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unid 3 Fundamentos de Filosofia e Educação

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O PROBLEMA DO CONHECIMENTO
8 A TEORIA DO CONHECIMENTO NA ANTIGUIDADE
Como foi abordado anteriormente, o problema sobre o conhecimento sempre preocupou o ser 
humano, mesmo quando ele não tinha plena consciência dessa atividade. Encontramos no pensamento 
mítico a primeira tentativa de ordenar o caos, de dar uma explicação para o mundo. 
Os filósofos, posteriormente conhecidos como pré-socráticos, partem do pressuposto básico 
de que todo o existente deriva de uma matéria primeira já existente e não questionam a origem 
dessa matéria primeira, justamente para não caírem em um circulus vitiosus sem fim. Cada qual 
ao seu modo busca dar uma explicação racional para o existente. A cosmogonia mítica vai sendo 
aos poucos substituída por uma cosmologia racional. O problema que unifica todo o período que 
ficou conhecido como cosmológico é a busca de explicar de onde vêm todas as coisas, ou seja, 
qual é a matéria primordial, a arché, que dá origem a todas as outras coisas existentes: pedra, flor, 
madeira, animal etc.? De onde vem tudo isso? Vimos que o mérito desses primeiros filósofos foi 
buscar uma explicação racional para o existente e não simplesmente aceitar aquilo que a tradição 
mítica transmitia.
9 PLATÃO 
Para Platão, a definição das coisas está condicionada ao princípio de identidade e permanência. Ou 
seja, uma coisa é aquilo que é e não outra, e deve ser sempre do mesmo modo. No mundo sensível isso 
não é possível, já que ele é múltiplo e em constante mutação. Na visão de Platão, este é o mundo das 
aparências, das sombras, mera cópia do mundo das ideias, do mundo real. A verdade encontra-se no 
mundo das ideias, idêntico e permanente, regido pelo conhecimento. Para atingir esse mundo das ideias, 
é necessário depurar os sentidos dos enganos e erros e, por meio do exercício filosófico, ir ascendendo 
até a verdade.
Assim, para Platão, o mundo sensível é o nosso mundo material de cópias, de aparências, um mundo 
imperfeito, em constante mutação. Já o mundo inteligível, é o mundo imaterial das ideias. Este é perfeito 
e imutável. 
Vamos ver agora um texto que ilustra a concepção platônica sobre o processo do conhecimento. 
Trata-se da Alegoria ou mito da caverna, que se encontra no seu livro A república. A passagem que 
veremos a seguir foi recontada por Marilena Chaui.
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9.1 A alegoria da caverna
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos 
estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados 
a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça 
nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, 
de modo que se possa, na semiobscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros – no 
exterior, portanto – há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como 
se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens 
transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na 
parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver 
as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias 
coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens 
(estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não 
podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda 
luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro 
libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, 
as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, 
dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do 
sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria 
os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias 
coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras 
das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a 
própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado 
pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam 
em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo 
espancando-o e se, mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair 
da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, 
contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.
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O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas 
materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O 
filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo 
das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo 
e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo 
real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo 
(Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembleia ateniense)? Porque 
imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro (Chaui, 1997, p. 40). 
 
Conforme foi abordado anteriormente, para Platão, 
o mundo sensível é o nosso mundo material, é o mundo 
das aparências, que é múltiplo, mutável – regido pela doxa 
(opinião). Já o mundo das ideias é idêntico e permanente, 
regido pela episteme (conhecimento). Dessa forma, é 
necessário sair do mundo das aparências e ascender até o 
mundo verdadeiro das ideias. 
Para Platão, é necessário lembrar-se das verdades contempladas, mas esquecidas. Para ilustrar sua 
teoria, Platão recorre ao mito de Er, que se encontra no livro X de A república. Platão nos conta, pela 
boca de Sócrates, que Er era armênio, natural da Panfília, e morrera em uma batalha. Após dez dias, 
encontraram seu corpo, e o mesmo estava intacto. Levado para os funerais, Er ressuscitou e relatou o que 
Para refletir
Por que aquele que sai da caverna 
pode ser chamado de filósofo? 
Comente.
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viu no reino dos mortos. Segundo Er, as almas contemplam as ideias verdadeiras enquanto aguardam 
o momento de reencarnarem para se purificarem dos erros do passado. Após escolherem como querem 
reencarnar, devem voltar para o mundo sensível. Noretorno à Terra, devem atravessar o rio Letes, que 
é o rio do esquecimento. Como atravessam uma região muito quente, sentem muita sede. Dessa forma, 
aquelas que bebem muita água do rio Letes esquecem todas as verdades contempladas. Daí que conhecer 
implica recordar o que já se sabe, mas foi esquecido. Vamos ver a seguir um trecho desse mito.
