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O Alto Amazonas

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O Alto Amazonas
Capitulo III: A cultura da floresta tropical
O capitulo em questão procura nos mostrar estudos a respeito do modo de vida e costumes dos mais antigos habitantes do Alto Amazonas, desde 2000 a.c até 1500 d.c, aproximadamente, relacionando certos padrões culturais chamado de “cultura da floresta tropical”. O autor procura por em evidencia as características de desenvolvimento da economia local presentes naquela época e de toda uma estrutura demográfica organizada. 
A América do sul era repleta de diferentes sociedades, o texto nos informa que é muito comum, entre os escritores, contrastar os habitantes da bacia do rio Amazonas com os habitantes pré-colombianos da costa caraíba chamados de circuncaraíbos, dentre as principais características, estão: cultura complexa, grandes comunidades, relações externas com outras aldeias, padrões de guerra desenvolvidos, sistema religioso com hierarquia de divindades, ídolos de madeiras esculpidos, templo e clero profissional. E por outro lado havia os habitantes da bacia do Amazonas caracterizados por um baixo nível de desenvolvimento cultural.
O autor põe em questão seu ponto de vista pautado nos relatos feitos pelos exploradores europeus, por volta de 1500 d.c, de que as tribos ribeirinhas da bacia do amazonas eram dotados de densas populações, unidades politicas vastas, chefes ou reis poderosos, sacerdotes, templos e ídolos. Porém foram as primeiras vitimas das doenças, massacres e tráfico de escravos, portanto dizimados e a muito tempo desaparecidos. 
Contudo, a cultura da floresta tropical deve ser entendida como um estilo de vida tendo como principal atividade o cultivo de raízes, dependentes dos recursos alimentares dos rios, principalmente, e animais terrestres. Vale ressaltar a existência da dificuldade de dados históricos para fundamentar os estudos a respeito desse estilo de vida, uma vez que a umidade presente na bacia do Amazonas dificulta a preservação de restos vegetais que comprovem a presença de tais culturas.
O Cultivo de raízes, plantas em que a parte comestível se desenvolve debaixo da terra, foi o principal alimento produzido pelos indivíduos da cultura da floresta tropical. Devido a uma longa linhagem de produção dessas raízes e das modificações ocorridas pelas reproduções seletivas, essas plantas perderam a capacidade de formar sementes e, portanto sua reprodução e vegetativa e sua sobrevivência depende do homem. 
Dentre as raízes cultivadas nessa cultura, a mandioca foi a mais importante. É um dos produtos alimentares mais eficazes jamais cultivados pelo homem, foi considerado um dos alimentos principal na África tropical e parte da Ásia e Indonésia. Por seu longo período de crescimento, não ficou muito famosa nos campos das regiões de clima temperado ainda mais por sua intolerância ao gelo. 
A mandioca pode ser dividida em dois tipos ácida e doce, resultado de reproduções seletivas ao longo dos anos, com intuito de serem usadas para diferentes fins culinários. O tipo ácido foi inicialmente utilizado como veneno para peixe e como dissuasor de insetos, mas logo foi considerado ineficiente, pois o veneno presente volatiza muito rápido. Esse grupo é utilizado na fabricação de um tipo de pão de forma de discos delgados e rugosos e de uma farinha composta por pequenos grãos duros e globulosos. E apesar do tubérculo da mandioca acida ser extremamente perecível, seus produtos derivados, farinha e pão, podem ser conservados por tempo indeterminado e assim podem gerar um importante excedente econômico. 
A mandioca doce é utilizada como legume, basta descasca-la e cozinhar em agua fervente e a massa servia no preparo de cerveja. Seu tubérculo também não pode ser conservado sendo assim, dura apenas alguns dias após ser retirado da terra.
O processo para se tornar viável o consumo da mandioca acida era mais complexo. Primeiro descascava-se o tubérculo com o auxilio de uma faca de concha ou de cana, depois raspava a raiz em uma tabua raspador especializada para se obter uma massa, essa tabua era talhada em um bloco de madeira dura. A massa resultante era colocada em uma prensa singular chamada de tipiti, que servia para expulsar o suco venenoso, armazenado em um vaso reservatório. A massa era cozida em uma frigideira circular de barro colocada sobre o fogo com auxilio de três suportes cilíndricos de argila cozida. Os locais em que se encontra fragmentos arqueológicos quer seja dos suportes ou da frigideira constituem provas de que a mandioca acida exercia a base da economia. Pode-se derivar da mandioca também a tapioca comercial, mergulhando a polpa em água e retirando o amido puro que é aquecido na frigideira e seco ate formar pequenos grãos. O suco que sai do tipiti se cozido por um bom tempo se torna um caldo bom para consumo, muito utilizado na culinária atualmente, chamada de tucupi. 
Esse processo complexo gerado pela mandioca acida, derivou uma rede mais complexa de interligações sociais formando extensas redes comerciais. Enquanto tribos se especializavam na produção de um excedente de canoas, outras se concentravam na fabricação de tabuas raspadoras, cestos ou cerâmicas. Essas trocas comerciais ultrapassavam barreiras culturais focados no excedente de produtos alimentares. Essas mercadorias derivadas do tubérculo da mandioca eram tão importantes que permaneceram no comercio durante o período pós-colombiano. 
E mais, esse excedente alimentar proporcionado pela mandioca em muito influenciava a conduta politica e social dos povos que faziam parte da cultura da floresta tropical. Existia uma espécie de tradição entre esses povos que garantia respeito e admiração entre os mesmos, era o de que a tribo que organizasse a festa e durasse mais tempo, com fartura de cerveja, a bebida mais importante, e grandes números de disputas (ocasionadas pelo alcoolismo) como forma de aliviar tensões que possam ter surgido entre as tribos. 
