Buscar

Uma análise crítica da obra O caso dos exploradores de cavernas , de Lon L. Fuller Átala Vieira Soares JurisWay

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 1/11
 
 
 
Cursos Certificados Concursos OAB ENEM Vídeos Modelos Perguntas Notícias Artigos Fale Conosco Mais...
 
Email Senha Ok Esqueceu a senha? Não tem cadastro? Ok 
powered by
 Google 
 
Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de
cavernas", de Lon L. Fuller
 JurisWay Sala dos Doutrinadores Comentários Sobre Obras Intelectuais Introdução ao Estudo do Direito Indique este texto a seus amigos 
Autoria:
 
Átala Vieira Soares
Graduanda em Direito na Universidade Regional do
Cariri - Ceará
 
envie um e-mail para este autor
 
Outros artigos da mesma área
Vigiar e Punir, uma análise do Poder!
AS FONTES HISTÓRICAS DA MEMÓRIA DO DIREITO
RESUMO CRÍTICO DA OBRA PENSANDO COMO UM
ADVOGADO: UMA INTRODUÇÃO AO RACIOCÍNIO
JURÍDICO
 Como nasceu o Direito
TÓPICOS SOBRE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO
DIREITO: RELAÇÃO JURÍDICA
Análisis de las principales proposiciones de Herbert
Lionel Adolphus Hart
UM DISCURSO SOBRE AS CIÊNCIAS
Obrigatoriedade das Normas Jurídicas
Una breve reflexión acerca de la concepción del
derecho de Hans Kelsen.
Princípios gerais que regem as relações jurídicas
bilaterais
Mais artigos da área...
Cadastre-se no JurisWay
 E veja as vantagens de se identificar
 
É grátis!
 Não há nenhuma taxa ou
mensalidade. 
 Use e Abuse.
 www.jurisway.org.br/cadastro 
Já é cadastrado? Identifique-se com seu email e senha
Certificados JurisWay
 Só Estudos Temáticos oferecem Certificado
 
Foque seus estudos e
receba um certificado em
casa atestando a carga
horária.
 Consulte valor de cada tema 
Resumo:
 
Esse texto tem por escopo fazer uma
abordagem crítica do livro "O caso dos
exploradores de caverna", de L. Lon Fuller. A
presente obra é leitura obrigatória para os
amantes do Direito, para que se possa
questionar o verdadeiro sentido dessa Ciência.
Texto enviado ao JurisWay em 25/06/2013.
Indique este texto a seus amigos 
Quer disponibilizar seu artigo no
JurisWay?
Saiba como...
INTRODUÇÃO
 
         O caso dos exploradores de cavernas é uma obra formulada no intuito de discutir
acerca dos princípios do direito. A obra mostra, através de um caso concreto, apesar de
fictício, essencialmente, a contraposição de valores positivos e naturais.
                      A justiça, conceituada há séculos na máxima de Ulpiano “constante e firme
vontade de dar a cada um o que é seu”, é a causa final do Direito e das diversas relações
que integram o convívio social. O justo fornece ao direito a razão de existir, garante a
sua identidade, o seu estar no mundo. Assegurar a justiça é característica que fornece
sentido e obediência ao direito.
                   Entretanto, a justiça, na prática, é descaracterizada como fim máximo do agir
jurídico. O positivismo assegura às leis um caráter dogmático, garantindo à justiça um
papel secundário. O que se observa é um legislador que atende a anseios particulares e
juízes que se limitam à subsunção. Magistrados que, na retaguarda do Kelsen,
esquivam-se de examinar o direito como uma ciência interligada aos fatos e valores.
Profissionais que, a despeito de preceitos individuais de ética, moral e justiça, limitam-
se à aplicação simplista da norma.
                      Não se pode esquecer, porém, dos juízes que agem de encontro às normas,
muitas vezes, instintivamente. Aplicadores do direito que, ofuscados por convicções
individuais, agem de maneira parcial, pondo em xeque a própria segurança jurídica.
Julgadores que, guiados por uma ideia incessante de justiça e adaptação social, são
influenciados por fatores externos, que acarretam benefícios ou não.
            Essas contradições são postas com maestria na obra em análise, o que caracteriza
a “concretização da abstratividade” das contradições do direito. Positivismo e
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 2/11
Compra e Venda de Imóveis e
Veículos
 Direito Contratual
 
