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A ordem do discurso

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A ordem do discurso
Semana passada eu tive que fazer um trabalho sobre Michel Foucault e seu livro, “A Ordem do Discurso”. Apesar das dificuldades, pois é um texto extremamente complexo e que requer várias leituras igualmente minuciosas, eu achei que seria uma boa idéia expor a explicação do texto aqui para que vocês leitores tivessem acesso a um tipo de informação extremamente valiosa.
A Ordem do Discurso é uma publicação baseada na aula inaugural de Foucault no Collége de France. Nela, Foucault fala da relação entre discurso e poder.
É controlando os nossos discursos que as instituições mantêm o poder. Assim, há diversas formas de controle ou de exclusão do discurso. São excluídos aqueles que vão contra a ordem vigente. Foucault fala de dois tipos de controle do discurso: os externos e os internos.
As formas de controle externo do discurso, Foucault chama de sistemas de exclusão. São procedimentos que impedem a criação do discurso, embora não seu pensamento. Você pode pensar um discurso, mas não pode pronunciá-lo. São três os sistemas de exclusão:
1) Interdições: A interdição: Foucault fala especificamente de três tipos de interdições (embora suas formas possam ser as mais variadas): tabu do objeto, ritual da circunstância e direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala.
a. a palavra proibida ou tabu do objeto: há certas coisas, há determinados assuntos dos quais não podemos falar, que não podem entrar em nosso discurso. Dentre esses assuntos, os dois principais são a sexualidade e a política.
b. ritual da circunstância: há determinados discursos que só podem ser anunciados em determinadas ocasiões.
c. direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala: há determinados discursos que só podem ser proferidos por determinados sujeitos.
Todas essas barreiras, essas interdições, acabam por tolher a potencialidade do discurso, logo, o seu poder. É a velha história: você nunca pode dizer o que quiser, quando quiser e como bem entender. Ou então: quem fala o que não quer, ouve o que não quer.
2) Oposição entre razão e loucura: Se eu digo o que é proibido ou contrario alguma das interdições eu sou taxado de louco. Segundo Foucault, “louco é aquele cujo discurso não circula como o dos outros”. Na História há vários exemplos disso, principalmente de cientistas que contrariavam as verdades estabelecidas de suas respectivas épocas. Mesmo se você estiver falando a verdade, seu discurso não vai ser aceito.
3) Vontade de verdade: Todo mundo quer que seu discurso seja aceito como verdade, pois isso é o mesmo que ter poder. O discurso nem precisa ser de fato verdadeiro; basta que ele seja passado como tal. Só que caso ele não seja aceito como verdadeiro, há o risco da exclusão, de ser taxado como louco. Sempre houve, e ainda há, em nossa cultura a noção de oposição entre certo e errado. Há uma verdade, e o resto não o é. “Essa divisão histórica deu sem dúvida a forma geral à nossa vontade de saber”.
Tendo isso em vista, nós não devemos olhar apenas a verdade, mas também, e principalmente, a vontade dessa verdade. Porque a verdade do discurso acaba sempre mascarando a sua vontade de verdade (devido ao apoio institucionalizado desta). Logo, nós ignoramos essa vontade de verdade como sendo “uma prodigiosa maquinaria destinada a excluir todos aqueles que procuraram contorná-la e recolocá-la em questão contra a verdade, lá justamente onde a verdade assume a tarefa de justificar a interdição e definir a loucura”.
Essas três formas de exclusão impedem que o indivíduo anuncie seu discurso (ou faça com que ele tema anunciá-lo). Eles “tendem a exercer sobre os outros discursos uma espécie de pressão e como que um poder de coerção”. Assim sendo, o discurso acaba se desenhando como uma forma de dominação. Um exemplo é o discurso jurídico, que usa uma linguagem excessivamente técnica e complicada. Isso faz com que o cidadão comum seja excluído desse campo discursivo e acabe como conseqüência lógica não brigando pelos seus direitos. No jornalismo também há isso, como o famoso “economês” usados nos cadernos de economia. Uma linguagem técnica que impede a compreensão do texto. São textos feitos para quem já entende do assunto, o que perpertua a concentração do poder, do discurso.
É importante lembrar que nenhum enunciado é neutro. Portanto, sempre desconfie de tudo o que você ler. O titulo, a imagem, cada uma das palavras, tudo possui um significado e não é escolhido à toa.
Quando o discurso pode ser dito, ele esbarra no que Foucault chama de “procedimentos de controle e delimitação do discurso”. Ou seja, os processos internos, que também são três.
1) O comentário: nós sempre estamos nos remetendo a outros discursos. Quase tudo o que falamos já foi dito uma outra vez, porém de forma diferente, com outras palavras. O comentário é repetir um discurso já existente. É o que eu estou fazendo aqui. Ao explicar Foucault para vocês eu acabo limitando o sentido do texto.
2) O autor: a individualidade do autor limita o sentido do discurso. Se for “O” cara que estiver falando, tudo bem; se for um outro qualquer aí o discurso deste tem menos valor, é menos poderoso.
3) A disciplina: são regras pertencentes a determinado campo do saber ou ciência às quais o discurso deve se adaptar para ter validade ou credibilidade. Foucault cita o exemplo de Mendel, que por muitos anos não teve suas teorias sobre a hereditariedade aceita, pois elas iam de encontro à visão da Biologia da época. Obviamente, essas regras podem mudar de acordo com o tempo e com o lugar. Elas são difíceis de mudar, porque dessa forma quem as domina pode controlar quem participa do discurso.
Enfim, tudo isso serve para mostrar a importância de como todo o discurso está “contaminado” de ideologia e de interesses, já que todo ser humano age de maneira interessada, de acordo com o que lhe é benéfico. Assim, precisamos perder a ingenuidade que costumamos ter ao lermos um jornal, ao vermos uma propaganda, etc.

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