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FUNDAMENTOS DE GESTÃO AULA 1 Profª Aline Mara Gumz Eberspacher 2 CONVERSA INICIAL Olá! É com muita satisfação que iniciamos juntos esta disciplina que busca entender os fundamentos da gestão. Quando pensamos em uma empresa, nosso pensamento tende a ser direcionado ao gestor desta organização. Considerando as dimensões empresa e gestão, podemos perceber a abrangência da nossa aula. Você já parou para pensar que sua vida é dirigida, controlada e envolvida por organizações? De início, estudaremos as definições de organização. E para que essa organização consiga sobreviver em um mercado tão competitivo, ela precisa ser eficiente e eficaz. Mas qual a diferença entre esses conceitos? Esse será o segundo tema da nossa aula. Para finalizar, faremos uma viagem no tempo e buscaremos a etimologia e o significado da palavra administração. Também trataremos das funções e habilidades do gestor. CONTEXTUALIZANDO Desde quando existe a Administração? Pense nos agrupamentos humanos das sociedades que viviam nos séculos passados. Das grandes civilizações da antiguidade até as sociedades tribais. Pense nos homens das cavernas, e se eles exerciam algum tipo de atividade que poderíamos denominar administração. Você deve estar se perguntando se a Administração é algo recente. Podemos dizer que os primeiros esforços do que se entende por administração na atualidade iniciaram-se há milhares de anos. Como, por exemplo na construção das pirâmides do Egito: podemos encontrar referências claras de administração nos aspectos de planejamento, direção, controle e até mesmo eficácia. São esses os temas que estudaremos nesta aula! TEMA 1 – ORGANIZAÇÕES Se você fosse indagado sobre o que é uma organização, o que você responderia? Uma organização poderia ser a empresa que você trabalha; o modo de distribuição de tarefas em sua rotina doméstica; a associação de moradores do bairro; uma igreja; ou, ainda, uma função administrativa. Assim, percebe-se que a palavra organização passa a ter diferentes significados; enquanto futuros gestores, o entendimento desses significados é fundamental para o dia a dia da profissão, pois a “administração é um todo do qual a 3 organização é uma das partes” (Chiavenato, 2003, p. 82). De certo modo, podemos dizer que a organização é o objeto da administração. Também podemos dizer que a administração é um dos aspectos fundamentais que diferenciam as organizações de outras formas de sistemas sociais. Ou seja, enquanto no passado a sociedade era constituída de pequenos sistemas sociais desorganizados, nos dias atuais quem domina o panorama social contemporâneo são as organizações, sendo elas cada vez maiores e com estruturas melhores. Dificilmente o seu dia a dia estará isento de organizações, pois são elas que coordenam o seu trabalho, o seu estudo, seus interesses e suas reivindicações. Sem dúvida, as organizações estão em nossa volta, do momento de nosso nascimento, em hospitais, à nossa morte, em cemitérios; estamos sempre “absorvidos pelas organizações”, e assim nos tornamos uma “sociedade de organizações” (Perrow, 1991). Todavia, não seria mais fácil dizer que vivemos em um mundo de empresas? Aliás, não são as empresas o objeto de atuação da administração? Na verdade, o termo empresa é limitado, pois caracteriza um tipo específico de organização, a de natureza econômica. Também temos organizações com outras finalidades, tais como repartições públicas, igrejas, clubes, Organizações Não Governamentais (ONGs), sindicatos etc. Todos esses exemplos se referem a organizações, e todas elas precisam de administração e de certos processos, como planejamento, organização, direção e controle. Qual a razão da existência de uma organização? Ela existe para que as tarefas que uma pessoa não pode realizar sozinha sejam realizadas, de forma eficaz e eficiente. Mais adiante, voltaremos a estes termos. Por ora, basta entender que eles representam os bons resultados de um trabalho coletivo pensado conscientemente para o atingimento de objetivos específicos. Vamos fazer um exercício? Pense em todas as atividades de que você participa durante o dia. Quais dentre elas, se é que existe alguma, não são influenciadas, de uma maneira ou de outra, por uma organização? Este material que você está lendo foi preparado por uma organização; você provavelmente está lendo por causa de algum tipo de exigência organizacional da professora. O meio de transporte que você utilizou para chegar até o trabalho, a faculdade ou a sua casa foi fabricado em um ambiente organizacional. Até mesmo em seus momentos de lazer você precisa de organizações para tornar o seu divertimento maravilhoso. 4 Motta e Pereira (1980) ressaltam a importância do estudo das organizações, ao afirmar que são elas que caracterizam a sociedade moderna, pois uma das características da época é o grande número de organizações em relação aos demais tipos de sistema social. Para Laumann e Knoke (1978), a sociedade vive em um “estado organizacional”. Hall (2004) afirma que é necessário estudar as organizações para entender a sociedade e o que acontece nela. Para Motta e Pereira (1980), a relevância do entendimento e do estudo das organizações reside não apenas na existência de um grande número de delas, como também no fato de que elas são as responsáveis pela formação do homem moderno e pelo desenvolvimento econômico, político e social dos países. Ainda para Motta e Pereira (1980), é sobretudo dentro das organizações que se exerce a administração, não sendo possível a existência de uma organização sem a administração – a recíproca é também verdadeira. Mas antes de entendermos o conceito de organização, do ponto de vista da Administração, é importante diferenciarmos suas principais definições. 1.1 Organização: conceitos e definições Conforme já mencionamos, na ciência da Administração há duas formas básicas de considerar o termo organização. Sobre isso, Chiavenato (2003) afirma que a organização pode ser vista enquanto entidade social e enquanto função administrativa. Enquanto entidade social, é sinônimo de um empreendimento criado para atingir a objetivos pré-estabelecidos. Um exemplo são as empresas que constituem um empreendimento criado para dar lucro, nos moldes do capital, ou um hospital público, criado para atender a população em seus problemas de saúde. Enquanto função administrativa e parte do processo administrativo, organização é o ato de alocação de recursos e estruturação das responsabilidades pela gestão. Assim, entendermos que existem pelo menos duas conceituações distintas – organização enquanto entidade social e enquanto processo administrativo. Agora, nosso foco é entender a organização enquanto entidade social. Etzioni (1964), define organização como entidade social ou agrupamento humano com metas específicas. Já para Daft (2008, p.10) “organizações são entidades sociais orientadas por metas, projetadas como sistemas de atividade deliberadamente estruturados e coordenados e ligadas ao ambiente externo”. 5 Ou seja, uma organização é uma entidade social que está direcionada para o cumprimento de objetivos pré-determinados. Exemplo: o objetivo de uma instituição de ensino é formar seus alunos para o mercado e para vida; o objetivo de um hotel é atender hóspedes, oferecendo bons serviços, de forma a atingir a capacidade máxima de ocupação dos leitos; o objetivo de uma prisão é manter presos condenados pela justiça, salvaguardando seus direitos civis e garantindo segurança para o restoda população. Assim, entendemos o conceito de organização do ponto de vista de entidade social. Mas, em sua opinião, grupos familiares, grupos de amigos, povos, tribos – seriam organizações? Para responder a esse questionamento, é preciso compreender o uso do termo organizações sociais. Quando falamos de organizações sociais, referimo-nos às maneiras pelas quais a conduta humana se organiza socialmente, com dois aspectos básicos: a) a estrutura das relações sociais em um grupo ou coletividade; b) as crenças e orientações compartilhadas que unem os membros da coletividade e guiam sua conduta (Blau; Scott, 1970). Um exemplo: sua turma de colegas da faculdade dentro da van do Grupo Uninter, indo fazer uma visita técnica aos estúdios da instituição. Vocês formam um grupo, pois há toda uma relação social que os unem em uma estrutura. Há relações de estudo, uma instituição de ensino, amizades ou coleguismo. Enfim, vocês são diferentes de passageiros de um ônibus de linha, por exemplo, que não compartilham nenhuma estrutura de relação social estabelecida. Toda sociedade tem uma estrutura social e uma cultura complexa, que servem para organizar a conduta humana dentro da coletividade. Ou seja, existem organizações que foram criadas para atingir a objetivos específicos, de modo que, “como a característica distinta dessas organizações é a de que elas foram formalmente estabelecidas com o propósito explícito de conseguir certas finalidades, usa-se o termo ‘organizações formais’ para designá-las” (Blau; Scott, 1970, p. 17). Esse critério a distingue de uma organização social em geral. Por outro lado, o aspecto formal das organizações foi destacado por Max Weber, sociólogo alemão e pioneiro da Teoria Burocrática. Segundo Hall (2004), para Weber, a natureza formal das organizações vem da divisão de trabalho e da hierarquia de autoridade, que definem estritamente quem serão os indivíduos designados para uma função. Além disso, para Weber, a definição de organização reside na realização de “um tipo específico e contínuo de atividades 6 direcionadas à um propósito [...]