Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1 DISCURSO, TEXTO E SENTIDO ............................................................... 3 1.1 O discurso e a ideologia ....................................................................... 4 2 ANÁLISE DO DISCURSO: ALGUNS ELEMENTOS ................................... 7 2.1 A importância da análise do discurso na compreensão de enunciados . ........................................................................................................... 11 3 TEXTO E DISCURSO ............................................................................... 17 3.1 Análise de um poema ......................................................................... 18 3.2 Análise de um texto publicitário .......................................................... 27 4 DISCURSO DIRETO E INDIRETO ........................................................... 30 4.1 Discurso direto ................................................................................... 31 4.2 Discurso indireto ................................................................................. 32 4.3 Passagem do discurso direto para discurso indireto .......................... 33 5 Diretrizes para a análise de discurso em jornalismo ................................. 37 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 49 1 DISCURSO, TEXTO E SENTIDO Fonte:milenanicolas.blogspot.com.br Ao tratarmos de "Análise do Discurso" é prudente, de início, nos colocarmos a questão: o que entendemos por análise do discurso? Esta pergunta é pertinente porque vários são os conceitos de "análise do discurso", um campo de estudos em formação, cujas fronteiras não estão ainda claramente delimitadas. Se tomarmos um ponto de vista histórico, perceberemos que o que hoje chamamos de "análise do discurso" tem uma história que chega a dois mil anos, desde os estudos da Retórica grega, e se estende a um presente com ares de Science fiction na tentativa da linha francesa de empreender uma "análise automática do discurso" por meio da informática. Durante esse longo percurso, um conjunto de preocupações comuns tem delineado um domínio bastante amplo dentro dos estudos linguísticos. Foi na década de 1970 do nosso século que a AD tomou força, mas não se pode dizer, ainda, que se constitua em um campo claro de estudos. O seu desenvolvimento significou a passagem da Linguística da "frase" para a Linguística do "texto". Essa mudança no objeto de análise provocou transformações na ideia classicamente aceita de que a "fala" é individual, assistemática e, portanto, não passível de análise científica. Mas o grande problema continua a ser a definição e a metodologia para abordar essa nova unidade de análise. O fato de a AD tomar uma unidade de análise maior do que a frase fez que o estudo do "texto" passasse a ocupar lugar central nos estudos linguísticos. E, exatamente por tomar esse objeto complexo, a AD seguiu várias direções, com diferentes concepções epistemológicas e metodológicas. O que as unifica, no entanto, é o fato de tomarem o seu objeto do ponto de vista linguístico e de procurarem, no texto, o estudo da DISCURSIVIZAÇÃO. 1.1 O discurso e a ideologia Fonte: www.pautando.com.br O DISCURSO é um suporte abstrato que sustenta os vários TEXTOS (concretos) que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em termos de figuras e temas, das estruturas semi narrativas. Através da Análise do Discurso é possível realizarmos uma análise interna (o que este texto diz? Como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que ele diz?). Ao analisarmos o discurso, estaremos inevitavelmente diante da questão de como ele se relaciona com a situação que o criou. A análise vai procurar colocar em relação ao campo da língua (suscetível de ser estudada pela Linguística) e o campo da sociedade (apreendida pela história e pela ideologia). A "ideologia" é um conjunto de representações dominantes em uma determinada classe dentro da sociedade. Como existem várias classes, várias ideologias estão permanentemente em confronto na sociedade. A ideologia é, pois, a visão de mundo de determinada classe, a maneira como ela representa a ordem social. Assim, a linguagem é determinada em última instância pela ideologia, pois não há uma relação direta entre as representações e a língua. Fonte:portal.ifrn.edu.br A essa determinação em última instância, Pêcheux (1990) denomina "formação ideológica" ou "condições de produção do discurso". Uma sociedade possui várias formações ideológicas, e a cada uma delas corresponde uma "formação discursiva" ("o que se pode e se deve dizer em determinada época, em determinada sociedade"). Por isso, os processos discursivos estão na fonte da produção dos sentidos e a língua é o lugar material onde se realizam os "efeitos de sentido". Segundo Althusser (s.d.), a ideologia é a representação imaginária que interpela os sujeitos a tomarem um determinado lugar na sociedade, mas que cria a "ilusão" de liberdade do sujeito. A reprodução da ideologia é assegurada por "aparelhos ideológicos" (religioso, político, escolar etc.) em cujo interior as classes sociais se organizam em formações ideológicas ("conjunto complexo de atitudes e representações"). O discurso é um dos aspectos da materialidade ideológica, por isso, ele só tem sentido para um sujeito quando este o reconhece como pertencente a determinada formação discursiva. Fonte: milenanicolas.blogspot.com.br Os valores ideológicos de uma formação social estão representados no discurso por uma série de formações imaginárias, que designam o lugar que o destinador e o destinatário se atribuem mutuamente (Pêcheux, 1990, p.18). As investigações mais recentes em Análise do Discurso consideram que é possível construir procedimentos efetivos capazes de restituir o traço da estrutura invariante dos discursos (o sistema de suas "funções") sob a série combinatória de suas variações superficiais, ou seja, descrever e explicar a estrutura presente na série de seus efeitos (Pêcheux, 1990, p.255). A AD precisa realizar uma análise que alie o interno (discursivização) e o externo (relação enunciado/enunciação). Do nosso ponto de vista, o projeto semiótico greimasiano conseguiu desenvolver uma análise "interna" consistente, e abriu perspectivas para uma análise externa. A semiótica greimasiana tem por objetivo analisar a construção e a organização dos discursos e dos textos através de um conjunto de regras. Procura desenvolver uma "gramática" capaz de entender como se constrói o percurso gerativo do sentido em textos. 