Títulos de Crédito
 Direito Civil
 
Administrador de Imóveis
 Direito Imobiliário
 
Veja todos os temas disponíveis
 São aproximadamente 70 temas
naturalismo, normas e princípios, legalismo e jurisprudência, todos esses caracteres são
tratados no livro.
                      O direito, portanto, como ciência social, está fadado a concepções distintas,
influenciadas pelo momento histórico. A justiça, norteadora                    dessa ciência,
contudo, inegavelmente, permanecerá como conceito absoluto e escopo da ciência
jurídica.
1.    O caso dos exploradores de cavernas
 
O caso dos exploradores de cavernas ilustra, de forma propedêutica e
pragmática, o direito e sua “eterna crise de identidade”. Eterna porque ilustra que,
mesmo no ano de 4300, o embate naturalismo versus positivismo persiste, debate esse
que acompanha o ser humano no decorrer de toda a história. Crise de identidade pelo
fato de o direito ter diversas definições e se mostrar uma ciência inexata, o que não
nega o seu caráter social. Dimoulis (2011, p.8) afirma:
A história lembra mais um roteiro de um filme do que um sóbrio estudo de
filosofia do direito. Na realidade, Fuller não quer divertir nem apavorar o
leitor. Seu objetivo é provocar uma discussão sobre o que é justo e injusto, ou
seja, uma discussão sobre o que é direito.
 
            O fato hipotético relatado na obra do Lon L. Fuller evidencia a dificuldade gerada
na aplicação do direito diante de um caso que põe em xeque convicções da própria
ciência do direito. Punir ou não punir homens que, no limite da vida, alimentaram-se
do companheiro? Foi um homicídio doloso ou um ato puramente instintivo? É uma
discussão que, longe de ser esgotada, será analisada à luz dos argumentos dos cinco
juízes, incluindo o presidente do tribunal, presentes na citada obra.
 
