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1 Universidade Anhanguera – Uniderp Centro de Educação a Distância Curso: Pedagogia Organização e metodologia do ensino fundamental ; Didática da historia e geografia ; Expressões artísticas na educação infantil; Educação ; Educação aplicada aos cuidados da crianças ; avaliação curricular . Proposta: Brinquedoteca Escolar Nelly Carla Reis Barros Nome: Carla da Silva Venancio Gomes e RA: 2767613112 Pólo: centro de educação a distancia CEAD 15/04/2016 2 INTRODUÇÃO Esta pesquisa se propôs em descrever e analisar as práticas educar e cuidar no contexto das relações entre professoras e assistentes e entre elas e as crianças, no cotidiano de uma instituição de educação infantil, além de confrontá-las com as políticas educacionais que se referem a integração do cuidar e educar e formação dos profissionais da Educação Infantil. Têm como tarefa primordial, contribuir para estudos referentes à criança pequena, assim como também ressaltar a importância da interação entre as práticas de cuidar e educar. Para sua realização foi necessário realizar observação direta e entrevistas com as professoras e assistentes de uma instituição de educação infantil, creche, localizada na cidade de Barra do Bugres. Para que a integração das práticas ocorra é necessário que os profissionais envolvidos com a criança pequena estabeleçam em suas práticas os mesmos objetivos, a fim de proporcionar o desenvolvimento integral da criança. É por isso que Campos, afirma que: “Se torna muito importante reconhecer quais são os objetivos que se deseja alcançar com a criança, pois eles orientarão as ações: se são os objetivos de cuidar e educar, a formação de seus profissionais deve também assegurar essas facetas, aliando as questões pedagógicas com as questões ligadas à higiene, alimentação e cuidados em geral ,e ambas se relacionam ás dimensões afetivas, ética e estética da prática educativa.” Algumas questões se tornaram relevantes em nosso trabalho como: quem são os profissionais da creche? Por que abraçam essa profissão? Como veem o próprio trabalho? Que aspectos consideram gratificantes e cansativos? Como é o relacionamento entre professoras e assistentes e entre elas e as crianças? Estas questões contribuíram para que fossem alcançados os objetivos traçados incialmente na proposta da pesquisa, como o de investigar o perfil profissional das educadoras de creche, a relação entre professores e assistentes nas práticas de cuidar e educar. 3 A formação dos profissionais de educação infantil No Brasil a formação de professores para os primeiros anos da educação básica era realizada nos cursos de formação de nível médio, antigo curso normal que com a Lei 5.692/71 passa a ser chamado de habilitação para o magistério - e no nível superior no curso de pedagogia. As primeiras iniciativas de formação de professora de criança pequena podem ser observadas nos pareceres de Rui Barbosa, em 1882. Nos anos 50 surgem seis cursos de pedagogia com formação para a educação pré-escolar. A Lei 5.692/71 criou a Habilitação para o Magistério, entre elas magistério em pré-escolas, escolas maternais e jardins de infância, As instituições de educação infantil durante a história, tiveram dupla trajetória: os jardins de infância, mais tarde chamados de pré-primário e pré-escolar, davam ênfase ao aspecto educacional, sendo destinado para as crianças ricas, com métodos e atividades pedagógicas, voltadas para o desenvolvimento social, cognitivo e outras habilidades, já as instituição denominadas como creches e escolas maternais era enfatizado a guarda, a alimentação, cuidados com a saúde, higiene e formação de hábitos de bom comportamento na sociedade, sendo destinada pra as crianças pobres e abandonadas. Para as creches o profissional vinha das áreas da saúde e assistência, em geral eram dirigidas por médicos ou assistentes sociais (ou irmãs de caridade), contavam com educadoras leigas ou auxiliares das quais eram requeridos conhecimentos nas áreas de saúde, higiene e puericultura. E nos jardins de infância o profissional era o professor, destinado à tarefa de educar e socializar os pequenos Na Década de 80 retomou-se a discussão sobre creches e a elaboração de proposta pedagógicas que rompe-se com o assistencialismo e passa-se a enfatizar o desenvolvimento cognitivo das crianças. Ainda nos anos 80, os cursos de pedagogia passam a ter dentre suas habilitações a formação para a pré-escola. 