Buscar

Civil III MATERIAL DE APOIO 01 2s2016[407]

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 
 
MATERIAL DE APOIO – PARTE 01 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Helen Karina Amador Campos 
helen.doctum@gmail.com 
 
 
 
 
 
 
TEÓFILO OTONI 
2016 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
2 
 
UNIDADE I – INTRODUÇÃO À TEORIA DOS CONTRATOS 
 
1.1. Considerações iniciais 
 
Conceitos modernos de contrato: 
 
Contrato é todo fato jurídico consistente em declaração de vontade, 
a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como 
queridos pelas partes, respeitados os pressupostos de existência, 
validade e eficácia impostos pelo sistema jurídico que sobre ele 
incide1. 
 
Contrato é ato jurídico lícito, de repercussão pessoal e 
socioeconômica, que cria, modifica ou extingue relações 
convencionais dinâmicas, de caráter patrimonial, entre duas ou mais 
pessoas, que, em regime de cooperação, visam atender 
necessidades individuais ou coletivas, em busca da satisfação pessoal, 
assim promovendo a dignidade humana2. 
 
Negócio jurídico bilateral (ou plurilateral), por meio do qual as partes, 
visando a atingir determinados interesses patrimoniais, convergem as 
suas vontades, criando um dever jurídico principal (de dar, fazer ou 
não fazer), e, bem assim, deveres jurídicos anexos, decorrentes da 
boa-fé objetiva e do superior princípio da função social3. 
 
Fundamento ético: vontade humana, desde que atue na 
conformidade da ordem jurídica. 
 
Habitat: é a ordem legal. 
 
Efeitos: criar, regular, modificar ou extinguir direitos e obrigações, ou 
seja, vínculos jurídicos patrimoniais. 
 
Para que serve um contrato? Para se harmonizar os interesses 
concretos das partes para os fins a que se propõe o Direito, ou seja, 
criação de uma sociedade livre, justa e solidária, preservação da 
segurança jurídica e proteção à dignidade da pessoa humana. 
 
 Subjetivo: capacidade das partes 
contratantes 
 
 Objetivos - licitude 
 - possibilidade 
Requisitos de validade - determinabilidade 
 
 Formais - observação da forma 
 exigida pela lei 
 - não utilização da forma 
 vedada 
 
 
1 FARIAS, Cristiano Chaves de e ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil – contratos – 
teoria geral e contratos em espécie. 2.d. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 59. 
2 FIUZA, César. Direito civil – curso completo. 10.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, pp. 388. 
3 GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil – 
contratos. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 52 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
3 
 
Síntese: 
 
CONTRATO = negócio jurídico bilateral/plurilateral 
 
criar 
Finalidade regular vínculo jurídico 
modificar patrimonial 
 extinguir 
 
 
Há conversão de vontades contrapostas criando: 
a) Dever jurídico principal: dar, fazer, não fazer. 
b) Deveres anexos: lealdade, confiança, informação etc. 
 
 
1.2. Breve histórico 
 
 Após a Revolução Francesa, a burguesia, como classe ascendente, 
possuía como maior sonho a acumulação de riquezas através da 
aquisição de propriedades. 
 
Vencendo o Estado absolutista, altamente intervencionista, a 
burguesia valeu-se da ideologia liberal para relegar ao novo Estado uma 
intervenção mínima no âmbito da vida privada. 
 
Para tal acumulação o contrato foi eleito o instrumento adequado 
para permitir que a propriedade circulasse das mãos dos antigos donos 
para as dessa classe ascendente. 
 
Desta forma, o Código Civil Francês de 1804 em suas normas, nada 
mais fazia que resguardar os interesses patrimoniais burgueses. 
 
Entretanto o ambiente de extrema liberdade mostrou-se como 
garantidor apenas dos interesses do contratante mais forte, ou seja, a 
pretensa isonomia (igualdade) era apenas formal. Os mais fracos 
passaram a enxergar no contrato não um instrumento de libertação, 
mas, sim, de opressão (“entre o forte e o fraco o contrato oprime e a lei 
liberta”). 
 
Assim, paulatinamente, os contratantes oprimidos passaram a se 
reunir e manifestar o desejo de que o Estado abandonasse a posição de 
mero espectador da vida privada e assumisse um papel mais 
intervencionista, especialmente quanto à limitação dos poderes dos 
contratantes mais fortes e resguardando direitos mínimos àqueles mais 
fracos. 
 
O ápice deste movimento foram as revoluções industriais (a maior foi 
na Inglaterra, mas em todos os países da Europa ocorreram revoluções 
menores). 
 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
4 
 
A busca da igualdade substancial no âmbito contratual demandou o 
abandono de modelos abstratos passando-se a visualizar o contrato do 
ponto de vista concreto, ou seja, de acordo com os interesses das partes 
envolvidas e não o interesse de apenas uma das partes, como era 
antigamente –, tal fenômeno ficou conhecido como materialização dos 
contratos. 
 
Vale lembrar que, no Brasil, o contrato, por si só, não é apto a 
transferir a propriedade, não tem força translativa de domínio, uma vez 
que a titularidade só vem com a tradição ou com o registro. 
 
Diferente do que ocorre no Brasil, na França até hoje o contrato tem 
força translatícia de domínio dada à reminiscência histórica dos tempos 
da burguesia, bastando mero acordo entre as partes para que ocorra a 
transmissão da propriedade. O registro e a tradição na França tem a 
finalidade de apenas conceder publicidade à transferência que foi feita. 
 
A perspectiva histórica é muito importante para entender o presente. 
 
1.3. Principiologia Contratual 
 
Aplicação desses dois momentos históricos (Estado intervencionista e 
Estado não intervencionista) na seara da Principiologia Contratual 
 
O grande dogma da teoria contratual é o princípio da autonomia da 
vontade - os contratos se debruçam sobre essa perspectiva, que remete 
à ideia do que as partes podem dentro daquele modelo abstrato, auto = 
própria, nomia = norma. 
 
Isso significa que toda pessoa detentora de direitos e dotada de 
personalidade jurídica tem a possibilidade de manifestar a sua vontade e 
trazer efeitos concretos para sua vida. Exemplo: a aquisição de um carro 
decorre da autonomia da vontade e, uma vez praticado o ato, a 
liberdade se torna restrita, pois quanto mais são exercidas as 
prerrogativas de liberdade que o ordenamento oferece mais serão as 
obrigações e responsabilidades oriundas dessa liberdade. “Quanto maislivre mais preso”. 
 
As pessoas têm liberdade para manifestar a sua vontade, criando a 
sua norma privada, mas, feito isso, estarão criando responsabilidades. 
Todos são livres para celebrar os contratos que quiserem, contudo, isso 
restringirá a liberdade, ainda que apenas sob o prisma patrimonial. 
 
