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TCC - tema homicídio passional tratamento sob aquele no domínio do sistema emocional

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20
Rylane Rodrigues Gonçalves
HOMICÍDIO PASSIONAL:
O TRATAMENTO CONFERIDO PELO DIREITO ÀQUELES QUE AGEM SOB O DOMÍNIO DO SISTEMA EMOCIONAL
 
JACAREÍ
2021
Rylane Rodrigues Gonçalves
HOMICÍDIO PASSIONAL:
O TRATAMENTO CONFERIDO PELO DIREITO ÀQUELES QUE AGEM SOB O DOMÍNIO DO SISTEMA EMOCIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Anhanguera Educacional como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito 
Orientador: Thalita Bassan
JACAREÍ
2021
RYLANE RODRIGUES GONÇALVES
HOMICÍDIO PASSIONAL: 
O TRATAMENTO CONFERIDO PELO DIREITO ÀQUELES QUE AGEM SOB O DOMÍNIO DO SISTEMA 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Anhanguera Educacional, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito.
BANCA EXAMINADORA
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)
	Jacareí, ___ de _________ de 2021
Dedico esse trabalho a minha querida sogra Andreia (in memorian), que não pode estar ao meu lado neste momento tão importante, mas que sempre torceu muito por mim.
AGRADECIMENTOS 
A vida sempre foi feita de escolhas, boas ou ruins, e a minha não foi diferente, escolhi me graduar em Direito e isso mudou a minha vida. Para melhor é claro! Foi a melhor escolha que fiz até agora, pois é essa quem vai proporcionar um extenso leque de oportunidades ao longo da minha vida a partir de agora. Hoje posso dizer que vivo uma realidade que há tão pouco tempo atrás era somente um sonho, que se tornou possível devido a muito esforço, paciência determinação, perseverança ousadia e amor, mas é claro que eu não conseguiria nada disso sozinha. Gostaria de agradecer a todos que colaboraram de alguma forma para que eu pudesse chegar até aqui. 
Agradeço em especial a Deus, pela força, paciência, determinação, sabedoria e o mais importante o amor que ele me concedeu, sempre iluminando a minha mente e o meu coração durante toda essa caminhada. 
Sou grata a todos os meus professores, pela paciência, incentivo e principalmente pela dedicação que foi essencial para minha formação, agradeço por me ensinarem a ter disciplina e comprometimento tanta na vida acadêmica quanto na vida pessoal, e isso me tornou uma pessoa melhor. 
Agradeço a todos da minha família que sempre orou e torceu por mim, em especial aminha mãe Rita que amo incondicionalmente, e ao meu companheiro Gabriel, que com muito amor e carinho sempre esteve ao meu lado apoiando e incentivando a nunca desistir do meu sonho. 
E não posso deixar de agradecer ao meu amigo Paulo que tanto me ajudou com sua vasta experiência. Ao decorrer do curso conquistei uma linda amizade, obrigada Natalia Oliveira que sempre esteve ao meu lado nos piores e nos melhores momentos, Quantas lagrimas e sorriso compartilhamos durante essa longa e tão esperada vitória desejo tudo de melhor a cada um de vocês. 
Qualquer homem que usa a força para oprimir as mulheres é um covarde, e ele está segurando o progresso de sua família e seu país.
(Michele Obama)
RODRIGUES GONÇALVES, Rylane. Homicídio passional: o tratamento conferido pelo direito àqueles que agem sob o domínio do sistema emocional. 2021. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Anhanguera Educacional, Jacareí, 2021.
RESUMO
A presente monografia tem como objeto o estudo do crime passional e seus reflexos na sociedade. Para o exame do delito são abordadas as formas de homicídio dispostos pelo sistema jurídico nacional e os elementos necessários ao crime. O homicídio privilegiado e o feminicídio são debatidos como forma de compreendermos como a emoção e a paixão podem ou não alterar as penas. O homicídio passional, em larga escala, é praticado contra mulheres e escancara um problema público que já pendura há algum tempo. Deste modo busca-se enumerar os motivos que levam o criminoso a praticar tal delito, e os argumentos que tentam justificar sua prática. O presente trabalho analisa também a contribuição do movimento feminista para a modernização de leis a favor do combate da impunidade para estes delitos. Casos concretos de feminicídio e homicídio passional são examinados no final do projeto, juntamente, e com especial destaque para o funcionamento do tribunal do júri. Para elaboração do presente foi realizado levantamento bibliográfico e análise de jurisprudências relacionadas. 
Palavras-chave: Homicídio Passional. Paixão. Defesa da Honra. Feminicídio.
			
RODRIGUES GONÇALVES, Rylane. Passional Homicide: the treatment conferred by law to those who act under the dominance of the emotional system. 2021. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Anhanguera Educacional, Jacareí, 2021.
ABSTRACT
The present monograph aims to study the crime of passion and its effects on society. In order to examine the crime, the forms of homicide provided by the national legal system and the necessary elements of the crime are discussed. The privileged homicide and feminicide are discussed as a way to understand how emotion and passion can or cannot alter penalties. The murder of passion, on a large scale, is committed against women and exposes a public problem that has been pending for some time. This way, we try to enumerate the reasons that lead the criminal to commit this crime, and the arguments that try to justify its practice. The present work also analyzes the contribution of the feminist movement to the modernization of laws in favor of fighting impunity for these crimes. Concrete cases of feminicide and murder of passion are examined at the end of the project, together, and with special emphasis on the functioning of the jury court. A bibliographical survey and analysis of related jurisprudences were carried out for the elaboration of the present. 
Keywords: Passional homicide. Passion. Defense of Honor. Feminicide.
SUMÁRIO
	
1.	INTRODUÇÃO	9
2.	TRATAMENTO LEGAL AO CRIME DE HOMICÍDIO	11
2.1.	ELEMENTOS DO CRIME	11
2.2.	HOMICÍDIO SIMPLES	14
2.3.	HOMICÍDIO PRIVILEGIADO	15
2.4.	HOMICÍDIO QUALIFICADO	17
2.5.	FEMINICÍDIO	20
2.6.	HOMICÍDIO CULPOSO	23
3.	DO HOMICÍDIO PASSIONAL	25
3.1.	PAIXÃO E O CRIME PASSIONAL	25
3.2.	LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA	27
3.3.	MOVIMENTO FEMINISTA	31
4.	ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO E CASOS CÉLEBRES	33
4.1.	JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI	33
4.2.	CASOS CÉLEBRES	40
4.2.1.	DOCA STREET E ÂNGELA DINIZ	40
4.2.2.	LINDEMBERG ALVES E ELOÁ PIMENTEL	42
4.2.3.	MIZAEL BISTO E MÉRCIA NAKASHIMA	43
5.	CONSIDERAÇÕES FINAIS	45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	46
	
