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JECA TATU Jeca Tatu era um caboclo que vivia no campo na maior pobreza. Sua rotina baseava-se em ficar o dia inteiro sem fazer tarefa alguma, fumando seu cigarro de palha, bebendo sua pinga e observando o dia passar. Sua roupa parecia um trapo e andava o tempo todo descalço. Possuía algumas pequenas plantações que garantiam seu próprio sustento. Havia também próximo a sua casa um ribeirão, onde podia pescar. As pessoas tinham uma péssima imagem do Jeca, bêbado e preguiçoso. Quando perguntavam-lhe porque ele vivia desse jeito, respondia: “Não vale a pena fazer coisa alguma! Bebo para esquecer as desgraças da vida”. Um dia um médico passou em frente a casa e espantou-se com tanta miséria. Percebendo que o cabloco estava amarelado e muito magro, resolveu examiná-lo. Jeca disse a ele que sentia muito cansaço e dores pelo corpo. O médico constatou que tratava-se de uma doença. Receitou-lhe então remédios e um par de botas. Meses depois do tratamento, Jeca já era outra pessoa. A moleza tinha desaparecido e ele passava o dia inteiro trabalhando. Arrumava a casa, plantava, pescava, carregava madeira, cuidava do gado. Não exagerava mais na bebida. Ninguém mais o reconhecia, trabalhava tanto que até preocupava as pessoas. Ele, a mulher e os filhos andavam agora calçados. Com isso, a fazenda prosperou e Jeca Tatu tornou-se um homem muito respeitado. JECA TATU ANCILOSTOMÍASE Prof. Me. Hércules J. Rebelato hercules@uniararas.br CLASSIFICAÇÃO Filo Aschelminthes Classe Nematoda Família Ancylostomatidae Gênero Ancylostoma e Necator Espécies Ancylostoma duodenale Ancylostoma ceylanicum Necator americanus MORFOLOGIA Ancylostoma duodenale Necator americanus Apresentam dentes na margem bucal Possuem lâminas cortantes circundando a margem bucal MORFOLOGIA • Os ovos de Necator americanus e Ancylostoma duodenale são semelhantes; • Impossível distinguir microscopicamente. MORFOLOGIA Ancylostoma duodenale • Macho: Possui entre 8 e 11mm de comprimento por 400 µm de largura e bolsa copuladora significativamente desenvolvida e gubernáculo evidente. • Fêmea: Nitidamente maior que o macho, possui entre 10 e 18mm de comprimento por 600 µm de largura, extremidade posterior afilada e abertura genital (vulva) em seu terço posterior. MORFOLOGIA Necator americanus • Macho: Mede de 5 a 9mm de comprimento por 300 µm de largura e possui bolsa copuladora bem desenvolvida. Ausência de gubernáculo. • Fêmea: Maior que o macho (entre 9 e 11mm de comprimento por 350 µm de largura), apresenta abertura genital na proximidade do seu terço posterior (o qual é afilado e sem processo espiniforme terminal). MORFOLOGIA Necator americanus (Macho) Ancylostoma duodenale (Macho) CICLO BIOLÓGICO Rabditoide Filarioide Passiva Ativa Vida Livre Vida Parasitária L1 L2 L3 L4 (passiva) e L5 L4 (ativa) Ativa Brônquios Traqueia Faringe Laringe Intestino Delgado Passiva Estômago Mucosa Intestinal (L4) CICLO BIOLÓGICO • Ciclo biológico direto não necessita de hospedeiros intermediários; • Duas fases são bem definidas: vida livre (meio exterior) e vida parasitária (hospedeiro definitivo); • Ovos depositados pelas fêmeas (após a cópula) são eliminados para o meio exterior através das fezes; • No meio exterior, os ovos necessitam de um ambiente propício, principalmente boa oxigenação, alta umidade (> 90%) e temperatura elevada; • Condições necessárias para o processo de embrionia formação da larva L1, do tipo rabditoide, e sua eclosão. • No ambiente, a L1 recém eclodida, se alimenta de matéria orgânica e microrganismos (por via oral); • Em seguida, perde a cutícula externa, transformando-se em larva L2, que é também do tipo rabditoide; CICLO BIOLÓGICO • Subsequentemente, a L2 também se alimenta