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BIOSSEGURANÇA 1 BIOSSEGURANÇA 1. INTRODUÇÃO A preocupação com o desenvolvimento das atividades biológicas que geram risco à saúde é uma característica antiga da humanidade. Desde 1665, quando Hobert Hooke relatou ao mundo as células, a ciência avançou enormemente na investigação dos mecanismos de geração e transmissão de várias doenças. Embora o microscópio de Hooke fosse capaz de mostrar as células, o primeiro cientista a realmente observar microorganismos vivos através de lentes de aumento foi o alemão Antoni Leewenhoek. A partir de então, é que começou a se discutir e pesquisar sobre os microorganismos. O homem é sem dúvida a espécie animal mais bem sucedida biologicamente em toda evolução da Terra, mas apesar do sucesso, alguns problemas sempre colocaram em risco a saúde da espécie humana e quase 200 anos depois da descoberta de Antoni Leewenhoek, novos avanços aconteceram, e melhorias na saúde puderam ser observadas: - Florence Nightingale (1863) reduziu a incidência da infecção hospitalar com medidas de higiene e limpeza; - Louis Pasteur (1864) derrubou a teoria da geração espontânea e desenvolveu a técnica de pasteurização; - Joseph Lister (1867) tratou os ferimentos cirúrgicos com fenol, reduzindo a infecção hospitalar; - Robert Koch (1876) descreveu os postulados de Koch, demonstrando, pela primeira vez, que uma doença infecciosa específica é causada por um microorganismo específico. A evolução do conhecimento científico e tecnológico, trouxe destacadamente para as ciências biológicas, grandes avanços através do uso e aplicação na pesquisa e produção das técnicas da engenharia genética e da biologia molecular. A aplicação dessas técnicas levou, conseqüentemente, à necessidade do debate de natureza ética e de biossegurança, temas fundamentais na área da saúde. 2 Entendemos que toda obra humana comporta certo risco físico, econômico e moral. Pode-se ou deve-se aceitá-lo quando não ultrapasse os limites fixados pela prudência, mas ninguém pode, sem grave razão, comprometer a sua saúde e a de seus semelhantes, expor a sua vida e a de outrem. Nos dias atuais, problemas como poluição, agressão ecológica, superpopulação, epidemias, endemias, miséria, ausência de saneamento básico, analfabetismo, etc., fazem da sobrevivência humana no planeta um desafio cada vez maior. 1.1. DEFINIÇÕES – BIOSSEGURANÇA, SAÚDE E HIGIENE 1.1.1. BIOSSEGURANÇA Biossegurança é o conjunto de estudos e procedimentos que visam a evitar ou controlar os riscos provocados pelo uso de agentes químicos, agentes físicos e agentes biológicos à biodiversidade. Outra definição nessa linha diz que "a biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, e proteçao do trabalhador, minimização de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados" (Teixeira & Valle, 1996). Este foco de atenção retorna ao ambiente ocupacional e amplia-se para a proteção ambiental e a qualidade. Uma outra definição, baseada na cultura da engenharia de segurança e da medicina do trabalho é encontrada em Costa (1996), onde aparece "conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnológicos". Está centrada na prevenção de acidentes em ambientes ocupacionais. Fontes et al. (1998) já apontam para "os procedimentos adotados para evitar os riscos das atividades da biologia". Embora seja uma definição vaga, sub- entende-se que estejam incluídos a biologia clássica e a biologia do DNA recombinante. O risco biológico será sempre uma resultante de diversos fatores e, portanto, seu controle depende de ações em várias áreas, priorizando-se o desenvolvimento e divulgação de informações além da adoção de procedimentos 3 correspondentes às boas práticas de segurança para profissionais, pacientes e meio ambiente. Biossegurança ou segurança biológica refere-se à aplicação do conhecimento, técnicas e equipamentos com a finalidade de prevenir a exposição do trabalhador, laboratório e ambiente a agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos. Biossegurança define as condições sobre as quais os agentes infecciosos podem ser seguramente manipulados e contidos de forma segura. 