1.1 Presidente da Corte, Juiz Truepenny
 
            Responsável por apresentar o caso, mostra-se com uma postura menos parcial
que os demais juízes da Suprema Corte de Newgarth. Informa a clausura dos mineiros,
a operação de resgate, o contrato firmado entre eles, a morte de Whetmore e a
condenação à forca.
            Recentemente, em agosto de 2010, 33 mineiros chilenos ficaram soterrados em
uma mina, no deserto do Atakama. Foram 69 dias sem ver a luz do sol e com escassos
mantimentos. No Chile, houve uma comoção mundial, havendo recursos provindos de
vários países. Ademais, as equipes de resgate, através de sondas e outros equipamentos
tecnológicos, conseguiram manter contato com o grupo, fornecendo, também, suporte
psicológico. O que surpreende é que, em pleno quarto milênio, a tecnologia à época não
foi capaz de proporcionar um menor desconforto aos exploradores, tanto físico como
emocional. No entanto, é perfeitamente compreensível que, Fuller, em 1949, fosse
incapaz de prever que a tecnologia estaria anos-luz à frente no hipotético século. O
professor de Harvard, portanto, foi feliz na sua pretensão inicial: suscitar o debate
acerca da justiça e injustiça, do alcance da lei escrita, dos contratos, do instinto humano.
            Whetmore, ao propor que eles se alimentassem da carne de algum entre eles,
solicitando a opinião de médicos, juristas e sacerdotes (envolvendo questões
fisiológicas, éticas, normativas e teológicas), não obtém resposta, ilustrando como as
pessoas se esquivam do caso, o que comprova que todos têm dúvidas e receios quanto
à sua aplicação. No entanto, se esses profissionais tivessem se manifestado,
positivamente ou negativamente, a decisão tomadapelos exploradores, dificilmente,
diferiria daquela. Segundo a teoria darwiana, da sobrevivência dos mais aptos ou
seleção natural, desde as cavernas, a busca por alimentos favorece a continuidade das
espécies. Comer, logo, é um ato que, arraigado na espécie humana, mantém a
perpetuação do homem. Analogicamente, aqueles homens, enclausurados em um
ambiente borchonoso, guiados, de modo completo, pelo instinto de sobrevivência, em
um dado momento, princípios éticos e morais seriam cerceados.
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 3/11
            Quanto à natureza do contrato proposto por Whetmore, ele existe e, como um
acordo entre as partes, deve ser cumprido, baseado no direito civil. No entanto, sob o
ponto de vista do ordenamento jurídico brasileiro, não há o devido resguardo quanto à
sua natureza. José Afonso da Silva (2010, p. 198) afirma que “a vida humana, que é
objeto do direito assegurado no art. 5º, caput, integra-se de elementos materiais (físicos
e psíquicos) e imateriais (espirituais).” Isso explicita que é assegurado na Constituição
Federal Brasileira o direito à vida, figurando como cláusula pétrea. Logo, esse direito
foi negligenciado no caso dos exploradores de caverna. Baseando-se no art. 104 do
Código Civil Brasileiro (2002), há quatro equívocos no contrato firmado pelos
exploradores. Em primeiro lugar, Whetmore, ao propor o acordo, não estava exercendo
plenamente de suas possibilidades mentais, já que estava dominado pela fome, logo,
não havia capacidade das partes. Em segundo lugar, há nulidade do negócio jurídico
quando o objeto ou o motivo determinante forem ilícitos. O objeto do direito firmado
no contrato dos pesquisadores apresentava ilicitude, já que previa a morte de um deles.
Em terceiro lugar, para se firmar um contrato tem que haver vontade das partes, o que
não houve, já que o Whetmore desistiu do acordo. Em quarto lugar, um dos defeitos
jurídicos apontados pelo mesmo código, refere-se à coação, praticada por todos os
homens membros da Sociedade Espeleológica: Whetmore, ao convencer os
companheiros e, após a desistência do mesmo, os próprios coagiram, de certa forma, à
aceitação do líder.
            No julgamento do caso, o júri, em acordo com o Ministério Público e o advogado
de defesa, profere um veredicto especial, cabendo ao juiz decidir se houve dolo ou não.
    Ficou, portanto, reservado ao júri somente prever a condenação, caso eles fossem
considerados culpados. No nosso ordenamento jurídico é de competência exclusiva do
Tribunal do Júri. Todavia, seguindo o mesmo ordenamento, após proferido o dolo, ou
não, por parte do juiz, o júri atuará no caso. É importante salientar que os jurados
julgam conforme concepções individuais, baseados na própria consciência, em ideais
próprios de justiça. No caso de Newgarth, é possível que o júri tenha se esquivado em
analisar o caso seguindo preceitos pessoais, apesar de terem solicitado a comutação da
sentença.
                      Em relação à interposição de recurso judicial, por parte dos réus, o direito
brasileiro não prevê essa ação. Há um princípio constitucional que veta o recurso para
causas de competência exclusiva do Tribunal do Júri. É o princípio da Soberania dos
Veredictos, que impede que as decisões dos jurados sejam substituídas pelas dos juízes
togados.
                      Por último, e não menos importante, foi enviada uma petição ao chefe do
Executivo, requerendo clemência aos acusados. No Brasil, esse ato denomina-se graça
e, no caso da comutação da pena de enforcamento em prisão de seis meses, graça
parcial, já que a punibilidade não foi completamente extinta. Segundo o art. 188 da lei
7210/84, “O indulto individual poderá ser provocado por petição do condenado, por
iniciativa do Ministério Público, do Conselho Penitenciário, ou da autoridade
administrativa.” No livro em estudo, as solicitações são enviadas pelos jurados e pelo
próprio juiz.
            O presidente Truepenny pode ser considerado um “positivista moderado”, pois
segue o que a lei do país ordena: “Quem quer que intencionalmente prive a outrem da
vida será punido com a morte”. No entanto, admite sua natural inclinação em
considerar a trágica situação a que esses homens estavam impostos, além de torcer para
que o Executivo conceda clemência aos acusados. O presente magistrado, portanto,
sente-se impelido a cumprir a lei, mas o faz com certa reserva, levando-se pelas
implicações suscitadas pelo caso. O magistrado age, de certa forma, covardemente,
concedendo o poder de decidir o caso ao presidente do país, caracterizando uma total
“cessão de atribuições”. Truepenny in Fuller (2011, p.10) afirma “penso que podemos
presumir que alguma forma de clemência será concedida aos acusados. Se isto for feito,
será realizada a justiça sem debilitar a letra da lei e sem propiciar qualquer
encorajamento à sua transgressão.”
 