Platão – Er e a visão do outro mundo
Er, filho de Armênio, originário de Panfília. Ele morrera numa batalha; dez dias depois, quando 
recolhiam os cadáveres já putrefatos, o seu foi encontrado intacto. Levaram-no para casa, a fim 
de o enterrarem, mas, ao décimo segundo dia, quando estava estendido na pira, ressuscitou. 
Assim que recuperou os sentidos, contou o que tinha visto no além.
(...)
O espetáculo das almas que escolhem a sua condição, acrescentava Er, valia a pena ser visto, 
porque era digno de dó, ridículo e estranho. Com efeito, era segundo os hábitos da vida 
anterior que, a maioria das vezes, faziam a sua escolha. Ele dizia ter visto a alma que foi um 
dia a de Orfeu escolher a vida de um cisne, porque, por ódio ao sexo que lhe dera a morte, não 
queria nascer de uma mulher. Tinha visto a alma de Tâmiras escolher a vida de um rouxinol, 
um cisne trocar a sua condição pela do homem e outros animais canoros fazerem o mesmo. A 
alma chamada em vigésimo lugar a escolher optou pela vida de um leão: era a de Ajax, filho 
de Télamon, que não queria voltar a nascer no estado de homem, pois não tinha esquecido 
o julgamento das armas. A seguinte era a alma de Agamenon; tendo também aversão pelo 
gênero humano, por causa das desgraças passadas, trocou a sua condição pela de uma águia. 
A alma de Atalanta, estando junto com as que tinham obtido uma situação intermediária, 
considerando as grandes honras prestadas aos atletas, não pôde ir mais além e escolheu-as. 
Em seguida, viu a alma de Epeio, filho de Panopeu, passar à condição de mulher perita, e, ao 
longe, nas últimas filas, a do bobo Tersites revestir-se da forma de um macaco. Por fim, a alma 
de Ulisses, a quem a sorte fixara o último lugar, adiantou-se para escolher; despojada da sua 
ambição pela lembrança das fadigas passadas, andou muito tempo à procura da condição 
tranquila de um homem comum. Com certa dificuldade, descobriu uma que jazia a um canto, 
desdenhada pelos outros; e, quando a viu, disse que não teria agido de maneira diferente se 
a sorte a tivesse chamado em primeiro lugar e, alegre, escolheu-a. De igual modo os animais 
passavam à condição humana ou à de outros animais, os injustos nas espécies ferozes, os 
justos nas espécies domesticadas; faziam-se assim cruzamentos de todas as espécies. 
Depois que todas as almas escolheram a sua vida, avançaram para Láquesis pela ordem que a 
sorte lhes fixara. Esta deu a cada uma o gênio que tinha preferido, para lhe servir de guardiã 
durante a existência e realizar o seu destino. O gênio conduzia-a primeiramente a Cloto e, 
fazendo-a passar por baixo da mão desta e sob o turbilhão do fuso em movimento, ratificava o 
destino que ela havia escolhido. Depois de ter tocado o fuso, levava-a para a trama de Átropo, 
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para tomar irrevogável o que tinha sido fiado por Cloto; então, sem se voltar, a alma passava 
por baixo do trono da Necessidade; e, quando todas chegaram ao outro lado, dirigiram-se 
para a planície do Letes, passando por um calor terrível que queimava e sufocava, pois esta 
planície está despida de árvores e de tudo o que nasce da terra. Ao anoitecer, acamparam nas 
margens do rio Ameles, cuja água nenhum vaso pode conter. Cada alma é obrigada a beber 
uma certa quantidade dessa água, mas as que não usam de prudência bebem mais do que 
deviam. Ao beberem, perdem a memória de tudo. Então, quando todas adormeceram e a noite 
chegou à metade, um trovão se fez ouvir, acompanhado de um tremor de terra, e as almas, 
cada uma por uma via diferente, lançadas de repente nos espaços superiores para o lugar do 
seu nascimento, faiscaram como estrelas. Quanto a ele, dizia Er, tinham-no impedido de beber 
a água; contudo, ele não sabia por onde nem como a sua alma se juntara ao corpo: abrindo 
de repente os olhos, ao alvorecer, vira-se estendido na pira. 
E foi assim, Glauco, que o mito foi salvo do esquecimento e não se perdeu, e pode salvar-nos, 
se lhe prestarmos fé; então atravessaremos com facilidade o Letes e não mancharemos a nossa 
alma. Portanto, se acreditas em mim, crendo que a alma é imortal e capaz de suportar todos 
os males, assim como todos os bens, nos manteremos sempre na estrada ascendente e, de 
qualquer maneira, praticaremos a justiça e a sabedoria. Assim estaremos de acordo conosco e 
com os deuses, enquanto estivermos neste mundo e quando tivermos conseguido os prêmios 
da justiça, como os vencedores que se dirigem à assembleia para receberem os seus presentes. 
E seremos felizes neste mundo e ao longo da viagem de mil anos que acabamos de relatar 
(Platão, 1997, p. 352).