de matéria orgânica e microrganismos, começa a produzir uma nova cutícula, passando então a se transformar em L3 do tipo filarióide, denominada larva infectante; • L3 é a única forma infectante dos ancilostomídeos para o hospedeiro; • A infecção pode ocorrer de forma ativa (penetração da larva filaroide pela pele, conjuntiva e mucosas) ou passiva (via oral); • Infecção é ativa: as L3 são estimuladas por efeitos térmicos e químicos, iniciando o processo de penetração (movimentos serpentiformes), produzem enzimas, semelhantes a colagenase, que facilitam o seu acesso através dos tecidos do hospedeiro. A penetração dura cerca de 30 minutos. Da pele, as larvas alcançam a circulação sanguínea e/ou linfática, e chegam ao coração, indo pelas artérias pulmonares, para os pulmões. CICLO BIOLÓGICO • Atingindo os alvéolos, as larvas migram para os bronquíolos, com auxílio de seus movimentos, secreções e cílios da árvore brônquica. Dos brônquios atingem a traqueia, faringe e laringe quando, então, são ingeridas, alcançando o intestino delgado, seu hábitat final; • Durante a migração pelos pulmões, que dura de dois a sete dias, a larva perde a cutícula e adquire uma nova, transformando-se em larva L4; • Ao chegar no intestino delgado, após oito dias da infecção, a larva começa a exercer o parasitismo hematófago, fixando a cápsula bucal na mucosa do duodeno. A transformação da L4, em larva L5, ocorre aproximadamente 15 dias após a infecção, e a diferenciação de L5, em adultos ocorre após 30 dias da infecção; • Os espécimes adultos exercem hematofagismo, iniciam a cópula, seguida de postura; • O início da liberação dos ovos pelas fezes varia entre 35 e 60 dias para A. duodenale e de 42 a 60 dias para N. americanus. CICLO BIOLÓGICO • Infecção passiva: através de ingestão de alimentos ou água contendo L3, dais quais perdem a cutícula externa no estômago (por ação de suco gástrico e pH) depois de dois a três dias da infecção, e migram para o intestino delgado; • A altura do duodeno, as larvas penetram na mucosa (células de Lieberkühn), onde mudam para L4, após cerca de cinco dias da infecção. • Em seguida, as larvas voltam a luz do intestino, se fixam a mucosa e iniciam o repasto sanguíneo, devendo depois mudar para L5, no transcurso de 15 dias da infecção; • As L5 realizam cópula, dando início a liberação de ovos nas fezes. TRANSMISSÃO • FORMA ATIVA • Penetração de larvas filarioides (L3) pela pele, conjuntiva ou mucosa. • FORMA PASSIVA • Ingestão de alimentos ou larvas filarioides (L3); • Não ocorre a fase pulmonar • NÃO OCORRE AUTO-INFECÇÃO ENDÓGENA!!! PATOGENIA • A ancilostomose é determinada por etiologia primária ou secundária; • CAUSA PRIMÁRIA: • Relacionada com a migração das larvas e a implantação dos parasitos adultos no intestino delgado do hospedeiro. • CAUSA SECUNDÁRIA: • Permanência dos parasitos no intestino delgado; • Vários fenômenos fisiológicos, bioquímicas e hematológicos estão associados; • Estes fenômenos modulam a tendência da enfermidade em seguir, geralmente, um curso crônico. PATOGENIA CUTÂNEA • As larvas podem provocar, no local de penetração, lesões traumáticas, seguidas por fenômenos vasculares; • Transcorridos alguns minutos, aparece a hiperemia, prurido e edema resultante do processo inflamatório; • Metabólitos produzidos pelas larvas também participam do processo inflamatório; • A intensidade das lesões está ligada ao número de larvas invasoras e da sensibilidadedo hospedeiro; • As lesões são mais exacerbadas nas reinfecções. PATOGENIA CUTÂNEA • Infecções secundárias, por microrganismos, por contaminação carreada pelas larvas (provindo do material fecal) ou de outra fonte agravam ainda mais a infecção; • Quando há infecções secundárias, ocorrem também pústulas