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O novo CPC e a tutela jurisdicional executiva (parte 2 – continuação)

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13/07/2017 Envio | Revista dos Tribunais
http://revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/38
 O novo CPC e a tutela jurisdicional executiva (parte 2 - continuação) 
O NOVO CPC E A TUTELA JURISDICIONAL EXECUTIVA (PARTE 2 -
CONTINUAÇÃO)
New CPC and the judicial enforcement (part 2 - continued)
Revista de Processo | vol. 245/2015 | p. 151 - 222 | Jul / 2015
DTR\2015\11007
Marcelo Abelha Rodrigues
Doutor e Mestre em Direito pela PUC-SP. Professor Associado do Mestrado e da Graduação da UFES.
Advogado. marceloabelha@cjar.com.br
 
Área do Direito: Processual
Resumo: O presente artigo tem uma motivação, um enredo e um fim que podem ser intuídos a partir
do seu título "O novo CPC e a tutela jurisdicional executiva". A motivação nasce do novo Código de
Processo Civil instituído com a Lei 13.105/2015, e, não por acaso vários têm sido os conclaves e
encontros para debater o projeto e agora o Novo Código. Ainda que o prazo previsto de vacatio legis
seja de um ano, é salutar antecipar discussões e problemas atinentes ao eventual "novo diploma". O
enredo deste ensaio é voltado à análise panorâmica dos dispositivos processuais referentes à tutela
executiva, ou seja, às técnicas processuais executivas, em especial a partir de um método comparativo
com o que existe sobre o tema no Código vigente. Há, decerto, uma parte inicial e introdutória que
enfrenta os problemas, razões e expectativas de um novo Código de Processo Civil, mas sem que essa
seja a tônica ou que dê densidade ao principal enredo do texto. A finalidade do artigo é levar ao
contraditório e reflexão da comunidade jurídica alguns problemas e virtudes que, ao nosso sentir,
deverão ser enfrentados no futuro caso o texto em trâmite seja aprovado como se apresenta, sempre
sob o enfoque da atividade executiva.
 
Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil - Tutela executiva.
Abstract: The present article has a motivation, a plot and a purpose that are seen from its title "The
new CPC and the executive judicial protection". The motivation comes from the real possibility that in a
short time we will have a new civil procedure code, as been said in the political and legal environment,
and, not by chance several conclaves and encounters have occurred to debate the New Code. Even
though the deadline of vacatio legis is set down to one year, it is good to anticipate discussions and
issues concerning the possible "new diploma". The plot of this rehearsal is focused on a panoramic
analysis of procedural standards regarding executive protection, among them, executive procedural
techniques, particularly from a comparative method with what exists on the topic in the Current Code.
There is, certainly, an initial and introductory part facing the problems, reasons and expectations of a
new civil procedure code, but not meaning this is the theme or to give density to the main plot of the
text. The purpose of the article is to be a lead to a discussion and a reflection by legal community about
problems and virtues that, to our feeling, should be faced in the future if the selected text for the new
code is approved as presented, always under the focus of executive activity.
 
Keywords: New Procedure Code - Executive judicial protection.
Sumário:
 
- 20.Alterações referentes ao processo de execução: as disposições gerais e a mão dupla entre o
cumprimento de sentença e o processo de execução - 21.Dever de colaboração - 22.Das diversas
espécies de execução - 23.Execução para a entrega de coisa certa – A necessidade de sistematização -
24.Execução para a entrega de coisa incerta - 25.Execução das obrigações de fazer e não fazer:
decepção no NCPC (Lei 13.105/2015) - 26.Execução para pagamento de quantia contra devedor
solvente - 27.Da execução de alimentos - 28.Embargos à execução - 29.Da suspensão do processo de
execução - 30.Da extinção do processo de execução
 
Recebido em: 18.03.2015
Aprovado em: 02.06.2015
20. Alterações referentes ao processo de execução: as disposições gerais e a mão dupla
entre o cumprimento de sentença e o processo de execução
Por mais incrível que possa parecer as “disposições gerais do processo de execução” no CPC/1973 estão
localizadas apenas no quinto capítulo do título “execução em geral”. Antes, tem-se o capítulo que cuida
das partes, outro da competência, outro dos requisitos necessários para realizar qualquer execução e,
ainda, o quarto capítulo, que cuida da responsabilidade patrimonial. Apenas depois destes todos é que
se têm as “disposições gerais da execução”. O NCPC (Lei 13.105/2015) corrigiu este equívoco de
13/07/2017 Envio | Revista dos Tribunais
http://revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/38
organização, trazendo para o primeiro capítulo do título “execução em geral” as suas disposições gerais,
porém mantendo os demais tópicos sob este mesmo título. Assim, apenas inverteu do quinto para o
primeiro o capítulo das disposições gerais, renumerando-se os demais (partes, competência, requisitos
necessários para realizar qualquer execução e responsabilidade patrimonial).
É de se dizer que esta reorganização de matérias foi uma preocupação constante do NCPC (Lei 13.105/
2015), atento à necessidade de simplificação, inclusive para o operador do Código, tornando mais fácil
e lógica a disposição dos temas. Um estudo ou leitura mais aprofundada do NCPC mostrará que o
legislador teve uma preocupação muito grande com a sistematização, conceituação, e organização dos
institutos.
Já dissemos ao tratar do cumprimento de sentença, e, repetimos agora, que o NCPC (Lei 13.105/2015)
fez questão de reproduzir os arts. 475-R e 598, ambos do CPC/1973, ou seja, manteve a regra da mão
dupla entre as regras do cumprimento de sentença com o processo de execução. Assim, o primeiro
dispositivo do Processo de Execução é justamente o art. 771 que assim diz:
“Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas
disposições aplicam-se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos
executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou
fatos processuais a que a lei atribuir força executiva.
Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do Livro I da Parte Especial.”
A regra da relação umbilical entre os diplomas (cumprimento de sentença e processo de execução) é
mais do que uma faculdade ou opção do legislador, mas uma necessidade, pois em ambos há lacunas
que só o outro pode suprir com previsibilidade e segurança.
Outra observação é que não há apenas uma ponte de ida e volta entre o cumprimento de sentença e o
processo de execução. As regras do art. 513 e ss. e as regras do art. 771 e ss. também se aplicam aos
efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva, como, por exemplo, as técnicas
processuais que impõem o dever de colaboração do terceiro em relação a qualquer processo (art. 380,
parágrafo único).
21. Dever de colaboração
O princípio da cooperação e a necessidade de se estabelecer um processo ético para os sujeitos do
processo, foi um dos postulados máximos determinado pelo NCPC (Lei 13.105/2015), tal como se
observa nos seus arts. 5.º e 6.º:
“Art. 5.º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-
fé.
Art. 6.º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.”
A necessidade de cooperação e respeito aos deveres de lealdade processual mostram-se ainda mais
sensíveis na tutela jurisdicional executiva, onde há um sujeito com um direito pré-reconhecido no título,
exequente, e, de outro lado, alguém que se submete à tutela e aos atos executivos independentemente
da sua vontade, que é o executado. Portanto, a execução é o habitat natural para que tais princípios
sejam “descumpridos e violados”, em especial por aquele que pretendeesquivar-se de submeter-se aos
atos de coerção e subrogação.
Por isso, o NCPC (Lei 13.105/2015) deu tratamento destacado ao tema. Assim, além das regras gerais
do art. 77 do CPC/2015 e ss. que se aplicam a qualquer tipo de processo e procedimento, há ainda
estas regras especiais que tratam do dever de colaboração do terceiro e do dever de cooperação entre
as partes, reputando como ato de indignidade da justiça aqueles que estão listados no art. 774 do CPC/
2015.
Assim, segundo o inc. III do art. 772 do CPC/2015 tem-se que:
“Art. 772. O juiz pode, em qualquer momento do processo: (…)
III – determinar que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações em geral relacionadas ao
objeto da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu poder, assinando-lhes prazo
razoável.”
E, para efetivar a regra acima contida previu o art. 773 do CPC/2015 que:
“Art. 773. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias ao
cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados.
Parágrafo único. Quando, em decorrência do disposto neste artigo, o juízo receber dados sigilosos para
os fins da execução, o juiz adotará as medidas necessárias para assegurar a confidencialidade.”
