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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES AMANDA MARIA BEATRIZ PERES DE OLIVEIRA CARLA ALESSADRA TEIXEIRA GABRIELA MARIA FENDER ESPERIDIÃO FERNANDA LOPES SORTANJI JADY CAPORALI JAQUELINE IZIDORO LUCAS SOARES BRITO MARQUES RAQUEL DE LIMA SILVA POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NA VELHICE SÃO PAULO 2015 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1. O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS? .................................................................... 6 2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO .............................................................. 8 2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL ................................................. 11 3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NA VELHICE ........................................... 13 4. O PROGRAMA VIAJA MAIS MELHOR IDADE ..................................................... 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 21 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 23 INTRODUÇÃO A população da terceira idade é grandemente composta por pessoas desfavorecidas economicamente e, por conseguinte, possuem pouca ou nenhuma opção de lazer e ou entretenimento. (MORI, SILVA; 2010). Numa sociedade que se regula a partir do mercado, “...impõe um padrão de sociabilidade individualista, privatista, competitiva,” (MORI, SILVA; 2010) os valores da cidadania acaba restringindo-se a pequenos espaços. Segundo Marcellino (2006), o lazer deve ser entendido não apenas como distração, mas como elemento de desenvolvimento social e individual, capaz de proporcionar consciência crítica e cidadãos ativos. Para tanto, é necessário investimento e interesse do poder público nos diferentes grupos sociais. Segundo Dumazedier (1994), o lazer desempenha um papel importante oportunizando a possibilidade de fazer com que o indivíduo se desligue temporariamente de suas obrigações. Essa visão rechaça as visões funcionalistas do lazer, compensatória, romântica, moralista e utilitarista (MARCELLINO, 2006), muito frequentes no senso comum quando se fala sobre o tempo de lazer. No que pudemos entender o tempo livre do idoso muitas vezes se configura como de menor importância, pois numa sociedade na qual o trabalho desempenha função central e definidora, existe uma supervalorização do trabalho em detrimento da desvalorização do lazer. Pôde-se perceber também que o lazer do idoso, muitas vezes, acaba ficando restrito ao ambiente doméstico, ou devido às dificuldades econômicas ou mesmo de dependência de outros para as atividades essenciais, como locomover-se pela cidade, por exemplo. Esse fato acaba gerando nesses idosos certo isolamento. A vida social acaba se restringindo ao contexto familiar. (DUMAZEDIER, 2008; TRIGO, 1995). Nesse sentido, o turismo e demais atividades ligadas a ele aparecem como alternativa de lazer e entretenimento bastante significativa, pois pode fazer com que os possíveis preconceitos em relação à idade, por exemplo, se desmanchem. O lazer surge, então, como possibilidade de colaborar para a transformação social e pessoal, proporcionando situações significativas de interação entre os indivíduos. Nesse contexto é possível relembrar alguns interesses/conteúdos do lazer, expostos inicialmente por Dumazedier (2001) e ampliados posteriormente por Marcellino (1998) e Camargo (1993). Na realidade, podemos ir um pouco mais longe para ilustrar essa dinâmica quando nos lembramos da frase citada por Rodrigues Brandão (1988), durante uma ilustração de um diálogo sobre cultura popular, parece dizer muito sobre os personagens que vivenciam as tradições populares: “As pessoas parecem que estão se divertindo, mas elas fazem isso para não esquecer quem são.” É a identidade de cada indivíduo que se preserva no convívio social. Trigo (2003) em seu livro Entretenimento, já explicitava o modelo que seria valorizado pós-Segunda Guerra Mundial seria a “mulher jovem, bela e elegante” (p.126). Nesse contexto, quando os indivíduos começam a fazer parte de uma determinada faixa etária que não se enquadra mais nesse parâmetro, a sua exclusão do meio social como elemento „atraente‟. É o próprio Trigo que cita a relevância da festa como um momento no qual os indivíduos conseguem abstrair-se de suas condições sociais: A festa, um espetáculo à parte, ocorre em um espaço e tempo especiais. O entretenimento tenta – e muitas vezes consegue – fazer essa magia de abstrair as pessoas de seu lugar comum social e temporal e inseri-las na esfera festiva. As festas populares que acontecem nas ruas, clubes, bares e casas dos bairros e praças da cidade é a origem de muitas atividades organizadas em tempos ou espaços diferentes, desejosos de celebrar um tema referente a um passado ou a outro lugar. (p.127) Além desses dados, uma pesquisa realizada por Yassuda e Silva com idosos na zona leste de São Paulo que se inscreveram em programas sociais e de lazer concluiu que “possuir um estilo de vida saudável e participar de atividades sociais e lúdicas aumentam as oportunidades de atingir níveis mais elevados de desempenho cognitivo durante a velhice”. O estudo também afirma que essas atividades contribuem “para o status cognitivo e para a satisfação com a vida dos participantes” (YASSUDA, SILVA, 2010). Podemos afirmar que se tem aumentado os estudos acerca da terceira idade. Uma breve pesquisa em sites acadêmicos ou em revistas científicas comprova essa afirmação ou mesmo a abertura das Universidades Abertas à Terceira Idade – UnATIs – comprovam o aumento de pesquisas nessa área. Considerando as quatro fases presentes na vida das pessoas, conclui-se que os períodos nos quais se tem maior tempo livre são na juventude e na velhice, uma