1. INTRODUÇÃO
Muito se discute acerca da passionalidade no crime, tanto na esfera judicial por doutrinadores e criminalistas como no meio público. Casos de destaque convocam a atenção popular e obras literárias provocam o seu imaginário. O homicídio passional por sua etimologia, define o crime praticado pela paixão, condição humana que pode induzir o agente a praticar certo delito.
Encontram-se várias razões que justificam o delito, as mais frequentes são os sentimentos de vingança, posse e, principalmente, desprezo, ocorrendo o crime pelo fato do agente não aceitar o término ou a traição em um relacionamento, levando-o a cometer o crime em nome da paixão. 
O tratamento legal ao réu passional vem se modificando ao decorrer dos anos. Tais mudanças acompanham a evolução social e humanitária, o movimento feminista tem papel decisivo para desmistificar condutas que até então eram defendidas por posturas mais conservadoras. 
De forma geral, a passionalidade no crime promove uma incógnita na cabeça de juristas e julgadores. Como hodiernamente classificar o crime e tipificar a conduta dentro do nosso código penal? O argumento da legitima defesa da honra ainda vigora no julgamento dos tribunais? Qual a relação entre o Crime Passional e Feminicídio? Questões como estas são elucidadas no presente trabalho.
	Busca-se, portanto, promover uma análise atual do instituto do homicídio e as caraterísticas da passionalidade,observando decisões dos tribunais e a pena utilizada na punição da conduta de meio a perceber o acúmulo de casos ocorridos nos últimos anos e qual a probabilidade de reincidência.
No primeiro capítulo é abordado o tratamento legal ao crime de homicídio, sendo examinado desde os elementos do crime até as formas qualificadas, com especial destaque ao Feminicídio.
No segundo capítulo, nos aprofundaremos no estudo da passionalidade do crime, com foco na análise da paixão. Neste ponto abrangeremos também a tese da legitima defesa da honra e a luta do movimento feminista.
Por fim, no terceiro capítulo traremos a atuação do poder judiciário no julgamento do homicídio passional, a atuação do ministério público e da defesa e casos celebres que marcaram época na literatura criminal brasileira
Para realizar a presente monografia foi utilizado o método de levantamento bibliográfico. Foram colhidas posições atualizadas sobre o tema através de livros e artigos jurídicos.
2. ;°…m°… TRATAMENTO LEGAL AO CRIME DE HOMICÍDIO
O primeiro crime a ser tratado pela parte especial do Código Penal Brasileiro tipifica uma das condutas mais perversas e cruéis praticadas pelo ser humano. O termo Homicídio é classificado pelo dicionário Oxford Languages como a “destruição, voluntária ou involuntária, da vida de um ser humano; assassínio, assassinato”.
Para coibir a prática deste crime, a exemplo de outras nações, o ordenamento jurídico brasileiro sistematizou a arguição do delito. A imposição da pena depende de fatores objetivos e subjetivos a serem verificados no processo, garantindo a ampla defesa do agente. 
Neste capítulo será decifrado os requisitos do artigo 121 e seguintes do Código Penal, examinar a forma culposa e dolosa e os elementos objetivos e subjetivos do crime. 
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2.1. ELEMENTOS DO CRIME
Inicialmente, para compreender o instituto do homicídio é salutar definirmos primeiro o conceito brasileiro de crime, e a partir de qual momento o agente é reconhecidamente criminoso. 
Segundo a corrente majoritária, crime é a conduta típica, ilícita e culpável. Tal pensamento é conhecido como modelo tripartido analítico do delito. 
Nesta seara, sobre o modelo analítico nos ensina Alexandre Salim e Marcelo Azevedo (2017 p. 143):
Analítico (dogmático ou formal analítico): enfoca os elementos ou requisitos do crime. O delito é concebido como conduta típica, antijurídica e culpável (conceito tripartido), ou apenas como conduta típica e antijurídica (conceito bipartido).
Diferente de outros modelos, para o conceito analítico o crime depende de elementos independentes que integram a infração penal, sendo o modelo tripartido o mais utilizado. O conceito bipartido citado acima pelo doutrinador exclui a característica da culpabilidade da ação do agente, adotando apenas a conduta típica e antijurídica. Para essa corrente a culpabilidade não é um elemento do crime, mas sim um pressuposto para sua aplicação.
De acordo com Rogério Greco (2020, p 198) alguns doutrinadores vão além:
Como vimos, segundo a maioria dos doutrinadores, para que se possa falar em crime é preciso que o agente tenha praticado uma ação típica, ilícita e culpável. Alguns autores, a exemplo de Mezger e, entre nós, Basileu Garcia, sustentam que a punibilidade também integra tal conceito, sendo o crime, pois, uma ação típica, ilícita, culpável e punível. Estamos com Juarez Tavares, que assevera que a punibilidade não faz parte do delito, sendo somente a sua consequência.
Adotando, portanto, a teoria tripartida como norte, passamos para analise individual de cada elemento do crime. 
Conceitua-se fato típico como a conclusão do processo de adequação da conduta do agente no mundo real ao tipificado no texto legal, segundo a teoria finalista, se divide em conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade. 
Neste sentido, complementa Guilherme de Souza Nucci (2020, n.p.)
(...) fato típico é a síntese da conduta ligada ao resultado pelo nexo causal, amoldando-se ao modelo legal incriminador. Em outras palavras, quando ocorre uma ação ou omissão, torna-se viável a produção de resultado juridicamente relevante; constatada a tipicidade (adequação do fato da vida real ao modelo descrito abstratamente em lei), encontramos o primeiro elemento do crime.
Deste modo, para existir um crime, deve ser comprovado que uma conduta gerou um resultado ajustado a um tipo penal. Após esta análise, segundo Rogerio Sanches Cunha (2016, p.253) “é imprescindível verificar se essa violação típica não é permitida pelo nosso ordenamento jurídico: se permitida, não há ilicitude (desaparecendo o próprio crime); se não permitida, há ilicitude.”
Também conhecida como Antijuricidade, a ilicitude é o segundo elemento ou substrato do crime. Como visto, após a análise do fato típico é necessária a avaliação se a conduta típica é totalmente contrária a ordem jurídica, ou se existe algum preceito permissivo no arcabouço legal que justifique a ação do indivíduo. 
Havendo justificativa para a conduta do agente, não há crime. Hoje o artigo 23 do Código Penal prevê situações conhecidas como excludentes de ilicitude, sendo elas o estado de necessidade, a legitima defesa e o estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito.
Após a conclusão do exame da adequação da conduta ao tipo penal e não havendo causas que justifiquem ou excluem a ilicitude, deve ser analisada a culpabilidade do agente.
Cunha (2016, p. 281) conceitua a culpabilidade como “o juízo de reprovação que recai na candura típica e ilícita que o agente se propõe a realizar. Trata-se de um juízo relativo à necessidade de aplicação da sanção penal.”
Segundo Fernando Capez (2020, n.p.):
Toda vez que se comete um fato típico e ilícito, o sujeito fica
passível de ser submetido a uma censura por parte do poder
punitivo estatal, como se este lhe dissesse? “você errou e, por essa razão, poderá ser punido”. Nesse desvalor do autor e de sua conduta é que consiste a culpabilidade.
O artigo 59, caput, do Código Penal, cita a culpabilidade como um dos critérios a serem valorados pelo juiz para a aplicação da pena, além de outras circunstancias relativas as consequências do crime, e do comportamento da vítima
No exame da culpabilidade, são valorados três requisitos: A imputabilidade do réu, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. O preenchimento de tais requisitos é o suficiente para a condenação do réu. Contudo, a exemplo das excludentes de ilicitude, a ausência de algum elemento exclui a culpabilidade.
Dessa forma, presentes os requisitos e elementos do crime, do fato típico e não havendo nenhuma causa que exclui a ilicitude ou a culpabilidade, o réu fica sujeito a punibilidade do estado. Para o crime de homicídio a regra permanece, guardado tais elementos o tribunal do júri pode condenar ou absolver o delinquente e a pena será aplicada segundo as regras do código penal expostas a seguir.
2.2. HOMICÍDIO SIMPLES
O primeiro crime conceituado pela parte especial do código penal brasileiro é o crime de homicídio. Segundo Capez (2020, n.p.) o Homicídio Simples “É a figura prevista no caput do art. 121 do Código Penal, caracterizada pelo simples ato de matar alguém, com a intenção de produzir a morte ou assumindo o risco de fazê-lo.” A pena para o crime é de reclusão de seis a vinte anos. 
O elemento objetivo do homicídio é caracterizado pelo fim da existência de um ser humano (sujeito passivo) causado por outro (sujeito ativo). O crime tem primazia entres os crimes mais graves pois a injusta destruição da vida atenta contra a ordem e o senso moral de segurança pública. 
Importante destacar que a vida humana ceifada, bem jurídico protegido pelo artigo 121, abrange somente a vida extrauterina, ou seja, a partir do parto. A interrupção da vida dentro do útero materno é classificada como prática de aborto, sendo tipificada pelo artigo 124 do código penal.
O elemento subjetivo do crime é o dolo, a intenção deliberada de matar, neste sentido assevera Salim e Azevedo (2017, p. 38)O homicídio simples somente prevê o dolo (animus necandi ou occidendi) como elemento subjetivo, consistente na consciência e vontade de matar alguém (dolo direto) ou na simples assunção do risco de matar (dolo eventual).
Havendo, portanto, a conduta dolosa do agente, o resultado naturalístico morte e o nexo causal entre a ação e o resultado, estão presentes os requisitos do fato típico para a existência do crime. 
De acordo com o artigo 14, I, do Código Penal, reunido todos os elementos de sua definição legal, o crime está consumado. Contudo, para o crime de homicídio é plenamente admissível a tentativa do artigo 14, II. O crime é tentado quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Neste caso a pena pode ser diminuída de um a dois terços. 
Ainda segundo Capez (2020, n.p.) o Homicídio Simples “constitui o tipo básico fundamental. Ele contém os componentes essenciais do crime. O alcance deste tipo penal é determinado por exclusão, ou seja, constituí homicídio simples aquele que não é privilegiado (art. 121, §1º) ou qualificado (art. 121, § 2º).
Deste modo, a tipificação do homicídio simples ocorre por exclusão de outras variáveis como sua forma privilegiada ou qualificada. Ambas as formas serão objeto de estudo nos próximos subcapítulos.
2.3. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO
	O § 1º do Artigo 121 do Código penal define a forma privilegiada do crime: 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Trata-se de causa de diminuição de pena, alguns autores como Salim e Azevedo (2017, p. 43) consideram que a denominação correta seria homicídio “minorado” estando presente na terceira fase do processo de aplicação da pena, a luz do artigo 68, caput do Código Penal. 
Na definição de Capez (2020, n.p.):
Na realidade, o homicídio privilegiado não deixa de ser o homicídio previsto no tipo básico (caput); todavia, em virtude da presença de certas circunstâncias subjetivas que conduzem a menor reprovação social da conduta homicida, o legislador prevê uma causa especial de atenuação da pena.
As duas primeiras circunstâncias previstas pelo legislador para a diminuição da pena estão intrinsicamente ligadas. O relevante valor social diz respeito ao crime praticado cujo interesse remete ao desejo de toda uma comunidade. Por exemplo, a eliminação de um traidor da pátria. 
Já o relevante valor moral, busca conciliar a conduta intimamente ligada a interesses individuais e particulares do agente. Normalmente movido por sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão. 
O exemplo clássico do homicídio privilegiado por relevante valor moral é a eutanásia, onde o agente abrevia o sofrimento da vítima, que já em um estado terminal e irremediável de uma enfermidade. 
Tanto o valor moral quanto o social precisam ser relevantes. Neste sentido aduz Cezar Roberto Bittencourt (2012, n.p.):
Não será qualquer motivo social ou moral que terá a condição de privilegiar o homicídio: é necessário que seja considerável; não basta que tenha valor social ou moral, sendo indispensável seja relevante, isto é, importante, notável, digno de apreço.
	A última circunstância privilegiada extraída do § 1º do Artigo 121 é a condição de violenta emoção causado por injusta provocação da vítima. 
Neste momento é preciso distinguir brevemente os conceitos de emoção e paixão. A emoção, terminologia utilizada pelo legislador, refere-se a uma transitória perturbação emocional, a ira momentânea. Já a paixão é a condição emocional permanente. 
Capez (2020, n.p.) corrobora com a ideia ao registrar: 
Difere a emoção da paixão, pois enquanto a primeira se resume a uma transitória perturbação da afetividade, a paixão é a emoção em estado crônico, ou seja, é o estado contínuo de perturbação afetiva em torno de uma ideia fixa, de um pensamento obsidente.
	Muito embora, ambos os sentimentos possam alterar o raciocínio humano, de acordo com o artigo 28, I, do Código Penal a paixão e a emoção não excluem a imputabilidade penal. 
	No entanto, a violenta emoção pode sim ser uma causa especial para a diminuição da pena no homicídio doloso ou atuando como uma atenuante genérica. Por outro lado, a paixão não produz nenhum efeito jurídico relevante para a diminuição ou atenuação da pena.
	Adiantando um pouco a discussão acerca do Homicídio Passional, fica claro que hodiernamente não existe argumento legal que justifique a diminuição da pena do autor que alega paixão. Muito já se discutiu acerca do enquadramento do crime passional ou até mesmo da violência doméstica que resulta na morte da vítima na hipótese do § 1º do Artigo 121. Contudo, conforme distinção feita acima, este pressuposto somente pode ser invocado no caso da violenta emoção seguida da injusta provação da vítima. 
	Segundo Cunha (2017, p.57) a injusta provocação “compreende todas e quaisquer condutas incitantes, desafiadoras e injuriosas. Pode, inclusive, ser indireta, isto é, dirigida contra terceira pessoa ou até contra um animal.” 
	Edgard Magalhães Noronha (1958, p.23 apud CUNHA 2016, p.56) sustenta:
Em regra, os Tribunais têm aceitado a violenta emoção do marido que colhe a mulher em flagrante adultério. Compreende-se o ímpeto emocional diante da surpresa ou inesperada cena, pois é de sua essência ser brusco, repentino e violento. Mais que discutível, entretanto, será o choque emotivo" se o marido, sabendo da infidelidade da mulher, tudo preparar e fizer para colhê-la em flagrante Incompreensível é essa emoção a prazo." 
	