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De outro lado, o legislador também tratou dos “atos atentatórios à dignidade da justiça” que no CPC/
1973 estavam no art. 600 e que agora estão no art. 774 do CPC/2015.
O primeiro aspecto digno de nota é que também condutas omissivas são atentatórias à dignidade da
justiça. Não constava esta previsão no caput do art. 600 do CPC/1973. Assim, frise-se, tanto as
condutas comissivas quanto as omissivas praticadas pelo executado podem ser atentatórias à dignidade
da justiça.
E, assim, acrescentou novas hipóteses de tipos atentatórios à dignidade da justiça, e, em especial “as
condutas que dificultam ou embaraçam a realização da penhora”, que, como todos sabem, é ato que
individualiza o bem do patrimônio do executado sujeitando-o à expropriação. Além desta novidade,
ampliou a hipótese do inc. IV do art. 600 do CPC/1973, que agora está no inc. V do art. 774 do CPC/
2015, ao dizer que atenta contra a dignidade da justiça o ato do devedor que, intimado pelo juiz, não
exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Eis o dispositivo:
“Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do
executado que:
I – frauda a execução;
II – se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos;
III – dificulta ou embaraça a realização da penhora;
IV – resiste injustificadamente às ordens judiciais;
V – intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos
valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus.
Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a vinte
por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente,
exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou
material.”
Por fim, lembrou o NCPC (Lei 13.105/2015) das hipóteses em que o devedor cria embaraços
processuais para impedir ou dificultar a realização do leilão judicial. Tal hipótese foi lembrada no art.
903, § 6.º, do CPC/2015, e foi considerada também atentatória à dignidade da justiça, in verbis:
“Art. 903. (…)
§ 6.º Considera-se ato atentatório à dignidade da justiça a suscitação infundada de vício com o objetivo
de ensejar a desistência do arrematante, devendo o suscitante ser condenado, sem prejuízo da
responsabilidade por perdas e danos, ao pagamento de multa, a ser fixada pelo juiz e devida ao
exequente, em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do bem.”
21.1 Multa pelo ato atentatório à dignidade da justiça
O parágrafo único do art. 774 do CPC/2015, trata da sanção a ser imposta ao devedor pelo ato
atentatório à dignidade da justiça. A prática de alguns dos atos listados no rol do art. 774 implica a
incidência em sanção descrita no parágrafo único do próprio art. 774 do CPC/2015.
Aqui o legislador perdeu uma grande oportunidade de dar um tratamento adequado ao tema. Isso
porque a despeito do percentual da multa ser adequado (20% do valor atualizado da execução) há dois
aspectos importantes: o primeiro, de que o valor da multa destina-se ao exequente, e o segundo, de
que a multa é aplicada sem prejuízo de outras sanções materiais e processuais.
Ora, é incompreensível que o destino da multa seja revertido ao exequente, pois tratando-se de medida
punitiva contra ato atentatório à dignidade da justiça o bem jurídico violado diretamente pela conduta
ímproba do executado é o poder estatal. Aliás, semelhante hipótese descrita no art. 77, IV, do CPC/
2015 (cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza antecipada ou final, e não criar
embaraços a sua efetivação), que também é tida como atentatória à dignidade da justiça, por expressa
dicção dos §§ 1.º e 2.º do art. 77 do NCPC (Lei 13.105/2015), destinam-se aos cofres públicos.
Portanto, há uma contradição lógica entre os dispositivos que poderia ter sido sanada pelo legislador.
Outro aspecto que deixou a desejar o legislador diz respeito ao fato de que manteve a redação do caput
do art. 601 do CPC/1973 ao mencionar que a imposição da referida multa não inibe outras sanções de
natureza processual ou material. Ora, que sanções processuais são estas? Seria, por exemplo, a
proibição de falar nos autos, descrita no art. 77, § 7.º, do CPC/2015 afinal de contas muitas destas
condutas implicam em alteração ilícita de situação de fato, num típico caso de atentado processual.
21.2 A cobrança da multa por ato atentatório à dignidade da justiça
“Art. 777. A cobrança de multas ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de prática de
ato atentatório à dignidade da justiça será promovida nos próprios autos do processo.”
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Foi mantida a regra de a cobrança desta multa deve ser feita nos próprios autos do processo de
execução. Trata-se de título executivo judicial, submetendo-se ao mesmo regime executivo desta
modalidade de título. Seria, pois, um atípico caso de cumprimento de “sentença” nos autos de um
processo de execução.
21.3 O fim do perdão ao ato atentatório à dignidade da justiça e o privatismo da tutela
executiva
O art. 601, parágrafo único, do CPC/1973 previa a seguinte possibilidade: “o juiz relevará a pena, se o
devedor se comprometer a não mais praticar qualquer dos atos definidos no artigo antecedente e der
fiador idôneo, que responda ao credor pela dívida principal, juros, despesas e honorários advocatícios”.
O dispositivo acima foi extirpado do NCPC (Lei 13.105/2015), e o fez em boa hora, já que tem um perfil
extremamente paternalista e trata o devedor como um sujeito mimado e sem responsabilidade sobre
sua conduta.
Aliás, sobre este tema era preciso que o legislador avançasse mais, que tratasse a tutela satisfativa
sobre uma perspectiva pública, onde a entrega da tutela fosse um dever do Estado e inúmeros atos
nem precisariam ser requeridos pelo exequente, como o pedido de protesto da sentença transitada em
julgado, ou o pedido de início da execução, ou ainda o pedido de penhora on-line de dinheiro. Ora, nada
disso deveria estar submetido ao princípio dispositivo, posto que estaria no fim mesmo da realização da
tutela executiva. E mais, para o devedor oferecer qualquer defesa deveria juntar sua declaração de
bens entregue anualmente à Receita Federal devidamente atualizada. Enfim, soluções simples que
buscam um processo mais efetivo, cooperativo e ético.
21.4 A desistência da execução
No tocante à desistência da execução o legislador mantevea regra estabelecida no art. 569 do CPC/
1973 com um pequeno acréscimo. É que as duas formas comuns de o executado opor-se à execução
são os embargos e a impugnação, respectivamente no processo de execução e no cumprimento de
sentença. Assim, o novo art. 775 do CPC/2015 acrescenta a impugnação do executado, colocando-a no
mesmo patamar dos embargos do executado, ao dizer que num e noutro caso, se houver defesa de
mérito, a desistência dependerá de concordância do embargante e também do impugnante.
“Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida
executiva.
Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte:
I – serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais,
pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios;
II – nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante.”
21.5 A execução injusta
A regra da execução injusta foi mantida no título da “execução em geral”, porém corretamente
reajustada para o capítulo das disposições gerais, pois era inadequada a sua localização no capítulo
“das partes” na execução (art. 574 do CPC/1973).
No NCPC (Lei 13.105/2015) o texto é o mesmo do texto anterior, in verbis:
“Art. 776. O exequente ressarcirá ao executado os danos que este sofreu, quando a sentença,
transitada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução.”
É de se lembrar que a “sentença” ali mencionada referia-se à decisão final nos embargos do executado,
que, na versão original do CPC/1973, era o único meio de defesa do executado. Atualmente, deve-se
entender o vocábulo como representativo de qualquer decisão definitiva, seja em oposição do
executado (impugnação ou embargos) ou em ação autônoma como ação declaratória de inexistência de
dívida, desde que, neste incidente ou demanda cognitiva, se reconheça como inexistente, no todo ou
em parte, a obrigação que ensejou a execução.
21.6 As partes na execução
Afora as mudanças referentes à melhoria na redação do texto legal, destaca-se a inclusão do § 2.º do
art. 778 do CPC/2015 que trata da sucessão processual da legitimidade ativa no processo de execução.
Segundo este dispositivo, que não tem correspondente no CPC/1973, tem-se que o cessionário é parte
legítima para a execução (quando o direito resultante do título executivo lhe foi transferido por ato
entre vivos), independentemente de consentimento do executado. O NCPC (Lei 13.105/2015)
consagrou, portanto, a orientação pacífica do STJ (v.g. REsp 1.414.986), que difere da regra de
sucessão inter vivos no processo de conhecimento.
