, mas certamente você já os viu por aí em redes sociais ou até mesmo em blogs. Um brand lover, como a tradução já explica, é um amante de determinada marca, um cliente que gosta tanto de um produto ou empresa que resolve advogar a favor, gerando um tipo de propaganda espontânea. Existem três tipos de brand lovers. O mais comum é aquele consumidor completamente fidelizado à marca e que faz propaganda boca a boca, como é o caso da gerente de qualidade da 20 Italian Coffee Sílvia Magalhães. “Há seis anos só compro roupas da Animale. Só esse ano já devo ter deixado mais de R$ 30 mil na loja”, conta a executiva que até o celular dos atendentes da loja tem. “Compro para a família inteira. Já converti minha sogra e minha cunhada, que agora só compram roupas de lá.” Há também aquele consumidor que gasta muito dinheiro com sua marca preferida, mas que, além disso, é filiado à fanpages e fóruns de discussão envolvendo a empresa na internet. Por vezes presta até consultoria para outros consumidores na hora de decidirem qual a melhor opção. É o caso do estilista mineiro Gustavo (Guuh) Green, tão fanático pela francesa Louis Vuitton que faz questão de divulgar as novidades da grife no Facebook, Twitter e fotolog. A dona de casa Ana Paula Ramos, assim como o estilista, compartilha tanto novidades da Unilever, empresa da qual é consumidora assídua, que virou uma espécie de referência. “Sempre comento as postagens da fanpage, deixo a minha opinião para todos saberem que eu amo a empresa. E as pessoas pedem minha opinião antes de comprar um produto”, comenta a moça, que já ganhou vários prêmios de fã número um de páginas como OMO e Seda. Já o terceiro tipo de brand lover, apesar de não ser o mais comum, é o que tem maior poder de mobilização. “O chamado pró-ativo cria blogs ou comunidades de amor às empresas e é capaz de gerar mobilização nas redes sociais. Ele assume a postura de dono da marca, tendo um comportamento parecido com o de torcida de time de futebol, motivando rivalidade entre concorrentes e defendendo como pode sua preferida”, diz Alessandro Barbosa, CEO da empresa de monitoração e análise de mídias sociais E.Life. No Brasil, William Bertochi tem um caso de sucesso. O empresário administra desde 1999 o site Monza Clube, onde reúne matérias e informações sobre os veículos já fora de linha. Com 16 mil pessoas cadastradas e uma média de 500 mil visitantes por ano. Os eventos promovidos por Bertochi também são grandiosos: em 2005, o 3º Encontro Nacional do Monza Clube reuniu 505 veículos e mais de cinco mil amantes de Monza. Agora responda: Quais os conceitos vistos hoje explicariam a conexão que os brand lovers tem com as marcas? 21 SÍNTESE Ao longo dessa rota discutimos conceitos e ferramentas para criar conexão com os clientes. Para isso, aprendemos inicialmente como o processo de aprendizagem e memória funcionam e como as empresas podem utilizar esses mecanismos para influenciar na decisão de compra. Em seguida, discutidos conceitos importantes para o comportamento do consumidor como o Eu, Personalidade e Estilo de Vida, que mostram como o consumo pode ajudar a construir a identidade do consumidor. Por fim, vimos temas relacionados ao envolvimento, comunidade e o futuro das marcas, ampliando a nossa visão sobre a função e o propósito das marcas na vida dos consumidores. REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. O. V.; TAVARES, M. C.; TEIXEIRA, D. J.; URDAN, A. T. Comunidade de marcas e os proprietários de harley-davidson em Belo Horizonte. Revista Gestão & Tecnologia, v. 13, p. 235-257, 2013. ALMEIDA, S. O.; MAZZON, José Afonso; MÜLLER NETO, Hugo F; DHOLAKIA, U. M. Os Efeitos da Participação em Comunidades de Marca Virtuais no Comportamento do Consumidor: Proposição e Teste de um Modelo Teórico. RAC. 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