2 ANÁLISE DO DISCURSO: ALGUNS ELEMENTOS Fonte: hepaticas.wordpress.com A enunciação pode ser reconstruída pelas "marcas" espalhadas no enunciado; é no discurso que se percebem com mais clareza os valores sobre os quais se assenta o texto. Analisar o discurso é, por isso, determinar as condições de produção do texto. Podemos, por exemplo, analisar o uso das categorias de pessoa, espaço e tempo, que, no discurso, não são as mesmas da enunciação: quem diz "eu" no texto não é o autor, nem são seus o tempo e o espaço. Importa verificar quais os procedimentos utilizados e quais os efeitos de sentido criados. Nas notícias de jornal é comum que o enunciador procure construir o efeito de objetividade e, para isso, mantém a enunciação afastada do discurso, como garantia de sua "imparcialidade". Os recursos utilizados são o uso da 3a pessoa, no tempo do "então" e no espaço do "lá", e o uso do discurso direto para garantir a verdade. Fonte: sbpalestrantes.com.br Um procedimento oposto, que cria o efeito de proximidade com a enunciação, é, por exemplo, aquele utilizado nas autobiografias, em que há caráter subjetivo através do uso da I a pessoa, o tempodo "agora" e o espaço do "aqui". Outro exemplo dessa complexidade enunciativa são os romances policiais narrados em I a pessoa, em que o enunciador possui um saber parcial, o que cria o suspense. Esse procedimento é utilizado para criar cumplicidade entre o enunciador e o enunciatário - se o enunciador mostrasse saber, por exemplo, quem é o assassino e desse pistas falsas, o leitor poderia sentir-se "traído. A ambiguidade pode ser criada quando um mesmo ator é o narrador e o sujeito principal da narrativa. É este o recurso utilizado por Machado de Assis em Dom Casmurro, onde o narrador mostra somente o seu ponto de vista. Os fatos contados podem ganhar status de "coisas reais", "acontecidas", através de ilusões discursivas. Pela desembrearem interna, o narrador cede voz aos sujeitos, no discurso direto (delegação interna de voz), e obtém, assim, a "prova de verdade". Por meio da ancoragem são construídos, no discurso, pessoas, tempo e espaço "reais" ou "existentes", que criam a ilusão de serem "cópias" da realidade. Esse procedimento é típico do discurso jornalístico e do discurso histórico, em que o detalhamento das informações concorre para criar a "verdade do discurso". O discurso jornalístico caracteriza-se, ainda, pela utilização de imagens que, pelo seu caráter "icônico", não deixam espaço para a refutação. Essa "ilusão de realidade" pode ser construída em todos os sistemas semióticos como a pintura (perspectiva, ocupação do espaço, ancoragem histórica), o filme (focalização e posicionamento da câmera), o teatro (jogos de luz, utilização do palco). Fonte: notícias.universia.com.br Da mesma forma, pode-se construir a ilusão contrária, de "ficcionalidade", através, por exemplo, da utilização da fórmula discursiva "era uma vez...". O enunciador quer fazer o enunciatário crer na verdade do discurso. Por isso, ele tem um fazer persuasivo e o enunciatário tem um fazer interpretativo. Há um contrato de veridicção entre enunciador e enunciatário. Por isso, o enunciador constrói no discurso todo um dispositivo veridictório, espalha marcas que devem ser encontradas e interpretadas pelo enunciatário. Nessas marcas estão embutidas as imagens de ambos (os seus sistemas de crenças, as imagens recíprocas etc.). São estratégias Alfa, São Paulo, 39: 13- 21,1995 19 discursivas, por exemplo, a implicitação e/ou a explicitação de conteúdos, que constroem o texto por meio de pressupostos e de subentendidos. Segundo Ducrot (1977; 1987), os subentendidos são um recurso utilizado para que possamos "dizer sem dizer", para que possamos afirmar algo sem assumir a responsabilidade de termos dito. Fonte: www.123rf.com Para entender os sentidos subentendidos em um texto é preciso que o enunciador e o enunciatário tenham um conhecimento partilhado que lhes permita inferirem os significados. Esse conhecimento de mundo envolve o contexto sócio histórico a que o texto se refere. A coerência semântica do discurso é obtida através da tematização e da figurativização. Na tematização os valores do texto são organizados por meio da recorrência de traços semânticos que se repetem no discurso e o tornam coerente. Na figurativização os temas são concretizados em figuras que lhes atribuem traços de revestimento sensorial. Por exemplo, o tema da LIBERDADE pode ser figurativizado como uma "velha calça azul e desbotada" (na propaganda de jeans), como uma "pomba voando" ou uma "moça cavalgando". O efeito de veridicção se fundamenta no reconhecimento das figuras. A coerência textual é assegurada pela isotopia, pela recorrência de temas e figuras que constitui a linha sintagmática e a coerência semântica do discurso. Sempre há uma figura que é um "desencadeador de isotopia", que constrói um percurso isotópico e nos fornece uma direção de leitura do texto.1 1 Texto extraído do link: seer.fclar.unesp.br 2.1 A importância da análise do discurso na compreensão de enunciados Fonte: www.agendor.com.br Depreender sentido de um texto, seja ele oral, escrito ou visual, não é tão simples. Não basta entender um enunciado para que a comunicação seja satisfatória para ambos os interlocutores. É preciso que o interlocutor saiba perceber a intenção que teve o enunciador, até porque os sentidos podem desvirtuar-se no caminho percorrido entre o Eu e o Tu. Primeiramente, porque somos seres psicológica e ideologicamente individuais, afetados pela língua e pela sociedade de modo particular. O que o Eu diz pode ser feito com a intenção de provocar um sentido, mas divergir quando chegar ao Tu. Partindo desse princípio, vemos que os enunciados são heterogêneos e que a troca de informação não acontece de modo linear nem estanque, mas, na prática, a comunicação ganha um sentido de curso, de fluência, de ação e movimento, que fazem com que os enunciados sejam chamados discursos. E essa condição de fluidez se faz presente em qualquer texto, inclusive nos impressos. Fonte: inovelive.com.br A compreensão de um discurso se dá na medida em que somos capazes de interpretar um enunciado adequadamente – ou, ao menos, buscar meios para tentar interpretá-lo –, fazendo com que o ato comunicativo se torne um processo verbal mútuo entre os falantes. O que denominamos “leis do discurso” – leis mencionadas por Maingueneau (2011) – condiciona os interlocutores a se comprometerem entre si numa espécie de contrato simbólico que permite que haja interação entre eles. Além disso, as “leis”, também conhecidas por “leis de cooperação entre os falantes”, permitem que seus enunciados sejam fluidos e carregados de significados; ou seja, que se constituam como discurso. Apesar disso, muitas vezes, esse “contrato” não é suficiente e, por isso, nem sempre a compreensão se dá de imediato como em uma conversa, por exemplo, em que podemos nos valer de gestos, expressões faciais e corporais e da situação à nossa volta. Desse modo, percebemos que os sentidos que os enunciados nos trazem podem ser estritos ou amplos. Em sentido estrito, um enunciado acontece sempre de imediato, ocorrendo numa conversa, por exemplo, e só tendo significado na hora em que é produzido; e em sentido amplo, quando um enunciado está imerso num contexto sócio-histórico- ideológico, exigindo de nós certos conhecimentos específicos para que se dê a compreensão. Assim, quando, nas Copas Mundiais de 1990, 1994 e 1998 dizia-se “Vai que é sua, Taffarel”, esse dizer tinha um significado que só fazia sentido nos