10 ARISTÓTELES 
Já Aristóteles, que foi discípulo de Platão, posteriormente irá criticar seu mestre em relação ao 
processo de conhecimento. Aristóteles não concorda com o dualismo platônico e reabilita a importância 
dos sentidos no processo de conhecimento. Vamos ver um trecho de sua obra Metafísica:
Por natureza, todos os homens desejam o conhecimento. Uma indicação disso é o valor 
que damos aos sentidos; pois, além de sua utilidade, são valorizados por si mesmos e, 
acima de tudo, o da visão. Não apenas com vistas à ação, mas, mesmo quando não se 
pretende ação alguma, preferimos a visão, em geral, a todos os outros sentidos. A razão 
disso é que a visão é, de todos eles, o que mais nos ajuda a conhecer as coisas, revelando 
muitas diferenças. 
(...) É pela memória que os homens adquirem experiência, porque as inúmeras lembranças da 
mesma coisa produzem finalmente o efeito de uma experiência única. A experiência parece 
muito semelhante à ciência e à arte, mas na verdade é pela experiência que os homens adquirem 
ciência e arte; pois, como diz Polo com razão, “a experiência produz arte, mas a inexperiência 
produz o acaso”. A arte se produz quando, a partir de muitas noções da experiência, se forma 
um juízo universal a respeito de objetos semelhantes (Marcondes, 2000, p. 43).
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Dessa forma, Aristóteles concebe o conhecimento como um processo linear e cumulativo, que tem 
início com as impressões sensíveis e pode desenvolver-se até o conhecimento abstrato mais geral. O 
conhecimento tem início com a experiência sensível, e esta, unida à memória, produz um conhecimento 
de experiência, ou seja, um conhecimento do tipo “saber fazer”. Acima deste, está a arte (técnica), um 
conhecimento das regras, ou seja, sabe-se o “porquê das coisas”. Depois deste, temos o conhecimento da 
teoria (ciência), é um conhecimento mais abstrato e genérico, 
desvinculado da prática, conhecem-se as leis da natureza e 
os princípios gerais. E acima deste, ainda, temos a sabedoria 
(filosofia), é o conhecimento mais abrangente e global, é o 
conhecimento das causas primeiras e universais.
11 A FILOSOFIA MEDIEVAL: PATRÍSTICA E ESCOLÁSTICA 
A Idade Média abrange o período entre o século V (queda do Império Romano do ocidente) e o século 
XV (queda do Império Romano do oriente, quando Constantinopla foi tomada pelos turcos). A Igreja 
Católica nasce dentro do Império Romano e, a princípio, é proibida e perseguida, mas paulatinamente 
vai se fortalecendo até se tornar a religião oficial do Império. Com a crise do Império Romano, a Igreja 
Católica emerge como a principal força aglutinadora emum mundo fragmentado pelas invasões 
bárbaras. A Igreja desponta como a grande herdeira do patrimônio cultural da antiguidade clássica. 
Ela é detentora da escrita e do conhecimento, e, nos mosteiros, encontram-se abrigadas as grandes 
bibliotecas. Dessa forma, a Igreja Católica se torna a detentora da força espiritual e política do período. 
Uma das principais questões discutidas nesse tempo é a relação entre teologia e filosofia, ou seja, entre 
fé e razão.
No período de decadência do Império Romano, quando o cristianismo se expande, a partir do 
século II – portanto ainda na Antiguidade –, surge a filosofia dos Padres da Igreja, conhecida 
também como patrística. No esforço de converter os pagãos, combater as heresias (doutrinas 
que se opõem aos dogmas da Igreja) e justificar a fé, desenvolvem a apologética, elaborando 
textos de defesa do cristianismo. A aliança entre fé e razão estende-se por toda Idade Média: 
a razão é auxiliar da fé e a ela subordinada. Daí a expressão agostiniana “Credo ut intelligam”, 
que significa “Creio para que possa entender”.
Os padres recorrem inicialmente à filosofia platônica por intermédio do neoplatonismo 
de Plotino (204-270) e realizam uma grande síntese com a doutrina cristã, adaptando o 
pensamento pagão. O principal nome da patrística é Santo Agostinho (354-430), bispo de 
Hipona, cidade do norte da África. Agostinho retoma a dicotomia platônica “mundo sensível 
e mundo das ideias”, mas substitui este último pelas ideias divinas. Segundo a teoria da 
iluminação, recebemos de Deus o conhecimento das verdades eternas: tal como o Sol, Deus 
ilumina a razão e torna possível o pensar correto.
(...) A partir do século IX, desenvolve-se a escolástica, filosofia cristã que atinge seu apogeu 
no século XIII, com Santo Tomás de Aquino. Nesse período continua a aliança entre razão e fé, 
em que a razão é sempre considerada a “serva da teologia”.
Para refletir
Qual a relação entre o conhecimento 
de experiência e a memória?