. As organizações são criadas para fazer algo” (Weber, 1947, p. 151-152, citado por Hall, 2004, p. 27). Por fim, nossa missão, enquanto estudantes e futuros gestores, é reconhecer o papel das organizações formais para o pensamento administrativo, tendo em vista sua presença em nosso dia a dia, e o fato de suas características serem fundamentais para a ordem estrutural de nossas empresas, sendo, portanto, fundamentais para o seu progresso. TEMA 2 – EFICIÊNCIA E EFICÁCIA Você já parou para pensar que a eficiência não é uma necessidade atual, que ela existe desde a Antiguidade? No Egito faraônico, ao longo das construções das pirâmides, a necessidade de eficiência nas pedreiras já era um fator de atenção. Por exemplo, a Pirâmide de Degraus de Djoser. O faraó Djoser (2636 a 2611 a.C.) reinou no período em que o Egito não enfrentava carência de mão de obra e poderia solicitar, caso quisesse, ajuda de todo camponês sadio do reino para a construção de pirâmides. A única limitação para a construção das pirâmides seria o fornecimento de blocos de pedras. Apesar disso, a construção se tornou uma grande prova de administração eficiente, tendo em vista que o Faraó conseguiu deter total controle sobre os recursos de sua edificação e, mesmo limitado, construiu o que ficou conhecido como o primeiro edifício monumental em pedra do mundo. Antes de continuarmos, é preciso se perguntar como definir eficiência. Bio (1996) define eficiência como o modo correto de fazer determinada tarefa. Para o autor, uma organização só é eficiente quando alcança sua meta de volume de produção gastando a menor quantidade possível de recursos, ou seja, quando apresenta o menor custo possível por unidade produzida. Megginson, Mosley e Pietri Júnior (1998) seguem o mesmo raciocínio, pois, para os autores, a eficiência é um conceito matemático. Trata-se da relação entre o insumo e o produto (input e output). Ainda para esses autores, um administrador eficiente faz produtos com melhores resultados de produtividade e desempenho em relação aos insumos utilizados ao longo da produção. Já para Daft (1999, p. 39), a eficiência é limitada na medida em que trata das características internas da organização. “Eficiência organizacional é o volume de recursos utilizados para produzir uma unidade de produto. Ela pode ser medida pela razão entre as entradas e as saídas”. Para o autor, uma 7 organização pode ser considerada mais eficiente quando é capaz de alcançar determinado nível de produção utilizando menos recursos que a concorrente. Expandindo o raciocínio, é importante destacar que, nas organizações, a eficiência é tão importante quanto a eficácia. Assim, Chiavenato (1994) ressalta que toda organização deve ser desenvolvida a partir dos conceitos de eficácia e eficiência. Ainda, o autor define eficiência como a relação entre custo e benefício, e eficácia como o melhor alcance em termos de resultado. Daft (1999) defende que, por vezes, a eficácia pode ser conduzida pela eficiência, mas que em algumas organizações os dois conceitos não têm relação, podendo a empresa não alcançar suas metas (lucro) – por exemplo, por produzir produtos de baixa demanda –, mas ser altamente eficiente – pois teve uma produção com custos reduzidos. É possível também, apesar da ineficiência, alcançar bons lucros. Ainda assim, o importante, neste momento, é que o conceito de eficiência fique bem claro: eficiência é o método, os meios para se atingir determinados fins. Trata-se de todo o esforço e dedicação que temos para com o intuito de atingir determinado resultado. Já o termo eficácia, para Frasson (2001), é a capacidade de atingir metas e objetivos que tenham sido estabelecidos. Para Cohen e Franco (1998), é o grau de alcance dos objetivos no projeto em determinado período, independentemente dos custos. Para Wagner III e Hollenbeck (2006), eficácia organizacional é a meta do desempenho da organização, é o alcance de seus objetivos ou alvos, como rentabilidade, participação no mercado, crescimento, qualidade, estabilidade e eficiência. A eficácia diferencia-se da efetividade porque esta é a capacidade de promover os resultados desejados, através do método de execução, independentemente das falhas de orientação e especificação dos objetivos. Ou seja, efetividade é a capacidade de produzir mudanças duradouras e significativas aos beneficiários. Em suma, se uma organização não atinge suas metas, não cumpre seus propósitos e é ineficaz. Uma organização eficaz está sempre preocupada com seus fins e com seus objetivos, e para isso deve estar focada nos seus aspectos externos. Escolher a solução certa para uma necessidade ou problema – como colocar o volume pretendido do produto correto segundo a necessidade da população – é ser uma organização eficaz. Para Chiavenato (1994), a organização não deve ser analisada apenas no aspecto de eficácia, como também de eficiência, pois eficácia é a 8 normatização dos resultados alcançados e a eficiência refere-se a custos e benefícios. Chiavenato (1994) ainda exemplifica os dois conceitos: eficácia é ganhar o jogo de futebol, enquanto eficiência é jogar com arte. Ilustrando: um funcionário que atinge todas as metas estipuladas pelo empregador é um empregado eficaz, pois atingiu seus objetivos; um funcionário que atrasa para entregar suas metas, porém não comete erros durante o processo e ainda economiza os insumos, é eficiente, mas não eficaz. Assim, eficiência e eficácia andam juntas, mas não são necessariamente requisitosuma para a outra. É possível ser eficiente sem ser eficaz e vice e versa. Quadro 1 – Eficácia e eficiência Eficiência Eficácia Ênfase nos meios Ênfase nos resultados Fazer corretamente as coisas Fazer as coisas certas Resolver problemas Atingir objetivos Salvaguardar os recursos Otimizar a utilização dos recursos Cumprir tarefas e obrigações Obter resultados Treinar os subordinados Dar eficácia aos subordinados Manter as máquinas Maquinas em bom funcionamento Fonte: Elaborado com base em Chiavenato, 2004, p. 156. Em suma, uma organização eficaz é aquela que faz as coisas certas, tendo seus objetivos alcançados. Uma organização eficiente é a que realiza os objetivos com a menor quantidade possível de recursos gastos. Ou seja, eficiência é a relação entre custo e benefício e eficácia é o melhor alcance dos resultados. TEMA 3 – ADMINISTRAR: ETIMOLOGIA E SIGNIFICADO Você já estudou qual é a origem e o significado da palavra administração? A administração como conhecemos e estudamos atualmente é resultado da história e da integração de vários indivíduos que pensaram a organização da sociedade e das atividades humanas, entre eles engenheiros, sociólogos, economistas e até mesmo empresários. A soma de cada conhecimento produzido em épocas diferentes permite ao administrador, nas sociedades 9 atuais, explorar melhor suas técnicas e habilidades, entendendo como e por que cada princípio administrativo surgiu. Assim, para começar a nossa caminhada pela história, devemos começar com uma pergunta simples: você sabe o que é Administração? Ela é uma palavra muito utilizada por todos nós, por exemplo no noticiário, quando a encontramos em quase todo o momento. Mas nem sempre conhecemos realmente o significado das palavras que usamos. Tente definir em uma frase o que é administração, e veja como é difícil. Assim, para começarmos a entender o que significa administrar, devemos primeiramente saber o significado original da palavra. Entramos assim na etimologia, que é o estudo da origem das palavras, feito por linguistas com a finalidade de conhecer melhor como os termos evoluem a partir de suas origens. É importante conhecer a origem para entender o que ficou deste significado inicial, e também o que mudou com o passar do tempo e o porquê das mudanças. É muito comum que as palavras evoluam com a sociedade. À medida que as coisas se tornam mais complexas, as palavras que as retratam precisam incorporar novos significados e sentidos. Foi exatamente isso que aconteceu com a palavra administração, que tem origem no latim, do termo administer, que por sua vez é um conjugado de dois termos: ad-, que significa direção, tendência, junto de; e –minister, que é um termo comparativo de inferioridade. O sufixo -ter representa subordinação e obediência. Assim sendo, administer, na Roma Antiga, era aquele que realizava uma função de direção abaixo do comando de outrem. Figura 1 – Etimologia de administração Ainda, a palavra administração, em latim, é administratione, que segundo o Dicionário Michaelis significa, entre outras coisas: ato de administrar; governo; direção de estabelecimento; casa onde se trata de assuntos de administração Administer (Administrador) Ad (direção) Minister (Subordinação) 10 pública ou particular. É importante entender que, na origem, a administração era a capacidade de comandar em nome de alguém. Vamos pensar no significado atual do termo Ministro, que é uma palavra muito próxima do termo etimológico conjugado minister. O ministro, no governo, administra em nome do presidente ou do chefe de estado. Mesmo na religião, o ministro administra em nome de um interesse maior (a Igreja, o ministério divino). Isso