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1 1 Urgências Traumáticas Gestão para Educação Permanente dos Profissionais da Rede de Atenção às Urgências GEPPRAU Urgências traumáticas Módulo 3 Tema 4 - Trauma pediátrico 2 Urgências Traumáticas Este conteúdo foi elaborado por Thiago Rodrigues Araújo Calderan, médico, cirurgião geral e do trauma, mestre em ciências da cirurgia e seus direitos foram cedidos ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) que desenvolveu este material em parceria com o Ministério da Saúde (MS) no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). A parceria entre o Ministério da Saúde e as entidades de saúde portadoras do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social em Saúde (CEBAS-SAÚDE) e de Reconhecida Excelência, a exemplo do HAOC, é regulamentada pela Lei Federal nº 12.101, de 27 de novembro de 2009. 2 3 Urgências Traumáticas URGÊNCIAS TRAUMÁTICAS Neste material, serão apresentadas as principais emergências na área da cirurgia do trauma. O profissional de saúde que atua na área terá informações importantes sobre anatomia, fisiologia, manejo e principais condutas a serem tomadas no atendimento ao traumatizado. Tema 4 Trauma pediátrico Objetivos de aprendizagem Conhecer a epidemiologia do trauma pe- diátrico. Conhecer as particularidades da criança e sua relação com o atendimento ao trau- matizado. Saber as diferenças das vias aéreas da criança. Conhecer as particularidades da ventilação e respiração da criança. Entender os aspectos relacionados à circu- lação da criança e reposição volêmica. Conhecer a adaptação de avaliação neuro- lógica para a faixa pediátrica. Conhecer as particularidades do trauma torácico pediátrico. Conhecer as particularidades do trauma abdominal pediátrico. Conhecer as particularidades do trauma- tismo craniano pediátrico. Conhecer as particularidades do trauma raquimedular pediátrico. Conhecer as particularidades do trauma musculoesquelético pediátrico. Reconhecer sinais de abuso infantil. • • • • • • • • • • • • 4 Urgências Traumáticas Trauma pediátrico 5 1. Introdução ......................................................................................... 6 2. Epidemiologia ..................................................................................... 7 3. Vias aéreas ........................................................................................ 8 3.1. Anatomia .................................................................................... 8 3.2. Dispositivos para manutenção das vias aéreas ............................... 10 3.3. Dispositivos supraglóticos ............................................................ 11 3.4. Via aérea definitiva ..................................................................... 13 3.5. Sequência de intubação rápida ..................................................... 14 3.6. Tamanho dos equipamentos pediátricos......................................... 15 4. Respiração e ventilação ..................................................................... 15 4.1. Drenagem de tórax .................................................................... 16 5. Circulação e choque .......................................................................... 16 5.1. Sinais vitais ............................................................................... 17 5.2. Reposição volêmica .................................................................... 18 6. Neurológico ...................................................................................... 19 7. Exposição ........................................................................................ 20 8. Trauma por sistemas ......................................................................... 20 8.1. Trauma torácico ......................................................................... 