É desta autonomia da vontade que derivam os princípios contratuais 
clássicos, como será abordado adiante: 
 
1.3.1. Princípios Contratuais Clássicos: 
 
 Liberdade contratual 
 Força Obrigatória dos contratos 
 Relatividade dos contratos 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
5 
 
1.3.1.1. Liberdade Contratual 
 
As partes poderiam escolher se contratavam ou não, o que a 
doutrina denomina de liberdade negativa. Além disso, as partes teriam a 
possibilidade da escolha sobre o parceiro e conteúdo da contratação, a 
esta segunda parte a doutrina dá o nome de liberdade positiva. 
 
1.3.1.2. Força Obrigatória dos Contratos ou Obrigatoriedade dos 
Contratos ou Intangibilidade Contratual (Pacta sunt servanda) 
 
O referido princípio se exprime através da expressão pacta sunt 
servanda. Os contratos nascem para serem cumpridos, ou seja, por mais 
onerosas que as prestações possam ser, as partes deverão cumprir o 
pactuado, não sendo permitido a nenhuma delas realizar alterações 
unilaterais naquele instrumento –, na tradução corrente da doutrina 
pacta sunt servanda significaria: o contrato faz lei entre as partes. 
 
1.3.1.3. Relatividade dos Contratos 
 
Os contratos não devem atingir terceiros para além dos seus limites, 
ou seja, estranhos à avença, vinculando apenas e tão somente aqueles 
que manifestaram, declararam, a sua vontade. 
 
Esses princípios tem relação com o primeiro momento histórico, isto é, 
Estado intervencionista. 
 
Comparação dessa principiologia com o segundo momento (Estado 
não intervencionista) 
 
Ao longo do tempo estes princípios clássicos foram sofrendo várias 
CRÍTICAS. Para alguns, esse momento é denominado Primeira Crise dos 
Contratos. 
 
1) Crítica ao princípio da liberdade contratual 
 
Liberdade negativa: contratar ou não contratar? Por exemplo: 
escolher qual plano de saúde contratar dentre os vários que são 
oferecidos no mercado. 
 
É preciso reconhecer que nem todos os contratos conferem essa 
liberdade: em Minas Gerais, por exemplo, onde a Cemig é a única 
fornecedora de energia elétrica do Estado atuando, portanto, em 
regime de monopólio, mesmo que haja para os consumidores a opção 
entre contratar ou não, sabido que a energia elétrica no mundo de hoje 
é um serviço essencial. 
 
SÍNTESE: 
 
 A liberdade contratual hoje foi abrandada (mitigada) face às várias 
necessidades que se apresentam no mundo moderno. Muitos 
contratos têm natureza cogente (contratos obrigatórios), seja porque 
versam sobre necessidades vitais ou pela atuação do 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
6 
 
contratante/fornecedor em regime de monopólio/exclusividade. São, 
no mais das vezes, contratos celebrados para garantir a própria 
existência da pessoa. 
 
 Na imensa maioria dos contratos da sociedade moderna não há 
liberdade sequer quanto ao conteúdo do que está sendo firmado 
entre as partes – liberdade positiva –, eis que a proposta normalmente 
virá pré-estabelecida pela parte que fornece o produto ou serviço 
(contratação via adesão). 
 
Ante essas críticas, não há como manter, na atualidade, o princípio 
da liberdade contratual nas bases teóricas em que ele fora inicialmente 
formulado. 
 
2) Crítica ao princípio da obrigatoriedade dos contratos 
 
O contrato não é algo isolado no mundo, as pessoas sempre terão 
em torno de si uma série de circunstâncias que podem, quer seja do 
ponto de vista subjetivo quer do objetivo, fazer com que o contrato não 
seja cumprido da forma inicialmente pactuada. Exemplo: contrato de 
trato sucessivo (de duração ou a prazo) no caso do art. 478/CC 
(resolução por onerosidade excessiva). 
 
Hoje, tanto a doutrina quanto a própria lei permitem alterações 
diante de determinadas situações e, por isso, não há mais que se falar 
que o contrato é obrigatório e faz lei entre as partes nos moldes 
inicialmente pensados. 
 
Desta forma, se o ambiente inicial que fundamentou a contratação 
for alterado, quer seja do ponto de vista objetivo (objeto da prestação), 
quer do ponto de vista subjetivo (contratantes), para se manter a 
isonomia substancial devem ser permitidas modificações pontuais 
naquele contrato. 
 
Se se mantiver a obrigatoriedade dos contratos como foi concebida 
inicialmente haverá apenas uma isonomia formal. A revisão do princípio 
da obrigatoriedade, portanto, é essencial para a manutenção daquilo 
que se quer efetivamente, que é a isonomia substancial ou material. 
 
3) Crítica ao princípio da relatividade dos contratos 
 
Que história é essa de que os contratos só atingem as partes 
contratantes? 
 
Isso não é verdade! 
 
Vejamos como exemplo a hipótese de fusão entre as três maiores 
cias aéreas do Brasil. Sem dúvida este fato afetaria todos os 
consumidores, mesmo por que o Estado Brasileiro se preocupa com a 
concorrência. 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
7 
 
A relatividade pode até acontecer, mas, em muitos casos, não 
gerará efeitos. 
 
Os contratos, especialmente quando celebrados entre grandes 
contratantes (exemplo: grupos empresariais) acarretam efeitos para 
terceiros estranhos àquela contratação, sejam estes determinados ou 
indeterminados, isto é, o contrato, em princípio, geraria apenas uma 
eficácia inter partes, contudo, pode gerar uma eficácia ultra partes, 
atingindo terceiros determinados, ou efeitos erga omnes, quando disser 
respeito a direitos difusos, como no caso das cias aéreas mencionado. 
 
Essa perspectiva clássica da teoria contratual, que estava no Código 
Civil Francês, resguardando o patrimônio, e que tinha o liberalismo como 
ideologia, foi trazida para o Brasil e inserida no Código Civil de 1916, mas, 
antes mesmo do Código Civil de 2002 entrar em vigor, a doutrina 
brasileira, na caminhada para um direito civil constitucionalizado 
(interpretado à luz dos princípios e garantias constitucionais), já dizia que 
a autonomia da vontade deveria ser melhor vista, pois se tratava de um 
conceito extraído da Revolução Francesa, ou seja, de um momento 
histórico marcado pelo não intervencionismo estatal, como já 
mencionado anteriormente, onde a vontade criava a norma própria: 
“A”, manifestando sua vontade de contratar com “B”, que também vai 
manifestar a sua vontade – as somas das duas vontades resultarão no 
contrato que, por sua vez, é fruto da autonomia dessas duas vontades, 
sem levar em conta qualquer intervencionismo. 
 