contextos das Copas daqueles anos. Fonte: www.pinterest.com Todavia, esse foi também um enunciado que estava imerso num contexto sócio-histórico-ideológico, pois foi de grande importância para os torcedores brasileiros, não apenas daqueles anos, mas também para a consagração de um ídolo do esporte que defendeu vários pênaltis e ajudou na vitória da seleção brasileira em 1994. Portanto, esse enunciado traz um sentido amplo para quem tem hoje o conhecimento desse fato, mas foi em sentido estrito para quem viveu naquele contexto e momento. Em sentido amplo, isto é, quando um texto se torna um discurso, exigem-se de nós, além de conhecimentos enciclopédicos, linguísticos, análise, observação e raciocínio lógico, também conhecimentos genéricos. Os estudos da ciência da linguagem – a Linguística – têm apontado para a concepção de que nenhuma mensagem é dita, consciente ou inconscientemente – ou não dita, dependendo da situação em que os interlocutores estiverem inseridos –, de maneira singular, desprovida de intenção e completamente inocente por parte do enunciador, ou invulnerável na sua recepção por parte do interlocutor. Sendo assim, todo e qualquer enunciado, qualquer dizer, ou não dizer, traz pelo menos duas possibilidades de leitura. Fonte: formatura.com.br Por essa razão é que sefez necessário o surgimento da Análise do Discurso, disciplina que surgiu através dos estudos de Benveniste e de Bakhtin. Porém, segundo Brandão (2004), já em 1952 Harris forneceu o conceito para descrever o método de análise da fala. Benveniste (1989), num texto de 1964 intitulado “Os níveis de análise da linguagem”, afirma a necessidade de se ultrapassar os limites da frase, deixando de lado a visão de que o signo é o elemento que rege tanto a estrutura quanto o funcionamento da língua. Essa afirmação, decerto, faz pressupor que há nos textos a possibilidade de se ir além do que nos fornecem os elementos linguísticos. E é justamente em Bakhtin (2010), cuja primeira publicação data de 1929, que encontramos a ideia de que a língua é heterogênea e se constitui em meio social. A partir daí, fica clara a importância da contribuição desses estudiosos para a consolidação da Análise do Discurso como uma disciplina que tenta abranger a interpretação de comportamentos linguageiros, organizacionais e situacionais em que se encontram os sujeitos, considerando-os como sujeitos sociais, históricos, culturais e psicológicos. A Análise do Discurso é, portanto, de natureza interdisciplinar, visto que aborda a situação comunicativa em que o falante está inserido. A Análise do Discurso, então, leva em conta os aspectos linguísticos porque somos seres que produzem discursos e esses discursos só se materializam na língua; trata também das situações extralinguísticas porque somos sujeitos pensantes afetados pela história e sociedade de modo diferente uns dos outros; portanto, dizemos e significamos diferentemente, bem como produzimos discursos diversificados, possibilitando as mais variadas análises e pelos mais diversos dispositivos teóricos. Fonte: mobilidadeurban.wordpress.com Se não fôssemos indivíduos diferentes psicológica e ideologicamente – já que, “consequentemente, o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua e ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para os sujeitos” (Orlandi, 2008, p. 17) e se os discursos não fossem heterogêneos –, não haveria necessidade da disciplina Análise do Discurso. Por essa razão, afirmamos que não é tão simples depreender sentido de um enunciado, muito menos de um discurso que ultrapassa os limites linguísticos de um texto. Precisamos lançar mão dos dispositivos teóricos que nos permitam ir além desses limites e seguir as marcas que estão presentes no próprio texto, que não podem ser entendidos simplesmente como um amontoado de mensagens a serem decodificadas, mas como algo que, mesmo quando não contém palavras, causa efeitos de sentido que são produzidos em ambientes (contextos) determinados e estão presentes no texto, explícita ou implicitamente. Quando dizemos que os interlocutores seguem regras ditadas pelas “leis do discurso”, assumindo cada qual seu papel de cooperação de um para com o outro, corremos o risco de acreditar na linearidade do discurso. Não podemos, então, esquecer de que o Eu tem a liberdade para escolher ser entendido ou deixar que algo em seu discurso fique subentendido. Entretanto, por outro lado, o falante pode, com seu discurso, ser mal compreendido, mesmo não tendo a intenção de sê-lo, o que foge à regra, às leis, já que os indivíduos são seres ideologicamente únicos – por isso indivíduos (indivisíveis) –, havendo, portanto, a possibilidade de a sua intenção não alcançar o objetivo buscado. Fonte: www.keimelion.com.br De qualquer modo, sua intenção foi a de dizer algo, embora, em muitos casos, não o tenha dito com palavras. Resta, então, a Análise do Discurso e sua metodologia desvendarem o que está escondido por trás das aparências da superficialidade da primeira leitura. Daí a sua importância na compreensão dos enunciados, porque mesmo que sejamos todos dotados de uma “gramática interna” que nos permite, mesmo sem o domínio dos dispositivos teóricos, dar conta de interpretar o que é dito, ou escrito. Veja que um discurso é algo mais complexo que um texto, pois se consolida através do indivíduo, está imerso num contexto sociocultural e atravessa a história, trazendo a outros indivíduos valores e crenças que, muitas vezes, nos impedem de compreendê-lo de imediato. 3 TEXTO E DISCURSO Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br Até agora nos referimos a texto e a discurso indistintamente. Precisamos estabelecer as diferenças entre eles. O discurso se manifesta no texto, que pode ser oral, escrito ou visual. Entretanto, o texto deixa de ser texto e passa a ser discurso no momento em que traz significado. Quando a frase “Vai que é sua, Taffarel” era pronunciada em 1990, por exemplo, era um texto que tinha um sentido estrito e, consequentemente, imediato, que fazia sentido apenas nos contextos esportivos daquele ano. Entretanto, essa frase se tornou discurso quando ultrapassou aqueles contextos e passou a fazer sentido para qualquer pessoa, mesmo para as que não assistem a futebol. O texto é, portanto, um conjunto de regras organizadas e estruturadas segundo as normas da Língua; discurso é um enunciado inserido no texto e carregado de crenças e ideologias trazidas, consciente ou inconscientemente, pelo indivíduo psicológico que o pronunciou; e enunciado é uma frase, ou uma sequência delas, inscrita num contexto. Sendo assim, o discurso Heloiza de Castro da Costa 21 Controvérsia – Vol. 8, nº2: 17-27 (mai-ago 2012) ISSN 1808-5253 se diferencia do texto na medida em que ultrapassa os limites da sua materialidade. Podemos usar a terminologia “texto” para qualquer interação verbal, oral ou escrita, ou ainda não verbal, em que haja uma mensagem enunciada por alguém, dirigida a determinados sujeitos-receptores e com intenções específicas – placas de trânsito, por exemplo –, sabemos que estas mensagens trazem valores de significação, e que, dessa forma, elas só podem ser um discurso. Anteriormente dissemos que a Análise do Discurso nos fornece mecanismos teóricos para analisar enunciados e que, sem eles, não poderíamos dar conta de sua complexidade. Vejamos, através de duas análises, a importância desses dispositivos na compreensão dos discursos. 