1.1.2. SAÚDE A OMS ( Organização Mundial da Saúde ), fundada em 1948, define saúde assim: “Saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doenças ou enfermidades.” Quando a Organização Mundial da Saúde foi criada, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia uma preocupação em traçar uma definição positiva de saúde, que incluiria fatores como alimentação, atividade física, acesso ao sistema de saúde e etc. O "bem-estar social" da definição veio de uma preocupação com a devastação causada pela guerra, assim como de um otimismo em relação à paz mundial — a Guerra Fria ainda não tinha começado. A OMS foi ainda a primeira organização internacional de saúde a considerar-se responsável pela saúde mental, e não apenas pela saúde do corpo. A definição adotada pela OMS tem sido alvo de inúmeras críticas desde então. Definir a saúde como um estado de completo bem-estar faz com que a saúde seja algo ideal, inatingível, e assim a definição não pode ser usada como meta pelos serviços de saúde. Alguns afirmam ainda que a definição teria possibilitado uma medicalização da existência humana, assim como abusos por parte do Estado a título de promoção de saúde. Por outro lado, a definição utópica de saúde é útil como um horizonte para os serviços de saúde por estimular a priorização das ações. A definição pouco restritiva dá liberdade necessária para ações em todos os níveis da organização social. 4 Outra definição um tanto mais realista é aquela na qual se diz que: “Saúde é um estado habitual de equilíbrio do organismo”. 1.1.3. HIGIENE A higiene é fundamental para o bem-estar do homem. São os primeiros cuidados para uma vida sadia. Diversas podem ser as definições, conforme é citado abaixo: Higiene – “Ciência que visa a preservação da saúde e a prevenção da doença, através de medidas profiláticas e educativas.” Higiene – “Conjunto de normas criadas com a finalidade de prevenir a doença, tornando a vida mais saudável”. Depende de condições básicas de asseio e limpeza em todos os lugares: corpo, roupas e ambiente. Mais especificamente, falamos da Higiene do Trabalho que é definida como: “A ciência que trata da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos originados nos locais de trabalho e que podem prejudicar a saúde e o bem estar dos trabalhadores, também tendo em vista o possível impacto nas comunidades vizinhas e no meio ambiente em geral.” Segundo a OMS, é a parte que determina as regras que o homem deve observar para conservar a saúde. “É o estudo da saúde e dos meios que devemos usar para conservá-la (no ambiente de trabalho)”. 2. SEGURANÇA DO TRABALHO Segurança do trabalho é o estudo e a execução de medidas que visam a remoção das condições inseguras propiciando a eliminação dos acidentes, ou a redução de seu número e gravidade. A segurança no trabalho decorre, de um conjunto de normas cuja observância levará à solução ou à eliminação dos riscos que ameaçam a integridade física da pessoa. 5 Segurançado trabalho pode ser entendida como os conjuntos de medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador. A Segurança do Trabalho estuda diversas disciplinas como Introdução à Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho, Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e Instalações, Psicologia na Engenharia de Segurança, Comunicação e Treinamento, Administração aplicada à Engenharia de Segurança, O Ambiente e as Doenças do Trabalho, Higiene do Trabalho, Metodologia de Pesquisa, Legislação, Normas Técnicas, Responsabilidade Civil e Criminal, Perícias, Proteção do Meio Ambiente, Ergonomia e Iluminação, Proteção contra Incêndios e Explosões e Gerência de Riscos. O quadro de Segurança do Trabalho de uma empresa compõe-se de uma equipe multidisciplinar composta por Técnico de Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho. Estes profissionais formam o que chamamos de SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho. Também os empregados da empresa constituem a CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, que tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. A Segurança do Trabalho é definida por normas e leis. No Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de Normas Regulamentadoras, leis complementares, como portarias e decretos e também as convenções Internacionais da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas pelo Brasil. Os meios utilizados pela Segurança do trabalho para eliminar os acidentes que causam tantos transtornos ao trabalhador, às empresas e ao país são as Normas de Segurança, a Proteção das Máquinas, a aplicação e uso de Equipamentos de Proteção, etc. Segurança do trabalho deve ser entendida como um conjunto de ações que a empresa e seus empregados tomam para evitar que pessoas venham a acidentar-se, sejam eles executantes ou usuários. 