A partir da necessidade do intervencionismo, a lei veio libertar e hoje 
o contrato não é mais visto como a simples soma das vontades de A e B, 
pois essas vontades precisam estar dentro de limites impostos pelo 
Estado,através do que está estabelecido no ordenamento jurídico 
garantindo-se, pois, uma isonomia substancial e não mais formal. 
Portanto, hoje é preferível abandonar a expressão autonomia da 
vontade e usar a expressão autonomia privada. 
 
Autonomia da vontade: as partes têm o poder de regulamentar os 
seus interesses de acordo com a sua vontade, o que denota um aspecto 
subjetivo. 
 
Autonomia privada: as partes têm o poder de regulamentar os seus 
interesses de acordo com a sua vontade (aspecto subjetivo), mas, para 
tanto, devem ser obedecidos os limites estabelecidos pelo Estado. 
 
Exemplo 01: José pode ter vontade de comprar um apartamento, o 
que significa autonomia da vontade, mas, se José tiver 17 anos, pode 
comprar um apartamento desde que tenha a presença do assistente. 
Isso é o ordenamento jurídico estabelecendo limites = autonomia 
privada. 
 
Exemplo 02: José, ao celebrar um contrato de doação, não pode 
doar todos os seus bens, pois tem que resguardar o mínimo existencial, 
isto é, manter consigo bens suficientes que possam garantir a sua 
subsistência, que nada mais é que o intervencionismo prévio do Estado. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
8 
 
Pode-se até ter vontade de fazer tudo, contudo, esta vontade tem que 
se conformar com os limites impostos pelo Estado. 
 
Sempre que se vislumbrarem os requisitos de validade do negócio 
jurídico (art. 104/CC), p.ex., estar-se-á diante do intervencionismo prévio 
do Estado, e o não preenchimento destes requisitos pode gerar a 
nulidade do negócio jurídico. 
 
No Código Civil Francês havia, SIM, intervencionismo, ainda que de 
forma reduzida, pois sempre existiram níveis de intervencionismo, como, 
p.ex., o fato de um objeto ilícito sempre ter sido causa de invalidade do 
negócio jurídico. Por essa razão, alguns chegam a afirmar que nunca 
houve, de fato, a autonomia da vontade. 
 
O intervencionismo nesta ocasião era mínimo, pois o intervencionismo 
máximo ocorreu durante o Estado totalitarista imposto pela ditadura. 
Hoje estamos diante de um intervencionismo moderado, no Estado do 
bem-estar social. 
 
SÍNTESE: 
 
 Autonomia privada: sob a perspectiva de um direito civil 
constitucionalizado, a doutrina, no âmbito contratual, passa a rever a 
ideia central focada na autonomia da vontade. 
 
 Segundo os ensinamentos clássicos, a autonomia da vontade 
concederia aos particulares o poder de regulamentar os seus 
interesses, criando-se normas privadas com base exclusivamente no 
elemento volitivo. 
 
 Entretanto, depois de demonstrada a necessidade de intervenção 
estatal no campo contratual se percebeu que a vontade das partes 
deveria se adequar aos limites estabelecidos pelo Estado, através do 
ordenamento jurídico. A autonomia passa a ser não da vontade, mas, 
sim algo que se manifesta no âmbito da vida privada. 
 
 Conclui-se, pois, que a AUTONOMIA PRIVADA É O PODER QUE O 
ESTADO CONCEDE AO PARTICULAR PARA REGULAMENTAR OS SEUS 
INTERESSES PRÓPRIOS DE ACORDO COM A VONTADE INDIVIDUAL, MAS, 
DESDE QUE RESPEITADOS OS LIMITES QUE ESTABELECE. O Estado define 
os tipos e as partes irão preenchê-los de acordo com o seus interesses, 
de acordo com a sua vontade. 
 
 Exemplos do exercício da autonomia privada: celebração de 
contratos de prestação de serviço, aquisição de imóvel, casamento 
(para a maioria da doutrina tem natureza negocial), união estável, 
testamento, cessão do direito de imagem, constituição de uma 
sociedade empresária. 
 
Para que se tenha ato de autonomia privada é preciso que o Estado 
proteja esses atos. 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
9 
 
Obs.: a prática de ato ilícito não é ato de autonomia privada porque 
o Estado não o referendou, muito pelo contrário, o Estado puniu esse 
comportamento. 
 
2. NOVOS PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 
 
Pode-se afirmar que o contrato hoje carrega, basicamente, três 
funções e cada uma delas irá despertar um novo princípio contratual, 
todos eles presentes no Código Civil de 2002 (princípios intervencionistas): 
 
 Função ética – boa-fé objetiva 
 Função social – função social do contrato 
 Função econômica – justiça contratual ou equilíbrio 
 
Conclusões a respeito da principiologia contratual: 
 
1ª) Os princípios trazidos pelo CC/02 possuem clara feição 
intervencionista, sendo, portanto, considerados como normas de ordem 
pública. Em razão disso, o juiz tem a possibilidade de aplicá-los ex officio, 
ou seja, independentemente de alegação/suscitação por quaisquer das 
partes contratantes. Desta maneira, não poderão, igualmente, ser 
afastados por ato de autonomia privada (manifestação de vontade das 
partes). 
 
2ª) Os novos princípios contratuais não revogam os princípios 
clássicos/tradicionais, ou seja, ainda existe liberdade contratual, os 
contratos ainda são obrigatórios e os efeitos são inter partes. Porém, 
houve uma mitigação/relativização da força dos velhos princípios, 
embora não se possa falar em revogação, mesmo porque normas-
princípios não se revogam, entrando, no máximo, em tensão. 
 
Para resolver esta tensão, alguns autores defendem a aplicação 
do “paradigma da essencialidade” (Teresa Negreiros), segundo este, o 
aplicador da lei deveria analisar no caso concreto se o bem ou serviço 
objeto da contratação é ou não essencial para as partes envolvidas. Se 
o bem for essencial, aplicam-se mais fortemente os novos princípios, se 
não, os princípios clássicos/tradicionais. 
 
3ª) Fundamento de validade constitucional dos princípios contratuais: o 
princípio da autonomia privada se assenta no art. 170 da CF/88 (livre 
iniciativa); o princípio da boa-fé objetiva se assenta no art. 3º, inc. I 
(solidarismo constitucional); o princípio da função social dos contratos 
provém do princípio da função social da propriedade, art. 5º, XXIII, CF, o 
princípio da justiça contratual também está no art. 3º, inc. I (sociedade 
justa – justiça social). 
 