Além da mandioca outras raízes foram de grande importância para a cultura da floresta tropical, tais como: a batata doce, o xantossoma, o cará, a achira, a araruta e a jiquina. Outras culturas, não são necessariamente raízes, mas que foram aperfeiçoadas e modificadas por seleção que já não produzem sementes capazes de reprodução e tem de ser plantadas por meio de seções cortadas, são o ananás e a pêra abacate que é a mais importante no que diz respeito a alimentação e ficou bastante popular pela América central. O amendoim, tendo como principal parte a semente, importante fonte de alimento, fora cultivado desde cedo nas planícies da América do Sul. Produtos que fizeram parte do antigo sistema agrícola da cultura da floresta tropical são as varias pimentas de caiena, a grande vagem de lima, a vagem de jaca, a cabaça, o algodão dentre outras varias arvores frutíferas. Tinha também o milho, sendo importante excedente econômico nas planícies tropicais no norte da Colômbia, variadas espécies de feijão vulgar e alguns tipos de abobora.
Não menos importante, as zonas de terra ao redor da casa também eram intensamente cultivadas, a arvore da cabaça, por exemplo, fonte de vasilhas, mascaras e utensílios de oleiros. Arvores frutífera também, e importantes plantas tintureiras como o urucuzeiro (bastante utilizado na culinária), castanho-avermelhado-escuro, e o jenipapo americano, que produzia tinto azul-escuro, muito utilizado para pinturas faciais. Algumas plantas cultivadas em hortas utilizadas na culinária, outras para fins medicinais, artesanais e disciplinares. 
Segundo as informações apresentadas pelo autor, os habitantes da cultura da floresta tropical eram grandes apreciadores de drogas narcóticas e alucinógenas. Tais como infusões derivadas de trepadeira, pós destinados a aspiração de arvores do gênero Piptadenia. Havia também a coca, fonte da cocaína, era cultivada na Alta Amazônia. 
Alguns elementos tecnológicos utilizados pelos habitantes da cultura da floresta tropical puderam ser identificados por estudiosos, apesar da dificuldade de conservação que esses elementos sofrem devido à umidadepresente na bacia do Amazonas. Tinham as armas utilizadas na caça ou até mesmo em confrontos intertribais, como o atlat, o arco e a flecha (eram as mais comuns), a arma mais temida era o macaná, ou clava, feitas de madeira dura com dois gumes cortantes, era tida como objeto de luxo. Como eram dependentes do rio, fez se necessário criar técnicas navais eficientes, para isso criou-se a canoa, para viagens de longa distancia e pesca. Havia também utensílios para triturar alimentos, a mó manual servia para triturar alimentos mais duros, como o milho. Dentes de roedores, maxilar de peixes, como a piranha e bicos resistentes de animais eram utilizados para fabricação de facas em que muito ajudava no talho de objetos em madeiras e em cerimonias de puberdade.
Os elementos produzidos a base de cerâmica e por isso mais resistente as influencias climáticas ao longo do tempo são um dos poucos fatores que os estudiosos possuem para investigar o estilo de vida adotados pelos habitantes da cultura da floresta tropical, outro elemento é o machado de pedra, objeto muito usado para desbravar terras e com isso pode-se provar a importância da agricultura como fator econômico na época. Mas, além disso, há especulações a respeito da existência de uma pequena produção de têxteis de algodão na cultura da floresta tropical, mas por serem considerados perecíveis não há indícios fortes que provem, apenas alguns conssoiros cerâmicos usados na produção de fios. Não podemos deixar de citar a arte de fazer cestos, bastante difundida na bacia do Amazonas, feitas com folhas de palma e lâminas de cana. 
Como dito no inicio, pouco se sabe a respeito da origem da cultura da floresta tropical, até que ponto os exploradores europeus influenciaram nessa tradição cultural. E, portanto, o autor procura mudar o foca da questão, estudando outras civilizações mais antigo/arcaicas na região da América do sul e central que possuíam certas características em comum com a tradição da cultura da floresta tropical, partindo de culturas a base de caça, recolecção, ou colheita de mariscos para uma agricultura de raízes e plantas aproveitáveis. Nas regiões da costa leste do Brasil, do Recife á fronteira com o Uruguai observou-se desenvolvimento tardio dessa tradição e, portanto, descartamos como ponto inicial da mesma. A costa da Guiana brasileira, holandesa e francesa tem fortes indícios de presença desta cultura, porem nada que indique a origem. Já no Noroeste da Guiana há presença de um forte padrão cultural da floresta tropical muito bem desenvolvido, que se deslocaram do baixo Orenoco para a costa da Guiana. A maior parte da costa Venezuela continuou predominante de povos de cultura arcaica, totalmente dependentes da pesca e da recolecção de mariscos e desprovidos de cerâmica.
A mais antiga cerâmica do Novo Mundo era produzida na costa caraíba da Colômbia no concheiro de Puerto Hormiga (3000 a.C). “A cerâmica decorada ainda que seja rara, a decoração que surge é por vezes complicada e bem executada”, mas em muito se difere da cerâmica produzida na América do sul. Enfim, ao que tudo indica, as origens da cultura da floresta tropical são continentais e não costeiras, e é provável que a mesma tenha atingido um nível de eficiência elevado por volta de 300 a.c, não podemos descartar influencias que as bacias lacustres como Valência e do maracaíbo na Venezuela podem ter contribuído para o desenvolvimento primordial dessa cultura.

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