20 8.2. Trauma abdominal ...................................................................... 21 8.3. Traumatismo craniano ................................................................. 22 8.4. Trauma raquimedular .................................................................. 23 8.5. Trauma musculoesquelético ......................................................... 23 9. Abuso infantil ................................................................................... 24 10. Medicações na faixa pediátrica .......................................................... 26 Síntese ............................................................................................... 28 Referências bibliográficas....................................................................... 29 Sumário 4 5 Urgências Traumáticas Trauma pediátrico 6 Urgências Traumáticas criança possui algumas particularidades que a diferenciam do adulto e precisam ser conhecidas e reconhecidas para promover o adequado Voltar Sumário Introdução1. A atendimento ao traumatizado. Algumas respostas fisiológicas da criança são diferenciadas, bem como algu- mas condições anatômicas. Por isso, identificaremos os principais tópicos de atenção no atendimento e cuidado desses pacientes. O atendimento inicial do paciente pediátrico traumatizado respeita os mes- mos princípios e a mesma sequência de prioridade de atendimento do pacien- te adulto, ou seja, deve-se seguir o protocolo do “ABCDE”. A seguir, identifi- caremos as particularidades dessa faixa etária para o manejo no atendimento inicial. 6 7 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Segundo informações do Ministério da Saúde, mais de um terço dos traumas admitidos no pronto-socorro ocorre na faixa pediátrica, sendo de 14 a 20% na faixa de 0 a 9 anos, de 9 a 10% na faixa de 10 a 14 anos, e 8 a 9% na faixa de 15 a 19 anos. As causas externas (categoria em que os traumas estão incluídos) represen- tam a principal causa de morte em todas as faixas etárias de 1 a 19 anos, chegando a 74,2% nos maiores de 15 anos, conforme a tabela abaixo. Com esses números elevados, entendemos que a prevenção de trauma na faixa pediátrica é uma medida imprescindível para diminuir as mortes. Com relação ao mecanismo de trauma que originou a morte por causas exter- nas, os afogamentos e atropelamentos (dentro de transporte) são as prin- cipais causas em menores de 15 anos. Na população adolescente, aumenta a incidência de agressões e eventos com motocicletas. Causas de mortalidade na faixa pediátrica Mecanismo de trauma e mortalidade 2.Epidemiologia Ordem/ Faixa etária (anos) 1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 1ª 17,3%Causas externas 29,7% Causas externas 42,7% Causas externas 74,2% Causas externas 2ª 15,3%Respiratório 18,% Neoplasias 13,8% Neoplasias 4,6% Neoplasias 3ª 9,2%Infecção 11,7% Sistema nervo- so central 9,6% Sistema nervo- so central 3,4% Circulatório Ordem/ Faixa etária (anos) 1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 1ª 27,9%Afogamento 40,2% Transporte 30,4% Agressões 60,9% Agressões 2ª 26,2%Transporte 20,7% Afogamento 29,0% Transporte 20% Transporte (9% em motocicletas) 3ª 8,7%Agressões 11,5% Agressões 17,3% Afogamento 4,6% Suicídio Total de óbitos em 2015 1.269 970 2.089 15.852 Fonte: DATASUS Fonte: DATASUS 8 Urgências Traumáticas Voltar Sumário A causa mais comum de parada cardíaca na criança é a incapacidade de manter as vias aéreas pérvias. Somado este conceito ao conhecimento de manutenção das vias aéreas desobstruídas, temos um reforço na necessidade de manter os cuidados no primeiro item do atendimento inicial (letra “A”). 3.Vias aéreas Com relação à diferença anatômica, existem alguns pontos que devem ser leva- do em consideração e que você verá a seguir. • A criançapossui uma desproporção entre a cabeça e a face, o que re- sulta em uma flexão passiva da coluna cervical ao ser colocada na posição deitada em decúbito dorsal. 