3.1 Análise de um poema Fonte: alunosonline.uol.com.br As faces do ethos e o seu fiador De acordo com Roland Barthes (apud Maingueneau, 2011, p. 98), as características essenciais do ethos “são os traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório (pouco importa sua sinceridade) para causar boa impressão: são os ares que assume ao se apresentar. [...] O orador enuncia uma informação e ao mesmo tempo diz: eu sou isto, e não sou aquilo.” O ethos é, na verdade, o enunciador, que, embora revele traços de personalidade que julga serem úteis para o papel que assume e para a imagem que pretende “vender” de si mesmo, transmite, através do seu discurso, a personalidade que ora pretende esconder. Fonte: socoisasdemulherzinha.blogspot.com.br É nessa hora que entra em cena o analista do discurso, para tentar desvendar a face negativa que o ethos tentou ocultar com a positiva que fabricara. Por tentar esconder sua face negativa, o ethos precisa de algo que reforce, ou que valide, a máscara que criou; então busca meios para que o interlocutor (imediato, como o que está presente na hora em que o enunciado foi produzido; ou o leitor, que, mesmo não estando presente no agora, elaborará uma imagem para aquele enunciador) acredite na imagem que ele revela de si. O objeto que contribui para validar a face positiva do ethos é o que chamamos fiador. Através do poema abaixo tentaremos mostrar cada um desses mecanismos da Análise do Discurso. In Memoriam Estou morto. Sou um cadáver fedido. Tantas faltas cometidas, Ganhei tudo da vida Mas acabei falido. Oh, queridas mulheres, Tantas coisas lhesprometi. Sintam-se todas vingadas Acabou, não valho nada Até que enfim morri. Jamais chorem, filhos meus, Por este peso que se foi. Negou-lhes carinho e amor. Guardem as lágrimas por favor. Caso queiram, me perdoem. Amigos Sei que fiz alguns Inimigos tenho certeza Desde os tempos da cerveja. Deus, perdoe-os um a um. Meus parentes amados, Que tentaram dar-me a mão, Não quero vela nem flor, Reverenciem meu bom humor, Sorrindo sobre meu caixão. Ademilson Costa Ao escolhermos um poema não estudado antes e de um autor desconhecido, buscamos a imparcialidade na análise. Assim, poderemos usar certos recursos teóricos da Análise do Discurso para evocar uma interpretação baseada nas próprias marcas que o texto nos lega, sem que sejamos influenciados por outras explanações. No caso de se analisar um poema de um autor conhecido, poderíamos confundir a voz do autor ou do poeta com a do próprio eu-lírico. Fonte: www.webartigos.com Antes de qualquer coisa, tentemos caracterizar os traços de caráter que compõem a personalidade desse eu-lírico, o seu ethos, descobrir de quem é a voz que fala no texto acima e como ele se revela ao leitor. Como não sabemos nada a respeito do autor do poema, resta-nos somente seu discurso para que a análise seja realizada; porque nem sempre o autor de um texto literário, mais especificamente de poesia, passa para o leitor sua face de maneira consciente, ao contrário dos poetas parnasianos, por exemplo, que conduzem seu discurso exatamente ao ponto por eles buscado, conseguindo causar o efeito que desejam. Fonte: sb24horas.com.br Veja que a voz que fala no texto é a de um homem que se comporta, nos dois primeiros versos, como sendo dotado de pessimismo romântico – já que o poeta do romantismo é voltado para temas mórbidos: “Estou morto. /Sou um cadáver fedido”. À medida que continuamos a leitura, somos levados a perceber que o eu-lírico tem motivos para se considerar assim, mas que, ao mesmo tempo, possui certa atitude positiva em relação à sua atual condição. Embora nenhum leitor conceba um morto que se autodeclara como tal, somos surpreendidos com um que fala, ou melhor, escreve, e se dirige aos que estão no plano da vida. É claro que morte aqui tem um sentido conotativo. Então, pressupomos que estar falido, como se declara no quarto verso, não valer mais nada seja para ele uma morte. Confirmamos essa suspeita sobre o tipo de morte a que o eu-lírico se refere, porque ele enumera o que são as muitas coisas que teve na vida – mulheres, filhos, amigos, inimigos, parentes amados e bens materiais, já que a palavra “falido/’ nos remete a essa interpretação – e diz que os perdeu, fato que é afirmado por ele no nono verso: “Acabou. Não valho mais nada”. Podemos ainda pressupor que o motivo de ele ter perdido tudo foi o fato de ter cometido tantas faltas: teve muitas mulheres, as amou (“Oh, queridas mulheres”) a tal ponto de ter-lhes feito promessas que não cumpriu; aos filhos negou carinho e amor; e rejeitou a ajuda que seus parentes amados lhe ofereceram. Enfim, o eu- lírico se sente como um cadáver fedido por ter cometido faltas. Fonte: www.me-cl.com Ainda se percebe aqui a negação de si mesmo, o que o faz, pressuposta mente, portador da Síndrome de Cotard, em que o sujeito nega-se a si mesmo pela baixa autoestima adquirida ao longo da vida. Veja que não podemos contar com a corporalidade do ethos, não temos ideia de quem ele seja fisicamente para deduzirmos que represente uma figura que realmente faz jus ao que diz de si mesmo, apenas podemos contar com os traços de caráter por ele revelados através de seu discurso, e podemos ver que o ethos do eu- lírico não se revela positivamente. Afirmando que é um cadáver fedido e cometeu faltas com as mulheres que teve, com os filhos e parentes, ele compromete sua face positiva. No entanto, vemos que o pedido de perdão faz aquela imagem negativa se desvanecer. “Sintam-se todas vingadas” e “Jamais chorem filhos meus /por este peso que se foi” – com esses versos, o eu-lírico tenta nos comover, ele admite seus erros e pede perdão por eles; assim, consegue um fiador para compensar a imagem que criou anteriormente para si. Mais adiante, ele reforça esse fiador pedindo a Deus para perdoar os seus inimigos, o que nos permite pensar que ele próprio já os perdoou. Fonte: www.mensagenscomamor.com Dessa forma, sua má imagem vai aos poucos se dissolvendo e vai sendo colocada no lugar dela a do homem que errou, mas se redimiu e expurgou a culpa que carregava. Essa culpa é percebida em “Negou-lhes carinho e amor [aos filhos]”. Ora, cometer erros com mulheres não exprime culpa a ponto de alguém se considerar um cadáver fedido (cadáver fedido, na nossa boa interpretação, significa que o indivíduo seja mau-caráter, que exale podridão, está relacionada ainda mais a faltas graves). Só pode então, essa culpa, estar vinculada ao pai que negou carinho e amor aos filhos. Da manipulação à sanção Fiorin (2008, p. 29) nos mostra que no nível narrativo do discurso as fases de uma estrutura canônica são: manipulação, competência, performance e sanção. Com base no nosso poema, a manipulação do eu-lírico é distribuída ao longo do texto; é a fase em que o eu-lírico se dirige a outras pessoas de forma direta, seja para dizer que não vale mais nada, pedir perdão, pedir que Deus os perdoe (os inimigos) ou para dizer que não quer vela nem flor, mas até agora não podemos constatar mais nenhuma outra fase da estrutura da sequência canônica. Só poderemos nos dar conta das outras fases se avançarmos na nossa análise. Para isso, respondamos a seguinte pergunta: por que motivo o eu-lírico precisaria da ajuda de seus parentes amados e por que se deram as suas “tantas faltas cometidas?”