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Resumo 1 – Teoria Econômica: Economia política, uma introdução crítica Introdução: Economia Política: da origem à crítica marxiana. A Economia Política aborda questões ligadas diretamente a interesses materiais (econômicos e sociais) e, em face deles, não há e nem pode haver “neutralidade”: suas teses e conclusões estão sempre conectadas a interesses de grupos e classes sociais. A Economia Política Clássica O que se pode denominar de período clássico da Economia Política – ou ainda, Economia Política Clássica – vai de meados do século 18 aos inícios do século 19, mais precisamente, começa na Inglaterra com Petty (1623-1687) e termina com David Ricardo (1772-1823). E, na França, começa com Pierre de Boisguillebert (1646-1714) e termina com Sismondi (1773-1842). Nos maiores representantes da Economia Política Clássica, Smith e Ricardo, a despeito das diferenças entre suas concepções teóricas, encontram-se nitidamente duas características centrais da teoria que vinha se elaborando há quase duzentos anos. A primeira se refere à natureza dessa mesma teoria: não se tratava de uma disciplina particular, mas sim de compreender o conjunto das relações sociais que estavam surgindo na crise do Antigo Regime (entenda por feudalidade ocidental). Os clássicos da Economia Política almejavam compreender o funcionamento da sociedade que estava nascendo das entranhas do mundo feudal, por isso, se erguia como fundante de uma teoria social, que oferecia uma visão da vida social, com objetivos de intervenção política e social. A segunda relaciona-se ao modo como seus autores trataram as principais categorias e instituições econômicas (dinheiro, capital, lucro, etc.), eles as entenderam como categorias e instituições naturais, que uma vez descobertas pela razão humana e colocadas na vida social, permaneceriam eternas e invariáveis na sua estrutura fundamental. Essas duas características, são indicativas do compromisso sociopolítico da Economia Política Clássica, que, em resumidas palavras, expressou o ideário da burguesia no período em que esta classe estava na vanguarda das lutas sociais, conduzindo o processo revolucionário que destruiu o Antigo Regime. Na própria medida em que a Revolução Burguesa, à época em que expressava os anseios emancipadores da humanidade, os clássicos dispunham de uma amplidão de horizontes que lhes permitia elaborar com profunda objetividade a problemática posta pelo surgimento da nova sociedade. Constata-se que objetividade é diferente de neutralidade, e, por não serem neutros, defendiam uma ordem social mais livre e avançada que o feudalismo. A Crise da Economia Política Clássica Entre 1825/1830 e 1848, aparece a crise e a dissolução da Economia Política clássica. Essa crise insere-se num contexto bem determinado: nessas décadas altera-se profundamente a relação da burguesia com a cultura ilustrada (projeto de emancipação humana que foi conduzido pela burguesia revolucionaria, resumido nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade) de que se valera no seu período revolucionário, cultura que configura no plano das ideias, o chamado Programa da Modernidade. Contudo, a única emancipação que foi possível através dessa cultura ilustrada foi a política. O regime burguês emancipou os homens das relações de dependência pessoal, vindo da feudalidade, mas a liberdade política (todos iguais perante a lei), jamais poderia se tornar econômico-social, e, sem essa, a emancipação humana é impossível. Portanto, a Revolução Burguesa não conseguiu chegar ao prometido reino da liberdade, somente a uma ordem mais livre que a anterior, mas, que continha limites insuperáveis a emancipação da humanidade. A partir daí, surge uma nova classe dominante, que contradiz com os ideais propostos pela burguesia, que, mais tarde, tornou-se conservadora, abandonando todos seus ideais Então, em 1848, todo esse processo vai explodir na revolução e classe burguesa começará a enfrentar o proletariado revolucionário, que seguirá com os valores que haviam sido propostos no passado. A partir daí surge a crise da Economia Política clássica, que era compatível com os ideais da burguesia revolucionária, porém, não é compatível com a burguesia conservadora. Um bom exemplo é a teoria do valor-trabalho, que foi uma arma pelos burgueses contra o feudalismo, tornou-se uma crítica ao regime burguês. Se entre 1825/1830 e 1848 a E.P.C passa por uma crise, na segunda metade do século ela está consumada, e partir daí, passa a ser chamada de Economia Política ou apenas de Economia, tornando-se uma disciplina científica. A constituição dessa “ciência econômica” marca uma verdadeira ruptura da E.P.C, herdando uma característica, a consideração das categorias econômicas do regime burguês como realidades supra históricas, assim, para essa “ciência econômica”, o capital, dinheiro, lucro, mercado, propriedade privada, etc., naturalmente, fazem parte de uma sociedade social e civilizada. Porém, essa “ciência” abandonou ideias elaboradas ela E.P.C, que poderiam fazer críticas ao regime burguês, como o valor-trabalho. A Crítica da Economia Politica Para Marx, o êxito do protagonismo revolucionário do proletariado, dependia, em larga medida, do conhecimento rigoroso da realidade social. Ele considerava que a ação revolucionária seria tanto mais eficaz quanto mais estivesse fundada não em concepções utópicas, mas numa teoria social que reproduzisse idealmente (ou seja, no plano das ideias) o movimento real e objetivo da sociedade capitalista. Por isso, em sua perspectiva, a verdade e a objetividade do conhecimento teórico não são perturbadas ou prejudicadas pela classe do proletariado, pelo contrário, na medida que o sucesso da ação revolucionária da classe operária depende do conhecimento verdadeiro da realidade social, o ponto de vista, ou perspectiva, que se vincula aos interesses do proletariado é exatamente aquele que favorece a elaboração de uma teoria social que dá conta do efetivo movimento da sociedade. Ligado a classe operária e sob o estímulo de Friedrich Engels, Marx articulou, numa pesquisa que cobriu quase 40 anos de trabalho intelectual, a teoria social que esclarece o surgimento, o processo de consolidação e desenvolvimento e as condições de crise da sociedade burguesa (capitalista). Das suas pesquisas, resultou que a sociedade burguesa não é uma organização natural, mas, sim, uma forma de organização social histórica, transitória, que contém em seu interior divergências, que podem levar a sua superação, dando lugar a outro tipo de sociedade, mais precisamente, a sociedade comunista. A teoria de Marx foi elaborada através da cultura ilustrada e sua crítica não é uma negação teórica aos clássicos e sim a sua superação, incorporando suas conquistas, mostrando seus limites e descontruindo seus equívocos, rompendo com a naturalização que seria eterna.