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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental PHA 2537 – Água em Ambientes Urbanos Professores Dr. Kamel Z. Filho; Dr. José Rodolfo S. Martins; Dra. Monica F. A. Porto. Gestão de Resíduos Sólidos e Impactos sobre a Drenagem Urbana Felipe Ábalos 5714429 Felipe Sulimam 5714732 Igor Mosseri 5639119 Nádia Ota 5948500 Rafael Farina 5464845 Novembro / 2012 Sumário 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3 1.1. LIXO E RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................................. 3 1.1.1. Geração de Lixos e Resíduos Sólidos .............................................................................. 3 1.1.2. Descarte ........................................................................................................................ 3 1.1.3. Destinação .................................................................................................................... 5 1.1.4. Gestão Integrada de Resíduos Sólidos ............................................................................ 6 1.1.5. Limpeza de Vias Públicas ............................................................................................... 6 1.2. DRENAGEM URBANA ......................................................................................................... 7 1.2.1. Medidas Estruturais de Controle .................................................................................... 8 1.2.2. Estruturas autolimpantes .............................................................................................. 9 1.2.3. Outros dispositivos ...................................................................................................... 11 2. IMPACTOS E PROBLEMAS ............................................................................................................. 12 3. LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................. 13 4. CASO DE SUCESSO ........................................................................................................................ 14 5. CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 16 6. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 17 1. INTRODUÇÃO 1.1. LIXO E RESÍDUOS SÓLIDOS As aglomerações populacionais em grandes cidades são importantes fontes geradoras de resíduos sólidos e lixo, os quais impactam o meio ambiente, social e econômico e a saúde da população. Segundo a ABNT, lixo e resíduos sólidos são “restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi- sólido ou líquido, desde que não seja passível de tratamento convencional". Neste contexto, podemos traçar um caminho que passa pela “Geração de Resíduos”, “Descarte” e “Destinação”. Para fazermos o planejamento urbano de uma cidade, temos que estabelecer diretrizes que guiam esses três aspectos destacados. 1.1.1. Geração de Lixos e Resíduos Sólidos Para analisarmos a geração de resíduos sólidos, é importante definir as diferentes fontes geradoras, divididas em: Lixo Doméstico ou Residencial: resíduos gerados por cidadãos nas suas atividades em suas residências (casas, prédios): 0,6kg/hab/dia. Lixo Comercial: resíduos gerados em estabelecimentos comerciais, que são divididos em pequenos e grandes geradores. Junto com o lixo doméstico são os classificados como “lixo domiciliar”. Lixo Público: resíduos presentes em ambientes públicos, em geral, de causas naturais como quedas de folhas, galhos, poeira, terra, areia e também os resíduos descartados irregularmente por pessoas, comércios, obras e indústrias resultando em cerca de 0,3kg/hab/dia. Entulho de Obras: a indústria da construção civil é a maior geradora de resíduos. No Brasil, o índice de “300kg/m2 edificado” é muito mais alto do que o de países desenvolvidos de “100 kg/m2 edificado”, devido principalmente às tecnologias e métodos construtivos empregados. Em grandes cidades esses resíduos chegam a somar 50% do peso total gerado, e são compostos por materiais inertes como concreto, argamassa, madeira, plásticos, papelão, vidro, metais, cerâmica e terra. A geração de resíduos é muito alta e pode ser diminuída com ações de educação e incentivos do governo e empresas tais como embalagens retornáveis, conscientização ambiental da população, incentivos às empresas que fazem embalagens que geram menos impacto, incentivos à reciclagem, etc. Além da geração é importante classificar o tipo de lixo gerado e o dimensionamento do seu impacto, bem como sua correta destinação e tratamento como será explorado no tópico “Legislação”. 