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Curso de Direito Artigo Original O PSICOPATA NOS CRIMES PASSIONAIS The PSYCHOPATH CRIMES IN PASSION Nívia Graciane Guedes do Amaral 1 , João Alberto Capilupe 2 1 Aluna do Curso de Direito 2 Professor do Curso de Direito Resumo O artigo versará sobre os psicopatas, o seu acentuado egocentrismo, sua falta de empatia e a não condição de experimentarem sentimentos de culpa, verificando se existe a possibilidade deles cometerem crimes passionais. Analisando os crimes passionais, ressaltando o pavor que esses homicídios causam na sociedade; uma vez que eles são cometidos por alguém do qual se espera apenas carinho, compreensão, amor e proteção. O crime passional é motivado pela paixão, uma forte emoção, podendo comportar um sentimento platônico, obsessivo, agressivo e extremamente dominador. O estado de paixão no momento do crime não obedece a um sentimento de amor, senão à falta de controle emocional diante da frustração que lhe provoca seu parceiro, ao ferir sua auto-imagem, auto-afirmação e exercício de poder. Palavras chaves: Passional; Psicopata; Homicídio Abstract The article will focus on psychopaths, their sharp egocentrism, their lack of empathy and no condition to experience feelings of guilt, making sure that there is a possibility of them committing crimes of passion. Analyzing crimes of passion, highlighting the fear that these killings have on society; since they are committed by someone which is expected only caring, understanding, love and protection. The crime of passion is driven by passion, strong emotion, and comprising a platonic sense, obsessive, aggressive and extremely domineering. The passion of state at the time of the crime did not follow a feeling of love, but a lack of emotional control in the face of frustration that causes you to your partner, to hurt your self-image, self-assertion and exercise of power. Key words: Passionate; psychopath; murder ________________________________________________________________________________________________________ Contato: nivia-amaral@hotmail.com Introdução O artigo questiona se os psicopatas são capazes de cometerem crimes passionais, colocando em ênfase sua patologia e os traços característicos do psicopata, tratado como “antissocial”. Além de ressaltar o conceito de crime como um fato típico, antijurídico e culpável, entra o homicídio que é o interrompimento da vida de alguém, a qual está vinculado a um sentimento de paixão, a uma relação afetiva com forte domínio da emoção. Materiais e Métodos O método utilizado foi o levantamento na literatura atual tanto em livros como trabalhos disponibilizados pela Internet. Registro analítico e descritivo, envolvendo a dialética, e a jurisprudência. . Resultados e Discussões PSICOPATIA Entende FIORELLI [1] que: O termo psicopatia foi cunhado inicialmente por Kraepelin (1856-1925) (“possuem personalidade psicopática aqueles que não se adaptam à sociedade e se sentem necessidade de ser diferentes”) Esse termo se aplica aos indivíduos de comportamento habitualmente antissocial, que se mostram sempre inquietos, incapazes de extrair algum ensinamento e experiência passada, nem dos castigos recebidos, assim como incapazes de mostrar verdadeira fidelidade a uma pessoa, a um grupo ou a um código determinado. Costumam ser insensíveis e de acentuada imaturidade emocionais carentes de responsabilidade e de juízo lúcido e muitos hábeis para racionalizar seu comportamento a fim de que pareça correto, sensato e justificado. Traços mais significativos do psicopata: Notável inteligência, inexistência de alucinações, egocentrismo patológico, incapacidade para amar, comportamento fantástico e pouco recomendável com relação à bebida, manipula os demais e os utiliza para satisfazer suas próprias conveniências, hábil em simular estados emocionais quando crê que lhe vai ajudar a obter o que deseja, não experimenta nenhuma das manifestações psicológicas e fisiológicas da ansiedade ou do medo. Podemos indicar o perfil de um psicopata utilizando a escala de Robert Hare [2], onde os psiquiatras avaliam o histórico pessoal do paciente com base nos seguintes critérios, que analisados e somados darão o grau da periculosidade do psicopata. 