Temos, portanto, mais uma condição para aplicação da condição privilegiada, a resposta do autor tem que ser imediata, logo em seguida a injusta provocação da vítima ou ao conhecimento desta. Ainda segundo Cunha (2017, p.56), a mora na reação exclui a causa minorante, transmudando-se em vingança.
Hoje em dia, no entanto, é temerário defender o exemplo de privilégio para o caso do marido que reage ao flagrante adultério. Com o advento da Lei 13.104/15, tal conduta pode ser tipificado como Feminicídio. 
	Reconhecido o homicídio privilegiado pelo júri popular o juiz fica obrigado a respeitar o veredito e reduzir a pena do réu. 
2.4. HOMICÍDIO QUALIFICADO
	A código penal prevê no artigo 121, § 2º as qualificadoras do crime de homicídio. Trata-se de circunstâncias objetivas e subjetivas criadas pelo legislador para efeito de aumento da pena. Nesta hipótese, no caso de condenação, a pena passa a ser de reclusão de doze a trinta anos. 
	Vale destacar que a Lei 8.930/94 alterou a redação do artigo 1º da Lei 8.072/90 tornando o homicídio qualificado crime hediondo. Tal alteração endureceu o tratamento ao réu, que de forma tentada ou consumada, comete o crime de homicídio e se enquadra em alguma das qualificadoras dispostas no texto legal.
	O item 38 da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal justificou a necessidade de diferenciar o homicídio simples para a forma qualificada:
38. O projeto mantém a diferença entre uma forma simples e uma forma qualificada de "homicídio". As circunstâncias qualificativas estão enumeradas no § 2º do artigo 121. Umas dizem com a intensidade do dolo, outras com o modo de ação ou com a natureza dos meios empregados; mas todas são especialmente destacadas pelo seu valor sintomático: são circunstâncias reveladoras de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente
	 
Diante disso, passamos para o exame das circunstâncias qualificadoras presente nos incisos do § 2º do artigo 121.
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outrocrime:
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição
 		O inciso I define o chamado crime mercenário ou remunerado. Neste caso, o executor movido pela ganância do lucro pratica o crime com o objetivo de receber a recompensa previamente acertada. Na paga, o recebimento do dinheiro antecede a prática do homicídio.
	Trata-se de crime de concurso necessário sendo indispensável a presença de dois ou mais indivíduos. No entanto, como defende maior parte da doutrina, somente o executor responde pela qualificadora, respondendo o mandante pela forma simples ou privilegiada. 
	O final do inciso I destaca a possibilidade de o crime ocorrer por “outro motivo torpe”. 
	Segundo Bittencourt (2012, n.p.) “Torpe é o motivo que atinge mais profundamente o sentimento ético-social da coletividade, é o motivo repugnante, abjeto, vil, indigno, que repugna à consciência média”. Ainda de acordo com Bittencourt, o motivo não pode ser ao mesmo tempo torpe e fútil já que são qualificadoras de natureza objetiva.
	A futilidade, presente no inciso II, remonta a insignificância e a banalidade das razões do agente, sendo elas totalmente desproporcionais ao delito. Não se confunde motivo fútil com motivo injusto. A injustiça já é parte integrante do crime, para haver a qualificadora o motivo precisa ser além de injusto, insignificante. 
	O inciso III destaca os modos de execução, que demonstram certa perversidade do agente. O texto legal relaciona estes métodos (veneno, fogo, explosivo, tortura) deixando espaço para interpretação de demais formas de execução, que conforme a parte exemplificativa sejam cruéis, ou que possam resultar perigo comum.
	Partindo para análise do inciso IV, encontramos as formas que dificultam ou tornam impossível a defesa do ofendido. O legislador neste inciso buscou tipificar a conduta sorrateira, inesperada que surpreende a vítima que confiava no agente.
	 Da mesma forma no inciso anterior, este inciso nos traz situações exemplificativas (traição, emboscada e dissimulação) e prevê demais formas análogas que impossibilitam ou prejudicam a defesa da vítima.
	Por sua vez, o inciso V, faz a conexão do homicídio com outros crimes. A doutrina divide a conexão em teleológica (fim de assegurar a execução do delito) e a consequencial (assegurar a ocultação, impunidade ou a vantagem em outro crime) 
	Importante frisar que o termo “outro crime” trazido pelo legislador pode ser de autoria do próprio homicida ou de pessoa diversa. A exemplo o agente mata a única testemunha do assalto praticado pelo irmão. 
	 Ainda sobre o inciso V, Cunha (2017, p.64) sinaliza que a pratica do homicídio para assegurar uma contravenção penal será “descabida a presente qualificadora, podendo configurar conforme o caso, a do motivo torpe (ou fútil)”.
	Por sua natureza, resolvemos deixar a análise do inciso VI para o próximo capítulo. Desta feita, passamos para o exame do inciso VII.
	A inovação legislativa incluída pela Lei n. 13.142/2015, buscou qualificar o homicídio praticado contra membros das forças armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e de segurança pública (polícias federais, civis, rodoviários, ferroviários, militares e membros do corpo de bombeiros miliares), integrantes do sistema prisional, e da Força Nacional de Segurança Pública. 
	Para ser qualificado por este inciso, são necessários cumulativamente dois requisitos. A vítima precisa ser membro de alguma força relacionada do parágrafo anterior e ser morto em decorrência ou no exercício da função.
	Estende-se também a proteção do inciso VII ao cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão da condição. 
	Segundo a lição de Capez (2020, n.p.) é imprescindível que o criminoso saiba da função pública desempenhada pela vítima “Caso contrário, se vier a matar um policial sem conhecer essa circunstância, não responderá criminalmente pela qualificadora do inciso VII”.
		