1.1.2. Descarte O descarte de lixo domiciliar deve ser feito em frente aos estabelecimentos e residências, embalados de forma adequada em sacos plásticos. Estes são coletados por caminhões disponibilizados pelo município em dias programados nos logradouros. Essa coleta de lixo, limpeza de vias públicas e destinação dos resíduos é de atribuição municipal que cobra uma taxa dos estabelecidos ali. Esse serviço tem forte impacto no orçamento municipal, podendo chegar a 20% deste. Há possibilidade dos municípios se consorciarem, instalando de forma conjunta aterros, usinas e até mesmo incineradores. Estes seguem as diretrizes da Lei n°12.305/2010 Política Nacional de Resíduos Sólidos. O descarte é algo fundamental para o bom funcionamento do sistema como um todo, e este depende de disponibilidade do serviço e principalmente da educação da população. Abaixo é destacada uma pesquisa que mostra os índices de disponibilidade do serviço à população: Figura 1 - Coleta e destinação do lixo O cenário brasileiro apresenta grandes problemas no descarte incorreto de lixo principalmente de origem doméstica, principalmente por falta de orientação da população e falta de oferta do serviço. Os maiores índices de descarte ilegal estão em regiões periféricas, moradias ilegais e “favelas”, onde o serviço de coleta de lixo ou não existe ou não é usado corretamente pelos moradores. Esse lixo jogado em vias públicas, córregos, rios etc, geram grandes impactos ambientais, sociais e econômicos. Podendo-se destacar a poluição de recursos hídricos, degradação de recursos naturais, entupimento da micro-drenagem gerando alagamentos, impactos sociais e visuais devido ao acúmulo de lixo em locais de trânsito de pessoas e moradias, além de gerarem mau cheiro, e facilitarem a proliferação de doenças. Os alagamentos, que são agravados por esses problemas, geram perdas de casas e seus objetos, vidas, dentre outros como será detalhado no tópico “Drenagem”. Todas essas perdas são absorvidas pela população e pelo governo gerando grande impacto econômico. Apesar da definição da ABNT, as cidades têm também que lidar com resíduos sólidos que não se enquadram na definição, pois são materiais reaproveitáveis, como é o caso de embalagens plásticas que podem ser recicladas, mas ainda são descartadas em grande quantidade junto ao lixo orgânico. Atualmente, o Brasil tem posição de destaque mundial em reciclagem de lata devido ao valor econômico criadopara seu reaproveitamento que é explorado por catadores de lixo que tem sua renda provida por essa iniciativa e contribuem de forma importante para esse setor de reciclagem, porém outros materiais que são desprovidos de valor econômico para a reciclagem ou que possuem valor não compatível apresentam índices muito mais baixos de reaproveitamento. Esse problema pode ser amenizado através de campanhas de conscientização pelo governo e por empresas privadas. Programas de coleta seletiva e reciclagem são atualmente aplicados em algumas comunidades nas quais são distribuídas sacolas plásticas verdes para a o descarte de bens recicláveis, os quais são coletados por caminhões distintos dos já citados e destinam esse lixo a grandes centros de reciclagem. Outra forma de reciclagem são as PEVs “pontos de entrega voluntária”, nos quais a comunidade leva o lixo reciclável e a destinação é feita pelo município. Existem hoje algumas empresas que apostam na reciclagem de materiais que têm grande potencial energético ou econômico de outra natureza. Figura 2 - PEVs - pontos de entrega voluntária Figura 3 - Coleta seletiva em empresas Para empresas e indústrias, o descarte e destinação seguem normas ambientais estipuladas pelo governo à pena de multas e suspensão das atividades. A principal legislação é a Resolução