6 As condições de trabalho variam de empresa para empresa, mas algumas regras são válidas para todas elas, como é citado a seguir: • Eliminar as condições inseguras Ex.: Uso de escadas, piso adequado, etc. • Exigir e oferecer ao trabalhador cuidados médicos Ex.: INSS, convênios médicos, enfermaria no local do trabalho, etc.; • Melhorar as condições do ambiente do trabalho e possuir Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC’s) – serão vistos em detalhes nas próximas aulas. Ex.: Iluminação, ventilação, limpeza, escadas, etc.; • Fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) adequados – serão vistos em detalhes nas próximas aulas. Ex.: Luvas, máscaras, jalecos, etc. • Promover cursos de treinamento e aperfeiçoamento periodicamente. Obs.: Treinamento do pessoal novo e periodicamente de todo pessoal, em normas de segurança. “Quem conhece os riscos aprende a se auto proteger”; • Apoiar a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e atender às suas recomendações. • Estabelecer controle direto sobre equipamentos ou substâncias novas; • Estabelecer Normas de Segurança ( regras básicas de segurança que serão vistas em detalhes na prevenção de acidentes) para as operações costumeiras. 3. NORMAS BÁSICAS DE SEGURANÇA NO AMBIENTE DE TRABALHO A segurança no ambiente de trabalho varia de acordo com o setores da indústria e de acordo com as tarefas. Todavia, há alguns princípios em comum: 7 • Abordagem estruturada com base na avaliação de risco • Papéis claros e responsabilidades claras. • Sistemas de trabalho seguros e indicações claras que deverão ser seguidas • Formação e competências adequadas • Envolvimento dos trabalhadores na avaliação do risco e do processo de gestão da manutenção • Comunicação eficaz Cinco regras básicas para uma manutenção em segurança Planejamento ; Tornar a zona de trabalho segura; Utilizar o equipamento adequado; Trabalhar conforme planejado; Verificação final. 3.1. Planejamento A manutenção deve começar com um planejamento adequado. Deve ser feita uma avaliação de risco e os trabalhadores devem participar neste processo. As questões a abordar na fase de planeamento são: • O âmbito da tarefa – o que precisa de ser feito e como irá afetar os restantes trabalhadores e as actividades do local de trabalho • Avaliação de risco: os perigos potenciais têm de ser identificados (por exemplo, substâncias perigosas, espaços confinados, peças móveis de máquinas, substâncias químicas ou pó no ar), e têm de ser desenvolvidas medidas para eliminar ou minimizar os riscos (para mais informações consulte a secção da avaliação de risco) • Sistemas de segurança que têm de ser definidos (autorizações de trabalho, sistemas de trancamento) • O tempo e os recursos que a atividade vai consumir • Comunicação entre a pessoa da manutenção e da produção e entre as restantes partes envolvidas • Competência e formação adequada Os empregadores têm de garantir que os trabalhadores têm as competências de que necessitam para realizarem as tarefas necessárias e que estão informados sobre os procedimentos de trabalho e que sabem o que fazer 8 se uma situação exceder a sua competência. Os empregadores devem pensar cuidadosamente na "cadeia de comando" dos elementos envolvidos numa tarefa de manutenção e em quaisquer procedimentos que irão ser usados durante a atividade, incluindo os procedimentos de comunicação, caso exista um problema. Isto é especialmente importante se a manutenção for realizada por pessoal subcontratado. É crucial consultar os trabalhadores e mantê-los informados durante a fase de planejamento. Os funcionários que executam uma tarefa de manutenção devem ser informados dos resultados da avaliação de risco inicial e, para além disso, também devem estar envolvidos nessa avaliação. Dada a sua familiaridade com o local de trabalho, estão, frequentemente, na melhor posição para identificar os perigos e as formas mais eficazes de os enfrentar. A participação dos trabalhadores no processo de planejamento aumenta não só a segurança do trabalho de manutenção, como também a sua qualidade. 