significa dizer que a função da administração é alcançar os objetivos estabelecidos por interesses de outro, seja ele um rei ou, principalmente, uma coletividade. E o que significa, para além da etimologia, a palavra administração? Intuitivamente ou empiricamente as práticas relacionadas à administração sempre estiveram presentes na história da humanidade. Vamos refletir? Pense no modelo mais primitivo de sociedade, aquelas denominadas pelos cientistas sociais como sociedades tribais. Neste tipo de agrupamento humano, predominam atividades voltadas para a autoprodução, que visa a subsistência; ou seja, neste modelo de sociedade tudo que é consumido vem da própria produção (por meio da caça, pesca, criação etc.). Na sociedade tribal, destaca- se o papel do chefe militar, que geralmente é o guerreiro com mais habilidades. Conforme apontam Vizeu e Gonçalves (2010), além do comando militar, a este líder cabia exercer as funções de organizar a tribo, planejar as ações de caça, pesca, criação, entre outras, e ainda dirigir e controlar os membros da tribo em suas atividades cotidianas. Assim sendo, ainda que de modo intuitivo, sob responsabilidade desses líderes estavam funções básicas para a sobrevivência da tribo: o planejamento, a organização, a direção e o controle. À medida em que as sociedades tribais tornaram-se maiores, sua necessidade de administração cresceu. E com tal complexidade, o corpo militar dessas civilizações teve de desenvolver ordenações e estruturas mais elaboradas. E é justamente na constituição das estratégias da Antiguidade, nos grandes exércitos, que os conceitos de gestão passaram a ser cada vez mais necessários. Imagine a dificuldade de organizar um exército com milhares de soldados, alimentando-os e deslocando-os por centenas e milhares de quilômetros. É possível empreender tal feito sem formas adequadas de planejamento, organização, comando, coordenação e controle? A ordem e a estrutura requeridas fizeram surgir a necessidade de um comando sólido, e o general passou então a ser “peça chave” para uma organização eficaz do corpo 11 militar. Nesse sentido, como sugerem Vizeu e Gonçalves (2010), o general nada mais era do que o administrador do exército. Seja em sociedades tribais ou nas civilizações da Antiguidade, em que se destacam as atividades militares, seja nas sociedades atuais e mesmo em atividades comuns de nosso dia a dia, o planejamento, a organização, a direção e o controle estão presentes. Na Administração, tais conceitos foram apresentados pela primeira vez de forma sistemática por Henri Fayol, um teórico francês considerado pioneiro da Teoria Clássica da Administração. Para ele, a Administração é um processo dinâmico que compreende cinco funções interligadas: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar, que vieram a ser conhecidas como POCCC. Mais tarde, as funções comandar e coordenar foram consideradas partes de um mesmo processo, denominado de direção. Como um todo, os processos passaram a ser conhecidos como PODC. Para os administradores alcançarem os objetivos definidos pela organização, é preciso executar cada uma dessas funções, que são inter-relacionadas. Figura 2 – Funções da administração Considerando a importância dos quatro processos do PODC, a Administração pode ser definida como um conjunto de atividades integradas que visa a realização desses quatro processos. Para Chiavenato (2003), na busca de alcançar os objetivos globais de maneira eficiente e eficaz, a Administração é todo o processo de planejamento, organização, direção e controle das ações organizacionais. Os autores das teorias administrativas, em especial Fayol, empregaram o termo função para definir os fundamentos essenciais do trabalho administrativo. Trata-se de atividades associadas aos processos de planejamento, organização, Planejamento Organização ComandoControle Coordenação Direção 12 direção e controle. Dito de outra forma, as funções administrativas são adotadas para relacionar a atuação do administrador ao seu contexto de trabalho, ou seja, para mostrar o resultado do trabalho administrativo para a unidade organizacional. TEMA 4 – FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR/GESTOR No item anterior, nós estudamos o significado da palavra administração. Como observamos, sua função é realizar o PODC (planejar, organizar, dirigir e controlar), que é um processo administrativo. A partir de agora, nosso objetivo é estudar e entender as funções do gestor, e suas especificidades dentro dos conceitos PODC, que serão examinados isoladamente. 4.1 Planejamento Lewis Carroll, autor do célebre romance infantil de Alice no País das Maravilhas, já dizia que “para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Pois bem, para que os objetivos organizacionais sejam atingidos, em primeiro lugar é importante fazer um bom planejamento. O planejamento, como função administrativa, vem antes das outras (organização, direção e controle). Na realidade, é difícil separar e sequenciar as funções administrativas, mas pode-se considerar que, de maneira geral, o planejamento aparece na ponta do processo. Afinal, planejar faz parte de qualquer processo, e seu objetivo é estabelecer um caminho que será seguido durante a execução de um projeto. Tomemos como exemplo um planejamento familiar para ter filhos. O primeiro ponto é quantificar o objetivo, definir com clareza quantos filhos, quando e como; em seguida, há de se considerar as etapas: gravidez, acompanhamento da gestação, nascimento, cuidado e educação. É preciso ainda considerar a situação econômica e a capacidade do casal para gerir uma família. Assim, o planejamento é a ideia de futuro, e envolve a capacidade de estimar tendências e acontecimentos prováveis, prescrevendo situações futuras desejadas, e também o que deve ser feito para concretizá-las, de modo a antecipar os efeitos e as consequências para a organização. Então, ao pensarmos em uma organização, podemos dizer que ela precisa de um planejamento para direcionar e impulsionar o desenvolvimento, a competitividade, com vistas a garantir prosperidade de forma sustentável e 13 contínua. Trata-se da definição de objetivos e metas, e das ações pretendidas para sua realização, antecipando tendências e acontecimentos prováveis, de forma a estimar consequências e efeitos para a organização, para que seja possível um controle futuro. Segundo Fayol, a função da administração nesse momento é a de prever; ela traça um programa de ação ao visualizar o futuro (Chiavenato, 2014). Para o sucesso do planejamento empresarial, o gestor precisa saber onde a empresa quer chegar, e assim traçar objetivos, pois cabe a ele escolher o caminho a ser seguido pelos colaboradores e pelas partes envolvidas. A ausência de planejamento pode levar a grandes inconvenientes. Vejam, por exemplo, o caso mais amargo de nossa memória, a Copa do Mundo que aconteceu no Brasil em 2014, quando estádios, aeroportos, estradas e hotéis ainda estavam em fase de construção nas vésperas da Copa, quase inviabilizando sua realização. Outro exemplo recente é a falta de água em São Paulo, que se tornou aguda no fim de 2014. Como explicar que a maior cidade do Brasil, país que detém a segunda maior reserva de água doce do mundo, passe por um período de racionamento, em um dos maiores sistemas de captação e tratamento, que é o sistema Cantareira, da cidade de São Paulo? A ausência de planejamento, somada à falta de uma política de investimentos para aumento da captação – e, por fim, a diminuição das chuvas –, levaram ao racionamento de água. Portanto, é preciso entender que, com um planejamento adequado, qualquer organização pode maximizar seus resultados e minimizar suas deficiências. Com base nesses aspectos, o planejamento procura proporcionar eficiência e eficácia. 4.2 Organização Diferentemente do conceito de planejamento, quando falamos de organização podemos nos confundir quanto à especificidade. Primeiro, porque é muito comum que as pessoas confundam organização e planejamento. É claro que existe proximidade entre ambos os conceitos, afinal, eles fazem parte de um mesmo sistema; entretanto, organização se difere de planejamento em certos pontos fundamentais. É pela organização que a estrutura da empresa é definida: são distribuídas tarefas e recursos e define-se a autoridade dos membros de forma 14 a alcançar os objetivos. Nesse sentido, as estruturas permitem que os resultados e metas organizacionais sejam atingidos com eficiência. Por estrutura organizacional, podemos entender “a distribuição, em várias linhas, de pessoas entre posições sociais que influenciam os relacionamentos entre os papéis dessas pessoas” (Blau, 1974, p. 12, citado por Hall, 2004, p. 47). Para Chiavenato (2014), a estrutura organizacional estabelece uma cadeia de comando, que são as posições da organização interligadas por uma linha de autoridade, que por fim define a subordinação. É dentro dessa função que fica estabelecido o organograma da empresa: trata-se de uma representação gráfica que é utilizada para representar a estrutura e evidenciar seus níveis hierárquicos. Outra confusão que se faz a respeito da organização deriva do fato da palavra representar tanto o processo administrativo (a ação) quanto a coisa que se administra — o objeto, conforme já estudamos no início desta aula. A ausência de organização gera impactos para a estrutura das empresas. Um exemplo clássico, no Brasil, é a gestão do serviço público. É notória a ausência de políticas de gestão de pessoas, com colaboradores desmotivados, sucateamento de maquinários e equipamentos, precariedade dos prédios públicos, ausência absoluta de mecanismos de controle de estoques e desempenho de veículos, dentre outros problemas. 