. Fonte: www.difundecultura.es É exatamente aqui que descobrimos que, apesar de o eu-lírico se mostrar como um pessimista romântico, ele tem uma atitude positiva em relação à sua atual condição (falido, não estar valendo mais nada). Há duas palavras que nos revelam isso: “cerveja” e “caixão”. Quando o eu-lírico revelou sua face negativa, foi para justificar o fato de estar falido. Com a palavra “cerveja”, ele reverte essa face negativa, colocando-se como vítima e validando o fiador da sua face positiva, pois atribuímos a um alcoólatra a qualidade de quem tem um vício, uma doença. Assim, ele justifica todas as faltas que cometeu. Se verificarmos, portanto, a última estrofe, veremos que o eu-lírico quer que os parentes amados sintam compaixão dele; assim, revela mais uma vez sua síndrome, já que, ao afirmar que todos devem sorrir sobre seu caixão, nega-se à vida, mesmo que a morte seja simbólica. Mas ainda falta uma questão que implica relacionar três pontos principais do discurso, as três palavras-chave: morto, cerveja e caixão. Dissemos que o eu-lírico apresenta, apesar do pessimismo romântico do início do seu discurso, uma positividade em relação a si mesmo. Isso é revelado quando ele afirma ter bom humor. Partamos, então, para as palavras mencionadas, que também contribuem para desfazer sua face negativa. Ele está morto, mas aí não podemos mais vê-lo como alguém que se caracteriza negativamente, e sim como alguém que morreu para a vida de alcoolismo, e ainda se dá ao luxo de ter filhos e parentes que chorariam sua morte e até se permite pedir a eles que não chorem por aquele peso (o alcoólatra) que se foi. Isso quer dizer que a morte pela qual amigos, filhos e parentes chorariam não é uma morte real, física, mas a do alcoólatra. Fonte: www.diariovasco.com Agora temos as outras fases da estrutura canônica: vemos que a competência para ele parar de beber se dá quando os parentes tentam lhe dar a mão. Esta competência lhe é oferecida, mas ele não a aceita em determinadomomento de sua vida. A performance não nos é apresentada no discurso, pois não sabemos como foi que ele parou de beber; apenas fica subentendido que parou através da palavra “caixão”, que é também o final que já se esperava de alguém que, ao seu próprio ver, está morto, sendo essa também a sanção. Ou seja, a vida de alcoolismo teve um fim, mas trouxe consequências ruins, pois estar falido, não valer mais nada e até ser comparado por si mesmo a um cadáver fedido significa que o alcoolismo trouxe esse desfecho, mas o eu-lírico é conformado com o final que teve, pois ainda lhe restaram filhos e parentes que chorariam sua morte, além do bom humor que ainda mantém. Não sabemos se o autor do poema teve intenção, mas o fato é que a face positiva do seu ethos foi preservada através do pedido de perdão, que é o seu fiador. Aliás, outros dois fiadores surgem: o alcoolismo e a superação dele. 3.2 Análise de um texto publicitário Fonte: sec3textopublicitario.blogspot.com.br As cenas da enunciação Em um discurso, há três cenas das quais o leitor pode depreender sentido. Podem-se percebê-las em todos os gêneros discursivos; entretanto, elas são mais evidentes em textos publicitários por neles haver a junção do conteúdo linguístico com o visual. As cenas da enunciação são a cena englobante, relacionada ao tipo de discurso; a genérica, ao gênero; e a cenografia, o meio pelo qual as cenas fazem sentido. No texto que segue, temos como cena englobante um anúncio publicitário, e a genérica diz que é um anúncio de uma escola de inglês. Essas duas cenas compõem o quadro cênico do discurso. É por ele que os leitores entendem de imediato que se trata de uma propaganda e que tem a finalidade de vender um produto. Todos os recursos, visuais ou linguísticos, de uma propaganda levam a essa compreensão. Neste caso, também pelo conhecimento que se tem do nome CNA, o leitor saberia que o discurso trata de uma propaganda, sem sequer ler o texto que o acompanha (um saber relacionado ao conhecimento de mundo). Todavia, se não possuíssemos essa competência, ainda seríamos capazes de identificá-lo como um texto publicitário, ou seja, aquele que pretende vender um produto. Fonte: lunaondeesta.wordpress.com Vemos que a compreensão do quadro cênico é capaz de levar o leitor/interlocutor a saber de antemão de que tipo de assunto trata um discurso, sem que seja necessário buscar a compreensão linguística. Já a cenografia, além de reforçar esse saber do leitor, faz com que ele agora o associe ao tipo de produto está que sendo vendido. Se a cena englobante diz que o texto acima é um anúncio publicitário e a genérica diz tratar-se de um anúncio de um curso de inglês, cabe, então, à cenografia garantir que o curso é bom. E ela faz isso através de conteúdos visuais e linguísticos. Visualmente, a cenografia explorada nesse discurso é a de duas crianças e um jovem, todos de boa aparência e felizes, remetendo à ideia de que são bem- sucedidos com o curso que escolheram. Eles também nos passam a imagem de terem intimidade, senão com a língua inglesa, ao menos com a escola CNA, fato percebido pelo modo como estão à vontade pelo chão e encostados despreocupadamente numa almofada em forma de coração. Este é um objeto que, aliás, não tem a forma de coração por acaso, porque isso nos leva a imaginar que eles amam a escola onde estudam inglês. No nível linguístico, temos a frase “O sucesso começa já na matrícula”, que acrescenta mais um sentido ao discurso, pois a ideia que se faz é que os jovens terão o futuro garantido se estudarem inglês no CNA, e, com isso, a cenografia tenta convencer o leitor de que esse sucesso se concretiza já na matrícula. Fonte:www.ebah.com.br Enfim, é através da cenografia que o leitor vê a face positiva do curso de inglês do CNA e se interessa por ele. E ainda há uma frase que reforça de vez a mensagem implícita passada pelos jovens de que o curso de inglês do CNA é bom e traz sucesso para quem o faz. É o enunciado “Inglês Definitivo”. Em suma, entende-se que o quadro cênico é necessário para que se compreenda do que determinado discurso fala, mas, para que o enunciado assuma uma posição de se fazer entendido e conquiste um conceito positivo do leitor/interlocutor para a sua face, é preciso que toda uma cenografia seja criada em torno das cenas. Note, ainda, que, através do quadro cênico e da cenografia, podemos avaliar o ethos, bem como descobrir suas intenções, ou o oculto delas, suas faces, se negativa ou positiva, e seu fiador.2 4 DISCURSO DIRETO E INDIRETO Fonte:g1.globo.com O discurso direto é caracterizado por ser uma transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador. O discurso indireto é caracterizado por ser uma intervenção do narrador no discurso ao utilizar as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens. Exemplo de discurso direto: A aluna afirmou: - Preciso estudar muito para o teste. Exemplo de discurso indireto: A aluna afirmara que precisava estudar muito para o teste. 