1.2 Juiz Foster
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 4/11
 
            O presente juiz apresenta uma inclinação para o jusnaturalismo, corrente que,
basicamente, defende a justiça, mesmo indo de encontro à norma positivada. Foster
manifesta-se, abertamente, a favor da absolvição dos acusados. O direito natural
passou por diferentes momentos no decorrer da história: algo eterno e imutável;
preceitos baseados em leis divinas; doutrinado através da razão e, por fim,
acompanhando as mudanças sociais. Contudo, a ideia de equidade manteve-se.
            Foster inicia o seu argumento criticando a ação do juiz anterior, considerando-a
sórdida e simplista, e acusando a lei do país de “não pretender realizar justiça”.
Fundando-se, inteiramente, na premissa do direito natural, Foster exclui a
possibilidade de aplicabilidade da lei ao julgamento, levando em consideração a
complexidade do caso, no qual o ordenamento jurídico do país não é capaz de
programar, tornando-se ineficaz. Essa postura é verificada na doutrina como livre
estimação, em que os juízes têm ampla liberdade de aplicação do direito. Essa proposta
foi abordada no realismo jurídico, no Direito Livre e no Direito Alternativo, tendo em
comum o reconhecimento do Judiciário em aplicar princípios de equidade nos
julgamentos, sempre buscando a justiça social.
            Fundamenta suas conclusões em duas premissas diferentes. A primeira afirma
que o direito positivo é inaplicável ao caso, já que eles se encontravam em “estado de
natureza”. Sintetiza esse pensamento afirmando que, quando a razão da lei cessa, a
própria lei sofre do mesmo desaparecimento.Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778) foi
um dos primeiros a tratar do homem em seu estado natural, segundo ele, os desejos do
homem nesse estado são os desejos do seu corpo. Afirmava que “os únicos bens que o
homem conhece no universo são a alimentação, uma fêmea e o repouso”. Salientava,
ainda, que no estado de natureza o ser humano é incapaz de usar a razão e é anti-social.
Outro teórico iluminista, Thomas Hobbes (1588 – 1679), sustentava que essa situação
não passava de um estado de guerra, onde todos estão contra todos. Esse pensamento é
sintetizado na sua frase mais famosa, “o homem é o lobo do homem”. Em
contrapartida, Nader (2005, p.24) assegura que “o pretenso ‘estado de natureza’, em
que os homens teriam vivido em solidão, originalmente, isolados uns dos outros, é
mera hipótese, sem apoio na experiência e sem dignidade científica”. Logo, para Foster,
os exploradores estavam submetidos, inteiramente, à lei da natureza. Analisando sob o
ponto de vista de Hobbes, o estado vivido pelos exploradores não pode ser
considerado “de natureza”, já que, anteriormente, eles já vivenciaram um estado de
sociedadecivil. Sob uma perspectiva baseada em Locke, o estado de natureza
independe do momento histórico, o que caracteriza essa situação no caso em estudo.
                      Foster, posteriormente, para justificar por vias legais o argumento anterior,
afirma a questão da distância, em relação ao território do país, da caverna onde os
trabalhadores estavam. Ademais, seguindo a teoria contratualista, o presente
magistrado destaca o acordo firmado entre os acusados, caracterizando-se como uma
norma própria, a “constituição” do grupo.  Esse contrato, no entanto, não é o contrato
social proposto pelos filósofos iluministas, já que não pretende garantir o direito de
todos os cidadãos, mas, sim, um contrato entre particulares, próprio do direito privado.
                      A segunda premissa defendida por Foster baseia-se em princípios
hermenêuticos. Para ele, pode-se infringir a letra da lei sem violar a própria lei, pois
toda proposição de direito positivo deve ser interpretada de modo racional. Reale
(2001, p.288) ressalta:
No Direito, ao contrário, o intérprete pode avançar mais, dando à lei uma
significação imprevista, completamente diversa da esperada ou querida pelo
legislador, em virtude de sua correlação com outros dispositivos, ou então pela
sua compreensão à luz de novas valorações emergentes no processo histórico.
            Ainda em relação à interpretação do texto legal, o magistrado salienta o caso de
legítima defesa que, mesmo não contido na letra da lei, figura como um ato escusável,
baseando-se na jurisprudência. Esse ponto de vista é, sem sombra de dúvidas, o
elemento teleológico, que busca a finalidade da lei, ou seja, o seu propósito. O Código
Penal Brasileiro, em seu art. 23, do crime, considera a legítima defesa excludente de
ilicitude. No art. 25, do mesmo ordenamento jurídico, há que “entende-se por legítima
defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injustiça ou
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 5/11
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” No entanto, ainda no mesmo
artigo, há o “estado de necessidade” como exclusão de ilicitude, o que, provavelmente,
se aplica ao caso dos exploradores de caverna. Segundo a doutrina brasileira, para
figurar essa situação, é necessário: atualidade e inevitabilidade do perigo; que o perigo
não tenha sido provocado por um dos sujeitos; razoabilidade da conduta do agente. No
entanto, se ocorresse julgamento semelhante no Brasil, a acusação poderia alegar que a
morte foi um excesso (podia ter-se sacrificando alguns dos membros de todos eles,
preservando o bem maior: a vida) e que o perigo não era atual (o quadro de inanição
consiste em debilidade profunda, impedindo, sequer, que houvesse força para matar o
colega).
                      A proposta apresentada por Foster de interpretar a lei é louvável. O direito
positivo, inevitavelmente, apresentará não só lacunas, mas também generalizações e
limitações. Cabe ao juiz ler nas entrelinhas, o que não significa que ele está legislando,
mas aplicando a lei ao caso concreto. Como diria Daniel Coelho (1988, p.288), a
interpretação é matéria pela qual se procura conhecer a lei na sua mais extensa e
recôndita significação, de modo a extrair dela a sua capacidade normativa explícita e
implícita, traçando o campo da liberdade de decisão de quem a aplica.
 
