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OS CARTÓRIOS NO AUXÍLIO DA DESPROCESSUALIZAÇÃO E DO ACESSO À JUSTIÇA

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OS CARTÓRIOS NO AUXÍLIO DA DESPROCESSUALIZAÇÃO E DO 
ACESSO À JUSTIÇA 
 
 
 
MARQUES, Amanda Paggi 1 
 
 
1. Do acesso à justiça: 
 
O acesso à justiça no ordenamento jurídico brasileiro está fortemente 
amparado pela lei e doutrina, tanto como princípio constitucional (art. 5º, XXXV, 
CF/88)2, como princípio do processo civil (Art. 3º, caput, CPC/2015)3. 
No âmbito do direito constitucional, bem como do processo civil, o 
mencionado princípio também é tratado como da inafastabilidade da jurisdição 
ou como o livre acesso ao Judiciário. De tais nomenclaturas é possível denotar 
a presença do direito fundamental de ação e o direito de obter a devida resposta 
do Poder Judiciário quando dele demandado. Infere-se também o dever 
constitucional do Judiciário de apreciar todos os pedidos dirigidos a ele, não 
havendo a possibilidade de recusa ao oferecimento da prestação jurisdicional 
(GONÇALVES, 2017, p. 61). 
Porém, para se garantir o acesso à justiça, não se deve ficar adstrito a 
mera prestação jurisdicional. É necessário que sejam observados os obstáculos 
que impedem o alcance da materialidade deste direito e, após, que o Estado 
tome ações positivas em busca de sua efetividade. Isto por quê: 
 
O acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como o requisito 
fundamental — o mais básico dos direitos humanos — de um sistema 
jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas 
proclamar os direitos de todos. (CAPPELLETTI e GARTH, 2002, p.5) 
 
 
1 Acadêmica do sétimo período do curso de Direito da UNISEP (União de Ensino do 
Sudoeste do Paraná – FAED). E-mail: paggiamanda@hotmail.com. 
2 A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito. 
3 Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 
Alguns dos empecilhos ao acesso à justiça apontados por Cappelletti e 
Garth (2002) são as custas judiciais, o tempo (ou excesso deste) para receber 
uma prestação jurisdicional e a possibilidade que as partes têm de buscar essa 
prestação, seja por questões de recursos financeiros ou até mesmo o 
conhecimento de que determinada demanda pode ser levada ao Judiciário. A 
partir desses fatores, os autores concluem que “os obstáculos criados por nossos 
sistemas jurídicos são mais pronunciados para as pequenas causas e para os 
autores individuais, especialmente os pobres”. (CAPPELLETTI e GARTH, 2002, 
p. 11) 
Em vistas disso, algumas medidas vendo sendo tomadas visando 
alcançar a efetividade do acesso à justiça, como por exemplo a Lei 9.099/95, a 
qual instituiu os Juizados Especiais, o estimulo por parte da lei (art. 3, § 3º, 
CPC/2015)4 para a solução consensual de conflitos e a desjudicialização de 
alguns conflitos, normatizada pela Lei nº 11.441/2007, a qual trata do inventário, 
partilha, divórcio e separação consensual. 
 
 
2. A desjudicialização e o tabelionato de notas: 
 
A desjudicialização pode ser compreendida como a possibilidade da 
solução de conflitos que não pela via judicial, ou seja, é dada uma opção ao 
cidadão para que escolha a melhor maneira de dirimir seu litígio, seja judicial, 
seja extrajudicial. (RIBEIRO, 2013) 
Corroborando com tal ideia, entre outros casos, há a Lei nº 11.441/2007, 
a qual trata da possibilidade da realização do inventário, partilha, separação 
consensual e divórcio consensual pela via administrativa. 
Por óbvio, alguns requisitos são necessários para que esse procedimento 
seja adotado, como por exemplo a capacidade das partes, o consenso entre elas 
e a representação por advogado, seja ele comum entre as partes ou não, 
conforme alterações no Código de Processo Civil realizadas pela Lei nº 
11.441/2007. 
 
4 A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos 
deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério 
Público, inclusive no curso do processo judicial. 
A competência para realizar os atos supracitados foi delegada ao tabelião 
do Tabelionato de Notas, o qual reduzirá a termo o consenso das partes e lavrará 
escritura pública, constituindo esta título hábil para qualquer ato de registro (art. 
610, § 1º, CPC/20155, bem como art. 733, § 1º do mesmo código6). 
De acordo com Onaldo Rocha Queiroz (2012), em seu livro ‘A 
desjudicialização dos Litígios’, a Lei nº 11.441/2007 possibilitou a simplificação 
de alguns procedimentos, através de sua realização no tabelionato de notas, o 
que gerou celeridade para as partes, objetivo central da lei. Como consequência 
indireta, por ser uma alternativa de mais fácil acesso, a mencionada lei 
possibilitou a desobstrução do Judiciário, permitindo que a atenção se volte para 
os casos mais complicados. 
 
 
3. Considerações finais: 
 
Mediante o exposto, percebe-se que a morosidade e a dificuldade de 
acesso ao Judiciário são supridas pela possibilidade de resolução extrajudicial 
dos conflitos, através da simplificação do procedimento nos cartórios. 
Assim, mesmo que a solução venha de maneira extrajudicial, deve-se 
primar pela efetividade do direito à prestação jurisdicional, nesse caso delegada 
ao tabelionato de notas. 
 
 
4. Referências bibliográficas: 
 
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: 
[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm]. 
Acesso em: 20/03/2018 . 
 
BRASIL. Lei nº 11.441 de 4 de janeiro de 2007. Disponível em: 
[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm]. 
Acesso em: 21/03/2018. 
 
5 Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por 
escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como 
para levantamento de importância depositada em instituições financeiras. 
6 A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer 
ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições 
financeiras. 
 
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105 de 16 de março de 2015. 
Disponível em: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm]. Acesso em: 21/03/2018. 
 
CAPPELLETTI , M.; GARTH, B. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Sergio 
Antonio Fabris Editor, 2002. 
 
GONÇALVES, M. V. R. Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo: 
Saraiva Jur, 2017. 
 
RIBEIRO, D. V. H. Judicialização e desjudicialização. Revista de Informação 
Legislativa, Brasília. V. 50, n 199, p. 25 – 33, jul/set 2013. 
 
QUEIROGA, O. R. de. Desjudicialização dos Litígios. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2012.

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