3 4 . Em MS, segundo pesquisas, realizadas por Silva (2003), a formação de profissionais para a educação das crianças pequenas, era atendida por curso de formação em serviço, projetos de extensão universitária, cursos promovidos por instituições como pela Organização Mundial pra a Educação Pré-Escolar (OMEP), pela Legião Brasileira de Assistência (LBA) e por outras entidades, além dos manuais elaborados e divulgados pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e por várias publicações do Fundo das Nações Unidas pra a infância, Nos anos 70 a Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso ofereceu cursos de formação para professoras que trabalham na casa Escola Infantil do Bom Senso, que foi a primeira iniciativa pública para as crianças de quatro a seis anos. Um segundo tipo de formação foram os cursos do Programa de atendimento ao Pré-escolar (PROAPE), visando complementar uma proposta pedagógica para a pré-escola, baseado na teoria Piaget Iana. Outro tipo de formação oferecida foram os cursos da OMEP que capacitava as professoras para atuar na pré-escola até o início dos anos 90, com o reconhecimento da Legislação do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul. Segundo a Política Nacional de Educação Infantil (1994), o adulto que atua na área de educação deve ser reconhecido como profissional, requerendo a valorização no que respeita ás condições de trabalho, plano de carreira, remuneração e formação, sendo que “condições deverão ser criadas para que os profissionais de educação infantil que não possuam a qualificação mínima, de nível médio, obtenham-na no prazo máximo de 8 (oito) anos”. Após a LDB de 1996 alguns cursos de pedagogia passam a se ocupar da formação de profissionais para a educação infantil, incluindo as crianças de 0 a 6 anos, situando-a como primeira etapa da Educação Básica . Ela caracteriza o professor, como docente, cuja formação se fará em nível superior, admitindo-se como formação mínima a oferecida em nível de ensino médio- modalidade Normal Nas disposições transitórias determina que “até o fim da década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço, 5 Notamos que na Educação Infantil, em especial creche estão inseridas duas profissionais com formações distintas num mesmo espaço (sala de atendimento), para a atendente é exigida apenas que ela desenvolva ações de cuidados, nenhum curso a qualifica para as funções que ela terá que desempenhar, em relação ao grau de escolaridade destas notamos que diante dos dados apresentados algumas possuem nível fundamental incompleto. Para a professora é exigido formação em nível superior, no entanto não sabemos de que forma o cuidar e educar são contemplados em sua formação. O professor de educação infantil ao adentrar no espaço da creche acaba entrando em conflito ou não com um profissional que já estava ali, um profissional cuja força de trabalho é muito mais barata. No entanto o que vemos é que ambas cuidam do seu próprio trabalho sem se preocupar em desenvolver uma ação conjunta, a própria hierarquia de funções impede que uma se interesse pelo trabalho que é desenvolvido pela outra. As práticas de cuidar e educar diante dos documentos A LDB de 1996 trouxe um fato novo ao colocar a educação infantil (crechee pré-escola) como a primeira etapa da educação básica, começa a ficar visível nos documentos posteriores a ênfase na integração do cuidar e educar. A creche que antes estava sobre a responsabilidade da secretaria de Assistência passa para o setor educacional. O Referencial Curricular Nacional para a educação infantil, criado em 1998, pelo Ministério da Educação, propõe a dissociabilidade das ações de cuidar e educar crianças de 0 a 6 anos idade, sem hierarquizar os profissionais ou a instituição que atuam com as crianças pequenas. De acordo com o referencial, educar significa: propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. 