2.5. FEMINICÍDIO
	Reservamos um subcapítulo específico para tratar da penúltima qualificadora do artigo 121 § 2º pois a sua natureza está umbilicalmente ligada com o tema da presente monografia. 
	O crime passional, em sua grande maioria é um feminicídio, no entanto até 2015 não tínhamos previsão legal que coibisse ou agravasse a pena do agente que cometia o homicídio contra a mulher.
	Um estudo trazido pela CPMI, ao justificar o PLS 292/2013, levantou que “No Brasil, entre 2000 e 2010, 43,7 mil mulheres foram assassinadas, cerca de 41% delas mortas em suas próprias casas, muitas pelos companheiros ou ex-companheiros, com quem mantinham ou haviam mantido relações íntimas de afeto e confiança.
	Nesta esteira, a Lei 13.104/2015 foi sancionada e tipificou esta circunstância como qualificadora do crime de homicídio. A lei também incluiu o Feminicídio no rol dos crimes hediondos previstos na Lei 8.072/90, endurecendo, portanto, o tratamento ao criminoso.
O inciso VI trazido pela Lei 13.104/2015 define o feminicídio e o parágrafo 2ºA exemplifica a terminologia de condição do sexo feminino, vejamos:
Feminicídio      
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:     
(...)
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
	A Lei 13.104/2015 também definiu causas de aumento de pena, a redação atual foi complementada pela Lei 13.771/2018.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:     
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;       
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;    
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;    
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
	De acordo com Capez (2020, n.p.) o feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima por ser mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.”
	Tal dispositivo escancara o machismo e a brutalidade ligada ao patriarcalismo, pois em regra, o crime é praticado por um homem que se sente superior à mulher.
	 Neste contexto Salim e Azevedo (2017, p. 57) destaca que “Muitas vezes, depois de a mulher já ter passado por humilhação, aniquilamento de sua dignidade, contínuo sofrimento físico e moral, o homem protagoniza a barbaridade final com o ato de ceifar a vida alheia por razões da condição de sexo feminino.”	
	Luiza Nagib Eluf (2017, p.174) reforça o entendimento ao distinguir o homicídio do feminicídio:
 
Não se trata de qualquer homicídio de mulher, mas, como explicitado na Lei, consiste em “matar mulher por razões da condição do sexo feminino” (art 121. § 2º, VI, do CP). Assim, a Lei deixa muita clara a diferença entre homicídio de mulher e feminicídio. Em resumo, a criação da figura penal do feminicídio veio esclarecer que uma pessoa que morreu assassinada não teria morrido nas mesmas circunstâncias se não fosse mulher. Trata-se de escancarar a violência de gênero e aumentar seu rigor punitivo, medida importante na intimidação do agressor 
	
	O parágrafo 2ºA do artigo 121 exemplifica duas modalidades de feminicídio: a violência domestica familiar contra mulher ou relacionada com menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
	A Lei Maria da Penha 11.340/2006, já definia o conceito de violência domésticaem seu artigo 5º: “configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”
	Portanto, o homem que mata sua companheira ou esposa dentro do ambiente doméstico familiar comete feminicídio, independente da passionalidade envolvida na sua atitude. 
	A mesma sorte, segundo a doutrina predominante, não há o que se falar em feminicídio privilegiado, as condições que determinam a qualificadora são subjetivas, já que o crime ocorre pela motivação do agente e não pelos meios de execução, logo nitidamente incompatíveis com o privilégio do §1 do Artigo 121.
	Tal entendimento evita também a aplicação da qualificadora do motivo torpe ou fútil cumulada com o feminicídio. A junção das qualificadoras, neste caso, pode ser considerada bis in idem criminal.
	O poder judiciário, no entanto, vem entendendo que o feminicídio é circunstância objetiva, podendo coexistir perfeitamente com outras qualificadoras e, com isso, admite o chamado Feminicídio Privilegiado. Esta é a posição recente do STJ e de alguns tribunais estaduais.
	Neste sentido, é imprescindível citar o voto do Desembargador George Lopes do Distrito Federal, que ao analisar o recurso em sentido estrito (nº 20150310069727) movido pelo ministério público, considerou que aplicar somente o feminicídio a despeito da torpeza seria ir contra a ratio essendi da nova lei, menosprezando assim, o esforço do legislador em garantir maior proteção a mulher brasileira. No caso, o réu nutrido pelo sentimento egoístico de posse, assassinou a sua companheira que dividia o mesmo teto a facadas. O motivo do crime: o réu não aceitava que a vítima trabalhasse num local frequentada por homens.
	O voto do relator foi seguido pelos companheiros da primeira turma do TJ/DF e reformou a decisão de primeiro grau.
2.6. HOMICÍDIO CULPOSO
	Pelo princípio da excepcionalidade do crime culposo, a regra para aplicação da lei penal consiste no dolo do agente. Excepcionalmente, quando prevista expressamente no texto legal, a figura da culpa é considerada. 
	O § 3º do Artigo 121 do Código Penal admite a forma culposa para o crime homicídio e define a pena base de detenção de um a três anos. 
	Segundo Cunha (2017, p.78):
Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando, com sua conduta, o resultado lesivo (morte), previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa inconsciente), porém jamais aceito ou querido.
		
	O doutrinador extrai o conceito de culpa da previsão expressa do artigo 18, inciso II do Código Penal, ao relacionar as circunstâncias de imprudência, negligência e imperícia do agente. 
	Conforme redação do § 4º do Artigo 121, se a culpa resultar de “inobservância de regra técnica da profissão ou se o agente deixar de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato ou foge para evitar a prisão em flagrante” o crime é majorado em um terço.
	De acordo com Bittencourt (2012, n.p.):
Embora as circunstâncias aqui relacionadas possam ocorrer com mais frequência nos crimes culposos praticados no tráfego de veículos, as majorantes aplicam-se a todas as formas e crimes culposos, sempre, logicamente, que se configurarem.
	Importante registar que as condições majorantes e minorantes não se confundem com as condições qualificadoras. Representam um elemento adicional na culpabilidade e estabelecem um quantum, fixo ou variável no aumento ou diminuição da pena. 
	Por fim, o parágrafo 5º do artigo 121 do Código Penal dispõe a possibilidade do juiz deixar de aplicar a pena quando o resultado da infração culposa atingir o próprio agente de forma a não ser necessária a aplicação da pena. 
	A possibilidade de perdão judicial descrito acima faz parte rol taxativo do artigo 107 Código Penal e causa a extinção da punibilidade. Diferente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito para gerar seus efeitos. 
3. DO HOMICÍDIO PASSIONAL
	Neste capítulo, após a análise do crime de homicídio, examinaremos tanto as teses que buscam fundamentar e esclarecer as razões do delito justificado pela paixão como o tratamento legal dado pela lei ao decorrer dos anos.	
	Inicialmente, segundo lição de Eluf (2017, p.165), todo crime é de certa forma passional, já que resulta de uma paixão em sentido amplo. No entanto, juridicamente, convencionou-se chamar de passionais apenas os crimes cometidos em razão de relacionamento sexual e amoroso. 
	Deste modo, temos como Homicídio Passional, o crime que ocorre quando um agente impelido por uma paixão relacionada ao seu envolvimento amoroso resolve ceifar a vida da pessoa supostamente amada.
	Podemos extrair dois elementos principais no estudo do delito, a quebra de expectativa em um relacionamento e a paixão do que dela decorre.
	
3.1. PAIXÃO E O CRIME PASSIONAL
	De acordo com a definição do dicionário Michaelis, paixão é “Sentimento, entusiasmo, predileção ou amor tão intensos que ofuscam a razão; cólera incontrolável; sofrimento intenso; martírio.”
	Para Eluf (2017, p.165) em uma primeira análise superficial e equivocada, poderia parecer que a paixão, decorrente do amor, tornaria nobre a conduta do homicida que teria matado por não suportar a perda de seu objeto de desejo ou para lavar sua honra ultrajada. 
	No entanto, ainda segundo Eluf (2017, p.165):
A paixão que move a conduta criminosa não resulta do amor, mas sim do ódio, da possessividade, do ciúme ignóbil, da busca da vingança, do sentimento de frustração aliado à prepotência, da mistura do desejo sexual frustrado com rancor.	
	 
	Para a doutrinadora a paixão que resulta em crime é relativo ao sentimento de ódio e não amor. No mesmo sentido, Capez (2020, n.p.) considera que:
	
Totalmente inadequado o emprego do termo “amor” ao sentimento que anima o criminoso passional, que não age por motivos elevados nem é propulsionado ao crime pelo amor, mas por sentimentos baixos e selvagens, tais como o ódio atroz, o sádico sentimento de posse, o egoísmo desesperado, o espírito vil da vingança.
	A paixão não é suficiente para produzir o crime, e muito menos para perdoar o assassinato, este sentimento é comum ao ser humano e a depender da medida pode apenas explicar os motivos do delito. Deste modo, percebe-se que para além da paixão, sentimentos como o ódio, ciúme e o egoísmo se sobrepõem ao suposto amor alegado pelo delinquente. 
	O ciúme é peça fundamental neste quebra-cabeças, segundo Eluf (2017, p.168) o ciúme incomoda, fere, humilha e nasce de um profundo complexo de inferioridade.	Há quem sustente que não existe amor sem ciúme, contudo é salutar diferenciar o amor afetuoso com o amor possessivo. O primeiro não se origina na ideia de morte e sim do perdão, mesmo que haja ciúme. Já o amor possessivo está ligado ao sentimento de posse sexual, e sendo egoísta pode levar a graves equívocos, inclusive ao homicídio.
	Analisando o perfil do criminoso passional, pode-se dizer também que o medo do ridículo social causado pela traição ou pelo termino do relacionamento o condiciona a matar. Trata-se de pessoa extremamente narcisista que quando desprezado reage de forma violenta.
	A defesa incondicionada da reputação normalmente está ligada ao sexo masculino. Existem poucos casos na literatura forense e de repercussão social onde mulheres possessivas e vingativas se acham no direito de matar. 
	Nessa esteira Nucci (2020, n.p.) comenta:
O homem mata ou lesiona a mulher porque se sente (e é, na maioria imensa dos casos) mais forte. Mas seu motivo não é esse: mata porque acha que ela o traiu; mata porque quer livrar-se do relacionamento; mata porque é extremamente ciumento; mata até porque foi injustamente provocado.
	Para Eluf (2017, p. 170) mulheres sentem-se menos poderosas socialmente e menos proprietária de seus parceiros. Geralmente, não os sustentam economicamente e são educadas para compreender as traições masculinascomo sendo necessidade natural do homem. Por outro lado, para os homens o padrão de comportamento a ser seguido é diferente, a traição diminui o senso de superioridade que tem sobre a mulher, e talvez por isso tenham mais dificuldade de suportar a rejeição, buscando eliminar aquela que o desprezou.
	É inegável que vivemos em uma sociedade machista, e mesmo com a luta de movimentos sociais, alguns homens se sentem no direito de tirar a vida de sua companheira. O ciúme possessivo e o sentimento de superioridade explicam porem não justificam o assassinato. 
	