3.1.Anatomia O objetivo do cuidado está em manter o plano da face em paralelo à prancha de imobilização, na “posição de cheirar”. Pode ser necessário colocar um acolchoa- mento sob o tronco da criança nos primeiros anos de vida. 8 9 Urgências Traumáticas Voltar Sumário • A anatomia da laringe da criança (em funil) facilita o acúmulo de secre- ções na região retrofaríngea. • O tamanho da traqueia da criança é menor. Deve-se ter cuidado na intu- bação para não a tornar seletiva. Faixa etária Comprimento da traqueia Bebê 5 cm 18 meses 7 cm • A criança possui uma língua mais flácida, o que facilita a “queda” da lín- gua com obstrução de vias aéreas posteriormente. • A criança possui a epiglote mais cefálica e flexível, o que é uma carac- terística a ser observada na obtenção de via aérea definitiva através de intubação orotraqueal. Crianças Desproporção entre cabeça e face Língua grande e flácida Laringe em funil na área da cartilagem cricoide Epiglote mais cefálica, alongada e flexível 10 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Os dispositivos para manutenção das vias aéreas são os mesmos usados para adultos (cânula orofaríngea e nasofaríngea), com adequação con- forme a idade (peso). Porém, a introdução da cânula orofaríngea (cânula de Guedel), utilizada somente em crianças inconscientes, é feita de forma diferente: a cânula deve ser introduzida diretamente na posição final, sem direcionamento para o palato (como feito no adulto). Pode-se usar abaixador de língua para auxiliar o proce- dimento. É importante atentar para a escolha do tamanho correto, medido de forma igual no paciente adulto: a cânula deve preencher a distância entre a rima labial e o ângulo da mandíbula. 3.2.Dispositivos para manutenção das vias aéreas Fonte: Centro de Simulação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp - Acervo pessoal 2017. 10 11 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Os dispositivos supraglóticos podem ser usados na criança da mesma forma que no adulto, respeitando o tamanho a ser usado pela faixa de peso. Um método simples para determinar o tamanho da máscara laríngea é com- parar o dispositivo com a orelha da criança. Também podemos seguir a reco- mendação de peso no verso da embalagem, de fácil acesso. 3.3.Dispositivos supraglóticos Número da máscara laríngea Volume a infundir (mL) Peso do paciente (kg) #1 < 4 < 5 #2 < 10 10-20 #2,5 < 14 20-30 #3 < 20 30-50 #4 < 30 50-70 #5 < 40 70-100 Anotações: 12 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Com relação ao tubo laríngeo, a cor do dispositivo tem correlação direta com o peso do paciente. 12 13 Urgências Traumáticas A indicação de via aérea definitiva ocorre independentemente da idade do pa- ciente. • Intubação orotraqueal: deve-se usar tubo sem balonete até os 8-9 anos de idade, já que a criança possui, anatomicamente, uma diminuição do ca- libre da via aérea ao nível do anel cricoide, que funciona como selo natural. • Intubação nasotraqueal: não deve ser realizada em criança menor de 9 anos de idade. • Cricotireoidostomia cirúrgica: não deve ser realizada em crianças me- nores de 10-12 anos de idade, por não apresentarem o arcabouço das vias aéreas superiores completamente formado, sendo a cartilagem cricoide a única sustentação da traqueia superiormente. Realiza-se esse procedimen- to quando é possível, ao exame físico, fazer a palpação de forma fácil da membrana cricotireoidiana. 