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(...) Santo Tomás de Aquino (1225-1274) utiliza traduções de Aristóteles feitas diretamente 
do grego e faz a síntese mais fecunda da escolástica, que será conhecida como filosofia 
aristótelico-tomista.
Embora continuasse a valorizar a fé como instrumento do conhecimento, Tomás de Aquino, 
devido à influência aristotélica, nem por isso desconsidera a importância do conhecimento 
natural. Se a razão não pode conhecer, por exemplo, a essência de Deus, pode, no entanto, 
demonstrar sua existência ou a criação divina do mundo. Além disso, tal como Aristóteles, 
Aquino reconhece a participação dos sentidos e do intelecto: o conhecimento começa pelo 
contato com as coisas concretas, passa pelos sentidos internos da fantasia ou da imaginação 
até a apreensão de formas abstratas. Dessa forma, 
o conhecimento processa um salto qualitativo ao 
partir da apreensão da imagem, que é concreta e 
particular, até a elaboração da ideia, que é abstrata 
e universal (Aranha, 2003, p. 126).
Saiba mais
O cristianismo e a tarefa da evangelização
Ao surgir, o cristianismo era mais uma entre as várias religiões orientais; suas raízes 
encontravam-se na religião judaica, isto é, numa religião que, como todas as religiões antigas, era 
nacional ou de um povo particular. No entanto, havia nele algo inexistente no judaísmo e nas outras 
religiões antigas: a ideia de evangelização, isto é, de espalhar a “boa nova” para o mundo inteiro, a 
fim de converter os não-cristãos e tornar-se uma religião universal.
Ora, como converter a essa religião pessoas de outras religiões, que possuíam um passado e 
um sentido próprios para elas? Os evangelizadores usaram muitos expedientes para isso, levando 
em conta as condições e a mentalidade dos que deveriam ser convertidos. Para o nosso assunto, 
interessa apenas um tipo de evangelização e conversão: o dos intelectuais gregos e romanos, isto é, 
daqueles que haviam sido formados não só em religiões diferentes da judaica, como também haviam 
sido educados na tradição racionalista da Filosofia. Para convertê-los e mostrar a superioridade da 
verdade cristã sobre a tradição filosófica, os primeiros Padres da Igreja ou intelectuais cristãos (são 
Paulo, são João, santo Ambrósio, santo Eusébio, santo Agostinho, entre outros) adaptaram as ideias 
filosóficas à religião cristã e fizeram surgir uma Filosofia cristã. 
Sob vários aspectos, podemos dizer que o cristianismo, enquanto tal, não precisava de uma 
filosofia:
• sendo uma religião da salvação, seu interesse maior estava na moral, na prática dos preceitos 
virtuosos deixados por Jesus, e não em uma teoria sobre a realidade;
• sendo uma religião vinda do judaísmo, já possuía uma ideia muito clara do que era o Ser, pois 
Deus disse a Moisés “Eu sou aquele que é, foi e será. Eu sou aquele que sou”;
Para refletir
Por que durante a Idade Média a 
filosofia se torna serva da teologia?
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• sendo uma religião, seu interesse maior estava na fé e não na razão teórica, na crença e não no 
conhecimento intelectual, na Revelação e não na reflexão. 
Foi, portanto, o desejo de converter os intelectuais gregos e os chefes e imperadores romanos 
(isto é, aqueles que estavam acostumados à Filosofia) que “empurrou” os cristãos para a metafísica 
(Chaui, 1997, p. 223).
12 A TEORIA DO CONHECIMENTO NA IDADE MODERNA
Mas, afinal, o que vem a ser o conhecimento? O processo de conhecimento pressupõe um sujeito 
que deseja conhecer e um objeto a ser conhecido. Mas existe um objeto independente do sujeito? O 
sujeito é ativo nesse processo ou o sujeito é passivo?
Se na Idade Antiga e na Idade Média se têm diferentes explicações para o conhecimento, não se tem 
como problema, como dúvida, a capacidade humana em conhecer. As transformações trazidas no bojo 
do Renascimento – antropocentrismo, heliocentrismo, tendência à laicização do saber, individualismo 
– levarão pensadores do século XVII a questionar a própria capacidade humana de conhecer. Qual 
o método adequado para adquirir conhecimento? Como garantir que o conhecimento obtido é de 
fato verdadeiro? Se a preocupação anterior era uma preocupação metafísica do conhecimento do ser 
enquanto ser, agora há uma preocupação epistemológica de como se processa o conhecimento do 
ser. O problema deixa de ser o existente em si, para se colocar no sujeito cognoscente, que conhece o 
existente.
Antropocentrismo: forma de pensamento comum a certos sistemas filosóficos e crenças 
religiosas, que atribui ao ser humano uma posição de centralidade em relação a todo o universo, 
(...) como um eixo ou núcleo em torno do qual estão situadas espacialmente todas as coisas (...) 
(Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).