2 Texto extraído do link:revistas.unisinos.br 4.1 Discurso direto Fonte:gramaticadoprofessordaniel.blogspot.com.br Sendo encarado como o mais natural e comum dos tipos de discurso, o discurso direto é aquele que permite que as personagens se exprimam livremente, ganhando vida própria na narração. 4.1.1.1 Características do discurso direto É uma transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador. É introduzido por verbos de elocução, ou seja, através de verbos que anunciam o discurso, como: dizer, perguntar, responder, comentar, falar, observar, retrucar, replicar, exclamar, aconselhar, gritar, murmurar, entre outros. Esses verbos de elocução aparecem seguidos de dois pontos. É geralmente antecedido pelo travessão, sinal de pontuação que indica quando começa a fala de uma personagem, quando há mudança de interlocutores e quando há mudança para o narrador através de um verbo de elocução. Alguns autores optam, contudo, por colocar o discurso direto entre aspas, sinal de pontuação que destaca uma citação ou transcrição. 4.1.1.2 Exemplos de discurso direto O desconhecido perguntou: – Que horas são, por favor? Foi então que ele disse: - Estou cansado de tanta confusão! Todos os dias minha mãe me dizia: “Fique atenta e não faça bagunça nas aulas. Além do discurso direto, existem também o discurso indireto e o discurso indireto livre. 4.2 Discurso indireto Fonte:englishlive.ef.com O discurso indireto não permite que as personagens se exprimam livremente, uma vez que as falas das personagens são apresentadas pelo narrador, ou seja, é o narrador que fala pela personagem. 4.2.1.1 Características do discurso indireto O narrador utiliza as suas próprias palavras para reproduzir a essência das falas das personagens, atuando como intermediário, reproduzindo também as reações e a personalidade das mesmas. A narração é feita na 3.ª pessoa. É introduzido por verbos de elocução, ou seja, através de verbos que anunciam o discurso, como: dizer, perguntar, responder, comentar, falar, observar, retrucar, replicar, exclamar, aconselhar, gritar, murmurar, entre outros. Esses verbos de elocução aparecem seguidos das conjunções que ou se, separando a fala do narrador da fala da personagem. 4.2.1.2 Exemplos de discurso indireto O desconhecido perguntou que horas eram. Foi então que ele disse que estava cansado de tanta confusão. Todos os dias minha mãe me dizia que ficasse atenta e não fizesse bagunça nas aulas. Além do discurso indireto, existem também o discurso direto e o discurso indireto livre. 4.3 Passagem do discurso direto para discurso indireto Mudança das pessoas do discurso: Fonte:www.pinterest.com A 1.ª pessoa no discurso direto passa para a 3.ª pessoa no discurso indireto. Os pronomes eu, me, mim, comigo no discurso direto passas para ele, ela, se, si, consigo, o, a, lhe no discurso indireto. Os pronomes nós, nos, conosco no discurso direto passam para eles, elas, os, as, lhes no discurso indireto. Os pronomes meu, meus, minha, minhas, nosso, nossos, nossa, nossas no discurso direto passam para seu, seus, sua e suas no discurso indireto. Mudança de tempos verbais: Fonte:www.centraldoingles.com Presente do indicativo no discurso direto passa para pretérito imperfeito do indicativo no discurso indireto. Pretérito perfeito do indicativo no discurso direto passa para pretérito mais-que-perfeito do indicativo no discurso indireto. Futuro do presente do indicativo no discurso direto passa para futuro do pretérito do indicativo no discurso indireto. Presente do subjuntivo no discurso direto passa para pretérito imperfeito do subjuntivo no discurso indireto. Futuro do subjuntivo no discurso direto passa para pretérito imperfeito do subjuntivo no discurso indireto. Imperativo no discurso direto passa para pretérito imperfeito do subjuntivo no discurso indireto. Mudança na pontuação das frases: Frases interrogativas, exclamativas e imperativas no discurso direto passam para frases declarativas no discurso indireto. Mudança dos advérbios e adjuntos adverbiais: Fonte:www.cursoonlinegratuito.org Ontem no discurso direto passa para no dia anterior no discurso indireto. Hoje e agora no discurso direto passam para naquele dia e naquele momento no discurso indireto. Amanhã no discurso direto passa para no dia seguinte no discurso indireto. Aqui, aí, cá no discurso direto passam para ali e lá no discurso indireto. Este, esta e isto no discurso direto passam para aquele, aquela, aquilo no discurso indireto. 4.3.1.1 Exemplos de passagem do discurso direto para o discurso indireto Fonte: www.educabras.com Discurso direto: - Eu comecei minha dieta ontem. Discurso indireto: Ela disse que começara sua dieta no dia anterior. Discurso direto: - Vou ali agora e volto rápido. Discurso indireto: Ele disse que ia lá naquele momento e que voltava rápido. Discurso direto: - Nós viajaremos amanhã. Discurso indireto: Eles disseram que viajariam no dia seguinte.3 3 Texto extraído do link: www.normaculta.com.br 5 DIRETRIZES PARA A ANÁLISE DE DISCURSO EM JORNALISMO Fonte: www.institutoliberal.org.br A busca por métodos de análise que permitam ao jornalismo estabelecer recursos legítimos para a produção científica tem provocado os pesquisadores a procurar nas ciências correlatas mecanismos para o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos que assegurem à ainda imatura ciência do jornalismo reconhecimento e legitimidade. Em boa parte, esta busca exige que os pesquisadores se voltem para métodos desenvolvidos para outras áreas que se aproximam do objeto de estudo, ou seja, do conteúdo noticioso. Da linguística recupera-se a Análise de Discurso (AD) a partir da qual é possível estabelecer uma relação de conceitos e procedimentos que podem ser aproveitados para o jornalismo. A AD faz parte desta tentativa semiológica de interpretar o mundo através da comunicação, oferecendo mecanismos para a sua compreensão não apenas como método de coleta e análise de dados, mas ao definir a maneira como o trabalho é realizado, constitui-se também como uma proposta metodológica que se consolida como base conceitual e teórica para os estudos. Este esforço, entretanto, exige um olhar sobre algumas especificidades do discurso no jornalismo. Em primeiro lugar, a notícia não é qualquer texto. Ela segue a determinados padrões técnicos, inclui uma série de outros interesses, entre eles o da sua comercialização, a visão de mundo dos próprios jornalistas e um modo de fazer determinado por uma rotina própria. Fonte: http://sukun.es Estas questões já foram abordadas