CONAMA, que estabelece a coleta seletiva dos resíduos para empresas, e será detalhada no tópico “Legislação”. Em geral, os resíduos desse setor têm impacto ambiental maior do que o lixo doméstico por conterem produtos químicos tóxicos que são grandes poluentes, e apesar de existirem leis sobre seu descarte, ainda encontra-se casos de empresas que não as respeitam e geram grandes impactos ambientais. Para o correto funcionamento da lei, é necessário que haja uma forte fiscalização do governo, mas que ainda é muito deficiente, como pode-se verificar no caso de obras que sujam as calçadas com terra e entulhos, lavam o concreto dos caminhões betoneira no meio fio, etc. 1.1.3. Destinação Após a coleta dos resíduos sólidos, o destino correto deve ser dado a cada tipo de resíduo como destacado pelo CONAMA e pela política nacional de resíduos sólidos. O tratamento desses resíduos consiste em uma série de procedimentos destinados a reduzir a quantidade ou o potencial poluidor dos mesmos, seja impedindo descarte de lixo em ambiente ou local inadequado, seja transformando-o em material inerte ou biológicamente estável. O principal tratamento é reduzir a quantidade de lixo gerado, mas aos gerados, devem ser dados os destinos e tratativas adequados conforme serão destacados alguns exemplos retirados das normas citadas e algumas pesquisas: Incineração: reduz o volume do lixo, transformando-o em inerte, porém sua instalação tem um custo alto e precisa de constante manutenção e controle a fim de diminuir a emissão de gases poluentes devido à queima (filtros, implementação tecnológica etc.). Reciclagem: há reciclagem de diversos materiais a fim de poder remodelá-los, separar seus materiais e poder reutilizá-los em novas embalagens com novas formas. Compostagem: utiliza lixo orgânico principalmente para a adubação de terra através do processo de compostagem. Tratamento de pneus: usado principalmente para a queima em usinas termelétricas gerando energia elétrica. Tratamento de lâmpadas fluorescentes: por serem muito tóxicas, devem ser recicladas ou gerenciadas como lixo tóxico. Tratamento de pilhas e baterias: são resíduos perigosos Classe I, portanto sua destinação deve ser a mesma de resíduos industriais. Resíduos radioativos: ainda não existe um tratamento adequado para esse tipo de resíduo, então eles são lacrados em barris metálicos que contêm sua radiação e depositados em lugares afastados da população. Resíduos hospitalares: esses resíduos são geralmente tratados por incineradores e pela autoclavagem, e mais recentemente foram desenvolvidas outras técnicas para tratá-los que atendem aos requisitos mínimos de redução da carga biológica, critérios ambientais de emissões de efluentes líquidos e gasosos e mudar o estado físico do material. As principais destinações dos resíduos sólidos são lixões, aterros, incineradores e centros de reciclagem. Porém, não é incomum encontrarmos áreas ilegais para descarte cheias de entulhos de obras, ou descartes inadequados de resíduos perigosos. Existem casos de prefeituras que jogavam seus resíduos em municípios vizinhos de forma ilegal. Dentro desse cenário, é necessário que haja fiscalização de órgãos além dos municipais para inibir esse tipo de atividade criminosa. 1.1.4. Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Uma das dificuldades encontradas na gestão de resíduos sólidos é o aumento na produção per capita de residuos em cidades, que para poder ser gerido de forma correta necessita de altos investimentos com compra de equipamentos, treinamento, capacitação, controle e custeio de todo o sistema. Dessa forma, o problema deixa de ser somente uma questão de gerenciamento técnico, tendo que haver uma gestão participativa dentro do conceito de gestão integrada, e envolve a articulação com diversos níveis de poder existentes e representantes da comunidade civil nas negociações para a formulação e implementação de políticas públicas, programas e projetos. Esse novo conceito de gestão é fundamental para que se atinjam os objetivos nas grandes cidades. 