4ª) O legislador, para elaboração do novo CC, utilizou-se da tradicional 
técnica regulamentar, também denominada método da exegese ou 
subsunção (fato + norma = sentença), bem como da técnica legislativa 
das cláusulas gerais. 
Busca-se a convivência harmônica entre estas duas técnicas. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
10 
 
As cláusulas gerais são um modo intencionalmente vago de se legislar, ou 
seja, em pontos cruciais, o legislador entende que deve ser deixada uma 
abertura para que o juiz possa, de acordo com o caso concreto, buscar 
na CF/88 os valores necessários a uma solução mais justa – aproxima o 
direito abstrato ao conceito de justiça. 
 
Todos os novos princípios contratuais foram previstos no CC/02 a 
partir da técnica das cláusulas gerais. Por isto, a redação de alguns 
dispositivos (187, 421, 422 etc), às vezes, parece nada dizer. Tal fato é 
proposital e, de maneira alguma, afeta a harmonia entre os poderes. 
“Ativismo judicial”. 
 
Observação: técnica legislativa das cláusulas gerais versusconceitos 
jurídicos indeterminados: a semelhança é que em ambas haverá uma 
vagueza semântica a ser preenchida pelo magistrado; porém, nas 
cláusulas gerais o legislador permitiu que o juiz chegasse à conclusão 
mais justa (ele pode concluir); já quando se concretiza um conceito 
jurídico indeterminado, o magistrado está no âmbito da técnica 
regulamentar e, desta forma, deverá chegar à conclusão estabelecida 
pela lei (ex. é “manifestamente excessiva” a multa, reduz; o menor que 
vive com “economia própria”, deve ser emancipado etc). 
 
2.1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
 garante: respeito/consideração 
 implica: direitos/deveres 
 assegura: contra ato desumano/degradante 
 propicia/promove: participação ativa e 
corresponsável 
 
 A dignidade é uma qualidade do ser humano – art. 1º, III, CF/88. 
 
 Plena normatividade 
 
 Mínimo existencial 
 
 Exemplos: superendividamento, manipulações genéticas, 
identidade pessoal, livre orientação sexual, alimentos etc. 
 
 Relação Dignidade – Direito Contratual: busca evitar que em prol 
do cumprimento do contrato a todo custo sejam utilizados 
mecanismos atentatórios à dignidade. Valores como vida, 
imagem, privacidade, integridade física etc, não podem ser 
desconsiderados a pretexto de se exigir determinada prestação. 
 
2.2. Princípio da Autonomia Privada 
 
 limitada 
HOJE: Autonomia Privada 
 condicionada 
 
* Vide fls. 06-08 deste material. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
11 
 
2.3. Princípio do Consensualismo 
 
Regra = consensualismo → basta o acordo de vontades para o 
aperfeiçoamento do contrato. Exceção = formalismo (se/quando a lei 
exigir). 
 
 
2.4. Princípio da Força Obrigatória dos Contratos (pacta sunt servanda) 
 
sem caráter absoluto 
 
equilíbrio contratual 
 
conceitos amortecedores ou válvulas de segurança 
 
Teoria da Imprevisão (cláusula rebus sic standibus) = limita a 
autonomia da vontade no interesse da comutatividade dos 
contratos para assegurar a equivalência das prestações 
mitiga/relativiza a força obrigatória 
 
 só prevalece quando as condições 
econômicas da execução do contrato = tempo da elaboração. 
 
 
Nova roupagem do Pacta sunt servanda → contrato obriga as partes 
contratantes nos limites do equilíbrio dos direitos e deveres entre elas. 
 
 
2.5. Princípio da Relatividade dos Efeitos dos Contratos → oponibilidade 
relativa. Vide fls. 06-08 deste material. 
 
Exceções: 
 Principal: Função Social dos Contratos (421/CC) 
 Outras: contratos que versam sobre estipulações em favor de 
terceiros (arts. 436/438, CC), promessa de fato de terceiro (arts. 
439/440, CC), contrato com pessoa a declarar (arts. 467/471, CC) 
 
 
2.6. Princípio da Função Social do Contrato 
 
Fundamento constitucional: art. 5º, XXIII e art. 170, III – CF. É princípio 
constitucional implícito, corolário da função social da propriedade. 
 
Art. específico do CC: 421 (cláusula geral ligada à liberdade de 
contratar). Caberá ao magistrado verificar, caso a caso, se os 
contratantes, ao exercerem aquela liberdade de contratar respeitaram 
ou não os limites impostos pela cláusula geral. 
 
Decorre da diretriz teórica da socialidade, o que quer dizer que no 
exercício da liberdade de contratar a pessoa vai atender ao seu 
interesse individual, mas é preciso que, ao mesmo tempo, respeite o 
interesse de toda a coletividade. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
12 
 
O princípio da função social dos contratos irá mitigar a incidência 
de dois princípios clássicos, quais sejam: princípio da liberdade 
contratual e o princípio da relatividade dos efeitos contratuais, como se 
extrai da interpretação do mencionado art. 421/CC. 
 
A incidência da função social, entretanto, jamais poderá aniquilar 
a autonomia privada das partes, ou seja, o juiz deverá, ao aplicar essa 
cláusula geral, conformar a vontade das partes àquilo que é exigido pela 
função social. Enunciado 23/CJF. 
 
Quando houver necessidade de incidência do princípio da função 
social, a autonomia contratual será conformada. Informativo 491/STJ 
(limitação do número de dias de internação), Informativo 511/STJ 
(cláusula que restringe a gastroplastia – cirurgia de redução de 
estômago). 
 
Quanto à relatividade dos efeitos dos contratos, hoje se entende 
que com a função social deve ser operada uma releitura, no 
entendimento de que nos direitos obrigacionais em geral, dentro dos 
quais se enquadram os contratos, os efeitos inicialmente seriam apenas 
inter partes, contudo, a função social projeta os efeitos de um contrato 
para além das partes contratantes. 
 
Nesta perspectiva, a doutrina costuma dizer que existe uma 
verdadeira TUTELA EXTERNA DO CRÉDITO, ou seja, um contrato gera 
efeitos perante terceiros e a coletividade dentro da qual ele fora 
celebrado. Estes terão, no mínimo, deveres de abstenção em relação 
àquele contrato. Enunciado 21 do CJF. 
 
Obs.: alguns autores entendem que haveria uma função social 
interna e uma função social externa, porém, ao explicarem a interna, 
acabam confundindo-a com o próprio princípio da boa-fé objetiva, logo, 
para outros, o certo seria dizer que a função social terá apenas uma 
função externa. Enunciado 360/CJF, onde foi vitoriosa a primeira 
corrente. 
 
Tríplice aspecto da eficácia externa da função social: 
 
1ª vertente: contrato que prejudica de alguma forma a sociedade – 
quando um contrato violar interesses difusos e coletivos haverá 
desrespeito ao princípio da função social. Ex.: contratos que visam 
prejudicar os direitos dos consumidores, como os que objetivam 
estabelecer monopólios, carteis de preços ou que, de alguma forma, 
venham a prejudicar o meio ambiente (direito difuso). 
 