21.7 Cumulação de execuções
A regra da possibilidade de o exequente cumular várias execuções contra o mesmo executado foi
corretamente mantida no capítulo das “partes” na execução, mas a sua redação foi melhorada, o que é
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sempre louvável, sem contudo alterar a sua substância (art. 780 do NCPC – Lei 13.105/2015).
Isso quer dizer que os requisitos para a cumulação da execução continuam os mesmos: mesmo
executado, mesma competência e adequação do procedimento, seguindo a regra, portanto, da
cumulação de qualquer demanda. A única alteração foi trocar a expressão “idêntica forma do processo”
por “idêntico o procedimento”, que é mais adequado tecnicamente.
21.8 Competência
Na redação original do CPC/1973 o tema da competência na execução foi reservado para o art. 575 do
CPC/1973, tratando-se, em sua redação original, de execução de título judicial, e para o art. 781 do
CPC/2015, tratando-se de título extrajudicial.
Após tantas reformas e enxertos legislativos, mormente as últimas alterações promovidas pelas Leis
11.232/2005 e 11.383/2006, a execução fundada em título executivo judicial foi deslocada para o Livro
I (do processo de conhecimento), tendo em vista o reconhecimento formal do sincretismo processual.
Esse deslocamento de temas fez com que o art. 475 do CPC/1973 ganhasse uma série de letras,
justamente para hospedar os dispositivos referentes à execução de títulos judiciais que não fazia
sentido permanecerem mais no Livro II do CPC (do processo de execução).
Entretanto, ao fazer o “recorta” e “cola”, transferindo do Livro II os dispositivos de execução de título
judicial para o Livro I o legislador simplesmente esqueceu-se de eliminar o art. 575 do CPC/1973, uma
vez que tratou da competência para a execução de título judicial no art. 475-P do CPC/1973. Assim, o
art. 575 do CPC/1973 restou perdido, revogado tacitamente, mas ainda ocupando um espaço no Livro
II do CPC/1973.
Essa foi, portanto, a primeira alteração perpetrada pelo NCPC (Lei 13.105/2015) que não estabeleceu
qualquer norma correspondente ao art. 575 do CPC/1973, posto que a matéria da competência para
execução de títulos judiciais (cumprimento de sentença) já estava descrita no Livro do processo de
conhecimento e agora, no NCPC (Lei 13.105/2015) passou a ocupar o art. 516, cujas inovações já
comentamos alhures na primeira parte deste ensaio.
No CPC/1973 a competência para a execução fundada em título extrajudicial foi tratada no art. 576, in
verbis:
“Art. 576. A execução, fundada em título extrajudicial, será processada perante o juízo competente, na
conformidade do disposto no Livro I, Título IV, Capítulos II e III.”
Como se observa no texto acima, a opção do legislador foi de remeter a regra da competência para o
sistema geral da competência territorial tratada no Livro I do CPC/1973. Já no NCPC (Lei 13.105/2015),
ainda que tenha adotado a regra da competência territorial, fez questão de apontar de forma mais
minudente os critérios especiais de sua determinação.
Segundo o art. 781 do CPC/2015:
“Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será processada perante o juízo competente,
observando-se o seguinte:
I – a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título
ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos;
II – tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles;
III – sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar
onde for encontrado ou no foro de domicílio do exequente;
IV – havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de
qualquer deles, à escolha do exequente;
V – a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o
fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o executado.”
Como se verá em seguida, a regra adotada é a da competência territorial (ratione loci), adotando como
premissa geral o domicílio do executado. É o que se observa nos incs. II, III, III e IV.
No inciso primeiro, tem-se o foro de eleição e o foro rei sitae que são formas especiais de determinação
da competência territorial e não adotam a regra geral do domicílio do devedor.
No inciso segundo, tem-se a regra da competência territorial concorrente, para os casos em que o
devedor tem mais de um domicílio, podendo o exequente propor a execução em qualquer um deles.
No inciso terceiro, hipótese em que não tendo domicílio o executado, considera-se competente o local
onde for encontrado, casos comuns em que o devedor trabalha em vários locais diferentes.
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No inciso quarto, mais um caso de competência concorrente, não propriamente porque o mesmo
devedor tem mais de um domicílio, tal como tratado no inc. II, mas sim porque aqui são vários
devedores, e, possuindo cada um domicílio diferente, então poderá o exequente propor em qualquer
um deles.
Por sua vez o inciso quinto também trata da competência territorial, mas se afasta da regra especial do
domicílio do devedor(es), permitindo que oexequente instaure o processo executivo no foro do lugar
em que se praticou o ato ou ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida
o executado.
21.9 Oficiais de justiça, as ordens da execução e a inscrição do devedor nos cadastros de
inadimplentes
O art. 577 do CPC/1973 prescreve que:
“Art. 577. Não dispondo a lei de modo diverso, o juiz determinará os atos executivos e os oficiais de
justiça os cumprirão.”
O dispositivo do NCPC (Lei 13.105/2015) a este correspondente é o art. 782 do CPC/2015, in verbis:
“Art. 782. Não dispondo a lei de modo diverso, o juiz determinará os atos executivos, e o oficial de
justiça os cumprirá.
§ 1.º O oficial de justiça poderá cumprir os atos executivos determinados pelo juiz também nas
comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana.
§ 2.º Sempre que, para efetivar a execução, for necessário o emprego de força policial, o juiz a
requisitará.
§ 3.º A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros
de inadimplentes.
§ 4.º A inscrição será cancelada imediatamente se for efetuado o pagamento, se for garantida a
execução ou se a execução for extinta por qualquer outro motivo.
§ 5.º O disposto nos §§ 3.º e 4.º aplica-se à execução definitiva de título judicial.”
Os dois primeiros parágrafos estão diretamente relacionados com o caput do dispositivo, ou seja,
referem-se a minúcias atinentes ao cumprimento das ordens judiciais para a realização dos atos
executivos, frisando o legislador que ao realizar o seu mister o oficial de justiça poderá ser apoiado por
força policial por determinação do juiz, e que, se o ato que deve cumprir realizar-se em comarca
contígua ou em região metropolitana, ele deve assim proceder.
Já os §§ 3.º ao 5.º, concessa maxima venia, estão inseridos em local inadequado no NCPC (Lei 13.105/
2015), porque de competência não se trata. A rigor, seria coerente que o legislador tratasse a medida
coercitiva mencionada junto com o tema do protesto judicial da sentença transitada em julgado ou nas
disposições gerais do processo de execução.
A medida de incluir o nome do executado no cadastro de inadimplentes é excelente e faz parte de um
arsenal de medidas que visam imprimir efetividade à execução, evitando ser ela um ótimo esconderijo
para o executado.
Contudo, dois aspectos saltam aos olhos e precisam ser ditos: (a) a inscrição do devedor no cadastro
de inadimplentes depende de requerimento do exequente; (b) é preciso compatibilizar este dispositivo
com o que permite o protesto da decisão judicial transitada em julgado com força executiva.
Como já dissemos anteriormente, não nos parece que os atos executivos de coerção (como protesto e
inscrição no cadastro de inadimplentes) e alguns atos de subrogação (como a penhora on line de
dinheiro) tenham que depender de requerimento do exequente para que sejam efetivados. É que sendo
a entrega da tutela jurisdicional um dever estatal, bastaria a provocação inicial da prestação
jurisdicional para que tais atos fossem inerentes ao impulso judicial em prol da satisfação do direito
reconhecido no título executivo.
Em relação à segunda observação é de se dizer que a previsão da inscrição do devedor em cadastro de
inadimplentes além de estar inserida em local inapropriado, deveria estar em sintonia com a previsão
do protesto da decisão judicial com força executiva transitada em julgado (art. 517 do CPC/2015), pois
se em relação aos títulos judiciais o protesto (e em decorrência dele a inscrição do devedor em
cadastros de inadimplentes) só acontece após expirado o prazo do art. 523 do CPC/2015 sem o
adimplemento do executado, então, pensamos, a possibilidade de inscrever o devedor em cadastro de
inadimplentes deveria também só ser possível após decorrido o prazo fixado pelo juiz para o
adimplemento da obrigação contida no título extrajudicial (art. 827, § 1.º, do CPC/2015).