1.1.5. Limpeza de Vias Públicas Um dos serviços disponibilizados pelos municípios é a contratação de caminhões pipa e garis para fazer a varrição de vias públicas, removendo o lixo por carrinhos de mão ou depositando em containers que são removidos por caminhões periodicamente. Essa limpeza evita doenças que podem ser causadas pelo acúmulo de lixo e problemas nas vias aéreas e olhos causados pela poeira, além, é claro, do aspecto visual. Outra função extremamente importante que também é de encargo dos municípios é a limpeza e manutenção periódica dos sistemas de microdrenagem, que providenciam seu pleno funcionamento em caso de enchente. Nestes estão englobados a limpeza de bocas de lobo, ralos, dutos coletores, etc. A falta desse serviço pode gerar grandes prejuízos para a cidade em caso de chuvas fortes ou prolongadas. Também por parte dos municípios estão a manutenção de terrenos públicos com capinagem, de praias, rios, raspagem, roçagem, remoção de árvores, limpeza de feiras, etc. Deficiências em quaisquer desses serviços, agravam os problemas de saúde pública e enchentes. 1.2. DRENAGEM URBANA O conceito moderno de drenagem urbana não se restringe a remoção das águas pluviais em excesso para evitar danos às áreas sujeitas a alagamentos ou marginais de cursos naturais de água, e sim interage com o meio ambiente urbano e demais sistemas que o compõe. Em outras palavras, PORTO (1995) descreve como “um conjunto de medidas que tenham por objetivo minimizar os riscos que as populações estão sujeitas, diminuir os prejuízos causados por inundações e possibilitar o desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e sustentável”. O processo de urbanização pelo qual passam as cidades é o fator principal para gerar alterações que interferem no escoamento superficial nas bacias hidrográficas urbanas. A urbanização traz consequências hidrológicas e não hidrológicas que interferem significativamente nas questões de drenagem. As consequências hidrológicas interferem nos sistemas de drenagem urbana, enquanto as não hidrológicas estão baseadas na ocupação do solo e padrões de qualidade das águas. Essas consequências podem ser visualizadas na Figura 4, onde observa-se as principais causas e efeitos da urbanização sobre as inundações urbanas.Figura 4 - Causas e efeitos da urbanização sobre as inundações urbanas [PORTO - 1997] Tabela 1 - Causas das inundações e/ou alagamentos nos municípios brasileiros Este trabalho visa discutir uma das causas dos problemas de drenagem: a má gestão dos resíduos sólidos. A gestão dos sólidos envolve ações de minimização do total gerado. As questões apresentadas enfocam a importância de se medir as cargas de resíduos com o objetivo de reduzi-las. A redução, por sua vez, pode ser feita através de dois tipos de medidas (Allison et al, 1998): medidas estruturais, com a implantação das armadilhas ou estruturas de retenção; e medidas não-estruturais, envolvendo mudanças de atitude da comunidade (incluindo o comércio, a indústria e os residentes). As medidas não estruturais e preventivas quanto à geração dos resíduos podem ser direcionadas no sentido de melhorar os serviços urbanos, regular os empreendimentos com atuação no controle da implementação de construções urbanas e criar mecanismos para redução das fontes de produção de resíduos, tratando do aumento da reciclagem e obtenção do valor econômico dos resíduos, educação e incentivos à separação seletiva, entre outros. Como exemplo, alguns países eliminaram o uso de sacolas de plástico para supermercados. 1.2.1. Medidas Estruturais de Controle As medidas estruturais no sistema de drenagem atuam sobre as consequências. Na década de 1990 foram propostas estruturas de retenção, cuja evolução é apresentada na Tabela 2. Na África do Sul, os testes focaram dois grupos, sendo o de maior êxito o das autolimpantes. Tabela 2 - Evolução das estruturas de retenção de resíduos sólidos — autolimpantes (Armitage et al., 1998) 1.2.2. Estruturas autolimpantes Nestas, a água empurra o resíduo, limpando o segregador (tela ou grade). O resíduo é desviado para um local de acumulação, onde a freqüência de limpeza é menor. Alguns exemplos se destacam, como a SCS (Stormwater Cleaning Systems), utilizada em Springs, cuja função é forçar o escoamento