por teorias que consolidam a área acadêmica e ratificam o uso de certas ferramentas de pesquisa que aponta para práticas possíveis para o desenvolvimento científico na área. (PENA, 2008). Portanto, mesmo que a Análise de Discurso em sua proposta tradicional possa ser entendida como um método bastante eficaz para o estudo de textos é fundamental compreender que sua aplicabilidade ao jornalismo deve considerar determinadas especificidades e que neste sentido há a necessidade de adequar sua proposta para a realidade da construção da notícia. O texto jornalístico, de modo geral, está cercado pela aura aparente da objetividade. Neste sentido, tem especificidades que devem ser consideradas quando comparado com qualquer outra prosa. A concepção de objetividade no jornalismo não é Guilherme Carvalho Revista Uninter de Comunicação, ano 1, n. 1, Jun/Dez 2013 7 consensual. Pesquisadores denunciam a falsa dicotomia entre objetividade e subjetividade cujo intuito é legitimar a prática jornalística. Neste sentido, o jornalismo fornece um campo bastante profícuo para a análise de discurso, cujo principal objetivo é contribuir para que elementos que não estão em evidência sejam notados e suas intenções sejam reveladas. A preocupação da AD assenta na elaboração de propostas que permitam a classificam de elementos do discurso e que estes possam ser analisados de modo particular e universal. “O discurso é uma das formas em que o materialismo ideológico se concretiza, isto é, é um dos aspectos materiais da ‘existência material’ das ideologias.” (BRANDÃO, 1994, p.37). Fonte: www.alagoinhashoje.com Se o jornalismo como se conhece se impõe pela valorização da singularidade da produção da notícia, tem-se uma infinidade de elementos a serem observados nas narrativas difundidas diariamente pelos meios de comunicação. Em segundo, a proposta tradicional para a aplicação de análise de discurso no jornalismo está relacionada quase exclusivamente ao que Lage (2001) denomina como “sistema linguístico”, excetuando, portanto, sistemas analógicos, compostos por ilustrações, desenhos e fotografias, e o projeto gráfico (disposição de conteúdos). Neste sentido, a análise de discurso deveria aplicar-se exclusivamente a conteúdos impressos ou de internet onde se apresentam conteúdos textuais. Por outro lado, se a imagem compõe uma forma de linguagem, a visual, pressupõe-se que ela pode ser lida, interpretada e que, portanto, produz sentido, significa que a imagem insere-se em um sistema linguístico e que pode ser percebida a partir de uma relação simbólica, da mesma maneira como ocorre com o texto escrito. Neste caso, não há erro em propor a análise de discurso de imagens, sejam elas estáticas ou em movimento, da mesma maneira que o conteúdo transmitido exclusivamente por áudio. Fonte: www.unisinos.br Ocorre que o trabalho a ser desenvolvido sobre o texto escrito é muito mais fácil pela própria acessibilidade ao conteúdo e pela produção já consolidada por outras pesquisas que utilizaram o método, do que outras formas linguísticas. Ainda sobre esta consideração, deve-se levar em conta que a AD não se fixa no estudo da variedade dos meios de comunicação ou do canal utilizado. Sua proposta não inclui uma análise comparada, por exemplo, entre discursos iguais proferidos em um impresso e por rádio. Do ponto de vista dos Mass Communication Research, a análise de discurso está definida como um método de análise dos chamados emissores, portanto, não importa a análise dos efeitos a partir da qual é possível detectar diferentes recepções de uma mesma mensagem. Trata-se de uma proposta de estudo que liga o pesquisador ao receptor da mensagem a partir da qual se estabelece uma relação monológica, onde o pesquisador imagina o queo receptor compreende sobre o discurso. Mas ainda que o canal não seja historicamente o objeto de estudo para a análise de discurso ou não constitua um fator complementar a ser analisado quando o assunto é o discurso jornalístico, deve-se considerar que o estudo precisa ser elaborado a partir de determinados contextos, nos quais o sentido discursivo está constituído. Fonte:queconceito.com.br É justamente aí que a AD pode contribuir para estabelecer de modo positivo critérios para o estudo capazes de revelar aquilo que não é dito. Mas este dizer o que não está explícito não depende exclusivamente da boa delimitação dos critérios a serem utilizados pela AD. Trata-se também de saber identificar as intenções do autor, de considerar os fatores que determinam a influência sobre a forma como o conteúdo é construído e que definem a versão final que será lida, assistida ou ouvida pelas pessoas. Discurso e produção de sentido Partindo de uma percepção do jornalismo como produção de sentido, pode-se compreender esta atividade como um modo de comunicação que se utiliza dos signos que representam não exatamente aquilo que é, mas o próprio significado do objeto. Quando se fala, por exemplo, da Lua para alguém, não é necessário mostrar a Lua, mas utiliza-se de signos como a própria palavra “Lua”, ou desenhos, ou então representações similares, como sua própria descrição para querer dizer aquilo que se quer: um corpo celeste ou o satélite natural da Terra. Fonte: www.ufrgs.br Ou seja, as palavras são representações da realidade, assim como se propõe a ser o jornalismo, quando reivindica para si o papel de narrador dos fatos do cotidiano. Mesmo a imagem televisionado não é a própria realidade, mas o resultado da captura de imagens de alguns poucos momentos, pequenos fragmentos de um acontecimento que serão compilados ou editados, de modo que possam ser reproduzidos e assistidos por indivíduos como se fossem o espelho da própria realidade. “Quando o texto deixa entrever seu autor, ele é considerado ‘subjetivo’ e passa a ser considerado menos digno de credibilidade, até mesmo falso”. (MAINGUENEAU, 2001, p.54). Mas esta construção se dá a partir de um ponto em comum entre quem constrói a notícia e quem recebe a mensagem. Ela precisa fazer sentido, deve ser capaz de ativar a cognição dos indivíduos de modo que estes possam relacionar aquilo que leem, assistem ou ouvem ao próprio fato. Fonte: empauta.ufpel.edu.br Este processo só é possível porque o jornalismo é, em alguma medida, uma atividade que se define como produtora de sentidos. Sua prática está tão mergulhada em uma forma própria de fazer, tão rotinizada e determinada, que é possível que o próprio jornalista não compreenda muito bem as intenções que deixa transparecer. Isto ocorre porque o fazer jornalístico constitui-se como uma prática alienada que propõe a observação objetiva a fim de se evitar a contaminação da percepção do jornalista sobre os fatos e manter seu aparente caráter imparcialidade. Sob os preceitos deste “jornalismo cientificizado”, o texto jornalístico se protege das acusações a fim de buscar sua legitimidade, ao mesmo tempo em que silencia sobre a existência de outras intenções que não apenas a da defesa primordial do interesse público. O discurso está adequado à situação. Fonte: www.estudopratico.com.br