Heliocêntrico: que tem o Sol como centro (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).
As principais correntes que, na Idade Moderna, buscam explicar o processo de conhecimento na 
relação sujeito e objeto são a do racionalismo e a do empirismo. Os racionalistas têm seu grande 
representante em Descartes. De um modo geral, priorizam a razão no processo de conhecimento e 
aceitam a existência de ideias inatas, independentes da experiência. Já os empiristas, entre eles Bacon, 
Locke, Hume, enfatizam o importante papel da experiência sensível para a aquisição do conhecimento. 
Não aceitam a tese das ideias inatas ou de um conhecimento independente ou anterior à experiência. 
Vejamos dois representantes dessas correntes, René Descartes e John Locke.
Laicizar: tornar laico, subtrair à influência religiosa; dar caráter, estatuto laico, não confessional 
a (instituiçãogovernamental, administrativa); laicificar (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua 
Portuguesa).
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12.1 O racionalismo
O filósofo René Descartes relata, em Discurso do método, que, após o término de seus estudos 
no renomado colégio europeu La Fleche, concluiu decepcionado que não foi possível adquirir um 
“conhecimento claro e seguro” das coisas necessárias para a vida. Apesar do contato com excelentes 
mestres e do acesso a todo conhecimento científico produzido até então, Descartes julgava que se 
encontrava, ainda, envolvido por muitas dúvidas e erros. 
 Dessa forma, como o objetivo de René Descartes é obter um conhecimento verdadeiro, no qual 
não reste nenhuma possibilidade de incerteza, passa a utilizar a dúvida como método, levando esta às 
últimas consequências. Duvida do senso comum, dos sentidos, que às vezes enganam, dos raciocínios, 
dos pensamentos, enfim, de tudo o que havia entrado no seu espírito até então. Entretanto, por mais 
que duvidasse de tudo, não podia duvidar de que ele que duvidava não fosse alguma coisa, ou seja, no 
mínimo algo que duvida, algo que pensa.
E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as 
mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia 
aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava (Descartes, 
1983, p. 46).
Descartes estabelece, assim, o primeiro princípio de sua filosofia, a certeza de sua existência, de 
que é um ser que pensa e não uma mera ilusão. Também conclui que por duvidar é um ser imperfeito, 
enquanto que o conhecimento é um atributo de maior perfeição. Donde só poderia ter aprendido a 
pensar de algo mais perfeito, ou seja, de Deus. Deus é a causa para explicar a existência de um ser menos 
perfeito. Pois a criação não é superior ao criador, e aquela traz sempre impressa a marca deste.
 Mas qual a garantia de que esse ser pensante vê o mundo tal qual como é? De que os objetos 
das ideias claras e distintas são de fato reais? De que os pensamentos que temos quando sonhamos são 
menos verdadeiros que aqueles que temos em vigília?
 Para Descartes, a resposta para essas questões encontra-se em Deus. Deus, sendo perfeito, tem 
como atributo a existência e a bondade, por isso não engana. Daí segue que tudo que concebemos clara 
e distintamente é verdadeiro.
 Portanto, a razão pode conhecer o mundo, por meio de um método de pensamento que contenha 
ideias claras e distintas. E Deus, sendo perfeito e bom, logo não enganador, dá a garantia de que essas 
ideias são verdadeiras.
Assim, o racionalismo cartesiano se apoia na prova ontológica de Deus, na existência de um Deus 
bom, não enganador. Descartes em Meditações retoma essa questão e afirma que Deus também é a 
garantia de que algumas ideias que temos são verdadeiras. “Ora, destas ideias, umas me parecem ter 
nascido comigo, outras ser estranhas e vir de fora, e outras ser feitas e inventadas por mim mesmo” 
(1983, p. 102). As ideias inatas são aquelas que já nascem com a pessoa. Elas não resultam de uma 
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experiência sensorial com as coisas, ou seja, não tiveram origem fora do indivíduo, tampouco resultam 
da própria fantasia e imaginação, pois também não foram compostas por ideias vindas da experiência. 
As ideias matemáticas, as ideias geométricas, a ideia de infinito etc. são exemplos, para Descartes, de 
ideias inatas. Essas ideias têm origem em Deus, ou seja, é o criador que coloca essas ideias nos seres 
racionais; dessa forma, são inatas e verdadeiras.
12.2 O empirismo
Jonh Locke, em seu Ensaio acerca do entendimento humano, critica a teoria das ideias inatas 
de Descartes. Ele concebe que a alma é como uma lousa sem inscrições, como uma lousa em 
branco, e, dessa forma, o processo de conhecimento só se inicia na relação com os objetos, na 
experiência sensível.
Vamos ver um trecho de um texto do próprio Locke sobre esse assunto.
Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos 
os caracteres, sem quaisquer ideias; como será suprida? De onde lhe provém este vasto 
estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade 
quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso 
respondo, numa palavra, da experiência. Todo nosso conhecimento está nela fundado, e 
dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos 
sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos 
percebidas e refletidas, nossa observação supre nossos entendimentos com todos os 
materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas 
ideias, ou as que possivelmente teremos (Locke, 1973, p. 165).
Para Locke, a experiência sensível, a experiência com o mundo material exerce um papel 
fundamental na aquisição do conhecimento. Enquanto Descartes enfatiza o papel do sujeito no 
processo de conhecimento, Locke enfatiza o papel da experiência sensível nesse processo. 
12.3 O criticismo kantiano1 
O filósofo Immanuel Kant afirma ter realizado uma espécie de “inversão copernicana” 
com o conhecimento. E o que isso significa? Por “inversão copernicana” deve-se entender a 
transformação realizada por Kant na epistemologia, semelhante à transformação realizada por 
Nicolau Copérnico na concepção do Universo. A concepção de Universo aceita até Copérnico 
era a geocêntrica. Essa concepção defendia a tese de que a Terra encontrava-se no centro do 
Universo e que o Sol, a Lua e os demais planetas giravam ao seu redor. A teoria proposta por 
Copérnico no século XVI provoca uma verdadeira revolução no modelo tradicional geocêntrico 
aceito até então. Na teoria heliocêntrica de Copérnico, a Terra perde seu lugar privilegiado na 
hierarquia do sistema, e o Sol passa a ocupar o seu lugar. Kant denominou o que realizou de 
1O texto desse item foi extraído do capítulo I de Fernandes (2006). 
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uma espécie de “inversão copernicana” no campo epistemológico. O problema sobre a origem 
do conhecimento era respondido até o século XVIII por duas principais teorias: a do racionalismo 
e a do empirismo. Conforme vimos, os racionalistas, de um modo geral, priorizam a razão no 
processo do conhecimento e aceitam a existência de ideias inatas, independentes da experiência. 
Já os empiristas, de um modo geral, enfatizam o papel da experiência sensível para aquisição do 
conhecimento. O conhecimento depende e resulta da soma e associação das sensações exteriores 
na percepção, ou seja, o sujeito na aquisição do conhecimento tem uma relação passiva com o 
mundo. Porém, segundo Kant, as investigações sobre o conhecimento não devem partir dos objetos 
do conhecimento, mas sim da própria razão que produz o conhecimento. Assim como Copérnico 
colocou o Sol no centro do sistema, Kant coloca a razão no centro das investigações, para que 
primeiro fosse examinado como se processa e se fundamenta o conhecimento e o que é possível 
conhecer. Segundo expõe Kant, no prefácio da segunda edição da sua Crítica da razão pura,
até hoje se admitia que o nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, 
todas as tentativas para descobrir a priori, mediante conceitos, algo que ampliasse o 
nosso conhecimento, malogravam-se com este pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, 
experimentarse não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os 
objectos se deveriam regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor 
com o que desejamos, a saber, a possibilidade de um conhecimento a priori desses 
objectos; que estabeleça algo sobre eles antes de nos serem dados. Trata-se aqui de uma 
semelhança com a primeira ideia de Copérnico; não podendo prosseguir na explicação 
dos movimentos celestes enquanto admitia-se que toda a multidão de estrelas se movia 
em torno do espectador, tentou ver se não daria melhor resultado fazer antes girar o 
espectador e deixar os astros imóveis. (...) Se a intuição tivesse de se guiar pela natureza 
dos objetos, não vejo como deles se poderia conhecer algo a priori; se, pelo contrário, 
o objeto (enquanto objecto dos sentidos) se guiar pela natureza da nossa faculdade de 
intuição, posso perfeitamente representar essa possibilidade (1994, p. 20).
Kant irá concluir nos seus estudos que não são os sujeitos que se conformam aos objetos, mas sim 
que são os objetos que se conformam às faculdades do sujeito. Para ele, o conhecimento é constituído 
de forma e matéria. A forma do conhecimento é dada pela razão, que é uma estrutura a priori, isto é, 
anterior à experiência e independente dela. Já os seus conteúdos são empíricos, ou seja, a matéria do 
conhecimento depende da experiência que temos com os objetos. 
Dessa forma, enquanto os racionalistas privilegiam a razão no processo de conhecimento e os 
empiristas, a experiência sensível, Kant realiza uma espécie 
de síntese entre as duas concepções. Para ele, o conteúdo 
do conhecimento vem de fora, isto é, do mundo exterior, 
mas esse conteúdo adapta-se à nossa forma de conhecer, 
isto é, à nossa estrutura racional interior.
Para refletir
Diferencie as três concepções de 
conhecimento: racionalismo, empirismo 
e criticismo kantiano.