3.2. Tornar a área de trabalho segura A área de trabalho tem de ser segura evitando acessos não autorizados, por exemplo, através do uso de barreiras e sinais. Ela também tem de ser mantida limpa e segura, com a alimentação elétrica trancada, as peças móveis das máquinas imobilizadas, ventilação temporária instalada e vias de segurança estabelecidas para que os trabalhadores entram e saiam da zona de trabalho. Devem ser colocados sinais de aviso nas máquinas com a data e a hora do trancamento, bem como o nome da pessoa autorizada a removê-lo. Desta forma, a segurança do trabalhador que realiza a manutenção na máquina não será comprometida por outro trabalhador que, inadvertidamente, tente ligá-las. 3.3. Utilização do equipamento adequado 9 Os trabalhadores envolvidos nas tarefas de manutenção devem ter as ferramentas e os equipamentos adequados, que poderão ser diferentes daqueles que normalmente utilizam. Tendo em conta que eles poderão estar a trabalhar em zonas que não foram concebidas para ter pessoas a trabalhar lá e que poderão estar expostos a uma variedade de perigos, também terão de terequipamentos de proteção pessoal adequados. Em relação aos equipamentos e ferramentas a usar, os empregadores devem assegurar que: • estão disponíveis a ferramenta certa e o equipamento certo para a tarefa (juntamente com as instruções para os usar, se necessário) • estão em estado adequado • são adequados ao ambiente de trabalho (por exemplo, não usar ferramentas que façam faíscas em ambientes inflamáveis) • têm um design ergonómico Todo o equipamento de proteção individual tem de: • ser adequado relativamente aos riscos a prevenir, sem que ele próprio implique um aumento do risco; • corresponder às condições existentes no local de trabalho • ter em conta as exigências ergonómicas e de saúde do trabalhador; • Ser adequado ao portador, depois de feitos os ajustamentos necessários. 3.4. Trabalhar conforme planejado Os procedimentos de trabalho seguro têm de ser comunicados, compreendidos pelos trabalhadores e supervisores e aplicados corretamente. O trabalho também deve ser monitorizado de maneira a que os sistemas de trabalho seguros acordados e as regras do local sejam cumpridos. A manutenção, frequentemente, é realizada sob pressão, como por exemplo – quando uma avaria faz parar um processo produtivo. Os procedimentos de segurança têm de ser seguidos, mesmo quando há pressão de tempo: os atalhos podem ter um preço alto se provocarem acidentes, lesões ou danos patrimoniais. Têm de ser implementados procedimentos para acontecimentos inesperados. Uma parte do sistema de trabalho seguro deve ser parar de trabalhar assim que for encontrado um problema imprevisto ou um problema que exceda a nossa 10 competência.’ É muito importante recordar que se forem excedidos os limites das’ nossas competências, isso poderá resultar em acidentes. 3.5. Fazer verificações finais O processo de manutenção tem de terminar com verificações finais para garantir que a tarefa foi concluída, que o objeto sujeito a manutenção está num estado seguro e que todos os resíduos gerados durante o processo de manutenção foram limpos. Quando tudo estiver verificado e for declarado seguro, então a tarefa pode ser concluída e os supervisores e os restantes trabalhadores podem ser notificados. O último passo implica preencher um relatório que descreva o trabalho realizado e incluindo comentários sobre as dificuldades encontradas, juntamente com recomendações de melhoria. O ideal seria discutir isto numa reunião com o pessoal na qual os trabalhadores envolvidos no processo, bem como os que trabalharam nas imediações, possam tecer comentários sobre a atividade de manutenção e dar sugestões para melhorar o processo. 4. ACIDENTE DE TRABALHO A origem do acidente de trabalho remonta desde a história do próprio homem que, na luta pela sobrevivência, evoluiu desde a atividade de caça e pesca, ao cultivo da terra, à extração de minérios e à produção em grandes escalas nas indústrias. Acidentes de trabalho são ocorrências altamente indesejáveis, que devem ser evitadas e controladas através das várias técnicas prevencionistas. Existem dois pontos de vista para se definir Acidente de trabalho: Do ponto de vista Prevencionista: é definido como uma ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores, e/ou danos materiais. 11 E do ponto de vista Legal, no Brasil, considera-se acidente de trabalho aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença, que cause a morte, ou a perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. 