sobre o vertedor e um gradeamento inclinado em aproximadamente 45 o em direção a um compartimento (Figura 5). Como vantagens (Armitage et al., 1998): a estrutura suporta vazões altas, apresenta manutenção desprezível, é fácil de limpar, é relativamente segura para o público e trabalhadores, entre outras. Como desvantagens: requer carga hidráulica alta e, em geral, uma grande área do terreno cercada (Armitage et al., 1998). Outra estrutura, chamada CDS (Continuous Deflective Separation), destaca-se pela eficiência de quase 100%. Foi utilizada em Coburg, subúrbio de Melbourne, Austrália (Armitage et al., 1998, Allison et al, 1998). Segundo os autores, este dispositivo é instalado sob o solo, requerendo uma área entre 10 e 20 m2. A estrutura desvia o escoamento e poluentes associados para um compartimento de separação, como mostrado na Figura 6. Este consiste em um reservatório na parte inferior e uma seção de separação na parte superior. A água e os poluentes são mantidos em movimento contínuo, evitando o bloqueio da placa perfurada. Os sólidos mais pesados sedimentam, assim como grande parte do material leve. O material flutuante acumula-se na superfície da água. Figura 5 - SCS. (Adaptado: Armitage et al., 1998) Figura 6 - Estrutura CDS (Armitage et al., 1998) Segundo Allison et al. (1998), no estudo realizado em Coburg, praticamente todo material de dimensões superiores a 5 mm foi retido no compartimento de separação durante o período de monitoramento. As vantagens são (Armitage et al., 1998): porcentagem alta de remoção, o sistema de drenagem somente é bloqueado se a unidade estiver completamente preenchida, manutenção mínima, pode ser localizada em qualquer lugar no sistema de drenagem e é efetiva em vazões altas. Um sistema deby-pass é projetado para minimizar a inundação a montante. As desvantagens principais (Armitage et al., 1998): custo de capital muito alto, custo alto de aquisição de veículo especial para a coleta na unidade, pode requerer uma extração anual de sedimentos alta, entre outras. Isso tudo restringe seu uso em áreas onde o solo tenha valor muito alto e haja espaço limitado. 1.2.3. Outros dispositivos As cestas acopladas a entradas de bocas-de-lobo são úteis no processo de monitoramento e gerenciamento integrado resíduos sólidos - sistema de drenagem urbana. Utilizadas em Melbourne, Austrália com o nome SEPT (Side-Entry Pit Trap), possuem malha entre 5 e 20 mm, com remoção do lixo a cada 4 ou 6 semanas (Allison et al., 1998). As vantagens são (Melbourne Water Waterways and Drainage Group, 1995 apud Armitage et al., 1998): rápido e fácil de limpar; facilmente integrada no programa de manutenção das captações de água pluvial, remove-se facilmente a cesta para manutenção, útil na identificação de fontes como parte de um programa de gerenciamento da bacia, entre outros. As desvantagens são: uso de aspirador especial de custo alto, tampas das captações pesadas, grande número de unidades requeridas. Outras medidas são as redes nos finais dos condutos. As utilizadas na Nova Zelândia, em 1994, eram feitas com telas de arame para diâmetros de 0,3 m a 0,85 m e comprimento de pelo menos 3 vezes o diâmetro (Cornelius et al., 1994). Em 1996, foram de polipropileno (ICNZT, 1996), com 1,9 m de diâmetro e 1,6 m de comprimento, e malha de 6 mm. As utilizadas na Cidade do Cabo em 1999 eram de nylon, com as mesmas dimensões das utilizadas em 1996 em Auckland. Foram presas aos condutos com anéis de aço galvanizado de 500 mm de diâmetro e 10 mm de espessura, com cadeados para evitar roubos. A medida foi em vão, substituindo-se o aço por plástico (Arnold e Ryan, 1999), conforme Figura 7. Figura 7 - Rede na Cidade do Cabo (Arnold e Ryan, 1999) 2. IMPACTOS E PROBLEMAS O gerenciamento de resíduos sólidos está intimamente ligado ao bom funcionamento do sistema de drenagem urbana. E é a causa, muitas vezes, de alagamentos em áreas urbanas. Muitas vezes disposto de maneira irregular em rios, córregos, terrenos vazios e nas ruas, o lixo produzido e não coletado provoca efeitos indesejáveis como assoreamento de rios e córregos, obstrução de bocas de lobo e galerias de águas pluviais, destruição de áreas