21.10 Dos requisitos necessários para realizar qualquer execução – Alteração no rol de
títulos executivos extrajudiciais
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O rol de títulos executivos extrajudiciais passou por ajustes e inovações. Mas antes vamos fazer a
comparação entre os dispositivos legais do CPC/1973 (art. 585) e do NCPC (Lei 13.105/2015) (art.
784):
“Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: (Redação dada pela Lei 5.925, de 01.10.1973)
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; (Redação dada pela Lei
8.953, de 13.12.1994)
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular
assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores; (Redação dada pela Lei 8.953, de
13.12.1994)
III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;
(Redação dada pela Lei 11.382, de 2006).
IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio; (Redação dada pela Lei 11.382, de 2006).
V – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos
acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; (Redação dada pela Lei 11.382, de 2006).
VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas,
emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial; (Redação dada pela Lei 11.382, de
2006).
VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; (Redação dada pela
Lei 11.382, de 2006).
VIII – todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. (Incluído
pela Lei 11.382, de 2006).
§ 1.º A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo não inibe o credor
de promover-lhe a execução. (Redação dada pela Lei 8.953, de 13.12.1994)
§ 2.º Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para serem executados, os títulos
executivos extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de
satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e indicar o Brasil
como o lugar de cumprimento da obrigação. (Redação dada pela Lei 5.925, de 01.10.1973).”
“Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III – o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas;
IV – o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por
tribunal;
V – o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele
garantido por caução;
VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de
encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
X – o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas
na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente
comprovadas;
XI – a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e
demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII – todos os demais títulos aos quais, por disposiçãoexpressa, a lei atribuir força executiva.
§ 1.º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor
de promover-lhe a execução.
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§ 2.º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação
para serem executados.
§ 3.º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação
exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de
cumprimento da obrigação.”
Dentre os reajustes destacam-se, por exemplo, o salutar loteamento do inc. II do art. 585 do CPC/1973
que concentra três tipos diferentes de títulos executivos extrajudiciais. O desmembramento deste
dispositivo deu origem a nada mais nada menos do que aos incs. II, III e IV do art. 784 do CPC/2015.
Foi corretamente eliminado, ou melhor, transferido para os títulos judiciais o “crédito de serventuário de
justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem
aprovados por decisão judicial”, simplesmente porque são rigorosamente títulos judiciais.
Ainda a título de reajuste, assim como fez com o inc. II do art. 585 do CPC/1973, o inc. III foi fatiado
em dois tipos diferentes de títulos executivos, porque, de fato, inexplicavelmente concentrava no
mesmo inciso dois tipos de títulos diferentes. Este inc. III deu origem aos incs. V e VI do art. 784 do
NCPC (Lei 13.105/2015). Aliás, e, em relação a este inciso cinco, merece ser comentado que o
legislador melhorou a redação ao acrescentar a expressão “em caso de morte”, pois o contrato de
seguro de vida, sem este acontecimento (morte) não é título que revela obrigação líquida, certa e
exigível.
A título de inovação dois foram os títulos executivos extrajudiciais que não constavam no rol do art.
585 do CPC/1973 e que agora ocupam a lista no art. 784, X e XI, do CPC/2015, que são: “o crédito
referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva
convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas” e “a
certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais
despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei”.
O primeiro destes títulos executivos põe uma pá de cal no assunto deixando claro que não só o locador,
munido de contrato escrito, possui título executivo extrajudicial para cobrança do locatário das
contribuições ordinárias e extraordinárias de condomínio edilício, mas também o próprio condomínio
poderá fazê-lo com base em documentos que comprovem que as referidas despesas estejam previstas
em convenção de condomínio ou aprovadas em assembleia geral.
Já o segundo título criado privilegia a fé pública dos serviços notariais relativamente a despesas que
venham a ter em favor de terceiros, desde que tais valores estejam previstos em lei.
21.11 Dos requisitos necessários para realizar qualquer execução – A possibilidade de
propor demanda cognitiva sendo titular de título executivo extrajudicial
Sempre foi dito nos bancos das faculdades que o credor que é titular de um título executivo
extrajudicial que nele revele uma obrigação líquida, certa e exigível não teria interesse processual em
instaurar uma demanda condenatória, justamente porque poderia obter, de forma mais rápida e célere
a satisfação do direito exequendo. Enfim, saltaria uma fase, a cognitiva, cujo contraditório prévio à
obtenção da sentença é obrigatório, ao passo que sendo portador do título extrajudicial o eventual
contraditório que lhe fosse oposto pelo devedor seria eventual e sem a força ex lege de impedir ou
suspender ou paralisar a atividade executiva.
Esta explicação foi colocada em cheque pelo NCPC (Lei 13.105/2015) ao afirmar no art. 785 do CPC/
2015 que:
“Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de
conhecimento, a fim de obter título executivo judicial.”
Este novo dispositivo mais parece o parágrafo único do art. 4.º do CPC de 1973 que à sua época, diante
da celeuma doutrinária envolvendo a ação condenatória e a ação declaratória trouxe o seguinte texto:
“Art. 4.º (…)
Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.”
Se do ponto de vista teórico este dispositivo de 1973 é um primor, do ponto de vista prático é de uma
inutilidade sem precedentes, afinal de contas tal afirmação não precisaria ser dita, e, mais ainda,
havendo a possibilidade de obter uma condenação, cuja declaração a fundamenta, quem irá propor
uma ação meramente declaratória? Ainda mais agora que a sentença declaratória também pode ser
título executivo.
Enfim, a comparação feita acima é para que se repense qual a utilidade deste art. 785 do CPC/2015.
Sinceramente, para que alguém irá propor uma ação condenatória ao invés de iniciar desde logo o
processo de execução? Mais custo, mais dinheiro, mais tempo de processo sem a satisfação do suposto
direito revelado no título executivo. Nem do ponto de vista do benefício jurídico alguém poderia invocar
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a escolha do art. 785 do CPC/2015, simplesmente porque se iniciado o processo de execução e o
devedor contra ele opuser-se mediante embargos do devedor, aí já estará instaurada a demanda
cognitiva para satisfazer o interesse do credor no sentido de ter segurança sobre o suposto direito
revelado no título.
Tal norma só faz colocar em cheque a eficácia abstrata do título executivo que está descrita no art.
585, § 1.º, do CPC/1973 e no art. 784, § 1.º, do CPC/2015, e que é fenômeno que é inerente ao título
executivo, seja ele judicial ou extrajudicial. Ora, se o título executivo judicial é menos vulnerável que o
título extrajudicial, justamente por ter passado pelo crivo do Judiciário, não nos parece que isso
justifique a opção do credor em propor a demanda cognitiva sendo ele portador de título executivo
extrajudicial, justamente porque em eventuais embargos do executado poderá obter a certeza sobre o
direito que então executa.
Também não nos parece que o dispositivo vem sacramentar a hipótese que muito vinha acontecendo na
prática – ajuizar ação condenatória mesmo sendo portador de título extrajudicial – porque esse fato era
uma verdadeira aberração e foi uma costura criada pelo operador do direito para driblar uma falha do
legislador que, v.g., não previa o mesmo arsenal de técnicas executivas e a atipicidade de meios para
os títulos extrajudiciais de obrigações de fazer e não fazer. Mas mesmo esse desvio, digamos assim, era
corrigido pela doutrina e jurisprudência mediante o empréstimo da técnica do art. 461 ao art. 632 e ss.
do CPC/1973.
21.12 Exigibilidade da obrigação ou inadimplemento do devedor? Ou ambos?
Dentre os requisitos necessários para realizar qualquer execução o CPC/1973 lista dois elementos
básicos: título executivo e inadimplemento do devedor.
Muito se dizia na doutrina que de fato o inadimplemento do devedor é fundamento lógico para dar-se
início a uma execução, haja vista que ninguém iria pleitear a tutela jurisdicional para obtenção de uma
obrigação que tenha sido adimplida. Logo, dizia-se com acerto que a afirmação do inadimplemento do
devedor é causa de pedir da execução, mas não que seja requisito que deva estar contido no título para
se dar início à execução. Contenta-se o sistema processual com a simples afirmação de que o devedor
é inadimplemente e por isso necessária a tutela jurisdicional executiva.