4.1. CAUSAS DE ACIDENTES Como todos os eventos, os acidentes possuem uma ou mais causas, e uma ou mais conseqüências. A prevenção de acidentes consiste em eliminar as causas, evitando assim, a sua ocorrência. A prevenção de acidentes interessa a todos os setores: 1) Ao trabalhador • assegura qualidade de vida • evita perda de rendimentos • mantém sua auto-estima • trabalho melhor 2) Ao empregador • ganhos de produtividade • preservação da imagem da empresa perante à comunidade • redução dos custos diretos e indiretos • diminuição de litígios trabalhistas • menor rotatividade da mão-de-obra 3) A sociedade/governo • menores encargos previdenciários • imagem positiva da nação perante organismos internacionais • valorização do ser humano por meio de políticas públicas • diminuição do "Custo Brasil" A prevenção de acidentes deve obedecer a um processo dinâmico e constante que se caracterize por ações efetivamente prevencionistas que devem ser 12 tomadas no sentido de evitar, eliminar, controlar ou impedir a evolução e consolidação dos riscos no ambiente de trabalho. A cuidadosa investigação de um acidente oferece elementos valiosos para a análise que deve ser feita, concluindo-se sobre suas causas e suas conseqüências. A análise dos acidentes fornece dados que se acumulam e possibilitam uma visão mais correta sobre as condições de trabalho nas empresas, com indicações sobre os tipos de acidentes mais comuns, as causas mais atuantes, a gravidade das conseqüências e os setores que necessitam de maior atenção do SESMT e da CIPA. O risco de acidente passa a ser maior quando nos acostumamos a conviver com o perigo e assim passamos a ignorá-lo. Entre os vários estudos desenvolvidos no campo da segurança do trabalho, encontramos a Teoria de Heinrich que diz o seguinte: O acidente e consequentemente a lesão são causados por alguma coisa anterior, alguma coisa onde se encontra o homem, e todo acidente é causado, ele nunca acontece. É causado porque o homem não se encontra devidamente preparado e comete atos inseguros, ou então existem condições inseguras que comprometem a segurança do trabalhador, portanto os atos inseguros e as condições inseguras constituem o fator principal na causa dos acidentes. A rigor, também poderiam originar-se de causas sinistras e catástrofes, que não serão objeto de considerações no presente estudo. 5. ATOS INSEGUROS E CONDIÇÕES INSEGURAS 5.1. Atos inseguros Reside no fator humano, isto é, são aqueles decorrentes da não obediência às normas de segurança e podem ser conscientes e inconscientes. • Consciente – a pessoa conhece o perigo de seu procedimento, mas arrisca-se. • Inconsciente – desconhece o perigo que está correndo, por isso pratica o ato inseguro. 13 Em geral, os atos praticados são: • Recusa do funcionário em utilizar os EPI’s (Equipamentos de proteção individual); • Uso incorreto das ferramentas manuais; • Uso de equipamentos com defeito; • Uso de equipamentos inadequados à função; • Uso incorreto do material ou equipamento utilizado; • Não obedecer a sinais ou instruções de segurança; • Não seguir a rotina de trabalho estabelecida; • Ficar desatento ou sonolento; Mais especificamente, na área da saúde, além dos já citados, são também praticados: • Não utilizar técnicas de assepsia; • Não manter lixo adequado para materiais contaminados; • Não utilizar técnicas de armazenamento corretas; • Utilização de materiais com prazo de validade vencidos, etc 5.2. Condições inseguras São as causas dos acidentes do trabalho que decorrem diretamente das condições do local ou ambiente de trabalho. Estas condições inseguras do local ou deambiente de trabalho podem estar relacionadas com falhas técnicas ou com agentes ambientais que podem ocasionar em acidentes agudos ou em moléstias profissionais aos trabalhadores. As moléstias profissionais apresentam-se geralmente com um período de latência longo, demorando um tempo apreciável, às vezes anos, para aparecerem os primeiros sintomas. Esses agentes ambientais estão relacionados com os Riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos 5.3. Riscos de Acidentes 14 O Risco inerente é característico da substância e está relacionado com as propriedades químicas e físicas da mesma. O Risco efetivo é a probabilidade de contato com a substância. Ele está diretamente relacionado com as condições de trabalho e com o agente de risco. O Dano é a conseqüência da concretização do risco 6. RISCOS FÍSICOS São aqueles que exercem uma ação física sobre o organismo do trabalhador. Ex.: som, temperatura, radiação, etc. Neste caso aparecem doenças profissionais como surdez profissional, câncer devido às radiações, etc. Frio