verdes, além de mau cheiro, proliferação de moscas, baratas e ratos, todos com graves consequências, diretas ou indiretas, na drenagem urbana e saúde pública. Até mesmo o lixo domiciliar que é tradicionalmente disposto nas calçadas, a espera da coleta, muitas vezes é desensacado e se espalha, ou é carregado por chuvas e acaba em bocas de lobo e galerias de drenagem, reduzindo drasticamente sua capacidade de escoamento. Soluções que permitam, com segurança, um maior armazenamento antes da coleta podem ajudar a reduzir custos logísticos de coleta e evitar que esse tipo de lixo vá parar no sistema de drenagem. Bem como soluções que visem este tipo de controle em áreas de urbanização irregular, que muitas vezes não dispõe de coleta domiciliar. Além do lixo domiciliar, o lixo produzido pela construção civil e a crescente parcela de sedimentos carregados pelas chuvas em ambientes urbanos, decorrente do numero de obras, desmatamentos e aumento das velocidades de escoamento superficial, assoreiam córregos diminuindo sua capacidade. Sua má disposição final também gera graves problemas, como é o caso de concreto não utilizado que é descarregado irregularmente em bocas de lobo ou córregos, entulho descartado em terrenos baldios e rios entre outras atrocidades voluntariamente cometidas por este setor, muitas vezes por conta do custo de destinação final destes rejeitos ou ignorância. Nas cidades de médio e grande porte no Brasil,os resíduos produzidos pela construção civil constituem mais de 50% da massa dos resíduos urbanos. Estudos realizados em alguns municípios apontam que os resíduos da construção formal têm uma participação entre 15% e 30% na massa dos resíduos da construção e demolição, e 75% provêm de eventos informais, obras de construção, reformas e demolições, realizadas, em geral, pelos próprios usuários dos imóveis. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 mostrou que um em cada três municípios brasileiros passou por situações de enchentes, entre 2004 e 2008, e que 30,7% das prefeituras consideram que os resíduos jogados em ruas, avenidas, lagos, rios e córregos causaram as enchentes nas cidades. O mau gerenciamento de resíduos sólidos implica em custos elevados para a drenagem urbana e saúde pública além dos custos sociais e ambientais decorrentes dos eventos de alagamento. 3. LEGISLAÇÃO No âmbito estratégico nacional instituiu-se em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010) que dispõe princípios, objetivos e instrumentos, bem como diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, a serem adotadas pela união isoladamente ou em parceria com os Estados, Municípios e Particulares, visando o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. A PNRS prevê que as ações para manejo dos resíduos sólidos sejam planejadas seguindo a hierarquia: Não Geração, Redução, Reuso, Reciclagem, Tratamento e, por fim, Disposição Final dos rejeitos, seja no Plano nacional de Resíduos Sólidos, nos planos estaduais, municipais, intermunicipais ou regionais. A PNRS ainda prioriza acesso aos recursos, incentivos e financiamentos pela união, aos municípios que implantarem coleta seletiva com participação de catadores e consórcios intermunicipais com plano de gerenciamento intermunicipal ou regional. É disposto também, na PNRS, os produtos obrigados a atender à logística reversa, por responsabilidade compartilhada, sob orientação do Ministério do Meio Ambiente, seguindo o diagrama. Figura 8 - Responsabilidade compartilhada - PNRS Ainda no âmbito estratégico, temos políticas estaduais de resíduos sólidos, como é o caso do estado de São Paulo, cuja política é instituída pela Lei Estadual nº 12.300. No âmbito operacional, normativo, de gestão de resíduos específicos, temos as resoluções do CONAMA. A resolução mais relevante para a drenagem urbana, que trata de resíduos sólidos é a Resolução CONAMA Nº 307/2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Esta resolução considera que os geradores de resíduos da construção civil são os responsáveis pelos mesmos e exige a elaboração de Planos Municipais de gestão de resíduos de construção civil, bem como