3.4.Via aérea definitiva Comparação da via aérea da criança e do adulto Área de cricoide estreitada Osso hioide Músculo esterno-hióideo Cartilagem tireoide Cartilagem cricoide Glândula tireoide Membrana cricotireóidea Veia jugular interna Artéria carótida comum Manúbrio esternal Músculo esterno- cleidomastóideo 14 Urgências Traumáticas Voltar Sumário A criança apresenta reflexo vagal exacerbado em resposta às medicações seda- tivas, hipóxia ou durante a laringoscopia para a intubação. O reflexo vagal, de- corrente de uma anormal estimulação do nervo vago, faz com que ocorra grande desaceleração cardíaca e queda abrupta da pressão arterial, com consequente redução do aporte de sangue e oxigênio aos sistemas, principalmente o cérebro. Dessa forma, após a pré-oxigenação do paciente e antes de administrar as dro- gas sedativas, deve-se usar atropina na dose de 0,1 a 0,5 mg (0,02 mg/kg). 3.5.Sequência de intubação rápida Anotações: 14 15 Urgências Traumáticas Voltar Sumário 3.6.Tamanho dos equipamentos pediátricos Idade/ Peso Máscara de O2 Cânula de Guedel Balão com válvula Lâmina de larin- goscopia Tubo endotra- queal Mandril Cânula de aspiração Pré-termo/ 3kg Pré-termo ou recém- -nascido Lactente Lactente 0 – reta 2,5-3,0 Sem cuff 6 Fr 6-8 Fr 0-6 meses/ 3,5 kg Recém- -nascido Lactente/ Pequena Lactente 1 – reta 3,0-3,5 Sem cuff 6 Fr 8 Fr 6-12 meses/ 7kg Pediátrico Pequena Pediátrico 1 – reta 3,5-4,0 Sem cuff 6 Fr 8-10 Fr 1-3 anos/ 10-12 kg Pediátrico Pequena Pediátrico 1 – reta 4,0-4,5 Sem cuff 6 Fr 10 Fr 4-7 anos/ 16-18 kg Pediátrico Média Pediátrico 2 – reta ou curva 5,0-5,5 Sem cuff 14 Fr 14 Fr 8-10 anos/ 24-30 kg Adulto Média/ Grande Pediátrico/ Adulto 2-3 – reta ou curva 5,5-6,5 Com cuff 14 Fr 14 Fr Prosseguindo a avaliação inicial do traumatizado, temos a letra “B”, que consiste na respiração e ventilação. A principal causa de parada cardiorres- piratória na faixa pediátrica é a hipoventilação com consequente hipóxia. Todos os quadros apresentados pelo adulto podem ser apresentados pela criança. Há maior chance de ocorrer quadro de pneumotórax hipertensivo na criança do que no adulto, por apresentar maior mobilidade das estruturas mediastinais. 4.Respiração e ventilação 16 Urgências Traumáticas A única diferença entre crianças e adultos é o tamanho do dreno de tórax. 4.1.Drenagem de tórax Idade/Peso Dreno de tórax Pré-termo/3 kg 10-14 Fr 0-6 meses/3,5 kg 12-18 Fr 6-12 meses/7 kg 14-20 Fr 1-3 anos/10-12 kg 14-24 Fr 4-7 anos/16-18 kg 20-32 Fr 8-10 anos/24-30 kg 28-38 Fr Perda volêmica < 30% 30-45% > 45% Cardiovascular Aumento da FCPulso periférico fraco PAS no limite inferior. Diminuição da pressão de pulso. Pulsos periféricos ausentes. Pulso central fraco. Hipotensão Taquicardia extrema seguida de bradicardia Alterações neurológicas Ansioso, irritado, con- fuso Letárgico, sem resposta à dor. Coma Pele Fria Tempo de reenchi- mento capilar prolon- gado Cianose. Tempo de reenchimento capilar muito prolongado. Pálido Com relação à avaliação da circulação (letra “C”), a criança apresenta maior reserva fisiológica, de forma que os sinais vitais permanecem normais mesmo em situação de choque grave. Ou seja, somente haverá alterações de sinais vitais após perda de mais de 30% da volemia. Além disso, situações de estresse por si só geram aumento da frequência car- díaca da criança. Portanto, deve-se avaliá-la de forma geral, e não somente pela alteração de frequência cardíaca, conforme a tabela. Cálculo da pressão arterial da criança: PAS = 70 + 2x idade (anos) PAD = 2/3 PAS PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica 5.Circulação e choque FC = frequência cardíaca; PAS = pressão arterial sistólica; pressão de pulso = amplitude de variação entre a pressão sistólica e a pressão diastólica. Voltar Sumário 16 17 Urgências Traumáticas Os sinais vitais da criança variam conforme a idade. 