porque ainda não se inseriu no mercado de trabalho e outra que já não trabalha mais. Porém essas duas fases não são possuem a mesma „visibilidade‟, visto que para a primeira fase atrai muito mais políticas de lazer do que a segunda (Dumazedier, 2008). Entretanto, para os indivíduos pertencentes à terceira idade, o lazer entendido como um fenômeno social é bastante relevante, pois, em muitos casos coincide com a aposentadoria, e muitas vezes representa o maior numero de atividades desenvolvidas por eles. Dessa maneira o lazer pode ser interpretado como: ...um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar- se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 2001, p. 132) Muitos que idosos ainda continuam trabalhando após a aposentadoria, ou por questões financeiras ou por questões éticas, mesmo assim o tempo de lazer dessa parcela da população é maior em relação às outras fases da vida e muitas vezes esse tempo ocupa um período maior do dia do que as obrigações domésticas e familiares (Dumazedier, 2008). Ainda baseando-se em Dumazedier, através de algumas pesquisas nos EUA e na França, foi possível elencar as principais atividades de lazer desenvolvidas pelos idosos. A categoria sociocultural demonstrou-se muitas vezes muito mais determinantes do que a própria idade do indivíduopara a realização dessas atividades. O encolhimento da vida social dos cidadãos levou a certa diminuição de atividades artísticas, como ir ao cinema ou ao teatro; curiosamente os lazeres sociais sofrem uma queda até os 60 anos para aumentarem ligeiramente no período de aposentadoria, mas nem todos praticam essa atividade. O próprio Estatuto do Idoso prioriza essa camada da população, onde o Poder Público deveria criar as condições para que essa parte da população tenha acesso à uma série de direitos, dentre eles o Direito ao Lazer. O mesmo poder que muitas vezes dificulta e impede que os idosos possam desfrutar de seu tempo livre de maneira digna e apropriada. Percebe-se que existem muitas “barreiras” para que esses idosos pulem antes de concretizar uma vida digna, onde independente de suas condições (financeiras ou físicas), da falta de serviço oferecido pelo próprio Estado ou mesmo do preconceito social ou arraigado nesta faixa etária da população, eles deveriam ter acesso ao Lazer e que esse possa ter um significado, algo que venha agregar valores e conhecimentos, independente da idade. 1. O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS? Para que a população tenha suas necessidades atendidas em relação aos bens sociais, entre eles o lazer e turismo, é fundamental a implantação de Políticas Públicas através dos poderes governamentais nas esferas federal, estadual e municipal, com participação da sociedade desde a elaboração até a realização das mesmas, pensando-se, sobretudo nas pessoas de classe social mais baixa, impossibilitadas de pagar por opções privadas de acesso a esses bens1. Para se falar em políticas públicas, Rua (1998) sugere antes uma definição do termo Política, que, segundo o autor, pode ser caracterizada por uma série de procedimentos, formais e informais, que exprimem relações de poder e que são destinados a solucionar, pacificamente, os conflitos relacionados aos bens públicos. Com base na literatura, foi possível perceber uma série de contribuições de estudiosos sobre Políticas Públicas. De forma geral, Política envolve uma complexidade de fenômenos relacionados a filosofia, história, ideologia, entre outros fatores vinculados diretamente ao termo. Para CASTRO & FALCÃO (2004, p.53) Política “compreende um conjunto de esforços empreendidos pelas pessoas que objetivam participar do poder ou influenciar a distribuição do poder”.De forma geral, Políticas Públicas podem ser consideradas como um conjunto de ações do estado, direcionadas para atender às necessidades da sociedade, com o intuito do bem comum. Por sua vez, o turismo é uma atividade socioeconômica que gera a produção de bens e serviços para o homem, visando à satisfação de diversas necessidades básicas e secundárias (SANTOS & GOMES, 2007). 1 Fonte: http://www.efdeportes.com/efd179/lazer-e-politica-publica-o-caso-in-existente.htm. Acesso em 20 de maio de 2015. DIAS (2003) afirma que Políticas Públicas constituem um “conjunto de ações executadas pelo Estado, enquanto sujeito, dirigidas a atender às necessidades de toda a sociedade”. São formadas por “linhas de ação que buscam satisfazer ao interesse público e têm que estar direcionadas ao bem comum”( p. 121). AZEVEDO (1997, p. 02) entende a ação como aquelas que “representam a materialidade da intervenção do Estado ou Estado Ação”, abrangendo, dessa forma, todas as decisões colocadas em prática pelo governo, mesmo que essas não estejam de acordo aos anseios da sociedade, desconsiderando que Políticas Públicas podem ser providas, também, por ONGs, associações, sindicatos, igrejas, dentre outras instituições que não são governamentais. Tais instituições compreendem, assim, a estrutura que os governos têm para a aplicação dessas políticas e com as quais dificilmente uma instituição da sociedade poderá equiparar- se. As Políticas Públicas mantêm interligações com o universo cultural e simbólico, com um sistema de significações que é próprio de uma realidade social. Os valores, normas e símbolos fornecidos pelas representações sociais estruturam as relações sociais participantes do sistema de dominação, fornecendo significados à definição social da realidade que vai orientar os processos de decisão, formulação e implementação das políticas. (FARIA, 2007). É função das Políticas Públicas articularem as ações da iniciativa privada e a comunidade, informar, fomentar pesquisas e, de um modo geral, atender aos anseios da sociedade, cuidando assim da população de determinado local (SOUZA, 2006). As