3.2. LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA
	Historicamente, o crime passional sempre foi relativizado pela lei e consequentemente pela sociedade. No tempo de Brasil-colônia o Código Penal Português admitia que um homem matasse sua mulher se a surpreende-se em flagrante adultério. Tal premissa foi excluída com a promulgação do primeiro Código Penal Brasileiro em 1830.
	O § 4º do artigo 27 do Código Penal de 1890 por sua vez, entendia que aquelas pessoas que “se acharem em estado de completa privação de sentidos e de inteligencia no acto de commetter o crime” não seriam considerados criminosos. A disposição do supracitado artigo tratava-se evidentemente de uma causa de excludente de ilicitude. 
	Na interpretação de Rogério Tadeu Romano (2021): “Basicamente ele estava dizendo que não era considerada criminosa a pessoa que cometesse um crime quando estava em um estado emocional alterado”. Novamente, a figura do estado emocional era utilizada como justificativa na defesa de homicidas passionais. 
	Segundo Eluf (2017, p.233) pela previsão da época, determinados estados emocionais como a descoberta do adultério seriam tão intensos que o marido poderia experimentar uma insanidade momentânea. Neste caso não teria responsabilidade sobre seus atos e não sofreria condenação criminal. 
	Embora o Código Penal de 1890 não previsse expressamente a situação acima, alguns juristas utilizavam-se do citado artigo para justificar a tese da legítima defesa da honra. 
	O atual Código Penal de 1940 eliminou a excludente de ilicitude do antigo artigo 27, e de maneira contrária ao código anterior registrou no artigo 28, I o texto “não excluem a imputabilidade penal a emoção ou a paixão”. O legislador criou também uma nova categoria de delito, o homicídio privilegiado. 
	Bittencourt (2012, n.p.) ao comentar a Exposição de Motivos do Código Penal de 1940 destaca que:
	
Elucidativa, nesse sentido, a Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, do Ministro Francisco Campos, afirmando que o legislador não deixou de transigir, até certo ponto, cautelosamente, com o passionalismo: não o colocou fora da psicologia normal, isto é, não lhe atribuiu o efeito de exclusão da responsabilidade só reconhecível no caso de autêntica alienação ou grave deficiência mental; mas reconheceu-lhe, sob determinadas condições, uma influência minorativa da pena.
	
	A nova previsão legislativa para época foi um avanço, o homicida passional não ficaria mais impune, muito embora a pena para tal delito fosse menor que o homicídio simples. Para Eluf (2017, p.233) a modificação não agradou a todos, na população permanecia a ideia de que o homem traído tinha o direito de matar a mulher.
	Tal inovação também não agradou advogados de defesa, que muito embora pudessem socorrer seus clientes passionais com a característica atenuante do privilégio continuavam a perseguir a absolvição. Para isso adotavam a tese da legitima defesa da honra a despeito do texto legal. 	
	A suposta defesa da honra invocada nos tribunais nada mais é que a demonstração à sociedade que o delinquente tinha poderes sobre sua mulher e que ela não poderia tê-lo humilhado ou desprezado. A palavra honra, neste caso, significa o homem que não admite ser traído. 
	Até a década de 1970 era comum os jurados aceitarem o argumento a favor da defesa da honra, a infidelidade conjugal da mulher era vista como uma afronta aos direitos do marido. Na época ainda havia um sentimento patriarcal muito forte, o que explica as reiteradas absolvições de assassinos de mulheres. 
	Sobre a tese Romano (2021) conceitua:
Ela aconteceria quando o cônjuge ou namorado(a) traído matasse o(a) parceiro(a) que trai e/ou a pessoa com quem trai. Segundo esse mito, a legítima defesa da honra seria um tipo de legítima defesa e, portanto, faria com que a justiça absolvesse o acusado. A lógica seria que a honra faz parte da pessoa, da mesma forma que a vida ou o corpo, e por isso a pessoa pode matar para protegê-la.
	Para Capez (2020, n.p.) “todos os direitos são suscetíveis de legítima defesa, tais como a vida, a liberdade, a integridade física, o patrimônio, a honra, bastando que esteja tutelado pela ordem jurídica”. Os advogados que utilizavam deste artifício sabiam que nenhuma lei no Brasil falava dessa modalidade, mas se aproveitavam que quem decidia a contenta eram jurados leigos, que por sua vez não decidiam com base no texto expresso de lei, mas de acordo com seus valores culturais. 
	Outro problema no argumento da referida tese é manifesta desproporcionalidade entre a ofensa e a intensidade da repulsa. Neste sentido, nos ensina Capez (2020, n.p.): 
Nessa medida, não poderá, por exemplo, o ofendido, em defesa da honra, matar o agressor, ante a manifesta ausência de moderação. No caso de adultério, por exemplo, nada justifica a supressão da vida do cônjuge adúltero, não apenas pela falta de moderação, mas também devido ao fato de que a honra é um atributo de ordem personalíssima, não podendo ser considerada ultrajada por um ato imputável a terceiro, mesmo que este seja a esposa ou o marido do adúltero. 
	
	Hodiernamente, no entanto, parece-nos inconcebível a apresentação da referida tese. Com a advento da Constituição Brasileira de 1988 a mulher passou a exercer dos mesmos direitos e obrigações que o homem, vedando deste modo, qualquer forma de discriminação. Tal mudança acompanhou a luta de movimentos sociais e garantiu à plena cidadania feminina. 
	Romano (2021) destaca em seu artigo que o Superior Tribunal de Justiça desde 1991 possui posição firme contra legitima defesa da honra. Na análise do Recurso Especial nº 1517/PR o tribunal entendeu que o adultério não coloca o marido ofendido em estado de legítima defesa, pela incompatibilidade com os requisitos do Art. 25 do Código Penal. Segundo o voto do Ministro Relator José Candido de Carvalho Filho: “não há ofensa à honra do marido pelo adultério da esposa, desde que não existe essa honra conjugal. Ela é própria de cada um dos cônjuges.” O recurso proposto pelo Ministério Público foi provido e cassou a decisão do júri que havia absolvido o réu por defesa da honra, determinando um novo julgamento.
	No mesmo sentido, em decisão recente do STJ, o ministro Rogerio Schietti Cruz, rejeitou o recurso ordinário em habeas corpus RHC 136911 de um homem denunciado por matar a esposa estrangulada após uma festa. Desprezando o argumento da defesa, que segundo o qual a vítima teria adotado atitudes repulsivas e provocativas contra o marido, o que justificaria o reconhecimento de legítima defesa da honra e a absolvição sumária do réu.
	Em seu voto o Ministro destacou que:
Embora seja livre a tribuna e desimpedido o uso de argumentos defensivos, surpreende saber que ainda se postula, em pleno ano de 2019, a absolvição sumária de quem retira a vida da companheira por, supostamente, ter sua honra ferida pelo comportamento da vítima. Em um país que registrou, em 2018, a quantidade de 1.206 mulheres vítimas de feminicídio, soa no mínimo anacrônico alguém ainda sustentar a possibilidade de que se mate uma mulher em nome da honra do seu consorte.
	Segundo o exposto, o argumento da legítima defesa da honra é ultrapassado e não reflete mais o sentimento da população. A herança histórica do patriarcado deve ser enterrada e os argumentos a favor da tese precisam ser refutados.
3.3. MOVIMENTO FEMINISTA
	É inegável que a partir da luta de movimentos feministas, houve uma evolução significativa na posição da mulher na sociedade. Na década de1970, os casos de absolvição de homicidas passionais começaram a diminuir e isso se deve, principalmente, a atuação feminina no debate público.
	Segundo Campos e Severi (2018) no debate pelas liberdades democráticas as feministas criaram jornais para divulgar as suas ideias. “Em São Paulo, dois importantes jornais, o ‘Brasil Mulher’ e o ‘Nós Mulheres’, passam a repercutir os debates feministas.”
	 Importante destacar que o Ano Internacional da Mulher em 1975, a Conferência sobre as Mulheres Brasileiras apoiado pelas Nações Unidas, e a participação de movimentos feministas em redes nacionais e internacionais de direitos humanos aproximou o discurso com debate internacional. Críticas ao sistema político e jurídico discriminatório e denúncia acerca de violação dos direitos humanos das mulheres marcaram a luta feminina por igualdade de gênero. 
	A produção acadêmica e literária por autoras feministas contribuiu para as mudanças. De acordo com Campos e Severi (2018) três reivindicações aparecem com nitidez nesses estudos: 
a) a revogação da tese da legítima defesa da honra e o fim dos homicídios passionais; b) o reconhecimento do estupro como crime contra a pessoa e não como um crime contra os costumes; e c) a revisão do tratamento jurídico-penal atribuído ao crime de lesão corporal, especialmente em relação aos cometidos por parceiros íntimos contra as mulheres. Sem isso, ‘a difícil igualdade’, para usar a expressão de Fanny Tabak e Florisa Verucci, não seria alcançada.
	Para Eluf (2017, p.241) muito embora avanços obtidos na legislação brasileira tenham fortalecido a posição da mulher na sociedade, o homicídio de mulheres continua aumentando. Segundo a autora, infelizmente, as mulheres continuam sendo mortas por seus maridos, companheiros, namorados, ou ex-maridos, ex-companheiros, ex namorados. 
	No entanto, em contraposição, a autora registra que a condenação dos homicidas passionais pelo Tribunal do Júri aumenta cada vez mais. Teses como legítima defesa da honra e homicídio privilegiado já não prevalecem e o acusado acaba sendo condenado por homicídio qualificado, que tem altas penas e possui o rigor dado aos crimes hediondos. 
	A imagem do Brasil machista ainda existe, porém o patriarcalismo não é exclusividade nossa. A mulher brasileira conquistou com o passar dos anos bons resultados no combate à impunidade, mesmo ainda não podendo dormir tranquila com os resquícios da opressão.
	
4. ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO E CASOS CÉLEBRES 
	Conforme visto nos capítulos anteriores, a prática do homicídio passional é criminalizada no Brasil, o infrator deve ser processado e julgado com base nas regras constitucionais e na lei. 
	A aplicação do direito objetivo ocorre através de normas e princípios dispostos no código de processo penal. Nesta seara, cabe ao Estado administrar a persecução penal realizada pela polícia e ministério público e realizar o julgamento através das instituições de justiça.
	Nos crimes dolosos contra a vida, a decisão é proferida por um júri formado por membros da comunidade. Esta disposição é exceção na regra geral de julgamento por juízes togados. 
	
4.1. JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI
	Como destacado, estão sujeitos a competência da instituição do júri, por sua natureza, os crimes dolosos contra a vida, homicídio, infanticídio, aborto e instigação ao suicídio consumados ou tentados. 
	Para Eluf (2017, p. 179): “Trata-se de uma exceção aberta pela lei para os casos em que uma pessoa tira a vida de outra. Entende-se que por serem crimes extremamente graves, e por vezes, resultantes de situações peculiares, devem ter o tratamento especial”. 
		A competência do júri é garantida pelo inciso XXXVIII do Artigo 5º da Constituição Federal. Já o procedimento está disposto em lei, mas precisamente nos artigos 406 a 497 do Código de Processo Penal. 
	Vale destacar que o procedimento do júri foi inteiramente revisto pela Lei 11.689/2008, no entanto independente da alteração legislativa conforme nos ensina Norberto Avena (2018, n.p.) persiste a divisão do procedimento em duas partes: a primeira, denominada judicium accusatione ou sumário da culpa, abrangendo os atos praticados desde o recebimento da denúncia até a pronúncia; e a segunda, chamada judicium causae, compreendendo os atos situados entre a pronúncia e o julgamento pelo Tribunal do Júri.
	Ainda segundo Avena (2018, n.p.) justifica-se o sistema bipartido ao considerar que:
Ora, o julgamento popular, na medida em que expõe o réu perante a sociedade, envolve um grave constrangimento. Sendo assim, no Estado Democrático de Direito, sob pena de se ter um constrangimento ilegal, não se pode colocar o indivíduo no banco dos réus quando não haja, por exemplo, o mínimo de elementos apontando que tenha ele praticado o fato, ou quando evidente a licitude de seu agir. Por isso é que, no rito do júri, logo após o encerramento da instrução e a manifestação das partes, obrigatoriamente o juiz deverá manifestar-se quanto a admitir ou não a acusação feita ao réu na denúncia de um crime doloso contra a vida, filtrando cada acusação de modo a impedir que, processos sem o mínimo de lastro probatório, conduzam o réu a júri popular.
	 
	O citado judicium acusationes (primeira fase do processo) é iniciado com o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público. Cabe ressaltar que a primeira fase de julgamento, conforme ensinamento acima é de responsabilidade exclusiva do juiz natural (de carreira).
	Não havendo nenhuma hipótese do artigo 395 do Código de Processo Penal o Juiz ordenará a citação do acusado, para que apresente resposta no prazo de dez dias. Caso não apresente resposta o juiz nomeará um defensor público para fazê-lo, também no prazo de dez dias. 
	Conforme § 3o, 406 do CPP, na resposta o acusado poderá alegar tudo que for de interesse a sua defesa, arguir preliminares, anexar documentos, especificar provas pretendidas e arrolar no máximo oito testemunhas. O Juiz ouvirá o Ministério Público acerca de eventuais preliminares arguidas ou documentos acostados na defesa no prazo de cinco dias.
	Após oportunizar a manifestação da acusação sobre a resposta do réu, o juiz designará, no prazo de dez dias a realização de audiência de instrução, interrogatório, debates e decisão. 
		Pelo texto do artigo 411 do CPP, a sequência dos atos a serem realizados na audiência de instrução são: tomada de declaração do ofendido, se possível; a inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nessa ordem; o esclarecimento dos peritos, acareações, reconhecimento de pessoas e coisas; e finalmente a interrogação do acusado.
		Importante destacar que a Lei 11.689/2008 inverteu a ordem de oitiva do réu, que agora passa a ser o último a ser interrogado. Após a oitiva das partes se iniciará os debates, a acusação e defesa terão o tempo de vinte minutos para fazer suas alegações, podendo ser prorrogado por mais dez. Diferentemente do processo comum ordinário, os debates não poderão ser substituídos por memorias escritos. 
	Encerrados os debates, conforme § 9o, do artigo 411 do CPP, o juiz proferirá sua decisão, ou o fará no prazo de dez dias, ordenando que os autos lhe fiquem conclusos para essa finalidade. Ao proferir a sentença o juiz encerra a fase de judicium acusationes, dando ao processo alternativamente quatro desfechos (decisão de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação). 
	Convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes da autoria ou participação do crime, o juiz pronunciará o réu o remetendo para o julgamento do júri. Caso contrário, entendo que não houveram provas suficientes para convencê-lo o juiz impronunciará o réu (art. 414, CPP), arquivando o processo. 
	Vale registar que a decisão de impronúncia não faz coisa julgada, podendo a acusação promover nova denuncia se houver prova nova. Por outro lado, se ficar provado quaisquer das hipóteses do artigo 415 CPP (réu não for o autor do crime, inexistência do fato, inexistência de infração penal ou existência de causade exclusão ou de isenção do crime) o juiz absolverá sumariamente o réu, fazendo coisa julgada e arquivando o processo. 
	A última possibilidade de desfecho para a primeira fase do processo é a desclassificação do crime. Neste cenário o juiz ao entender que o fato demonstrado nos autos não se tratar de crime doloso contra a vida, ele o remeterá para uma das Varas Criminais competentes para o julgamento. 
	Se as partes restarem inconformadas com a decisão do magistrado caberá recurso em sentido estrito para o caso de pronúncia e de apelação contra a absolvição sumária e impronúncia. 
	Sobre a decisão de pronúncia e o fim da primeira fase processual leciona Aury Lopes Junior (2019, n.p.): 
A decisão de pronúncia marca o acolhimento provisório, por parte do juiz, da pretensão acusatória, determinando que o réu seja submetido ao julgamento do Tribunal do Júri. Preclusa a via recursal para impugnar a pronúncia, inicia​-se a segunda fase (plenário). Trata​-se de uma decisão interlocutória mista, não terminativa, que deve preencher os requisitos do art. 381 do CPP.
	