1-Boa Lábia: 2-Ego Inflado 3-Lorota Desenfreada 4-Sede por Adrenalina 5-Reação Estourada 6-Impulsividade 7-Comportamento Antissocial 8-Falta de culpa 9-Sentimentos superficiais 10-Falta de empatia 11-Irresponsabilidade 12-Má conduta na infância A maior parte das descrições da psicopatia alude ao acentuado egocentrismo, a falta de empatia, a sua incapacidade para travar relações cálidas e afetivas com os demais, são pessoas que acometidas desse mal não experimentam sentimentos de culpabilidade nem remorsos pelo que fizeram. Está comprovado que o distúrbio na mente dos psicopatas acontece no sistema límbico [3], parte do cérebro responsável pelas emoções. Sistema límbico: É o centro de nossas emoções. Aciona-se, por exemplo, quando sentimos ansiedade ao ver uma pessoa acidentada, ou medo de baixíssima ativação em psicopatas. Não há tratamento para esses casos. Psiquiatria e psicanálise podem até ensiná-los a manipular com ainda mais maestria, uma vez que aprendem detalhes sobre o comportamento humano. Por outro lado, psicopatas são satisfeitos consigo mesmos por não apresentarem constrangimentos morais ou sofrimentos emocionais. O psicopata demonstra dificuldade em sentir emoções, com isso sua capacidade de se colocar no lugar dos outros é nula. Os psicopatas são sedutores. Adulam e agradam à “vítima”, mas mudam radicalmente de comportamento se contrariados. Os psicopatas não levam em consideração as regras sociais, mas sabem muito bem como utilizá-las a seu favor, além de sentirem prazer com o nosso sofrimento. Eles possuem uma visão narcisista e supervalorizada de seus valores e importância. Apresentam uma espécie de “pobreza emocional”. São incapazes de sentir certos tipos de sentimento como o amor, a compaixão e o respeito pelo outro. Suas emoções podem ser consideradas algo bem similar ao que dominam de “proto emoções” que são respostas primitivas as necessidades imediatas. São muito mais racionais do que emocionais. Os psicopatas são perigosos, pois apresentam graus diversos de insensibilidade e desprezo pela vida humana. Existe uma fração minoritária de psicopatas que mostra uma insensibilidade tamanha que suas condutas criminosas podem atingir perversidades inimagináveis. Por esse motivo costuma denominá-los de psicopatas severos ou perigosos demais, o antissocial. Há pessoa que tendo vivido em ambientes deficitários, incorporam maus valores ou, reagindo a um abandono, tornam-se adversas a estrutura social. Estas têm capacidade de aproveitar a experiência vivida e, se ressaltam caracteres mal formados, tudo se deve a uma inconveniente estrutura cultural. A EMOÇÃO E OS CRIMES PASSIONAIS Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos[...]precisamente porque são impossíveis. (FERNANDO PESSOA) [4] Tradicionalmente as emoções foram vistas como algo indigno, impróprio e até mesmo desprezível. Não podiam ser objeto de estudo científico. O homem civilizado era aquele que controlava e eliminava suas emoções, seguindo os costumes impostos pela sociedade. Desde cedo fomos educados a disfarçar e a não expressar nossas emoções. Esta posição levou o homem a um estado de desequilíbrio. Certamente, o comportamento humano deve ser guiado pela razão e pela emoção em conjunto. Ênfase demasiada ou exclusiva em qualquer um dos dois aspectos gera deformações na personalidade.Não é fácil conceituar emoção, não podemos observá-la diretamente. Inferimos sua existência através do comportamento. As emoções são complexos estados de excitação de que participa o organismo todo. As emoções ajudam as pessoas a ser mais felizes, mas também pode prejudicar a saúde física e mental se não for controlada. Devemos suprimir, ou dar asas as nossas emoções? Devemos manter o controle e a racionalidade não caindo em exageros, dando total liberdade a qualquer impulso. Maturidade consiste em controlar as emoções e ser racional? Consoante Hilgard; Atkinson e Atkinson [5]: Quando a pessoa pode experimentar impulsos carregados de emoção sem ansiedade ou sentimento de culpa, quando ela pode atingir o apropriado equilíbrio entre a expressão e o controle, ela será então emocionalmente sadia. Para pessoa tida como “normais” a vida em sociedade é regida por um contrato social, aceitando seguir regras, sejam formalizadas em lei, sejam baseados em uma ideia filosófica do certo ou errado. As emoções não se constituem em válvula de escape essencial a manutenção da saúde mental, ela deve ser mantida em situações críticas. Sem dúvida, certo controle emocional é necessário e saudável para crianças, jovens, adultos e velhos. Embora não se possa dar total liberdade para todo e qualquer impulso, e possível haver controle emocional sem negarmos