Políticas Públicas são instrumentos que, se bem elaborados, implementados, monitorados e avaliados corretamente são capazes de promover o desenvolvimento social e econômico, não somente das populações, mas também dos setores da economia ao qual se destinam. São ações que visam à melhoria do bem estar social e, portanto, devem ser elaboradas levando em consideração a participação da sociedade.2 2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO Atualmente, o turismo vem alcançando maior notoriedade com um número cada vez maior da prática de sua atividade, seja no Brasil ou mesmo no mundo. Os avanços tecnológicos e a acessibilidade agiram como facilitadores da prática, que além de colaborar no desenvolvimento social e cultural dos países, também trabalha no setor econômico, uma vez que é uma atividade grande geradora de empregos. O turismo é uma das atividades que mais cresce no Mundo. Por permitir rápido retorno do investimento, gerar empregos diretos e indiretos e por sua ligação com os mecanismos de arrecadação, o turismo é a atividade que mais contribui para o desenvolvimento de diversos países. Para obter resultados é imprescindível que este turismo seja feito de forma organizada e racional.3 A importância de um planejamento turístico faz-se fundamental. Atividades turísticas de massa sem uma organização, podem promover problemas ambientais, além de descaracterização social e cultural, assim como exclusão de certas classes. Sendo assim, um planejamento e implantação de políticas públicas são fatores fundamentais no desenvolvimento de um turismo inclusivo, sustentável e rentável. Para Ignarra (2002, p.62), “o planejamento da atividade turística se mostra, portanto, como um poderoso instrumento de fomento ao desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade”. O turismo envolve uma multiplicidade de serviços: transporte, hospedagem, alimentação, agenciamento, trabalho de intérprete e tradutor, guias turísticos, organização de eventos, entretenimento, etc. São muitas empresas e profissionais envolvidos, diversas interações e etapas a serem percorridas, tornando a atividade 2 Fonte: http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/36218351.pdf. Acesso em 20 de maio de 2015. 3 Fonte: http://www.efdeportes.com/efd65/lazer.htm. Acesso em 20 de maio de 2015. complexa e de difícil mensuração. Mais uma vez, a importância da atividade bem planejada deve ser prioridade4. Dias (2003) acrescenta que para alcançar um desenvolvimento acompanhado de equilíbrio e capacidade de alocação de recursos é um dos desafios do homem na atualidade. E o turismo como importante atividade econômica do século XXI é percebida como item fundamental no desenvolvimento no que diz respeito aos interessados na atividade turística. Por conta do crescimento turístico nos últimos anos, a preocupação com a atividade também é crescente. O Brasil tem se preocupado e desenvolvido estratégias que primam pela descentralização na administração do turismo, a condução de uma gestão integrada e compartilhada,além da utilização do planejamento participativo, buscando, assim, maior inserção da sociedade no que diz respeito à organização da atividade turística5. BENI (2003) acrescenta que para que haja o fortalecimento da atividade turística, uma política de turismo deve ser entendida como o conjunto de fatores condicionantes e de diretrizes básicas que expressam os caminhos para atingir os objetivos globais para o turismo do país, determinando as prioridades da ação executiva, supletiva ou assistencial do Estado. Deve-se fazer um levantamento das potencialidades e prioridade da localidade, para só então estabelecer metas e objetivos alinhados à política nacional de turismo, pois a política pública é de fundamental importância para a decisão do futuro do setor turístico no país. Dessa forma, a política pública nada mais é que o vetor de direcionamento do processo de planejamento, sendo um instrumento e resposta do poder público aos efeitos negativos do desenvolvimento (CRUZ, 2000). VIEIRA (2011) aponta que, cabe ao Estado primar pelo planejamento e por todos os outros fatores essenciais ao desenvolvimento do turismo, em cooperação com a iniciativa privada para alcançar um bom desenvolvimento da atividade turística. 4 Fonte: http://www.efdeportes.com/efd65/lazer.htm. Acesso em 20 de maio de 2015. 5 Fonte: http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/36218351.pdf. Acesso em 20 de maio de 2015. Segundo o mesmo autor, é de responsabilidade do Estado montar infraestrutura básica, urbana e de acesso à população geral, assim como oferecer os serviços e disponibilizar os equipamentos turísticos. BARRETTO, BURGOS e FRENKEL (2003) corroboram com as mesmas ideias ao afirmarem que o Estado deve se responsabilizar pela construção de infraestrutura básica, infraestrutura de acesso e uma superestrutura (órgãos responsáveis) que fique a frente de tais segmentos. /acrescentam ainda que estes órgãos devem planejar e controlar investimentos do Estado que promovam o desenvolvimento da iniciativa privada, que deve construir equipamentos e prestar serviços, e com isso trazer benefícios para a comunidade. Estes benefícios podem vir em forma de geração de emprego, renda, divisas, qualidade de vida e outros. Em relação ao turismo, a principal função que as políticas públicas assumem é democratizar a prática desta atividade, permitindo assim que o maior número possível de pessoas possa viajar. Além disso, é seu papel também controlar a qualidade dos bens e serviços oferecidos, prover a utilização sustentável dos atrativos turísticos naturais e culturais, incentivar o estabelecimento de parcerias entre os empresários turísticos e outros comerciantes locais, ampliar as possibilidades de capacitação dos atores envolvidos; intervir na realização