 
 
 
1.3 Juiz Tatting
 
            Inicialmente, assume que, mesmo tentando julgar o acontecido intelectualmente,
com base na lei do país, foi influenciado por aspectos emocionais. Esse paradoxo
culmina na abstenção de Tatting. O seu discurso, portanto, limita-se a criticar o juiz
anterior, filiando-se, parcialmente, ao realismo.
                      O magistrado condena o “estado de natureza” proposto por seu colega,
questionando se estavam nesse estado por causa da clausura, da fome ou da “nova
constituição”. No entanto, essa consideração é simplista, pois, ao citar as três possíveis
iniciações, não considera as dificuldades vivenciadas pelos quatro homens, não
havendo empatia de sua parte. Tatting, ao afirmar que eles teriam que formar um
tribunal da natureza, radicaliza o julgamento, negligenciando o critério da justiça que
eles deveriam se basear.
                      O presente juiz também cita o caráter odioso do contrato firmado pelos
membros da Sociedade Espeleológica, destacando a tentativa de rescisão por parte de
Whetmore. Segundo Borges (1994, p.115) apud Mezzomo, “a rescisão não depende do
acordo de vontades, como no distrato. Quase sempre, aliás, ela se dá contrariando a
vontade de uma das partes.” Como já foi tratado anteriormente, a natureza do contrato
gera certa ilicitude, já que o objeto do mesmo é a própria vida dos sujeitos e não
ocorreu por vontade das partes.
                      Tatting, posteriormente, afirma que, se Whetmore tivesse atirado nos
companheiros na iminência de sua morte, segundo o contrato, não poderia ser
enquadrado na legítima defesa. De fato, baseado no “contrato da natureza”, defendido
por Foster, o explorador que sacou a arma seria um homicida, pois teria desrespeitado
o contrato. No entanto, conforme a excludente da legítima defesa, à luz da
jurisprudência do país, o explorador não seria considerado um assassino.
            O mesmo magistrado, legalmente argumentando, afirma que a lei só considera
legítima defesa um ato não intencional, afirmando, ainda, que o elemento teleológico
da lei pode ser diverso. No entanto, esse ponto de vista é superficial, pois a lei contém
lacunas, contradições e injustiças. Ao se aplicar princípios hermenêuticos e análogos à
situação, procura-se analisar o caso em toda sua extensão e profundidade. Tatting
também é infeliz quando compara o caso a outros que se assemelham, somente, na
condição de inanição, nada mais que isso.
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 6/11
            A jurisprudência do Tribunal, Commonwealth v. Valjean, citada pelo juiz, mostra-
se viciosa por desconsiderar a insignificância do furto e a condição física do praticante.
Tatting, ao valorizar a jurisprudência do país, alude à corrente de pensamento jurídico
denominada realismo. Essa escola considera o direito como produto dos tribunais, dos
precedentes jurisprudenciais, logo, é análogo à norma para o positivismo. No Brasil, o
furto seria enquadrado no princípio da bagatela, em que a ofensividade do ato foi nulo,
não houve periculosidade social na ação, a reprovabilidade do comportamento foi
mínima e a lesão ao bem jurídico foi inexpressiva. Logo, o próprio tribunal de
Newgarth se mostra rígido e incapaz de analisar uma situação em todas as suas facetas.
            Por fim, reconhecido pelo próprio Tatting, há uma abstenção sem precedentes
na história do fictício país. A recusa do juiz em julgar o processo é considerado
inadmissível desde o Código Civil Napoleônico. Na época da Revolução Francesa, os
juízes se eximiam de julgar quando a lei era omissa, já que à época havia uma severa
divisão de poderes. Para evitar abstenções, o CC citado acima, em seu art. 4º, obrigava
o juiz a julgar no silêncio, insuficiência ou obscuridade da lei, no entanto, sempre
baseado na lei. No ordenamento jurídico brasileiro, recebe o nome de
“indeclinabilidade da jurisdição”. Previsto no art. 5º da Carta Magna e no art. 126 do
Código de Processo Civil, o juiz não pode eximir-se de sentenciar, alegando lacuna ou
obscuridade da lei; deverá, portanto, recorrer à analogia, aos costumes e aos princípios
gerais do direito.
 