a nossa emocionalidade. Estados emocionais intensos e prolongados que não encontram alteração na fisiologia normal do organismo provocam doenças, cuja origem é psíquica. São relevantes as manifestações das emoções negativas intensas. Seus efeitos incluem alterações na atenção, distorções nas percepções e na memória, e pensamentos estereotipados; esse conjunto de transformações contribui para a produção de comportamentos que, muitas vezes, resultam em delitos. De acordo com Luiza Nagib Eluf [8] Crimes passionais são aqueles que envolvem pessoas que têm ou já tiveram um relacionamento amoroso, afetivo ou sexual e que se desentenderam a partir de determinado momento da vida em comum. Segundo a autora, entende-se por passional o homicídio praticado por ciúme, por possessividade, pela incapacidade de aceitação do fim de um relacionamento amoroso. Em geral, é vista como uma conduta própria do homem, que se sente dono da mulher e com direito de vida e morte sobre ela. Historicamente, encontram-se poucos casos de esposas ou amantes que mataram por se sentirem traídas ou desprezadas. No senso comum, “essa conduta é tipicamente masculina” Segundo Capez [6], há uma diferença entre emoção e paixão, conforme dito abaixo: A emoção é o vulcão que entra em erupção; a paixão, o sulco que vai sendo, paulatinamente, cavado na terra, por força da água pluvial. A primeira é abrupta, súbita, repentina… e fugaz. A paixão é lenta, duradoura, vai se arraigando progressivamente. A paixão é pelo clube de futebol; a emoção, pelo gol marcado. O crime passional é motivado pela paixão. Uma paixão doentia, irreprimível e incontrolável. Sua existência é antiga, tornando-se gradativamente relevante sua repercussão e agravando consequentemente seu julgamento. Conforme o dicionário Aurélio [7] a paixão é: sentimento ou emoção levado a um alto grau de intensidade; atividade, hábito ou vício dominador. Ao falar de paixão há que se ressaltar que tal sentimento sobressai à lucidez e à razão. Apesar de ser motivado pela emoção é um homicídio cometido friamente, não justificando sua ocorrência, podendo ser agravado seu julgamento quando o homicídio vier a ser caracterizado como motivo fútil ou torpe. Na concepção do agente a única vítima na ação é ele mesmo, pois teve sua honra ferida, pela suposta traição de seu parceiro (a). Segundo a descrição no livro de Cássio Fonseca [9] Aristóteles entendia paixão como um elemento intrínseco ao ser humano, que não deveria ser extirpado e nem condenado. Ele acreditava que, por não escolher suas paixões, o homem não poderia ser responsável por elas, mas deveria responsabilizar-se pelas ações decorrentes desse sentimento, quando estas de alguma forma alterassem o curso normal da vida de cada indivíduo. Aristóteles tinha como inconcebível a ideia de que o comportamento passional era involuntário, impensado. Defendia o equilíbrio entre os sentimentos; a dominação de tais impulsos, mas nunca a repreensão, pois acreditava que o homem virtuoso é aquele que sabe usar a pathos (paixão) com a logos (razão). . TIPIFICAÇÃO LEGAL O artigo 121 do Código Penal traz a tipificação do homicídio. [10] Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena: § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a i njusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2º Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar à execução, a ocultação, a · impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. ( Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar à pena, se as consequências da infração atingir o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012). A lei penal delimita a conduta lesiva ao bem jurídico e prescreve a conseqüência para o seu agente. Caracteriza-se o ato criminoso como antijurídico típico e culpável. Assim, no ato criminoso compreende tanto elementos objetivos quanto subjetivos. Os primeiros dizem respeito à antijuridicidade e àtipicidade do ato; e os elementos subjetivos dizem respeito à culpa. Elementos Objetivos: O aspecto físico da ação delituosa, com o elemento subjetivo, forma os elementos essenciais da infração penal. Corresponde à modificação do mundo exterior, provocada pela conduta do agente. Elementos Subjetivos: Coeficiente moral da ação humana. Liame psicológico entre o agente e o resultado da infração penal. Atualmente, com a tendência subjetivadora do Direito Penal, a responsabilidade objetiva está sendo excluída, constituindo dado essencial do