4.3 Direção Dentro do processo administrativo, o próximo conceito é o de direção. Tendo sido feito um planejamento de onde se pretende chegar, agora é preciso que as ações estipuladas aconteçam da forma esperada. Para tanto, é preciso mobilizar os esforços das pessoas, e esta é a essência da direção. Assim, dos três conceitos de PODC até agora apresentados, o mais prático, baseado na ação, é o de direção. A direção é a função relacionada com a tomada de decisões e a responsável por fazer com que as ações realizadas fiquem alinhadas com o planejamento. Por esse motivo, a comunicação e outras habilidades interpessoais que melhoram as relações entre o subordinado e o líder são tão importantes. Ou seja, a direção refere-se à figura que dará o norte para a organização agir. Podemos dizer que direção é sinônimo de execução, pois converte o planejamento e a organização em resultados. Alguns autores também costumam dizer que a essência da direção é a liderança. Na verdade, a grande habilidade de bons líderes é justamente a capacidade de motivar as 15 pessoas em relação aos objetivos esperados. Seja em uma organização formal ou mesmo em uma situação comum do dia a dia, os verdadeiros líderes dão o rumo para seus liderados. A direção tem princípios definidos, sendo eles: unidade de comando, onde cada subordinado tem seu superior; delegação, que são tarefas e responsabilidades designadas; amplitude de controle, que limita a quantidade de membros supervisionados por cada líder; e coordenação ou relações humanas, que trata dos esforços individuais para o alcance de um objetivo (Chiavenato, 2014). A ausência de direção é costumeiramente percebida em empresas familiares,quando inexiste o papel de direção (seja por afastamento, falecimento etc.). Observa-se que, sem a figura orientadora do dirigente, os demais membros se perdem na condução da empresa, o que pode levá-la à falência. Por fim, vamos refletir: como você sente quando seu chefe não está presente na empresa? Liberdade, leveza? Acredito que a ideia de liberdade passou por sua imaginação, tendo em vista que, quando não há alguém para observar e orientar os nossos passos, tendemos a nos sentir mais livres e soltos – o que pode nos levar, muitas vezes, a nos perdermos em nossas atividades rotineiras. Afinal, se não há cobrança, não há resultados imediatos, não é mesmo? 4.4 Controle Após todas as demais funções da administração serem realizadas, é necessário verificar as ações e entender se os rumos da organização estão de acordo com o planejamento. Trata-se de uma checagem das ações tomadas para comparar com os objetivos e conferir se as metas estipuladas serão atingidas, de forma que essas ações possam ser corrigidas ou melhoradas. Ou seja, após a execução (direção), é preciso analisar os resultados obtidos, de modo a observar se o planejamento, organização e direção foram devidamente executados. Caso necessário, é o momento de readequar o rumo da organização, iniciando novamente o PODC. O controle é um esforço para comparar o padrão, os planos e metas com o desempenho, para determinar se ele está de acordo. Caso não esteja, é o momento de tomar a ação corretiva necessária para a garantia dos recursos, de modo que sejam utilizados com eficácia e eficiência. Vamos para um exemplo 16 cotidiano de controle nas organizações: a verificação diária da quantidade de itens produzidos, por funcionário, em uma linha produtiva. Toda semana. o supervisor precisa verificar os níveis de produção; com esses dados em mãos, poderá decidir por manter o ritmo de trabalho, se as metas foram cumpridas, ou realizar ações corretivas, no caso de a produção estar aquém do necessário. A ausência de controle, nesse exemplo, levaria a perdas financeiras altíssimas, pois é possível que a empresa esteja produzindo mais do que a quantidade necessária para vender, o que gera acúmulo de estoques, que por sua vez força futuras queimas de estoque, que poderiam levar a prejuízos financeiros ainda maiores. Assim, finalizamos a apresentação dos conceitos planejar, organizar, dirigir e controlar. É importante ressaltar que os temas aqui apresentados referem-se às funções do gestor. E você, como gestor, pratica essas funções com sua equipe? Agora que você já sabe a diferença e a importância desses conceitos, é só colocar em prática na sua avida. Pense nisso! TEMA 5 – HABILIDADES DO ADMINISTRADOR/GESTOR Chegamos ao último tema da nossa aula. Já observamos que a vida acontece através das organizações, sejam elas lucrativas ou não. Nascemos, vivemos e convivemos em organizações. É importante destacar que as empresas, e também as organizações, precisam de gestores. E o desempenho de gestor depende não somente de sua formação técnica (curso de tecnólogo que você está fazendo), mas também de certas habilidades. Segundo Maximiano (2008, p. 148), “as habilidades são competências que determinam o grau de sucesso do gerente no cargo e na organização”. Vários estudiosos abordaram o tema da habilidade gerencial, dentre eles destacam-se Katz e Mintzberg, que estudaremos na sequência. Para o renomado pesquisador Robert L. Katz, que se aprofundou nas teorias de Fayol, as habilidades gerenciais podem ser divididas em três categorias, conforme nos mostra Maximiano (2008). São elas: 1. A habilidade técnica refere-se ao conhecimento específico que o gestor deve ter em relação à função que desempenha; são conhecimentos, métodos e equipamentos necessários para a realização da tarefa, que estão dentro da especialidade técnica. Por exemplo, um diretor comercial 17 necessita conhecer bem o produto, o preço de venda, canais de distribuição, clientes, mercados e técnicas de venda. 2. A habilidade humana envolve o lado humano, significa compreender as pessoas, suas necessidades, interesses e atitudes. É a capacidade de entender, liderar e trabalhar com pessoas. Por exemplo, o mesmo diretor comercial, que deveria ter habilidades técnicas, deve também se preocupar em conhecer sua equipe, ouvir suas necessidades e tentar encontrar a melhor maneira de motivá-los; esta habilidade se relaciona à parte humana. 3. A habilidade conceitual envolve a capacidade de relacionar, compreender e lidar com a complexidade de dados da organização, e de usar o intelecto para formular estratégias; envolve criatividade, planejamento, raciocínio abstrato e entendimento do contexto. Por exemplo, o diretor comercial deverá saber utilizar as informações da empresa para planejar o aumento das suas vendas. Katz analisa que essas três habilidades são fundamentais. Entretanto, segundo ele, quanto mais próximo da gestão de primeira linha o gestor estiver, mais ele precisará de habilidades técnicas. Ao mesmo tempo, a habilidade humana é mais demandada pelos gestores de nível intermediário. E as habilidades conceituais são demandas pelo gestor superior. Em suma, quanto mais elevado o gestor estiver na hierarquia, mais distante das habilidades técnicas, e vice-versa, conforme a figura a seguir. Figura 3 – Três tipos de habilidades gerenciais Administração superior Habilidades conceituais Gerencia intermediária Habilidades humanas Supervisão de primeira linha Habilidades técnicas Fonte: Maximiano, 2008, p. 149 18 É importante também estudarmos a abordagem das habilidades gerenciais pesquisadas por H. Mintzberg. Segundo ele, a formação do gerente passa pelo desenvolvimento de habilidades, e precisa ir além da transmissão de conhecimentos, de modo a oferecer oportunidades para os outros crescerem. Mintzberg associa as habilidades do gestor com papeis gerenciais que ele mesmo criou (Maximiano, 2008). As habilidades propostas por Mintzberg são oito: 1. Habilidades de relacionamento com colegas. Nesta categoria está toda a capacidade de estabelecer e manter relações formais e informais com os colegas, especialmente do mesmo nível hierárquico, para atender a seus próprios objetivos ou servir a interesses recíprocos. 2. Habilidades de liderança. Essas habilidades são necessárias para a realização das tarefas que envolvem a equipe de subordinados do gerente: orientação, treinamento, motivação e uso da autoridade. De acordo com Mintzberg, as habilidades desta categoria estão associadas intimamente com a personalidade do gerente. 3. Habilidade de resolução de conflitos. Incluem-se nessa categoria a habilidade interpessoal de arbitrar conflitos entre pessoas e a habilidade de tomar decisões para resolver distúrbios. A utilização destas habilidades produz tensão. Portanto, essa habilidade exige outra: a tolerância a tensões. 4. Habilidades de processamento de informações. Para Mintzberg, os estudantes e praticantes da administração devem aprender a construir redes informais e desenvolver habilidades de comunicação, como expressar suas ideias de modo eficaz e falar oficialmente como representante de uma organização empresarial. 