1.4 Juiz Keen
 
                      O juiz sob análise baseia seus argumentos, essencialmente, na lei daquelaCommonwealth, seguindo a linha positivista-normativista. O próprio, apesar de possuir
concepções individuais que contrastam com o ordenamento vigente, aplica a lei
inescrupulosamente. Segundo Filho (1982, p.29), “o positivismo [...] é uma redução do
Direito à ordem estabelecida”.
            Inicialmente, critica a posição do juiz Truepenny, ao instruir o Poder Executivo
de conceder clemência aos praticantes de exploração de cavernas, alegando que isso é
“confusão de funções judiciais”. No entanto, manter-se imparcial diante de um caso
desse porte é algo autômato e impróprio para funções, pragmaticamente falando,
desempenhadas pelo Poder Judiciário.
                      Keen afirma que, como cidadão comum, com base em preceitos próprios,
concederia perdão total àqueles homens, visto que já sofreram o bastante. No entanto,
como juiz, aplicador da lei, deve segui-la à risca. Evidencia que, como juiz, deve aplicar
o direito do país e não as suas concepções de moralidade. O positivismo jurídico,
corrente ao qual se filiou o juiz, surgiu como oposição ao Direito Natural, atingindo o
auge no início do século XX. Para os positivistas, o direito deveria ser baseado
inteiramente em processos indutivos, no qual a lei seria sua representante máxima.
Hans Kelsen (1998, p.86), principal expoente desse pensamento, assim defende sua
teoria:
 Comprova-se esta sua tendência [antiideológica] pelo fato de, na sua descrição
do Direito positivo, manter este isento de qualquer confusão com um Direito
“ideal” ou “justo”. Quer representar o Direito tal como ele é, e não como ele
deve ser: pergunta pelo Direito real e possível, não pelo Direito “ideal” ou
“justo”. Neste sentido é uma teoria do Direito radicalmente realista, isto é, uma
teoria do positivismo jurídico. Recusa-se a valorar o Direito positivo. Como
ciência, ela não se considera obrigada senão a conceber o Direito positivo de
acordo com a sua própria essência e a compreendê-lo através de uma análise
da sua estrutura. Recusa-se, particularmente, a servir quaisquer interesses
políticos, fornecendo-lhes as “ideologias” por intermédio das quais a ordem
social vigente é legitimada ou desqualificada.
            A postura de Keen, na doutrina do grau de liberdade dos juízes, caracteriza-se
como limitação à subsunção. Essa posição consiste na aplicação exata da lei pelos
magistrados e surgiu no início do século XIX, na promulgação do famoso Código
Napoleônico. O legislador, portanto, estava incumbido de prever todos os casos
possíveis, possibilidade essa que estava resguardada na concepção à época, que tentava
aproximar o direito das ciências naturais.
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 7/11
                      Posteriormente, afirma que a lei do país é clara: “quem quer que
intencionalmente prive a outrem da vida será punido com a morte”. Para ele, a
repercussão que a discussão denotou se deu pelo fato de haver indistinção dos aspectos
legais e morais. Como é sabido, matar alguém no Brasil não se é condenado à morte,
mas, segundo o CP, art. 121, a pena pode variar de 6 a 20 anos de reclusão. Esse ponto
de vista de que o caso não exige uma maior interpretação é demasiadamente legalista,
já que, como já foi amplamente discutido, trata-se de um caso de exceção, em que
visões diametralmente opostas, e fundamentadas, são confrontadas.           
            O direito não pode se abster, de forma total, da moral, da ética, da política, do
senso comum. O sistema jurídico é produto do meio social e deste sofre influências,
logo, não deve se isolar dos fatos e valores. A lei não pode ser vista de forma
dogmática, como uma emanação divina, já que o legislador, ao criá-la, não pode prever
todos os casos possíveis, além de, muitas vezes, atender aos anseios da classe
dominante, sendo injusto e lacunoso.
            Keen volta a criticar o seu colega Foster ao afirmar que ele é um “juiz do século
quarenta”, período em que os juízes efetivamente legislavam, e busca, incessantemente,
lacunas na lei. Essa separação rigorosa de poderes foi amplamente evidenciada na
Escola da Exegese, corrente que emergiu no século XIX, em torno do Código Civil
Napoleônico. Perelmen apud Borges (2004) afirma que “o poder de julgar será apenas o
de aplicar o texto da lei às situações particulares, graças a uma dedução correta e sem
recorrer a interpretações que poderiam deformar a vontade do legislador”. No entanto,
interpretar a lei ou mesmo agir contra ela (contra legem), não significa legislar, nem
utilizar atos arbitrários. Nader (2005, p. 172) destaca que “a contra legem [...] é prática
não admitida no plano teórico, contudo, é aplicada e surge quase sempre em face de
leis anacrônicas e injustas”. Sobre o papel de “legislador”, Cruet apud Nader (2005,
p.177) diz que o papel particular do direito consiste em condicionar e colaborar e não
agir de forma livre e arbitrária.
                      Em relação à legítima defesa, frisada nos raciocínios de Foster e Tatting, o
presente juiz afirma que não se enquadra ao caso, visto que Whetmore não fez
nenhuma ameaça contra a vida dos réus. A condição extrema a que os exploradores
estavam expostos não era uma séria ameaça à vida dos cinco? A falta de alimentos, a
desesperança, a solidão, o desgaste físico e psicológico, todos esses fatores foram
cruciais na ameaça às suas vidas.
                      A opinião pública também é objeto de argumentação na fala do magistrado.
Segundo ele, os tribunais devem estar isentos de proferir sentenças de cunho popular.
Esse argumento é parcialmente verdadeiro. É inegável que o Judiciário deva proferir
decisões de maneira racional, sem se deixar levar pelo clamor da população. Não
obstante, esse Poder não deve isolar-se a si mesmo, servindo de instrumento de
adaptação social. Em entrevista concedida ao canal Globo News, exibida em 18 de abril
de 2012, o atual presidente do Supremo Tribunal Federal disse que “não é que você seja
escravo, vassalo, refém da opinião pública. Se você abrir as janelas do direito para o
mundo circundante e vir como a vida do jurisdicionado se passa concretamente, você
passa a interpretar as normas jurídicas, no conteúdo factual, mais atualizadamente.”
 