2ª vertente: contrato que prejudica terceiros determinados – melhor 
exemplo está no “by stander” (consumidor por equiparação, art. 17/CDC 
– vítima de um acidente de consumo) – p.ex., contrato que não preserva 
a segurança de terceiros viola a sua função social. Ex.: freio ABS que não 
funciona e atropela pessoas; 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
13 
 
3ª vertente: quando um terceiro prejudica um contrato – melhor exemplo 
caso Zeca Pagodinho (TJSP - Apelação n°. 9112793-79.2007.8.26.0000) - 
anexo. 
 
Grande celeuma da função social: 
 
O que ocorrerá quando a função social dos contratos não for cumprida? 
 
1ª resposta: o ordenamento não trouxe uma sanção expressa direta e 
específica para tal hipótese. Logo, ficou a cargo da doutrina e da 
jurisprudência estabelecertais consequências. 
 
2ª resposta – possíveis consequências (cumuladas ou não): 
 
a) Invalidade (nulidade) do contrato, ou seja, o cumprimento da função 
social seria requisito de validade do contrato – fundamento: 
interpretação do art. 2.035/CC, parágrafo único, c/c art. 166, VII 
(nulidade virtual); 
 
b) Ineficácia do negócio jurídico: quando apenas uma parte do contrato 
viola a função social deve ser declarada a ineficácia apenas das 
cláusulas que a violam; 
 
c) Sanção civil (indenização): se alguém foi efetivamente prejudicado, 
suportar danos em virtude da violação à função social dos contratos, 
esta vítima poderia solicitar ao causador a respectiva indenização. 
Fundamentos: art. 608/CC (contrato de prestação de serviço – 
estabelece uma indenização tarifada para as hipóteses de 
aliciamento); art. 187 (abuso de direito) c/c art. 927 – quem exerce a 
liberdade de contratar sem respeitar os limites impostos pela função 
social, abusa desse seu direito. O abuso do direito é qualificado pelo 
CC como ato ilícito, logo, se houver a produção de um dano com a 
prática desse ato, haverá dever de reparação. 
 
* Enunciado 431/ CJF 
 
Exemplos da aplicação da função social: 
 
1) Princípio da conservação dos negócios jurídicos: a invalidação é a 
ultima ratio, ou seja, a última opção. 
 
2) Súmula 308/STJ: a hipoteca do terreno firmada entre o construtor 
incorporador e o banco para financiar a construção não tem eficácia 
para terceiros (promissários compradores) que adquiriram os 
apartamentos em construção por promessa de compra e venda. A 
promessa de compra e venda nesse caso foi considerada um contrato 
de grande densidade social, tem função social. 
 
3) REsp 972.436: duas empresas tinham um contrato entre si, mas o 
contrato se tornou desinteressante, uma das partes, então, que não 
queria mais se manter vinculada à outra, ingressou com pedido judicial 
usando como fundamento o princípio da função social; o princípio da 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
14 
 
função social não pode determinar a manutenção eterna de um 
vínculo sob pena de alterar o princípio da autonomia privada. Todos 
devem ter autonomia para se vincular e para se desvincular. 
 
Importante: contrato ÚTIL + JUSTO 
 
 
Instrumento de convívio social e de preservação dos interesses da 
coletividade 
 
Enunciados das Jornadas de Direito Civil do CJF (Conselho de Justiça 
Federal)4 relativos ao art. 421/CC: 
 
Enunciado 21 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 
do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do 
princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, 
implicando a tutela externa do crédito. 
 
Enunciado 22 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 
do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de 
conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. 
 
Enunciado 23 – Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 
do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, 
mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes 
interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da 
pessoa humana. 
 
Enunciado 166 – Arts. 421 e 422 ou 113: A frustração do fim do contrato, 
como hipótese que não se confunde com a impossibilidade da 
prestação ou com a excessiva onerosidade, tem guarida no Direito 
brasileiro pela aplicação do art. 421 do Código Civil. 
 
Enunciado 167 – Arts. 421 a 424: Com o advento do Código Civil de 2002, 
houve forte aproximação principiológica entre esse Código e o Código 
de Defesa do Consumidor no que respeita à regulação contratual, uma 
vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos 
contratos. 
 
Enunciado 360 – Art. 421: O princípio da função social dos contratos 
também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes. I, III, IV e 
V Jornadas de Direito Civil. 
 
Enunciado 361 – Arts. 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre 
dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função 
social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a 
aplicação do art. 475. 
 
 
4 Os enunciados do CJF não tem força de lei, contudo, são uma boa fonte interpretativa, 
uma vez que são aprovados em Jornadas que reúnem grandes civilistas em debate, 
assumindo, assim, status de doutrina. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
15 
 
Enunciado 431 – Art. 421: A violação do art. 421 conduz à invalidade ou à 
ineficácia do contrato ou de cláusulas contratuais. 
 
2.7. Princípio da Equivalência Material, Justiça Contratual, Equilíbrio 
Econômico ou Equilíbrio Contratual 
 
 
 realizar 
Busca preservar equilíbrio direitos/deveres no contrato 
 
 
Um contrato só será interessante entre as partes se houver um 
equilíbrio, um sinalagma contratual (proporcionalidade entre as 
prestações), o que será determinado pelas circunstâncias econômicas 
que envolvem o negócio. 
 
Todo contrato se assenta sobre a chamada base contratual (ou 
equação econômico-financeira), que provém de dados da economia, 
para que haja equilíbrio, ou seja, todo contrato oneroso vai se basear 
numa equação econômico-financeira. 
 
O princípio da justiça contratual vem para conceder isonomia 
entre as partes no âmbito contratual, em contratos que nasceram sem 
equilíbrio ou que no seu transcurso se tornaram desequilibrados. 
 
É o princípio que visa preservar o denominado sinalagma 
(equilíbrio/proporcionalidade) na relação contratual. 
 
A quebra do sinalagma pode se dar de forma: 
 
a) Genética: todo tipo de contrato já pode nascer desequilibrado. Exs.: 
lesão (157), estado de perigo (156), vedação à presença de cláusulas 
abusivas (424/CC e 51/CDC) etc. 
 
A quebra do sinalagma genético poderá ocorrer em qualquer dos 
contratos classificados quanto ao tempo de execução, assim, 
derivando-se do princípio da justiça contratual, teremos regras jurídicas 
que estabelecem a recuperação deste sinalagma. Tais regras visam 
conceder isonomia a contratos que nascem desequilibrados. 
 
b) Execução: a quebra do sinalagma na fase de execução só pode 
ocorrer em contratos de execução diferida ou continuada. Nestes 
contratos há uma cláusula implícita de contratação que diz que todo 
contrato merece ser mantido como está enquanto forem também 
mantidas as condições que fundamentaram a sua constituição – 
cláusula rebus sic stantibus. 
 