5 6 Já o cuidar é definido como: parte integrante da educação, embora exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo demanda integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas.” (RCN/I, vol., 1998, p.24) O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados. “Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção de um vínculo entre quem cuida quem é cuidado. Assim, o cuidar deixa de ter uma conotação assistencialista e pode adquirir um caráter educativo se for visto como um momento privilegiado de interação entre criança-criança e criança-adulto, ao mesmo tempo em que o ato de educar perde aquele caráter exclusivamente escolar, com a preocupação exacerbada com o intelecto. (SILVA, 1999) Podemos também observar a questão do cuidar e educar nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: “As instituições de Educação Infantil devem definir em suas propostas pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível. 7 Nesses documentos podemos notar a proposta de integração entre o cuidar e o educar na Educação Infantil, no entanto não é mencionado que as práticas dos dois profissionais devem caminhar juntas, ou que devam partir de uma mesma proposta educativa. O cuidar e o educar de crianças de 0 a 6 anos envolve uma visão integrada de desenvolvimento da criança, dessa forma, os profissionais que trabalham com a criança pequena devem tomar precações para que suas práticas não se transformem em ações mecanizadas, guiadas por regras. O cuidar e o educar são duas práticas que devem caminhar de maneira indissociável, possibilitando que ambas as ações construam na totalidade, a identidade e autonomia da criança. A ação conjunta dos educadores e demais membros da equipe da instituição é essencial para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Essa atitude deve ser contemplada desde o planejamento educacional até a realização das atividades em si. “A creche é o espaço do cuidado e da educação dissociados e indissociáveis. O cuidado e a educação, são na esfera pública, o direito à educação para as crianças de 0 a 6 anos. METODOLOGIA Na finalidade de analisar como vêm sendo desenvolvidas as práticas de cuidar e educar diante das relações entre professoras e assistentes e entre elas e as crianças, no cotidiano da Educação Infantil. A pesquisa iniciou-se com estudos teóricos sobre os temas: educação infantil, cuidar e o educar, profissionais da educação infantil. Analisou-se como o cuidar e o educar estão transpostos nas políticas educacionais, entre eles atentou-se no estudo de dois documentos, Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (1998) e o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998). A presente pesquisa se concretizou na Creche Municipal Maria Candelária, localizada na parte alta da cidade de Corumbá, do Estado de Mato Grosso do Sul. Optamos para melhor observação em delimitar nosso campo empírico na Creche em duas salas, que foram os níveis 3A e 3B, as crianças dessa sala estavam na faixa etária de dois a três anos de idade, cada sala possuía uma professora e uma assistente. 8 As visitas ao campo foram permeadas pela observação e consequentemente o seu registro no diário de campo; foram elaboradas entrevistas destinadas às professoras e às assistentes da creche; as entrevistas possuíam perguntas abertas e de múltipla escolha. A pesquisa foi analisada através de uma visão qualitativa dos dados alcançados. Realizou-se conversas informais com as professoras e as assistentes o que nos possibilitou conhecer um pouco mais sobre os papéis que desempenham na creche, além de conversas com a diretora o que nos possibilitou ter em mãos a proposta pedagógica da instituição, fato que favoreceu um maior enriquecimento da pesquisa. 8 9 RESULTADOS E DISCUSSÃO Instituição pesquisada Esta pesquisa foi realizada na creche municipal de Barra do Bugres localizada no bairro Maracanã. Essa instituição de atendimento a criança pequena foi fundada em 1969, através do Decreto Municipal Nº. 270/98, pelo antigo prefeito, crianças de zero a quatro anos de idade, é mantida pela Prefeitura Municipal em Barra do Bugres. Atualmente, a creche atente 100 crianças em período integral, que são divididas em diferentes níveis de acordo com a faixa etária, ainda apontamos o número de crianças em cada nível, conforme podemos observar na tabela abaixo: Nível Faixa etária Número de Crianças por Nível 1 (berçário) Zero a um ano de idade; 16 2 Dois a três anos de idade; 34 (turmas A e B) 3 Três a quatro anos de idade. 