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1 1 Samuel Santana – Turma XIV 1- Objetivo: Entender a classificação dos principais grupos de helmintos que parasitam humanos Helmintos: o Os helmintos são animais eucarióticos multicelulares que geralmente possuem os sistemas digestório, circulatório, nervoso, excretor e reprodutor o Os helmintos parasitas precisam ser altamente especializados para viver no interior de seus hospedeiros o Algumas características distinguem os helmintos parasitos de seus parentes de vida livre: 1- Sistema digestório pode estar ausente absorvendo nutrientes a partir dos alimentos, fluidos corporais e tecidos do hospedeiro 2- Sistema nervoso reduzido não necessitam de um sistema nervoso extenso, pois não precisam procurar alimento ou reagir muito ao ambiente (o ambiente do hospedeiro é constante) 3- Seus meios de locomoção são reduzidos ou completamente ausentes como são transferidos de um hospedeiro para outro, não precisam procurar ativamente por um hábitat favorável 4- Seu sistema reprodutor é complexo pelo fato de produzir um grande número de ovos, pelos quais um hospedeiro adequado é infectado o O ciclo de vida dos helmintos parasitos pode ser extremamente complexo, envolvendo uma sucessão de hospedeiros intermediarios para a conclusão de cada estágio larval (de desenvolvimento) do parasito e um hospedeiro definitivo para o parasito adulto o Os helmintos adultos podem ser dioicos nessas espécies, a reprodução ocorre somente quando dois adultos de sexos opostos estão no mesmo hospedeiro o Os helmintos adultos também podem ser monoicos ou hermafroditas 2 hermafroditas podem simultaneamente fertilizar um ao outro, mas alguns tipos de hermafroditas se auto fertilizam Platelmintos: o Os membros do filo Platyhelminthes (os vermes achatados), são dorsoventralmente achatados o Essa classe inclui os trematódeos e cestódeos esses parasitos causam doenças ou distúrbios de desenvolvimento em uma ampla variedade de animais Trematódeos: o Trematódeos, ou fascíolas, geralmente apresentam corpos achatados, em forma de folha, com uma ventosa ventral e uma ventosa oral servem para fixar o organismo em um local o Obtém alimentos ao absorvê-los através de seu revestimento externo inanimado, chamado de cutícula o Recebem nomes comuns de acordo com o tecido do hospedeiro definitivo em que o adulto vive (p. ex., fascíola pulmonar, hepática, sanguínea) Cestódeos: o Cestódeos, ou tênias, são parasitos intestinais o Sua estrutura: o A cabeça, ou escólex, tem ventosas para a adesão do parasito à mucosa intestinal do hospedeiro definitivo o Algumas espécies também possuem pequenos ganchos para se fixarem o As tênias não ingerem os tecidos de seus hospedeiros, pois na verdade, não possuem sistema digestório o Para obter nutrientes no intestino delgado, absorvem o alimento através de sua cutícula o O corpo consiste em segmentos, chamados de proglótides que são continuamente produzidas pela região do pescoço do escólex enquanto este estiver vivo e aderido o Cada proglótide madura contém os órgãos reprodutores masculino e feminino são as mais afastadas do escólex o As proglótides maduras são essencialmente bolsas de ovos, e cada uma delas é infecciosa para o hospedeiro intermediário apropriado Nematelmintos: o Os membros do filo Nematoda, são cilíndricos e afilados em cada uma das extremidades o Possuem sistema digestório completo, consistindo em boca, intestino e ânus o A maior parte das espécies é dioica o Os machos são menores do que as fêmeas e tem uma ou duas espículas endurecidas em sua extremidade posterior usadas para guiar o esperma ao poro genital feminino o Durante a copulação, o esperma penetra no ovo e uma membrana de fertilização é secretada pelo zigoto essa membrana espessa- se gradualmente para formar a casca quitinosa do ovo eliminado por fêmeas fertilizadas o Uma segunda membrana, abaixo da casca, assegura a impermeabilidade do ovo a praticamente todas as substâncias, exceto o dióxido de carbono e o oxigênio o Os ovos podem eclodir no próprio trato digestório do hospedeiro ou no meio externo, liberando larvas de primeiro estágio (L1) conhecidas como larvas rabditoides APG 17 – PARASITAS MIGRATÓRIOS 2 2 Samuel Santana – Turma XIV o Algumas espécies são de vida