ou calor em excesso, ou a brusca mudança de um ambiente quente para um ambiente frio ou vice-versa, também são prejudiciais à saúde. Nos ambientes onde há a necessidade do uso de fornos, maçaricos etc., ou pelo tipo de material utilizado e características das construções (insuficiência de janelas, portas ou outras aberturas necessárias a uma boa ventilação), toda essa combinação pode gerar alta temperatura prejudicial à saúde do trabalhador. A sensação de calor que sentimos é proveniente da temperatura resultante existente no local e do esforço físico que fazemos para executar um trabalho. A temperatura resultante é função dos seguintes fatores: • umidade relativa do ar • velocidade e temperatura do ar • calor radiante (produzido por fontes de calor do ambiente, como fornos e maçaricos). A unidade de medida da temperatura adaptada é o grau Celsius, abreviadamente ºC. De um modo geral, a temperatura ideal situa-se entre 21ºC e 26 ºC enquanto a humidade relativa do ar deve estar entre 55% a 65%, e a velocidade do ar deve ser cerca de 0,12 m/s. Condições ambientais aconselhadas: • a temperatura ideal situa-se entre 21ºC e 26 ºC • a humidade relativa do ar deve estar entre 55% a 65% • a velocidade do ar deve ser cerca de 0,12 m/s Os ambientes térmicos podem ser classificados como : • Quentes (Fundições, Cerâmicas , Padarias), • Frios (armazéns frigoríficos, actividades piscatórias) • Neutros (escritórios). 15 Logicamente que as situações mais preocupantes ocorrem em ambientes térmicos frios e quentes ou sobretudo quando as duas possibilidades existem na mesma empresa ou no mesmo posto de trabalho . São considerados riscos físicos: Ruídos / calor /frio/ vibrações / pressões anormais / radiações / umidade. RUÍDOS As máquinas e equipamentos utilizados pelas empresas produzem ruídos que podem atingir níveis excessivos, podendo a curto, médio e longo prazos provocar sérios prejuízos à saúde. Dependendo do tempo de exposição, nível sonoro e da sensibilidade individual, as alterações danosas poderão manifestar-se imediatamente ou gradualmente. Quanto maior o nível de ruído, menor deverá ser o tempo de exposição ocupacional. O ruído age diretamente sobre o sistema nervoso, ocasionando: • fadiga nervosa; • alterações mentais: perda de memória, irritabilidade, dificuldade em coordenar idéias; • hipertensão; • modificação do ritmo cardíaco; • modificação do calibre dos vasos sanguíneos; • modificação do ritmo respiratório; • perturbações gastrointestinais; • diminuição da visão noturna; • dificuldade na percepção de cores. Além destas conseqüências, o ruído atinge também o aparelho auditivo causando a perda temporária ou definitiva da audição. VIBRAÇÕES Na indústria é comum o uso de máquinas e equipamentos que produzem vibrações, as quais podem ser nocivas ao trabalhador. As vibrações podem ser: Localizadas - (em certas partes do corpo). São provocadas por ferramentas manuais, elétricas e pneumáticas. Conseqüências: alterações neurovasculares nas mãos, problemas nas articulações das mãos e braços; osteoporose (perda de substância óssea). 16 Generalizadas - (ou do corpo inteiro). As lesões ocorrem com os operadores de grandes máquinas, como os motoristas de caminhões, ônibus e tratores. Conseqüências: Lesões na coluna vertebral; dores lombares. RADIAÇÕES São formas de energia que se transmitem por ondas eletromagnéticas. A absorção das radiações pelo organismo é responsável pelo aparecimento de diversas lesões. Podem ser classificadas em dois grupos: Radiações ionizantes: Os operadores de raio-x e radioterapia estão freqüentemente expostos a esse tipo de radiação, que pode afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pessoas expostas. Radiações não ionizantes: São radiações não ionizantes a radiação infravermelha, proveniente de operação em fornos, ou de solda oxiacetilênica, radiação ultravioleta como a gerada por operações em solda elétrica, ou ainda raios laser, microondas, etc. Seus efeitos são perturbações visuais (conjuntivites, cataratas), queimaduras, lesões na pele, etc. CALOR Altas temperaturas podem provocar: • desidratação; • erupção da pele; • câimbras; • fadiga física; • distúrbios psiconeuróticos; • problemas cardiocirculatórios; • insolação. FRIO Baixas temperaturas podem provocar: • feridas; • rachaduras e necrose na pele; • enregelamento: ficar congelado; • agravamento de doenças reumáticas; • predisposição para acidentes; • predisposição para doenças das vias respiratórias. 