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30/01/2018 1 Teoria Geral do Processo Direito Processual Civil Direito Material: Normas de conduta. Direito Processual: Como aplicar as normas de conduta; como resolver os conflitos no Judiciário. O Direito Processual Civil aplica-se não só ao Direito Civil. Aplica-se também ao Direito do Trabalho, ao Tributário, ao Administrativo, etc. Ementa da Disciplina - Sociedade e Tutela Jurídica - Introdução ao Direito Processual Civil - Normas Fundamentais do Processo Civil - Jurisdição - Ação - Processo - Competência - Sujeitos do Processo: Partes e dos Procuradores - Sujeitos do Processo: Litisconsórcio - Sujeitos do Processo: Intervenção De Terceiros - Sujeitos do Processo: Juiz e Auxiliares da Justiça - Sujeitos do Processo: Ministério Público Bibliografia recomendada Direito Processual Civil Esquematizado (Marcus Vinícius Rios Gonçalves) Curso Avançado de Processo Civil – Vol. 1 (Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini) Curso de Direito Processual Civil – Vol. 1 (Fredie Didier Jr.) Bibliografia recomendada O Novo Processo Civil Brasileiro (Alexandre Freitas Câmara) Curso de Processo Civil – Vol. 1 (Marcelo Ribeiro) (consta na biblioteca da faculdade) 30/01/2018 1 Sociedade e Tutela Jurídica Sociedade e Direito Conceito de sociedade: Pessoas em interação, organização. “Ubi societas, ibi ius. Ubi ius, ibi societas” “Onde há sociedade, há Direito. Onde há Direito, há sociedade” - Também nas comunidades da internet há regras; - Homem sozinho não precisa do Direito. Conflito de interesses Tutela: “defesa”, “amparo”, “proteção”. Lide: Conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida (Francesco Carnelutti). O direito tutela a vida em sociedade evitando e solucionando as lides. Autotutela, heterocomposição e autocomposição Autotutela, heterocomposição e autocom- posição são métodos de solução de conflitos interpessoais. Resolver conflitos concretos: trabalho direto do operador do direito. Autotutela Autotutela é a imposição da vontade de um dos envolvidos no conflito sobre a vontade do outro. Via de regra, a autotutela é proibida. Por exemplo, despejar locatário de apartamento, com uso das próprias forças, é crime de “exercício arbitrário das próprias razões” (art. 345 do Código Penal). Há, contudo, exceções, ou seja, formas de autotutela permitidas pelo ordenamento jurídico. Exemplos: - Legítima defesa e estado de necessidade (arts. 23 a 25 do Código Penal); - Direito de retenção (arts. 578 e 681 do Código Civil, dentre outros). Heterocomposição Jurisdição Na heterocomposição, o terceiro decide a questão. Sua decisão obriga as partes. Pode ocorrer por jurisdição ou arbitragem. “Jurisdição” vem do latim “dizer o direito”. É, em síntese, a atividade do magistrado (juiz, desembargador, ministro), o julgamento. É um poder-dever (é vedado o non liquet). A jurisdição será estudada com mais detalhes oportunamente. Nos próximos slides, seguem abordagens sobre as outras formas regulares de solução de conflitos, que caracterizam um “modelo multiportas” para tanto. 30/01/2018 2 Heterocomposição Arbitragem Na arbitragem, o terceiro que decide a questão não é magistrado. É um indivíduo de fora do Poder Judiciário, escolhido de comum acordo pelas partes. A arbitragem só é possível se ambas as partes desejarem que o conflito seja decidido por meio dela. Se uma das partes não quiser que a decisão seja tomada pelo árbitro, a questão é decidida mediante processo judicial. Heterocomposição Arbitragem Algumas particularidades sobre a arbitragem estabelecidas na Lei nº 9.307/96: - Só vale para direitos patrimoniais disponíveis (art. 1º) (então não vale, por exemplo, para regular direito de visita a filho em caso de divórcio dos pais); - É desnecessária a homologação judicial do que for decidido pelo árbitro (art. 18); - O controle judicial da sentença arbitral é possível, mas apenas em relação à validade – vícios formais (arts. 32 e 33, caput); - O árbitro não pode tomar providência executiva. Autocomposição Quando há autocomposição, um dos envolvidos aceita a pretensão do outro ou ambos os envolvidos cedem em parte. A concórdia entre os litigantes pode derivar do auxílio de um terceiro. O CPC, em seus arts. 165 a 175, regulamenta as funções desses terceiros, os quais são conciliadores ou mediadores. Autocomposição De acordo com o art. 165, §§ 2º e 3º, do CPC, preferencialmente, a conciliação é destinada às hipóteses em que não há vínculo entre as partes anterior ao conflito, e a mediação é destinada às hipóteses em que há esse vínculo. O conciliador pode sugerir soluções para o litígio; o mediador não sugere soluções, mas auxilia os interessados na compreensão das questões em conflito. Autocomposição Os mediadores e conciliadores devem participar de curso realizado por entidade credenciada para que integrem o cadastro de atuantes junto a um tribunal e suas varas. Para tanto, pode haver concurso público (art. 167). A princípio, o conciliador e o mediador são remunerados pelas partes envolvidas (art. 13 da Lei nº 13.140/15), mas, conforme regulamentação do respectivo tribunal, podem concretizar trabalho voluntário (art. 169, § 1º). Pode haver conciliadores e mediadores extrajudiciais (art. 175). 30/01/2018 1 Introdução ao Direito Processual Civil Direito Material e Direito Processual Respectivas normas O Direito Material trata das normas de conduta dirigidas aos cidadãos. São espécies: Direito Civil, Direito Penal, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito do Consumidor, etc. O Direito Processual trata de normas instrumentais (sobre como aplicar as normas de conduta, sobre como resolver os conflitos). São espécies: Direito Processual Penal, Direito Processual Civil, Direito Processual do Trabalho, Direito Processual Constitucional, etc. O Direito Processual Civil aplica-se não só ao Direito Civil. Aplica-se também ao Direito do Trabalho, ao do Consumidor, Empresarial, etc. Normas processuais As normas processuais estão no Código de Processo Civil e em diversas outras leis. Por exemplo: - Constituição Federal - Art. 5º, XXXV, LX e LXXVIII (inafastabilidade da jurisdição, publicidade processual e celeridade), etc; - Lei nº 12.016/08 (Mandado de Segurança); - Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais - Pequenas causas). Constituição e Processo. O art. 1º do CPC Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Exemplos de normas constitucionais com eficácia direta no Direito Processual: art. 5º, XXXV, LX e LXXVIII da CF (mencionados anteriormente). Texto e norma jurídica: distinções Texto legal é um conjunto de palavras editado formalmente para valer como regra. Norma jurídica é o que efetivamente vale como regra. Normalmente, texto legal e norma jurídica coincidem, mas nem sempre isso ocorre. Há textos legais que caem no desuso e há normas jurídicas que não estão claramente expressas em textos legais. Processo e Direito Processual A doutrina costuma definir processo de duas maneiras. Sob um enfoque, é a relação jurídica entre estado e partes (autor e réu). Sob outro enfoque, é a sequência de atos jurídicos para a solução de um conflito perante o Judiciário. Teoricamente, “processo” é diferente de “autos processuais”. 