livre no solo e água, e outras são parasitos de plantas e animais alguns passam o ciclo de vida inteiro, do ovo ao adulto maduro, em um único hospedeiro o Os nematódeos intestinais são as causas mais comuns de doenças infecciosas crônica o As infecções por nematódeos em humanos podem ser divididas em 2 categorias: 1- Aquelas em que o ovo é infeccioso 2- Aquelas em que a larva é infecciosa 2- Objetivo: Compreender os ciclos de vida, a epidemiologia e os fatores de risco das principais verminoses 3- Objetivo: Estudar a fisiopatologia e as manifestações clinicas das principais verminoses 4- Objetivo: Explicar o diagnóstico e o tratamento das principais verminoses Ascaris e a ascaríase: Introdução: o Parasito que infecta exclusivamente seres humanos e é o maior nematódeo do trato digestório humano o As fêmeas adultas podem chegar a mais de 40 cm de comprimento e 3 a 6 mm de diâmetro. Já os machos maduros medem 15 a 31 cm de comprimento e 2 a 4 mm de diâmetro o Os vermes adultos habitam o lúmen do intestino delgado humano, onde se alimentam e copulam A fêmea deposita cerca de 200.000 ovos por dia, que são eliminados nas fezes, porém, esses ovos recém-eliminados ainda não são infectantes o Os ovos férteis recém-eliminados geralmente são recobertos por uma casca externa albuminosa espessa, uma camada intermediária também espessa e uma membrana vitelina interna, muito pouco permeável esse revestimento complexo torna os ovos extremamente resistentes no meio externo o As fêmeas não fertilizadas liberam alguns ovos inférteis, que são eliminados pelas fezes, mas não se tornam infectantes Epidemiologia e fatores de risco: o A infecção por nematódeo mais prevalente em todo o mundo, afetando cerca de 800 milhões de pessoas na África Subsaariana, no Sul e no Sudeste Asiático e na América Latina o Presente principalmente em áreas rurais de alta densidade populacional, com falta de saneamento adequado ou tratamento de esgoto, ou onde as fezes humanas não tratadas são utilizadas como fertilizante o O clima constitui um importante determinante da doença são necessárias uma temperatura alta e umidade adequada para o embrionamento dos ovos no solo o Em áreas endêmicas, a prevalência e intensidade da infecção aumentam durante os primeiros 2 a 3 anos de vida, permanece elevada entre 4 e 15 anos e declina na vida adulta Ciclo de vida: o Quando encontram condições favoráveis de temperatura (em torno de 25°C), umidade e oxigenação no solo os ovos férteis tornam- se infectantes em cerca de 3 semanas, após duas mudas das larvas contidas em seu interior o Quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L3 existente em seu interior, durante sua passagem pelas porções anteriores do intestino delgado humano o As larvas penetram ativamente na parede intestinal, atingindo vênulas ou vasos linfáticos, para realizarem seu ciclo pulmonar o Por meio da circulação portal, acometem o fígado, o coração direito e os pulmões, aonde chegam entre 1 e 7 dias após a infecção o Essas larvas rompem os capilares pulmonares e caem no lúmen alveolar nesse estágio, medem 1.200 a 1.600 μm de comprimento e 36 a 39 μm de diâmetro o Através dos bronquíolos e brônquios, ascendem até a traqueia e glote e após serem deglutidas, chegam ao esôfago, estômago e intestino delgadoo A terceira muda ocorre na mucosa intestinal, originando larvas L4 com 2 mm ou mais de comprimento quando liberadas no lúmen intestinal, alcançam o comprimento de 1 cm até o momento da muda final, 3 a 4 semanas após a infecção o Após esse momento no lúmen intestinal, transformam-se em adultos com sexos separados o Os primeiros ovos são detectados nas fezes cerca de 8 a 9 semanas após a infecção, e a longevidade média das fêmeas vai de 12 a 18 meses, podendo chegar até 20 meses o Esse é um ciclo biológico complexo, que envolve uma extensa migração por diferentes órgãos do hospedeiro Fisiopatologia: o As formas larvárias podem provocar danos teciduais diretamente ou pela resposta inflamatória resultante, dependendo da carga parasitária e contato prévio do hospedeiro com o parasito o As larvas presentes no interior do ovo, ao atingirem o intestino delgado, penetram na mucosa e migram para a circulação portal chegando ao fígado (A) ovos liberados nas fezes; (B) ovos