17 Medidas de proteção individual: fornecimento de EPI (ex: avental, bota, capuz, luvas especiais para trabalhar no frio). PRESSÕES ANORMAIS Há uma série de atividades em que os trabalhadores ficam sujeitos a pressões ambientais acima ou abaixo das pressões normais, isto é, da pressão atmosférica a que normalmente estamos expostos: Baixas pressões: são as que se situam abaixo da pressão atmosférica normal e ocorrem com trabalhadores que realizam tarefas em grandes altitudes. No Brasil, são raros os trabalhadores expostos a este risco. Altas pressões: são as que se situam acima da pressão atmosférica normal. Ocorrem em trabalhos realizados em tubulações de ar comprimido, máquinas de perfuração, caixões pneumáticos e trabalhos executados por mergulhadores. Ex: caixões pneumáticos, compartimentos estanques instalados nos fundos dos mares, rios, e represas onde é injetado ar comprimido que expulsa a água do interior do caixão, possibilitando o trabalho. São usados na construção de pontes e barragens. Conseqüências: • ruptura do tímpano quando o aumento de pressão for brusco; • liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos sangüíneos e morte. UMIDADE As atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcados, com umidade excessiva, capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores, são situações insalubres e devem ter a atenção dos prevencionistas por meio de verificações realizadas nesses locais para estudar a implantação de medida de controle. Conseqüências: • doenças do aparelho respiratório; • quedas; • doenças de pele; • doenças circulatórias. 7. RISCOS QUÍMICOS 18 É o perigo a que determinado indivíduo está exposto ao manipular produtos químicos que podem causar-lhe danos físicos ou prejudicar-lhe a saúde. Os danos físicos relacionados à exposição química incluem desde irritação na pele e olhos, passandopor queimaduras leves, indo até aqueles de maior severidade, causado por incêndio ou explosão. Os danos à saúde podem advir de exposição de curta e/ou longa duração, ou seja, aguda ou crônica, relacionadas ao contato de produtos químicos tóxicos (agentes de risco químico) com a pele e olhos, bem como pela inalação de seus vapores, resultando em doenças respiratórias crônicas, doenças do sistema nervoso, doenças nos rins e fígado, e até mesmo alguns tipos de câncer. Ex.: poeira, vapores e gases tóxicos. Aparecem doenças profissionais como a Silicose ( Esclerose pulmonar quando exposição à poeira de sílica livre e cristalina ), Benzolismo ( vapores de benzeno causando anemia aplástica, leucopenia e leucemia ), Saturnismo ( acúmulo de Pb no fígado, rins, cérebro e causando anemia e distúrbios funcionais ). Barreira de contenção para agentes químicos: São dispositivos ou sistemas que protegem o operador do contato com substâncias químicas irritantes, nocivas, tóxicas, corrosivas, líquidos inflamáveis, substâncias produtoras de fogo, agentes oxidantes e substâncias explosivas. Os Primeiros Cuidados a Serem Tomados: Ao lidarmos com produtos químicos é necessário ter ciência da importância de estarmos verificando a cada etapa dos procedimentos, os seguintes requisitos: 1 Recebimento dos produtos químicos: O recebimento constitui a primeira etapa da manipulação destes produtos. - Identificação - Registro - Controle de entrada 2 Identificação dos produtos químicos 19 Ao lidar com produtos químicos, a primeira providência é ler as instruções do rótulo, no recipiente ou na embalagem, observando a classificação quanto ao risco à saúde que ele oferece e às medidas de segurança para o trabalho. Isso torna possível a obtenção de informações quanto a forma correta de manipular, estocar, transportar (acondicionamento e embalagem) e descartar os resíduos do produto. 3 Rotulagem - Símbolos de Risco A rotulagem por intermédio de símbolos e textos de avisos são precauções essenciais de segurança. Os rótulos ou etiquetas aplicados sobre uma embalagem devem conter em seu texto as informações necessárias para que o produto ali contido seja tratado com toda a segurança possível. É perigoso reutilizar o frasco de um produto rotulado para guardar qualquer outro diferente, ou mesmo colocar outra etiqueta sobre a original. Isto pode causar acidentes. Quando encontrar uma embalagem sem rótulo, se não houver possibilidade de identificação, o produto deve ser descartado. 