30/01/2018 2 Processo e Direito Processual O Direito Processual, naturalmente, é o que estuda o processo. Hoje, é considerado objeto de estudo autônomo dentro da Ciência do Direito. É um ramo do Direito Público. Afirma-se que o DireitoProcessual é ramo do Direito Público porque envolve o estado. Em suas relações, sempre está presente o juiz, representante estatal. Além disso, parte de suas normas é inderrogável pela vontade dos litigantes. Fases metodológicas da ciência do processo Fase sincretista ou praxista: O processo era considerado como mero apêndice do Direito Material. Durou até meados do século passado. Fase autonomista ou processualista: O processo ganha independência em relação ao Direito Material, tornando-se objeto autônomo de estudo. Enfoca-se o aspecto científico do Direito Processual. Fases metodológicas da ciência do processo Fase instrumentalista: Diminui o formalismo e prioriza a celeridade na condução do processo, que passa a ser tratado mais como um instrumento, como um meio para atingir um fim (satisfação do Direito Material). Fase neoprocessualista, neoconstituciona- lista ou pós-positivista: Admite, em inúmeras situações, prevalência dos princípios sobre as regras. Instrumentalidade do processo O processo não é um fim em si próprio, mas um instrumento para atingir um fim (satisfação do Direito Material). O processo, portanto, é um meio, uma ferramenta. São normas do CPC que exemplificam essa concepção: art. 239, § 1º e art. 282, § 2º. Pode-se dizer que o Direito Processual é o manual de instruções do trabalho do advogado, do promotor e do juiz. Eficácia da norma processual no tempo e no espaço Art. 1º da LINDB: Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Art. 14 do CPC: A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Art. 16 do CPC: A norma processual tem aplicação exclusiva no território nacional (a norma material, em determinadas circunstâncias, pode ser aplicada fora do Brasil). Interpretação da norma processual Interpretação quanto ao método: - Gramatical; - Lógica; - Sistemática; - Histórica. Interpretação quanto ao resultado: - Declaratória; - Extensiva; - Restritiva; - Ab-rogante. 30/01/2018 1 Normas Fundamentais do Processo Civil Introdução Princípios em relação às normas: abstração, extrato, essência, interseção. Os princípios servem não apenas como meios de integração de lacunas (art. 4º da LINDB). Chegam a vincular a aplicação do Direito. Princípios Do Devido Processo Legal O processo deve seguir o que está estabelecido na lei. Embora isso pareça óbvio, na Antiguidade não era sempre observado. Tem origem na Magna Carta – Inglaterra, 1215. Da Dignidade Da Pessoa Humana Mencionado no art. 8º do CPC e no art. 1º, III da CF. Exemplo de previsão do CPC em conformidade com o princípio: Art. 459, § 2º. Exemplo de aplicação do princípio em hipótese não prevista expressamente na lei processual: Conceder prioridade processual a portador de doença grave não abrangida pelo art. 1.048, I, do CPC (art. 6º, XIV da Lei nº 7.713/88). Princípios Do Contraditório e da Ampla Defesa Via de regra, antes de decidir, o juiz deve dar oportunidade de ambas as partes se manifestarem, seja por escrito, seja em audiência. Exceção: liminar concedida inaudita altera pars. Da Publicidade Em regra, qualquer pessoa (não só os envolvidos) pode consultar um processo e comparecer a uma audiência. Exceção: Segredo de Justiça (art. 189). Princípios Da Razoável Duração do Processo Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Mencionado em diversas outras normas, por exemplo: art. 6º e art. 139, II do CPC; art. 5º, LXXVIII da CF. Destina-se ao legislador (que deve editar leis simplificando o processo), ao administrador (que deve racionalizar a estrutura do Poder Judiciário), ao juiz (que deve conduzir o processo com celeridade) e às partes (que não devem criar obstáculos infundados ao andamento processual). Princípios Da Igualdade Processual Exemplo: Nomeação de curador especial (advogado) para o revel citado por edital (art. 72, II). Mas devem ser tratados desigualmente os desiguais na medida em que se desigualam. Exemplos: Prazos estendidos para entes públicos (art. 183); prioridade de tramitação dos processos de maiores de 60 anos e portadores de doenças graves (art. 1.048, I). 30/01/2018 2 Princípios Da Boa-Fé Processual Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Como exemplos de aplicação do princípio, o juiz deve ouvir ambas as partes antes de decidir sobre qualquer questão (art. 10) e as partes não devem oferecer recursos manifestamente protelatórios (art. 80, VII). Princípios Da Eficiência e da Efetividade Mencionados em diversas normas, por exemplo: art. 8º, art. 139, VI e art. 1.069 do CPC; art. 37, caput, da CF. Embora eficiência e efetividade tenham significados muito parecidos, há algumas diferenças entre tais princípios. Pelo Princípio da Eficiência, o processo deve atingir o máximo em resultados com o mínimo em recursos (gastos, esforços e tempo). Pelo Princípio da Efetividade, o processo deve atingir sua finalidade principal: satisfação do direito de quem tem a razão. Um processo eficiente é sempre efetivo, mas um processo efetivo pode não ser eficiente. Princípios Da Adequação e do Respeito ao Autorregramento da Vontade O legislador e o juiz, na medida do possível, devem adequar o processo às vontades e às condições peculiares das partes. Por exemplo: - O Ministério Público deve se manifestar nas ações que envolvam incapazes (art. 178, II); - Os entes públicos têm prazos em dobro para manifestações processuais (art. 183); - O juiz pode dilatar prazos processuais conforme as peculiaridades do caso (art. 139, VI); - As partes podem acordar pela solução ou pela suspensão do processo (art. 487, III, b; art. 313, II). Princípios Da Cooperação Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Internacionalmente, identificam-se dois modelos principais de processo: Dispositivo (Adversarial) e Inquisitivo. No primeiro modelo, os protagonistas da condução do processo são as partes; no segundo, o juiz. Hoje, afirma-se que o processo brasileiro adota elementos dos dois sistemas, configurando um terceiro modelo: o Cooperativo. O Princípio da Cooperação e o modelo cooperativo de processo manifestam-se em normas como o art. 269, § 1º e o art. 77, § 1º. Princípios Da Segurança Jurídica e da Proteção da Confiança A proteção da confiança é manifestação do Princípio da Segurança Jurídica, expresso no art. 5º, XXXVI, da CF. Deve haver alguma estabilidade nas regras que atingem os indivíduos. Embora o papel do Judiciário não seja legislar, muitas vezes a jurisprudência dita as condutas individuais. Assim, os tribunais devem tentar uniformizá-la. Além disso, havendo mudança de entendimento outrora predominante, os tribunais podem modular os efeitos das novas decisões (art. 927, § 3º). Princípios Da Primazia do Julgamento de Mérito Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Exemplifica-se a manifestação desse princípio nas seguintes normas: art. 282, § 2º e art. 317. Do Respeito aos Precedentes O novo CPC, seus arts. 489, § 1º, VI e 927, V, maximiza a necessidade de que os juízes obedeçam às decisões anteriores sobre situações semelhantes e aos entendimentos dos tribunais. Questiona-sea constitucionalidade das novas regras, pois colocam decisões comuns no mesmo patamar de criações constitucionais, como as súmulas vinculantes e o controle difuso de constitucionalidade (art. 103-A e art. 102, I, a da CF). 