Planos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil por parte dos grandes geradores, cujo objetivo prioritário deve ser a não geração de resíduos, e secundariamente a redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Os planos de gerenciamento dos grandes geradores devem contemplar a caracterização, triagem, acondicionamento, transporte e destinação dos resíduos de acordo com sua classe: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados ou encaminhados a aterro de resíduos classe A de reservação de material para usos futuros; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. IV - Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. Embora a legislação esteja dando grandes passos visando a gestão integrada dos resíduos sólidos, no nível tático/operacional as prefeituras encontram grandes dificuldades e novas soluções técnicas devem ser implementadas buscando a resolução dos problemas oriundos destes tipos de rejeitos. 4. CASO DE SUCESSO Breve estudo de caso: Coleta mecanizada de resíduos sólidos em São Paulo Desde o começo de julho deste ano, um projeto de coleta de lixo mecanizada está sendo colocado em prática na cidade de São Paulo e em municípios adjacentes. O projeto iniciou-se nos bairros de Pirituba, no centro (próximo ao Mercado Central), na região próxima à Avenida Faria Lima e nos Jardins. Até o final do ano mais um container subterrâneo deverá ser instalado no Jaguaré e outros 700 containers de superfície serão colocados em outros bairros da cidade. O projeto de coleta mecanizada divide-se basicamente em dois tipos: Pontos de coleta com contêineres de superfície Pontos de coleta com contêineres subterrâneos Contêineres de superfície: Os contêineres de superfície têm capacidade unitária de 3.200 litros. São fabricados em aço galvanizado ou plástico e seu uso é feito a partir de uma alavanca próxima ao chão que com o pé pode ser acionada para que este seja aberto. Seu formato é pensado para que possa ser esvaziado e higienizado por caminhões dotados de braços mecânicos. Dessa forma, a remoção do lixo é feita mais rapidamente e uma solução biodegradável de água com enzimas vivas, garante maior higiene e menor mau cheiro nos pontos de coleta. Abaixo, uma foto ilustra um ponto de coleta com os contêineres instalados. Figura 9 - Contêiner de superfície Contêineres subterrâneos: Dentre os tipos de contêineres subterrâneos, existem os bigtainers e os sidetainers. Os primeiros são contentores de grande capacidade, acomodam 20.000 litros /10 toneladas de lixo. Já os sidetainers são menores e abrigam 3.200 litros de lixo. O acesso para deposição do lixo nestes dispositivos enterrados é feito por meio de cartões magnéticos cadastrados e que são utilizados pelos moradores da região para abrir caixas de aço galvanizado com pintura antipixação e antiferrugem e que têm vida útil de 10 anos. Figura 11 - Sidetainers subterâneos Figura 10 - Caixa de recebimento de descarte de resíduos Funcionamento Os coletores subterrâneos possuem uma tecnologia que os permite comunicar-se com uma central de monitoramento, dessa forma, quando o contêiner chega a 80% de sua capacidade, sensores detectam a informação e esta é transmitida à Loga, concessionária administradora dos serviços. A partir daí, a empresa envia um veículo especial que remove o contêiner e o substitui por um novo. Já os coletores de superfície são constantemente esvaziados e higienizados também por caminhões que destinam o lixo após a coleta. Segundo o presidente da empresa Loga, Luiz Gonzaga Alves Pereira, o investimento de R$12 milhões visa fazer com que São Paulo acompanhe as tendências mundiais de países desenvolvidos de gestão de resíduos sólidos. Além de mecanizar o processo de coleta de lixo, o projeto trás como benefício o fato de o lixo poder ser dispensado pelos cidadãos a qualquer hora do dia, sem ficar exposto ao ar livre, o que evita que libere gases mal cheirosos no ambiente e estejam sujeitos a serem carregados durante as chuvas, evitando entupimento dos sistemas de micro drenageme poluição dos corpos d’água. Outros pontos positivos são a menor circulação de caminhões de coleta, já que a coleta passa a ser feita com menos