Inclusive, sob o manto do inadimplemento do devedor o legislador de 1973 coloca uma série de
dispositivos legais que não tratam propriamente de inadimplemento, mas sim de exigibilidade da
obrigação revelada no títuloexecutivo. E, entre exigibilidade e inadimplemento há uma diferença
gritante, pois o que é exigível não necessariamente foi inadimplido, embora o inadimplemento
pressuponha a exigibilidade. Exigibilidade é elemento da obrigação, e adimplemento é ato do devedor.
Assim, o legislador pretendeu corrigir o equívoco mencionado, mantendo os mesmos dispositivos, com
alguma melhora da redação, mas substituiu o título da seção: ao invés de ser inadimplemento do
devedor passou a ser exigibilidade da obrigação.
Contudo, no primeiro dispositivo desta seção ele tratou, nada mais nada menos, do inadimplemento!!
Veja o art. 786, caput, do CPC/2015, que assim diz:
“Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e
exigível consubstanciada em título executivo.”
Só que o parágrafo único do art. 786 do CPC/2015, bem como o art. 787 e 788 do CPC/2015 que
fecham esta seção cuidam, respectivamente, de liquidez, exigibilidade e exigibilidade (de novo) da
obrigação contida no título. Vejamos.
“Art. 786.(…)
Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não
retira a liquidez da obrigação constante do título. (liquidez!)
Art. 787. Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão mediante a contraprestação
do credor, este deverá provar que a adimpliu ao requerer a execução, sob pena de extinção do
processo. (exigibilidade)
Parágrafo único. O executado poderá eximir-se da obrigação, depositando em juízo a prestação ou a
coisa, caso em que o juiz não permitirá que o credor a receba sem cumprir a contraprestação que lhe
tocar.
Art. 788. O credor não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o devedor cumprir a obrigação,
mas poderá recusar o recebimento da prestação se ela não corresponder ao direito ou à obrigação
estabelecidos no título executivo, caso em que poderá requerer a execução forçada, ressalvado ao
devedor o direito de embargá-la. (exigibilidade)”
21.13 A responsabilidade patrimonial
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O último item da “execução em geral” é o da responsabilidade patrimonial, que é um dos pilares
fundamentais da tutela executiva para expropriação de quantia do devedor. É claro que
subsidiariamente também se presta à execução específica, mas apenas no caso de a mesma se
converter em tutela para pagamento de quantia.
A celeuma do momento em que nasce a responsabilidade patrimonial, se no processo ou no direito
material, ainda deve prosseguir porque o legislador manteve o texto, ipsis litteris, do art. 591 do CPC/
1973 ao descrever no art. 789 do CPC/2015 que:
“Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.”
Igualmente foram mantidas as hipóteses dos bens que se sujeitam à execução, porém acrescentou
duas novidades, que, na prática, já eram consideradas pela jurisprudência e pela doutrina.
O art. 790 diz:
“Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
I – do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação
reipersecutória;
II – do sócio, nos termos da lei;
III – do devedor, ainda que em poder de terceiros;
IV – do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem
pela dívida;
V – alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI – cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em
ação autônoma, de fraude contra credores;
VII – do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.”
Como se vê as novidades estão nos dois últimos incisos.
O inc.VI cuida da hipótese em que o desfalque patrimonial tenha sido desfeito pela sentença anulatória
do negócio fraudulento em ação de fraude contra credores, retornando, portanto, ao patrimônio do
executado e se sujeitando à execução por expropriação. Trata-se de hipótese dificílima de acontecer,
pois, na prática, as ações paulianas são pouquissimamente efetivas e levam anos para serem
concluídas. Anos estes que já terão por certo comprometido o direito exequendo. De qualquer forma,
tecnicamente falando, foi correta a inclusão do inciso pelo legislador.
Igualmente o novo inciso traz uma novidade no texto, mas que também decorria da lógica da
responsabilidade patrimonial. É que se for desconsiderada a personalidade jurídica (e também a
desconsideração inversa que foi silente o dispositivo), o patrimônio do responsável também passa a
responder pela dívida.
21.14 Direito de superfície e responsabilidade patrimonial
O NCPC (Lei 13.105/2015) trouxe para dentro do Código o instituto do direito real de superfície que em
1973 não tinha previsão legal no ordenamento jurídico brasileiro. Atualmente regulamentado no Código
Civil de 2002 e no Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), o direito real de superfície é um direito real
sobre a coisa alheia e caracteriza-se pela possibilidade de construir ou de plantar em terreno alheio.
Com a instituição do direito de superfície surgem dois patrimônios distintos: o do superficiário e do
proprietário.
Atento à inovação trazida pelos diplomas citados acima o NCPC (Lei 13.105/2015) cuidou, sem
surpresas, deste tema no art. 791 do CPC/2015 ao dizer que:
“Art. 791. Se a execução tiver por objeto obrigação de que seja sujeito passivo o proprietário de
terreno submetido ao regime do direito de superfície, ou o superficiário, responderá pela dívida,
exclusivamente, o direito real do qual é titular o executado, recaindo a penhora ou outros atos de
constrição exclusivamente sobre o terreno, no primeiro caso, ou sobre a construção ou a plantação, no
segundo caso.
§ 1.º Os atos de constrição a que se refere o caput serão averbados separadamente na matrícula do
imóvel, com a identificação do executado, do valor do crédito e do objeto sobre o qual recai o gravame,
devendo o oficial destacar o bem que responde pela dívida, se o terreno, a construção ou a plantação,
de modo a assegurar a publicidade da responsabilidade patrimonial de cada um deles pelas dívidas e
pelas obrigações que a eles estão vinculadas.
§ 2.º Aplica-se, no que couber, o disposto neste artigo à enfiteuse, à concessão de uso especial para
fins de moradia e à concessão de direito real de uso.”
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A intenção do legislador foi deixar claro que os patrimônios do superficiário e do proprietário do terreno
são distintos, de forma que a dívida do superficiário não pode extrapolar o direito real de superfície e
tampouco a dívida do proprietário do terreno pode atingir o direito real de superfície, tendo que se ter
todas as cautelas em relação à individualização de cada uma quando da averbação dos atos de
constrição. Pela semelhança do regime jurídico, determina que se aplique o dispositivo à enfiteuse, à
concessão de uso especial para fins de moradia e à concessão de direito real de uso.
Muito embora seja novidade no NCPC, a inovação traz algo previsível e consentâneo com o regime
jurídico de ambos os institutos: da responsabilidade patrimonial do executado e do direito real de
superfície.
21.15 Da fraude à execução: o fim da presunção em favor do terceiro e momento da fraude
na desconsideração da personalidade jurídica
No tocante ao importantíssimo instituto da fraude à execução houve importante inovação, que, falso
cum pudore, vínhamos sustentando isoladamente em trabalhos sobre o tema.
Esta inovação que iremos comentar em seguida gira em torno do terceiro, que, em tempos atuais é o
maior anti-herói da tutela jurisdicional executiva.
Tem sido comum o surgimento, após a constrição judicial de um bem que esteja no patrimônio do
devedor, de ação proposta por um terceiro que pretende livrar o referido bem da constrição,
reivindicando a coisacomo sendo sua, como se a tivesse adquirido do devedor antes de iniciada a
demanda que seria capaz de levá-lo à insolvência.
Este fato corriqueiro acima foi amplamente legitimado pela orientação jurisprudencial do STJ que
firmou a Súmula 375 que assim diz: “o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da
penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”. Esta Súmula é o salvo-conduto
e a alegria da imensa maioria de devedores, e, seus terceiros comparsas, que nela se apoiam para
obter êxito na ação de embargos de terceiro. Assim, segundo precedentes do STJ que deram origem à
súmula, no caso de haver falta de registro do negócio jurídico firmado entre o devedor e o terceiro, é
do credor o ônus de provar a má-fé do terceiro adquirente, ou seja, deve provar que o terceiro tinha
total ciência da ação que ele credor propôs contra o devedor.