30/01/2018 1 Jurisdição Conceito e características Jurisdição, ação e processo formam a trilogia fundamental da ciência processual. “Jurisdição” vem do latim “dizer o direito”. Jurisdição, em síntese é a atividade do magistrado (juiz, desembargador, ministro), é o julgamento. Conceito e características A jurisdição é um poder-dever do Estado (é vedado o non liquet). É a última forma de controle social (quando a lei não é suficiente). Cria a regra jurídica do caso concreto. É uma atividade concreta, enquanto a legislação (ato de legislar) é abstrata. Conceito e características Principais características: - Substitutividade (o juiz substitui as partes no encargo de solucionar o conflito delas); - Imparcialidade (o juiz não deve ter vínculo com qualquer das partes); - Monopólio do Estado (só o Estado exerce jurisdição, mas não só o Poder Judiciário, pois, em determinados casos, o Senado Federal tem competência para julgamento - art. 52, I e II, CF); Conceito e características Principais características (continuação): - Coercitividade (o Judiciário tem meios de forçar o devedor a obedecê-lo); - Inércia (via de regra, para que o processo inicie, é necessário que o alguém impulsione o Judiciário); - Definitividade (exauridos os recursos, a decisão é imutável, salvo exceções, como ação rescisória ou vício de citação; seja como for, há definitividade no âmbito do Poder Judiciário); - Unidade (um estado soberano, uma jurisdição). Espécies de jurisdição Pelos órgãos judiciários que a exercem: - Comum (Federal Comum, Estadual); - Especial (Eleitoral, do Trabalho, Militar). Pela posição hierárquica dos órgãos que a exercem: - Inferior (1ª instância); - Superior (2ª instância em diante). Também se divide a jurisdição em contenciosa ou voluntária. 30/01/2018 2 Jurisdição voluntária Jurisdição voluntária, em síntese, é exercida em processos nos quais não há conflitos. Exemplos: alienação de bens de menores e divórcio consensual. Está regulada nos arts. 719 e segs. É atividade de integração e fiscalização. Diz-se que nem sempre é “voluntária”: às vezes não há opção, deve-se submeter a situação ao Judiciário. Diz-se que não é “jurisdição”, mas administração pública de interesses privados. Princípios e poderes INVESTIDURA: Para ter jurisdição, o juiz deve estar investido regularmente perante a lei, por concurso ou, nos casos admissíveis, por nomeação. TERRITORIALIDADE: Os juízes só têm autoridade nos limites de suas comarcas. Daí porque a necessidade de cartas precatórias para a realização de penhoras e outros atos em outras comarcas. Exemplo de exceção: art. 60. Observação: A territorialidade é limite para o julgamento, mas não para a produção de efeitos do julgamento. Por exemplo, a obrigação de pagamento reconhecida em determinada comarca permanece válida mesmo que as partes mudem de domicílio para outras comarcas. Princípios e poderes INDELEGABILIDADE: O juiz não pode delegar a jurisdição de que está investido a outra pessoa ou juiz. INEVITABILIDADE: Em tese, não se pode evitar exercício da jurisdição. A inevitabilidade está relacionada ao poder de coercitividade. Exemplos: arts. 301 e 536, § 1º Exceção: Art. 217, §§ 1º e 2º, da CF. A nova feição da atividade jurisdicional Pode-se afirmar que, com os arts. 489, § 1º, VI e 927, V, o novo CPC implantou (ou tentou implantar), no sistema processual civil brasileiro, o Common Law. Literalmente, exige que os juízes julguem conforme as decisões anteriores sobre casos semelhantes e conforme os entendimentos dos tribunais. Entretanto, a constitucionalidade de tais inovações é questionável, pois atribui a qualquer decisão judicial a mesma força conferida a institutos como a súmula vinculante e o controle difuso de constitucionalidade, que estão previstos no art. 103-A e no art. 102, I, a da Constituição Federal. Seja como for, pode-se dizer que o atual sistema processual civil brasileiro atribui grande valor aos precedentes judiciais. A nova feição da atividade jurisdicional Na prática, porém, o juiz tem muita liberdade ao julgar, seja porque há diversas normas que caem no desuso, seja pela fase Pós-Positivista do Direito, que frequentemente confere aos princípios primazia sobre as regras escritas. Além disso, há as denominadas “cláusulas gerais”, que consistem em normas que atribuem elevado grau de liberdade ao julgador, a depender das circunstâncias de cada caso. São exemplos de cláusulas gerais do CPC: art. 6º, art. 301 e art. 536, § 1º (estes últimos, mencionados anteriormente). 30/01/2018 1 Ação Conceito e naturezas jurídicas Grinover, Dinamarco, Cintra: “(...) Ação, portanto, é o direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou o poder de exigir esse exercício). Mediante o exercício da ação provoca-se a jurisdição, que por sua vez se exerce através daquele complexo de atos que é o processo”. Conceito e naturezas jurídicas NATUREZAS JURÍDICAS: Direito público, subjetivo, abstrato (autônomo) e constitucional. - Direito público: Porque não é exercido contra o réu, mas em face do Estado. - Direito subjetivo: Corresponde a um atributo do cidadão, a uma faculdade. - Direito abstrato (autônomo): O indivíduo tem o direito de pedir algo ao Judiciário mesmo que não tenha direito àquilo que está pedindo. - Direito constitucional: Pois está previsto no art. 5º, XXXV, CF. Elementos da ação Elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido (art. 337, § 2º) A causa de pedir é composta de fatos e fundamentos jurídicos. Utilidade da identificação das ações: delimitar a extensão do julgamento a ser proferido e caracterizar a coisa julgada ou a litispendência. Classificações Há diversas classificações das ações. Por exemplo, podem ser reais, mobiliárias imobiliárias ou pessoais. Uma classificação relevante é a que diz respeito à natureza da tutela jurisdicional pretendida. Com base nesse critério, as ações podem ser condenatórias, constitutivas e declaratórias. Classificações - Ações reais envolvem direitos sobre objetos (coisas). Toda a sociedade deve respeitar tais direitos; - Ações mobiliárias tratam de direitos sobre coisas móveis; - Ações imobiliárias tratam de direitos sobre coisas imóveis; - Ações pessoais envolvem obrigações de pessoas determinadas; - Ações condenatórias abordam obrigações de pagar, entregar, fazer ou não fazer; - Ações constitutivas criam, modificam ou extinguem situações jurídicas; - Ações declaratórias certificam situações jurídicas ou autenticidade ou falsidade de documentos. 30/01/2018 2 Classificações A principal classificação, porém, diz respeito ao tipo de atividade a ser exercida pelo Judiciário. Segundo esse critério, as ações podem ser conhecimento ou de execução (ou, sucessivamente, das duas espécies, caracterizando o denominado “processo sincrético”). Maiores informações sobre essa classificação constam no grupo de slides “Processo”. Cumulação O denominado “litisconsórcio”, a ser estudado em aula futura, é forma de cumulação subjetiva de ações. Diz-se subjetiva porque une, em uma mesma ação, discussões que envolvem mais de um autor e/ou mais de um réu. Na presente aula, tratemos da cumulação objetiva de ações, ou cumulação de pedidos. Os arts. 325, 326 e 327 abordam o assunto. Em regra, para que haja cumulação de pedidos, um mesmo tipo de procedimento deve ser aplicável ao trâmite de todos os pedidos, e o julgamento de ambos deve estar sob competência de um mesmo juiz. Cumulação São espécies de cumulação (PRÓPRIA):- Simples: O autor quer que ambos os pedidos sejam acolhidos, mas é possível o acolhimento de qualquer um deles, de ambos ou de nenhum; - Sucessiva: O autor quer que ambos os pedidos sejam acolhidos, mas, para que o pedido subsidiário seja acolhido, é necessário que o pedido principal também seja; Cumulação São espécies de cumulação (IMPRÓPRIA): - Alternativa: O autor apresenta duas (ou mais) possíveis soluções para o caso, deixando a critério do réu a escolha da mais apropriada. - Eventual ou subsidiária: O autor também apresenta duas (ou mais) possíveis soluções para o caso, estabelecendo uma ordem de prioridade, solicitando que o juiz acolha a(s) alternativa(s) subsidiária(s) acaso não possa acolher a principal. Condições da ação Sob a vigência do CPC anterior, consideravam-se dois tipos de requisitos para que o juiz avaliasse o mérito de um pedido: Pressupostos Processuais e Condições da Ação. A semelhança entre tais institutos já levava a doutrina a criticar a divisão em duas categorias. Sob o novo CPC, pode-se afirmar que a denominação “condições da ação” foi extinta. Os critérios anteriormente relacionados como condições da ação passaram a ser tidos como matéria de mérito (possibilidade jurídica do pedido) ou como Pressupostos Processuais (legitimidade ad causam e interesse de agir). Posteriormente, trataremos de Pressupostos Processuais. Em Direito Processual Civil II, veremos com mais detalhes as matérias de mérito. 