de obras de infraestrutura que contribuam para o turismo. Uma das principais dificuldades encontradas frente ao desenvolvimento de projetos em prol do lazer e do turismo é o imediatismo político com o qual lidamos nos dias atuais (SOUZA, 2006). Desta forma, a relação das políticas públicas com o turismo e a sua importância no desenvolvimento da atividade, é fundamental. Ressalta-se que além do conhecimento da importância do planejamento do turismo, os órgãos públicos do turismo devem trabalhar para tais desenvolvimentos em parcerias entre público, privado, entidades representativas e comunidade local. As políticas públicas de turismo ainda é um fato recente no Brasil e, neste sentido, suas repercussões ainda são pequenas e pouco estudadas. O próprio Ministério foi criado apenas em 2003, desse modo muitas mudanças ainda são necessárias, assim como o crescimento da atividade planejada. No Brasil, dentre esses desafios encontrados para o desenvolvimento do turismo, deve-se priorizar a melhoria dos produtos e serviços turísticos baseado na qualificação de equipe para elaboração e execução de bons projetos, além de investimentos financeiros em obras de recuperação de equipamentos turísticos e no fortalecimento de parcerias público-privadas a fim de garantir a acessibilidade turística. 2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL Segundo o Ministério do turismo, o setor turístico é de extrema importância para a economia brasileira devido ao fato de a atividade ser uma geradora de divisas, tornando-se, portanto, crucial para a sustentação do equilíbrio em conta corrente do Balanço de Pagamentos. Além disso, o turismo possui um potencial de geração de renda e empregos, tornando-o uma estratégia fundamental para o crescimento econômico. O turismo ainda é uma atividade recente em nosso país, foi somente no último século que se iniciaram os primeiros sinais de intervenção do Estado, com o Decreto-Lei Nº 406, de 1938, o qual estabelecia autorização governamental para a atividade de venda de passagens aéreas, marítimas e rodoviárias. No ano seguinte, foi criado o Decreto-Lei Nº 1.915, que instituiu a Divisão de Turismo (extinta sete anos depois, em 1946), e que pode ser considerada como um organismo oficial de turismo da administração pública federal. No ano de 1940 foi instituído o Decreto Lei Nº 2.440 para tratar exclusivamente das agências de viagens. Com a extinção da Divisão de Turismo, as agências de viagens foram obrigadas a terem seus registros no Departamento Nacional de Imigração e Colonização, órgão responsável pelo turismo brasileiro até o ano de 1958, com a criação da a Comissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR). Segundo Silva et al (2013), a COMBRATUR representou o primeiro esforço para a articulação de uma política nacional de turismo, todavia, esta foi extinta no ano de 1962. No ano 1966 reformula-se a Politica Nacional de Turismo, criando o Conselho Nacional de Turismo e a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR). A EMBRATUR assumiria o papel de normatizar as empresas prestadoras de serviços turísticos, facilitando incentivos fiscais à construção de equipamentos e serviços, além de executar as diretrizes que norteiam a atividade de turismo. (VIEIRA, 2011) Ao longo do tempo buscou-se promover recursos financeiros para o setor de turismo. Surge então, em 1971 o FUNGETUR (Fundo Geral do Turismo), instituído pelo Decreto-Lei Nº 1.191. O FUNGETUR é responsável por investimentos privados e na infraestrutura. (SILVA et al, 2013) O marco mais recente da política de turismo foi em 1992, ano em que o Instituto Brasileiro de Turismo lança o PLANTUR (Plano Nacional de Turismo). Quando Lula assume a presidência do país, o Plano Nacional de Turismo é reestruturado e cria-se o Ministério do Turismo (MTUR). Em seu segundo governo, Plano Nacional de Turismo proposto no início do governo do presidente foi substituído por um novo Plano Nacional de Turismo – PNT 2007-2010 – uma Viagem de Inclusão, mantendo as mesmas bases para uma gestão política participativa e descentralizada. É importante destacarmos também o Plano Aquarela, criado em 2003 e extinto em 2006, como mais um método de política de turismo, chamado também de Plano de Marketing Internacional do Brasil. As politicas públicas de turismo precisam levar em consideração a população da localidade a qual ela será aplicada. Carvalho (2009) afirma que de acordo com a realidade brasileira, devem considerar sendo pressupostos básicos: I- Promover a divulgação de ações que visem o desenvolvimento sustentável; II- Fortalecer a participação em feiras, congresso, e eventos nacionais e internacionais a fim de inserir o destino no contexto atual; III- Exportar nossas manifestações culturais e nossas referências que revelam nossas identidades; IV- Promovero destino, através do marketing, de modo inteligente e criativo; V- Criar mecanismos e órgãos responsáveis pela execução das estratégias e políticas definidas. Portanto, podemos notar conforme Galdino e Costa (2011) que: ...torna-se perceptível a essencialidade do Poder Público no turismo, especialmente no Brasil. Dessa forma, esclarece-se que suas ações são relevantes e que sua aplicação, de maneira coerente, pode proporcionar crescimento e desenvolvimento de forma expressiva e significativa à atividade turística e a toda a sociedade. Justamente por isso, cabe ao Poder Público posicionar-se de maneira coerente quanto a suas ações e realmente assumir o papel de liderança no alcance de seus objetivos, na conquista de suas metas, permitindo que os demais agentes envolvidos no processo também nele se integrem, assumindo seu papel, suas responsabilidades, como a iniciativa privada, os profissionais e, principalmente, a comunidade local. 