1.5 Juiz Handy
 
                      O juiz Handy mostra-se como o mais sensato e equilibrado dos juízes, não
apresentando medidas tão extremadas e tendenciosas. No decorrer do seu discurso
acrescenta novas concepções, como a análise do contrato, o pensamento dialético e as
normas e princípios, além de se mostrar adepto da Escola do Direito Livre.
                      Posteriormente, ao afirmar que não se trata de teoria abstrata, mas realidade
humana, filia-se, de certa forma, ao realismo jurídico. Ao referir-se a essa teoria, critica
o normativismo e a abstratividade que lhe é imanente, como solução para o caso sub
judice. Salientando o contexto a que pertence o caso, alude ao fato, tão valorizado na
escola realista.
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 8/11
                      Outro ponto relevante levantado no discurso do juiz é acerca das regras e
princípios. De forma geral, a regra é objetiva e pretende garantir segurança ao sistema.
Os princípios, por sua vez, exercem função interpretativa, utilizando critérios de
equidade. Esses, portanto, seriam os mais adequados ao caso dos exploradores de
caverna, já que se apresentam mais maleáveis e com caráter axiológico. A própria
legislação brasileira resguarda que, na ausência da lei, deve-se observar a analogia, os
bons costumes e os princípios gerais do direito.
            Ao se mostrar favorável à opinião pública, o juiz Handy aborda o mesmoponto
tratado por Kenn, só que sob um ponto de vista diametralmente oposto. Essa posição é
defendida no Direito Livre, que preza pela influência social no Judiciário, além da
negação das leis, quando estas se mostrarem injustas. Ao considerar o clamor das ruas,
o presente magistrado não mantém imparcialidade, essa tão prezada pelo vulto do
Direito, Hans Kelsen. Em sua Teoria Pura do Direito, o jurista austríaco quis isolar o
direito das outras ciências, inclusive dos fatos e valores. A opinião pública, de fato,
expressa o senso comum, que por vezes é superficial e tendenciosa. A mídia é, ao
mesmo tempo, influente e representante dessa opinião, o que corrobora a grande
quantidade de adeptos. Todavia, como já foi exposto, a Justiça não deve se isolar dos
acontecimentos sociais, baseando-se nos costumes.
                      Ulteriormente, alude aos casos em que o réu pode escapar da punibilidade:
decisão do representante do Ministério Público, não instaurando o processo; uma
absolvição pelo júri; indulto ou comutação da pena pelo Poder Executivo. A partir
desses excludentes, destaca que essa estrutura rigorosa não deve ser seguida
estritamente no caso em questão. Estende a crítica ao júri, que, para ele, não deveria ter
se limitado à letra da lei, julgando o acontecido sob todos os seus aspectos. No Brasil, o
Tribunal do Júri é composto por sete juízes leigos, escolhidos por sorteio, e um
presidente. Geralmente, a Vara do Tribunal do Júri envia ofícios a empresas e
instituições públicas e privadas, solicitando a indicação de profissionais de idoneidade
comprovada. Quem tem interesse em compor o corpo de jurados, também pode se
inscrever. Dos nomes listados, 25 serão sorteados e, pouco antes do julgamento,
sorteiam-se sete. Durante o período, os jurados não podem manter contato com outras
pessoas, não podem assistir à televisão, internet e afins, ou seja, sob hipótese alguma
terão sua decisão influenciada por fatores externos. Eles, portanto, julgam de acordo
com preceitos individuais, baseados, quase que inteiramente, na moral. O tribunal do
júri citado no livro, pelo que se pode depreender, é legalista, desconsiderando a
atmosfera circundante. O advogado porta-voz do júri teve um papel crucial nessa
decisão, já que seus naturais conhecimentos legais influenciaram o corpo de jurados.
                      Handy argumenta, também, acerca da informação extraoficial que possui do
Presidente, que se mostra rígido e contrário à opinião pública. É louvável a próxima
posição tomada pelo magistrado, que propõe a reunião do Judiciário com o Executivo.
O encontro serviria tanto pra se chegar a um denominador comum, como também
aproximar os poderes, naturalmente, tão afastados. A rígida separação de poderes,
proposta há três séculos por Montesquieu, apesar de garantir segurança e evitar
abusos, nem sempre deve ser seguida de maneira inexorável. O debate é algo
pertinente em situações complexas, a dialética, por contrapor ideias (tese e antítese),
tende à síntese, “hegeliamente” falando. No entanto, essa postura, timidamente exposta
pelo juiz, esbarra no conservadorismo de seus colegas de toga.
            O magistrado conclui, de maneira magnífica, que aqueles homens sofreram mais
tormentos e humilhações que a maioria das pessoas não aguentaria em mil anos. Essa
posição final confirma todo o seu discurso, que tem por base a equidade e o bom senso.
           