5.1.Sinais vitais GrupoIdade FR (irm) FC (bpm) Limite PAS (mmHg) Recém-nascido 0-6 semanas 30-50 120-160 60 Lactente 7 semanas-1 ano 20-30 80-140 70 Criança pequena 1-2 anos 20-30 80-130 70 Pré-escolar 2-6 anos 20-30 80-120 75 Escolar 6-13 anos 12-30 60-100 80 Adolescente 13-16 anos 12-20 60-100 90 FR = frequência respiratória; FC = frequência cardíaca; PAS = pressão arterial sistólica Voltar Sumário FC FC PA PA FR FR Anotações: T 18 Urgências Traumáticas Com relação à reposição volêmica da criança, há alguns aspectos particulares em relação ao adulto: a solução de escolha para ser reposta é a mesma (cris- taloide) e deve ser feita da mesma forma (aberta e aquecida a 39ºC). Porém, devemos ressaltar aspectos como por onde repor e quanto repor. Por onde? Quanto? O acesso venoso na criança deve ser, como no adulto, periférico. Mas como é difícil obter esse acesso, tem sido usado mais frequentemente o acesso intraósseo. Os locais preferenciais se- guem a seguinte ordem: • Percutâneo periférico (duas tentativas) • Intraósseo • Veia femoral (percutâneo) • Dissecção venosa (flebotomia) A reposição volêmica deve ser feita com solução cristaloide. Deve ser feito um bolus inicial de 20 mL/kg e, se o paciente mantiver sinais de choque, de- ve-se repetir por mais uma vez a mesma quantidade. Na persistência de sinais de choque após o segundo bolus de cristaloide, deve-se indicar reposição de hemoderivados. 5.2.Reposição volêmica Voltar Sumário Primeiro bolus de cristaloide 20 mL/kg Segundo bolus de cristaloide 20 mL/kg Hemoderivados Anotações: 18 19 Urgências Traumáticas Voltar Sumário A avaliação do estado neurológico da criança é igual à do adulto e deve ser feita no item “D” da avaliação inicial do traumatizado. A escala de coma de Glasgow é igual na avaliação tanto da abertura ocular e quanto da resposta motora, porém há uma adequação da resposta verbal à faixa pediátrica de crianças menores de 4 anos, como mostra a tabela a seguir: *Igual ao adulto 6.Neurológico Abertura ocular* Espontânea 4 Ao estímulo verbal 3 Ao estímulo doloroso 2 Sem resposta 1 Resposta verbal Palavras apropriadas ou sorriso social, fixa e segue objetos 5 Chora, mas é consolável 4 Persistentemente irritável 3 Inquieto, agitado 2 Sem resposta 1 Melhor resposta motora* Obedece a comandos 6 Localiza dor 5 Flexão normal (retirada) 4 Flexão anormal (decorticação) 3 Extensão (descerebração) 2 Sem resposta 1 20 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Os pacientes da faixa pediátrica apresentam maior risco de hipotermia por apresentarem maior superfície corporal em relação ao peso, pele mais fina e menor isolamento térmico pelo tecido subcutâneo. Assim, trocam calor mais facilmente com o meio ambiente, o que agrava a situação do trauma. Podemos avaliar algumas particularidades de lesões por sistemas que di- ferenciam os achados de lesões e cuidados da criança traumatizada em relação ao adulto. 7. 8. Exposição Trauma por sistemas Crianças com lesões torácicas podem apresentar lesões em outros seg- mentos em 60-70% dos casos. A criança possui seus órgãos em formação, principalmente articulações, ossos e músculos, de forma que são estruturas maleáveis, com necessidade de alta energia para ocasionar fraturas. • Com relação ao tórax, não é frequente a presença de fraturas de costelas, porém pode haver lesões intratorácicas, como contusão pulmonar, pneu- motórax e hemotórax. • As estruturas do mediastino possuem uma in- tensa mobilidade, de forma que a criança é mais susceptível a desenvolver pneumotórax hiper- tensivo. • Trauma de diafragma, ruptura traumática de aor- ta, lesão traqueobrônquica, tórax instável e contu- são cardíaca são condições raras na faixa pe- diátrica. 