3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NA VELHICE Segundo MATOS et al (s/d) o turismo na terceira idade aquele realizado a partir dos sessenta anos de idade. De acordo com a bibliografia especializada, é nessa faixa etária que as pessoas mais viajam, pois já criaram seus filhos, já se aposentaram e possuem uma estabilidade financeira e, ainda, por desejarem aproveitar o seu tempo livre. Embora os idosos possam sentir problemas e barreiras para a prática do turismo como a falta de saúde, solidão, violência urbana e baixos rendimentos por conta de aposentadoria baixa, ainda assim,a atividade é crescente. Pesquisas realizadas pela ABAV – Associação Brasileira das Agências de Viagens aponta que o turismo da terceira idade é o responsável por 20% da receita gerada por esse tipo de turismo brasileiro, pela disponibilidade que têm em viajarem nos períodos considerados de baixa temporada com desconto de até 30% (PADOVANI, 2009). O turismo da terceira idade vem sendo cada vez mais procurado por este publico que busca, neste segmento, um sentido melhor para esta fase da vida. Além disso, pode-se considerar um meio importante para o incentivo à qualidade de vida pelo fato de estimular e promover o convívio social, visto possibilitar, além da aquisição de novas culturas, o entrosamento e amizade com outras pessoas, o que proporciona reflexos positivos nos aspectos da saúde física e emocional/psicológica dessas pessoas, contribuindo com a manutenção e/ou resgate da auto-estima (MATOS et al, s/d). O turismo na velhice vem contribuindo cada vez mais para o mercado de turismo, principalmente como ocupação nos equipamentos turísticos na baixa temporada, fortalecendo a rede hoteleira nessa época e turística em geral, nesse período. De acordo com FROMER & VIEIRA (2003, p.81), “(...) o turismo, seja enquanto atividade inserida na economia de mercado seja como fenômeno sociocultural, não deixará de ser ofertada pelos reflexos dessa nova composição etária.” Ou seja, o significativo aumento dos idosos na sociedade é um dado importante, que influenciará nas políticas públicas do setor e na comercialização dos produtos. Sendo assim, é fundamental que essa interpretação seja escolhida pelos gestores turísticos, tanto quanto pelo público privado, assim como, que não seja ignorado pelos pesquisadores e profissionais da área. Infelizmente, a atividade turística por vezes gera um olhar de atividade apenas econômica; ignorando-se sua função sociocultural. O turismo não pode ser visto apenas na sua visão funcionalista, como fuga da realidade e problemas. O turismo trabalha em prol do desenvolvimento sociocultural e gera novos valores, favorecendo a integração dos povos e valorização das culturas. Para isso, é fundamental a criação de políticas públicas em prol da democratização destas atividades. Proporcionar ao público de terceira idade uma vivência efetiva do lazer, e da prática turística como uma das muitas possibilidades do lazer, são responsabilidades públicas que atualmente ainda não possuem a devida notoriedade frente às autoridades (SOUZA, 2006). Apesar da Constituição Federal do Brasil conceder o lazer no Brasil como direito social e nos artigos 6º e 217 parágrafos 3º “O Poder Público incentivará o lazer como forma de promoção social”, o que se percebe na atualidade é um grande descaso e falta de iniciativa desta esfera no que tange as políticas de lazer e turismo seja para as crianças, jovens, adultos mas, principalmente, para a terceira idade. O lazer é ainda um direito social, presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e também no estatuto do idoso. Daí a importância destas políticas “para resgatar a dignidade do idoso, reduzir os problemas de solidão, quebrar os preconceitos e estereótipos que os indivíduos tendem a internalizar” (SOUZA, 2006). Segundo a mesma autora, o lazer e o turismo revelam-se então como importantes agentes para os idosos ao possibilitar que estes obtenham uma maior convivência social e até mesmo ao reabilitar aqueles que já passaram por um período difícil de isolamento e/ou problemas psicológicos. O turismo em especial, é uma excelente forma de socialização e de formação de vínculos pessoais, dois fatores de grande importância nessa fase da vida. As atividades de lazer e o turismo proporcionam a reinserção do idoso, melhoraram seu desenvolvimento intelectual, fortalecem suas habilidades físicas e mantém sua independência. Elas podem ainda lhes proporcionar a redescoberta da motivação e novas propostas de vida, aumentando assim sua satisfação em viver. As políticas públicas referentes ao lazer e ao turismo para a terceira idade são essenciais para que se tenham melhorias nas condições de vida durante a velhice. Elas se constituem em uma questão de justiça, civismo e direito dos idosos, como mostra o artigo 9º ( É obrigação do estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e á saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade) do Estatuto do Idoso. Para que novas políticas sejam criadas torna-se necessário que a sociedade como um todo participe desse propósito cobrando dos órgãos públicos o devido comprometimento com os idosos e também uma maior continuidade nos projetos desenvolvidos, visto que o número de vida do brasileiro hoje é de 68,6 anos. 6 Embora muito tenha se falado sobre as Políticas Públicas na velhice, ainda é escasso os programas diretamente ligados a este nicho populacional que tanto 6 Fonte: www.metodista.br/cidadania/numero42/políticaspúblicas-para-idososdevem-ser-ampliadas/ Acesso em 20 de maios de 2015. interessa ao mercado. Um dos mais conhecidos e válidos programas é o "Viaja Mais Terceira Idade". É possível perceber que esse novo segmento populacional, participante ativo de atividades turísticas, estão crescendo e tornando-se fundamental dentro do contexto de Políticas Públicas para que o planejamento turístico, seja cada vez mais pensado dentro deste âmbito. Embora novas pesquisas e programas sejam desenvolvidos, ainda são necessárias muitas pesquisas e uma preocupação cada vez maior com esta população. 