5. Habilidades de tomar decisões em condições de ambiguidade. Em sua maior parte, as situações que um gerente enfrenta não são estruturadas. São imprevistas, e por isso precisam ser diagnosticadas e exigem do gerente a capacidade de decidir, em primeiro lugar, se é preciso decidir. Além disso, o gerente não lida com uma decisãode cada vez. Frequentemente, o gerente enfrenta inúmeros problemas e precisa tomar muitas decisões em curtos períodos de tempo. Ambiguidade é o que acontece quando o gerente tem poucas informações para lidar com essas 19 situações. Para Mintzberg, a ambiguidade é inerente a muitas decisões gerenciais. 6. Habilidade de alocações de recursos. Os gerentes lidam com recursos limitados que devem ser usados para atender a necessidades que concorrem entre si. Eles devem decidir a quais atividades se dedicar, ou quais funcionários alocar em determinados projetos. Assim, a habilidade de alocação de recursos fornece ao gerente os critérios para a definição de prioridades a fim de que as escolhas sejam as melhores. 7. Habilidades empresariais. Segundo Mintzberg, estas habilidades envolvem a busca por problemas e oportunidades e a implementação controlada de mudanças organizacionais. Embora as escolas de administração dediquem pouca atenção a esse assunto, é possível criar o clima para encorajar o espírito empresarial. 8. Habilidades de introspecção. Habilidades de introspecção, para Mintzberg, relacionam-se com a capacidade de reflexão e autoanálise. O gerente deve ser capaz de entender seu cargo e seu impacto sobre a organização. Para Mintzberg, a capacidade de aprender com a própria experiência está acima de qualquer outra técnica de aprendizagem. Como pudemos estudar, são várias as habilidades necessárias para desempenhar uma boa gestão. Se permita alguns minutos, e reflita sobre quais são as suas principais habilidades, ou quais delas são seus pontos fortes. E, por outro lado, considere em que situações você se adapta menos, ou quais seriam seus pontos fracos. TROCANDO IDEIAS Leia o texto e a entrevista a seguir disponíveis no link. Depois, acesse o fórum, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem, e comente a respeito do que mais despertou a sua atenção! GUEDES, R. Administrador: habilidades e características. 2006. Disponível em: <https://goo.gl/PmHc2S>. Acesso em: 11 dez. 2017. RODRIGUES, R. Quem foi Peter Drucker? 2017. Entrevista Disponível em: <https://goo.gl/5y2AGp>. Acesso em: 11 dez. 2017. 20 NA PRÁTICA Busque um projeto, uma atividade ou algo que necessite de planejamento, organização, direção e controle. Aponte cada processo (PODC). FINALIZANDO O que achou dos conceitos apreendidos nesta rota? Como vimos, intuitiva ou empiricamente as práticas relacionadas à administração sempre estiveram presentes na história da humanidade. E, na prática administrativa, é importante que você entenda que planejar significa prever ações futuras, organizar é estruturar a rotina organizacional, dirigir é sinônimo de mobilizar pessoas (seja liderando, motivando ou coordenando) e por fim controlar é um acompanhamento contínuo do processo, com vistas a mantê-lo sempre no rumo organizacional. Você aprendeu que também chamamos de organização a empresa, a repartição pública, a igreja, a fábrica, a loja, a padaria, ou seja, qualquer sistema social e produtivo que se pretende organizar. E que, dessa forma, existem organizações que foram criadas para atingir a objetivos específicos; para atingir tais objetivos, elas são formalmente organizadas, através de padrões de inter- relações entre órgãos e cargos, definidos por meio de diretrizes, normas e regulamentos. Por fim, você aprendeu as funções e as habilidades do gestor, e como elas são importantes para seu desenvolvimento profissional, bem como para o desenvolvimento da empresa. Espero que tenha gostado de nossas aulas até aqui. Parabéns pela dedicação e agora é hora de avançarmos nos conceitos. 21 REFERÊNCIAS ADMINISTRAÇÃO. In: Dicionário Michaelis. Editora Melhoramentos. Disponível em: <https://goo.gl/ux2v2Z>. Acesso em: 11 dez. 2017. BLAU, P.; SCOTT, W. R. Organizações Formais: uma abordagem comparativa. São Paulo: Atlas, 1970. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. DAFT, R. L. Organizações Teorias e Projetos. São Paulo: Cengage Learning, 2008. HALL, R. H. Organizações: Estruturas, Processos e Resultados. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. MARINHO, A; FAÇANHA, L. O. de F. Programas sociais: efetividade, eficiência e eficácia como dimensões operacionais da avaliação. Rio de Janeiro: Ipea, 2001. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2008. MEGGINSON, L. C.; MOSLEY, D. C; PIETRI JÚNIOR, P. H. Administração: conceitos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Harbra,1998. MOTTA, F. C. P.; PEREIRA, L. C. B. Introdução à organização burocrática. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1980. VIZEU, F.; GONÇALVES, S. A. Pensamento estratégico: origens, princípios e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2010. FUNDAMENTOS DE GESTÃO AULA 2 Profª Aline Mara Gumz Eberspacher 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula viajaremos no tempo e apreenderemos mais a respeito de algumas teorias administrativas. A primeira parada dessa viagem é no começo do século XX, com foco nas grandes transformações que ocorreram na época. No primeiro tema da nossa aula, aprenderemos sobre a Administração Científica e seu principal pensador, Frederick Taylor. Estudaremos também as ideias do empresário Henry Ford, criador na marca de automóveis Ford, além de desenvolvedor da linha de produção, que visa a otimização de tempo. Na sequência, estudaremos as ideias de Henri Fayol, autor que, na mesma época de Taylor, preocupou-se com a estrutura da empresa. Ele é considerado pioneiro por apresentar as funções do administrador e a divisão estrutural da empresa. Em um terceiro momento, conheceremos a Teoria da Burocracia, baseada nas ideias do sociólogo, jurista e economista alemão Max Weber. E, para finalizar, vamos nos dedicar ao estudo do modelo japonês de administração e um pouco à história da empresa Toyota, que a grande referência nesse modelo de gestão. Além disso, estudaremos as escolas de qualidade com base nos principais pensadores da qualidade total. Venha aprender sobre as principais teorias administrativas que transformaram o modo de administrar uma empresa e que continuam influenciando os grandes gestores atualmente! Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Pense no seu cotidiano, no seu modo de agir. Analise seu local de trabalho, faça uma análise sobre suas atividades diárias. Depois, liste cinco delas e como você as desempenha. Verifique como e onde estão localizados os materiais que você utiliza para realizá-las. Quanto tempo você leva de deslocamento? Esses materiais estão próximos de você? Como você os utiliza? Depois, anote quanto tempo você necessita para realizar cada atividade. Após essas anotações, repense seu contexto. Será que, se você organizar o seu local de modo diferente, você vai produzir mais e com melhor qualidade? TEMA 1 – TAYLOR E FORD Você já pensou que nem sempre os homens produziram grandes quantidades de produtos por meio do processo de produção em série? Já parou para se perguntar quais foram os administradores, empresários ou pensadores 3 que impulsionaram o surgimento da produção em alta escala? Então, venha viajar no tempo e conhecer a história dos princípios administrativos por meio das principais ideias do administrador Frederick Taylor e do empresário Henry Ford. 1.1 Quem foi Taylor O americano Frederick Winslow Taylor nasceu em 1856, na Pensilvânia, e faleceu em 1915.Filho de uma família abastada, e apesar de ter sido aprovado no curso de Direito de Harvard, optou por tornar-se um trabalhador manual. Ele aprendeu o ofício de torneiro em um fábrica de bombas hidráulicas entre 1874 e 1878. Durante o período em que trabalhou nessa fábrica, observou o desempenho dos colaboradores e o “corpo-mole” que faziam durante o processo produtivo. A análise de Taylor incluía a relação entre os gerentes e os funcionários. Em muitos momentos, a má relação entre eles prejudicava a produtividade. Em 1878, Taylor começou a trabalhar na usina siderúrgica Midvale. Iniciou sua carreira como trabalhador e terminou como engenheiro-chefe. Lá permaneceu durante 12 anos (1878-1890). Enquanto trabalhava nessa empresa, Taylor observou problemas no processo produtivo, que deram início às pesquisas. Entre eles (Maximiano, 2011): não havia uma noção clara da divisão de trabalho por parte da administração e do trabalhador; não havia incentivos para o trabalhador melhorar o desempenho; muitos trabalhadores não cumpriam suas funções; os administradores decidiam apoiados em intuições e em palpites; não havia integração entre departamentos; os trabalhadores realizavam tarefas nas quais não tinham aptidão; havia conflitos entre supervisores e operários sobre a quantidade de produção. Essas observações de Taylor sobre desempenho dos funcionários, remuneração e falhas administrativas permitiram o início do Movimento da Administração Científica, o qual teve início na Sociedade Americana dos Engenheiros Mecânicos (Asme), fundada em 1880, da qual Taylor era sócio e, mais tarde, foi presidente. 