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Saiba mais
Discurso do método, de René Descartes
Questionamentos iniciais
Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita 
ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não 
costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem. E é improvável que todos se enganem a esse 
respeito; mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o 
verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos 
os homens; e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem 
alguns mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos 
diferentes e não considerarmos as mesmas coisas. Pois é insuficiente ter o espírito bom, o mais 
importante é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das 
maiores virtudes, e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem 
sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
Quanto a mim, nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os dos outros; 
com frequência desejei ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação tão clara e diferente, ou a 
memória tão abrangente ou tão pronta, quanto alguns outros. E desconheço quaisquer outras 
qualidades, afora as que servem para o aperfeiçoamento do espírito; pois, quanto à razão ou ao 
senso, posto que é a única coisa que nos torna homens e nos diferencia dos animais, acredito que 
existe totalmente em cada um, acompanhando nisso a opinião geral dos filósofos, que afirmam não 
existir mais nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas ou naturezas dos indivíduos 
de uma mesma espécie.
Mas não recearei dizer que julgo ter tido muita felicidade de me haver encontrado, a partir da 
juventude, em determinados caminhos, que me levaram a considerações e máximas, das quais formei 
um método, pelo qual me parece que eu consiga aumentar de forma gradativa meu conhecimento, 
e de elevá-lo, pouco a pouco, ao mais alto nível, a que a mediocridade de meu espírito e a breve 
duração de minha vida lhe permitam alcançar. Pois já colhi dele tais frutos que, apesar de no juízo 
que faço de mim próprio eu procure inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que para o 
da presunção, e que, observando com um olhar de filósofo as variadas ações e empreendimentos 
de todos os homens, não exista quase nenhum que não me pareça fútil e inútil, não deixo de lograr 
extraordinária satisfação do progresso que creio já ter feito na procura da verdade e de conceber 
tais esperanças para o futuro que, se entre as ocupações dos homens puramente homens existe 
alguma que seja solidamente boa e importante, atrevo-me a acreditar que é aquela que escolhi.
Contudo, pode ocorrer que me engane, e talvez não seja mais do que um pouco de cobre e vidro o 
que eu tomo por ouro e diamantes. Sei como estamos sujeitos a nos enganar no que nos diz respeito, 
e como também nos devem ser suspeitos os juízos de nossos amigos, quando são a nosso favor. Mas 
apreciaria muito mostrar, neste discurso, quais os caminhos que segui, e representar nele a minha 
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vida como num quadro, para que cada um possa julgá-la e que, informado pelo comentário geral 
das opiniões emitidas a respeito dela, seja este uma nova forma de me instruir, que acrescentarei 
àquelas de que tenho o hábito de me utilizar.
Portanto, meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem 
conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha. Os que 
se aventuram a fornecer normas devem considerar-se mais hábeis do que aqueles a quem as dão; 
e, se falham na menor coisa, são por isso censuráveis. Mas, não propondo este escrito senão como 
uma história, ou, se o preferirdes, como uma fábula, na qual, entre alguns exemplos que se podem 
imitar, encontrar-se-ão talvez também muitos outros que se terá razão de não seguir, espero que 
ele será útil a alguns, sem ser danoso a ninguém, e que todos me serão gratos por minha franqueza 
(...) (Descartes, em Discurso do método, tradução de Enrico Corvisieri).2
Exercícios
(Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul – SP – USCS 
– 2009) 
1. A chave da compreensão do pensamento político, 
epistemológico, ético e espiritual de Platão encontra-se: 
A) No mundo das ideias, o qual existe de forma 
absoluta. 
B) No mundo sensível, indispensável ao conhecimento 
do mundo. 
C) No mundo das ideias, relacionado ao imaginário do ser humano. 
D) No hiperurânio, ou no mundo psicofísico do ser humano. 
(Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul – SP – USCS – 2009) 
2. No pensamento platônico, doxa e episteme apresentam-se como conceitos distintos, pois: 
A) Doxa é o conhecimento perfeito e episteme, o pensamento típico dos sofistas. 
B) Doxa retrata a razão e episteme, o desejo, a imperfeição. 
C) Doxa retrata a eternidade e episteme, a temporalidade. 
D) Doxa é o conhecimento imperfeito e episteme é a ciência, o conhecimento por excelência. 
Alguns filmes que podem propiciar 
uma inter-relação com os conteúdos da 
unidade:
The Matrix. Dir. Wachowski Brothers, 
136 minutos, 1999 (primeiro filme da 
série).
Santo Agostinho. Dir. Roberto 
Rossellini, 115 minutos, 1972.
O nome da rosa. Dir. Jean-Jacques 
Annaud, 131 minutos, 1986.
2 Disponível em <http://br.egroups.com/group/acropolis>.
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(Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul – SP – USCS – 2009) 
3. A partir do século II, surge a patrística, cujos objetivos eram o de converter os pagãos, combater 
os hereges, opositores da fé cristã, e justificar a fé. O principal nome da patrística foi Santo Agostinho 
(354-430). Para Agostinho, o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas. Tal concepção 
relaciona-se, de acordo com esse autor, à: 
A) Apologética. 