4. O PROGRAMA VIAJA MAIS MELHOR IDADE O Programa Viaja Mais Melhor Idade faz parte do Programa Viaja Mais, que foi criado para incentivar os brasileiros a viajarem dentro do país, sendo assim, uma ferramenta para fortalecer o turismo interno. Em 2007, foi lançada a primeira etapa do programa, durou quatro anos e foi bem sucedida, promovendo o aumento das taxas de ocupação dos prestadores de serviços turísticos. Foram 599 mil pacotes vendidos,gerando R$ 531 milhões em vendas. A segunda etapa do programa, lançada em setembro de 2013, faz parte do Plano Nacional de Turismo 2013 – 2016 e é composto por três projetos: Viaja Mais Melhor Idade; Viaja Mais Jovem (em fase de estruturação); Viaja Mais Trabalhador (em estruturação). Na segunda edição, o programa foi reestruturado e sua proposta se tornou mais flexível e abrangente (não há mais restrição de períodos ou destinos), com mais descontos, vantagens, maior margem de crédito e maior facilidade de acesso. O Viaja Mais Melhor idade tem como objetivo proporcionar a idosos, pensionistas e aposentados a oportunidade de viajar pelo Brasil, através da adoção de programas de descontos, e facilitação de hospedagem e descolamento. O programa é uma iniciativa do Ministério do Turismo que pretende minimizar a sazonalidade, já que este público tem a possibilidade de viajar em períodos de baixa ocupação/baixa temporada, e fortalecer o hábito e a cultura de viagens. Com duplo objetivo, inclusão social por meio do turismo e acesso do público idoso às viagens de lazer, o programa foi elaborado para minimizar ou resolver alguns problemas enfrentados no turismo interno. Segundo pesquisas feitas pelo Programa, os idosos desejam os seguintes incentivos para viajar: descontos em passagens; descontos na hospedagem; e pacotes bem organizados, que cumpram horários e esclareçam mudanças. A implantação da segunda etapa do programa é feita em módulos, divididos da seguinte forma: Módulo Empreendimento 1º módulo Operadoras de Turismo Agências de Turismo 2° módulo Meios de Hospedagem Clubes de Férias Cruzeiros Marítimos 3° módulo Locadoras de Veículos Parques de Diversões Parques Aquáticos Parques Temáticos Parques Naturais Museus e Prédios Históricos 4º módulo Companhias Aéreas Transportadoras Turísticas 5º módulo Restaurantes, Cafés, Bares e Similares Jardim Botânico e Zoológico Outras Atividades Atualmente, apenas o primeiro módulo está sendo implantado, desde setembro de 2013. Não há previsão para a implantação dos outros módulos. A segunda edição do Viaja Mais Melhor Idade, além dos parceiros anteriores (BRAZTOA e ABAV), conta com três novos parceiros: INSS, Banco do Brasil e Banco Caixa Econômica Federal. A participação do Programa é feita através do portal www.viajamais.gov.br, o turista verifica as regras do programa e as ofertas disponíveis, o portal não faz intermédio entre nenhuma compra, financiamento ou pedido de crédito. O cliente fica livre para negociar com o vendedor. A única exigência para a participação do programa é ter 60 anos ou mais, ser pensionista ou aposentado, as formas de comprovação serão estabelecidas pelo ofertante. A principal diferença entre as duas edições do programa é que na segunda edição o acesso é mais facilitado e com mais descontos, além de não haver restrição de períodos ou destinos para as viagens. Os descontos são ofertados a partir de 20% e dentre as vantagens há a possibilidade de diárias extras, entradas e passeios gratuitos. A segunda edição também difere da primeira por ofertar além de pacotes, serviços avulsos: meios de hospedagem, passagens, locação de veículos, atrações turísticas. Nesta edição cada beneficiário tem o direito de estender seus descontos e vantagens para mais uma acompanhante (ou mais, dependendo da oferta) que não tenha seu perfil. Incluído no Plano Nacional de Turismo (2007-2010), o “Viaja Mais Melhor Idade”, programa de turismo social brasileiro, teve sua representação institucional e tem sua operação executados de forma compartilhada pelo Ministério do Turismo do Brasil (MTUR) e pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA). O público alvo do programa são os brasileiros com mais de 60 anos de idade, e seu foco está na oferta de pacotes turísticos, passagens aéreas e diárias em hotéis no mercado doméstico de turismo a preços reduzidos em períodos de baixa estação. Não é um programa original – outros países já adotaram programas semelhantes, em alguns casos, com relativo sucesso, como o programa “Vacaciones de Tercera Edad”, do Chile, que serviu de inspiração ao “Viaja Mais Melhor Idade”. Apesar disso, é um programa inovador no Brasil, que teve experiências bem sucedidas anteriormente e tradicionais de turismo social no âmbito privado. O maior programa de turismo social brasileiro, certamente, é o sustentado pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e destinado a proporcionar pacotes de viagens, meios de hospedagem e alimentação aos trabalhadores do comércio e seus dependentes. Apesar de não dispormos de dados relativos ao número de viajantes domésticos no Brasil por faixa etária, o índice de sazonalidade verificado no turismo brasileiro fortalece o argumento do “Viaja Mais Melhor Idade”, cujo público-alvo, por normalmente estar desfrutando de aposentadoria, dispõe de condições de viajar em todas as épocas do ano. De acordo com a pesquisa intitulada “Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil” (FIPE & MTUR, 2006), 57,7% das viagens domésticas brasileiras se realizam entre os meses de dezembro e fevereiro, e esta restrição da escolha do período de viagens se