30/01/2018 1 Processo Conceito e natureza jurídica Aldo Sabino: “Processo, tecnicamente, costuma ser conceituado como o instrumento estatal criado para a resolução de conflitos de interesses, que constitui-se, internamente, de uma relação entre autor, juiz e réu e, externamente, de uma sequência procedimental de atos.” Natureza jurídica: Há várias teorias. Prevalecem as da “relação jurídica” entre estado e partes (autor e réu) e da “sequência de atos jurídicos”. Processo é diferente de “autos processuais” Espécies de processos Enfocando-se a sequência de atos jurídicos pelos seus momentos, têm-se as seguintes espécies de processos: - Processo/ação/fase de conhecimento; - Processo/ação/fase de execução. Trânsito em JulgadoTrânsito em Julgado Recursos (processo nos tribunais)Recursos (processo nos tribunais) SentençaSentença Produção de provas não documentais (perícia, audiência de instrução, etc.)Produção de provas não documentais (perícia, audiência de instrução, etc.) Impugnação à contestaçãoImpugnação à contestação Contestação (com provas documentais)Contestação (com provas documentais) Audiência de conciliaçãoAudiência de conciliação Citação do réuCitação do réu Petição inicial (com provas documentais)Petição inicial (com provas documentais) Fluxograma processual da fase de conhecimento ArquivamentoArquivamento Pagamento (com o dinheiro penhorado ou arrecadado com o leilão)Pagamento (com o dinheiro penhorado ou arrecadado com o leilão) Leilão do bemLeilão do bem Impugnação ao cumprimento de sentença Penhora de dinheiro ou de bem do executado Impugnação ao cumprimento de sentença Penhora de dinheiro ou de bem do executado Prazo para pagamentoPrazo para pagamento Fluxograma processual da fase de execução 30/01/2018 1 Pressupostos Processuais Pressupostos processuais Pressupostos processuais são requisitos para que o processo chegue ao seu objetivo principal, para que o juiz analise o mérito de uma questão (avalie normas e provas sobre o direito discutido e julgue quem tem a razão). O réu pode informar a falta de pressuposto processual, mas o juiz deve tratar de ofício da eventual falta (art. 485, § 3º). Pressupostos processuais Faltando um pressuposto processual, o juiz deve, se possível, dar prazo para que o autor corrija a falha (em regra, de 15 dias - art. 321). Não suprida a falta, o processo é extinto sem resolução do mérito (art. 485, I, IV, V, VI e VII). Extinto o processo pela falta de um pressuposto processual, normalmente é possível o ajuizamento de outra ação com chances de êxito, desde que corrigida a falha que motivou a extinção anterior (art. 486). Pressupostos processuais antes classificados como condições da ação Interesse de agir corresponde à necessidade e à utilidade do processo judicial para o autor obter o que deseja. Exemplo de falta de interesse utilidade: Ajuizar ação para a não destruição de obra de arte (ação de obrigação de não fazer) quando esta já foi destruída. Exemplo de falta de interesse necessidade: Ajuizar ação para cobrar dívida ainda não vencida. Pressupostos processuais antes classificados como condições da ação Legitimidade ad causam: As partes indicadas na petição inicial devem corresponder às partes da relação de direito material narrada. Ou então deve ocorrer uma figura jurídica denominada “legitimação extraordinária”, “legitimação anômala” ou “substituição processual”. Essa figura está prevista no caput do art. 18 do CPC: “Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.” Configura-se, por exemplo, quando sindicatos ajuízam ação em favor de empregados, ou quando o Ministério Público ajuíza ação em favor da sociedade. Pressupostos processuais antes classificados como condições da ação Exemplos de ilegitimidade ad causam: - Filho alega que réu deve pagamento a seu pai, mas, em virtude da inércia do seu pai, o filho ajuíza ação pedindo o pagamento para si (ilegitimidade ativa); - Autor ajuíza ação contra o Ministério da Saúde (que não tem personalidade jurídica) em vez de ajuizar contra a União (ilegitimidade passiva). 30/01/2018 2 Demais pressupostos processuais relacionados às partes Têm capacidade de ser parte: Pessoas físicas, pessoas jurídicas, nascituros, condomínios, etc. Não têm capacidade de ser parte: mortos e animais. Capacidade processual: Capacidade de estar em juízo sem assistência/representação por terceiro. Não têm capacidade processual: menores de idade, pessoas jurídicas, etc. Demais pressupostos processuais relacionados às partes Capacidade postulatória: Poder de peticionar. Via de regra, só os advogados têm. Exceções: causas de valor inferior a 20 salários mínimos (art. 9º da Lei nº 9.099/95), ações trabalhistas, etc. Faltando um desses pressupostos, o juiz designa prazo razoável para a correção do defeito. Se a falta for relacionada ao autor, e ele não a corrigir, o processo é arquivado. Se for relacionada ao réu, e ele não a corrigir, considera-se revel (art. 76). Pressupostos processuais Competência do órgão jurisdicional: Matéria a ser vista adiante, ainda neste semestre (arts. 42 a 66). Imparcialidade do juízo: Ausência de impedimento ou suspeição. Matéria a ser vista adiante, ainda neste semestre (arts. 144 e 145). Respeito ao formalismo processual: Presença dos requisitos da petição inicial, citação regular, observância de prazos, oitiva de testemunhas na ordem estabelecida no CPC, sentença fundamentada, etc. Litispendência e coisa julgada (pressupostos negativos): Há litispendência quando se repete ação que está em curso; há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado (art. 337, §§ 3º e 4º). Pressupostos processuais Perempção (pressuposto negativo): Perda do direito a um pronunciamento judicial favorável se, por três vezes, o autor ajuizar ações e as abandonar por mais de 30 (trinta) dias (art. 486, § 3º). Obs: Muitos juízes e doutrinadores consideram a perempção inconstitucional, tendo em vista o art. 5º, XXXV, da CF. Convenção de arbitragem (pressuposto negativo): Compromissoformal constituído previamente entre os litigantes, com o qual se comprometem a resolver controvérsia(s) por meio de árbitro e não por meio do Judiciário. Pressupostos processuais de existência Os seguintes pressupostos processuais são denominados pela doutrina como “de existência”. Afirma-se que, quando ausentes, nem existe processo: - Existência de órgão investido de jurisdição; - Existência de uma demanda; - Capacidade de ser parte (mencionada anterior- mente). 