e pequenas ulcerações; • As dermatites por larvas de ancilostomídeos, quando não apresentam maiores complicações, tendem a cessar após dez dias de instaladas; • As lesões cutâneas são mais frequentes por N. americanus do que por A. duodenale. PATOGENIA PULMONAR • Ocorre durante a passagem das larvas pelos pulmões; • Menos casual; • Ocasiona febre, tosse produtiva (produção de muco); • Tosse persistente por aproximadamente 30 dias; • Em casos mais graves pode ocasionar Síndrome Loefler (pneumonite alérgica). PATOGENIA INTESTINAL • Maior importância clínica; • Chegada dos parasitos no intestino dor epigástrica, diminuição de apetite, indigestão, cólica, indisposição, náuseas, vômitos, flatulências, às vezes, podendo ocorrer diarreia sanguinolenta indicam início da deposição de ovos; • A patogenia é diretamente proporcional ao número de parasitos presentes no intestino delgado; • A anemia causada pelo intenso hematofagismo exercido pelos vermes adultos, é o principal sinal de ancilostomose. PATOGENIA INTESTINAL • A. duodenale 0,05 a 0,3mL/sangue/dia/parasito; • N. americanus 0,01 a 0,04mL/sangue/dia/parasito; • FASE AGUDA: • Determinada pela migração das larvas no tecido cutâneo e pulmonar e pela instalação dos vermes adultos no intestino delgado (duodeno); • FASE CRÔNICA: • Determinada pela presença do verme adulto que, associado à expoliação sanguínea e à deficiência nutricional irão caracterizar a fase de anemia . PATOGENIA INTESTINAL • A fase crônica apresenta sinais e sintomas de dois tipos: • Primários: associados diretamente à atividade dos parasitos; • Secundários: decorrentes da anemia e hipoproteinemia (mais vistos na ancilostomíase); • Achados laboratoriais: Anemia microcítica e hipocrômica, eosinofilia, diminuição de hemoglobina e hipoalbuminemia; • Reservas de ferro e a dieta alimentar de ferro são insuficientes para suprir as perdas deste microelemento, causadas pelo hematofagismo. PATOGENIA INTESTINAL • Observa-se diminuição do apetite e “apetite depravado”, evidência pela geofagia; • Retardo no desenvolvimento físico e mental de crianças; • Os ancilostomídeos se fixam na mucosa do duodeno, podendo ocorrer no jejuno provocam lesões mecânicas no local de implantação da cápsula bucal processo inflamatório, com predominância de eosinófilos íntegros e desgranulados, além de neutrófilos e macrófagos; congestão, edema e minúsculas áreas de hemorragia Alta parasitemia. IMUNIDADE • FASE AGUDA: • Eosinofilia é o mais marcante registro imunológico na ancilostomose; • Seguida por aumento de anticorpos IgE e IgG. • FASE CRÔNICA: • Além de induzir a eosinofilia, provoca elevação de IgE total e de anticorpos específicos IgG, IgA e IgM, detectados pela imunofluorescência, ELISA e hemaglutinação. • Anticorpos são incapazes de conferir uma sólida imunidade às reinfecções. DIAGNÓSTICO • Pesquisa de ovos ou larvas pelo método de sedimentação espontânea (Hoffman, Pons e Janner); • Larvas filarioides (raramente se encontra larvas rabditoides nas fezes); • Testes imunológicos e sorológicos: hemaglutinação, imunofluorescência e ELISA; • PCR. EPIDEMIOLOGIA • Distribuição mundial; • Ocorre preferencialmente em crianças com mais de seis anos, adolescentes e em indivíduos mais velhos, independente de sexo; • Na natureza, os ovos dos parasitos não se desenvolvem bem em umidade inferior a 90% e os raios ultravioletas destroem os ovos; • Preferencialmente locais temperados e tropicais com solo arenoso, permeável e rico em matéria orgânica. PROFILAXIA • Desenvolver atividades de educação em saúde, particularmente com relação • a hábitos pessoais de higiene pessoal; • Uso de calçados; • Saneamento básico; • Tratamento das pessoas infectadas.
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