justifica pelo período de férias, como argumentam, aproximadamente, 50% dos entrevistados nesta pesquisa. Por outro lado, em pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo no 6º Salão do Turismo (MTUR, 2011), com uma amostra de visitantes daquele evento com mais de 60 anos, 46% dos entrevistados responderam que preferem viajar na baixa temporada, enquanto 34,5% disseram disponíveis para viajar em qualquer época do ano. Mesmo se considerando que estas pesquisas trabalharam com amostras diferentes, e que a pesquisa realizada pela FIPE é mais de acordo quanto à realidade brasileira, por ter tido um plano de amostragem de dimensão nacional, o confronto entre os resultados apresentados entre estas duas pesquisas leva-nos à dedução de que o investimento no público da terceira idade é uma boa estratégia para enfrentar o problema da sazonalidade do turismo no Brasil, o que corresponde positivamente aos objetivos do programa “Viaja Mais Melhor Idade”. O “Viaja Mais Melhor Idade” é um programa que tem um acordo mútuo com o Plano Nacional de Turismo (PNT) 2007-2010, do Governo Federal que, ao tempo em que reconhece a função social do turismo e o papel do turismo para a integração social, a diminuição das desigualdades sociais e regionais, propõe-se a “fortalecer o turismo interno, promover o turismo como fator de desenvolvimento regional, assegurar o acesso de aposentados, trabalhadores e estudantes a pacotes de viagens em condições facilitadas” (MTUR, 2007, p.11). Tal acordo aparece na característica central do programa, a oferta de pacotes de turismo e opções de hospedagem para destinos nacionais durante o período da baixa estação, destinados ao público da “melhor idade”. Tal iniciativa, ao tempo em que enfrenta a questão da sazonalidade do mercado turístico nacional – ou fortalece o turismo interno, nos termos do PNT -, amplia o acesso ao lazer turístico para as pessoas desta faixa etária, por oferecer opções com preços mais atrativos em relação aos preços normalmente praticados pelo mercado – iniciativa de “integração social”, ainda de acordo com o PNT. Assim, o programa “Viaja Mais Melhor Idade” se propõe a cumprir as duas metas que foram associadas pelo documento do governo às políticas de turismo social, que sejam: garantir ao público da chamada “melhor idade” o exercício do seu direito humano ao lazer sob a forma do turismo e; movimentar o mercado do turismodoméstico brasileiro no período de baixa estação, gerando oferta e demanda num momento em que a economia do turismo tende a estar retraída, garantindo a sustentabilidade econômica da atividade. No que diz respeito à sua formulação, merece destaque positivo o fato de o “Viaja Mais Melhor Idade” ter sido previamente discutido no âmbito do Conselho Nacional de Turismo, subsidiando a sua formatação enquanto programa, e ser gerido por um Comitê de dois lados, formado pelo MTUR e pela BRAZTOA, um organismo da sociedade civil, segundo o princípio do planejamento e gestão participativos de políticas públicas, metodologia que é apresentada por Ignacy Sachs como parte da dimensão política do desenvolvimento sustentável. O formato de parceria público-privada é fundamental neste caso, pois apenas a adesão do setor privado, oferecendo produtos atrativos ao público-alvo, pode garantir a eficácia do programa. Da mesma forma, tal adesão não se dá de forma desinteressada, já que resulta em uma divulgação gratuita do empreendimento turístico – via material promocional do programa “Viaja Mais Melhor Idade” -, bem como, pode garantir movimentação na baixa estação turística, período de desaquecimento do mercado de turismo no mundo todo. Os produtos turísticos associados ao programa têm que obrigatoriamente cumprir critérios de acessibilidade e preservação ambiental e cultural, o que favorece seu perfil sustentável. Sob o ponto de vista do mercado do turismo, assim, além de gerar uma demanda adicional, o programa também pode cumprir um eficiente papel de marketing e responsabilidade social. Entretanto, não dispomos de dados suficientes para afirmarmos que esta dimensão do programa tenha sido levada em consideração no momento de estruturar a cesta de produtos oferecida pelo programa. A visita à página do programa “Viaja Mais Melhor Idade” na internet não oferece informações relacionadas a esta dimensão do programa, e os dois guias do “Viaja Mais Melhor Idade” disponibilizados nesta página – o guia de pacotes turísticos (BRAZTOA & MTUR, 2010a) e o guia de hospedagens (BRAZTOA & MTUR, 2010b) – igualmente não disponibilizam esta informação. Enquanto o guia de pacotes turísticos apresenta as informações turísticas básicas sobre os destinos do programa, além das operadoras de turismo que oferecem os respectivos pacotes e destinos emissivos, o guia de meios de hospedagem limita-se a informações sobre a faixa de preços das ofertas hoteleiras. Ou seja, apesar de ser um programa que incorpora dimensões ambientais e inclusivas (especificamente, o respeito à acessibilidade) aos seus objetivos e desenho institucional, a apresentação promocional dos produtos associados ao “Viaja Mais Melhor Idade” limita-se a especificar componentes básicos da oferta no mercado turístico (preço, serviços, atrativos etc.), tal como se fosse um guia turístico tradicional. Percebe-se, entretanto, que a disparidade regional observada no Brasil se reproduz no programa. A maioria das operadoras turísticas que oferecem pacotes dentro do programa “Viaja Mais Melhor Idade” são sediadas no Centro-Sul do país, de forma que também está nestas regiões a maioria dos destinos emissivos do programa. Consideradas as nove capitais de estados nordestinos, apenas Salvador, Recife e Fortaleza constam como destinos emissivos do programa, ou seja, justamente as capitais com maior PIB da região. Por outro lado, Teresina, capital