B) Metafísica. 
C) Teoria da iluminação. 
D) Teoria da inspiração. 
 (Estado do Tocantins – Fundação Cesgranrio – 2009)
4. “Suponhamos então que a mente seja, como dizemos, um papel branco desprovido de todos os 
caracteres; sem quaisquer ideias. Como é que ela chega a ser preenchida? (...) De onde ela obtém todos 
os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo em uma palavra: da experiência, na qual todo 
nosso conhecimento está fundado e da qual em última análise se deriva.”
As concepções expostas nesse trecho correspondem: 
A) À crítica da razão pura, de Immanuel Kant. 
B) Ao livre-arbítrio, de São Tomás de Aquino. 
C) Ao racionalismo, de René Descartes. 
D) Ao empirismo, de John Locke. 
E) Ao inatismo, de Platão. 
(Estado do Tocantins – Fundação Cesgranrio – 2009)
5. Três professores de filosofia – Lucas, Márcia e Antônio – fizeram um curso de formação continuada, 
promovido pela Secretaria Estadual de Educação, sobre uma importante teoria filosófica. Após o curso, 
os professores fizeram os seguintes comentários: 
Lucas: As formas existem independentes de nossas mentes. Tanto é assim, que chegamos ao mundo, 
ao nascermos, e vamos embora, ao morrermos, e as formas continuam aqui independentes de nós. 
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Márcia: Se for assim, as formas existem de forma perfeita e estática em outro mundo. Por isso, 
podemos reconhecer o mundo que habitamos em suas contínuas transformações. 
Antônio: Então existem dois mundos? O mundo das formas e o mundo das aparências? Eu não 
entendo como esta teoria explica a relação de um mundo com o outro. 
De acordo com essa conversa, pode-se concluir:
A) A Secretaria promoveu um curso sobre a teoria das ideias de Platão. 
B) Os professores fizeram um curso sobre o empirismo de Hume. 
C) Os professores conversam sobre o existencialismo humanista de Sartre. 
D) Márcia compreendeu a moderna teoria das transformações sociais. 
E) Lucas não entendeu a teoria aristotélica sobre experiência e conhecimento. 
6. “Por natureza, todos os homens desejam o conhecimento. Uma indicação disso é o valor que 
damos aos sentidos; pois, além de sua utilidade, são valorizados por si mesmos e, acima de tudo, o da 
visão. Não apenas com vistas à ação, mas, mesmo quando não se pretende ação alguma, preferimos a 
visão, em geral, a todos os outros sentidos. A razão disso é que a visão é, de todos eles, o que mais nos 
ajuda a conhecer as coisas, revelando muitas diferenças”.
Esta citação corresponde às ideias de:
A) Immanuel Kant. 
B) Aristóteles. 
C) René Descartes. 
D) John Locke. 
E) Platão. 
7. Leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta.
I. Durante a Idade Média, a Igreja Católica surge como força espiritual e política. Uma importante 
questão discutida nesse período foi a relação entre razão e fé, entre filosofia e teologia.
II. Os padres da Igreja, durante esse período, consideram a razão uma auxiliar da fé, uma vez que a 
filosofia é tomada como serva da teologia.
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III. Os padres da Igreja, durante esse período, consideram a razão mais importante que a fé, uma vez 
que é por meio da razão filosófica que vão justificar as verdades da fé.
Assinale a alternativa que possui a(s) afirmação(ões) correta(s):
A) Apenas I.
B) Apenas I e II. 
C) Apenas II. 
D) Apenas I e III.
E) I, II e III.
8. Para esse pensador, “as investigações sobre o conhecimento não devem partir dos objetos do 
conhecimento, mas sim da própria razão, que produz o conhecimento. Assim como Copérnico colocou 
o Sol no centro do sistema, ele coloca a razão no centro das investigações, para que primeiro fosse 
examinado como se processa e se fundamenta o conhecimento e o que é possível conhecer”. 
Esta citação corresponde às ideias de:
A) Immanuel Kant. 
B) Aristóteles. 
C) René Descartes. 
D) John Locke. 
E) Platão. 
9. “As ideias claras e distintas são ideias gerais que não derivam do particular, mas já se encontram no 
espírito, como instrumentos de fundamentação para apreensão de outras verdades. São as ideias inatas, 
verdadeiras, não sujeitas a erro, pois vêm da razão, independentes das ideias que ‘vêm de fora’, formadas 
pela ação dos sentidos, e das outras que formamos pela imaginação” (Aranha & Martins, 2003).
Esta citação se refere a que corrente?
A) Empirismo.
B) Criticismo.
C) Racionalismo.
D) Fenomenologia.
E) Positivismo.
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10. “E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais 
extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem 
escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava.”
Esta citação corresponde às ideias de:
A) Immanuel Kant. 
B) Aristóteles. 
C) René Descartes. 
D) John Locke. 
E) Platão.

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