40 (turmas A e B) Por cada nível, é responsável uma professora e uma assistente, com exceção do Nível 1 (Berçário) que possui uma professora e duas assistentes para cada período, apenas duas professoras trabalham durante os dois períodos na creche. A creche possui num total de oito professores, todos têm nível superior, sete em pedagogia e uma em psicologia, destes, seis são efetivos na instituição e quatro são contratados. As assistentes que permanecem na sala de atendimento totalizam em 12 profissionais, sendo que dez possuem ensino médio completo, uma tem nível superior e uma tem nível fundamental incompleto. A creche ainda conta com mais seis funcionários de serviços diversos, todos tem ensino médio completo. 9 10 Objetivos da instituição A instituição visa oferecer o atendimento a crianças de ambos os sexos e todos os credos e raças, sem discriminação, aos filhos de mães trabalhadoras ou não, criando um ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às crianças, garantido oportunidade para que sejam capazes de: • Experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades e desagrados e agindo com progressiva autonomia; • Familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, conhecimento progressivo de seus limites, sua unidade e as sensações que ele produz; • Interessar-se progressivamente pelo cuidado com o próprio corpo, executando ações simples relacionadas à saúde e higiene.• Relacionar-se progressivamente com mais crianças, com seus professores e demais profissionais da instituição, demonstrando suas necessidades e interesses. Esses objetivos estavam dispostos na Proposta pedagógica criada no ano de 2004, pelo corpo docente e auxilio da diretora da creche. Nessa proposta estão definidos os conteúdos ou áreas de conhecimento que permearam no trabalho com a criança pequena na instituição, foram destacadas as seguintes: • Geografia • História • Arte musica • Educação física • Português • Ciência • Matemática Além das atividades permanentes: • Alimentação • Sono • Higiene 11 Caracterização dos sujeitos da pesquisa Foram entregues no total de dezenove entrevistas na instituição, doze foram entregues para as assistentes que trabalham diretamente com a criança pequena e sete para as professoras; dessas entrevistas retornaram apenas doze, sendo que sete eram das assistentes e cinco das professoras, ressaltamos ainda que sete das entrevistas não foram devolvidas. 1. As assistentes - como são chamadas - possuem idade entre 21 e 59 anos, a cor da pele varia entre parda e branca, três assistentes são casadas, três são solteiras e uma é separada, 80% delas são mães, o número de filhos permeia entre um a seis filhos. O tempo em que trabalham na educação infantil varia entre 3 meses a menor e 20 anos a maior e o tempo de serviço na instituição em que trabalham hoje varia entre 3 meses a 10 anos de serviço. Seis dessas profissionais já participaram de algum curso de capacitação na área de educação infantil. Ressaltamos, ainda, que cinco assistentes possuem ensino médio completo, duas ensino Fundamental incompleto e uma nível superior no curso de Pedagogia. Foi perguntado como elas consideram as condições de trabalho: uma respondeu como sendo ótimo, três bom, uma regular e uma como sendo péssimo O mesmo foi perguntado em relação a remuneração no qual apenas duas responderam como sendo bom, e três como regular e uma como péssimo, o salário ganho por período correspondem a um salário mínimo. As maiores dificuldades encontradas como assistentes de crianças pequenas foram o fato de terem que ficar sozinha na sala com as crianças, a quantidade de crianças na sala, cuidar de criança, na hora do banho e a falta de materiais pedagógicos. Os aspectos cansativos destacados, na maioria estavam relacionados à rotina do banho, fazer faxina na sala e no banho e cuidar de crianças. Os aspectos gratificantes na creche foram marcados como sendo a hora do sono, crianças limpas e saudáveis, carinho e respeitos das crianças. Seis assistentes 12 afirmaram que existe divisão de tarefas entre ela e a professora da sala, o motivo dessa divisão são visíveis na hora do banho das crianças e quando a professora fica com a parte pedagógica. O que diferencia a divisão é o grau de escolaridade que elas possuem. A relação existente no trabalho entre elas e as professoras para a maioria é considerada como sendo ótima e bom e uma minoria como sendo péssima. 