30/01/2018 1 Competência Conceito e considerações gerais Afirma-se que a jurisdição é “una e indivisível”, por ser manifestação da soberania do país. Mas cada magistrado exerce a jurisdição de forma delimitada pelas normas, conforme sua competência. Sendo assim, Enrico Tulio Liebman afirma que “a competência é a medida da jurisdição”. Joaquim Canuto Mendes afirma que a jurisdição é como uma caixa d’água e que as regras de competências são como diversas torneiras nessa caixa d'água. Para se definir a vara que vai tratar de cada processo, várias regras de competência são analisadas. Vejamos cada uma delas. Critérios determinativos Competência em razão do valor e da matéria Em regra, ações que envolvam discussões de até 40 (quarenta) salários mínimos são processadas em juizados especiais (art. 3º, I, da Lei nº 9.099/95). As demais, em varas comuns (regras de competência em razão do valor). A Constituição Federal estabelece as competências das esferas especializadas do Poder Judiciário: Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar. As leis estaduais criam varas especializadas em Direito de Família, em Direito das Sucessões, em Direito Civil Comum, em Fazenda Pública, em Direito Penal, etc (regras de competência em razão da matéria). Critérios determinativos Competência territorial Há diversas regras para verificação da competência territorial. Por exemplo: - Ações comuns de cobrança de valor ou de bens móveis correm no foro do domicílio do réu (art. 46) (vide exceções em seguida); - Ações que discutam propriedade de imóveis correm na comarca onde se situa o imóvel (art. 47); - Ações relacionadas a herança (sucessões) correm na comarca onde residia o falecido (art. 48); - Ações contra a pessoa jurídica correm no foro da matriz ou, quanto às obrigações contraídas pela filial, no foro onde esta está situada (art. 53, III). Critérios determinativos Competência territorial A regra segundo a qual as ações de cobrança de valores ou de bens móveis correm no domicílio do réu têm algumas exceções, como as seguintes: - Ações contra os incapazes correm na comarca onde residem seus representantes (art. 50); - Ações em que se pedem alimentos correm onde reside o autor (art. 53, II) - Ações para reparação de dano em virtude de acidente de veículo ou ato ilícito correm no domicílio do autor ou no local do fato (art. 53, V). Critérios determinativos Competência por distribuição Havendo mais de uma vara com a mesma competência em uma comarca, é feito um sorteio, pelo sistema informatizado, ao ser ajuizada a ação. A distribuição da ação, portanto, é aleatória, para se evitar que os autores escolham a vara onde o processo vai tramitar e, assim, tenham vantagem na disputa (arts. 284 e 285). 30/01/2018 2 Modificações da competência Normalmente, iniciado o trâmite da ação em uma vara, permanece nessa vara até o julgamento. Posteriormente, havendo recursos, os autos processuais são remetidos às instâncias superiores. Após, retornam à vara originária para a fase de execução. O fato de as partes mudarem de endereço no curso do processo não altera a competência da vara originária. Se, porém, uma vara for extinta, ou uma vara for criada, absorvendo parte da competência de outras varas, então o processo pode ser remetido a outra unidade (art. 43). Modificações da competência Outra hipótese para a modificação da competência é a existência de relação entre duas ou mais ações. Sendo comuns os pedidos ou as causas de pedir (casos denominados de "conexão" ou "continência"), ou havendo risco de decisões conflitantes, as ações devem ser reunidas em uma mesma vara para julgamento conjunto (arts. 55, 56 e 286). Em casos como esses, a vara que deve tratar das duas ou mais ações denomina-se "preventa". O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo (art. 59). Competência absoluta e relativa COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA Hipótese principal: em razão da matéria (ex: vara de família x vara de sucessões). Hipótese principal: em razão do lugar (ex: vara de Campina Grande x vara de João Pessoa). A incompetência pode ser alegada a qualquer tempo ou grau de jurisdição, na contestação ou em outro pedido. Deve ser reconhecida de ofício pelo juiz. Pode motivar ação rescisória. A incompetência, em regra, deve ser alegada com a contestação. Não alegada, prorroga-se a competência da vara originária. Competência absoluta e relativa COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA Não pode ser alterada por conexão ou continência. Pode ser alterada por conexão ou continência. Não pode ser alterada por vontade das partes. Pode ser alterada por vontade das partes, seja pela sua não alegação em juízo, seja pelo foro de eleição. Serve principalmente ao interesse público Serve principalmente ao interesse privado Observações finais Além da alegação de incompetência pela parte interessada, há o denominado "Conflito de Competência", que pode ser suscitado também pelo Ministério Público ou pelo juiz (arts. 951 a 959). Reconhecida pelo juiz sua incompetência, não deve extinguir o processo, mas remeter os autos processuais à vara competente (art. 64, § 3º). 30/01/2018 1 Partes Conceito Em cada processo, há pelo menos uma pessoa (física ou jurídica) que pede ao juiz algo em face de outra pessoa (física ou jurídica). Tais pessoas são as PARTES, denominadas respectivamente como AUTOR e RÉU. Pode haver mais de um autor e/ou mais de um réu, hipóteses que serão tratadas em aula posterior sobre litisconsórcio. Há hipóteses de três ou mais pessoas litigando entre si, sendo todos contra todos. É o que se chama de “oposição” (arts. 682 a 686 do CPC). Substituição da parte pela venda de um bem Suponhamos a seguinte situação: Caio vende um bem a Tício mediante pagamento parcelado, mas este não paga tudo o que deve. Caio, portanto, ajuíza ação para cobrar a devolução do bem. Tício, porém, o vende a Mévio. Em regra, isso é possível, mas há consequências. Quais as consequências? Se Tício perder a ação, Mévio é obrigado a entregar o bem a Caio. Mévio, contudo, pode cobrar de Tício a devolução do valor que o pagou. Substituição da parte pela venda de um bem A questão envolve “evicção”, matéria de Direito Civil. Para os fins da nossa matéria, é importante saber que, numa situação como essa, o adquirente final do bem (Mévio) não ingressa automaticamente na ação (art. 109). Poderá ingressar, substituindo o réu originário (Tício), se o autor da ação (Caio) concordar (art. 109, § 1º). Substituição da parte pela sua morte Nem todas as ações admitem substituição da parte quando ela morre. Uma ação para assumir cargo público em virtude de concurso, por exemplo, é personalíssima. Morrendo a parte, seus sucessores não podem ingressar em seu lugar. Podem, contudo, ajuizar outra ação, pedindo, por exemplo, a pensão a que teriam direito acaso o falecido estivesse no cargo. Já nas ações de cobrança de valor, em regra é possível a substituição da parte falecida, seja autora ou ré. O direito de crédito transmite-se aos sucessores. A obrigação de pagamento também (mas até os limites da herança recebida pelos sucessores). Deveres e responsabilidades O art. 77 do CPC relaciona os deveres das partes e dos advogados. Emgeral, resumem- se no seguinte: - Dizer a verdade; - Não atrasar o processo indevidamente; - Cumprir as ordens judiciais. 