 
 
 
 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
16 
 
2.8. Princípio da Boa-Fé Objetiva 
 
O Princípio da Boa-Fé Objetiva é uma decorrência clara da diretriz 
teórica da ETICIDADE5. 
 
Conceito: a boa-fé objetiva determina às partes a adoção de 
comportamentos leais, honestos, transparentes, enfim, que respeitem as 
expectativas do parceirocontratual, relacionada com os deveres anexos 
ou laterais de conduta, que serão abordados adiante. 
 
Para alguns seria um standard de comportamento a ser analisado 
pelo juiz caso a caso. Instrumento histórico que a fundamenta é o §242 
do BGB (Código Civil Alemão, início sec. XX, regra da “treu and glauben”, 
ou seja, tutela da confiança). 
 
No CC/16 só havia uma previsão de boa-fé objetiva no contrato 
de seguro. 
 
Não confundir: boa-fé objetiva e boa-fé subjetiva. 
 
Dica: se a expressão for atuou “conforme” a boa-fé, 
trata-se da objetiva, regra de comportamento, se se 
disser “de” boa-fé, será boa-fé subjetiva, estado anímico, 
psicológico, quando ignora uma situação. 
 
A boa-fé subjetiva (“güter glauben”), já trazida no Código anterior 
e ainda abordada pelo CC/02, refere-se à esfera interna da pessoa, 
opera em seu plano de consciência e, por isso, se relaciona com a 
moral6. 
 
A boa-fé subjetiva irá dimensionar a aplicação da técnica 
regulamentar, enquanto a objetiva é uma cláusula geral. 
 
Boa-fé objetiva X Boa-fé subjetiva 
 
 regra de comportamento situação psicológica 
 
O CC/02, ao prever o princípio da boa-fé objetiva, entendeu que 
esta deve obedecer a certas funções: 
 
a) Interpretativa ou hermenêutica (art. 113/CC) 
b) Integrativa ou supletiva (art. 422/CC) 
c) Controle ou limitativa (art. 187/CC) 
 
a) Interpretativa ou hermenêutica (art. 113/CC): o CC/16 buscava a 
vontade internalizada das partes – teoria da vontade, aspecto 
subjetivo; o CC/02 buscará a intenção das partes a partir daquilo que 
 
5 Esta diretriz promove uma maior aproximação entre normas morais e normas positivadas. 
Desta forma, preceitos antes pertencentes apenas ao campo da ética, tornam-se 
verdadeiras normas jurídicas dotadas de sanção com coercibilidade. 
6 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 455. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
17 
 
por elas fora declarado (diretriz da operabilidade) – teoria da 
declaração, aspecto objetivo. 
 
Se o juiz entender necessário, ele poderá buscar na boa-fé 
objetiva um elemento auxiliar de interpretação de normas jurídicas, ou 
seja, a boa-fé dará ao negócio jurídico ou às próprias normas previstas 
no CC a interpretação mais favorável à tutela da confiança. 
Exemplo de interpretação conforme a boa-fé: art. 798/CC (seguro 
de vida no caso de suicídio – “O beneficiário não tem direito ao capital 
estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do 
contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no 
parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese 
prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital 
por suicídio do segurado”) – o STJ vem interpretando esta norma da 
seguinte forma: se o suicídio ocorreu ANTES dos dois primeiros anos de 
vigência inicial do contrato ou nos dois primeiros anos depois de o 
contrato ter sido reiniciado (recondução) depois de um tempo 
suspenso, a seguradora não estará obrigada a pagar a indenização, o 
segurado apenas receberá o valor da reserva técnica já formada. Se 
o suicídio ocorrer depois dos 02 anos, será devida a indenização ainda 
que exista cláusula expressa em contrário, que será considerada nula7. 
STJ/Informativo 564. 
b) Integrativa ou supletiva (art. 422/CC): a obrigação hoje é tida como 
complexa, pois inclui deveres principais, como o pagamento, e 
deveres anexos ou laterais, que decorrem da lei. Se os deveres anexos 
vierem escritos no contrato na forma de cláusula, passarão a ser 
deveres principais. Os deveres anexos podem ser resumidos em (CPI): 
 
 Cooperação/colaboração/lealdade 
 Proteção/segurança/cuidado 
 Informação/esclarecimento/transparência/aviso 
 
Cooperar significa fazer do negócio jurídico um sucesso para as 
partes, ou seja, o adimplemento das prestações ajustadas deverá 
ocorrer da forma mais proveitosa para o credor e menos onerosa para 
o devedor. Ao invés de contratantes, melhor dizer que são parceiros 
contratuais na consecução dos fins do contrato. Exs.: dever de não 
concorrência do D. Empresarial; recall; dever de confidencialidade 
assumido pelo funcionário em certas empresas. 
 
Dever de proteção ou dever de acautelamento: as partes, quando 
se relacionam, devem se proteger mutuamente, tanto quanto aos 
interesses patrimoniais, quanto aos existenciais, deve haver um 
acautelamento físico e patrimonial umas das outras. O que se quer é 
que as partes saiam do contrato, tanto quanto possível, da mesma 
forma que entraram, sem lesões morais ou patrimoniais. Ex.: furtos de 
bens ocorridos em estabelecimentos empresariais ou responsabilidade 
civil que surge do rompimento do dever de proteção. 
 
7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Julgados resumidos dizer o direito 2012-2015. 
Manaus: Dizer o Direito, 2016, pp. 261-262. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
18 
 
Dever de informação: tudo o que disser respeito ao objeto do 
contrato e que puder influenciar na vontade da parte contratar deve 
ser informado a esta. A ideia que subjaz é a de ampliar o 
conhecimento a respeito do objeto do contrato. Informações óbvias, 
evidentes, não ampliam o conhecimento, logo, não necessitam ser 
prestadas e não integram o dever de informação, p.ex., vender o 
carro e dizer que tem que calibrar o pneu, por combustível etc. Exs.: 
este veículo exige revisão a cada 3 mil km. 
 
Observação: o dever de informação no Código de Defesa do 
Consumidor (CDC) não é dever anexo, mas, sim, dever principal – art 
30 e ss. 
 
Conclusões sobre a função integrativa: 
 
1ª) O princípio da boa-fé objetiva terá incidência nas fases pré-
contratual, contratual e pós-contratual. 
 
Na fase pré-contratual não há deveres principais, não se trata de 
pré-contrato ou contrato preliminar; na promessa de compra e venda 
há um contrato principal e, ao final, busca-se outorgar o contrato 
definitivo. 
 