4 A Administração Científica é marcada por três fases. Na primeira, a preocupação de Taylor era referente ao salário pago aos trabalhadores. Na época, o pagamento era realizado por dia ou por peça produzida. Nos dois casos, isso desmotivava o trabalhador. Se a remuneração fosse por dia, não era considerada a quantidade produzida; e se fosse por peça, haveria redução no valor caso aumentasse a produção. Assim, não era vantajoso produzir mais. Em 1895, Taylor apresentou uma proposta de remuneração de piece rate system (sistema de pagamento por peça). A ideia era estudar o tempo de produção de uma peça, para conhecer o tempo exato. Ele chamou esse processo de estudo sistemático e científico do tempo, que consistia em dividir as tarefas, cronometrar e registrar. Com base nessas pontuações, foi possível definir o tempo padrão de produção de elementos básicos. Esse procedimento foi chamado de sistema de administração de tarefas. A Administração Científica surge com o estudo dos tempos, ou seja, trata- se de cronometrar todas as funções para a realização de determinada atividade – quanto tempo leva e o quanto custa para a empresa. Por meio desse estudo, é possível determinar o tempo médio de produção. Na segunda fase da pesquisa, as experiências profissionais de Taylor permitiram realizar observações sobre o comportamento humano e o rendimento da produtividade dos trabalhadores, bem como a necessidade de aprimoramento na seleção dos funcionários. Algumas constatações de Taylor: o trabalhador deve ser remunerado conforme a produtividade; para aumentá-la, é necessário um estudo do tempo de produção do trabalhador, de modo a ter controle sobre a produtividade; é necessário realizar uma seleção científica dos funcionários, ou seja, o trabalhador deve ser preparado para a tarefa em questão; é necessário treinar cientificamente os funcionários para que todos realizem as atividades de um modo padrão; a produtividade na empresa aumenta se o ambiente entre os funcionários e os gerentes for de cordialidade. Na terceira fase, em 1911, Taylor lança o livro Princípios da Administração Científica (Taylor, 1990), no qual apresenta as técnicas da Administração Científica, que são: 5 estudo de tempos e movimentos. padronização de ferramentas e instrumentos; padronização de movimentos; conveniência de uma área de planejamento. cartões de instrução; sistema de pagamento de acordo com o desempenho; cálculo de custos. Em suas pesquisas sobre a Administração Científica, Taylor defende que é importante separar a administração do processo de fabricação. O planejamento é de responsabilidade da administração e a execução é de responsabilidade da fábrica (Maximiano, 2011). Taylor salienta que, para a maioria das pessoas, os interesses dos empregadores e empregados são antagônicos. Entretanto, para a Administração Científica, os interesses de ambos são os mesmos, e têm a mesma direção. A prosperidade do empregador não pode existir a longo prazo se não for acompanhada pela prosperidade do empregado. Para Taylor, a Administração Científica consiste em 4 princípios básicos: planejar, preparar, controlar e executar (Chiavenato, 2004, p. 64): Princípio do planejamento: substituir a improvisação pela ciência por meio do planejamento do método. Princípio do preparo: selecionar e preparar os trabalhadores de acordo com suas aptidões para produzir mais e melhor. Princípio do controle: controlar o trabalho para certificar-se de sua execução de acordo com as normas estabelecidas e de acordo com o plano previsto. Princípio da execução: distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades para que a execução do trabalho seja mais disciplinada. Taylor é considerado o pai da Administração Científica. Seu trabalho e suas contribuições foram direcionados para o processo produtivo. Os estudos realizados por ele têm ênfase nas tarefas (processo produtivo). 1.2 Henry Ford e o processo de produção Agora, vamos estudar a história e as ideias de Henry Ford, empresário que deixou uma grande contribuição à prática da produção em série. Henry Ford foi o fundador da marca de carros Ford e criador da linha de montagem. Que tal entendermos o contexto em que isso ocorreu? Vamos novamente viajar no tempo e conhecer um pouco dessa história. 6 O americano Henry Ford (1863-1947) nasceu no estado de Michigan e iniciou sua vida profissional como mecânico; posteriormente, tornou-se empresário. Projetou um modelo de carro e, em 1899, fundou sua primeira fábrica de automóveis, que logo depois foi fechada. Em 1903, fundou a Ford Motor Company. Entre 1905 e 1910 promoveu grande inovação por ter idealizado as linhas de montagem. Ficou conhecido como o inventor do carro popular. No início do século XX, os carros já não eram novidade, mas eram acessíveis apenas às pessoas com maior poder aquisitivo, pois eram caros e fabricados artesanalmente. Quando Ford adotou a primeira linha de montagem, os funcionários não precisavam de tanta qualificação. Ao lado da esteira rolante, cada um adicionava uma peça ao corpo do carro. O barateamento foi brutal, e o modelo T, que originalmente era vendido a 800 dólares, teve o preço reduzido para 290. Ford aumentou o salário dos trabalhadores para 5 dólares ao dia. Isso também estimulou o consumo e as vendas de automóveis. Além de seu nome estar ligado à criação da linha de montagem, Henry Ford foi quem mais elevou os dois princípios da produção em massa: fabricação de peças padronizadas e trabalho especializado (Maximiano, 2005). A linha de montagem adotada por ele objetivava agilizar o trabalho para possibilitar o aumento da produção. A racionalização da produção culminou na linha de montagem, permitindo a produção em massa, com as seguintes características de padronização: maquinário, material, mão de obra e design de produto. Isso tudo gera um custo mínimo (Chiavenato, 2004). De acordo com Maximiano (2005),a produção em massa se baseia em peças e componentes padronizados e intercambiáveis e na especialização do trabalhador. Maximiano (2005) destaca que, para alcançar a padronização, Ford passou a utilizar o mesmo sistema de calibragem para todas as peças, em todo o processo de manufatura. Isso culminou no controle da qualidade. Ford também buscou simplificar o processo produtivo, com a diminuição do número de peças de seus produtos. Por exemplo, o bloco de seu motor era uma única peça fundida, enquanto o motor dos concorrentes era fabricado com várias peças separadas. Na produção em massa, cada etapa do processo produtivo é realizada por um trabalhador diferente. Cada pessoa e cada grupo tem uma tarefa fixa 7 dentro de uma etapa de um processo bem-definido. Assim, as qualificações do trabalhador resumem-se aos conhecimentos para a execução de uma tarefa. Sob uma perspectiva crítica, podemos considerar que se trata de um trabalho alienado, no qual o trabalhador não tem controle nem sobre processo produtivo nem sobre os resultados. Para acelerar a produção, Ford adotou três princípios (Chiavenato, 2004): 1. Princípio da intensificação. Diminuir o tempo de duração com a utilização imediata dos equipamentos e matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado. 2. Princípio da economicidade. Reduzir ao mínimo o volume do estoque de matéria-prima em transformação, para que o automóvel fosse pago à empresa antes de vencido o prazo de pagamento dos salários e da matéria-prima adquirida. 3. Princípio da produtividade. Aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período, por meio da especialização e da linha de montagem. Atualmente, as linhas de montagem carregam todos os tipos de produtos, em diferentes níveis e estágios. Engenheiros de produção e outros profissionais da área estudam e analisam formas de tornar a produção mais eficiente. Nos dias atuais, temos robôs computadores, cronômetros e sistemas de vídeo; contudo, na essência, os princípios da linha de montagem concebidos por Ford continuam vivos. O que você acha disso? TEMA 2 – FAYOL E O PROCESSO ADMINISTRATIVO Você percebeu que até então estudamos somente o processo produtivo? A preocupação na época era referente ao que nós chamamos de chão de fábrica, quanto ao modo de produção. Contrapondo-se à concentração de conhecimentos na linha de produção, Henri Fayol estuda e analisa a estrutura, a divisão e a função do administrador – até então não abordada – na empresa. 2.1 Quem foi Henry Fayol? O francês e engenheiro de minas Henry Fayol (1841-1925) iniciou sua carreira profissional em 1860, em uma empresa metalúrgica e produtora de 8 carvão. Aposentou-se em 1918, na mesma empresa na qual ingressou em 1888 (Scatena, 2012). Fayol foi contemporâneo de Taylor, contudo, diferentemente deste, que trabalhou nos níveis operacionais da fábrica, Fayol começou na cúpula administrativa, buscando definir as funções administrativas, pois era a habilidade mais requerida pela direção de uma organização (Kwasnicka, 2009). Seu trabalho foi considerado uma das maiores contribuições para o campo da gerência e da administração. Em 1908, publicou Os princípios da administração, no qual mostra as possibilidades de formar administradores e criar o ensino formal de Administração. Além disso, tratou de forma mais clara os cinco elementos primários da Administração: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar (POCCC). Afinal, para Fayol, a administração é uma atividade comum a qualquer empreendimento humano: exige planejamento, organização, direção, coordenação e controle. Para ele, todos deveriam estudá-la, o que exigiria uma teoria geral da Administração. Para cumprir esse objetivo, Fayol criou e divulgou sua própria teoria e dividiu a empresa em seis atividades ou funções. São elas: 1. Função técnica: produção e manufatura. 