30/01/2018 2 Deveres e responsabilidades O litigante de má-fé, de acordo com o art. 80 do CPC, é aquele que viola as regras específicas e/ou age de modo temerário no processo. Fica sujeito às seguintes consequências (art. 81): - Pagamento de multa arbitrada entre 1% a 10% do valor da causa; - Indenização à parte contrária pelos prejuízos causados. Pelo art. 96 do CPC, não só a indenização, como também a multa, revertem em benefício da parte contrária. Deveres e responsabilidades Em sentido amplo, são exemplos de despesas processuais: Honorários advocatícios contratuais: Correspondem ao pagamento feito pelo cliente ao seu advogado. As seccionais estaduais da OAB fixam valores e/ou percentuais mínimos e máximos conforme o tipo de ação. Frequentemente, são fixados entre 20% e 30% dos ganhos do cliente. Honorários advocatícios sucumbenciais: Valor que a parte perdedora paga ao advogado da parte vencedora. São fixados, via de regra, entre 10% e 20% do valor da condenação (art. 85, § 2º). Deveres e responsabilidades Em sentido amplo, são exemplos de despesas processuais (continuação): Custas processuais: São valores pagos ao Estado ou à União para o custeio, ainda que parcial, do processo. Seus valores variam conforme a esfera do Judiciário e/ou conforme a unidade da federação. Na Justiça Estadual e na Federal, costumam ser pagas no início da demanda e em outros momentos. Na Justiça do Trabalho, após o fim da fase de conhecimento. Pagamento ao perito: A parte requerente da perícia deve antecipar o pagamento do valor. Se já pagou e depois é vencedora no objeto da perícia, a parte perdedora deve ressarcir a quantia paga (arts. 95 e 82, § 2º). É comum, porém, os juízes autorizarem o pagamento apenas ao fim do processo. Deveres e responsabilidades Beneficiário da gratuidade judiciária não precisa pagar honorários sucumbenciais nem despesas processuais. Em caso de perícia, sendo perdedor alguém beneficiário da gratuidade judiciária, quem paga ao perito é o Estado. Obs: o novo CPC, em seu art. 98, § 1º, VI, e § 2º, e em seu art. 95, § 4º, não deixa claro se essa regra permanece. O texto está contraditório. Pode-se considerar que houve falha do legislador. Deveres e responsabilidades Se a atitude da parte configura ilícito penal (por exemplo, falsificação de documento particular – art. 298 do Código Penal), o juiz da causa, além de condená-la em multa por litigância de má-fé, deve expedir ofício ao Ministério Público para que este promova ação penal contra a parte. 30/01/2018 1 Procuradores Advogados Via de regra, só os advogados têm capacidade postulatória. Portanto, as pessoas físicas e jurídicas devem, nos processos, ser representadas por advogados. Há, porém, exceções: - Ações que envolvam até 20 salários mínimos na Justiça Estadual (art. 9º da Lei nº 9.099/95); - Ações que envolvam até 60 salários mínimos na Justiça Federal (art. 10 da Lei nº 10.259/01); - Ações trabalhistas (art. 791 da CLT). Não há hierarquia entre advogado, promotor e juiz (art. 6º, EOAB). Direitos do advogado O art. 7º do EOAB relaciona os direitos do advogado, dentre os quais se destacam os seguintes: - A inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; - Não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala especial, com instalações e comodidades condignas e, na sua falta, em prisão domiciliar; Direitos do advogado O art. 7º do EOAB relaciona os direitos do advogado, dentre os quais se destacam os seguintes (continuação): - Estar presente em qualquer assembleia ou reunião de que participe o seu cliente, desde que apresente procuração que o permita; - Dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando- se a ordem de chegada. Deveres do advogado O uso, pelo advogado, de expressões ofensivas além do razoável nas petições escritas, resulta na ordem do juiz para que sejam riscadas. Se forem ditas oralmente, o juiz adverte o advogado para que não as repita, sob pena de ser impedido de falar (art. 78). Deveres do advogado O Código de Ética e Disciplina da OAB, em seu art. 2º, parágrafo único, relaciona outros deveres do advogado, dentre os quais se destacam os seguintes: - Atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé (a imparcialidade NÃO é dever do advogado); - Estimular a conciliação e a mediação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios; - Pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos direitos individuais, coletivos e difusos. 30/01/2018 2 Deveres do advogado Código de Ética e Disciplina da OAB. Art. 7º. É vedado o oferecimento de serviços profissionais que implique, direta ou indiretamente, angariar ou captar clientela. Código de Ética e Disciplina da OAB. Arts. 39 e segs. A publicidade profissional do advogado deve ser discreta. São proibidos, por exemplo, anúncios em rádio e televisão. Também são proibidos o uso de outdoor e a divulgação de panfletos. Deveres do advogado O advogado tem o dever de defender qualquer pessoa que lhe procure? A doutrina e a jurisprudência, assim como a lei, são um tanto obscuras. Código de Ética e Disciplina da OAB: Art. 23. É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado. Parágrafo único. Não há causa criminal indigna de defesa, cumprindo ao advogado agir, como defensor, no sentido de que a todos seja concedido tratamento condizente com a dignidade da pessoa humana, sob a égide das garantias constitucionais. EOAB: Art. 34. Constitui infração disciplinar: (...) VI - advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé quando fundamentado na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior; (...) Atuação e substituição em juízo A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso (art. 105). Mas é possível (e comum) as procurações autorizarem cada um desses poderes. O art. 105 do CPC confere possibilidade de o advogado assinar declaração de hipossuficiência econômica, desde que, também, mediante autorização específica. Atuação e substituição em juízo Dispensa de mandato: - Atos urgentes. Mas a procuração deve ser apresentada em até 15 dias, prorrogáveis por mais 15 (art. 104, § 1º); - Nomeação de defensor dativo pelo juiz. Atuação e substituição em juízo A parte, que revogar o mandato outorgado ao seu advogado, no mesmo ato constituirá outro que assuma o patrocínio da causa (art. 111). O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar prejuízo (art. 112). Advocacia Pública e Defensoria Pública A Advocacia Pública defende União, Estados, Distrito Federal, Municípios, Autarquias e Fundações Públicas. A Defensoria Pública defende os direitos humanos e as pessoas necessitadas, que não podem pagar advogados. Também pode ajuizar Ação Civil Públicapara defender o meio- ambiente, o consumidor, o patrimônio histórico, etc. (art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85). 30/01/2018 3 Advocacia Pública e Defensoria Pública A Advocacia Pública está regulamentada nos arts. 182 a 184 do CPC; a Defensoria Pública, nos arts. 185 a 187. Ambas têm as prerrogativas de prazos processuais em dobro e intimações pessoais. Via de regra, advogados públicos e defensores públicos ingressam no cargo mediante concurso e recebem salário. 30/01/2018 1 Litisconsórcio Conceito e fundamentos Via de regra, há dois litigantes em cada processo judicial: um autor e um réu. Contudo, por questões de economia processual, ou pela própria natureza das lides, há situações em que mais de duas pessoas estão presentes, que se denominam "litisconsórcio". O litisconsórcio pode ser ativo (mais de um autor), passivo (mais de um réu) ou misto (mais de um autor e mais de um réu). Para que seja viabilizado o litisconsórcio, é necessário que haja alguma relação entre as questões discutidas (art. 113). O litisconsórcio está regulamentado nos arts. 113 a 118 do CPC. Regime de tratamento A lei não estabelece número máximo de litisconsortes, mas faculta ao juiz que limite conforme a razoabilidade, para que a celeridade e o manuseio do processo não fiquem comprometidos (art. 113, § 1º). Em geral, os atos e as omissões de um dos litisconsortes não prejudicam nem beneficiam o outro (art. 117), mas há exceções. Por exemplo, se um litisconsorte confessa fato desinteressante a ambos, o outro litisconsorte ainda provar a falsidade da confissão, mas fica mais difícil convencer o juiz a respeito da questão. Além disso, a contestação e