Os primeiros entendimentos jurisprudenciais relevantes que trataram 
da matéria envolveram a empresa CICA, pronunciados pelo TJRS – 
“caso dos tomates”8. 
 
Na fase contratual, ou seja, no curso do contrato, além do 
cumprimento dos deveres principais, as partes deverão também 
atentar para a observância dos deveres anexos, que, da mesma 
forma que aqueles, se descumpridos poderão ensejar inadimplemento 
(violação positiva do contrato). Ex.: Súmula 308 do STJ – “A hipoteca 
firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior 
à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia 
perante os adquirentes do imóvel”. 
 
Na fase pós-contratual também não há deveres principais, porque 
já foram cumpridos (ou não). Ainda assim, existem responsabilidades 
pelo descumprimento dos deveres anexos oriundos da boa-fé 
objetiva. Como exemplo da boa-fé objetiva nesta fase, pode-se citar 
a Súmula 548 do STJ, segundo a qual “Incumbe ao credor a exclusão 
do registro da dívida em nome do devedor no cadastro de 
inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e 
efetivo pagamentodo débito”9. 
 
Portanto, as responsabilidades pré e pós contratuais têm como 
principal fundamento a violação ao princípio da boa-fé. Ex.: quando 
uma parte inicia as tratativas já sabendo que, ao final, não irá 
efetivamente contratar, há espaço para a responsabilidade civil pré-
 
8 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 6.ed. São Paulo: Método, 2016, p. 627. 
9 TARTUCE, Flávio, ob. cit, p. 630 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
19 
 
contratual. Alguns autores, ainda focados na ideia de culpa, chamam 
esta responsabilidade por culpa in contrahendo. Enunciado 25 CJF. 
 
2ª) Adimplemento ruim ou violação positiva do contrato: ocorrerá 
quando a parte cumprir o dever principal, mas não cumprir o dever 
anexo. 
 
Consequência: o adimplemento ruim terá as mesmas 
consequências das formas tradicionais de inadimplemento, isto é, da 
mora e do inadimplemento absoluto, quais sejam: resolução do 
contrato cumulada com perdas e danos, juros, correção e honorários, 
quando não for possível exigir o cumprimento específico. Enunciado 24 
CJF. 
 
Haverá responsabilidade civil objetiva daquele que desrespeita a 
boa-fé objetiva (Enunciado n. 24 do CJF/STJ). Essa responsabilização 
independentemente de culpa está amparada igualmente pelo teor 
do Enunciado n. 363 do CFJ, da IV Jornada, segundo o qual: “Os 
princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, 
estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência 
da violação”10. 
 
c) Controle ou limitativa (art. 187/CC): ao permitir o exercício de um 
direito subjetivo (manifestação de vontade na busca de um interesse), 
o Estado irá estabelecer certos limites, evitando condutas abusivas. 
Logo, a boa-fé objetiva foi inserida no art. 187 como uma forma de 
parâmetro de controle do abuso do direito. 
 
Resumindo: o titular de um direito subjetivo, ao exercê-lo, deverá 
respeitar limites éticos impostos pela boa-fé. Por ter sido utilizada a 
técnica das cláusulas gerais, caberá ao magistrado analisar o respeito 
ou não a tais limites. 
 
Para auxiliar esta tarefa judicante, a doutrina criou as denominadas 
FIGURAS OU CONCEITOS PARCELARES DA BOA-FÉ OBJETIVA: 
adimplemento substancial ou inadimplemento mínimo, nemo potest 
venire contra factum proprium, “Verwirkung” (suppressio e surrectio),tu 
quoque, exceptio doli e duty to mitigate the loss. 
 
1) Adimplemento substancial ou inadimplemento mínimo: Informativos 
480 e 500 do STJ, e Enunciado 361/CJF. 
 
Por esta teoria, o credor, violado em seu direito subjetivo, deverá 
utilizar-se de medidas proporcionais, inibindo-se, portanto, condutas 
drásticas que venham a por fim a um contrato já cumprido em sua 
quase integralidade, sob o risco de se caracterizar abuso de direito. 
Ex.: contrato de leasing – o pagamento da maior parte das 
prestações pelo arrendatário inibe o credor de se utilizar da 
reintegração de posse, poderia apenas pretender a cobrança das 
prestações restantes. Credor fica inibido de resolver o contrato. 
 
10 TARTUCE, Flávio, ob. cit, p. 625. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
20 
 
Obs.: busca e apreensão é instrumento para alienação fiduciária 
em garantia e não para o leasing ou arrendamento mercantil. 
Neste último, havendo inadimplemento, o instrumento é 
reintegração de posse, que será cumulada com a cobrança das 
prestações inadimplidas. 
 
2) “Nemo potest venire contra factum proprium”: a ninguém é dado vir 
contra seus próprios atos. O Direito admite a contradição em 
algumas situações, mas, em nenhuma situação admite a quebra de 
confiança. 
 
Esta teoria tem por finalidade, portanto, coibir a adoção de 
comportamentos contraditórios que gerem uma quebra de 
confiança depositada pela contraparte, confiança esta que surgiu 
de um primeiro comportamento. Pressuposto objetivo para 
aplicação da teoria: dois ou mais comportamentos. 
 
Ex.: proposta de contrato que pode ser retratada, assim como a 
retratação da aceitação; pai que reconhece filho e depois, 
quando não houver socioafetividade, ingressar com ação 
buscando a negativa de paternidade etc. 
 
Esta teoria vem sendo aplicada pela jurisprudência para fins de 
responsabilidade civil; para o cumprimento de obrigações 
específicas, como a obrigação de fazer, como forma de se suprir o 
consentimento quando há uma contradição. 
 
Também é aplicada em outros ramos do direito, no D. 
Administrativo, D. Trabalho, relações processuais etc. Ex.: médicos 
formados queriam ingressar em residências em hospital público, e o 
edital dizia que seria pago salário de médico especialista, mas não 
foi o que ocorreu, o salário pago foi de médico residente; 
divulgação de um número de vagas para preenchimento do 
concurso e depois não convocar os aprovados – antes a 
aprovação gerava apenas expectativa de direito ao candidato 
aprovado, agora é direito subjetivo à nomeação; aplicação do 
venire ao direito processual - na contradição de atos processuais, 
no chamado abuso do direito de defesa, pois a defesa deve ser 
exercida dentro de padrões éticos, p.ex. o advogado faz uma 
alegação na inicial ou contestação e depois a parte contradiz tudo 
no depoimento pessoal. 
 
3) “Verwirkung” (suppressio e surrectio): são duas faces da mesma 
moeda. Trazem em si, também, comportamentos contraditórios que 
violam a confiança, sendo assim, o melhor entendimento é de que 
seriam subespécies do gênero maior que é o Venire. Na Argentina 
são chamados de teoria dos atos próprios. 
 