8.1.Trauma torácico 20 21 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Ao chorar, a criança apresenta grande deglutição de ar, de forma que há um intenso risco de vômitos e consequente broncoaspiração. Além disso, o exame físico dificilmente terá boa sensibilidade para detectar ou suspeitar de possíveis lesões, porque a criança traumatizada poderá estar chorando e assustada. • Por ter uma boa reserva fisiológica, a criança responde bem ao trata- mento não operatório de vísceras abdominais parenquimatosas (fí- gado, baço e rim). Porém, não está indicado esse tratamento em situações de impossibilidade de compensação hemodinâmica com uma reposição vo- lêmica adequada. • Atentar para o alto risco de lesões de vísceras ocas passarem desperce- bidas. • Trauma de pâncreas e hematoma no duodeno são mais frequentes porque as crianças apresentam desenvolvimento incompleto do tônus do abdome. Um mecanismo possível para essa lesão é o trauma de epigastro ou hipocôndrio direito com o guidão da bicicleta. • A pelve da criança forma uma cavidade pequena, sendo mais comum a ruptura de bexiga. • Maior susceptibilidade a lesões do trato gastrointestinal decorrentes de lesões por cinto de segurança na coluna lombar (fratura de Chance). 8.2.Trauma abdominal 22 Urgências Traumáticas Voltar Sumário O sistema nervoso da criança está em formação, com achados essenciais para a avaliação do paciente traumatizado nessa faixa etária. Há um prognóstico me- lhor em lesões graves em comparação ao adulto. • A criança tem menor proteção do espaço subaracnóideo por ser relati- vamente pequeno, o que permite menos flutuabilidade do cérebro. • Pode ocorrer choque em criança decorrente de hematoma subgaleal ou epidural. • As fontanelas, que ainda não estão fechadas, quando se apresentam abau- ladas indicam possível quadro de hipertensão intracraniana. • A criança pode apresentar, com certa frequência, vômitos, amnesia e convulsões após o trauma, que são achados que podem não indicar gra- vidade. • A criança tem menor tendência a originar lesões focais decorrentes do traumatismo craniano, porém maior frequência de edema cerebral. 8.3.Traumatismo craniano Fontanela anterior Fontanela anterior Fontanela posterior Fontanela posterior Fontanela esfenoidal 22 23 Urgências Traumáticas Voltar Sumário • Como os ligamentos são mais flexí- veis e os ossos e articulações estão em formação, a criança pode apresen- tar lesão da medula espinhal, sem fratura da coluna em 2/3 dos casos. • Achados normais de subluxação da vértebra cervical C2 em relação à C3, que podem ser encontrados em 40% dos pacientes abaixo de 7 anos e em 20% dos pacientes abaixo de 16 anos. • Aumento da distância do odontoi- de e arco anterior da vértebra C1 em 20% das crianças mais jovens. • A presença da fratura de coluna lombar (fratura de Chance) apresenta alto índice de associação com a lesão do trato gastrintestinal. • O transporte pré-hospitalar da criança traumatizada deve respeitar as orientações de uso de prancha longa, colar cervical e imobilização. Não deve ser transportada no colo de familiares ou socorristas sob a alegação de deixar a criança mais tranquila, visto que não há segurança no transporte. O trauma raquimedular ocorre somente em 5% dos casos na faixa pe- diátrica. 8.4.Trauma raquimedular Como reforçado anteriormente, o sistema osteomuscular da crian- ça está em desenvolvimento, então é pouco frequente a presença de fraturas, luxações e entorses. Quando essas lesões estão pre- sentes, trata-se de um mecanismo de alta energia. Uma fratura que compromete a área de crescimento do osso pode comprometer o desenvolvimento normal. • Fratura em “galho verde” – situação de fratura incom- pleta do osso, mantendo a cortical, que pode acontecer em crianças. 8.5.Trauma musculoesquelético Raio X cervical normal 24 Urgências Traumáticas Voltar Sumário HISTÓRIA EXAME FÍSICO A criançaé um indivíduo que ainda não possui condições de se defender adequa- damente e está sujeita a alta incidência de violência. Nas crianças menores de 1 ano, chama-se síndrome do bebê sacudido. Quando se deve suspeitar de abuso: 9.Abuso infantil • Discrepância entre história e achados da lesão. • Respostas inadequadas e evasivas dos cuidadores/familiares. • Intervalo prolongado entre o atendimento médico e o evento traumático. • História de lesão incompatível com o desenvolvimento neuropsicomotor da criança. • Discrepância entre história e achados da lesão. • Respostas inadequadas e evasivas dos cuidadores/familiares. • Intervalo prolongado entre o atendimento médico e o evento traumático. • História de lesão incompatível com o desenvolvimento neuropsicomotor da criança. 