embrionados após cerca de 3 semanas; (C) ovos inférteis 3 3 Samuel Santana – Turma XIV o A morte de larvas na mucosa ou submucosa intestinal pode resultar em alterações teciduais caracterizadas como micro-hemorragias e infiltrado inflamatório constituído por macrófagos e eosinófilos o No fígado, em geral, não ocorrem alterações teciduais relevantes, embora cargas larvárias maciças possam levar a um quadro inflamatório que resulta em áreas de hemorragia e necrose com manifestações clínicas (hepatomegalia e, mais raramente, icterícia) o Após a passagem pelo fígado, as larvas atingem a circulação sistêmica, câmaras cardíacas direitas e chegam aos pulmões onde sofrem duas mudas esses estágios larvários são os que detêm maior poder antigênico e ocasionarão ruptura alveolar o Então, se estabelecem nos pulmões áreas de hemorragia puntiforme (petéquias), edema, além de infiltrado inflamatório por conta de neutrófilos e eosinófilos o Após esse processo, ocorre uma resposta imunológica adaptativa, do tipo Th2, formando um granuloma eosinofílico o responsável por essa resposta é IgA, IgE, eosinofilia, mastocitose e secreção de muco o Além disso, alterações fisiológicas ocorrem no intestino, mediadas por IL-4 e IL-13, com aumento de permeabilidade da mucosa e aumento da contratilidade do músculo, levam a um aumento do peristaltismo o A resposta humoral, com predominância de IgE é responsável por reações de hipersensibilidade a presença de sintomas respiratórios nessa fase caracteriza a síndrome de Loeffler o O verme adulto não invade a mucosa e as alterações patológicas se devem à interferência mecânica resultante das suas dimensões, da excreção de substâncias antigênicas e de sua capacidade de migração, principalmente na presença de ambiente hostil o Dentre esses antígenos, convém destacar o ABA-1 induz à produção de IgE, e como consequência ocorrem reações de hipersensibilidade manifestadas por meio de reações cutâneas (urticária) e respiratórias (broncoespasmo) o A ocorrência de reinfecções indica que a imunidade adquirida por infecções pregressas é apenas parcial o Há um decréscimo nas taxas de infecção em faixas etárias maiores, mas esse fato pode refletir menor exposição Manifestações clinicas: o As infecções de baixa intensidade por A. lumbricoides são habitualmente assintomáticas o As manifestações clínicas estão associadas a cargas elevadas de vermes e resultam da migração das larvas através dos pulmões e do parasitismo do sistema digestório pelos vermes adultos o Durante a migração pelos pulmões, as larvas de A. lumbricoides podem induzir intensa reação, que se deve à ruptura física e a uma resposta de hipersensibilidade aos antígenos secretados o Sintomas início súbito de sibilos (assobio agudo durante a respiração), dispneia, tosse não produtiva paroxística e febre alta. Podem durar 2 a 3 semanas antes de sua resolução espontânea o Os sintomas respiratórios podem coincidir ou podem ser precedidos de exantema urticariforme (irritação na pele), angioedema (inchaço indolor sobre a pele), dor abdominal e vômitos o Nas infecções moderadas ou intensas, uma obstrução intestinal pode ser causada por uma massa de vermes no intestino delgado ou pela migração de vermes para a árvore biliar, o ducto pancreático e o apêndice o A obstrução intestinal é mais comum em crianças pequenas, em virtude do menor tamanho do lúmen, e caracteriza-se por dor abdominal em cólica e vômitos, que podem progredir para sinais de perfuração intestinal o A ascaridíase hepatobiliar e pancreática é mais comum em adultos o A infecção intestinal crônica pode se manifestar como dor e distensão abdominais, diarreia e náuseas o Os efeitos mais insidiosos, particularmente em crianças, incluem diminuição da absorção de proteínas e gordura, desenvolvimento de deficiências de vitamina A e vitamina C e intolerância à lactose, que, em conjunto, levam a retardo do crescimento e comprometimento do desenvolvimento cognitivo Diagnóstico: o Habitualmente é estabelecido por meio de exame microscópico de uma amostra de fezes à procura de ovos característicos de casca espessa porém, durante a fase pulmonar da infecção, não haverá ovos detectáveis nas fezes, visto que os vermes adultos ainda não amadureceram e começaram a produzir ovos