           
           
           
           
 
14/03/2018 Uma análise crítica da obra "O caso dos exploradores de cavernas", de Lon L. Fuller - Átala Vieira Soares - JurisWay
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11124 9/11
           
           
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO
            O caso apresentado na emblemática obra “O caso dos exploradores de cavernas”
é denso e complexo. Trata-se de um confronto não apenas no âmbito causal, mas na
própria lei. Caracteriza-se, portanto, como um hard case.
            Hard cases consistem em situações que não apresentam apenas uma solução, em
que a lei se mostra escassa ou lacunosa perante o fato concreto. Diferem-se dos easy
cases, que se evidenciam pela máxima do normativismo jurídico “se A é, B deve ser,
sob pena de S”. Ronald Dworkin, jurista norte-americano, propôs a teoria das regras e
princípios. Situações complexas, por insuficiência das regras, seriam solucionadas
consoante princípios de direito, salientando que não corresponderia a
discricionariedade dos juízes.
                      Sob o ponto de vista do ordenamento jurídico brasileiro, limitando-se à
subsunção, provavelmente, os réus não seriam condenados, visto que estavam
inseridos no estado de necessidade, em que há exclusão de ilicitude. Há a inserção
nesse excludente, a saber: havia perigo iminente; a situação era natural, não forjada por
nenhuma das partes; a preservação de um bem dependia da destruição dos demais, no
caso, a vida dos exploradores; os agentes precisaram decidir, baseados no senso
comum, o que seria salvo. Apesar dos contra argumentos, já expostos no presente
trabalho, essa solução seria a mais prudente.
                      É mister afirmar que, não obstante os preceitos legais, a solução viria da
harmonia e do siso. Não proviria de posições radicais, como a do Juiz Foster, que se
mostrou tendencioso ao jusnaturalismo, e o Juiz Keen, que baseou seu discurso no
dogma do positivismo. O desfecho também não poderia furtar-se da decisão, como o
fez o Juiz Tatting. Tampouco, conceder o caráter decisório ao chefe do poder executivo.
O Juiz Handy, portanto, é o que mais se aproxima da argumentação e decisão acertada,
já que se norteia por princípios nobres de equanimidade.
                     Por fim, é essencial frisar que o debate não está esgotado, havendo inúmeras
possibilidades de interpretação e extensão. No entanto, um preceito atemporal deve
orientar todos que ousem analisar ou julgar situações semelhantes: a justiça.
 
REFERÊNCIAS
 
FULLER, Lon L. O Caso dos Exploradores de Cavernas. Tradução do original inglês e
introdução por Plauto Faraco de Azevedo. 10ª reimpressão – Porto Alegre: Fabris, 1999.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 6 ed. - São Paulo : Martins Fontes, 1998.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34 ed. – São Paulo:
Malheiros, 2011.
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 23 ed. – São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1995.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 25 ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2005.

Continue navegando