8. RISCOS BIOLÓGICOS E ERGONÔMICOS 8.1. RISCOS BIOLÓGICOS São considerados riscos biológicos: vírus, bactérias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. Os riscos biológicos ocorrem por meio de microorganismos que, em contato com o homem, podem provocar inúmeras doenças. Muitas atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios, etc. Entre as inúmeras doenças profissionais provocadas por microorganismos incluem-se: tuberculose, brucelose, malária, febre amarela. Para que essas doenças possam ser consideradas doenças profissionais, é preciso que haja exposição do funcionário a estes microorganismos. São necessárias medidas preventivas para que as condições de higiene e segurança nos diversos setores de trabalho sejam adequadas. 20 Os riscos biológicos em laboratórios podem estar relacionados com a manipulação de: • Agentes patogênicos selvagens; • Agentes patogênicos atenuados; • Agentes patogênicos que sofreram processo de recombinação; • Amostras biológicas; • Culturas e manipulações celulares (transfecção, infecção); • Animais. Todos os itens citados acima podem tornar-se fonte de contaminação para os manipuladores. As principais vias envolvidas num processo de contaminação biológica são a via cutânea ou percutânea (com ou sem lesões - por acidente com agulhas e vidraria, na experimentação animal - arranhões e mordidas), a via respiratória (aerossóis), a via conjuntiva e a via oral. Exemplos de agentes biológicos que podem causar doenças ou riscos de acidentes: Bactérias - Clostridium tetani, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus; Bacillus anthracis, Brucella, Chlamydia psittaci, Mycobacterium tuberculosis, etc. Vírus - EBV, Herpes, Hepatites B e C, HTLV 1 e 2, HIV, febre amarela, dengue, etc. Fungos - Candida albicans; Blastomyces dermatiolis, Histoplasma, Parasitas - Plasmodium, Schistosoma, Echinococcus, Leishmania, Toxoplasma gondii, Trypanosoma cruzi, ácaros em geral, etc. 8.2. RISCOS ERGONÔMICOS Riscos ergonômicos são os fatores que podem afetar a integridade física ou mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença. São considerados riscos ergonômicos: esforço físico, levantamento de peso, postura inadequada, controle rígido de produtividade, situação de estresse, trabalhos em período noturno, jornada de trabalho prolongada, repetitivos, monótonos, imposição de rotina intensa, etc. 21 Os agentes ergonômicos podem estar ligados a fatores psicológicos (como no caso dos trabalhos repetitivos e monótonos, estresse) e fatores fisiológicos ( ritmo e posição de trabalho, principalmente de caráter repetitivo ) produzindo alterações no organismo e estado emocional do trabalhador, comprometendo sua produtividade, sua saúde e sua segurança, levando ao aparecimento de sintomas tais como cansaço físico, dores musculares, hipertensão arterial, alteração do sono, diabetes, doenças nervosas, taquicardia, doenças do aparelho digestivo (gastrite e úlcera), tensão, ansiedade, problemas de coluna, e as conhecidas LER ( Lesão por Esforço Repetitivo ) ou DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho ). 9. CIPA – COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) é, segundo a legislação brasileira, uma comissão constituída por representantes indicados pelo empregador e membros eleitos pelos trabalhadores, de forma paritária, em cada estabelecimento da empresa, que tem a finalidade de prevenir acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. A CIPA tem suporte legal no artigo 163 da Consolidação das Leis do Trabalho e na Norma Regulamentadora nº 5 (NR 5), aprovada pela Portaria nº 08/99, da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. A NR 5 trata do dimensionamento, processo eleitoral, treinamento e atribuições da CIPA. As empresas devem constituir Comissão Interna de Prevenção de Acidentes nos estabelecimentos que se enquadrem no Quadro I da NR 5, de acordo com a atividade econômica e o número de empregados. O objetivo da CIPA é "observar e relatar as condições de risco nos ambientes de trabalho e solicitar medidas para reduzir até eliminar o riscos existentes e/ou neutralizar os mesmos..." Sua missão é, portanto, a preservação da saúde e integridade física dos trabalhadores. Portanto, o objetivo básico da CIPA é fazer com que empregadores e empregados trabalhem conjuntamente na tarefa de prevenir acidentes e melhorar a qualidade do ambiente de trabalho, de modo a tornar compatível 22 permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.
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