o recurso oferecidos por um dos litisconsortes podem beneficiar o outro (art. 345, I, e art. 1.005). Classificação LITISCONSÓRCIO INICIAL é o que se forma no início do processo. LITISCONSÓRCIO ULTERIOR, o que se forma no curso do processo. Por exemplo, morrendo uma das partes durante um processo, e sendo substituída por dois ou mais herdeiros, há litisconsórcio ulterior. Classificação LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO ocorre quando o resultado do processo é igual para os liticonsortes (ambos ganham, ambos ganham em parte ou ambos perdem). Exemplo: Ação Civil Pública para a defesa do meio ambiente oferecida pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública. LITISCONSÓRCIO SIMPLES é aquele em que a decisão judicial pode ser diferente para cada litisconsorte. Exemplo: Dois vizinhos ajuízam ação contra um terceiro vizinho requerendo reparos nos respectivos apartamentos por danos supostamente oriundos de defeito na tubulação do apartamento do réu. Pode o juiz deferir o pedido de apenas um dos autores, se observar que só o seu apartamento foi afetado pelo defeito na tubulação do apartamento do réu. Classificação LITISCONSÓRIO FACULTATIVO: Ocorre na maioria das situações. As partes podem atuar solitárias ou em conjunto. Todos os exemplos informados no slide anterior também configuram litisconsórcio facultativo. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO: O art. 114 do CPC informa o seguinte: O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. Exemplo: art. 73, § 1º. 30/01/2018 1 Intervenções de Terceiros Introdução Assistência Intervenção de terceiros Para os fins processuais, o terceiro é alguém estranho ao processo que ingressa neste, normalmente transformando-se em parte. As intervenções de terceiros destinam-se primordialmente a promover a economia processual. O novo CPC relaciona cinco formas de intervenções de terceiros: - Assistência; - Denunciação da Lide; - Chamamento ao Processo; - Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica; - Amicus Curiae. Assistência A figura processual “assistência” ocorre quando alguém, a pedido, ingressa no processo, após este ter iniciado, para auxiliar uma das partes originárias. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la (art. 119). Somente o interesse jurídico (e não o simplesmente moral ou econômico) justifica a intervenção do assistente. Modalidades: Assistência simples O assistente simples é mero auxiliar do assistido. Mantém relação jurídica direta com este, e não com a parte adversária. Exemplos de assistentes simples: - Sublocatário em ação de despejo ajuizada pelo locador em relação ao locatário, - Seguradora em ação de indenização por acidente de veículo proposta contra o segurado. Modalidades: Assistência simples O assistente simples, apesar de sua posição de auxiliar da parte, pode, dentre outros atos, requerer a produção de provas e fazer alegações orais. O assistente simples não pode modificar uma petição da parte assistida. Também não pode praticar confissão ou transação do direito. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos (art. 122). Modalidades: Assistência litisconsorcial O assistente litisconsorcial mantém relação jurídica contra a parte adversária do assistido. Desde o início da ação, poderia figurar como litisconsorte do assistido. Poderia, aliás, ter ajuizado a ação individualmente. Exemplos de assistência litisconsorcial: - Condômino ajuíza ação contra terceiro em defesa da coisa comum. Outro condômino ingressa na ação como assistente do autor. - Ministério Público ajuíza ação civil pública em defesa do meio-ambiente. Defensoria Pública ingressa na ação como assistente do autor. 30/01/2018 1 Intervenções de Terceiros Denunciação da Lide Chamamento ao Processo Denunciação da lide Em algumas situações, há duas pessoas (físicas e/ou jurídicas) responsáveis por uma dívida, sendo uma delas com maior grau de responsabilidade e a outra com menor grau, podendo esta, caso pague a dívida, ajuizar ação regressiva contra a devedora de maior grau. Vejamos um exemplo: Caio, dirigindo seu carro de forma imprudente, bate no carro de Tício. O conserto custará R$ 2.000,00. Caio, porém, tem um seguro de veículo com o Banco do Brasil, que cobre danos causados a outras pessoas, mesmo em caso de imprudência do segurado. Denunciação da lide Nessa hipótese, portanto, o Banco do Brasil é o responsável de maior grau, pois há um contrato que lhe transfere o encargo de pagar a dívida. Mas, Caio também tem responsabilidade pelo pagamento. Ocorre que, passados alguns meses, nem Caio nem o Banco do Brasil pagam o conserto do carro de Tício. Este, portanto, resolve ajuizar uma ação. Poderia indicar como réus Caio e o banco, ou apenas Caio, ou apenas o banco. Escolhe, então, indicar apenas Caio como réu. Como informado acima, Caio é o responsável de menor grau. Se ele pagar o conserto do carro, pode cobrar do banco o valor gasto. Então, para não precisar ajuizar ação regressiva futura contra o Banco do Brasil, Caio solicita ao juiz que convoque o banco ao processo, para atuar também como réu e pagar diretamente a Tício, ou ressarcir eventual valor que ele (Caio) tenha de pagar a Tício. Denunciação da lide Essa, enfim, é a hipótese principal de Denunciação da Lide: quando um responsável em menor grau por uma dívida é indicado como único réu do processo e convoca o responsável em maior grau para atuar também na condição de réu. A Denunciação da Lide está regulamentada nos arts. 125 a 129 do CPC. Chamamento ao processo Em algumas situações, há duas pessoas (físicas e/ou jurídicas) responsáveis solidariamente por uma dívida, ambascom mesmo grau de responsabilidade. A responsabilidade solidária está regulamentada nos arts. 264 e segs. do Código Civil e será estudada em Direito Civil. Mas, para a compreensão do Chamamento ao Processo, segue um exemplo relacionado à principal hipótese que envolve o tema: Paulo e João resolvem abrir uma loja de artigos esportivos. Obtêm, então, da Caixa Econômica Federal, um empréstimo de R$ 20.000,00. No contrato, está expresso que ambos são responsáveis solidariamente pelo pagamento da dívida. Assim, a Caixa poderá cobrá-la como quiser: metade da dívida de cada um, ou integralmente de Paulo, ou integralmente de João. Chamamento ao processo Passado o prazo estabelecido no contrato, a dívida não é paga. A Caixa, então, ajuíza ação de cobrança, mas indica como réu somente Paulo, cobrando-lhe os R$ 20.000,00 mais juros e correção monetária. Paulo, para não arcar sozinho com a dívida, pede ao juiz que convoque João ao processo. Assim, caso Paulo pague a dívida integral à Caixa, poderá cobrar de João sua metade no âmbito do mesmo processo. Essa, portanto, é a principal hipótese de Chamamento ao Processo: a convocação do outro devedor solidário quando o credor exige, de apenas um deles, a dívida total. O Chamamento ao Processo está regulamentado nos arts. 130 e 132 do CPC. 30/01/2018 1 Intervenções de Terceiros Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica Amicus Curiae Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica A proteção ao patrimônio dos sócios de pessoas jurídicas é matéria abordada em Direito Civil, Direito Empresarial e em Direito do Consumidor, em normas como o art. 50 do Código Civil e o art. 28 do Código de Defesa do Consumidor. Teoricamente, se uma sociedade tem uma dívida, os bens dos sócios só podem ser levados a leilão se tiver havido fraude na gerência da empresa (art. 50 do CC), salvo algumas exceções, como a prevista no art. 28, § 5º, do CDC. Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica Ocorre que a regra do art. 50 do CC, segundo a qual o leilão de bem de sócio só deveria ocorrer em caso de fraude na gerência da empresa, é frequentemente desconsiderada, é uma norma que, em muitas áreas do Poder Judiciário, caiu em desuso. Assim, para reforçar essa regra, o novo CPC, em seus arts. 133 a 137, estabeleceu o Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica. Agora, para penhorar bens de sócios por dívidas da empresa, os sócios devem ser ouvidos com antecedência, em momento no qual eles e o autor do processo poderão produzir provas sobre a existência ou inexistência da fraude. Amicus Curiae "Amicus Curiae" é uma expressão em Latim que designa "Amigo da Corte". Em síntese, é uma pessoa natural ou jurídica que auxilia o juiz no julgamento de uma questão mais delicada, manifestando opinião sobre o caso. Amicus Curiae Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. § 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º. § 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae. § 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. 30/01/2018 1 Juiz Auxiliares da Justiça Poderes do juiz Poderes administrativos ou de polícia: - Expulsar os inconvenientes da audiência; - Empregar a força policial quando necessário. Poderes jurisdicionais: - Impulsionar o processo; - Decidir; - Executar. Deveres do juiz Principais deveres (arts. 139, 140 e 489, § 1º, do CPC e art. 93, VII e XII, da CF88): - Assegurar às partes igualdade de tratamento; - Velar pela duração razoável do processo; - Prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça; - Tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes; Deveres do juiz Principais deveres (arts. 139, 140 e 489, § 1º, do CPC e art. 93, VII e XII, da CF88) (continuação): - Fundamentar as decisões; - Julgar mesmo em caso de lacuna na lei (utilizando analogia, costumes e/ou princípios gerais de direito); - Residir na comarca em que estiver lotado (salvo autorização do tribunal); - Atuar em plantões. Responsabilidades do juiz Pelo art. 143 do CPC, o juiz responderá por perdas e danos quando atuar com dolo ou fraude ou quando recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência a seu cargo. Garantias do juiz A CF88, em seus arts. 95 e 93, VIII, estabelece as garantias dos juízes: a) vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, por decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa; c) irredutibilidade de subsídio, salvo em situações excepcionais como a elevação das alíquotas de imposto de renda. 30/01/2018 2 Auxiliares da Justiça São exemplos de auxiliares da justiça: - Servidor do Judiciário (inclusive o Oficial de Justiça); - Conciliador/Mediador; - Perito; - Depositário; - Intérprete/Tradutor. Impedimento e suspeição Impedimento e suspeição são as hipóteses nas quais o juiz, por ter ligação com alguma das partes, não pode atuar no processo. Outro juiz é convocado para atuar. Se só houver um juiz na cidade, é convocado um juiz de outra cidade. Pelo art. 148 do CPC, as hipóteses de impedimento e suspeição também justificam a não atuação de promotores de justiça, e dos auxiliares da justiça O impedimento e a suspeição devem ser declarados pelo juiz/promotor/auxiliar da justiça. Podem também ser suscitados por uma das partes. Impedimento e suspeição As diferenças entre o impedimento e a suspeição são as seguintes: - O impedimento refere-se a vínculos mais fortes, portanto pode ser suscitado a qualquer momento (embora o CPC, no art. 146, passe a impressão de que o prazo para tanto seja de apenas de 15 dias). O impedimento justifica Ação Rescisória (rescisão do julgamento até dois anos da data em que se tornar definitivo) (art. 966, II). - A suspeição refere-se a vínculos menos fortes, devendo ser alegada pela parte interessada em 15 (quinze) dias do conhecimento do fato (art. 146). Impedimento e suspeição Seguem hipóteses selecionadas de impedimento (art. 144): - Ser o juiz, promotor ou auxiliar da justiça a própria parte do processo; - Ter parentesco próximo com alguma das partes ou seus advogados (ser ascendente, descendente, irmão, tio ou sobrinho); - Integrar pessoa jurídica que seja parte; - Ter atuado como advogado do processo antes de passar no concurso para juiz/promotor/servidor; - Ter julgado o processo como juiz, ser promovido a desembargador, e receber o mesmo processo para apreciar recurso. Impedimento e suspeição Seguem hipóteses selecionadas de suspeição (art. 145): - Ser o juiz, promotor ou auxiliar da justiça amigo íntimo ou inimigo capital de alguma das partes ou de um dos seus advogados; - Ser credor oudevedor de alguma das partes ou de seu parente próximo; - Receber presente de uma das partes, ou a aconselhar sobre o processo, ou dar dinheiro para que custeie o processo; - Ser interessado no julgamento em favor de uma das partes. Impedimento e suspeição Conforme art. 145, § 1º, do CPC, a suspeição pode ser declarada pelo juiz, promotor ou auxiliar da justiça por motivo de foro íntimo, sem expor as razões que a justificam. Reconhecida pelo juiz a alegação de impedimento ou suspeição, os autos processuais devem ser remetidos ao substituto. Não reconhecida, o juiz deve remeter a discussão ao tribunal, apresen- tando-lhe suas razões (art. 146, § 1º). 30/01/2018 1 Ministério Público Atribuições processuais O Ministério Público não é vinculado a qualquer dos Três Poderes. É entidade autônoma. De acordo com os arts. 127 e 129 da CF88, o art. 25 da Lei nº 8.625/93 e os arts. 176 e 178 do CPC, compete ao Ministério Público atuar, no Processo Civil, na defesa: - Da ordem jurídica; - Do regime democrático; - Dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Atribuições processuais Exemplificam-se, como hipóteses de atuação do Ministério Público, as seguintes: - Proteção de direitos difusos e coletivos como os relativos ao patrimônio público e social e ao meio ambiente; - Defesa de menores, idosos e deficientes; - Defesa das populações indígenas; - Ação Direta de Inconstitucionalidade - Outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. Atribuições processuais Em situações como as relacionadas, o Ministério Público age como autor da ação ou, caso outra pessoa ou entidade já tenha ajuizado a ação, como “fiscal da lei” (o que, por tradição, também se denomina como “custos legis”). Nessa condição, compete-lhe redigir parecer (opinião sobre o processo), produzir provas e oferecer recurso. Atribuições processuais Pelo art. 180 do CPC, O Ministério Público, em regra, tem prazo em dobro para se manifestar nos autos. O art. 183, § 1º, do CPC especifica as formas pelas quais podem ser feitas as intimações ao Ministério Público: por carga, remessa ou eletronicamente. Princípios institucionais CF88, Art. 127, § 1º: São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. De acordo com os princípios da unidade e da indivisibilidade, considera-se o Ministério Público como um só órgão. Na prática, permite-se a substituição de promotores ou procuradores em processos judiciais sem que isso resulte em nulidade. Pelo princípio da independência funcional, o promotor/ procurador é livre na sua atuação em juízo, podendo expor, em suas petições e pareceres, suas opiniões, ainda que contrárias ao entendimento dos seus superiores hierárquicos. 30/01/2018 2 Garantias constitucionais A CF88, em seu art. 128, § 5º, I, estabelece as garantias dos membros do Ministério Público: a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa; c) irredutibilidade de subsídio, salvo em situações excepcionais como a elevação das alíquotas de imposto de renda.
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