A posição trazida pelo NCPC (Lei 13.105/2015), como veremos abaixo no art. 792, de não tratar o
terceiro como um coitado e sempre inocente nestes casos, impondo uma presunção muitas vezes
injusta ao credor, parece já estar sendo contestada no âmbito do próprio STJ, pois no momento em que
estamos escrevendo este tópico encontra-se submetido ao regime do art. 543-C do CPC/1973, sob
relatoria da Min. Fátima Nancy, o REsp 956.943/PR, bem como o REsp 773.643/DF e o REsp 1.112.648/
DF, cujo objeto a ser posto em discussão no referido incidente é a análise dos requisitos necessários à
caracterização da fraude de execução envolvendo bens imóveis, excetuadas as execuções de natureza
fiscal.
Segundo o NCPC (Lei 13.105/2015):
“Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:
I – quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde
que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver;
II – quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma
do art. 828;
III – quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição
judicial originário do processo onde foi arguida a fraude;
IV – quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-
lo à insolvência;
V – nos demais casos expressos em lei.
§ 1.º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.
§ 2.º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar
que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes,
obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem.
§ 3.º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
§ 4.º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser,
poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias.”
Como se observa no dispositivo acima a principal novidade é exatamente a importante regra contida no
§ 2.º onde diz que “No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o
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ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões
pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor (…)”.
O referido dispositivo refere-se aos bens que não estão sujeitos a registro, partindo da premissa de que
os bens imóveis, carros, cotas de sociedade etc., todos estes bens adquiridos pelo terceiro se
submetem ao registro, e, como tal, para ter a seu favor a presunção de boa-fé devem ser registrados
pelo terceiro.
Já para os bens que não se sujeitam ao registro, o dispositivo é claro em exigir do terceiro um mínimo
de cautela, preocupação e diligência, o que será feito pela verificação de processos envolvendo o
vendedor, no seu domicílio e até mesmo no local do bem. Para que haja a boa-fé do terceiro
adquirente, mesmo na ausência de registro, deve ele demonstrar que agiu com o mínimo de cautela.
O legislador até que tentou ser ainda mais firme na sua postura de não compactuar com o oportunismo
de terceiros e adotar a regra da carga dinâmica da prova fixada pelo NCPC (Lei 13.105/2015), pois na
redação original do texto em análise ao invés de dizer “bem não sujeito ao registro” constava “não
havendo registro”, mas tal dispositivo acabou sendo alterado para constar a atual redação.
Trocando em miúdos, deve se entender que se tratando de bem sujeito a registro, como imóveis, ao
adquiri-lo o terceiro deve promover o seu registro tão logo isso seja possível, pois isso demonstra ato
de cautela e preocupação. Contudo, neste ato de aquisição do bem, deve estar atento ao fato de que
pode haver ação proposta contra o devedor capaz de levá-lo à insolvência (art. 792, IV, do CPC/2015),
e, esta atenção que o terceiro deve ter se verifica, por exemplo, na prática, através de comportamentos
normais e esperados como desconfiar do baixo preço de aquisição do bem, do número de demandas
em curso contra o vendedor, inclusive trabalhista, da ausência de certidões negativas etc.
Por sua vez, em contrapartida deve o credor estar atento sempre ao comportamento do devedor, sendo
cautela que se recomenda em negócios importantes que a parte apresente rol de bens que possui no
ato de celebração do negócio, certidões negativas dos órgãos públicos, se já tiver promovido a
demanda condenatória pedir para que seja averbada junto à matrícula de imóveis do devedor a referida
demanda em curso, protestar a sentença judicial transitada em julgado com força executiva, não sem
antes registrar a hipoteca judiciária etc.
Já a solução preconizada no art. 792, § 3.º, do CPC/2015 – que trata do momento da fraude à
execução nos casos de desconsideração da personalidade jurídica – parece-nos uma piada de mau
gosto do legislador e facilmente de ser driblada pelo devedor, pois segundo o dispositivo “nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte
cuja personalidade se pretende desconsiderar”.
Com isso se quer dizer se o exequente não encontra bens no patrimônio do executado e requer a
instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, segundo o § 3.º acima, a fraude
à execução se verificará a partir da citação da pessoa jurídica neste incidente. Ora, é óbvio que o
devedor pessoa física irá promover a “venda de bens” da pessoa jurídica muito antes de ser contra ele
instaurado o incidente, pois já será ele réu ou executado na demanda capaz de levá-lo à insolvência.
Deveria o legislador ter fixado o momento da fraude na citação do devedor pessoa física, ou, no
mínimo, na data de instauração do incidente, sob pena de se tornar letra morta e brecha legal e
legítima para o devedor manipular a alienação de bens da pessoa jurídica muito antes de ser instaurado
o incidente.
21.16 Bens do fiador e benefício de ordem
O art. 595 do CPC/1973 prevê que:
“Art. 595. O fiador, quando executado, poderá nomear à penhora bens livres e desembargados do
devedor. Os bens do fiador ficarão, porém, sujeitos à execução, se os do devedor forem insuficientes à
satisfação do direito do credor.
Parágrafo único. O fiador, que pagar a dívida, poderá executar o afiançado nos autos do mesmo
processo.”
Sobre este tema o NCPC (Lei 13.105/2015) previu o seguinte:
“Art. 794. O fiador, quando executado, tem o direito de exigir que primeiro sejam executados os bens
do devedor situados na mesma comarca, livres e desembargados, indicando-os pormenorizadamente à
penhora.
§ 1.º Os bens do fiador ficarão sujeitos à execução se os do devedor, situados na mesma comarca que
os seus, forem insuficientes à satisfação do direito do credor.
§ 2.º O fiador que pagar a dívida poderá executar o afiançado nos autos do mesmo processo.§ 3.º O disposto no caput não se aplica se o fiador houver renunciado ao benefício de ordem.”
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A redação melhorou bastante, pois de plano só cabe falar em benefício de ordem se o fiador não houver
renunciado tal direito, situação que não é incomum e permitida pelo CCB.
No § 1.º do art. 794 houve uma adequação do processo ao que preceitua o art. 827 do CC/2002 onde
se lê que:
“Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide,
que sejam primeiro executados os bens do devedor.
Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere este artigo, deve nomear
bens do devedor, sitos no mesmo município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o
débito.”
Assim, ao prever a regra do beneficio de ordem em favor do fiador que tem o direito de exigir que
primeiro sejam executados os bens do devedor situados na mesma comarca, nada mais fez do que
adequar o Código de Processo ao CCB.
22. Das diversas espécies de execução
22.1 Disposições gerais
As disposições gerais das diversas espécies de execução é no CPC de 1973 uma miscelânea de
informações, onde boa parte delas, ou melhor, todas elas, poderiam estar nas disposições gerais da
“execução em geral”, que é um tópico que abre o livro do processo de execução.
Enfim o NCPC (Lei 13.105/2015) perdeu a oportunidade de corrigir este defeito.
E começamos pelos dois dispositivos que personificam como se desenvolve a tutela jurisdicional
executiva. De um lado, o art. 612 do CPC/1973, impulsionado pelo direito constitucional fundamental à
tutela satisfativa em tempo razoável, e, de outro lado o art. 620 do CPC/1973, onde o devedor protege-
se no devido processo legal constitucional de ser executado com o menor sacrifício possível.
“Art. 612. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal (art.
751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de
preferência sobre os bens penhorados.”
“Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça
pelo modo menos gravoso para o devedor.”
Estes dois dispositivos foram mantido pelo NCPC (Lei 13.105/2015), in verbis:
“Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-
se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os
bens penhorados.
Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, cada exequente conservará o seu
título de preferência.”
“Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se
faça pelo modo menos gravoso para o executado.
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros
meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados.”
Certamente que estes dois dispositivos deveriam estar inseridos logo nos primeiros artigos que cuidam
da execução, pois os postulados do menor sacrifício possível e da maior efetividade possível estão
presentes em toda tutela jurídica por meio da execução. O legislador perdeu a oportunidade de
organizar o livro do processo de execução.