24 25 Urgências Traumáticas • Hematomas múltiplos em diferentes estágios de evolução. • Lesões estranhas como mordidas, marca de corda, queimaduras de cigarro. • Hematomas subdurais múltiplos sem fratura de crânio recente. • Hemorragia retiniana. • Trauma genital ou perianal. • Fraturas de ossos longos em menores de 3 anos. • Queimaduras em áreas não usuais ou bem delimitadas. Voltar Sumário Anotações: 26 Urgências Traumáticas COR Peso em kg CINZA 3-5 kg ROSA 6-7 kg VERMELHO 8-9 kg ROXO 10-11 kg AMARELO 12-14 kg BRANCO 15-18 kg AZUL 19-23 kg LARANJA 24-29 kg VERDE 30-36 kg Existem diversos aplicativos que ajustam a dose das medicações para a faixa pediátrica baseados no peso. Além disso, existe um dispositivo de fácil acesso denominado fita de Broselow. É uma métrica dividida por cores, em que cada uma representa um peso. Corre- laciona a altura da criança com o peso e fornece doses corretas das medicações a serem usadas. Com isso, há uma diminuição do tempo para decidir a dose da medicação. Como usar: colocar a fita ao lado da criança. A marca com setas fica junto ao pé da criança em posição neutra, e o limite é marcado pela cabeça da criança, onde estão anotados os valores. 10.Medicações na faixa pediátrica Anotações: 26 27 Urgências Traumáticas Anotações: Voltar Sumário 28 Urgências Traumáticas Voltar Sumário Síntese Os números relacionados ao trauma pediátrico são alarmantes. Conhe- cer a epidemiologia e promover a prevenção podem melhorar essa es- tatística. Além disso, diante de um paciente nessa faixa etária, saber reco- nhecer as particularidades que o diferenciam do adulto para promover a melhor conduta também é uma maneira de minimizar óbitos e sequelas. 28 29 Urgências Traumáticas Voltar Sumário American College of Surgeons. Committee on Trauma. (2016). ATLS, advanced trauma life support program for doctors. American college of surgeons. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva): 2009, 2010 e 2011. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2013 [acesso em 26 set 2017]. Freire E. Trauma: a doença dos séculos. In Trauma: a doença dos séculos. Atheneu; 2001. Haliloglu M, Bilgen S, Uzture N, Koner O. Método simples para determinar o tamanho da máscara laríngea ProSeal em crianças: um estudo observacional, prospectivo. Braz J Anesthesiol 2017;67(1):15-20. Ministério da Saúde. Suporte Básico de Vida - Protocolo SAMU 192. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2014. National Association of Emergency Medical Technicians (US). Pre-Hospital Trauma Life Support Committee, & American College of Surgeons. Commit- tee on Trauma. (2014). PHTLS--Pre-Hospital Trauma Life Support. Emergency Training. Townsend C, Beauchamp RD, Evers BM, Mattox KL. Sabiston Tratado de Cirur- gia: a base biológica da prática cirúrgica moderna. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier Brasil; 2014. Referências bibliográficas Marcador 16 Trauma pediátrico Introdução Epidemiologia Vias aéreas Anatomia Dispositivos para manutenção das vias aéreas Dispositivos supraglóticos Via aérea definitiva Sequência de intubação rápida Tamanho dos equipamentos pediátricos Respiração e ventilação Drenagem de tórax Circulação e choque Sinais vitais Reposição volêmica Neurológico Exposição Trauma por sistemas Trauma torácico Trauma abdominal Traumatismo craniano Trauma raquimedular Trauma musculoesquelético Abuso infantil Medicações na faixa pediátrica Síntese Referências bibliográficas
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