2. Função comercial: compra, venda, troca. 3. Função financeira: procura e utilização de capital. 4. Função segurança: proteção da propriedade e das pessoas. 5. Função contabilidade: registro de estoques, balanços, custos, estatísticas. 6. Função administração: planejamento, organização, direção, coordenação e controle. Fayol fortalece o papel do gerente e de sua capacidade de tomar decisões, estabelecer metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades aos integrantes da organização, a fim de que as atividades de previsão, organização, comando, coordenação e controle tenham uma sequência apropriada. Por fim, complementa sua teoria com a proposição de 14 princípios para uma administração eficaz, que são diretrizes para orientar a ação dos administradores. Os princípios estabelecidos por Fayol, segundo Kwasnicka (2009), são: 9 1. Divisão do trabalho: trata-se dos princípios de especialização do trabalho, para concentrar atividades e obter maior eficiência. 2. Autoridade e responsabilidade: é o direito de dar ordens e o poder de obediência. 3. Disciplina: qualidade absolutamente essencial para o progresso da empresa. 4. Unidade de comando: um empregado deve receber ordens de somente um superior. 5. Unidade de direção: é preciso que haja uma só cabeça e um plano para um grupo de atividades com os mesmos objetivos. 6. Subordinação do interesse individual para o interesse geral: o interesse de um empregado não deve prevalecer sobre o da organização. 7. Remuneração de pessoal: requer-se compensação justa e, na medida do possível, satisfatória ao indivíduo e à empresa. 8. Centralização: medida essencial para a empresa e uma consequência natural do processo de organizar. 9. Rede escalar: a rede escalar é a cadeia de superiores que vai da mais alta administração até o mais baixo degrau. 10. Ordem: a organização deveria providenciar um lugar para cada indivíduo. 11. Equidade: refere-se ao senso de justiça que deve prevalecer na organização. 12. Estabilidade: é necessário tempo para o empregado adaptar-se ao trabalho e desempenhá-lo de maneira eficiente. 13. Iniciativa: em todos os níveis organizacionais, entusiasmo e energia são parte da iniciativa. 14. Espírito de equipe: esse princípio enfatiza a necessidade de trabalho em grupo e a manutenção de bons relacionamentos interpessoais. Observamos que as teorias de Fayol são diferentes das de Taylor e Ford. Contudo, podemos afirmar que elas são complementares. TEMA 3 – ESCOLA BUROCRÁTICA Você com certeza já vivenciou “momentos burocráticos” e ficou pensando “quem inventou essa tal de burocracia?”. Entretanto, veremos neste tema que 10 ela não apresenta somente características negativas. Ao contrário, trata-se de um modo de gerir uma empresa ou uma sociedade. Por meio de princípios burocráticos, podemos estabelecer critérios e elementos para melhor coordenarmos e controlarmos determinados eventos. Mas qual é a origem da burocracia? Onde começou? Quem pensou esse modo de organização social? 3.1 Weber e a teoria da burocracia A burocracia é apresentada a nós através do sociólogo, jurista, historiador e economista alemão Karl Emil Maximilian Weber (1864-1920), conhecido como Max Weber. Até os dias atuais, buscam nele uma base para suas pesquisas. Ele nos mostra que os comportamentos e as ações individuais são guiados por normas coletivas aceitas e reconhecidas, ou seja, legitimadas pela sociedade. Com isso, existe uma convenção de regras sociais que orientam e dirigem o comportamento das pessoas. Para ele, as organizações formais são regidas por normas e leis racionalmente determinadas. A palavra-chave da burocracia é racionalidade. Nessemomento, vamos entender como e por que surgiu o pensamento weberiano burocrático. A partir da década de 1940, surgem algumas reflexões e questionamentos às teorias administrativas da época. A primeira crítica é em relação ao mecanicismo da Teoria Clássica (Taylor e Fayol); a segunda é em relação ao chamado romantismo da Escola de Relações Humanas (estudaremos esse assunto na Aula 3). Essas críticas mostraram que faltava aos administradores uma orientação que permitisse outras visões sobre a forma de gestão. As organizações estavam em voga na época, e o tema gestão chamava atenção dos pesquisadores. Em um primeiro momento, Weber faz uma análise e distingue a sociedade em três tipos (Chiavenato, 2014, p. 258): 1. Sociedade tradicional. Predominam as características das famílias patriarcais e patrimonialistas, como famílias, clãs e sociedade medieval. 2. Sociedade carismática. Predominam características místicas, baseadas em poder e carisma, como grupos revolucionários ou partidos políticos. 3. Sociedade legal, racional ou burocrática. Predominam normas impessoais e racionalidade na escolha dos meios: grandes empresas, estados modernos e exército. 11 Para cada tipo de sociedade, Weber identifica um tipo de autoridade. “Autoridade significa a probabilidade de que um comando ou ordem específica seja obedecido” (Chiavenato, 2014, p. 258). Ela representa o poder institucionalizado, o que significa dizer: quem tem poder o impõe, pois tem legitimidade, e por isso é aceito e reconhecido. Weber então apresenta três tipos de autoridades, conforme o tipo de sociedade: 1. Autoridade tradicional. Prevalece nas sociedades mais tradicionais. Aceita-se o poder porque “sempre foi feito assim”. Está muito presente em organizações como famílias, clãs ou empresas familiares. O poder tradicional não é racional, ele pode ser transmitido por herança e é extremamente conservador. 2. Autoridade carismática. O termo carisma, no sentido religioso, significa o dom gratuito de Deus, estado da graça. Os subordinados aceitam o poder do superior por causa do carisma, da capacidade de influenciar e de liderar, sobretudo por sentirem-se identificados. Podemos citar como exemplo de líderes carismáticos os políticos Adolf Hitler e John F. Kennedy. É importante destacar que o poder carismático não tem base racional, é instável e facilmente adquire características revolucionárias. 3. Autoridade legal, racional ou burocrática. A autoridade é legitimada. Os subordinados aceitam as ordens porque concordam com os preceitos e normas que consideram legítimos. É uma autoridade racional, técnica, meritocrática e administrativa. A autoridade é formal com base nas normas e leis e a obediência acontece por meio de um conjunto de regras previamente estabelecido. As normas são legais e racionalmente definidas. A burocracia sustenta e dá aparato à dominação legal por intermédio das normas, leis e métodos dos critérios de seleção. A burocracia é o modo de organização típico da sociedade moderna democrática, e aparece em grandes empresas e organizações não estatais. Essa relação permite a identificação da autoridade legal. 3.2 Características da burocracia Depois de entendermos os tipos de sociedade e liderança, vamos então entender o que é burocracia e quais são suas características. De acordo com Chiavenato (2014, p. 258), “a burocracia é uma forma de organização humana 12 que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendido [sic], a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance destes objetivos”. A formalidade, a impessoalidade e o profissionalismo são pilares que alicerçam a burocracia. Podemos dizer que ela acontece no cotidiano e que estamos rotineiramente envolvidos no processo. É importante lembrar que a base dela é a racionalidade. Uma organização em que prevalece a burocracia tem as seguintes características: as normas são legalizadas; de modo geral, a comunicação é formal, escrita e impessoal; os trabalhos são divididos conforme as competências, de modo que cada um saiba qual é sua função; os relacionamentos são impessoais, o que significa dizer que podemos trabalhar com alguém sem nem ao mesmo saber o seu nome; a hierarquia é atributo das organizações burocráticas, pois cada colaborador sabe qual é seu papel e quem é seu superior direto; a forma de trabalho está definida por meio de rotinas e de procedimentos estabelecidos e documentados, os quais direcionam o modo de agir dentro da organização. o crescimento e o reconhecimento profissional acontecem por meio da competência técnica e da meritocracia, o que significa dizer que, em uma organização burocrática, a pessoa não pode “ganhar um cargo” ou “crescer” profissionalmente por ser “amigo do chefe”, mas sim por ser bom tecnicamente; a teoria da burocracia defende que a administração da empresa deve ser feita pelos administradores – preparados tecnicamente –, e não pelo “dono” da empresa – envolvido por sentimentos que impedem decisões baseadas na racionalidade. A burocracia exige profissionais capacitados, preparados tecnicamente para realizar cada função. Trata-se da profissionalização presente nas organizações. É interessante observar: quanto mais racional a sociedade, mais as relações são impessoais e mais prevalece as características da burocracia. As características apresentadas anteriormente proporcionam uma grande vantagem: a previsibilidade de como a organização funciona. A consequência da burocracia é a padronização de desempenhos e a previsibilidade de 13 comportamento. Como resultado, temos uma organização com a máxima eficiência. TEMA 4 – MODELO JAPONÊS DE ADMINISTRAÇÃO Depois de conhecer o modelo americano de gestão (Taylor