Entretanto, como se observa acima, o NCPC (Lei 13.105/2015) acrescentou um parágrafo único o
dispositivo (art. 805 do CPC/2015) que trata de proteger o devedor contra o sacrifício desnecessário
causado pela execução. E este acréscimo do legislador merece todos os aplausos, porque na prática
todo devedor alega a referida regra para tentar esquivar-se deste ou daquele meio executivo. Usa o
devedor de alegações genéricas sem, contudo, lembrar-se que a execução é em benefício do exequente
e que de alguma forma a ela deve se sujeitar.
A novidade, portanto, é muito interessante porque segundo o parágrafo único deve o executado, que
eventualmente alegue a “maior gravosidade da medida executiva”, indicar outros meios mais eficazes e
menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. A intenção do
dispositivo é terminar com a alegação vã e genérica do executado que se escora indevidamente no
atual art. 620 do CPC/1973.
22.2 Ainda as disposições gerais
Ainda sob o rótulo das “disposições gerais das diversas espécies de execução” o legislador traz na
verdade algumas regras que melhor seriam denominadas de “disposições gerais do processo
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executivo”, pois se trata de medidas que pressupõem a instauração do processo executivo, portanto, a
existência de um procedimento em curso, seja ele de qualquer modalidade de execução.
22.2.1 Sobre a petição inicial da execução
Inicialmente deve ser dito que o NCPC (Lei 13.105/2015) melhorou muito a organização dos temas
referentes à petição inicial, mas poderia ter avançado ainda mais, ainda que apenas para organizar os
dispositivos se esta era a sua intenção.
Assim, o CPC colocou na mesma petição o que deve instruir e o que deve ser requerido na petição
inicial. E, inexplicavelmente, usou o artigo seguinte para fazer a mesma coisa, e, depois o artigo
seguinte do seguinte para fazer mais do mesmo. Observe os arts. 614, 615 e 615-A, todos do CPC/
1973.
“Art. 614. Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição
inicial:
I – com o título executivo extrajudicial; (Redação dada pela Lei 11.382, de 2006).
II – com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de
execução por quantia certa; (Redação dada pela Lei 8.953, de 13.12.1994)
III – com a prova de que se verificou a condição, ou ocorreu o termo (art. 572). (Incluído pela Lei
8.953, de 13.12.1994).”
“Art. 615. Cumpre ainda ao credor:
I – indicar a espécie de execução que prefere, quando por mais de um modo pode ser efetuada;
II – requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, ou anticrético, ou usufrutuário, quando a
penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto;
III – pleitear medidas acautelatórias urgentes;
IV – provar que adimpliu a contraprestação, que lhe corresponde, ou que lhe assegura o cumprimento,
se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do
credor.”
“Art. 615-A. O exequente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento
da execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de
imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto. (Incluído pela Lei
11.382, de 2006).
§ 1.º O exequente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de 10 (dez) dias de
sua concretização. (Incluído pela Lei 11.382, de 2006).
§ 2.º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, será determinado o
cancelamento das averbações de que trata este artigo relativas àqueles que não tenham sido
penhorados. (Incluído pela Lei 11.382, de 2006).
§ 3.º Presume-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação
(art. 593). (Incluído pela Lei 11.382, de 2006).
§ 4.º O exequente que promover averbação manifestamente indevida indenizará a parte contrária, nos
termos do § 2.º do art. 18 desta Lei, processando-se o incidente em autos apartados. (Incluído pela Lei
11.382, de 2006).
§ 5.º Os tribunais poderão expedir instruções sobre o cumprimento deste artigo. (Incluído pela Lei
11.382, de 2006).”
O NCPC (Lei 13.105/2015) organizou o tema aglutinando o conteúdo desses três dispositivos nos arts.
798 e 799, mas separando-os de acordo com as tarefas do exequente, qual seja, o que deve instruir a
petição inicial; o que deve ser indicado na petição inicial e o que deve serrequerido na petição inicial,
in verbis.
“Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:
I – instruir a petição inicial com:
a) o título executivo extrajudicial;
b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de
execução por quantia certa;
c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;
d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o
cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a
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contraprestação do exequente.
II – indicar:
a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada;
b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica;
c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível;
Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter:
I – o índice de correção monetária adotado;
II – a taxa de juros aplicada;
III – os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros
utilizados;
IV – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
V – a especificação de desconto obrigatório realizado.”
“Art. 799. Incumbe ainda ao exequente:
I – requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a penhora
recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária;
II – requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem
gravado por usufruto, uso ou habitação;
III – requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao
qual haja promessa de compra e venda registrada;
IV – requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo
derivado de promessa de compra e venda registrada;
V – requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de superfície,
enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando
a penhora recair sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou concessão;
VI – requerer a intimação do proprietário de terreno com regime de direito de superfície, enfiteuse,
concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora
recair sobre direitos do superficiário, do enfiteuta ou do concessionário;
VII – requerer a intimação da sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade
anônima fechada, para o fim previsto no art. 876, § 7.º;
VIII – pleitear, se for o caso, medidas urgentes;
IX – proceder à averbação em registro público do ato de propositura da execução e dos atos de
constrição realizados, para conhecimento de terceiros.”
Além da organização que foi feita, o NCPC (Lei 13.105/2015) também trouxe novidades, como pode ser
visto acima.
Assim, com a intenção de prevenir e simplificar futuras discussões sobre eventual excesso de execução,
desde já delimitou quais os elementos que devem estar contidos no demonstrativo do débito que
instruir a inicial da execução, tal como se vê no art. 798, I, b, do CPC/2015.
Por intermédio dos incs. I ao VII o legislador reproduziu o conteúdo do art. 619 do CPC/1973, porém
estendendo a regra para outros casos em que, no seu entendimento, mostra-se necessária a ciência do
terceiro em relação à execução proposta contra o devedor. No art. 619 do CPC/1973 tinha-se, in verbis:
“Art. 619. A alienação de bem aforado ou gravado por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto será
ineficaz em relação ao senhorio direto, ou ao credor pignoratício, hipotecário, anticrético, ou
usufrutuário, que não houver sido intimado”.
Este dispositivo estava diretamente relacionado com o art. 698 do CPC/1973, in verbis:
“Art. 698. Não se efetuará a adjudicação ou alienação de bem do executado sem que da execução seja
cientificado, por qualquer modo idôneo e com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o senhorio
direto, o credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada, que não seja de qualquer
modo parte na execução. (Redação dada pela Lei 11.382, de 2006).”
E este dispositivo, por sua vez estava diretamente relacionado com o concurso de credores no
pagamento da dívida, nos termos do art. 711 do CPC/1973:
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“Art. 711. Concorrendo vários credores, o dinheiro ser-lhes-á distribuído e entregue consoante à ordem
das respectivas prelações; não havendo título legal à preferência, receberá em primeiro lugar o credor
que promoveu a execução, cabendo aos demais concorrentes direito sobre a importância restante,
observada a anterioridade de cada penhora.”
Percebe-se que as modificações introduzidas pelos incisos do art. 798 do CPC/2015 foram além de
estabelecer uma preferência legal para o recebimento do crédito, senão porque deseja o legislador que
todo aquele que tenha algum tipo de registro prévio sobre o bem do executado que será levado à
expropriação tenha ciência formal da penhora do mesmo bem do devedor, quiçá para exercício da
preferência em eventual adjudicação ou expropriação, ou até mesmo possa exercer seu direito
mediante ação de embargos de terceiro evitando surpresa processual.
O local adequado deste dispositivo deveria ser em tópico que cuidasse sobre as regras da penhora e
não onde foi colocado (instauração da execução), pois nem sempre o exequente indicará os bens a
serem penhorados e normalmente a penhora de bens é sempre subsidiária à penhora de dinheiro. E,
mais uma vez, não nos parece adequado que seja imposto este ônus ao exequente, afinal de contas
trata-se de regra que visa proteger a própria execução e o patrimônio de terceiros. Portanto, deveria a
intimação ser determinada de ofício pelo magistrado. Sempre que o bem penhorado tiver registro
prévio sobre ele, dever-se-ia proceder à intimação do sujeito em favor de quem consta o registro.