ilícito. Na legislação brasileira compreende o dolo e a culpa, no tocante aos crimes, e a voluntariedade, relativamente às contravenções penais. CONCEITO DE CRIME Conforme delimita o Código Penal [11] Art. 1° considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer i soladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Toda norma penal incriminadora tutela um valor, político e ético, que justifica as regras e as sanções nela prescritas. Este valor é chamado de bem jurídico. Embora o código penal não defina o que seja crime, materialmente, o crime é definido como a violação ou exposição a perigo e um bem jurídico protegido penalmente. No conceito formal, crime é toda ação típica, antijurídica e culpável. É toda conduta proibida por lei sob a ameaça e uma pena. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO PELA VIOLENTA EMOÇÃO O art. 121, parágrafo 1° do código penal define o homicídio privilegiado como o fato do sujeito cometer o crime instigado por motivo de relevante valor social ou oral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima. Não se trata de delito autônomo, mas de um caso de diminuição de pena, em virtude de circunstâncias subjetivas especiais que caracterizam o tipo penal. Assim, embora a emoção não constitua dirimente da punibilidade (art. 28, i, do código penal), pode funcionar como circunstância especial de diminuição da pena ou como atenuante genérica no homicídio doloso. Afinal, importa observar que as circunstâncias que privilegiam ou que qualificam o homicídio podem coexistir, desde que não sejam incompatíveis entre si. As circunstâncias privilegiadas que são sempre subjetivas podem coexistir com as circunstâncias qualificadoras objetivas (meio e modo de execução). CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES: A legislação penal brasileira estabelece no artigo 65, caput, do Código Penal sobre as causas de atenuância do crime [12] Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - ter o agente: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; (b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, r eparado o dano; (c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; (d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; (E) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. Durante toda a vigência do código penal de 1890, a defesa dos casos passionais baseava-se “perturbação dos sentidos e da inteligência”. Com a reforma do código, em 1940, tal instituto foi suprimido, e em seu lugar ocorreu à figura do homicídio privilegiado, que tem pena almejada quando o delito é cometido mediante violenta emoção ou em relevante valor moral ou social. Assim, o homicídio passional que antes era lastrado por latente impunidade, passou a ser apenado como algo que provocou delírio nos grandes advogados criminalistas, até então adaptados á tese de argumentação de “legitima defesa da honra” Atualmente, tem espaço na defesa à alegação do homicídio privilegiado sob o domínio a violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. A tolerância social não é mais a mesma dos tempos passados, na maioria das vezes a tese de defesa é vencida. Assim, em que pese os esforços da defesa para aliviar sensivelmente a pena de seus clientes passionais, a maior parte dos julgados aponta condenações extremamente superiores, considerando as figuras qualificadoras arguidas pela acusação. Ora, a paixão e a emoção constituem sentimentos obviamente diversos, eis que esta é transitória, torrencial, enquanto aquela é contínua duradoura. Ambos possuem algo em comum: não é capaz de suprimir a consciência, razão pela qual a lei penal não transige com os criminosos emotivos ou passionais. Importa ainda observar que a tese do homicídio privilegiado deve ser sustentada apenas pela defesa, não cabendo ao acusador apresentá-la de plano. Também na fase recursal, não poderá haver desclassificação, mesmo que favorecendo ao réu. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO Na legislação brasileira os homicídios dolosos são julgados pelo tribunal do júri. Conforme o Artigo 5˚ da CF inciso: XXXVIII [13]: É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; São de competência do Tribunal do Júri os julgamentos dos crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados, quais são: homicídio, Infanticídio, aborto e instigação ao suicídio, previstos nos artigos 121, §1º, §2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125 e 127 do Código Penal. Os autores de tais crimes são julgados por membros da comunidade, cidadãos honrados. O tribunal do júri possui duas fases no processamento da ação penal segundo o Código Penal A primeira se inicia com o oferecimento da denúncia e termina com a Sentença de pronúncia (judicium acusationis). A segunda que começa com o libelo acusatório e encerra com o Julgamento pelo tribunal do júri (judicium causae). O juiz proferirá a sentença, que poderá ser de: – pronúncia, quando houver indícios suficientes de autoria e Materialidade delitiva; – impronúncia, quando não houver prova da materialidade do crime ou de indícios de autoria. Extingue-se o processo sem julgamento do Mérito; – desclassificação, quando o crime não é da competência do Tribunal do júri; – absolvição sumária, quando o acusado age sobre uma causa excludente de culpabilidade ou de antijuricidade, que são: legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito. Pronunciado o réu, o Ministério Público deverá apresentar o libelo acusatório no prazo de cinco dias. À defesa é facultado oferecer a contrariedade ao libelo até cinco dias após a notificação do defensor. O júri é constituído por um corpo de jurados e presidido pelo juiz. Os Jurados serão escolhidos dentre cidadãos de notória idoneidade. O conselho de sentença é formado por sete jurados sorteados em uma lista com vinte e um membros. No plenário devem estar presentes, os jurados, o advogado de defesa, o membro do ministério público e o assistente de acusação, se houver o réu e as testemunhas. Na audiência de instrução, o réu será interrogado, logoapós o juiz fará o relatório do processo e o escrivão fará a leitura das peças dos autos. Terminado isto, serão inquiridas a vítima (se sobreviveu) e as testemunhas, que tem compromisso de dizer a verdade. Encerrada a inquirição, passa-se para a fase dos debates da acusação e defesa. O promotor lerá o libelo e desenvolverá a acusação. Logo depois, a defesa terá a palavra. Poderá ainda, facultativamente, o oferecimento da réplica e da Tréplica. A finalidade dos debates é de esclarecer os jurados. É na fase dos debates o momento mais importante do julgamento, pois acusação e defesa demonstram sua verdade sobre os fatos, tendo que convencer os jurados. Após os debates são lidos os quesitos e então se procede ao julgamento. Os quesitos serão respondidos pelos jurados em cédulas depositadas em uma urna. O juiz fará a contagem dos votos na sala secreta, o conselho de sentença vota. Finda a votação, deve o juiz lavrar a sentença. Os jurados decidem sobre o crime e o juiz sobre a aplicação da pena. Se a sentença for absolutória, não há necessidade de fundamentação, porém, se for condenatória é necessária a fundamentação. Antes de encerrada a sessão, o juiz lerá a sentença. À parte que não se conformar com a sentença poderá interpor recurso. Esses recursos limitam-se aos previsto no artigo 593 do código de Processo penal. Ao interpor o recurso, pede-se a anulação daquele Julgamento e a realização de um julgamento. Art. 593 - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; (b) for à sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; d) for à decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. § 1º - Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. § 2º - Interposta a apelação com fundamento no nº III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. § 3º - Se a apelação se fundar no nº III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. § 4º - Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra. Os casos de crimes envolvendo relacionamentos amorosos que resultaram em mortes impressionam a população e são explorados pela mídia. No Brasil, alguns casos de homicídios passionais ganharam maior notoriedade, dentre eles o de Marcos Matsunaga, empresário, da Yoki. cometido pela sua esposa Elize Matsunaga. Esse caso mais atual que tem abalado a mídia e a opinião pública aconteceu em junho de 2012. Elize Matsunaga era casada com o empresário Marcos Matsunaga. Desconfiada de que seu marido tinha uma amante, Elize contratou um detetive para registrar imagens da suposta traição. Segundo a versão dela, o casal discutiu depois que Elize revelou saber da traição. A ameaça do marido de sumir com a filha teria sido o estopim para a atitude fatal. Elize matou o marido a tiros, o esquartejou depois de morto e tentou se livrar dos restos mortais. Elize Matsunaga está presa na cadeia de Itapevi, em São Paulo e