	Findado a primeira fase do processo pela decisão de pronúncia e não cabendo mais recurso da decisão os autos são encaminhados ao presidente do Tribunal do Juri para início da segunda fase do processo de julgamento, judicium causae. 
	O primeiro ato a ser realizado, segundo artigo 422 CPP é a intimação do Ministério Público e da Defesa para apresentarem o rol de no máximo cinco testemunhas no prazo de cinco dias que irão depor no plenário. Nesta oportunidade poderão juntar documentos e requerer diligências.
	Para a instalação do tribunal do júri é realizada o alistamento de jurados pela regra do artigo 425 CPP, serão sorteados vinte e cinco jurados, sendo que sete dos quais constituirão o Conselho de Sentença. Registra-se que o serviço do Júri é obrigatório e somente poderá ser exercido por maiores de 18 anos de notória idoneidade. 
	Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, de acordo com o § 1o, do artigo 466, o juiz advertirá os jurados que estes não deverão se comunicar entre si e nem se manifestar opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho e multa
	Segundo artigo 472 CPP, formado o Conselho de Sentença, o juiz presidente, levando-se com ele todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação:
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.
Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão: Assim o prometo.
	A instrução em plenário ocorrerá nos moldes do artigo 473 e seguintes do CPP. Inicialmente o juiz chamará a vítima (se possível) e depois as testemunhas para serem inquiridas. Nesta ordem serão feitas as perguntas, Magistrado, Ministério Público, Defensor do Réu, e se desejaram os Jurados. 
	Por último, se o acusado estiver presente no julgamento será interrogado, na sequência supracitada. Findada as inquirições, será iniciado os debates. O Ministério Público se pronunciará por uma hora e meia, em seguida a defesa se manifestará por igual período. Se houver réplica e tréplica cada parte terá mais uma hora cada. 
	Procedimentalmente, nos debates não poderão as partes fazer referência a decisão de pronúncia, ao silêncio do acusado e ao uso de algemas, sob pena de nulidade na forma do artigo 478 CPP. Também não será admitida a referência a provas que não foram juntadas no mínimo três dias antes do julgamento.
	Nesta fase, destaca-se a atuação tanto no Ministério Público quanto do Advogado de Defesa, que ao interpretar as provas dos autos buscam convencer os jurados da verdade de suas teses. Momento em que ressaltam as qualidades de oratória e persuasão do profissional. Segundo Eluf (2017, p.187) “O julgamento pelo Júri é, em ultima instância, uma guerra de influências que se estabelece entre acusador e defensor, na qual as habilidades pessoais são muito importantes”. 
	Após os esclarecimentos, o Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido, para isso serão distribuídas cédulas com quesitos em proposições simples, na ordem do artigo 483 do CPP: 
 Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre
I – a materialidade do fato; 
II – a autoria ou participação
III – se o acusado deve ser absolvido
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; 
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
	A votação dos quesitos ocorrerá em sala especial, onde os jurados deverão votar a cada umas das perguntas sim ou não. Se mais de três jurados responderem negativamente aos dois primeiros quesitos o réu será absolvido. Caso em que o juiz lavrará a sentença sem a necessidade de fundamentação, fazendo referência apenas a decisão dos jurados. 
	No entanto, se por maioria dos votos, o júri entender que o réu deva ser condenado. O juiz deverá fundamentar a sentença, principalmente com relação a aplicação da pena e às circunstâncias do artigo 59 do Código Penal. 
	Aury Lopes Junior (2019, n.p.) critica este sistema ao anotar:
Contudo, é adotado no Brasil, até hoje, no Tribunal do Júri, onde os profanos julgam com plena liberdade, sem qualquer critério probatório, e sem a necessidade de motivar ou fundamentar suas decisões. A “íntima convicção”, despida de qualquer fundamentação, permite a imensa monstruosidade jurídica de ser julgado a partir de qualquer elemento, pois a supremacia do poder dos jurados chega ao extremo de permitir que eles decidam completamente fora da prova dos autos e até mesmo decidam contra a prova
	
	A decisão do Júri é soberana, deste modo não poderão os Tribunais de Justiça alterar o veredito proferido pelo Conselho de Sentença. A parte que não se conformar com a decisão poderá interpor recurso de apelação imediatamente ou no prazo de cinco dias com relação aos seguintes fundamentos (Art. 593, III do CPP): 
	
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
 a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;                  
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
	Se o Tribunal competente acolher os argumentos da apelação poderá corrigir a sentença se contrária a lei ou a decisão dos jurados ou anular o julgamento se a questão for relacionada ao mérito. 
	Como citado acima por Aury Lopes Junior (2019, n.p.), critica-se este sistema pela possibilidade de teses não respaldas em provas ou na lei serem aceitas por jurados leigos, que votam apenas com sua convicção particular. 
	Neste sentido, analisando um caso de absolvição pela tese da já comentada legitima defesa da honra, a primeira turma do STF, em julgamento do Habeas Corpus 178.777, divergiu. No caso, o réu confesso assassinou a facadas a sua companheira por ciúme e o Tribunal do Juri o absolveu. Vejamos os votos: 
	O Ministro Relator Marco Aurélio Mello, votou pela manutenção da absolvição ao argumentar que “a lei maior assegura a soberania dos veredictos”. “O que é julgamento pelo tribunal do júri, é o julgamento por iguais, por leigos”
	O segundo a votar, Ministro Alexandre de Morais divergiu do entendimento do relator, ao considerar que: 
(...) um crime estruturalmente gravíssimo contra mulher. E, aqui, pelo motivo mais abjeto possível: o fato do seu companheiro entender que a mulher lhe pertence; o fato de companheiro entender que pode matar a sua companheira para lavar a sua honra. Nós, ao permitirmos uma nova análise, estaremos, com todas as vênias às posições em contrário, ratificando o quesito genérico, contrário à prova dos autos, de legítima defesa da honra, que, até décadas atrás, no Brasil, era o que mais absolvia os homens violentos que mataramas suas esposas, namoradas, mulheres, com o que fez que o Brasil, lamentavelmente - repito novamente -, seja campeão do feminicídio. 
	Nesta esteira, o Ministro Luís Roberto Barroso entendeu de maneira similar, ao destacar que: 
O próprio paciente confessou a prática do fato e o Tribunal do Júri reconheceu que o fato ocorreu - a materialidade do delito - e reconheceu que o paciente foi o autor. Portanto, não há dúvida de que o paciente, efetivamente, tentou matar a mulher a facadas. O júri concluiu isso. Depois, em contradição que parece evidente - a menos que se ache natural e admissível pelo Direito uma pessoa esfaquear a outra em tentativa de homicídio por ciúme -, o júri - vá se entender lá por quê - votou pela absolvição. Há recurso para o Tribunal de Justiça e a pergunta que se faz é: não pode o Tribunal de Justiça, soberano na revisão dos fatos, reconhecer - não revogar - que ocorreu decisão contrária à prova dos autos e mandar realizar novo júri
	Para Barroso se por um surto de machismo ou primitivismo houver decisão contrária aos autos o Tribunal pode pedir para que outro júri o reavalie. Em seu voto o ministro ainda destaca:
	
Acho que as pessoas têm um senso e respeito todas as posições divergentes - apenas estou sendo veemente na defesa da minha. O meu senso de justiça, e acho que o das pessoas em geral, sente-se ofendido ao se naturalizar uma tentativa de feminicídio como essa.
	 
	Finalmente, os Ministros Dias Toffoli e Rosa Weber acompanharam o relator no argumento da soberania do júri e definiram o julgamento pelo placar de 3 a 2 a favor da absolvição do réu. 
	Importante frisar que o mesmo Ministro Dias Toffoli fixou entendimento em medida cautelar na ADPF 779/DF que a tese de legitima da honra é inconstitucional por ofender a dignidade da pessoa humana. Na mesma decisão o ministro argumentou que caso a tese seja veiculada, inclusive no âmbito do Tribunal do Juri, importará na nulidade da prova, facultando o titular da acusação recorrer de apelação na forma do artigo 593, III, ‘a’ do CPP.
4.2. CASOS CÉLEBRES
	Pretende-se com o seguinte capítulo registrar casos famosos de homicídio passional e feminicídio que repercutiram na mídia e nos debates públicos. 
	As informações sobre os casos apresentados na presente monografia foram extraídas da obra “A paixão no banco dos réus”, escrito pela ex-procuradora de justiça do Ministério Público e Advogada Luiz Nagib Eluf. 
4.2.1. DOCA STREET E ÂNGELA DINIZ
	Em 30 de Dezembro de 1976, a jovem Ângela Diniz foi assassinada na cidade de Búzios, Rio de Janeiro por seu então companheiro Raul Fernandes do Amaral Street, conhecido como Doca Street. 
	No dia do crime, Doca e Ângela foram vistos discutindo na praia por seus amigos. O motivo que levou ao desentendimento foi o comportamento de Ângela que supostamente havia exagerado na bebida e estava flertando com outra mulher. Inconformado com as atitudes de companheira, Doca à puxou pelo braço e a conduziu para a casa que residiam o casal, que pertencia à vítima. 
	Após nova discussão, Doca foi expulso da residência. A princípio aceitou pacificamente, no entanto ainda naquela noite retornou ao imóvel armado e com a frase “se você não vai ser minha, não vai ser de mais ninguém” executou Ângela com quatro disparos.
		Doca Street após semanas foragido se entregou a polícia e foi levado a julgamento em Cabo Frio no ano de 1979, com ampla cobertura da mídia. 
	A defesa de Doca atacou a vida pregressa da vítima e sustentou os argumentos de legítima defesa da honra com excesso culposo. O paulistano foi condenado apenas a dois anos de reclusão com o benefício do sursis (suspensão condicional da pena). Antes do julgamento Doca havia declarado a imprensa que “no fundo, havia matado por amor”. 
	Segundo presentes, havia um clima de festividade em Cabo Frio, cartazes com os dizeres “Doca, Cabo Frio está com você” demonstravam a boa vontade da opinião pública em absolver o réu. No entanto, grupos feministas ficaram indignados com o desfecho. Na mesma esteira, o Ministério Público recorreu da decisão e Doca foi compelido a um novo julgamento. 
	Após dois anos do primeiro julgamento, Doca foi condenado a quinze anos de reclusão por homicídio qualificado. O segundo júri entendeu, por 5 votos a 2, que ele não agiu em legítima defesa de direito algum, muito menos de sua honra ferida. Desta vez, o clima de apoio deu espaço as faixas de piquetes feministas com o slogan que ficaria registrado como marco da luta pelo fim da violência contra a mulher: “Quem ama não mata”. 
´
4.2.2. LINDEMBERG ALVES E ELOÁ PIMENTEL
	Em 17 de Outubro de 2008, na cidade de Santo André, Lindemberg Alves, de 22 anos assassinou sua ex-namorada Eloá Pimentel, de apenas 15 após mantê-la em cativeiro.
	Lindemberg, também conhecido como Liso se relacionou com a vítima por dois anos e sete meses. Segundo depoimento de conhecidos e familiares o autor do crime era extremamente ciumento e possessivo. Houveram vezes em que Liso impedia a jovem Eloá de sair de casa, ir a festas e de encontrar amigos. 
	O relacionamento era nitidamente conturbado, em diversos momentos Lindemberg rompia o relacionamento, depois arrependido procurava fazer as pazes. Após um dado momento, cansada da situação, Eloá decidiu não mais reatar o namoro. 
	Inconformado com o rompimento definitivo do relacionamento, Lindemberg se dirigiu ao apartamento da vítima, seu intuito era ceifar a vida da jovem e depois tirar a própria vida. Ao chegar, para sua surpresa, Eloá estava acompanhada de sua amiga Nayara, e mais dois amigos Vitor e Iago. 
	Lindemberg não esperava encontrar mais pessoas no apartamento, porém não titubeou. Tornou todos reféns e armado anunciou seu plano de eliminar a jovem e os amigos para depois se matar. 
	Assustado com o desaparecimento do filho, um dos pais dos sequestrados avisou a polícia que prontamente cercou o local. Foram realizadas diversas tentativas de dissuadir Lindemberg, contudo sem resultado. O sequestro durou cem horas e foi acompanhado de perto pela mídia, que noticiava dia a dia o martírio da vítima e por curiosos que rodeavam o local. 
	O desfecho do caso, infelizmente foi trágico, após ouvir barulhos vindos da residência a polícia resolveu invadi-la. Ao perceber a ação Lindemberg efetuou disparos contra os reféns, Nayara que ainda estava no apartamento sobreviveu, Eloá, no entanto, não teve a mesma sorte. 
	Diferentemente do que havia prometido, Lindemberg não se matou e foi preso em flagrante pela polícia.
 	Aos 25 anos, Liso foi condenado pelo Tribunal do Júri a 98 anos e 10 meses de reclusão pela prática do homicídio de Eloá, duas tentativas de homicídio contra Nayara e um Sargento da Polícia Militar, cinco cárceres privados e quatro disparos de arma de fogo. 
	