As palavras tomam sentido ideológico a partir da posição assumida no discurso. A AD questiona a subjetividade no discurso, no sentido de que se constitui como expressão autônoma do indivíduo, uma vez que ele está “contaminado” pela ideologia. O inconsciente, portanto, não pode ser a expressão para o indivíduo. Muitas vezes a interdiscursividade está implícita e o sujeito não sabe que não foi ele quem criou o enunciado. Observar estas intenções, revelar o que não está dito e definir a trajetória destes discursos e sua genealogia estão entre as principais tarefas do analista de discursos. Antes disso, porém, apontaremos três conceitos centrais para o estudo da análise de discurso: signo, ideologia e enunciação. Análise de discurso em jornalismo: exemplo Fonte: www.abridordelatas.com.br O jornalista, ao redigir sua matéria, considera a linha editorial do veículo no qual ele trabalha, considera as diferentes versões sobre o mesmo fato, constrói seu texto com base na memória de outras matérias construídas por seus colegas, reproduz um modo de fazer já consolidado na profissão que respeita a certos critérios tanto na apuração dos fatos como na sua redação. Nesse sentido, há muitos “já ditos” no texto jornalístico. O jornalismo se serve destes enunciados já elaborados para construir os discursos. Entretanto, mais importante do que se apontar estas características no discurso do jornal, é destacar as contradições existentes e entender o que está implícito no texto. Para Pinto (1999), as teorias mais adequadas são aquelas que respondem as perguntas de uma pesquisa e estão apropriadas ao tipo de texto a ser analisado. Parte da AD, mesmo sendo crítica, se baseia numa análise estruturalista. Há de certa forma, uma contradição nisto, uma vez que a dialética marxista prepara seus estudos dos fenômenos a partir do historicismo. Fonte: portalimprensa.com.br Ou seja, não se reconhece o contexto, a situação, o momento histórico em que o discurso foi construído. Numa análise que se propõe a partir do método dialético, estabelecendo os contrários como referência para o entendimento dos discursos na sociedade e não toma a historicidade como parte constituinte a ser somada nos estudos torna-se contraditória. Como proposta presente em toda pesquisa científica, este artigo propõe, assim como os trabalhos em comunicação voltados a analisar discursos, somar esforços para a construção deste método, utilizando como referência outros trabalhos já desenvolvidos com este mesmo objetivo de estudo. Pinto (1999) destaca que o estruturalismo herdado pela AD separa o contexto real do histórico em que surgem os discursos em três níveis de contextualização: 1. contexto situacional; 2. contexto institucional; 3. contexto sociocultural mais amplo. Ou seja, deixa-se de lado um fator importantíssimo para os estudos em comunicação que é o contexto histórico-social atual. No jornalismo esses elementos estão implícitos e dificilmente aparecem no texto pela exigência da atualidade, tempo e espaços destinado para a notícia, ou prazo para entrega do trabalho. “ A análise de discursos não se interessa tanto pelo que o texto diz ou mostra, pois não é uma interpretação semântica de conteúdos, mas sim em como e porque diz e mostra”. (PINTO, 1999, p.23). A partir desta compreensão os resultados obtidos com a aplicação da AD deixam de ser observados como o próprio fim da pesquisa e passam a ser compreendidos como informações a serem utilizados para comprovar ou reprovar hipóteses dos trabalhos acadêmicos. Fontewww.ojornalista.com Esta é uma questão importante a ser observada, sobretudo quando se trata de uma análise de discurso em jornalismo, porque há um risco significativo do pesquisador perder o rumo da pesquisa e acabar elegendo a análise de discurso como o principal trabalho, quando se trata de uma análise criteriosa que contribui para responder ao problema de pesquisa. Neste sentido, a AD precisa estar submetida ao objeto científico que é o próprio jornalismo e não o contrário. Pensando em uma proposta exemplar para a análise de discurso, segue uma modesta aplicação de uma proposta voltada para a análise em jornalismo. O texto utilizou-se de um editorial publicado pelo jornal Gazeta do Povo, no dia 2 de novembro de 2013, cujo título é “A imprensa amordaçada na Argentina”. O editorial é um texto cujo gênero é classificado como opinativo desenvolvidogeralmente por algum jornalista que ocupa cargo mais elevado na empresa, tais como editores-chefes. Ele tem por característica refletir a opinião do veículo de comunicação ou dos donos do meio de comunicação, melhor dizendo, a respeito de um assunto atual que pode estar figurando como notícia nas páginas internas de um jornal impresso ou na sessão de opinião de sites destes veículos. Há programas jornalísticos em rádio e televisão que também dedicam não o espaço, mas uma parte do tempo de sua exibição para a locução do editorial, mas esta é uma prática incomum no Brasil.4 4 Texto extraído do link: file:///C:/Users/ /Downloads/510-1125-1-PB.pdf BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 10 ed. São Paulo: Hucitec, 2002 BENETTI, Marcia. Análise do discurso em jornalismo: estudo de vozes e sentidos. In: LAGO, Cláudio; BENETTI, Marcia (orgs). Metodologia de pesquisa em jornalismo. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2008. COMPARATO, Fabio Konder. A democratização dos meios de comunicação de massa. Revista USP, São Paulo, n.48, p. 6-17, dezembro/fevereiro 2000-2001. CURY, A. J. Inteligência multifocal: análise da construção dos pensamentos e da formação de pensadores. 7. ed. São Paulo, Vozes, 2005. CRUZ, Antônio. A janela estilhaçada: a crise do discurso do novo sindicalismo. Petópolis: Vozes, 2000. EDITORIAL 15. O movimento dos estudantes e a crise social. In: Hora H, Ijuí, RS, p. 2, 04 a 10 de fev. de 2000. FLORES, Valdir do Nascimento e TEIXEIRA, Marlene. O dialogismo: Mikhail Bakhtin. In: __________. Introdução à linguística da enunciação. São Paulo: Contexto, 2005. GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 10ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2010. GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2012. INGO, Voese. Análise do discurso e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Cortez, 2004. MACHADO, Anna Raquel. A perspectiva interacionista sociodiscursiva de Bronckart.In: MEURER. J.L. BONINE, Adair e MOTTA-POTH, Désirée (Org.s). Gêneros: teorias, métodos e debates. Coleção Linguagem. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. p. 237 – 259. PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas, SP:Unicamp, 2010. PLATÃO, Francisco; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2003. RANCIÈRE, Jacques. As novas razões da mentira. Folha de S. Paulo, São Paulo, 22 ago. 2004. Caderno Mais!, p. 3. ZANUTTO, Flávia; OLIVEIRA, Neil Armstrong Franco de. O gênero redação de vestibular: o que prova essa (re)produção textual? Mathesis – Revista de Educação, v.5, n.1, p. 83-103, jan./jun. 2004. Disponível em. Acesso em 15 mar. 2006.
Compartilhar