2. As professoras- possuem idade entre 29 e 37 anos, a cor da pele varia entre parda e preto, três delas são casadas, uma é solteira e uma é viúva, quatro professoras são mães, o número de filhos varia entre um a sete. Todas as professoras possuem nível superior em pedagogia, duas professoras já fizeram um curso de especialização e uma está fazendo. Duas professoras trabalham na educação infantil há cinco anos, uma a três anos, uma há 3 meses e uma há 14 anos, o tempo de trabalho que possuem na creche pesquisada varia de dois a cinco anos; duas professoras trabalham nela durante os dois períodos; todas as professoras já participaram de vários curso de capacitações, específicos para a educação infantil. Também foi perguntado às professoras como elas consideram as condições de trabalho na creche, todas responderam como sendo boa; em relação às condições de remuneração, três responderam como sendo regular e duas como boa, o salário ganho por período corresponde a dois salários mínimos. As principais dificuldades apontadas no trabalho como professora de crianças pequenas foram: a falta de recursos materiais como brinquedos, a falta de formação das assistentes, o espaço físico, o número de crianças acima do permitido por lei; apenas uma das professoras não encontrou nenhuma dificuldade. 13 Em relação aos aspectos cansativos do dia a dia da creche, foram apontadas como sendo a rotina e a indisponibilidade de recursos. Nos aspectos gratificantes na creche foram considerados o trabalho com as crianças, o conhecimento adquiridos pelas crianças, a aceitação das crianças na instituição, o entrosamento com as crianças. A maioria das professoras afirmou que existe a divisão de tarefas entre elas e as assistentes, principalmente porque a professora fica com a parte pedagógica e a assistente com a limpeza, pelo fato de faltar capacitação para as assistentes. Mas, a maioria reconhece que também cuidam da criança. Apenas uma das professoras apontou que tenta fazer trabalho em conjunto com a assistente. Todas as professoras afirmaram ter um bom relacionamento com as assistentes. No que se refere como a professora planeja, registra e avalia o seu trabalho com as crianças a maioria os executam conjuntamente com outros professores e também sozinhas. 14 15 16 AS PRÁTICAS DE CUIDAR E EDUCAR NO COTIDIANO DA CRECHE A partir dos dados levantados no decorrer da pesquisa procuraremos descrever e discutir como vêm sendo desenvolvidas as práticas de cuidar e educar no cotidiano da creche; é por esse motivo que se fez necessário destacarmos as profissionais incumbidas em colocá-las em prática. A creche se concebe como um espaço de educação e cuidado e se constitui por profissionais com formações diversas. As professoras possuíam formação em nível superior e as assistentes na maioria possuíam ensino médio completo ou ensino fundamental incompleto, além das diferenças relacionadas à formação, existem diversos aspectos interligados, tais como os princípios, valores morais, costumes, preconceitos e suas mais variadas visões de mundo, constituídos em uma esfera sócio, histórico e cultural. Além das atividades relacionadas à ampliação das habilidades motoras, são desenvolvidas atividades relacionadas à literatura infantil, brincadeiras de rodas; a professora costuma frequentemente organizar as crianças em círculo para cantarem cantigas de roda. Também são organizadas atividades em que as crianças possam brincar de forma mais livres e espontâneas, um momento onde elas criam e inventam as suas próprias brincadeiras e exploram com maior intensidade o ambiente à sua volta, sem a intervenção direta da figura do Adulto, Nas entrevistas realizadas com as assistentes, a hora do banho foi apontado como um dos momentos mais cansativos da rotina da creche, pois alegam que são muitas crianças para dar banho, tirar e colocar roupas e pentear cabelos em um determinado tempo. Geralmente, o banho é realizado no período da manhã, antes do almoço e no período da tarde antes do jantar; ressaltamos que para cada período há uma assistente, todas trabalham em apenas um período na creche. 