o Então, na fase pulmonar, as larvas, eosinófilos ou cristais de Charcot- Leyden (formados a partir da degradação dos eosinófilos), podem ser visualizadas ao exame microscópico do escarro o Em geral, a doença pulmonar também se caracteriza por eosinofilia periférica e infiltrados transitórios em radiografias Sindrome de Loeffler o O diagnóstico de obstrução intestinal ou biliar causada por A. lumbricoides é habitualmente estabelecido por meio de ultrassonografia ou colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) Tratamento: o O tratamento medicamentoso pode ser realizado pelo emprego de várias drogas o Porém, um cuidado deve ser tomado para o fato de que drogas que atuem em processos metabólicos do parasito, causando sua morte de forma lenta, podem gerar complicações por conta da mobilização dos vermes o Então, drogas anti-helmínticas de espectro amplo, como Albendazole (400 mg, dose única) e Mebendazole (100 mg, 2x/3 dias ou 500 mg, dose única), que atuam sobre a síntese de tubulina e a captação de glicose pelo verme, não devem ser vistas como fármacos de primeira escolha o Mais recomendado Levamisole (80 mg, dose única, para crianças e 150 mg, dose única, para adultos), que ocasiona a paralisia espástica nos vermes, facilitando sua eliminação o No caso da oclusão ou suboclusão intestinal por “bolo de áscaris” Piperazina (50 mg/kg de peso com dose máxima de 3 g), essa droga causa paralisia flácida nos vermes, facilitando a eliminação dos vermes por meio do peristaltismo estimulado pelo óleo mineral (50 mL), ministrado simultaneamente o A falta de resposta ao tratamento medicamentoso indica procedimento cirúrgico 4 4 Samuel Santana – Turma XIV Ancilostomídeos e a ancilostomíase: Introdução: o Os principais ancilostomídeos que infectam o tubo digestório humano são Ancylostoma duodenale e Necator americanos se desenvolvem no trato digestório humano, produzindo a ancilostomíase o Ancylostoma duodenale e N. americanus coexistem em áreas tropicais e subtropicais, mas A. duodenale pode sobreviver em áreas de clima seco e frio o Os vermes adultos de A. duodenale e N. americanus habitam o intestino delgado humano o A. duodenale geralmente é maior que N. americanos o As principais diferenças morfológicas entre as espécies encontram- se na cápsula bucal e na bolsa copuladora Epidemiologia e fatores de risco: o Mais de 450 milhõesde indivíduos são infectados por ancilostomídeos em todo o mundo o O Necator americanus é disseminado, enquanto a infecção por A. duodenale é mais restrita em sua distribuição geográfica a maior prevalência da infecção é observada em áreas rurais de países tropicais e menos desenvolvidos, onde as condições socioeconômicas e ambientais favorecem a transmissão o O clima representa um importante determinante, pois a umidade adequada e temperatura quente são essenciais para o desenvolvimento das larvas no solo o Determinantes igualmente importantes para a infecção são a pobreza, a falta de acesso a condições sanitárias adequadas e a acesso a um abastecimento de água limpa o Em crianças que vivem em áreas endêmicas, a prevalência aumenta com a idade até alcançar um ponto de estabilidade em torno dos 10 anos Ciclo de vida: o A morfologia dos ovos eliminados nas fezes não torna possível distinguir entre A. duodenale e N. americanus, apesar de haver uma pequena diferença de tamanho entre as espécies o Ao serem eliminados, os ovos fertilizados geralmente estão em estágios iniciais de clivagem, tem casca fina e formato ovoide o Os ovos maturam em 1 a 10 dias, quando encontram condições favoráveis no solo (temperatura entre 23°C e 33°C, umidade elevada e oxigenação), produzindo larvas rabditoides (L1) em seu interior o Em 12 a 24 horas, a eclosão dos ovos libera larvas no solo, as larvas alimentam-se de bactérias e material orgânico em decomposição o As larvfas sofrem mais duas mudas para transformar-se em larvas filarioides (L3) infectantes, cerca de 1 semana depois o As larvas filarioides permanecem no solo por até 6 semanas, em ambientes com umidade elevada e temperatura entre 25°C e 30°C, sem incidência direta de luz solar o Movem-se ativamente no solo, como uma serpente, mas não se alimentam o Uma curiosidade é que as larvas L3 de A. duodenale podem permanecer