A última novidade refere-se ao fato de o legislador ter trocado a expressão “medidas cautelares” por
“medidas antecipatórias de urgência”, afinal a urgência passou a ser o gênero do qual a cautelar e a
satisfativa são espécies. Outrossim, transferiu o conteúdo do art. 615-A do CPC/1973 para o art. 828
do CPC/2015 (destinado corretamente ao processo de execução por quantia contra devedor solvente),
fixando a regra de que incumbe ao exequente proceder à averbação em registro público do ato de
propositura da execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de terceiros.
22.2.2 A petição inicial com defeito e sua correção: novo prazo
O NCPC (Lei 13.105/2015) apenas alterou o prazo para correção do defeito da petição inicial, trocando-
o dos atuais 10 dias do art. 616 do CPC/1973 para 15 dias do art. 801 do CPC/2015.
“Art. 616. Verificando o juiz que a petição inicial está incompleta, ou não se acha acompanhada dos
documentos indispensáveis à propositura da execução, determinará que o credor a corrija, no prazo de
10 (dez) dias, sob pena de ser indeferida.”
“Art. 801. Verificando que a petição inicial está incompleta ou que não está acompanhada dos
documentos indispensáveis à propositura da execução, o juiz determinará que o exequente a corrija, no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de indeferimento.”
22.2.3 A nulidade da execução
O dispositivo do CPC de 1973 que cuida da nulidade da execução é o art. 618. O mesmo tema, e, no
mesmo local (dispositivos gerais de qualquer espécie de execução) foi mantido no NCPC (Lei 13.105/
2015), no art. 803. As regras citadas são as seguintes:
“Art. 618. É nula a execução:
I – se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquidae exigível (art. 586);
(Redação dada pela Lei 11.382, de 2006).
II – se o devedor não for regularmente citado;
III – se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o termo, nos casos do art. 572.”
Art. 803. É nula a execução se:
I – o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível;
II – o executado não for regularmente citado;
III – for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo.
“Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, independentemente de embargos à execução.”
Afora a alteração de um termo ou outro que tornou a redação mais técnica, como, por exemplo, a troca
do vocábulo devedor por executado, o dispositivo não inova do ponto de vista substancial.
Até mesmo a inclusão do texto contido no parágrafo único, antes inexistente no CPC/1973 não
importou em mudança de conteúdo do que se tinha em relação ao tema. Na verdade, pensamos que o
legislador perdeu grande chance de tratar o tema de forma adequada.
O tema da invalidade no âmbito da tutela executiva necessariamente passa pelo conhecimento de
diversos institutos, mas em especial das condições da ação, dos pressupostos processuais, e
principalmente das regras e princípios de instrumentalidade do processo, da ausência de prejuízo etc.
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Enfim, continua sendo a execução o “tal mistério” dito por Carnelutti, porque ninguém fala que nela, na
execução, existe um mérito (pretensão à satisfação) e que nela devem estar presentes os pressupostos
processuais e condições da ação, e que nela existem inúmeros atos processuais que requerem o
cumprimento de forma para que tenham eficácia. No NCPC (Lei 13.105/2015) não há uma linha sequer
no livro da execução que aluda ao fato de que o processo de execução pode ser extinto por carência da
ação. O art. 924, I, do CPC/2015 fala em extinção do processo pelo indeferimento da petição inicial,
mas silencia sobre falta de condição da ação, como, por exemplo, ausência de título hábil para dar
início à execução.
Antes de se reconhecer a nulidade da execução deve o magistrado evitar que o ato inválido seja
realizado e que produza algum efeito, ainda que maculado no curso do processo ou procedimento
executivo. Deve o magistrado zelar pela incolumidade do processo de execução e ao invés de declarar
nula a execução, extinguir na raiz quando o defeito processual não puder ser corrigido ou o ato
processual aproveitado. Imagine, por exemplo, se as custas executivas não são pagas em momento
algum pelo executado. Imagine ainda a hipótese de falta de representação não sanada no tempo
devido. Também imagine a hipótese de litispendência de processos de execução. Ora, tudo isso pode
acontecer in executivis, e, por que isso não foi sistematizado neste novo NCPC?
E, o que há de bom neste parágrafo único é que nunca é demais lembrar que o juiz pode e deve estar
atento aos pressupostos processuais e condições da ação, também no processo de execução, pois ele
tem um fim a ser perseguido que é a satisfação do direito exequendo. Havendo vício processual que
impeça o aproveitamento do ato ou não seja possível corrigir o defeito, só resta a extinção do processo
de execução.
23. Execução para a entrega de coisa certa – A necessidade de sistematização
As regras previstas no CPC/1973 para esta espécie de execução precisavam urgentemente de um
reajuste. Isso porque com o advento da Lei 10.444/2002 e Leis 11.232/2005 e 11.382/2006 o
legislador fez vários enxertos no Código e simplesmente esqueceu-se de fazer a adequação dos novos
dispositivos a esta espécie de execução. Apenas para se ter uma ideia desse problema, a Lei 11.382/
2006 acabou com a necessidade de garantia do juízo para oferecimento de embargos do executado
quando cuidou desta demanda, mas por lapso esqueceu-se de retirar esta exigência (da garantia do
juízo) nos artigos que cuidam desta modalidade de execução. Isso causava uma antinomia gritante no
próprio Código, já que os arts. 621 e 736 do CPC/1973 eram incompatíveis entre si.
O NCPC (Lei 13.105/2015), no art. 806 e ss., esteve atento a isso e tratou de corrigir as antinomias
existentes. Vejamos:
CPC/1973
“Art. 621. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial,
será citado para, dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo (art. 737, II),
apresentar embargos.(Redação dada pela Lei 10.444, de 07.05.2002).
Parágrafo único. O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da
obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo.
(Incluído pela Lei 10.444, de 07.05.2002)”
“Art. 622. O devedor poderá depositar a coisa, em vez de entregá-la, quando quiser opor embargos.
(Redação dada pela Lei 5.925, de 01.10.1973).”
“Art. 623. Depositada a coisa, o exequente não poderá levantá-la antes do julgamento dos embargos.
(Redação dada pela Lei 8.953, de 13.12.1994).”
NCPC (Lei 13.105/2015)
“Art. 806. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial,
será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação.
§ 1.º Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação,
ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo.
§ 2.º Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme
se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer
a obrigação no prazo que lhe foi designado.”
Estão, portanto, extintas as regras que ainda faziam menção à garantia do juízo como requisito
necessário para o oferecimento de embargos do executado. Foi mantida a regra do parágrafo único do
art. 621, embora isso fosse desnecessário, uma vez que pode o juiz usar de meios coercitivos e sub-
rogatórios que entender adequados para a satisfação do direito nos termos do art. 139, IV, do NCPC
(Lei 13.105/2015).
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Assim, em razão da desvinculação dos atos executivos ao oferecimento dos embargos, tendo em vista
que não possuem mais efeito suspensivo ex lege, do mandado de citação constará a ordem para a
imissão na posse ou busca e apreensão, que será cumprido se no prazo de 15 dias o devedor não
cumprir a obrigação. Mas, como o magistrado irá saber que o executado não cumpriu a obrigação no
prazo previsto? Certamente que deverá ser informado pelo exequente, caso em que determinará o
cumprimento da ordem de imissão ou busca e apreensão da coisa.
24. Execução para a entrega de coisa incerta
A única alteração a respeito desta espécie de execução foi o prazo para qualquer das partes impugnar a
escolha feita pela outra, que deixou de ser 48 horas e passou a ser 15 dias.
“Art. 630. Qualquer das partes poderá, em 48 (quarenta e oito) horas, impugnar a escolha feita pela
outra, e o juiz decidirá de plano, ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação.”
“Art. 812. Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnar a escolha feita pela
outra, e o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação.”
25. Execução das obrigações de fazer e não fazer: decepção no NCPC (Lei 13.105/2015)
O processo de execução das obrigações de fazer e não fazer talvez tenha sido o que mais deixou a
desejar no NCPC (Lei 13.105/2015). E dois motivos foram fundamentais para se chegar a esta
conclusão:
a) não há a previsão de processo de execução de obrigações de não fazer, porque à semelhança do
CPC/1973, o legislador tratou apenas do desfazer, que nada mais é do que um fazer;
b) o legislador manteve o itinerário de regras processuais anacrônicas

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