17 É importante focar que as práticas desenvolvidas pelos profissionais acabam se “contaminando” até mesmo pelas necessidades encontradas no dia-a-dia da creche. No entanto, essas ações não são pensadas e nem feitas de modo planejado e integrando. Cada profissional educa e cuida da criança à sua maneira, baseado na sua própria concepção de mundo. Fica visível na rotina da creche, momentos onde é revelado a existência de hierarquia durante as relações de trabalho, entre a professora e a assistente, apesar de haver momento de “contágio” das práticas desenvolvidas por ambas. Outroaspecto analisado diz respeito aos confrontos e conflitos vividos entre essas profissionais no dia-a-dia da creche. A assistente demonstra que está ciente das diferenças existentes entre ela e a professora, principalmente pelo grau de escolaridade que ambas possuem; afirma também a falta de importância do papel pedagógico desempenhado pela professora e considera que fica com as crianças muito mais tempo que a professora e que o seu trabalho é muito mais cansativo. As diferenças existentes entre professoras e assistentes contribuem para a ocorrência de situações conflituosas nas suas relações de trabalho, Durante o momento em que a professora fica desenvolvendo atividades com as crianças, a assistente costumeiramente fica observando-as de longe durante algum tempo e quando chega perto da hora do banho se dirige ao banheiro para limpá-lo e organizá-lo para receber as crianças. Havia momentos em que a própria professora solicitava a ajuda da assistente para ajudá-la no trabalho que estava desenvolvendo com as crianças, a assistente demonstrou prazer e seriedade na hora de ajudá-la. Nesse momento houve a integração do trabalho entre a professora e a assistente, eram adultos inteiros educando crianças inteiras. 18 As professoras e assistentes encontravam-se cotidianamente, estavam juntas, mas suas práticas não estavam totalmente integradas. Portanto, havia tentativas de integração quando a assistente era convidada a participar das atividades que a professora estava desenvolvendo e quando professora e assistente trocavam informações sobre as crianças. Na interação entre adulto-criança, a questão da afetividade está presente tanto nas ações das professoras quanto das assistentes pelas crianças e destas por ambas as profissionais. As crianças também procuravam tanto as professoras, como as assistentes. Estas eram procuradas não só com o objetivo de satisfazer as suas necessidades básicas como higiene e alimentação, mas como uma forma de buscar colo e assim as sensações de conforto, aconchego e carinho. As crianças são capazes de estabelecer múltiplas relações entre elas e entre elas e os adultos. Um fato que nos chamou a atenção foi a maneira como as crianças chamam as professoras e as assistentes, ambas são chamadas de tias. Uma última questão a ser destacada é que os adultos responsáveis pelas crianças impediam que elas se expressassem, que fossem espontâneas; ou seja, elas eram limitadas por regras, pela disciplina, pela ordem. - Weliton, não mexe aí! Thaís vem pra cá! - Senta Geovani! - Fica todo mundo sentado! - Podem sair da porta! (Fala da professora e da assistente) 19 Nesse sentido, pode-se afirmar que ambos os profissionais desconsideram a importância do movimento, da brincadeira espontânea, da imaginação e da criatividade, privilegiando a ordem o silêncio e o “ficar quieto” 19 20 Considerações Finais No decorrer da pesquisa, observamos que as práticas de cuidar e educar são indissociáveis no cotidiano da creche, no entanto o que se encontra separado são os objetivos que permeiam nessas práticas; cada profissional educa e cuida da criança ao mesmo tempo, do