no solo em estágio latente, fenômeno conhecido como hipobiose, quando submetidas a condições ambientais desfavoráveis, como baixa temperatura ou baixa umidade o A infecção humana se dá pela penetração de larvas filarioides na pele, geralmente dos pés e das mãos, que entram em contato direto com o solo contaminado com fezes humanas o O processo de penetração na pele leva cerca de 30 minutos e pode produzir prurido intenso (coceira) o As larvas atingem as vênulas, capilares ou vasos linfáticos, iniciando um percurso pelo pulmão (ciclo pulmonar) semelhante ao de Ascaris o A migração larvária leva cerca de 1 semana, período em que ocorre a terceira muda o As larvas de quarto estágio (L4) chegam ao intestino delgado e fixam sua cápsula bucal na mucosa, iniciando a hematofagia (se alimentam de sangue), que caracteriza esse grupo de nematódeos o A quarta muda ocorre no fim da segunda semana de infecção, no intestino delgado, originando os vermes adultos o Detectam-se ovos de ancilostomídeos nas fezes 4 a 8 semanas após a infecção o Acredita-se que A. duodenale também possa ser transmitida, ainda que mais raramente por via oral, mediante a ingestão de larvas em água ou alimentos contaminados, incluindo o leite materno ou colostro, ou pela passagem transplacentária de larvas infectantes, resultando em infecções congênitas, ainda que as evidências a favor dessa teoria permaneçam escassas Fisiopatologia: o As ações dos ancilostomídeos sobre o organismo são determinadas pelas formas larvárias e pelos vermes adultos, constituindo-se de 3 etapas distintas: 1- Fase invasiva 5 5 Samuel Santana – Turma XIV 2- Fase de migração larvária pulmonar 3- Fase da fixação dos vermes ao intestino o A fase invasiva começa com a penetração das larvas na pele, provocando lesões traumáticas mínimas, geralmente imperceptíveis o Na fase de migração pulmonar, as larvas rompem os capilares, provocam lesões microscópicas com pequenas hemorragias até atingirem os alvéolos o Na última fase, fixadas à mucosa intestinal por suas cápsulas bucais, dentes ou placas cortantes, produzem erosões e ulcerações com necrose tecidual os vermes ingerem e digerem sangue da mucosa lesionada o Um fato importante é que esses vermes inibem a coagulação mediante uma série de anticoagulantes dirigidos contra os fatores Xa e VIIa, bem como contra a agregação plaquetária o A perda sanguínea intensa é resultante de grande carga parasitária e do deslocamento dos helmintos, que trocam de lugar a cada 4 a 8 horas, para se fixarem em diversos pontos da parede intestinal, produzindo mínimas ulcerações e hemorragias na mucosa o Nas infecções maciças, as ulcerações favorecem a invasão de germes entéricos, com a instalação de infecções bacterianas (translocação bacteriana) que determinam o agravamento em casos de pacientes que já possuem deficiência de ferro (principalmente gestantes e crianças) o Pode ocorrer desnutrição e imunodeficiência independentes de anemia, em adultos e crianças, com infecção significativa consequência de uma enteropatia com perda de proteínas, inclusive de imunoglobulinas, consequente à digestão dos vermes. Essa perda, além de agravar o estado nutricional, predispõe o hospedeiro a infecções o Pacientes com aids associada podem desenvolver doença mais grave e rapidamente progressiva o Os vermes adultos ativam a produção de IL-10, IL-4, IL-5 e IL-13, que estão ligadas mais a uma resposta por células Th-2 o Um fator importante é a produção de um fator inibidor de linfócitos natural killer (NK) suprimindo a produção de gamainterferon e a resposta Th-2, responsáveis pela expulsão dos parasitos Manifestações clinicas: o As características clínicas da infecção por ancilostomídeos são decorrentes das manifestações agudas associadas à migração das larvas através da pele e de outros tecidos, ou às manifestações agudas e crônicas resultantes do parasitismo do sistema digestório pelos vermes adultos o A exposição repetida da pele às larvas pode resultar em uma reação de hipersensibilidade, conhecida como “coceira de solo”, um exantema eritematoso (irritação na pele) e papular pruriginoso, que aparece mais comumente nas mãos e nos pés o A migração das larvas de ancilostomídeos através dos pulmões pode induzir sintomas pulmonares leves e