do Piauí, um dos mais pobres estados da federação, sequer consta como destino receptivo do programa (BRAZTOA & MTUR, 2010a). Desta maneira, portanto, vemos que o “Viaja Mais Melhor Idade” ainda não atingiu o princípio afirmado pelo PNT 2007-2010 de, através do turismo, diminuir as disparidades regionais. Pelo contrário, o programa afirma tais disparidades. Por outro lado, considerada a mesma capital Teresina, apenas dois hotéis disponibilizaram ofertas no guia de hospedagens do “Viaja Mais Melhor Idade” (BRAZTOA & MTUR, 2010b). Ou seja, parece haver ainda pouca sensibilidade de parte da iniciativa privada quanto às vantagens associadas ao programa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em nossa pesquisa tivemos extrema dificuldade em encontrar pessoas que já viajaram pelo programa “Viaja Mais Melhor Idade”. Acessamos as páginas destinadas ao programa na mídia social Facebook, em maio de 2015, e constatamos que estão abandonadas há anos. A página do programa destinada à cidade de São Paulo constitui-se em um perfil pessoal no site, com poucos amigos e um álbum com algumas fotos de eventos que ocorreram em 2010. Entramos em contato com o provável criador da página, Rafael Almeida, onde aparece em uma das fotos apresentando o programa para os idosos, porém ainda não tivemos retorno. A página do Rio de Janeiro está na mesma situação, o mural agora é utilizado para divulgações de agências que não são parceiras oficiais do programa. Já a página de comunidade no site, que se difere da de perfis pessoais, possui apenas 157 “curtidas”, o que pode ser considerado muito pouco para um programa de alcance nacional, talvez refletindo um abandono do marketing do programa. A última publicação feita pelo administrador da página foi no dia 13 de abril de 2012, porém podemos achar críticas bem recentes na página através de comentários de usuários que provavelmente buscam informações do programa e não encontram. Destacamos um comentário feito por uma usuária do Facebook, em uma das fotos publicadas em 2012 pela página: Não há roteiros, nem valores, nem ofertas, nem promoções. Só uma apresentação bonita do Ministério mas que nos leva do nada pra lugar nenhum. Os únicos parceiros reais são o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal que disponibilizam cartões de crédito especiais com o nome do programa porém não é de graça, claro! (BUCK, Linda. São Paulo, 2015 7 ) Outra abordagem que usamos para obter mais informações foi o contato com oito parceiros oficiais do programa, que estão listados no site oficial, sendo quatro agências de turismo de São Paulo, três agências de turismo do Rio de Janeiro e a Braztoa. Das quatro agências de São Paulo que apareciam no site do programa como parceiras, conseguimos falar apenas com a Landscape Best Trips, localizada na Fradique Coutinho e a Crystal Viagens na rua Dr. Braulio Gomes. As atendentes de ambas as agências disseram não trabalhar mais com o programa. A Crystal Viagens não soube informar o porquê, e a Landscape Best Trips disse que não havia mais procura, uma vez que a mídia parou de divulgar o programa. Na CVC de Santo André e na MSC Cruzeiros de São Paulo, tentamos o contato 7 BUCK, Linda. São Paulo, https://www.facebook.com/pages/Viaja-Mais-Melhor- Idade/306971326013249?ref=br_rs, 2015. Acesso em 25/05/2015. telefônico, porém sem sucesso. Acreditamos que os números disponíveis no site estão desatualizados, pois na MSC Cruzeiros a mensagem dizia que o telefone não existe e na CVC a ligação não foi completada. No Rio de Janeiro existem três agências parceiras, a Cama e Café, Laira Tours e a Maravilhosa Tour. Realizamos contato telefônico com a agência Cama e Café, sem sucesso pois o telefone também não existe mais. Na Laira Tours não fomos atendidos em nenhuma das tentativas. A Maravilhosa Tour somente nos atendeu em um número de telefone móvel, nos informando então que não trabalham mais com o Viaja Mais Melhor Idade. Estabelecemos diálogo com a Braztoa e tivemos a confirmação que o programa não está mais ativo. O atende que nos respondeu nos informou que não se há mais notícias do programa desde 2013, não sabendo nos dizer os motivospara tanto. Por fim, vemos no programa “Viaja Mais Melhor Idade” uma iniciativa que é importante e inspiradora para o mercado de turismo brasileiro, tanto pela forma participativa do seu desenho institucional, quanto pelo seu potencial papel socialmente inclusivo, e sua capacidade de fomentar negócios na baixa estação turística. Por isso mesmo, este programa é capaz de gerar efeitos positivos tanto para o desenvolvimento e incentivo da atividade turística no Brasil como para a garantia do turismo como direito humano para o público da terceira idade. É algo alarmante a se considerar, portanto, que este programa inovador e tão atual esteja passando por um aparente abandono. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Janete M. Lins de. A educação como política pública. Campinas, SP: Autores Associados, 1997. BARRETTO, Margarita, BURGOS, Raúl, FRENKEL, David Turismo. Políticas Públicas e Relações Internacionais – Campinas, SP: Papirus, 2003. BENI, M. C. Análise Estrutural do Turismo. 8ª ed. São Paulo: SENAC, 2003. BRAZTOA & MTUR. (2010a). Guia de pacotes turísticos. Viaja Mais Melhor Idade. ________________. (2010b). Guia de meios de hospedagem. Viaja Mais Melhor Idade. CAMARGO, L. O. de L Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 2001. ______________. O que é lazer. – 3ª ed. – São Paulo: Brasiliense, 1993. CARVALHO, Caio. Políticas Públicas no Turismo Brasileiro. Cidade de São Paulo e a construção de sua identidade turística. Tese de pós-graduação. Escola de Comunicação e Artes. São Paulo, 2009. CASTRO, Celso Antônio P. de ; FALCÃO, Leonor Peçanha. 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