Suppressio (atuação negativa): é a possibilidade de se considerar 
suprimida uma obrigação contratual na hipótese em que o não 
exercício correspondente pelo titular gere no devedor a justa 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
21 
 
expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo, isto 
é, a legítima expectativa de ter havido renúncia. 
 
Exemplo11: Berenice e Helena celebram contrato de locação. 
Ajusta-se no contrato que o aluguel será pago à imobiliária que 
intermediou o contrato, distante do imóvel locado. Ocorre que, 
desde o primeiro mês, Berenice paga o aluguel diretamente a 
Helena, que sempre a encontra na igreja próxima da casa de 
ambas. Tempos depois, Helena pretende forçar Berenice a observar 
o local do pagamento estabelecido no contrato, mas não obtém 
êxito, vez que, por força do princípio da boa-fé, entende-se que 
houve supressio daquele direito. 
 
Tem-se, portanto, de um lado, o titular de um direito inerte/omisso 
e isso se perpetua no tempo e, do outro, alguém que se beneficia 
desta inércia, e cria expectativas legítimas quanto a isso, ou seja, 
confiança no comportamento inerte. Requisitos para configuração: 
 
a) Titular de um direito subjetivo omisso quanto ao seu exercício; 
b) Esta omissão se perpetua por um tempo relevante – o juiz é que avaliará, não 
há prazo legal de supressio; 
c) Sem justificativas, o titular, após longa omissão, quer exercer o seu direito;d) Tal exercício gera uma quebra de confiança da contraparte, que acreditava na 
perpetuação da inércia. 
 
Logo, a supressio será um argumento de defesa contra o 
exercício de um direito. Ex.: REsp 214.680. Haverá uma titularidade 
esvaziada, que não pode ser exercida. 
 
O juiz pode aplicar supressio ex officio? Pode, porque se é 
decorrência do Princípio da Boa-fé objetiva é princípio de ordem 
pública. 
 
Surrectio (atuação positiva): é a possibilidade de surgimento de 
um dever contratual, originalmente não previsto no instrumento, 
pelo comportamento reiterado da parte no sentido de assunção 
desse dever. Requisitos: 
 
a) Existência de uma relação jurídica continuada, que se perpetua por um 
período relevante; 
b) Sem justificativa uma das partes quer interromper aquela relação ou modificá-
la unilateralmente; 
c) Para manter a confiança da parte prejudicada haverá o nascimento de um 
verdadeiro direito subjetivo à continuidade daquela relação. Informativo 467 
(REsp 1.073.595 – seguro de vida). 
 
Exemplo12: Rui e Pontes celebram contrato de fornecimento 
mensal de frutas. Todos os meses, Rui arca com as despesas de 
envio das frutas, embora tal obrigação não houvesse sido 
ajustada. Passados meses da reiterada conduta, não permite a 
 
11 Donizetti, ob. cit., p. 457. 
12 Donizetti, ob. cit., pp. 458. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
22 
 
surrectio que Rui queira, a partir de determinado momento, exigir 
que Pontes cubra os custos da remessa. 
 
4) “Tu quoque”: é a situação de uma parte que, tendo 
descumprido a lei ou o contrato, posteriormente pretende se 
valer do preceito descumprido em benefício próprio. 
 
Exemplo: Augusto empresta gratuitamente a César uma casa 
na praia, por um ano. Vencido o prazo, César (comodatário) 
deixa de restituir o bem, conquanto compelido a fazê-lo por 
Augusto. Ao receber a conta de energia, todavia, envia-a a 
Augusto (comodante) para que este a pague, alegando já ter 
o contrato (comodato) vencido. Considerando-se que as 
despesas da coisa, enquanto na posse do comodatário, não 
podem ser cobradas do comodante, Augusto defender-se-á 
do pedido de César baseado na vedação do tu quoque13. 
 
Previsão legal da boa-fé objetiva – crítica: 
 
Artigo 422, CC falha: boa-fé observável somente na 
conclusão e durante a 
execução do contrato. 
 
 correção: boa-fé incide também 
nas fases pré e pós-
contratuais. 
 
Enunciados das Jornadas de Direito Civil do CJF relativos ao art. 422/CC: 
 
Enunciado 24 – Art. 422: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no 
art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui 
espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. 
 
Enunciado 25 – Art. 422: O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a 
aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e 
pós-contratual. 
 
Enunciado 26 – Art. 422: A cláusula geral contida no art. 422 do novo 
Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e 
corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a 
exigência de comportamento leal dos contratantes. 
 
Enunciado 27 – Art. 422: Na interpretação da cláusula geral da boa-fé, 
deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões 
sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. 
 
Enunciado 168 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva importa no 
reconhecimento de um direito a cumprir em favor do titular passivo da 
obrigação. 
 
 
13 Donizetti, ob. cit., pp. 459-460. 
REDE DE ENSINO DOCTUM – INSTITUTO ENSINAR BRASIL 
FACULDADES UNIFICADAS DE TEÓFILO OTONI 
 CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º SEM/ANO: 2º/2016 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL III PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS 
 
23 
 
Enunciado 169 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o 
credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo. 
 
Enunciado 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas 
partes na fase de negociações preliminares e após a execução do 
contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. 
 
Enunciado 362 – Art. 422: A vedação do comportamento contraditório 
(venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal 
como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. 
 
Enunciado 363 – Art. 422: Os princípios da probidade e da confiança são 
de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar 
a existência da violação. 
 
Enunciado 432 – Art. 422: Em contratos de financiamento bancário, são 
abusivas cláusulas contratuais de repasse de custos administrativos 
(como análise do crédito, abertura de cadastro, emissão de fichas de 
compensação bancária, etc.), seja por estarem intrinsecamente 
vinculadas ao exercício da atividade econômica, seja por violarem o 
princípio da boa-fé objetiva. 
 
5) “Exceptio doli”: é a defesa do réu contra ações dolosas, 
contrárias à boa-fé. Trata-se da boa-fé usada como defesa 
(função reativa)14. 
 
Exemplo: art. 476/CC – exceção de contrato não cumprido. 
 
6) “Duty to mitigate the loss”: dever imposto ao credor de mitigar 
suas perdas (prejuízo). 
 
Enunciado 160 do CJF: “O princípio da boa-fé objetiva deve 
levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”. 
 
Exemplo: contrato de locação de imóvel urbano em que 
houve inadimplemento. Nesse contrato há um dever do 
locador de ingressar, tão logo seja possível com a competente 
ação de despejo, não permitindo que a dívida assuma valores 
excessivos15. 
 
14 TARTUCE, ob. cit. p. 635. 
15 TARTUCE, ob. cit. p. 640.

Continue navegando