periodicidade, gerando menor poluição do ar e menor congestionamento. Críticas ao projeto: Muitos questionamentos têm sido levantados em relação ao projeto já que, nesta etapa, não é promovida a separação do lixo, ou seja, a correta destinação daquilo que poderia ser reciclado. A maior parte das críticas vem do fato de que, de acordo com o artigo nº 54 da Política nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a partir de agosto de 2014 será proibido destinar materiais recicláveis a aterros sanitários, cabendo às prefeituras dos municípios a implantação da coleta seletiva. Na visão dos críticos, o sistema de coleta mecanizada é de alto investimento e deverá ser revisto para sua adaptação às novas regras vigentes a partir de 2014. O presidente da Loga defende o projeto, adiantando que sua instalação prevê a separação do lixo orgânico do seco e, em uma terceira etapa, materiais orgânicos; papel e papelão; plástico e filme; vidro e metal serão também separados em diferentes contêineres. 5. CONCLUSÕES As grandes cidades geram enormes quantidades de resíduos sólidos, cujo descarte e destinação é um fator importante no planejamento urbano, pois têm grande impacto nos meios socio-econômico e ambiental e na saúde pública. Os resíduos sólidos provocam a poluição de recursos hídricos, a degradação de recursos naturais e o entupimento da micro-drenagem gerando alagamentos. A geração de resíduos pode ser diminuída com ações de educação e conscientização ambiental da população e incentivos do governo, caracterizando as medidas não-estruturais. As medidas estruturais utilizam dispositivos de retenção, com destaque para os autolimpantes e exigem, por vezes, recursos altos que inviabilizam sua utilização. Cestas talvez não sejam viáveis a curto prazo, pois os órgãos de gestão de resíduos e drenagem urbana ainda encontram dificuldades tanto de manutenção do sistema quanto de definições a respeito do papel de cada setor na gestão. As medidas não estruturais demandam menores gastos e apresentam bons resultados. Aliado a isto, o estudo de bacias representativas urbanas é importante na busca de parâmetros confiáveis. Relacionar as cargas a fatores socioeconômicos ajuda no entendimento dos processos de geração e despejo de resíduos. O mau gerenciamento de resíduos sólidos implica em custos elevados para a drenagem urbana e saúde pública além dos custos sociais e ambientais decorrentes dos eventos de alagamento. 6. BIBLIOGRAFIA PNRS – Plano Nacional de Resíduos Sólidos, Lei n o 12.305, de 2 de agosto de 2010. PERS – Política Estadual de Resíduos Sólidos, Lei Estadual n o 12.300, de 16 de março de 2006. Resolução CONAMA no 307, de 5 de julho de 2002. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Mesquita Jr., J.M. Gestão Integrada de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2007. Monteiro, J.H.P. [et al.] Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. Das Neves, M.G.F.P., Tucci, C.E.M. Resíduos Sólidos na Drenagem Urbana: Aspectos Conceituais. RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 13 n.3 Jul/Set 2008, 125-135 Das Neves, M.G.F.P., Tucci, C.E.M. Resíduos Sólidos na Drenagem Urbana: Estudo de Caso. RBRH — Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 13 n.4 Out/Dez 2008, 43-53 Pinto, T.P. Metodologia para a Gestão Diferenciada de Resíduos Sólidos da Construção Urbana. Tese de doutorado. São Paulo, 1999. http://www.redebrasilatual.com.br/temas/ambiente/2012/09/empresa-responsavel-por-coleta- mecanizada-em-sp-afirma-que-sistema-e-legado-para-a-cidade (consultado: 3/11/2012) http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=50236 (consultado: 3/11/2012) http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2011/01/18/65322-ate-2014-coleta-seletiva-estara- implantada-em-todo-brasil.html (consultado: 3/11/2012) http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/07/sao-paulo-usa-tecnologia-para-tornar-coleta-de- lixo-mais-eficiente.html (consultado: 3/11/2012) http://www.loga.com.br/news.asp?CP=LOGA&cod=1089&PG=LG_P02&TI=LOGA%20inicia%20Coleta%2 0Mecanizada%20em%20S%C3%A3o%20Paulo (consultado: 3/11/2012)
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