transitórios, que consistem em tosse seca, faringite, sibilos e febre baixa o Raramente, pode ocorrer doença sintomática aguda após a ingestão oral de larvas de A. duodenale síndrome de Wakana, que se caracteriza por náuseas, vômitos, irritação da faringe, tosse, dispneia e rouquidão o Os sinais e sintomas abdominais causados pela infecção por ancilostomídeos são raros o As manifestações da doença causada por ancilostomídeos surgem quando a perda de sangue intestinal ultrapassa as reservas nutricionais do hospedeiro e resulta em anemia ferropriva o As perdas de proteínas associadas à infecção intensa por ancilostomídeos podem resultar em hipoproteinemia e anasarca (inchaço geral por todo o corpo) o À medida que a anemia ferropriva se desenvolve e se agrava, podem ocorrer fraqueza, palpitação, desmaios, tontura, dispneia, cansaço e cefaleia o Raramente, pode haver constipação intestinal ou diarreia com sangue oculto nas fezes ou melena franca (fezes escuras, provavelmente com sangue misturado), particularmente em crianças o Além disso, pode haver um desejo intenso de comer terra o A infecção fulminante por ancilostomídeos pode causar apatia, coma e até mesmo morte, particularmente em lactentes como as crianças e as mulheres em idade fértil apresentam redução das reservas de ferro, elas correm risco particular de doença sintomática o Anemia ferropriva durante a gravidez pode resultar em consequências adversas para a mãe, o feto (aborto, restrição do crescimento intrauterino) e o recém-nascido (anemia, atraso do crescimento) o Em crianças,a anemia e a desnutrição proteica associadas ao parasitismo intestinal crônico provocam comprometimento a longo prazo do desenvolvimento físico e cognitivo Diagnóstico: o O diagnóstico é estabelecido pela identificação microscópica dos ovos característicos nas fezes porém, não é possível diferenciar os ovos de N. americanus e de A. duodenale, pois ambos são incolores e semelhantes o O exame deve ser realizado com fezes recém-eliminadas se passarem mais de 24 horas, ocorre a eclosão dos ovos e liberação de larvas rabditoides o Além disso, a eosinofilia é um achado comum na infecção crônica, bem como durante a migração das larvas através dos pulmões Tratamento: o Os principais medicamentos utilizados são Mebendazol, Albendazol e o Pamoato de pirantel o Mebendazol: indutor da inibição da captação de glicose, provocando depleção do glicogênio e diminuição na produção do ATP do parasito. Administrado na dosagem de 100 mg, 2x por dia, durante 3 dias seguidos, ou 500 mg em dose única, ingerido preferentemente distante das refeições, para aumentar sua eficácia o Albendazol: utilizado em dose única de 400 mg para adultos e crianças acima de 2 anos. Para crianças menores de 2 anos, administra-se dose de 200 mg o Pamoato de pirantel: age como bloqueador da despolarização neuromuscular, inibindo a colinesterase, resultando em paralisia espástica do verme. Deve ser usado na dose de 11 mg/kg por dia, para adultos e crianças acima de 2 anos de idade, durante 3 dias A dose total não deve exceder 1 g Strongyloides e a estrongiloidíase: Introdução: o Strongyloides stercoralis único nematódeo intestinal cujos ovos eclodem no próprio trato digestório humano, tornando possível ao parasito multiplicar-se no interior do hospedeiro pela autoinfecção o Essa multiplicação pode ser extremamente eficaz, e fatal em indivíduos com comprometimento imunitário grave como os receptores de transplantes e pacientes com doenças crônicas debilitantes 6 6 Samuel Santana – Turma XIV Epidemiologia: o Endêmica nas regiões tropicais e subtropicais da África Subsaariana, Ásia, América Latina e áreas do leste e sul da Europa o Prevalência mundial de até 100 milhões de infectados o Strongyloides stercoralis também pode ser transmitido sexualmente por meio de contato oroanal, mais frequentemente entre homens que fazem sexo com homens o Foi também relatada uma transmissão por meio de transplante de órgãos sólidos de doadores infectados Ciclo de vida: o O ciclo de vida do Strongyloides stercoralis desenvolve-se em parte no solo e em parte no organismo do hospedeiro o Após a eclosão dos ovos, as larvas rabditoides são eliminadas nas fezes e ganham o solo com condições adequadas de temperatura e