aguarda os próximos procedimentos da Justiça. É bom destacar que os crimes passionais são naturais de relacionamentos sexuais e/ou amorosos, buscando o entendimento do porque de tal conduta e a punição mais acertada para ser aplicada a esses crimes, analisando-se os aspectos imprescindíveis. Entende-se que a emoção e a paixão não são sinônimas, pois têm acepções jurídicas distintas que vão influenciar na tipificação e aplicação da pena. Toda esta compreensão vai desembocar na responsabilidade penal do assassino. Cabe investigar, se a pessoa é sã ou insana, pois os efeitos jurídicos são distintos. Este tipo de crime foi visto pelas sociedades, os comportamentos distintos de acordo com a educação de cada época, tendo-se, inclusive, admitido até a década de 70, a tese de legítima defesa da honra, hoje já superada e extremamente insustentável e inadmissível. Dificilmente, hoje, ninguém irá arguir teses de legitima defesa da honra, pois a mesma não se utiliza mais, por tratar-se de uma visão machista que não combina e nem é mais aceita pela sociedade atual. E com isso, homicídio passional resultou varias sentenças judiciais absolutórias até que a sociedade, de um modo geral, e as mulheres, em especial, por serem as vítimas prediletas dos “homens apaixonados”, insurgiu-se contra impunidade e a inadmissibilidade dessa conduta violenta “passional”. A respeito, Capez [15] observa: O homicídio passional, na sistemática penal vigente, não merece, por si só, qualquer contemplação, mas pode revestir-se das características de crime privilegiado desde que se apresentem concretamente todas as condições dispostas no §1° do art. 121 do CP. Desse modo, se o agente flagra sua esposa com o amante e, dominado por violenta emoção, desfere logo em seguida vários tiros contra eles, poderá responder pelo homicídio privilegiado, desde que presentes condições muito especiais. Finalmente, se a emoção ou a paixão estiverem ligadas a alguma doença ou deficiência mental, poderá excluir a imputabilidade do agente. Atualmente, o Judiciário tem considerado os crimes passionais como homicídio privilegiado assim considerado aquele praticado sob emoção violenta ou desespero. Essa classificação é uma causa especial de diminuição de pena. LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA Não há nenhum dispositivo legal que proíba ou autorize a legítima defesa da honra, sendo esta, portanto, plenamente aplicável. Fundamentada pelo direito à honra, previsto nos artigos 138 a 140 do código penal e sendo, como todo direito, passível de legítima defesa. Consoante Jorge Trindade [14], paulatinamente vai sendo produzida “uma objetivação do pensamento, das opiniões, das atitudes e dos valores, criando-se a consciência que resulta da faculdade inerente à psique individual de atribuir valor ao que se harmoniza com as formas usuais de sentir, de pensar e de agir”. Dito de outro modo, “através de um processo psíquico criam-se os ideais de consciência coletiva que se transformariam em normas de conduta”. Aliás, segundo o renomado autor, “se o mundo das relações sociais e jurídicas foi criado pelo homem, seus princípios devem se encontrar no próprio homem, no seu pensamento e na sua mente, na sua vontade e nos seus sentimentos”. O filósofo Platão já afirmava que a atividade humana é essencialmente motivada por fatores psicológicos, que coexistem com tantos outros, econômicos, sociais e políticos. A vontade aliada à cognição do desejo de vingar- se, de fazer prevalecer o ego perante a infâmia do ser amado, que se aventurou por uma traição, real ou ficta, pode, sim, levar o ciumento passional ao cometimento de crimes contra a vida, tanto do consorte, do então rival, e inclusive da descendência comum ou unilateral, isto com o objetivo de fazer cessar a inquietação espiritual. Prestigiando o referidoraciocínio, registram-se precedentes no sentido da inaplicabilidade da tese de legítima defesa da honra nos crimes passionais, conforme decisão prolatada pelo pretório catarinense em sede no Recurso em Sentido Estrito n° 363471-5, cujo relator foi o Desembargador paranaense Mário Helton Jorge. Segue abaixo a ementa do julgamento do Recurso em Sentido Estrito n° 363471-5: Ementa DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso e, de ofício, afastaram as qualificadoras. EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PORTE ILEGAL DE ARMA DE USO PERMITIDO, HOMICÍDIO TENTADO E CONSUMADO. PRONÚNCIA. PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. NÃO ACOLHIMENTO. EXCLUDENTE DE ILICITUDE DA LEGÍTIMA DEFESA NÃO EVIDENCIADA DE FORMA CABAL. INEXISTÊNCIA DE PROVA ESTREME DE DÚVIDAS. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO SOCIETATE. QUALIFICADORAS NÃO CONFIGURADAS. EXCLUSÃO, DE OFÍCIO. RECURSO DESPROVIDO E, DE OFÍCIO, AFASTA-SE AS QUALIFICADORAS DO MOTIVO FÚTIL E DO RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DAS VÍTIMAS DO HOMICÍDIO TENTADO E CONSUMADO. Segundo a jurisprudência do TJ-PR [16]: A absolvição sumária, consubstanciada na legítima defesa, exige prova plena e incontestável para a sua aplicação, sob pena de caracterizar usurpação da competência do júri. Sendo assim ressalta Tatiana Ades [17] No amor saudável temos uma visão do outro como complemento e não como objeto de posse, no amor patológico o amor se torna obsessão, ciúme, sensação de paranóia de que o outro está nos enganando e traindo, mesmo que não existam provas. Podendo chegar a um grau de insanidade fora do controle, onde o outro se torna alvo de destruição, diferentemente do amor saudável. O crime passional é aquele cometido por amor, porém esse amor não pode ser usado para desculpar o crime, apenas para explicá-lo. Porém quem ama de forma patológica desenvolve fixação pelo outro,e isso tudo não passa de uma incapacidade de amar a si mesmo,uma autoestima extremamente baixa e uma tendência paranóica a sentir-se perseguido pelo outro.O que em alguns casos a frustração torna depressão e a única saída é eliminar o outro. CONCLUSÃO Com o estudo do psicopata e das características do crime passional, podemos inferir que o psicopata não comete crime passional, na sua essência, vez que, o antissocial, planeja o crime, na forma mais fria e calculista, não age com emoção, pois é desprovido desse sentimento. Age com a razão de ter que eliminar um ser humano que não atende mais aos seus desejos sexuais, financeiros ou para encobrir a farsa de um relacionamento sadio. A contrário senso o crime passional é cometido pelo agente que cultua paixão desenfreada e perde o controle num momento de impulsividade, de ciúme exarcebado, egocentrismo, ódio possessivo, que o leva a um incontrolável desejo de impedir que o companheiro se liberte de suas garras e siga a vida de forma independente com outra pessoa. AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador Professor João Alberto Capilupe por ter me auxiliado na pesquisa, aos meus pais Aécio e Maria Ivone por estarem sempre confiados em mim ,e a minha amada filha Luísa do Amaral por ter me encorajado e me mantendo firme pelo simples fato de sua existência. REFERÊNCIAS 1- FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana. Psicologia Jurídica. São Paulo: Atlas 2009, p. 105-106. 2- WITHOUT CONSCIENCE, de Robert Hare, The Guilford Press, 1993. (esta é a versão reduzida da Escala de Hare; o diagnóstico somente pode ser feito por profissionais. 3-http://super.abril.com.br/ciencia/cerebro-transe- 20217.shtmlhttp://www.jusbrasil.com.br/busca?q=LEG%C3%8DTIMA+DEFESA+N%C3%83O+EVIDENCIA DA+DE+FORMA+CABAL&c= 4- PESSOA Fernando. Livro do desassossego. Lisboa: Ed. Assírio & Alvim, 2006 5-HILGARD, Ernest; ATKISON, Richard; ATKISON, Rita. Introduction to Psychology. New York: Harcont Brace Javonovich, 1971. 6- Fernando Capez - Curso de Direito Penal - Volume II - Parte São Paulo. Saraiva. 1995, v. 2, p. 55. 7- FERREIRA Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio. São Paulo: Nova Fronteira, 2001. 8- ELUF, Luiza Nagib; A paixão nos bancos dos réus. São Paulo: Saraiva 2009. 9- Cássio M. Fonseca. [Trad.]. Ética de Nicômaco. São Paulo: Atena, 1944. 10- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm acessado às 13;55 dia 11/12/2014 11-http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm acessado às 13;55 dia 11/12/2014 12-DJI – INDICE FUNDAMENTAL DO DIREITO. Disponível em: http://www.dji.com.br/ códigos/1941_dl_003689_cpp/cpp593a606.htm acesso em: 04/11/2014 13- BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. 14- TRINDADE Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 15- CAPEZ Fernando. Curso de direito penal. 11. Ed. rev. e atualiz. São Paulo: Saraiva 2007. V. 1: parte geral (arts. 1° a 120). 16- TJPR. Recurso em Sentido Estrito n° 363471-5; Rel. Des. Mário Helton Jorge; Primeira Câmara Criminal; j. 09 nov. 2006. 17-Http://www2.uol.com.br/vyaestelar/ama.htm acessado às 14:58 dia 10/12/2014. . .
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