modo que acredita ser correto. Há momentos em que os profissionais acabam utilizando conhecimentos que aprenderam no convívio com o outro, esses momentos demonstram a tentativa de aliar suas práticas, apesar de ambas as ações serem pensadas, planejadas e executadas de maneira separada. Essas tentativas também são percebidas quando a professora convida a assistente para participar das atividades que desenvolve e quando ambas trocam ideias e conversam sobre as crianças. A própria divisão de trabalho existente na creche acaba demarcando o trabalho que deve ser realizado por cada uma dessas profissionais. É através de suas relações de trabalho que notamos que ela se estabelece de forma contraditória e muitas vezes conflituosa, pois profissionais com características e princípios tão diferentes acabam se confrontando e negando a importância um do outro neste contexto. Através das relações estabelecidas entre professoras e assistentes, percebemos ainda a presença de hierarquia, que acaba existindo principalmente pelo fato de cada profissional possuir formações distintas e por serem incumbido em realizar determinadas tarefas. Essa distribuição de tarefas cria barreiras que impedem esses profissionais de adentrarem no trabalho que é desenvolvido pelo outro. 21 Apesar de considerarmos que nesse contexto a integração das práticas é um processo que se encontra em construção, apontamos ainda a importância da criação de uma proposta educativa que considere o cuidar como parte integrante e vice-versa. No entanto, antes se faz necessário que a própria formação acadêmica do profissional de educação infantil dê subsídios para assegurar essa junção, além de capacitar, também as assistentes com conhecimentos relativos à criança pequena e seus direitos. A dissociabilidade entre as práticas de cuidar e educar requer que ambos os profissionais tenham os mesmos objetivos em suas ações, de modo que juntas proporcionem o 20 desenvolvimento infantil nos aspectos físicos, emocional, afetivo, cognitivo, linguístico e social e assegurem em sua totalidade, a identidade e autonomia das crianças, livre de preconceitos e ideologias de caráter dominante. Assim, percebe-se a necessidade de políticas públicas especificas para a formação dos Profissionais de Educação Infantil que contemplem as práticas de cuidar e educar, pois notasse que essas ações ainda não se encontram bem definidas diante dos documentos oficiais voltados para a educação infantil, assim como também o oferecimento de cursos que integrem a participação dos dois profissionais que atuam nesse espaço. 22 Referências Bibliográficas Em relação aos aspectos cansativos do dia a dia da creche, foram apontadas como ÁVILA, Maria José Figueiredo. As professoras de Crianças Pequenininhas e o Cuidar e Educar. Um estudo sobre as práticas educativas em um CEMEI de Campinas/SP. Dissertação (Mestrado Educação) UNICAMP.2002. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.- Brasília: MEC/SEF,1998. BRASIL. Parecer CEB nº 022 de 17 de dezembro de 1998. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF. Disponível em: www.portal.mec.gov.br. BRASIL. Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDBEN, 1996 Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9394.htm>. FOREST, Nilza Aparecida. Cuidar e Educar. Perspectiva para a prática pedagógica na educação infantil. http://www.icpg.com.br/artigos/rev03-07.pdf . Acessado em: 8 abril de 2005. LANTER, Ana Paula. A política de formação do profissional de educação infantil: os anos 90 e as diretrizes do MEC diante da questão. In: KRAMER, Sonia; LEITE, Izabel M. ; NUNES, Maria F. e GUIMARÃES, Daniela. (org..) Infância e educação infantil. Campinas: Papirus, 1999. SILVA, Animaria S. A professora de Educação Infantil e sua formação universitária. Tese (doutorado em Educação). Curso de Pós-Graduação em educação, Universidade de Campinas, 2003. VIEIRA, Lívia Maria Fraga. A formação do profissional de educação infantil no Brasil no contexto da legislação, das políticas e da realidade do atendimento. Revista quadrimestral, Faculdade de Educação Unicamp. V.10, n.1, p.28-39, março. 1999 23 FIM
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