4.2.3. MIZAEL BISTO E MÉRCIA NAKASHIMA
	Dezenove dias após seu desaparecimento, o corpo da Advogada Mércia Mikie Nakashima foi encontrado dentro de uma represa em Nazaré Paulista. O principal suspeito do crime era seu ex-namorado, também Advogado e ex-Policial Militar Mizael Bispo de Souza. 
	O relacionamento de Mércia com Mizael, a exemplo de outros casos semelhantes da presente monografia era conturbado. Mizael era extremamente ciumento, além de complexado e rude. Por diversas vezes reclamava que a Advogada teria vergonha dele, por ser mais velho e por não assumir publicamente o relacionamento. Para Mizael, Mércia o humilhava. 
	Após diversas brigas do casal, a Advogada resolveu terminar o relacionamento com Mizael, que por sua vez não aceitava o desfecho do casal. Por diversas vezes atormentava e perseguia a moça. 
	Mesmo com o fim do relacionamento, ainda se encontravam. Para Mizael a situação era inaceitável, ele desejava ter o controle da vítima, que era mais nova e estava em plena juventude.
	Não sendo correspondido pela Advogada como gostaria, Mizael então, resolveu matá-la. Para isso arquitetou um plano com seu comparsa Evandro Bezerra da Silva, que consistia em atrair a vítima para um encontro na represa de Nazaré Paulista e lá liquidar a vida da vítima.Tudo saiu como planejado, Mércia após almoço com sua família em 23 de maio de 2010, foi em seu carro com Mizael para a citada represa. Chegando ao destino o algoz revelou seu plano e efetuou três disparos na vítima, ainda dentro do carro. Após alvejar a Advogada, Mizael empurrou o veículo para dentro da represa. 
	Posterior exame de necropsia aponto que Mércia ainda estava viva quando empurrada para dentro da represa. Ela morreu afogada. O corpo da jovem foi encontrado após a denúncia anônima de um pescador da região, que viu um homem empurrar o carro para dentro da represa. 
	Os indícios que apontavam Mizael como autor do delito eram robustos. Após investigação, constatou-se que havia em seu sapato algas subaquáticas específicas do local do crime. Além disso mapeamento realizado por rastreio de telefone celular e GPS apontavam que os três, Mércia, Mizael e Evandro estavam nas imediações da represa no momento do assassinato. 
	A situação se complicou ainda mais para o Advogado quando seu comparsa Evandro confessou a prática do crime, em interrogatório realizado pela autoridade policial. 
	Pela repercussão causada na época dos fatos o julgamento de Mizael Bispo fez história, sendo o primeiro a ser televisionado ao vivo, integralmente, após autorização da justiça. 
	A audiência durou quatro dias, e na sentença o juiz constatou que o réu tinha “demonstrado absoluta insensibilidade para com a vida humana, valorando-a para menos que seu prazer possessivo, totalmente descabido”.
	Mizael então foi condenado pelo júri por homicídio triplamente qualificado: motivo torpe, uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e meio cruel. O ex-policial foi sentenciado a 20 anos de reclusão. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Tratou-se no presente trabalho acerca do Homicídio Passional e suas consequências na realidade jurídica brasileira. Através do estudo e do levantamento bibliográfico podemos consignar que foi atingido os objetivos destacados no projeto, conforme visto a seguir:
	Inicialmente, ao tratar da legislação penal em vigor ficou evidente que não existe tipificação exclusiva para o homicídio passional, tanto é que o próprio código penal não exclui a possibilidade de imputabilidade no caso da paixão. Registra-se que frequentemente a passionalidade no crime também é confundida, erroneamente, com a forma privilegiada do § 1 do Artigo 121 do Código Penal. Este pode ser arguido no caso de emoção e não paixão, sentimento que em forte escala diante de injusta provocação da vítima pode levar o agente a cometer o delito de forma imediata e não premeditada. Difere-se, portanto, da paixão, que por sua vez é um estado contínuo de perturbação afetiva, que leva o agente a premeditar o crime.
	Excluindo desde logo a diminuição da pena, foi observado no presente que as circunstâncias que ocorrem o crime passional, normalmente o habilita nas formas qualificadas do homicídio. E neste caso, podendo figurar pelo motivo subjetivo fútil, torpe ou feminicídio (este adicionado recentemente ao código penal e de grande importância no combate contra a violência doméstica contra a mulher) somadas as qualificadoras objetivas, se houver, de meios e modos ardilosos de execução. Preenchendo um destes requisitos o Homicídio Passional é classificado como hediondo. 
	A paixão também não pode ser confundida com o amor. A célebre frase do movimento feminista marcou está discussão ao registrar que “Quem ama não mata”. Doutrinadores concordam que o passionalismo está intimamente ligado ao ódio do agente em não aceitar o término do relacionamento ou pelo intenso ciúme criado pelo falso sentimento de posse que lhe acomete.
	Neste sentido, foi destacado na monografia que a suposta defesa da honra invocada nos tribunais não merece apreço, tendo em vista que este argumento nada mais é que a demonstração à sociedade que o delinquente tinha poderes sobre sua mulher e que ela não poderia tê-lo humilhado ou desprezado. Como visto, a palavra honra significava que o homem não admitia ser traído.
 	Infelizmente, até a década de 1970 era comum os jurados aceitarem o argumento a favor da defesa da honra, a infidelidade conjugal da mulher era vista como uma afronta aos direitos do marido. Contudo, foi possível observar que a partir do fortalecimento do movimento feminista e do amadurecimento da sociedade o júri passou, com raras exceções a não aceitar este argumento. 
	Sobre a atuação do Poder Judiciário, foi realçado o procedimento do tribunal do júri, renovado pela Lei nº 11.689/2008. Acerca do tema, vale destacar o questionamento feito por alguns doutrinadores sobre a necessidade deste sistema que leva jurados leigos a julgar crimes contra a vida. A grande preocupação fica evidente ao ser aceita o argumento da legitima defesa da honra pelo júri, tese já observada ilegal. Em discussão ressente o STF divergiu entre manter a decisão do júri pelo princípio da soberania dos vereditos ou autorizar a realização de um novo júri pela decisão contrária as provas dos autos. No julgado o primeiro argumento ganhou pelo placar de 3 a 2.
	Foi possível avaliar, por fim, que a partir da análise de três casos de grande repercussão na mídia que o Homicídio Passional ocorre sempre por um sentimento de egoísmo desesperado e por espírito vil da vingança. Praticado comumente por homens que se sentem superiores a suas vítimas. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AVENA, Norberto. Processo Penal. São Paulo: Método, 2018.
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Especial. São Paulo: Saraiva, 2012.
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2012.
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 10 mar. 2021.
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BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher [...]. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 16 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 11.689, de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11689.htm. Acesso em: 16 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio[...]. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm. Acesso em: 12 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.142, de 6 de julho de 2015. Altera os arts. 121 e 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei de Crimes Hediondos). Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13142.htm. Acesso em: 12 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.771, de 19 de dezembro de 2018. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13771.htm. Acesso em: 12 mar.2021.
BRASIL. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l8072.htm. Acesso em: 10 mar. 2021.
BRASIL. Lei nº 8.930, de 06 de setembro de 1994. Dá nova redação ao art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos

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