e Ford), entender a estrutura organizacional por intermédio das teorias do francês Fayol, e perceber a importância da burocracia por meio de Weber, neste tema, vamos viajar para o oriente e estudar um pouco da cultura e do modo de vida japonês, que também influenciou o modelo de gestão de empresas. A administração japonesa poderia ser classificada como um modelo fortemente embasado na participação direta dos trabalhadores, em especial na participação da produtividade e da eficiência voltada à tarefa e na linha gerencial das relações e desenvolvimento humano, desenvolvida e implementada principalmente pelos americanos (Ferreira; Reis; Pereira, 1997). As peculiaridades da administração japonesa merecem uma discussão mais profunda, pois vão além de técnicas gerenciais, a exemplo de sua cultura. A cultura organizacional das empresas japonesas é uma das respostas para entender o sucesso do modelo japonês de administração; contudo, não é a única. Para avançarmos no entendimento desse modelo, é necessário compreender os elementos históricos que levaram à emergência do modelo de administração japonesa. Vamos lá! 4.1 O contexto japonês do pós-guerra e os limites da produtividade A história do processo de industrialização do Japão foi marcada pela busca por transferência de tecnologias das ações ocidentais mais avançadas, particularmente Estados Unidos e Alemanha, tanto antes do período da Primeira Guerra Mundial quanto após a Segunda Guerra. Contudo, destacamos que a simples “aplicação” ou “adaptação” de técnicas de gestão não seriam capazes de explicar a hegemonia japonesa. Há de se ressaltar ainda que as técnicas foram aplicadas em um ambiente cultural diferente do ocidental (Ferreira; Reis; Pereira, 1997). A cultura do Japão é, em grande parte, responsável pelo sucesso da administraçãojaponesa, baseada em valores e na disciplina do povo. Com o país destruído no pós-guerra, era preciso reerguer-se. Por isso, foi implantado 14 nos seus setores produtivos o conceito fundamental de evitar o desperdício e de buscar melhorias contínuas, aprimorando produtos por meio do “fazer bem feito e na primeira vez” (Scatena, 2012). O combate ao desperdício e o trabalho em grupo são elementos da cultura japonesa que ajudam a explicar sua hegemonia. Depois da guerra, a escassez de recursos acarretou enormes dificuldades, que só foram amenizadas com trabalho metódico e duro. O trabalho em equipe está enraizado no país desde seus tempos imemoriais. No sistema feudal japonês, havia a necessidade de associação para a manutenção de sua identidade e amor próprio. Da mesma forma, a cultura do arroz – que requer colaboração, e a estrutura arquitetônica específica das residências – proporcionava relacionamentos e também uma interdependência das pessoas na sociedade (Maximiano, 2006). O período pós-guerra caracterizou-se por uma crise generalizada, o que levou a um esforço de levantar o país por meio de três pilares: um partido político forte e consolidado no poder, a paz trabalhista e a unificação do povo. Segundo Ferreira, Reis e Pereira (1997), o governo comprometeu-se com a educação e a valorização cultural da instrução, a alta taxa de poupança interna, a ampla utilização de serviços públicos de consultoria para o desenvolvimento empresarial, a compra de tecnologia e a manutenção da essência dos valores culturais, apesar do processo de ocidentalização do estilo de vida, que aconteceu a partir da restauração do país. Forma-se assim um amplo contexto, no meio do qual se insere a administração japonesa. Além da análise das variáveis culturais, vale destacar a busca pela profissionalização da gestão japonesa. No ano de 1946, Deming, Juran e Crosby fundaram a JUSE (Sindicato de Cientistas e Engenheiros do Japão). Deming ministrou palestras para líderes e gerentes das indústrias do Japão, com o objetivo de ajudar o país a reerguer-se, de modo a alterar a reputação dos produtos e serviços que, naquela época, eram de má qualidade. O Japão instituiu o conceito de qualidade dentro de suas indústrias, o qual se difundiu com a cultura, precedendo assim ao que conhecemos atualmente como gestão da qualidade total. Esse conceito foi utilizado inicialmente na indústria automobilística da Toyota. A filosofia da qualidade alavancou a economia afetada pela guerra, criando força para as indústrias e ganhando espaço no mercado internacional. 15 O período pós-guerra trouxe recessão e crise econômica para a Toyota. Houve paralisação de fábricas, corte de salários e demissões. Kiichiro Toyoda tomou a decisão de assumir toda a responsabilidade e pediu demissão da presidência, passando a atuar como gestor na área da produção, com um salário reduzido, procurando assim diminuir a insatisfação dos colaboradores, que estavam revoltados. Com a demissão de Kiichiro, Eiji Toyoda, seu primo, tomou posse do cargo de presidente da Toyota Motor Company. O Japão foi destruído na Segunda Guerra e se reconstruiu. Após 25 anos decorridos, despontava no mercado internacional com produtos de ótima qualidade e baixo custo se comparados aos norte-americanos. Produtos eletrônicos e do setor automobilístico foram os primeiros a serem inseridos no mercado internacional, causando incômodo aos países ocidentais que, pela primeira vez, perderam hegemonia (Scatena, 2012). O sistema japonês de administração – conhecido como Toyotismo – foi amplamente disseminado no Brasil a partir da década de 1980, quando as grandes empresas nacionais e multinacionais passaram a adotar as práticas desse modelo para melhorar sua produtividade e competitividade. O aumento da produtividade no sistema japonês está fundamentado na eliminação de desperdícios, na disciplina, no fortalecimento do trabalho em equipe e na utilização das ideias dos próprios funcionários (Maximiano, 2006; Scatena, 2012). Para compreendermos a atuação do modelo toyotista, a seguir vamos apersentar suas principais propostas. 4.2 Características do sistema Toyota Quando falamos do modelo japonês de administração, consequentemente falamos da Toyota, empresa que foi pioneira desse processo. Vamos então conhecer um pouco a empresa que idealizou e aplicou o sistema japonês de administração, a Toyota Motor Co., que, após a Segunda Guerra Mundial, buscou formas de maximizar a produção, reduzindo custos simultaneamente. O Sistema Toyota nasceu nos anos 1950, quando Toyoda e Ohno visitaram a Ford, nos Estados Unidos, e concluíram que aquele modelo causava muito desperdício, seja pelo grande porte das fábricas, seja pelo excesso de estoques ou pela mão de obra com especialidades limitadas. Diante da escassez de recursos causada pela Segunda Guerra Mundial, o modelo fordista era 16 inviável. A Toyota precisava simplificar e modificar o sistema de Ford. Assim, nasceu o elemento básico do sistema toyotista: a eliminação de desperdícios. Segundo Maximiano (2006), o sistema Toyota preconiza três principais ideias para a eliminação do desperdício. 1. A racionalização da mão de obra da Toyota consiste em agrupar os operários em equipes, as quais recebem um conjunto de tarefas de montagem, com a missão de coletivamente executá-las da melhor maneira possível. 2. O método just in time visa reduzir ao mínimo o tempo de fabricação e o volume de estoques. Há um fluxo contínuo de materiais alinhados à programação da produção, a fim de minimizar os níveis de estoques. Evita-se o desperdício com produtos parados na fábrica. 3. O sistema de produção flexível consiste em fabricar produtos de acordo com encomendas dos clientes. Destaca-se que os funcionários da Toyota tinham autonomia para adaptar os moldes das prensas que fazem as latarias dos veículos, de modo a atender as necessidades dos clientes. De acordo com Ferreira, Reis e Pereira (1997) e Scatena (2012), as características básicas do sistema japonês são: Just in time: visa diminuir os estoques, pois alinha a produção dos fornecedores com a produção para os clientes. Kanban: sinais visuais que informam o estágio no qual está o produto na linha de produção. Muda: eliminação de desperdícios. Kaizen: melhoria contínua de todos os processos e atividades que resultam no produto final até a entrega ao cliente. Depois que você conheceu o modelo japonês de administração, observe e identifique alguma empresa que utiliza esse modelo de produção! TEMA 5 – ESCOLAS DA QUALIDADE O processo de busca pela excelência é um esforço contínuo das organizações. Sendo assim, é relevante que elas considerem a qualidade como um fator essencial para o alcance da vantagem competitiva. Assim, nesse tema vamos conhecer as escolas de qualidade por meio de seus principais gurus. 17 A história da administração da qualidade total confunde-se com a história do modelo japonês de administração, pois este é uma combinação dos princípios de técnicas da qualidade total, da Administração Científica e das tradições culturais japonesas (Maximiano, 2009), conforme conversamos no tema anterior. Nesse sentido, com base nas reflexões iniciadas pelo foco na qualidade, no toyotismo, este tema apresenta a evolução histórica da qualidade total e a contribuição dos gurus da qualidade para a gestão das organizações. 5.1 Evolução histórica da qualidade Ao longo do século XX, várias foram as concepções sobre qualidade, em especial nos Estados Unidos e no Japão, países que se destacaram nos estudos e
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