umidade, sofrem duas mudas, originando as larvas filarioides (ciclo direto) o Podem também dar origem a machos e fêmeas de vida livre que após reprodução sexuada, originam larvas rabditoides o Após períodos de tempo variáveis, essas larvas passam por mudas transformando-se em larvas filarioides (ciclo indireto ou sexuado) o Não existem evidências de que ocorra parasitismo por vermes machos, e a reprodução sexuada parece ser exclusividade das formas de vida livre o Após penetrarem na pele ou nas mucosas de um hospedeiro suscetível, as larvas atingem os pulmões por via sanguínea, penetram nos alvéolos e são carreadas até a traqueia pelo movimento ciliar do epitélio respiratório o Após isso, são deglutidas na faringe com as secreções respiratórias, atingindo o tubo digestivo o Principalmente nas situações de hiperinfecção, é possível que larvas filarioides completem sua maturação nos pulmões fato evidenciado pelo encontro eventual de fêmeas adultas e ovos em secreções brônquicas o No duodeno, ao completarem sua maturação, as larvas transformam-se nas fêmeas adultas, partenogenéticas, que se alojam na mucosa do duodeno ou do jejuno proximal e liberam ovos embrionados o Estes ovos eclodem, dando origem às larvas rabditoides que atingem a luz intestinal, sendo então eliminadas com as fezes o O período de tempo entre a infecção inicial e o início do encontro de larvas rabditoides nas fezes varia de 3 a 5 semanas o Uma importante particularidade do ciclo de vida de S. stercoralis é a possibilidade de larvas rabditoides sofrerem mudas ainda na luz intestinal o Assim, as larvas filarioides podem penetrar na mucosa intestinal ou na pele da região perianal e completarem o ciclo sem a passagem pelo solo isso faz com que o processo infeccioso tenha duração indefinida, ainda que o hospedeiro não se exponha às formas infectantes do parasita no solo o Em condições clínicas especiais, como uso prolongado de corticosteroides, imunodepressão ou alterações anatômicas do tubo digestivo, esse processo de autoinfecção pode ser acelerado resultando em cargas parasitárias muito elevadas (hiperinfecção), com graves consequências clínicas Fisiopatologia: o Na infecção aguda, durante a migração das larvas filarioides pelos pulmões, pode ocorrer uma pneumonite eosinofílica (Síndrome de Löffler) o A presença de anticorpos do tipo IgE, das citocinas IL-4, IL-5 e IL-13 e de eosinofilia periférica e tecidual, desde os primórdios da infecção, sugere que a resposta imune Th2 desempenhe papel fundamental na contenção do processo infeccioso no seu início o Uma vez elaborada a resposta imune, as imunoglobulinas da classe G desempenhariam papel de destruição das larvas em um mecanismo que envolve a participação do sistema complemento e de granulócitos esses últimos desempenhariam o papel efetor final ao promoverem a morte das formas larvárias o Em determinadas situações, o equilíbrio entre hospedeiro e parasita pode ser perdido, originando a hiperinfecção o Então, condições de imunodepressão, principalmente as motivadas pelo uso de substâncias glicocorticosteroides, podem condicionar o aparecimento de alterações, seja nos mecanismos imunes do hospedeiro, ou na biologia do parasita que tem como resultado um aumento indefinido da carga parasitária e aceleração do processo de autoinfecção o Dessa forma, por meio da supressão de eosinófilos, bem como do bloqueio na ativação de linfócitos, os mecanismos imunes citados anteriormente podem ser comprometidos o A hiperinfecção e estrongiloidíase podem ocorrer em decorrência de outras condições clínicas do hospedeiro, independentemente do uso de corticosteroides doenças que alteram a função imune; doenças metabólicas (diabetes melito do tipo 1); defeitos congênitos ou adquiridos do sistema imune Manifestações clinicas: o As infecções por S. stercoralis, particularmente em hospedeiros imunocompetentes, são em sua maioria, assintomáticas ou estão associadas apenas a manifestações gastrintestinais leves, como dor abdominal, distensão e diarreia aquosa o Em menos de 20% dos indivíduos infectados, ocorre sangramento gastrintestinal, que se manifesta por hematoquezia ou melena o As causas raras de morbidade incluem obstrução do intestino delgado, íleo paralítico e uma síndrome de má absorção (particularmente em crianças) 7 7 Samuel Santana – Turma XIV o Durante a fase migratória das larvas pelos pulmões, os sintomas são raros em pacientes imunocompetentes, embora possa haver eosinofilia periférica o Entretanto, os sinais e sintomas pulmonares em pacientes imunocomprometidos com síndrome de hiperinfecção podem ser graves com início agudo de dispneia, tosse produtiva e hemoptise acompanhada de febre, taquipneia e hipoxemia o A migração das larvas filariformes a partir do ânus pode levar a uma manifestação dermatológica, conhecida como larva currens, que se caracteriza por trajetos de lesões maculopapulares eritematosas, serpiginosas e migratórias, principalmente na pele das nádegas, davirilha e da parte inferior do abdome o Como a infecção assintomática por S. stercoralis pode persistir por várias décadas após a infecção inicial, é importante lembrar que uma alteração do estado imunológico associada a determinadas condições, pode resultar em síndrome da hiperinfecção o O aumento maciço no número de larvas de Strongyloides, decorrente da hiperinfecção, pode se manifestar como enterite aguda, com diarreia intensa e doença ulcerativa do intestino delgado e intestino grosso o Durante a infecção disseminada, as larvas e, algumas vezes, os vermes adultos penetram na mucosa intestinal, migram para outros locais, incluindo o sistema nervoso central, e resultam em abscessos metastáticos e meningite por microrganismos gram-negativos, decorrente do transporte de bactérias entéricas pela migração dos parasitas o As complicações menos comuns da doença disseminada incluem glomerulonefrite e síndrome nefrótica por lesão mínima, síndrome do desconforto respiratório agudo e hemorragia alveolar o A mortalidade em decorrência da hiperinfecção e doença disseminada pode ser elevada, porém o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento estão associados à melhora dos resultados Diagnóstico: o O diagnóstico da estrongiloidíase, na sua forma habitual, crônica, baseia-se no exame parasitológico de fezes o Nessa forma da infecção são pesquisadas as larvas rabditoides; o encontro de ovos, larvas filarioides e vermes adultos é raro o O diagnóstico sorológico, por meio da detecção de anticorpos dirigidos contra antígenos larvários, parece promissor, mas ainda não é utilizado rotineiramente em função da dificuldade na obtenção de antígenos apropriados o Para o imunodiagnóstico da estrongiloidíase existem duas técnicas mais utilizadas: imunofluorescência indireta, que detecta antígenos de superfície (sensibilidade de 90 a 100% e especificidade de 92,5 a 100%), e o teste ELISA (sensibilidade de 87 a 100% e especificidade de 94 a 100%), dependendo da preparação antigênica o Os níveis de IgE são elevados em 50 a 70% dos pacientes com estrongiloidíase Tratamento: o Durante muito tempo, o benzoimidazólico tiabendazol constituiu-se na droga de escolha para a terapêutica mas trata-se de um fármaco que ocasiona uma série de efeitos adversos que vão desde intolerância gástrica até sintomas neurológicos, como sonolência, tontura e até convulsões o Outro benzoimidazólico com atividade importante sobre esse helminto é o cambendazol bem mais tolerado e deve ser ministrado em dose única de 5 mg/kg de peso, tendo boa ação anti- parasitária, inclusive sobre as formas larvárias o Como trata-se de um anti-helmíntico pouco difundido, a experiência com o cambendazol no tratamento de hiperinfecção é escassa o Há ainda outro benzoimidazólico, o albendazol, que apresenta alguma eficácia no tratamento o Ministrado segundo o esquema de 400 mg/dia, por 3 dias consecutivos é, em geral, bem tolerado e seu uso deve ser restrito às formas clínicas não complicadas o A ivermectina estudos iniciais a respeito dessa droga revelaram boa eficácia e boa tolerabilidade com esquema de 200mg/kg/dia, durante 2 dias consecutivos o Existem evidências de que a ivermectina tenha ação também sobre larvas filarioides o Trata-se de uma droga promissora no tratamento da hiperinfecção/doença o Após o tratamento da infecção por S. stercoralis, é necessário proceder ao controle de cura são realizados 3 exames parasitológicos de fezes no oitavo, nono e décimo dias após o final do tratamento
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